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Lamartine Bizarro Mendes

O saudoso professor Lamartine B izarro M endes é consi­


derado verdadeiro ícone na perícia criminalística. O seu livro
Documentoscopia, que ora se publica em terceira edição, vem
sendo utilizado há mais de uma década, como manual prático
quase obrigatório, por estudiosos e pela maioria dos profis­
sionais que atuam na área. Aborda dados históricos interessan­
tíssimos e reúne conceitos e fundamentos de maneira clara,
organizada e didática, que facilitam sobremaneira a compreen­
são das modernas técnicas periciais, dos recursos mais impor­
tantes e suas aplicações nas diferentes espécies de fraudes
praticadas atualmente. Conduz-nos ao entendimento de que
muitas das fraudes que insurgem como novidades constituem,
na prática, variações ou versões sofisticadas de modalidades
aqui explicadas
Revista e atualizada pela perita Wànira O liveira de A lbu­
querque , a nova edição vem enriquecida com valiosas contribui­
ções trazidas por colaboradores dos quadros da Polícia Federal e
especialistas de empresas fabricantes de equipamentos, que
descrevem recursos, métodos e técnicas que constituem as mais
recentes tecnologias empregadas na investigação de fraudes em
documentos.
Por tais características renova-se como a obra preferida pelas
Academias de Polícia, por professores, estudiosos, peritos pro­
fissionais e postulantes a concursos públicos.

Millennium Editora Ltda.


PABX: 19 3229-5588
editora@millenniumeditora.com.br
www.millenniumeditora.com.br
Lamartine Bi
o iUbiifUicniue y r Série >0
B H Wmilvn Ollyoi Tratado <«*
P e r íc ia s

Documentoscopia
Criminalísticas
O
rgDomingos
sniíSÚop
T occhetto A

Colaboradores:
Carlos Magno de Souza Queiroz
Edilene Maria da Silva nova ortografia da
lín g u a Portuguesa
Marcos Passagli
Sara Lais Rahal Lenharo
E s t e l iv r o fo i d i a g r a m a d o e m f o n t e

ç >
G a r a m o n d IT C B k B t e i m p r e s s o e m
p a p e l e s p e c i a l C h a m o is D u n a s , v i s a n d o
o f e r e c e r m a is c o n fo r to a o s le ito re s

Q ualidade é a c a ra cterística q u e n o s identifica e revela a Iodos


Lamartine B izarro M endes
A utor

W anira O liveira de A lbuquerque


A tualizadora

DOCUMENTOSCOPIA

C arlos M agno de S ouza Q ueiroz

E dilene M aria da S ilva

M arcos P assagli

S ara Laís R ahal Lenharo

C olaboradores

3a edição
Campinas/SP
2010

M iilen n iu m
EDITORA
Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UNICAMP
Diretoria de Tratamento da Informação
Bibliotecário: Helena Joana Flipsen - CKB-8*1234/ 5283

M522d Mendes, Lamartine


Documentoscopia/Lamartine Mendes ; atualizador •
Wanira Oliveira de Albuquerque, [et al\ ■organizador: ’
Domingos Tocchetto. - 3. ed. Campinas, SP :
Millennium Editora, 2010.
(Tratado de perícias criminalísticas)

T Grafologta. 2. Escrita. 3. Falsificação de documentos.


o ° nr enÇ° eS penais' 1 ^buquerque, Wanira Oliveira de
II. Tocchetto, Domingos. III. Título.

CDD - 155.282
-4 1 1
-3 4 3
ISBN: 978-85-7625-195-8 _ 345.05

índice para Catálogo Sistemático:

1. Grafologia
- 155.282
2. Escrita
-4 1 1
3. Falsificação de documentos -3 4 3
4. Contravenções penais
-3 4 5 .0 5
© Copyright by M illennium Editora Ltda.
© Copyright by Lam artine Bizarro Mendes

Supervisão de Editoração
Eliane Ribeiro Palumbo

Capa
Patricia M iranda Gasbarra

Editoração
P atncm M iranda Gasbarra / Simone Pereira da Silva / Alice Corbett

Revisão
Wânia M ilanez
Todos os direitos desta publicação reservados:
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Jd. do Lago - 13050-030 - Campin’as-SP
PABX/FAX: (19) 3229-5588
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N ota do O rganizador

É crescente o interesse revelado por peritos oficiais, magistrados, aplica-


dores e operadores do direito, empresas, universidades, estudiosos e leitores
em geral, por informações científicas contidas nos diversos livros que com­
põem a coletânea denominada de Tratado de Perícias Criminalísticas. Essa
constatação, de um lado, constitui motivo de justo orgulho, mas, de outro,
instiga o Organizador a inovar e aprimorar a qualidade em cada novo título
agregado à coleção e em cada título reeditado.
A missão inicial, desde as primeiras publicações do Tratado, era a de
oferecer à magistratura e à sociedade laudos periciais corretos e confiáveis,
a fim de possibilitar julgamentos justos e rápidos. O desafio - ou projeto,
ou, ainda, quase um sonho, era o de formar e aperfeiçoar profissionais em
diferentes segmentos da perícia, propiciar atualização contínua dos conhe­
cimentos científicos aplicáveis à Criminalística, unificar e difundir os melho­
res métodos e técnicas periciais. As primeiras publicações foram esparsas e,
propositalmente, elementares. Mas, já, em 2003, nada menos que dez títulos
integravam a coleção.
A ‘segunda geração’ de publicações iniciou-se em 2006 e pautou-se, de
um lado, pelo incremento qualitativo da informação doutrinária nos títulos
reeditados e, de outro, pela busca em universidades de novos conceitos e tec­
nologias até então desconhecidas ou não adotadas em procedimentos peri­
ciais no país. As reedições do “Dinâmica dos Acidentes de Automóveis", “En-
tomologia Forense”, “Criminalística", “Balística Forense - Aspectos Técnicos
e Jurídicos”, “Identificação Humana - Volume IF e os novos “Química Fo­
rense”, “Toxicologia Forense” e “Metodologia Científica e Perícia Criminal”
incorporaram essas diretrizes e marcaram de maneira indelével uma “safra”
de publicações de alto nível, enaltecida dentro e fora da área pericial.
A terceira geração’ de publicações, que ora se inicia, caracteriza a fase da
maturidade. Tanto as reedições como os novos títulos são muito mais ricos na
doutrina, didáticos na apresentação e detalhados na descrição de práticas pe­
riciais, vários agregando uma parte de Casuística como apêndices. A valiosís-
VI D ocum entoscopia - L amartine M endes

sima contribuição de professores universitários, doutrinadores dos quadros


da Polícia Federal e técnicos de empresas detentoras de avançada tecnologia
enriquecem substantivamente a coleção. Nada menos que 9 títulos estão sen­
do publicados em 2009, entre as reedições e novos títulos: “Criminalística",
na 4a edição; “Balística Forense - Aspectos Técnicos eJurídicos", na 5a edição;
“Dinâmica dos Acidentes de Trânsito", na 3a edição; “Computação Forense”,
na 3a edição; “Documentoscopia”, na 3a edição; “Toxicologia Forense”, na
2a Edição; e “Acidentes de Trânsito”, na 4a edição. E, há os novos “Perícia
Ambiental Criminal" e “Incêndios e Explosivos". Pelo menos quatro novos
títulos e algumas reedições estão na pauta para 2010. Não há outra publicação
no mundo que enfeixe, numa coleção, tão diversificada gama de assuntos. E
a série continuará se ampliando, mercê do oferecimento de novas contribui­
ções por parte de peritos, professores, cientistas, entidades e empresas.
Por fim, fica o reconhecimento ao fato de que o engajamento dos autores
e colaboradores no projeto “Tratado de Perícias Criminalísticas" constitui
um notável exemplo de altruísmo e abnegação. Em cada publicação empe­
nham-se em infindas leituras, pesquisas, contatos com universidades, em­
presas e especialistas; organizam e selecionam textos, sacrificam centenas de
horas de convívio familiar com o intuito de aperfeiçoar os peritos e cumprir
com a missão maior do projeto - e sonho do Organizador, mesmo sabendo
que nunca terão justa contrapartida em termos de direitos autorais ou outras
compensações.
Escrever um livro científico é verdadeiramente um ato de doação e de
cidadania. A todos, o eterno agradecimento de

D omingos T occhetto

Organizador
S umário

Capítulo I - D ocumentoscopia

1. Conceito e D ivisão .............................................................................................................................. 1

1.1. Conceito.................................................................................................. 1
1.2. Divisão.............................................................................. 1
2. Grafotécnica.............................................................................. 2
2.1. Conceito.................................................................................................. 2
3. E scrita ..................................................................................................................................................... 2

3.1. Conceito.................................................................................................. 2
3.2. Conceito grafotécnico de escrita................................................................... 3
3.3. Análise do conceito........ ........................................................................... 3
4. AEvolução dos Sistemas Gráficos....................................................................................................4
4.1. Hieróglifos...............................................................................................4
4.2. Escrita ideográfica...................................................................................... 7
4.3. Escrita cuneiforme.................... 9
4.4. Aescrita fonética................................................ 19
4.5. Aescrita em Roma................................................................................... 12
4.6. Os sistemas gráficos do novo mundo ......................................................... 14
4.7. Os Astecas............................................................................................... 14
4.8. Os Incas............ .................................................................................... 16
4.9. Aescrita dos Maias...................................................................................17
5. O F enômeno da E scrita...................................................................................... 19
5.1. Teoria neurológica................... 19
5.2. Teoria psicológica.................................................................................... 23
VIII D ocum entoscopia - L amartine M endes

Capítulo I I - L eis e P rincípios F undamentais da E scrita

1. P rincípios F undamentais.......................................................................................................................25
1.1. P rim e iro .............. ......................................................................... .......................................... 25
1.2. S e g u n d o .................................................... ............................................................................. 25

2. Leis do Grafismo........................................... ......................................................................................26


2.1. P rim e ira ............................... ........... . . . . ........... ................................... 26

2.2. S e g u n d a ....................................................................................................................... 26
2.3. T ereeira........................................ ....................... ....... ............................................................. 26
2.4. Q uarta........................ ............................................................. ................... 27

Capítulo I I I - F ormação do T raço

1. F ormação da E scrita ........................................... 30

1.1. D ireção do tr a ç o ................................. 30


2. F ormas do T raço............................................................................................................................ 30

3. T raços Curvilíneos...................................................... 31
4. Ataques, R emates eL igações.................................... 31
4.1. L ig açõ es............................... 33
4.2. Tipos de ataques, re m ates e ligações ................................................................................. 34

5. Os G ramas.................................................................................................. 34

Capítulo IV - A E scrita e seus E lementos

1. E lementos D inâmicos da E scrita ........................................................................................................ 40


1.1. G ênese gráfica......................................................................................................................... ....

2. E lementos E státicos da E scrita...................................................................................................... ....

2. 1. Form a gráfica ....................................................................................................................... ....

2.2. C o n clu sõ es................................................................................................................ 41


3- E lementos F ormais da E scrita......................................................... 42

3.1. E lem entos o b je tiv o s................................................................................................................42

3.2. E lem entos gerais o b je tiv o s............................................................................ 44


3.3. E lem entos s u b je tiv o s ........................................................................................ 45

C apítulo V — T ipos de E scrita

1. A Assinatura................................................................................................................ 50

2. M aneirismos Gráficos ...................................... 50


IX
S umário

C apítulo VI - Causas M odificadoras da E scrita

1. Causas I nvoluntárias......................................................... 53

1.1. Causas involuntárias normais................... 53

1.2. Causas involuntárias acidentais................. 54

1.2.1. Causas intrínsecas.......................... 54

1.2.2. Causas extrínsecas.......................... 54

2. Causas Voluntárias............................................................ 55

3. Causas P atológicas............................................................ 55

C apítulo VII —A F raude D ocumental

1. T ipos de Falsários............................................. ................ . 59

2. As Falsificações................................................................... 60

2.1. Tipos de falsificações............................. . 60


2.2. Falsificação se m im ita ç ã o . ................... . 60

2.3. Falsificação de memória............................ . 61


2.4. Imitação servil.......... .............. . 62

2.5. Falsificações exercitadas............................ . 62

. 62
2.6. Decalques........................ ......................
.6 4
2.7. Falsificação por recorte.............................
2.8. Afalsificação ideológica........................... .6 5

2.9. Assinatura à mão guiada........................... .6 7

2.10. Considerações finais................................. .68


.7 2
3. As Autenticidades...............................................................
3.1. Autofalsificação....................................... . 72

3.2. Simulação de falso................................. .7 3

3-3. Transplante de escrita............................. . 74

3.4. Negativa de autenticidade....................... ■75

''C apítulo VIII - Alterações D ocumentais:


P ráticas Antigas e M odernas

1- Alterações por Supressão ............................................. 77

1.1. Rasuras............... 77

1.2. Raspagem............................................. 79

1-3. Amputações .......................................... 79


X D ocum entoscopia — Lamartine M endes

1.4. Lavagens q u ím ic a s ................................................. ............................................................80

2. Alterações por Acréscimo .................................................................................................................. 84


2.1. R eto q u es.....................................................................................................................................84

2.2. E m e n d a .....................................................................................................................................85

2.3. A créscim o s................................................................................................................................ 85


2.4. T rancam ento ........................................................................................................................... 88

Capítulo IX - A A utoria G rafica

1. E scritas Naturais...................... 94

2. E scritas D isfarçadas......................................................................................................... 94

3. E scritas Imitadas...................................................................................................................................94

Capítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia

1. D eterminação da I dade do D ocumento............................................................................................. 95

^ 2 ?y Cruzamentos de T raços....................................................................................................................... 97
2.1. C ruzam ento de traços e m descarga do m aterial corante de
fitas de p o lie tile n o .................................................................................................................. 98
2.2. C ruzam ento de traços: a m icroscopia eletrônica de v arre d u ra
aplicada à d o cu m en to sco p ia............................................................................................... 100
2.2.1. In tro d u ção .................................................................................................................. 100
2.2.2. M icroscopia E letrônica de V arredura com Feixe de
ío n s F o calizad o .........................................................................................................101
2.2.3. Metodologia: exem plos de aplicação e m d o c u m e n to s c o p ia ........................104
2.2.3- 1. Utilização do MEV em cruzamento de traços.......................................... 104
2.2.3- 2. Utilização do MEV/FIBem cruzamento de traços................................... 108
2.2.3 3. Utilização do MEV com EDS em docum entoscopia.................................119
2.2.4. Avaliação dos R esu ltad o s........................................................................................ 122
2.2.4.1. Aspectos positivos..........................................................................................123
2.2.4.2. Aspectos negativos....................................................................................... 123
2.2.5. As letras de fôrm a e os a lg a r is m o s ..................................................................... 124
2.2.5.1. Letras de fô rm a ............................................................................................ 124
2.2.5.2. A lgarism os................................................................................................... 126
2.2.6. As M o n ta g e n s ........................................................................................................... 126

Capítulo XI - As T intas de E screver

1. H istórico ............................................................................................................................................ 129

2. Características dos T raços à P ena e T inta ................................................................................... 130


S umário

130
2.1. A s s u lc a g e n s ..................
131
2.2. Falsas su lc a g e n s .........
131
2.3. R ebarbas........................
131
2.4. Falsas re b a rb a s ............
131
2.5. M eniscos........................
131
2.6. Refluxos e inundações
132
2.?: Tropeços d a p e n a . . . .
132
3. E xame das T intas de E screver

Capítulo XII - I nstrumentos E screventes


135
1. As Canetas-T inteiros ...................................................................................
137
2. As Canetas E sferográficas.......................................................................
2.1. Exame da m a ssa corante das canetas e sfe ro g rá fic a s......... 138

2.2. Exam e d a m a ssa das canetas esferográficas pelo


138
. processo c o lo rim é tric o ................................................................

'C apítulo XIII - E volução do S uporte


143
1. E volução H istórica...................................................................................
143
1. 1. O p a p ir o ..........................................................................................
144
1.2. O p erg am in h o .................................................................................
144
1.3. O c o u ro .............................................................................................
144
2. O P apel.........................................................................................................
144
2.1. Rápido histórico ...............................................
146
2.2. Os diferentes tipos de p a p e l ......................................................
146
2.2.1. Quanto à matéria-prima ou à su a n a t u r e z a .........
146
2.2.2. Q uanto ao processo de f a b r ic o .................................
146
2.3. Q uanto ao seu peso ou à su a fin a lid a d e...............................
147
2.4. Fabricação do p a p e l ...................................................................
. 148
2.4.1. Polpa m e c â n ic a ..............................................................
. 149
2.4.2. Polpa ao s u lf ito ..............................................................
. 150
2.4.3. Polpa kraft ou ao su lfa to .............................................
. 150
2.5. M atérias-prim as p a ra a fabricação de celulose e de papel
153
2.6. Exame do p a p e l ..........................................................................
. 153
2.6.1. Exam e m é t r i c o ..............................................................
. 153
2.6.2. Exam e ó p tico ..................................................................
XII D ocum entoscopia - Lamartine M endes

2.7. Exame d a p a sta ................ ................................................................................................... 154


2.7.1. Pesquisa d a cola a p lic a d a ................................................................................... 154
2.7.2. Determinação da natureza do tratamento da pasta.................................... 154
V , 2.7.3. D iagnóstico das fib ra s ..................... 255

^ C apítulo XIV — P apel de S egurança

/ 1. J)fÉCNICAS DE FOTOLITO, DE IMPRESSÃO E DE TlNTA............................................................... 159


-— «*>'' 1. 1. T a lh o -d o c e ........................................
1.2. Im agem fa n ta sm a .........................................

1.3. Fundo a rc o -íris...........................................


1.4. D uplo a rc o -íris ..........................

1.5. G u ilh o ch ê.............. ............................


1.6. D e la c h ro m e ......................................
1.7. M icrotexto....................................

2. T écnicas de F otolito e de T intas.....................


2. 1. M ic ro le tra s...............................
2.2. M edalhões sim plex e d u p lex .................
2.3. Fundo m o iré .........................................
2.4. Fundo a n ti- s c a n n e r ..........................

3. Técnicas de F otolito e de Impressão........................


3.1. See-through...............................
3.2. Falha técn ica.............................................

3.3. Fundo geom étrico.............................

4. T écnica de F otolito, de T inta e de P apel.........

5. T écnica de T inta e de I mpressão.................

6. 263
Técnicas de P a p e l ................... ...............................................................................................

6.1. Fibras coloridas.....................................................................................263


6.2. Papel reagente.......................................................................................164
6.3. Marca d’água............................. 264
7. T écnica de F otolito..................................................................................................................... 264

7.1. Traço aleatório................................................................................ 264


7.2. Reforço de traço.....................................................................................264
7.3. Imagem secreta....................................................... 264
8. T écnica de T in ta .......................................................... , . ............................................................... 264
XIII
S umákio

164
8.1. Tinta reagente ou solúvel.............................................
8.2. Fluorescência com troca.............................................. 165

8.3. Fluorescência fixa....................................................... 165

8.4. Fluorescência latente ................................................... 165

165
9. H olografia............................................................ .................................

^ C apítulo XV - A Arte de I m prim ir

1. Classificação das E scritas M ecânicas............ ............ 165

2. M atrizes em Alto Relevo (R elevograflçC .............................................


166
2.1. Atipografia................................................................ 166
167
2.2. Adatilografia.............................................................
2.2.1. Amáquina de escrever.................................... 167

2.2.2. Exames datilográficos...................................... 168


2.2.3. Identificação da máquina................................. 168
2.2.4. Identificação do mecanógrafo.......................... 169

2.2.5. Acréscimos mecanográficos............................. 171

2.2.6. Leitura da fita datilografada............................... 175

2.2.7. Máquinas de escrever elétricas.......................... 177

2.3. Flexografia.............................................................. 179

180
3. Matrizes de B aixo R elevo ( escavografia) .............................................
181
3.1. Feitura da matriz.....................................................
182
4. Matrizes P lanas (P lanografia) ..........................
4.1. Litografia.......... ......................................... — 183

183
4.2. Off-set.....................................................................
, 184
4.3. Eletrografia..............................................................
. 185
4.4. Xerografia......................................... ............. ........
188
5. Matrizes Vazadas (P ermeografia) ... • ...................
. 188
6. Os Computadores..............................................................
6.1. Ofuncionamento dos computadores para a impressão de
textos e gráficos..................................................... . 189

6.2. Os vários processos de impressão.......... .................... . 191

6.2.1. Aimpressão matricial..................................... • 191

6.2.2. Os raios lasers............................................... . 192

6.2.3. Impressão a laser............ . 193

6.2.4. Impressão a jato de tinta........................ ........ . 195


XIV D ocum entoscopia - L amartine M endes

6.2.5. Impressão térmica em cores......................................................... 195


6.3. Identificação de textos impressos por microcomputadores........................... 196
6.3.1. Pré-requisitos............................................................................. 196
6.3.2. As fraudes por computador................................................. 19
6.4. A identificação da impressora................................................................... 197
6.4.1. A distinção entre os vários tipos de impressão............................... 199

C apítulo XVI - A F alsificação de S elos

1. S elos de Controle .......................................................................................................................... 204

2. As Máquinas de R eprodução e a Falsificação de D ocumentos................................................205

Capítulo XVII — A P eça de E xame

1. Considerações Sobre a P eça de E xame......................................................................................... 205

2. Cautelas e N ormas P ara o M anuseio da P eça de Exam e ......................................................... 210

C apítulo XVIII — P adrões de C onfronto

1. Requisitos dos P adrões de Confronto.......................................................................................... 211

1.1. Observações importantes........................................................................ 213


2. T écnica de Coleta ............................................................................................................................. 213

3. Arquivo de P adrões........................................................................................................................... 215

Capítulo XIX — Q u e s it o s ................................................................................................... 219

Capítulo XX - A P erícia G rafotécnica

1. Evolução da P erícia Grafotécnica................................................................................................. 220

1.1. A primeira perícia grafotécnica em São Paulo........................................... 222

2. Do Exame Grafotécnico..................................................................................................................... 222


3. A P erícia por Computador................................................................................................................ 225

C apítulo XXI - O L audo G rafotécnico

1. R oteiro do Laudo ...................................................................................................................... 231


2. O Valor da P erícia ......................................................................................................................... 233
2.1. Considerações........................................................................................ 233
3. Conselhos P ara os P er ito s ............................................................................................................. 235
XV
S umário

C apítulo XXII - As M oedas M etálicas


1. O P reparo do D is c o .........................................................................................................................237

2. F eitura da M atriz ........................................................................................................................... 238

3. Cunhagem..........................................................................................................................................238

4. Nomenclatura da M o e d a ..................................................................................................................239

5. A Falsificação de M oedasM etálicas..............................................................................................240

6. P rocessos de Falsificação de M o ed a s ........................................................................................241

7. Exame das M oedas.......................................................................................... 242

8. As M oedas do Real ........................................................................................................................... 243


8.1. As atuais moedasdo padrão real.............................. ' ^3
8.1.1. C aracterísticas físicas .....................................................................243
8.1.2. Os bordos...................................................................................244

Capítulo XXIII - O P apel -M oeda N acional


1. Nomenclatura — ........................................................................................................................... 245

2. Características de I mpressão...........................................................................................................245

2.1. Efígie.................................................................................................. 246


3. E lementos Acessórios.......................................................................................................................247

4. M áqulnas Impressoras...................................................................................................................... 248

4.1. Im pressão o f f - s e t................................................................................................................248


4.2. Calcografia.......................................................................................... 248
4.3. Tipografia.............................................................................................249
5. A M archa da I mpressão.................................................................................................................. 249

5.1. Primeira...............................................................................................249
5.2. Segunda...............................................................................................249
5.3. Terceira................................................................................................ 249
6. As Cédulas do N ovo P adrão M onetário Reai............................................................................... 249

6.1. índices de segurança das novas cédulas.............. 249


6.1.1. Opapel...................................................................................... 249
6.1.2. Processosde impressão................................................................ 250
7- As Alterações Introduzidas nas AtuaisCédulas do Real.............................................................251

8- Falsificação de P apel-M oeda.............................................................................. 253


8.1. Cédulas falsificadas............................. 254
XVI D ocum entoscopia - Lamartine M endes

8.2. As cédulas fa lsa s...................................................................................... ............................254

9- P apel-moeda Impresso em P lástico ............................................................................................256

10. Caso P rático....................................................................................................................................... 258

10.1. Cédulas falsas de c in q u e n ta re a is ......... ......................................................................... 258

Capítulo XXIV - O P apel -M oeda N orte -A mericano - O D ólar

1. O P apel............................................................................................................................................... 261

1.1. C aracterísticas..................................................................................................................... 261

2. A T inta ............................................................................................................................................... 262

3- T écnica de Impressão......................................................................................................................... 262

3.1. C alco g rafia.......................................................................................................................... 262


3.1.1. A n v e rso .......................... ...............................................................................262
3.1.2. R e v e rso .....................................................................................................................262
3.2. T ip o g rafia............................................................................................................................. 262
3.2.1. A n v e rso .....................................................................................................................262
3.2.2. R e v e rso .....................................................................................................................263
4. A E missão .......................................................................................................................................... 263

5. Vida Útil das Cédulas.....................................................................................................................263

6. O D ólar ......... .................................................................................................................................. 264

7. As N ovas Cédulas do D ólar............................................................................................................266

7.1. Modificações n o an v erso .................................................................................................... 267

7.2 M odificações n o re v e rs o ................................................................................................... 267

C apítulo XXV — E xame do P apel -M oeda

1. Q uanto ao Suporte .......................... ...............................................................................................269

2. Q uanto à Impressão......................................................................................................................... 269

3. Q uanto aos Índices de S egurança................................................................................................. 270

3-1. Q uadro co m p arativ o ....... ................................................................................................... 270

4. Exame das Cédulas por Raios-X ....................................................................................................270

4.1. Caso p r á t ic o ............................................................................ ............................ ................ 270

5. A Colorimetria Computadorizada.................................................................................................273

5.1. Exam es q u an to ao b ran co ( p a p e l) ................................................................................. 277

5.2. Análise dos gráficos do exam e do b ra n c o ......... ........................................................... 279

5.3. Interpretação dos gráficos q u an to ao branco (exam e d o p a p e l)..................... .. 280


XVII
S umário

5.4. Análise dos pigm entos d as t i n t a s ................................................................................... 283

5.5. Exam es do reverso ......................................................... 284


5.6. Exam e de m assas de canetas esferográficas.................................................................. 291

5.7. C onclusão............................................................ 294


k
Capítulo XXVI - A plicação do E spectro de L uz em E xame de
D ocumentos Q uestionados

1. I ntrodução..........................................................................................................................................2 95

2. Região Ultravioleta......................................................... ............................................................... 2 96


2.1. As propriedades básicas d a luz ultravioleta..................................................................... 296

2.2. O u so de luz ultravioleta em exam e de d o cu m en to q u e stio n a d o ............................ 296

2.3. Região V isív e l......................................................................................................................... 298


2.4. Um p ro b lem a de tin ta c lá ssic o .......................................................................................... 300

2.5. Região do in frav erm elh o ...................................................................................................... 301

3. Conclusão.................................... ......................................................................................................303

Bibliografia.................................................................................................................................................303

Capítulo XXVII - C asuística 01


1. A P erícia Grãfica em P rocessos R umorosos................................................................................. 305

1.1. Caso LaRonciéri................................. .............................................................................. 305

1.2. Caso Alfred D reyfus............................................................................................................... 306

1.3. Caso ........................................................................................................................................311


1.4. Caso Hauptmann..................................................................... 315

1.5. C asoJ abes Rabelo.................................................................................................................... 321


1.5.1. Rápido h is tó r i c o ......................................................................................................321
1.5.2. Análise do Laudo do Serviço de C rim inalística da
S uperin ten d ên cia d a Polícia Federal e m São P a u lo ........................................ 322
1.5.3. Análise do p arecer do professor Dr. Antonio Carlos Villanova........................322
1.5.4. Laudo pericial docum entoscópico....................................................................... 326
1.5.5. Objetivos d a p e ríc ia ....................................* — .............................................327
1.5.6. D e s c r iç ã o ........................................................ 327
1.5.7. Padrões de c o n f r o n to .................................................................................— 329
1.5.8. In stru m e n ta l de p esq u isa e a p o io . 329
1.5.9- M etodologia........................................................ 330
1.5.10. Exam es re alizad o s.............. 330
1.5. 11. Exam e g ra fo té n ic o ................. ............................................................................ 333
XVIII D ocum entoscopia - L amartine M endes

1.5.12. Legendas fo to g rá fic a s...............................................................; .....................335


^ 1.5.13-C o n c lu s õ e s ............................................................................................................. 340

^ g I pítülo XXVIII - Casuística 02


1. D as I mpressões G ráficas F raudulentas em D ocumentos de S egurança ..................... 341

Ml
^ C apítulo XXIX - D ocumentos de I dentificação M ais U tilizados
pelos C idadãos B rasileiros

1. Carteiras de Identidade.................................................................................................................... 349

1.1.D ados C onstantes n o Anverso d a C arteira de I d e n tid a d e ............................................... 350

1.2. D ados C onstantes n o Reverso da C arteira de I d e n tid a d e ...........................................350

1.3. C aracterísticas de S egurança d a C arteira de Id e n tid a d e ............................................. 350


1.4. A nova C arteira de Identidade que será im p lan tad a a
p artir do ano de 2009...........................................................................................................353
2. Carteira Nacional de H abilitação............................................... 353
2.1. Modelo d a C arteira Nacional de Habilitação Antiga...................................................... 353
2.2. C aracterísticas de Segurança d a C arteira
Nacional de H a b ilita ç ã o ...................................................................................................... 254

2.3. C aracterísticas de Segurança d a Nova C arteira


Nacional de H a b ilita ç ã o ...................................................................................................... 355

Capítulo XXX — D a P rova P ericial — D ispositivos L egais

1. Considerações G erais...................................................................................... 357


1.1. Redação prim itiva dos artigos p ertin en tes ao trab alh o pericial,
atu alm en te m o d ificad o s...................................................................................................... 357

1.2. Lei n° 11.690, de 9 d e ju n h o de 2008 ......................................................................... 358

R eferências B ibliográficas 363


Capítulo I

D ocumentoscopia

1. C onceito e D ivisão

1.1. Conceito •
Documentoscopia é a parte da criminalística que estuda os docum en­
tos para verificar se são autênticos e, em caso contrário, determ inar a sua
autoria.
A documentoscopia se distingue de outras disciplinas, que também
se preocupam com os documentos, porque ela tem um cunho nitidamen­
te policial: não se satisfaz com a prova da ilegitimidade do documento,
mas procura determ inar quem foi o seu autor, os meios empregados, o
que não ocorre com outras.
1.2. Divisão
• Grafotécnica;
• Mecanografia;
• As alterações de documentos;
• Exame de moedas metálicas;
• Exame de selos;
• Exame de papel-moeda;
• Exame de papéis;
• Exame de tintas;
• Exame de instrum entos escreventes;
• Outros exames relacionados.
2 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

2. G rafotécnica

2.1. Conceito
Grafotécnica é a parte da documentoscopia que estuda as escritas
com a finalidade de verificar se são autênticas e, em caso contrário, deter­
minar a sua autoria.
A grafotécnica tem recebido diferentes denominações, como grafísti-
ca, grafocinética e perícia gráfica.
Dado o espírito policial de que se reveste a documentoscopia, ela
não se satisfaz com a prova de inautenticidade de um a escrita, mas busca
também identificar o seu autor. Este aspecto a distingue de muitas outras
disciplinas relacionadas com a escrita, como a grafologia - estudo da per­
sonalidade do homem através do gesto gráfico -, e a paleografia - estudo
das escritas antigas.

3. E scrita

3.1. Conceito
Grafólogos, psicólogos, pedagogos e outros especialistas definiram,
cada um sob certo ponto de vista, o fenômeno da escrita. Todavia, como
se mostrará, nenhum desses conceitos, pelo menos de forma cabal, à luz
da grafotécnica, são satisfatórios.
• Alcázar Anguita: a escrita existe p a ra perpetuar o pensam ento (este
talvez seja o conceito mais vulgar da escrita).
• Streleletzki: é a arte de traduzir palavras ou idéias p o r sinais
convencionais (conceito muito vago).
• C repieux-Jamim: é um a harm onia da q u a l grafólogo decompõe os
acordes p a ra reconstituí-los sob outra fo r m a (conceito muito li­
terário e nada explícito) .
• M atilde Ras: a escrita é a representação dos sons, nas palavras,
com absoluta exatidão, d a palavra material, a p a rte do signi­
ficado que contém (o conceito é apenas limitado à escrita fonéti­
ca).
A grafóloga espanhola, entretanto, se esqueceu de um fato muito im­
portante: a escrita não é apenas m era reprodução da fala. É um a atividade
simbólica que é transmitida p o r sinais gráficos. Esta atividade exige uma
C apítulo I - D ocumentoscopia 3

grande elaboração de processos mentais superiores. A atividade m otora


cria um a forma perm anente do que é abstrato, ou seja, o pensam ento.
• D uparchi J eannez: é o m a is fle x ív e l e m a is fin o dos gestos, que
se realiza através de com plicada aparelhagem psicossom á-
tica (o conceito é m uito am plo, pois existem o u tro s gestos
psicossom áticos que não constituem escrita, com o a p in tu ra).
• E douard de Rugemont: não é u m gesto espontâneo, m as aprendido.
É um gesto social (este conceito também peca pela sua amplitude,
pois há muitos outros gestos sociais aprendidos que não consti­
tuem escrita).
• O rlando Sivieri: é um a exteriorização espontânea, pessoal e im e­
diata de um im pulso interior.
3.2. Conceito grafotécnico de escrita
A escrita é um gesto gráfico psicossomático que contém um núm ero
mínimo de elementos que possibilitam sua individualização.

3.3. Análise do conceito


Por que gesto? Ensinam os dicionários que gesto é m ovim ento do
corpo, em especial da cabeça e dos braços, o u p a r a exprim ir idéias ou
sentimentos, ou para se realçar a expressão.
Ora, a escrita é realizada pelo complexo braço-mão para registrar
idéias ou sentimentos. Portanto, a escrita é um gesto.
Há gestos congênitos, instintivos, como o de se levar as mãos para
defender a parte do corpo que vai ser atingida.
Há gestos aprendidos - a escrita é um gesto aprendido. É gráfico por­
que a escrita é um registro material e permanente.
É psicossomático porque a escrita se processa com o concurso do sis­
tema cerebral - centro nervoso da escrita - e o somático - a musculatura
do braço e da mão.
O lançam ento deve te r núm ero m ínim o de elem entos que possi­
bilitem sua individualização. Se assim não for, trata-se de um rabisco
ou de um desenho, que não atende aos objetivos da p ró p ria grafotéc­
nica.
‘A escrita é um gesto, e d eve ser estudada co m o tal, o u seja, co m o um a
pressão m uscular d e n o sso s centros p síq u icos.” (M orfo -p h ysio lo g ie d e
V ècriture. Maurice Périon)
4 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

4. A E volução dos S istemas G ráficos

O registro do pensam ento através de sinais gráficos deu outra dimen­


são ao homem.
O gesto gráfico é tão im portante que, se não existisse, o m undo ja­
mais teria se desenvolvido como tal. Não seria possível a troca de conheci­
mentos. Não existiria a própria história. Bibliotecas não seriam montadas
e jornais e revistas não seriam editados. Difícil seria o relacionamento en­
tre as várias nações.
Tal é a importância da escrita que levou o tratadista alemão Ludwig
Klages, autor de primorosas obras sobre o estudo das escritas, a definir o
homem como a n im a l que escreve.
Realmente, desde priscas eras, ainda na caverna, o troglodita se
valia de desenhos, que são registros gráficos para identificar os seus
pertences.
Assim, foi o desenho a primeira manifestação gráfica do homem.
Desenhos estes que, passados milênios, foram sistematizados e, com
isso, surgiu o primeiro sistema gráfico, a escrita pictórica.
A primeira manifestação gráfica do homem foi a escrita pictórica. To­
dos os seres eram representados por desenhos bem simples.
Nessas condições, as emoções, por exemplo, não podiam ser registra­
das graficamente.

4.1. Hieróglifos

No Egito, cinco mil anos antes de Cristo, surgiu o primeiro sistema


gráfico - os hieróglifos, que significam escrita sagrada, pois só eram domi­
nados pelos sacerdotes.
Todas as coisas eram representadas p or um conjunto de símbolos, na
base dos quais foi possível ser organizado o alfabeto hieroglífico.
Com o passar do tempo, o hieróglifo saiu dos templos e chegou às
classes mais cultas da sociedade, sobretudo aos negociantes.
Os hieróglifos sofreram então uma simplificação que resultou numa
nova escrita, a hierática.
5
C apítulo I - D ocumentoscopia

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Figura1- Alfabeto hieroglífico, com os símbolos correspondentes ao


árabe e ao latino.

Mais tarde, o sistema hierático sofreu nova simplificação, dando sur­


gimento ao sistema demótico.
A escrita demótica teve grande duração, chegou até o ano 473 da nos-
sa era, hoje enquadrada no sistema fonético.
6 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Numa pequena cidade egípcia, chamada Rosetta, em 1799, um oficial


das tropas de Napoleão encontrou um bloco de basalto, contendo inscri­
ções em grego, em demótico e em hieróglifos.
Em 1801, a Pedra de Rosetta, assim denominada, foi enviada ao Mu­
seu Britânico, onde o médico e egiptólogo inglês T homas Y oung tentou,
durante treze anos, decifrá-la. Conseguiu apenas um parcial sucesso com
relação ao texto demótico, e publicou mais tarde, em 1829, um dicionário
egípcio.

Figura2 - A Pedra de Rosetta era basalto preto, contendo textos em


hieróglifos, aramaico e grego.

Infelizmente, o texto hieroglífico estava muito mutilado. Porém, vá­


rios exemplares de decretos semelhantes ao de P tolomeu V foram desco­
bertos em Philae, Damanhur, Tell-Ramsis e outras cidades do Antigo Egito.
Graças a isto, o arqueólogo e orientalista francês J ean F rançois C hampollion,
após muito em penho, pôde reconstituir o decreto da Pedra de Rosetta,
conseguindo sua deciffação em 1821.
C hampollion partiu do nome de P tolomeu , pois acreditava que as ins­
crições eram decretos daquele faraó. Distribuiu as letras do alfabeto latino
C apítulo I - D ocumentoscopia 7

sobre os hieróglifos que, conforme supunha, representavam o nom e do


faraó. Após diversas tentativas, chegou à solução que procurava. Depois,
usando do mesmo critério, decifrou o nome C leópatra. E , daí para frente,
tudo se tornou um tanto mais fácil.

Figura3- Reprodução dos nomes de P to lo m eu e C le ó p a tr a ,


ponto de partida para a decifração dos hieróglifos.

4.2. Escrita ideográfica


Verificou-se, entretanto, que o sistema gráfico dos hieróglifos não satis­
fazia: baseando-se em imagens, ele só podería registrar coisas materiais. Os
sentimentos, como a dor, a vida, e a fome não poderíam ser representados.
Foi, então, criado um novo sistema gráfico: a escrita ideográfica, na
qual os ideogramas não mais representavam letras para com por palavras,
ou seres e objetos, mas idéias.
Esse sistema logo teve expansão na China, onde sofreu grandes mo­
dificações.
A primeira escrita chinesa de que se tem conhecimento era denom i­
nada ku-wen. Era do tipo pictórico.
No século VIII a.C., esse sistema foi substituído pelo ideograma por
chi-tchem.
Com esse tipo de escrita Confucio escreveu a sua obra.
Mais tarde ocorreu nova modificação, era a escrita li, que podia ser
registrada na seda ou em madeira, com caracteres laqueados.
Foi esse sistema que se aperfeiçoou ainda mais com o surgimento do
papel.
A escrita chinesa ainda hoje é ideográfica (Figura 4).
8 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

4 &

&

Figura4- Ideogramas chineses.


1 - Filhos que respeitam os pais constituem uma família feliz.
2 - Irmãos menores que respeitam os maiores ensejam paz e harmonia.

Numa conferência nacional realizada em Nanquim, em 1932, discu-


tiu-se a modificação do sistema gráfico, para que se tornasse mais fácil. Um
chinês letrado tinha a necessidade de conhecer de 8 a 9 mil caracteres, dos
50.000 existentes, o que constituía tarefa árdua.
A comissão nomeada para esses estudos teve o prazo de vinte anos
para apresentar a sua proposta, o que não ocorreu até o presente.
A escrita japonesa também é do tipo ideográfico. Ela surgiu inspirada
no ideografismo chinês, mas sofreu várias modificações locais.
As escritas nipônicas mais antigas datam do século XV antes da nossa
era e se desconhece a data em que essa grafia foi adotada.
No Japão não existia linguagem escrita. Esta só foi adotada no século
V Eram os caracteres kanji e, posteriorm ente, partindo destes, surgiram
as escritas hiragana e katakana.
A escrita kanji nem sempre tem um a só leitura. Tendo sido uma adap­
tação dos ideogramas chineses, introduzidos em épocas diferentes, resul­
tou numa diversidade de leituras.
A expressão ka n ji significa lua, em leitura de tsuki. Ao mesmo tem­
po, pode ser lido gatsu, dentro de uma palavra que indique um mês
do ano, ou ainda, getsu, como getsuyobi (segunda-feira), mas sempre
expressa a ideia de lua.
C apítulo I - D ocumentoscopia 9

Essa pluralidade na leitura do kanji é classificada em:


• kun-yom i, em leitura japonesa;
• on-yomi, que é a transcrição para a língua chinesa.
O kanji é o símbolo que exprime a ideia. O hiragana e o ka ta ka n a
são os fonogramas criados no Japão a partir do século IX. Servem para
expressar as sílabas e são destituídos de significado.
Além desses três sistemas de escrita, existe ainda outro - romaji, que
é a transliteração dos sons da língua nipônica no alfabeto latino.
Na língua japonesa, existe um grande núm ero de palavras estrangei­
ras, como inglesas, francesas e portuguesas, sobretudo substantivos pró­
prios que são transcritos em japonês. Utiliza-se o katakana. São deno­
minados gairai-go, ou seja, palavras de origem estrangeira, das quais as
chinesas são exceção.

4.3. Escrita cuneiforme


Na época em que o Egito usava a escrita hieroglífica, na Babilônia e na
Assíria se usava a escrita cuneiforme.
A escrita era gravada em blocos de argila por meio de um a haste de
madeira, que tinha, numa das extremidades, em relevo, um símbolo. Ha­
via hastes com o mesmo desenho de tamanhos e posições diferentes. Es­
sas hastes eram chamadas de cuneu, daí a expressão cuneiforme.

\ «ir si m !♦* w w nr N *
a t t n-tnifluE< C=
<(n u tu it- ktti i $- \ * ***
« n f i h - n ig M ín t \

Ü «n H! H* - 1E 55 \ «n n m i*- ,<m
Figura5- Escrita cuneiforme.

O docum ento babilônico gravado em cuneiforme mais importante,


datado de cerca de 2.600 anos antes de Cristo, é o Código de Hamurabi.
H amurabi foi u m g u e r r e ir o q u e , e m ra z ã o d a su a a u d á c ia e sa b e d o ria ,
crio u a d in a s tia q u e le v o u o s e u n o m e .
O Código de Hamurabi, que foi um a das fontes de inspiração do
Direito m oderno, tinha, ao lado de idéias avançadas, preceitos ainda
bárbaros.
10 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

O Código foi encontrado em 1901, nos arredores da antiga cidade


Susa, pelo arqueólogo francês J acques de M organ. Era constituído p or um
cilindro de pedra negra (diorito) de 2,25 m de altura e 1,90 de circunfe­
rência na base.
São 46 colunas, 3.600 linhas de gravações cuneiformes, tendo 282
artigos, cujo conteúdo visava a im plantar justiça na terra, destruir os
m aus e o mal, prevenir a opressão do fraco pelo forte, ilum inar o m undo
e propiciar o bem-estar do povo.
Entre as idéias avançadas, no Código, encontra-se o salário mínimo, a
defesa da m ulher e a adoção de crianças.
Com relação à difamação da mulher, o artigo 127 estatuía que, se al­
guém difamasse uma m ulher e não pudesse provar, deveria ser arrastado
perante um juiz, para ter sua face marcada com ferro em brasa.
A lei do ventre livre já tinha sido prevista no famoso código. A adoção
de uma criança era irreversível. Todavia, se à criança adotada não fosse
ensinado um ofício, esta teria o direito de retornar à casa paterna. Mas,
se o pai não quisesse receber o filho, este não deveria ir embora sem re­
ceber do genitor um terço do seu patrim ônio e, mais ainda, outro do pai
adotivo.
Com relação ao filho, se este espancasse o pai, a penalidade prevista
era severa: a amputação das duas mãos.
Tal era a significação que H amurabi deu ao seu código, que assim se
manifestou no seu final:
“Q ue cada oprim ido apareça diante d e mim co m o rei que sou da Justi­
ça. Possa ele folgar o coração, exclam ando: H a m u r a b i é um pai para seu
povo, estab elecen d o a prosperidade para sem pre e dando um governo
justo a seu povo. Por to d o o tem p o futuro, o rei que estiver n o trono
observará as palavras que eu tracei neste m o n u m en to.”
Mas assim não ocorreu. H amurabi foi sucedido pelo seu filho Sam-S ui-
lana,que não tinha os mesmos ideais, coragem e sabedoria. O império se
enfraqueceu. E, em 1746 a.C., os Cassitas conquistaram Babilônia. Joga­
ram o m onum ento código no deserto, onde só foi encontrado 3.600 anos
depois.

4.4. A escrita fonética


O sistema ideográfico, com ressalva da China e do Japão, estava fada­
do a desaparecer.
As idéias tendem ao infinito e, assim, necessariamente, ocorre com
os ideogramas.
C apítulo I - D ocumentoscopia
11

Seria muito difícil alguém dom inar todos os ideogramas, por isso um
novo sistema gráfico deveria ser descoberto.
Os sumerianos resolveram a questão: atribuíram aos símbolos o som
da fala, criando a escrita fonética, que perdurou até o nosso tempo.
Em outras palavras, os sumerianos paralelaram a linguagem escrita
com a falada.
Eles não criaram um novo sistema gráfico, mas deram ao existente
um a nova concepção.
Todavia criaram, isso sim, sinais que ora eram empregados ideogra-
ficamente para representar um ou mais objetos, ora foneticamente para
uma ou várias sílabas. Constituíram classes de objetos e, cada registro, por
um ideograma, indicava a classe a que pertencia.
O princípio do alfabeto fonético foi logo adotado e usado para os
vários sistemas.
Os egípcios também passaram a usar o m étodo fonético para o seu
sistema hieroglífico.
Assim, por exemplo, crocodilo era meseh e o som da fala era repre­
sentado pelos seguintes símbolos:

M coruja

Z ferrolho —

H torcida de linho 9
Eles criaram, ainda, u m sím bolo para
indicar o fim da frase — o que antes

não existia, facilitando a leitura.

Os semitas e os assírios também adotaram a escrita fonética dos su­


merianos. Os sinais ideográficos conservaram os seus valores, mas a leitu­
ra passou a ser em semítico. Os valores silábicos foram mantidos. Novos
sinais foram criados, outros abandonados. Isso gerou uma grande confu­
são e a escrita ficou demais complicada.
Por essa razão, vocabulários foram organizados, com listas de sinais
e dc palavras.
12 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

A escrita fonética teria sido usada pela primeira vez na Coréia, por
imposição legal, cerca de 2.500 anos depois de ter sido inventada. Era o
alfabeto Hanguel.
Surge então o alfabeto Fenício, do qual se originaram os alfabetos
modernos.
Os gregos criaram seu alfabeto próprio. Este, através da Sicília, invadiu
a península itálica e lá, fundido com o fenício, resultou no alfabeto latino.
Entre os gregos, o alfabeto teve várias modificações locais. Somente
se unificou em Atenas, no ano 430 a.C., por imposição de E uclides, para
que fossem feitos os registros públicos. Para isso, foi escolhido o alfabeto
Jônico.
E squilo, o fa m o so d ra m a tu rg o h e le n o , a r e s p e ito d a e sc rita , a ssim se
m a n ife sto u :
“O atenienses, quão útil é e quanto é bom possuir arquivos. Esses es­
critos n o s conservam intactos, e não variamos segu n d o o capricho da
o p in iã o .”
A pontuação, para a separação e a ordenação dos períodos da oração,
foi inventada por Aristófanes, de Bizâncio, para facilitar a leitura da obra
de H omero.
O alfabeto Esfavo foi criado por dois monges irmãos, atendendo ao pedi­
do dos russos. C irilo - por isso o alfabeto também se chama cirüico - e M etó-
dio , inspirados no alfabeto latino, introduziram algumas modificações.

4.5. A escrita em Roma


Roma teve papel de destaque na evolução dos sistemas gráficos. O
alfabeto latino foi fonte de inspiração para muitos outros, e a maioria che­
gou até o nosso tempo.
Roma foi o fulcro de toda a civilização e dom inou grande parte da
Europa do seu tempo, im pondo não só a sua língua como o seu alfabeto.
P aulier, no livro Étude sur Vescriture artificielle dans docum ents for-
gés, compulsando docum entos antigos, fez um estudo da influência da
escrita romana em terras alienígenas por Roma dominadas. Ele se deu ao
trabalho de desenhar o contorno dos vários tipos de escritas italianas e as
que dela se derivaram.
A escrita primitiva dos romanos era a Epigráfica, com a qual faziam as
inscrições nos monumentos. Era uma escrita que possuía letras maiuscu­
las, toscas e mal traçadas.
A evolução da escrita epigráfica, com o seu aperfeiçoamento, resultou
na scriptura m onum entalis.
C apítulo I - D ocumentoscopia 13

A necessidade do registro dos textos legislativos gerou novos moldes


caligráficos, como a scriptura actuaria.
No século V a escrita uncial se instalou. Avançando no tempo, che­
gando no século VI, surgiu um novo tipo de escrita, mais fluente, a scrip­
tura libraria, que perdurou até o século VIII.
O aprimoramento desse novo sistema de escrita originou a scriptura
epistolaris, usada para feitura das crônicas, dos contratos e das cartas.
Finalmente, o sistema gráfico rom ano se fixou com a adoção da es­
crita uncial.
Foi esse tipo de escrita que os Romanos levaram para as áreas p o r eles
conquistadas, criando em cada região, com modificações locais, outros
tipos de escritas.
Assim surgiram a escrita carolina, a irlandesa, a gótica. Esta, p o r volta
do século XX com alterações, foi largamente usada em toda a Europa.
No século IX, apareceu a escrita merovíngea, a lombárdica e a anglo-
saxônica. Na Itália, durante a renascença, foi adotada uma escrita chamada
humanística.
Finalmente, no século XVII, por fim, a escrita uncial cursiva se fixou
definitivamente.
Muitos alfabetos, com o passar do tempo, nos primórdios da evolu­
ção da escrita, desapareceram, como o alfabeto moabita, o aramaico e o
mongol, todos eles derivados do alfabeto fenício.
Hoje, basicamente, podem os distinguir cinco tipos de alfabetos:
• Latino: em uso nas três Américas e grande parte da Europa;
• Gótico: em uso na Alemanha, Áustria e Suíça;
• Grego: privativo da Grécia;
• Eslavo: usado na União Soviética e pelos povos ao oeste dos
Urais;
• Hebraico: no Oriente Médio e pelos povos da nação árabe.
Somente o Japão usa o alfabeto katakana. A China ainda usa a escrita
ideográfica.
Barbosa M ello, no livro Síntese histórica do livro, ofereceu um orga-
n°grama dos alfabetos, como se vê a seguir:
14 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

4.6. Os sistemas gráficos do novo mundo


Falou-se, até aqui, nos sistemas gráficos da Mesopotâmia, da Ásia, do
Oriente e da Europa. Seria interessante fazer algumas referências às escri­
tas das Américas.
Três grandes nações devem ser focalizadas: os astecas, os maias e os
incas.

4.7. Os Astecas
Ao norte, na atual fronteira do México; ao sul, no antigo istmo do
Panamá, indo na direção leste-oeste de oceano a oceano, ou seja, do Atlân­
tico ao Pacífico, se situava o planalto chamado Anaval, que significava ro­
deado de água, floresceram vários clãs e, entre eles, o dos Astecas.
Os Astecas, entre os seus deuses, tinham um mito poderoso, o
Quetzalcôatl, a serpente de plu m a s verdes que, segundo o folclore local,
foi o inventor da escrita.
C apítulo I - D ocumentoscopia 15

Capactil Quiauitii

Miquiztil Malinali Té Cpati Cóati

Ozomatli

Océloti

Figura6 - 0 calendário asteca.

A escrita asteca era do ramo pictórico e simbólico. Os acontecimentos


eram registrados por meio de gravuras que lembravam o fato. Não usa­
vam, pois, sinais arbitrários ou elementos de cunho fonético.
Os documentos que chegaram até nossos dias foram transformados
pelos escribas em textos de caráter fonético.
B ernal D iaz D el C astillo conta que, quando os emissários de Monte-
zuma II se avistaram com C ortês, para saber de suas intenções, estavam
acompanhados de pintores. Estes pintavam, com cores variadas, os fatos
16 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

que estavam acontecendo, num a folha que se assemelhava ao papel. Pin­


tavam os aspectos do campo da batalha, a figura dos chefes e outros dados
mais que julgavam interessantes.
B ernal a c re d ita v a q u e o s p in to r e s estav a m re d ig in d o u m re la tó rio
p a r a levá-lo a o im p e ra d o r.

Esse fato dá a entender que a escrita asteca era uma mistura do hieró­
glifo com representações ideográficas.
Os manuscritos astecas que existem, já seriamente afetados pelo tem ­
po, são conhecidos por codex, ou códices, e, na sua maioria, surgiram
após a conquista espanhola.
Existem poucos docum entos da era pré-colombiana e não são igual­
mente entendidos pelos estudiosos.

4.8. Oslncas
O império dos incas ocupava a região onde hoje se encontra o Peru,
que era o centro da civilização, o norte do Chile e da Argentina, o Equador
e parte da Bolívia.
A língua falada era n in a sim i, que significava língua de gente.
Eles foram dominados por F rancisco P izarro, em 1534.
Os incas trabalhavam admiravelmente a pedra, como o Templo do
Sol, a cerâmica e a tecelagem.
Quanto ao sistema gráfico dos incas, nada se sabe.
Inscrições que foram encontradas, em vasos e em esculturas, levaram
a acreditar que se tratava de símbolos hieroglíficos.
A 290 quilômetros de Cuzco, ainda são encontradas, nas pedras de
Sauaiaco, várias inscrições, até hoje não identificadas.
Foi encontrado um sistema de fibras, de cores e tamanhos diferentes,
com nós em posições diversas, presas a um pedaço de madeira, chamado
quipo (ilustração a seguir).
Ainda não se sabe o significado dos quipos, mas alguns estudiosos
aventaram a hipótese de terem sido um a manifestação gráfica dos in­
cas.
C apítulo I - D ocumentoscopia 17

4.9. A escrita dos Maias


A história dos maias se distribui por quatro fases distintas:
• o antigo império maia teria tido início no ano 317 antes de Cristo e
chegou até 987 da nossa era. Foi nessa época que Palenque, Copai
e Tikal eram os centros da civilização maia. Muitas ruínas dessas
cidades foram encontradas;
• os maias foram dominados pelo clã dos Toltecas, que ocupava o
planalto de Anahuac (nome pelo qual era conhecido o México an­
tes da conquista espanhola). O império foi praticamente destruí­
do;
• o império maia ressurge e chega até o século X da nossa era, pou­
co antes da chegada dos espanhóis. As principais cidades foram
Maipan, Uxmal, Chichen e Itza, que era grande centro religioso;
• finalmente, o império entrou em decadência, desmembrando-se
em várias tribos que se digladiavam entre si. Mesmo divididos, os
maias opuseram forte resistência aos europeus.
Embora não seja possível se determ inar com precisão como se for­
mou, e quais os elementos que contribuíram para a formação do império
maia, acredita-se que ele resultou da fusão de várias tribos, quichés, ma­
mes e maias, que tinham uma língua comum, o m aia-quichés.
A civilização maia floresceu na região hoje compreendida pela Guate­
mala, Península do Iucatã e Honduras e foi anterior à dos astecas.
Quando os espanhóis o subjugaram, o império maia já estava em de­
cadência, dividido em principados autônomos.
A escrita dos maias era do tipo pictórico, mas de rara beleza, e servia
de decoração artística. Era gravada em tijolos de arenito e representava,
na sua maioria, cabeças humanas, umas em atitude agressiva, mas todas
adornadas de enfeites.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
18

As ruínas maias estão cobertas de inscrições e sua decifração vinha

deSt ” “ « : foi fe ita p o t D,too D e U sns 0523-1579), b is p o


d e Iu c atã. C o n s e g u iu o p r e la d o d e c ifra r a p e n a s o e a le n d a rto , o s S im bo o s

daS t o m c h à ^ u " escrita raaia de ealculiforme, porque os caracte­


res são^qutuirados, com os cantos arredondados, lem brando pequenos

SCb£ A estritiTmaia difere dos hierõgiifos egípcios, porque não é disposta


em colunas, mas em grupos combinados em formas retangulares
Honfladíis denominadas cartuchos.
Nos textos decifrados, os cartuchos são dispostos de forma mais ou
menos paralela As colunas são colocadas umas do lado das outras, fo os
os cartuchos são de igual dimensão. São lidas duas colunas de cada vez
da " , à esquerda, para a inferior, ã direita, concluindo com a ma.s
b a ix a d a d ire ita .

Fiqura 8 - Parte dos símbolos existentes nas paredes do templo de Palenque,


narrando a história da dinastia de mesmo nome, decifrados por Gorm.
C apítulo I - D ocumentoscopia 19

Os algarismos eram representados por três séries de símbolos: a pri­


meira, de sinais normais; a segunda, de sinais de faces; e a terceira de
desenhos figurados. O núm ero 10 era uma cabeça, vista de perfil, com a
mão segurando o queixo.
O grande problema da decifração era distinguir os ornatos que de­
coravam a inscrição do seu próprio símbolo ou se esses ornam entos lhe
davam novo sentido.
O calendário maia, decifrado por D iego de Landa, era muito sem elhan­
te ao asteca, pois também se baseava no ano lunar. Mas este sofreu altera­
ções no seu desenvolvimento, que o distanciaram daquele.
O ano solar tinha 260 dias, mas, com modificações sucessivas, chegou
a 360, a que se somavam cinco dias suplementares.
A unidade de tem po era o dia, mas os maias reconheciam o tempo
registrando apenas dias completos.
Os 260 dias do calendário eram divididos em períodos de 20 dias e
recebiam nomes diferentes.
O arqueólogo soviético Yuri Knosof dedicou-se ao estudo da escrita
Maia. Embora não tenha tido pleno sucesso, afirmava, todavia, que ela era
silábica.
Recentemente, o arqueólogo alemão W olfgang G ockel, em sua obra,
História de um a dinastia m aia - a decifração dos hieróglifos clássicos
maias, venceu o desafio de cento e cinquenta anos.

5. 0 F enômeno da E scrita

Duas são as teorias que explicam a produção do gesto gráfico:


• teoria neurológica;
• teoria psicológica.

5.1. Teoria neurológica

Segundo a teoria neurológica, existe no cérebro um centro nervoso


CIL1C comanda a escrita - o calam us scriptorius localizado na segunda
circunvolução parietal esquerda de cérebro.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
20

Figura 9 - Desenho esquemático do cérebro, vendo-se assinalados os centros,


1) da escrita; 2) motor; 3) ótico; 4) acústico.

Essa afirmação já foi comprovada à saciedade: pessoas lesionadas nes­


ta parte do cérebro sofrem sérias perturbações no gesto gráfico. Se a inju­
ria for m uito grave, o homem pode até não mais escrever - a agrafia.
D urante o aprendizado da escrita, a criança inicia copiando m ode­
los bem simples até chegar aos mais complexos. D urante esse período,
vai ela treinando m ovim entos que criam formas alfabéticas. O resulta­
do desse aprendizado fica arm azenado no centro nervoso da escrita.
Chegará a hora em que esse órgão já contém todos os m ovim entos que
criam formas, e a m usculatura do braço e da mão já estão adaptados
a realizá-los. A criança não mais copia, mas escreve. O gesto grafico ja
está instalado.
Quando o homem quer escrever, o centro nervoso, pelo sistema cé-
rebroe-spinal, envia estímulos, movimentando a musculatura do braço e
da mão, materializando-se num lançamento gráfico.
Sob o ponto de vista neurológico, portanto, a escrita e a expressão
m uscular do centro nervoso do grafismo.
O rlando S ivieri, no seu livro Vindagine grafica, assim se manifestou:
“La scrittura, dunque, é la estrincazione dei pensiero per mezzo dei
segni grafici, determinato in vario senso da atti sucessiví delicati
e complessi delVato toracico, a preferenza destro, regolati dalle
sensazione dei tato e delia vista, sotto Vinfluenza dei centri cerebrah
associati, deputati alia funzione dei linguaggio."
(A escrita, portanto, é a expressão do pensam ento por m eio de sinais
gráficos, determ inada em vários sen tid os por atos sucessivos, delicados
e com p lexos d o m em bro superior, de preferência direito, regulados
pela sensação d o tato e da visão, sob a influência de centros cerebrais
associados, ded icad os à função da linguagem .)
Na verdade, a produção da escrita requer:
C apítulo I - D ocumentoscopia
21

• a visão das palavras escritas;


• a compreensão do sentido convencional;
• a possibilidade de exprimir idéias.
Para que se verifique a primeira função, deve haver normalidade no
aparelho ótico, desde os olhos até o centro onde a imagem se projeta,
através dos centros nervosos condutores do estímulo.
Este centro esta localizado no cérebro, sendo duplo, um para cada
hemisfério, situado exatamente nos respectivos lobos ocipitais, na zona
cortical, cissura calcarina: é a denom inada esfera visual ou centro visual
cortical primário.
Para a compreensão do sentido convencional das palavras, é preciso
deixar no centro visual a sua imagem. Este novo centro, peculiar a um só
hemisfério - o esquerdo - se situa no lobo parietal superior. Defrontando-
se com um centro psíquico ou intelectual, que unicamente se desenvolve
pelo exercício, dá-nos ele a faculdade de reconhecer letras, palavras objetos
e pessoas anteriormente vistos. Identificamo-los dessa maneira, no seu aspec­
to presente, com imagens arquivadas na memória visual. É o fenômeno da
gnosia visual.
Para comunicar aos nossos semelhantes o pensamento, é necessária a
movimentação dos músculos, em geral do membro superior direito, para
que as idéias se exteriorizem e sejam registradas em caracteres gráficos.
Dois centros nervosos cerebrais trabalham para a nova fúnção: um
e o centro m otor cortical primário, que superintende os movimentos do
membro superior direito; o segundo preside a lembrança dos movimen­
tos necessários para traçar as palavras escritas, ou seja, a lembrança das
imagens motoras gráficas. É o centro cortical secundário, centro psíquico
intelectual ou psicológico da escrita.
Não se pode ignorar, porém, que a audição e o tato também concor­
rem para a produção da escrita.
Solange Pellat já afirm av a q u e :
“Os m ovim entos que engendram os gestos gráficos encontram -se em
relaçao com o estado orgânico d o sistem a nervoso central e variam
com as m odalidades desse estado.”
Como se viu, resumindo, para a produção da escrita concorrem três
“ temas, que agem concomitantemente:
os sistemas das funções sensoriais específicas, auditiva e visual;
o sistema de sensibilidade geral (tato);
o sistema da atividade motora.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
22

É assim que o cérebro, os sentidos, os músculos e os nervos se conju­


gam para produzir o fenômeno da escrita.
A visão faz parte integrante e de destaque na produção do gesto grá­
fico.
O rlando Sivieri, op. cit., a propósito da escrita, procura mostrar a com­
plexidade do gesto, afirmando:
“S c h e m a t iz z a n d o , p e r m a g g i o r c h ia r e z z a , p o s s ia m o c o n c lu d e r e c h e
a l i a f u n z i o n e d e l i a s c r i t t u r a c o n c o r r o n o t r e e le m e n t i c h e p o t r e m m o
d e f i n i r e c o m p o n e n t i d e l i a f u n z i o n e s te s s a :
1. siste m a d e lle f u n z i o n i se n so r ia li specifiche, u d itiv a e visiva.
2. s is te m a d e lle s e n s ib ilitá g e n e r a li (ta to ).
3. s is te m a d e l l a t t i v i t á m o to ra . ”
(Sintetizando, para m aior clareza, p od em os concluir qu e à função da
escrita concorrem três elem en to s a que p od em o s chamar d e com p o­
n en tes dessa função:
1 . sistem a das fu n ções sensoriais específicas, auditiva e visual.

2 . sistem a de sensibilidade geral (tato).


3 . sistem a da atividade m otora.)
A visão, pois, desem penha papel importante na escrita.
Sivieri, op. cit., enfatiza a questão:
N o te v o le im p o r ta n z a , n e lla fu n z io n e d e lia sc rittu ra , riveste a n c h e
la vista; b a sta p e n s a r e a g li e ffe tti che la c h iu su ra d eg li occhio o la
im p ro v v isa m a n c a n z a d i lu c e p r o d u c o n o a llo r q u a n d o si sc riv i e d a lia
im p re sc e n d ib ile n e c e ssita d e lia v ista stessa, a llo r q u a n d o se co p ia d a
a ltr o scritto.
(N otável im portância, na função da escrita, se reveste tam bém a visão;
basta pensar n os efeitos q u e o fecham ento d os o lh o s ou a imprevista
falta de luz produzem quando se escreve e na im prescindível necessi­
dade da vista quan d o se copia de outra escrita.)
As pessoas que possuem m enor grau de visão sofrem sérias perturba­
ções no seu grafismo normal. Tão sérias são essas perturbações, que seus
portadores deveriam se abster do uso da pena.
A percepção visual implica a percepção de detalhes, comprimento,
tamanho, distância, direção e forma da escrita.
A diminuição da visão em grau muito acentuado faz do escritor uma
presa fácil. Não podendo enxergar, muitas vezes o texto de um docum en­
to lhe é lido de forma a configurar aquele que o escritor deveria subscre­
ver, quando, na realidade, o conteúdo da peça é outro, completamente
diverso.
C apítulo I - D ocumentoscopia
23

A prova, por vezes, é inexequível.


Entretanto, o exame da assinatura pode revelar descontrole do gesto,
como a diferenciação dos espaçamentos intergramaticais, interliterais e
intervocabulares, a perda da direção, podem sugerir a deficiência visual e,
assim, o valor do docum ento fica seriamente abalado.
A conclusão do perito grafotécnico será apenas um alerta para o ma­
gistrado.
Pode, ainda, ocorrer que o subscritor de um docum ento o tenha fir­
mado em estado precário de saúde e, valendo-se dessa circunstância, al­
guém o tenha ludibriado, colhendo sua assinatura em docum ento de cujo
teor ele não tinha conhecimento.
5.2. Teoria psicológica
Para se explicar a teoria psicológica da escrita, faz-se m ister um a pe­
quena incursão na doutrina de F reud.
Existem dois planos em nossa mente: o consciente ou racional e o
subconsciente, o irracional.
A m ente consciente é também chamada de mente objetiva. Ela toma
conhecimento do m undo exterior através dos cinco sentidos. Ela aprende
através da observação, pela experiência e pela educação. Sua maior função
é o raciocínio.
A m ente subjetiva tom a conhecimento do meio ambiente p o r cami­
nhos independentes dos cinco sentidos. Ela aprende p o r intuição É a sede
das emoções e o depósito da memória. Suas funções se exercitam mesmo
quando os sentidos objetivos estão momentaneamente adormecidos.
O sistema cérebro-espinal é o canal pelo qual se exerce a percepção
consciente dos sentidos e o controle sobre os movimentos do corpo.
O canal do subconsciente - que alimenta inconscientemente as fun­
ções vitais do organismo hum ano - é o sistema simpático, também cha­
mado de sistema nervoso involuntário. O subconsciente tem o seu centro
numa massa ganglionária situada atrás do estômago, conhecida p o r Plexo
aolar ou p o r cérebro abdominal.
Muitos autores comparam o consciente a uma casa de força, cuja
energia gerada põe em movimento o subconsciente. Outros comparam
a um navio, onde o capitão é o consciente, que determ ina as ordens que
ao cumpridas, sem discussão, pelos marujos - o subconsciente.
A escrita é um gesto aprendido. Assim, tudo quanto a m ente cons-
d nte capta dos movimentos que são necessários para criar determina-
ormas gráficas é jogado no subconsciente, que é o depositário da
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
24

memória dessas experiências. Desta forma, a escrita é a memorização de


tudo quanto o consciente experim entou no campo da grafia e, por isso, e
produto da m ente subconsciente.
Com muita razão, V icente C hieregatti, de saudosa memória, um dos
maiores grafotécnicos do Instituto de Criminalística de São Paulo, seu ex-
diretor, dizia que: “O consciente pensa e o subconsciente escreve.
Vejamos como ocorre o fenômeno.
A vontade de escrever é determ inada pelo consciente ao subconscien­
te, e este determina ao plexo solar que o faça. O fluxo nervoso flui pelo
sistema simpático, movimentando a musculatura do braço e da mão e a
escrita se materializa.
A diferença principal entre a teoria neurológica e a psicológica reside
no canal por onde o fluxo nervoso corre, sendo o sistema cérebro-espinal
naquela e o simpático nesta. Mas, entre as duas teorias, existe um ponto
comum: a escrita emana do cérebro.
S olange P eixat, ao ditar as leis da escrita, como se verá no momento
oportuno, por duas vezes se baseou na teoria psicológica, em bora não
tenha sido explícita nesse sentido.
O fato de a escrita ser produto do subconsciente, na grafotecnia, tem
muita importância, como na coleta de padrões de confronto, para eviden­
ciar disfarces, e nas falsificações, pois, das duas mentes, a do consciente
sempre é superada pela mente subjetiva, traindo o falsário, deixando seu
próprio grafismo nas imitações.
B aldwin e n s in a , c o m m u ita p r o p r ie d a d e , q u e :
“A consciência não é, n a vida pública, mais do q u e um m om ento fugi­
dio. É fora dela q u e se desenvolve quase toda nossa vida.”
F rederick S cholz deixou um a frase sobre o gesto gráfico:
“Wfe iv rite n o t o n ly w ith th e hancl, b u t w ith th e b r a in .”
(Não escrevem os apenas com a m ão, m as com o cérebro.)
Capítulo II

L e is e P r in c íp io s
F u n d a m e n t a is d a E sc r it a

Solange P ellat d ito u d o is p rin c íp io s fu n d a m e n ta is e q u a tr o leis q u e


re g e m o g e s to g ráfico.

1. P rincípios F undamentais

1.1. Primeiro
A escrita é individual. A escrita é resultante de estímulos cerebrais
que determinam movimentos e estes criam as formas gráficas.
Muito embora os cérebros de todos sejam anatomicamente iguais, a
sua função varia de pessoa para pessoa. O mesmo ocorre com o sistema
somático. Vale dizer, portanto, que ambos tendem variar ao infinito. Como
a escrita resulta do concurso desses dois sistemas, evidentemente ela tam­
bém varia ao infinito.
Se assim não fosse, a perícia grafotécnica, que é aceita universalmen­
te, não teria o m enor valor.

1.2. Segundo
As leis da escrita independem do alfabeto utilizado. A escrita é resul­
tante de estímulos cerebrais que determinam a criação de fórmulas alfa­
béticas. Os estímulos são particulares a cada punho e, p o r isso, também o
são os movimentos. As formas alfabéticas variam de tipo para tipo. Nessas
condições, o que interessa ao perito é a movimentação do pun h o e não a
forma gráfica.
De outro modo, as assinaturas não integradas de caracteres definidos
nao Poderíam ser examinadas.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
24

memória dessas experiências. Desta forma, a escrita é a memorização de


tudo quanto o consciente experim entou no campo da grafia e, p or isso, é
produto da mente subconsciente.
Com muita razão, Vicente C hieregatti, de saudosa memória, um dos
maiores grafotécnicos do Instituto de Criminalística de São Paulo, seu ex-
diretor, dizia que: “O consciente pensa e o subconsciente escreve.
Vejamos como ocorre o fenômeno.
A vontade de escrever é determ inada pelo consciente ao subconscien­
te, e este determ ina ao plexo solar que o faça. O fluxo nervoso flui pelo
sistema simpático, movimentando a musculatura do braço e da mão e a
escrita se materializa.
A diferença principal entre a teoria neurológica e a psicológica reside
no canal por onde o fluxo nervoso corre, sendo o sistema cérebro-espinal
naquela e o simpático nesta. Mas, entre as duas teorias, existe um ponto
comum: a escrita emana do cérebro.
S olange P ellat, a o d ita r as leis d a e sc rita , c o m o se v e rá n o m o m e n to
o p o r tu n o , p o r d u a s v ez es se b a s e o u n a te o ria p sic o ló g ic a , e m b o ra n ã o
te n h a s id o ex p líc ita n e s s e s e n tid o .
O fato de a escrita ser produto do subconsciente, na grafotecnia, tem
muita importância, como na coleta de padrões de confronto, para eviden­
ciar disfarces, e nas falsificações, pois, das duas mentes, a do consciente
sempre é superada pela mente subjetiva, traindo o falsário, deixando seu
próprio grafismo nas imitações.
Baldwin e n sin a , c o m m u ita p r o p r ie d a d e , q u e :
“A consciência não é, na vida pública, mais d o que um m om en to fugi­
dio. É fora dela q u e se d esen volve quase toda nossa vida.”
F rederick Scholz d e ix o u u m a frase s o b re o g e sto gráfico:
“We w r ite n o t o n ly w ith th e h a n d , b u t w ith th e b ra in ."
(Não escrevem os apenas com a m ão, mas com o cérebro.)
Capítulo II

L e is e P r i n c íp io s
F u n d a m e n t a is d a E sc r it a

Solange Peliat ditou dois princípios fundamentais e quatro leis que


regem o gesto gráfico.

1. P rincípios F undamentais

1.1. Primeiro
A escrita é individual. A escrita é resultante de estímulos cerebrais
que determinam movimentos e estes criam as formas gráficas.
Muito embora os cérebros de todos sejam anatomicamente iguais, a
sua função varia de pessoa para pessoa. O mesmo ocorre com o sistema
somático. Vale dizer, portanto, que ambos tendem variar ao infinito. Como
a escrita resulta do concurso desses dois sistemas, evidentemente ela tam­
bém varia ao infinito.
Se assim não fosse, a perícia grafotécnica, que é aceita universalmen­
te, não teria o m enor valor.

1.2. Segundo
As leis da escrita independem do alfabeto utilizado. A escrita é resul­
tante de estímulos cerebrais que determinam a criação de fórmulas alfa­
béticas. Os estímulos são particulares a cada punho e, p o r isso, também o
são os movimentos. As formas alfabéticas variam de tipo para tipo. Nessas
condições, o que interessa ao perito é a movimentação do p u nho e não a
forma gráfica.
De outro modo, as assinaturas não integradas de caracteres definidos
Dão poderíam ser examinadas.
26 D ocumentoscopia - Lamamine M endes

2. L eis do G rafismo

As leis do grafismo, ditadas por Solange P ellat, são em núm ero de


quatro:
2.1. Primeira
O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua mani­
festação não é modificada pelo órgão escritor, se este funcionar normal­
m ente e estiver suficientemente adaptado à sua função.
Não se pode esquecer que o órgão escritor é mero instrum ento para
a expressão do gesto gráfico. É na fase de aprendizado que o sistema so­
mático do órgão escritor é ensinado a realizar os movimentos que criam as
formas, movimentos, formas estas que ficam estereotipadas no subcons­
ciente e se manifestam inconscientemente, quando for desejo do homem
o consciente determ ina a execução do gesto.
A maior prova que se pode dar de que o ato gráfico está na dependên­
cia imediata do cérebro é que, em bora a parte somática do órgão escritor
esteja funcionando normalmente e adaptado à função, uma lesão no cen­
tro cerebral da escrita impede o hom em de realizar o gesto.

2.2. Segunda
Q uando alguém escreve, seu eu está em função. Mas o sentimento
quase inconsciente dessa ação passa por alternativas de intensidade entre
o máximo, onde existe um esforço a fazer, e o mínimo, quando este movi­
m ento segue o impulso adquirido.
Como se verifica, P ellat baseou esta lei no princípio da teoria psico­
lógica da escrita.
Assim, o máximo de intensidade se refere à ação do consciente e, o
mínimo, à expressão do subconsciente.
2 .3 . T e rc e ira
A escrita habitual não poderá ser modificada voluntariamente num
determ inado momento, senão pela introdução, em seus traços, do esforço
dispensado para obter essa modificação.
Como a escrita é produto do subconsciente, não pode ser controlada
pelo consciente. Q uando o escritor procura, conscientemente, alterar a
sua escrita, provocará um conflito entre as duas mentes, e esse conflito
deixará no registro a marca dessa luta, seja num pequeno desvio do traço,
seja num a hesitação, um a parada anormal do instrum ento escrevente ou
um trêmulo.
C apitulo II - Leis e P rincípios F undamentais da E scrita
27

to d i í l r * é háb“ ° d° Subconscieme e a mudança de um hábito é mui-

cri,aNOVamente' neSta lei’ PE1“ T eS,rib° U " a ,eoria g e o ló g ic a da es-

2.4. Quarta

ao e í r Upa nd° i° at° dC eSCfeVer é realizado em circunstâncias desfavoráveis


escritor, ele registra, inconscientemente, as formas que lhe forem mais
favoráveis e fáceis de ser executadas.
É a lei do mínimo esforço, que pode ocorrer em qualquer outro gesto
do homem. E um recurso ditado pelo subconsciente^ §
Em outras palavras, a lei se refere à simplificação do gesto gráfico for
çada por ctrcunstâncias alheias à vontade do escritor, pam r é a t e Í o ato
Muito embora o texto da lei não faça referência, tudo indica que Des-
as que assinam seu nome um núm ero grande de vezes num a mesma
ocasiao também se valem do mesmo recurso.
Capítulo III

F orm ação d o T raço

O traço resulta da atuação de duas forças:


• vertical;
• lateral.
A força vertical pressiona o instrum ento escrevente, e a lateral, o mo­
vimento no suporte.
A reunião de traços forma o traçado. O traçado, portanto, é o registro
do traço em movimento, formando um lançamento gráfico.
A pressão é exercida no instrum ento pelos escritores, podendo ser
classificada em:
• forte;
• média;
• fraca.
A pressão forte resulta na sulcagem, baixo relevo deixado pelo instru­
m ento escrevente no papel.
Quando o uso da pena e tinta era costumeiro, os traços fortes resul­
taram em traços grossos, e os fracos, em traços finos.
Atualmente, com o uso da caneta esferográfica, não mais se têm
traços grossos ou finos, que são determ inados pelo diâm etro da própria
esfera.
As sulcagens deixadas pelos traços feitos com esferográficas nem
sempre indicam uma pressão forte, de punho pesado. As vezes é aquela
pressão que a esfera exige para rolar no soquete, se em beber do material
corante e depositá-lo no papel, mesmo quando o escritor tiver punho
leve.
D ocumentoscopia - Lamartíne M endes
30

O estudo da progressão permite a estimativa da velocidade do traça­


do. Sob este aspecto, as escritas podem ser:
• rápidas; ou
• morosas.
As escritas rápidas, além de indicar habilidade de punho, já ades­
trado no manuseio do instrum ento escrevente, revela espontaneidade
do lançamento. Via de regra, as escritas automatizadas sao rapidas, e as
primárias, morosas. Moroso é também o traçado dos lançamentos nas
falsificações.
A progressão determ ina a direção da escrita.
Tendo em vista uma linha de pauta imaginária ou impressa, as escritas
podem ter as seguintes direções:
• d e s c e n d e n te s : quando partindo da linha de pauta se projetam para
baixo;
• a s c e n d e n te s : quando se projetam para cima;
• h o r iz o n ta liz a d a : quando se paralelam com a pauta;
• d e s tr o v o lv e n te : quando progridem para a direita;
• s in is t r o v o l v e n t e : quando evoluem para a esquerda.

1. F ormação da E scrita

^ Pressão —Peso do punho


4 Progressão - Velocidade gráfica
1.1. D ire ç ã o d o tr a ç o

71 Ascendente
Descendente
4- Sinistrovolvente
4 Destrovolvente

2. F ormas do T raço

Os traços podem assumir as seguintes formas:


• retilíneo;
• curvilíneo.
C apítulo III - F ormação do T raço 31

3. T raços C urvilíneos

Arco à esquerda.

Arco à direita

Em guirlanda
Em arcada
Ondulado
Espiralado

Circular
^Vlisto

No exame de um lançamento, todas essas peculiaridades devem ser


analisadas, pouco im portando se elas não determinem a conclusão de au­
tenticidade ou falsidade da autoria gráfica.
E ufrásio A lcásar Anguita, técnico espanhol, no livro Técnica y Perita-
ción Caligráfica, abordou o problem a do relacionamento da forma e da
gênese para determ inar uma conclusão. Disse ele:
“L a ig u a ld a d o d e s ig u a ld a d d e f o r m a d e a lg u n a o a lg u n a s le tra s n o
d ic e n a d a en p r o l n i e n c o n tr a d e la a u te n tic id a d d e u m escrito. ”
(A igualdade ou desigualdade de form a de algumas ou algum as letras
n ad a diz a favor o u contra a legitim idade de um a escrita.)
Em face de tudo quanto foi dito, toda base de identificação de uma
escrita se encontra na coincidência de seus elementos genéticos. As ques­
tões de ordem formal, embora sejam analisadas, representam apenas um
reforço à conclusão.

4. A taques, R emates e L igações

Todo lançamento tem um início - ataque, e um fim - remate.


Quando traços se conjugam, existem as ligações.
Os ataques são de tipos diferentes, como:
• normais: os que nada possuem de características e só representam
o gesto generalizado entre os escritores;
• sulcados: os que são feitos no início do lançamento com grande
pressão do punho, dim inuindo esta à medida em que o traço pro­
gride;
• ensaiados: aqueles em que, antes do traço, o escritor faz um ver­
dadeiro exercício no ar, baixando a mão paulatinamente até o ins­
32 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

trum ental tocar no papel; ocorre mais nos lançamentos circulares


(ver próximas ilustrações);
• em pon to de repouso: quando o escritor, ao iniciar o gesto, apóia o
instrum ento escrevente no papel, provocando o aparecimento de
um ponto, para, depois, projetar o lançamento.

Esse tipo de ataque é muito frequente na escrita senil; o escritor, não ten­
do mais controle do braço e da mão, apóia a caneta no papel para depois
desenvolver a escrita. Trata-se, no caso, de uma característica que resulta
de circunstâncias do momento e é possível que, anteriormente, o escritor
não possuísse ataque desse tipo.

Figura1- Ataque exercitado em assinatura.


(Gentileza do advogado Dr. W iluam W agner Pereira da S ilva)

Além desses tipos, o ataque pode ser:


• em gancho: o escritor inicia o lançamento com um pequeno arco.
O ataque ganchoso só se situa à esquerda, à direita, voltado para
cima ou para baixo;
• em colchete: também de quatro tipos: à esquerda, à direita, supe­
rior ou inferior.
A diferença entre o ganchoso e o colchete reside na fato de o primeiro
se constituir numa pequena curva, e o outro, num diminuto ângulo;
• em linha de impulso: é um traço longo que precede a formação do
lançamento.
Nas escritas cursivas, a maioria das letras se interligam e as ligações
também merecem estudo, pois são peculiares a cada punho;
C apítulo III - F ormação do T raço
33

exercitado: o escritor movimenta o instrumento escrevente, para


cima e para baixo, como em círculos, só então iniciando o traçado
da assinatura (Figura 2).

Figura2- Ataque exercitado em assinatura.


(Gentileza da Srta. V ânia M aria de S ouza.)

4.1. Ligações
1) Ascendentes
• em guirlanda;
• em arcada.
2) L aterais
• no topo;
• na base.
° s ataques descendentes são raros, pois os caracteres precisam se
situar, cada um deles, num plano inferior.
O remate é o fim do traço.
Os remates são do mesmo tipo dos ataques, portanto:
• normais;
• sulcados;
• em ponto de repouso;
• ganchoso;
• em colchete.
Todavia, existe um tipo diferente, o desvanescente: o maço vai dimi-
en s^ado a PreSSa° ’ tom and°-se cada mais fino. Não existe o remate

T„ a t "° eXlSte a llnha d' ‘"-pulso, no remate existe a cetra.


n a s tla m l. ^ ° " ™ 1 ° ‘“ ” o,
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
34

No caso de lançamento em cursivo, o estudo dos ataques, ligações e


remates oferece um grande núm ero de elementos característicos do pu­
nho do escritor.
Na escrita sincopada - letra de fôrma - não existem, necessariamente,
ligações, a não ser as que resultem de hábitos do escritor.

4 .2 . T ip o s d e a ta q u e s , r e m a te s e lig a ç õ es

Em ponto de repouso
Superior

Inferior

Em ganchos À direita ?

À esquerda /}
À esquerda

À direita \
Em colchetes
Para baixo
Para cima

Em arcada
Ligações
Em guirlanda

No topo
Laterais
Na base

Linhas de impulso
Ataques desvanescentes
(muito raros) Cetras
&

5. O s G ramas

O grama é a unidade gráfica. É o traço feito de uma só assentada


e sem interrupção do movimento. Quer significar, portanto, que, a cada
mudança de direção do instrum ento escrevente, sem interrupção, surge
um novo grama.
C apítulo III - F ormação do T raço
35

Há letras que possuem traços complementares: o pingo do i e do j , a


cedilha do c, o corte do t, e o til (~ ). É possível estudar-se, com referência
ao pingo do /, sua posição, sua forma e até a sua ausência.
No caso do corte do t, como o til e a cedilha, interessam sua posição
na letra, seu tamanho e forma.
As letras podem ser:

N ão passantes Q u an d o n ão existe n enhum traço acim a o u


abaixo d o co rp o da letra.

Em laçada
Passantes su p eriores
Em haste £

Em laçada ^
Passantes inferiores
Em haste 70

D u p la p assante
t
Presilha
D upla presilha
Anel

Platô i
sx.
Capítulo IV

A E s c r it a e s e u s E l e m e n t o s

O homem, na sua existência, passa por várias etapas, como a infância,


a adolescência, a maturidade e a velhice, cuja duração, embora prevista
biologicamente, tendo-se em vista os efeitos, não podem ser fixadas com
exatidão.
O gesto gráfico também passa por um processo evolutivo semelhante:
tem sua infância, sua maturidade e sua velhice, havendo, é claro, períodos
de transição que não podem ser delimitados.
Mais do que no ciclo vital do homem, a fixação de cada período evo­
lutivo da escrita é muito difícil, pois ele não acompanha, até certo ponto,
a progressão do homem.
A evolução da escrita, com o abandono da pena, pode ser sustada e
atingir a senilidade sem ter chegado à maturidade. Assim também é pos­
sível que o homem tenha atingido a velhice e sua escrita ainda continue
jovem.
Em condições normais, é certo que a escrita, evolutivamente, pode
ser classificada em quatro etapas diferentes:
• a escrita canhestra, do aprendizado;
• a escrita escolar, grau avançado do aprendizado;
• a escrita automatizada, o grau mais alto;
• a escrita senil, período de regressão.
A escrita canhestra se caracteriza pelo seu traçado inexpressivo, ar­
rastado, com malformação de letras, com indecisão na orientação do lan­
çamento, com a pressão exagerada no instrum ento escrevente. A escrita
escolar, ao contrário, é caligrafada, com a preocupação de ser legível, feita
com velocidade reduzida. Concluindo o aprendizado, a criança abandona
°s modelos e passa a escrever velozmente, sem esforço. Com o passar
38 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

do tempo, introduz nos lançamentos modismos particulares - é a escrita


autom atizada.
Depois dessa fase, cuja duração não pode ser estimada e que varia de
pessoa para pessoa, vem a escrita senil. É ela lançada já com certa dificul­
dade, embora seus moldes ainda guardem certa elegância, com a perda da
tonicidade dos músculos do braço e da mão e, ainda, com o retardam ento
dos impulsos cerebrais. Escritas desse tipo, via de regra, são eivadas de
tremores e de indecisões.

Figura1- Evolução da escrita - Ciclo vital do grafismo.

Estudando as modificações formais da escrita de N apoleão B onaparte,


desde a juventude até a abdicação e o desterro, aqui reproduzidas nas
gravuras adiante, M atilde Ras, op. cit., assim se manifestou:
“O leitor p o d e ver a escala q u e existe d esd e B onaparte juvenil, e a ener­
gia colossal d e N apoleão triunfador, até às firmas horrivelm ente altera­
das na abdicação e n o desterro. Se não fossem plen am en te autênticas,
poder-se-ia acreditar q u e foram preparadas para dem onstração desta
profunda lei da grafologia, que cham o biológica por sua relação com
as leis iniludíveis que regem a própria vida.”
É im p re s s io n a n te a in v o lu ç ã o d o g e s to d e N apoleão n u m c u r to e s p a ç o
d e v in te e p o u c o s a n o s.
Não é de se duvidar que N apoleão fosse acometido p or qualquer dis­
túrbio psicossomático, pois só essa circunstância pode explicar a regres­
são violenta de sua grafia.
Capítulo IV - A E scrita e seu s E lementos

Grafísmo de Napoleão em 1 7 9 1 .

Grafísmo de Napoleão aos 22 anos

Assinatura de Napoleão, em 24 de janeiro de 1 7 9 4


em uma ordem dada em Marselha (25 a n o s ) / ’

Assinatura e rubrica de Napoleão, em 1804 (35 anos).

Assinatura durante a Batalha de Austerlitz (43 anos).

A *
Assinatura em 6 de outubro de 1812 (43 anos),

sinatura do ato de abdicação, em 4 de abril de 1814 (45 anos).

rHV
Assinatura de Napoleão em Santa Elena <e„,re 4 6 e 52 anos).

Figura2- A evolução das assinaturas de N apoleão.


D ocumentoscopia —Lamartine M endes
40

1. E lementos D inâmicos da E scrita

1.1. G ênese gráfica


A gênese gráfica é a sucessão de movimentos determinados pelos im­
pulsos cerebrais, que dão origem à forma.
A gênese gráfica, portanto, é a materialização dos impulsos que ema­
nam do centro nervoso da escrita; por isso é o elem ento dinâmico e, por
consequência, específico e inerente a cada punho.
Não estando os impulsos cerebrais ao sabor da vontade do homem,
depois de instalado o gesto gráfico pela sua automatização, a gênese é
perene em condições normais psicossomáticas.
A gênese é o elem ento específico da escrita porque depende das con­
dições psicossomáticas de cada indivíduo. Assim como as características
físicas, fisiológicas e psíquicas variam ao infinito de pessoa para pessoa,
também os movimentos psicossomáticos do gesto gráfico, ou seja, da gê­
nese, variam sem limites e são peculiares de cada punho escritor. Não exis­
tindo, portanto, duas pessoas de movimentos iguais, não podem existir
grafismos idênticos.
Como se estudar a gênese de um lançamento?
Todo movimento tem, necessariamente, as seguintes características:
• início-, na escrita ele se traduz pelo ataque do lançamento;
• p r o je ç ã o : é a evolução do lançamento;
• i n t e n s i d a d e : é a pressão exercida para o registro do lançamento;
• é a velocidade do lançamento gráfico.
a c e le r a ç ã o :
Freedman, festejado psicólogo norte-americano, filmou a velocidade
da escrita. Ele usou do recurso da cinematografia em câmara lenta e fil­
mou a realização de um traçado, dando sempre a exposição de 1/5 segun­
do para cada quadro.
Os resultados foram muito significativos para a grafotécnica, pois pro­
varam que os lançamentos gráficos, não só nas escritas de um a mesma
pessoa como nas de várias, quando comparadas entre si, são diferentes.
Concluiu que a velocidade gráfica depende da habilidade no manejo
do instrum ento escrevente, e a lentidão, da experiência. Mas esta, todavia,
pode ser fruto de artificialismo.
Assim, o estudo da velocidade do grafismo é precioso para a consta­
tação da gênese gráfica.
• d ir e ç ã o : é o alinhamento gráfico;
C apítulo IV - A E scrita e seus E lementos
41

• duração-, é o andam ento da escrita, com seus momentos gráficos;


• cessação: é o remate do registro.
O estudo de todas essas características permite a análise da gênese
gráfica.

2. E lementos E státicos da E scrita

2.1. Forma gráfica


A forma gráfica é o desenho, o feitio da escrita, criado pelo movimen-
to —a gênese. Em razão disso, é o elem ento estático do grafismo.
A forma é, ainda, elem ento genérico, pois é comum a tantos quantos
escrevem usando o mesmo tipo de alfabeto.
Não é a forma elem ento individualizador, pois está não só sujeita às
modificações introduzidas pelo próprio escritor, quando imita escrita de
terceiros ou quando procura ocultar e disfarçar a própria escrita, como
pode ser alterada por fatores intrínsecos, que serão dados quando forem
estudadas as causas modificadoras do grafismo.
2.2. Conclusões
Nao se pode, pelas razões expostas, coníundir a gênese com a forma
gráfica.
Comparando esses dois elementos, podem os chegar às seguintes
conclusões:
escritas de formas dessemelhantes, na harmonia da gênese gráfica,
são reduzidas a um mesmo punho. É o que acontece com o disfar­
ce gráfico;
escritas de formas semelhantes, no conflito da gênese gráfica, são
atribuídas a punhos distintos. É o que vai acontecer com as imita­
ções.
Sodermann e O connel, no livro M anuel d ’enquête criminelle m oderne,
mostram que o falsificador imita a forma e não a gênese:
Ce s o n t p r e c is e m e n t les fo r m e s q u e le fo r g e u r cherche a itn iter..
(São precisamente as formas que o falsário procura imitar...)
Tem-se observado que o leigo tem grande dificuldade em distinguir a
gênese da forma gráfica.
Para bem se entender a diferença entre um elem ento e outro, bastará
se mostrar dois símbolos de mesma forma, que podem ser feitos com eê-
neses diferentes.
D nn tmentoscopia - Lamartine M endes
42

É o que mostra a figura ababto. São duas circunferências de mesmo


raio p o r » de forma idêntica. Entretanto, os movimentos que as cna-
ram são distintos.

Figura 3 - Formas iguais criadas por movimentos (gênese) diferentes.

As figuras A e B, sob a óptica da geometria, são idênticas à luz da


erafotécnica- quanto ao movimento do punho que as realizou, elas sao
conflitantes-' a circunferência A foi atacada à direita e desenvolveu-se para
a esquT rfa e a B, contrariamente, foi iniciada à direita e desenvolveu-se
pam a esquerda. Assim, ambas as figuras têm a mesma forma, mas a genese

gráfica é diferente.

E lementos F ormais da E scrita


3.
Os elementos formais da escrita podem ser objetivos e subjetivos.

3.1. E lem entos objetivos

São elementos objetivos:


• calibre;
• inclinação axial;
• espaçamentos gráficos;
• andamento gráfico;
• alinhamentos gráficos;
• valores angulares e curvilíneos;
• relações de proporcionalidade gramatical.
O calibre outra coisa não é senão o tamanho das letras. Há escritores
que fazem letras grandes - macrografia - e outros de — >
4 - a leitura - micrografia. Existem, também, aqueles que tazem

ções e não pode ser evitado nas simulações.


C apítulo IV - A E scrita e seus E lementos 43

Figura 4 - Macrografia.

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V " ^ «A«A»A.fc.C‘— «A*jt >“ J * » « « . & JZ < • * u .« w v U * ^ 4

Figura 5 - Micrografia.

Finalmente, há escritores que possuem o hábito de diminuir o calibre


das letras à medida que as escreve: o fenômeno é conhecido p or gladiola-
gem e se reveste de alguma valia.
Contrariamente, quando o calibre aumenta, é a gladiolagem inver-
tida.
A inclinação axia l é o com portam ento dos eixos gramaticais. A escri­
ta pode ser verticalizada, inclinada para a direita ou para a esquerda.
Com relação à inclinação, uma peculiaridade adquire m aior valor:
é a reversão do eixo gramatical. Assim, certas letras podem se inclinar
para a esquerda, quebrando a orientação para a direita das demais e
vice-versa.
Os espaçam entos gráficos são as distâncias que guardam entre si
os gramas, letras, vocábulos e linhas de um a escrita. Assim, terem os os
espaçamentos intergramaticais, interliterais, intervocabulares e interli-
neares.
44 D ocumentoscopia - Lamartoe M endes

O a n d a m e n to grá fico corresponde aos momentos gráficos. São os


grupos de letras, de um mesmo vocábulo, que se interligam, separando-
se de outros que lhes seguem. A silabação possui normas gramaticais e,
no andam ento gráfico, são divisões arbitrárias, adotadas pelo escritor por
força de hábito, sem obedecer a qualquer norma.
Cada grupo de letras interligadas constitui um m o m e n to g r á f ic o .
Uma palavra pode ser escrita em um só ou vários m om entos gráfi­
cos.
A distribuição desses m omentos gráficos traduz o andam ento gráfico
de uma escrita.
As escritas em que a maioria dos caracteres são interligados são cha­
madas escritas cu rsiva s , e as em que cada letra, ou pequeno grupo de
letras, é exarada isoladamente, são as escrita s sin co p a d a s.
O a lin h a m e n to grá fico representa o com portam ento da escrita em
função de uma linha de pauta, ideal ou impressa.
A escrita pode se desenvolver acima da linha de pauta ou sobre ela;
pode iniciar na pauta e dela se distanciar ou de forma inversa, ou, ainda,
estar abaixo da pauta. São hábitos gráficos.
Os valores an gu lares e cu rvilín eo s são a predominância dos ângu­
los ou das curvas no grafismo. Escritas há em que os valores angulares
sobrepujam os curvilíneos e, em outras, há predominância destes sobre
aqueles. Finalmente, há grafismos em que esses dois valores coexistem em
igual escala.
As rela çõ es d e p r o p o r c io n a lid a d e g r a m a tic a l nada mais são do que
a relação de tam anho que as letras de um a palavra guardam entre si.
Os elem entos formais objetivos não são identificadores, em bora al­
guns deles, como a reversão dos eixos gramaticais, contrariando a incli­
nação axial predom inante na escrita, podem ter alguma significação.
Outros revelam hábitos inconscientes do escritor, que deles não con­
segue fugir, e que os falsários, às vezes, não reproduzem nas imitações,
pois se prendem a detalhes não aparentes.

3.2. Elementos gerais objetivos

Exemplos:
C apítulo I V - A E scrita e seus E lementos

Ummomento
Cg l A G l .
Andamentos gráficos Dois momentos
Três momentos
__________ C a ^ iC L .
Verticulada
■ t <UX*-o
Inclinada à direita ^ .
Inclinação axial c>

Inclinada à esquerda "tjúdLúe'


Reversão do eixo 1 , .
X j l &Cc & -
Intergramaticais 7 7
c-
Interliterais
Espaçamentos
Intervocabulares ^

Interlineares
Calibre
Macrografia ^

Micrografia ,

Alteração do calibre

Gladiolagem ^

Valores angulares
Valores angulares
e curvilíneos Valores curvilíneos nvwnrvo
Misto

Ascendente

descendente x ^^ ^

Alinhamentos gráficos teima da linha de pauta -fr m u,,-


poiado na linha de pauta (t ........ 11^^ ^ ^
• Sobre a linha de pauta ^_t^ ^ ;n
Itregular

3.3. Elementos subjetivos

» d ^ o l ® a Z Sem be,ÍVOS' “ nM rtam entt a<* ^ je ü v o s, não poci


emonstrados, embora sentidos pelo examinador

«em no a s Z T u “ “ ap° ntados ^ con


por sua I T T ,radUZ‘d° pela «“ “M ade do craço q

- d= x r z r „“ e dc * — da -
46 D ocumentoscopia - L amaktine M endes

Mas, afinal de contas, o que seria o ritmo gráfico?


Novamente Sivieri, op. cit., nos acode:
“Nella espressione ritmo se sintetizza tutto quello che nella grafia
esprime movimento, cadenza, misura nel tempo, ordine di successione
e rapporti di segnigrafici tra loro. Il ritmo è definito - una ricorrenza
armonica dipressioni, d ’impulso e di movimento, onde la scripttura
può essere classificata secondo la qualità, la intensità e la perfezione
di esso. ”
(Na expressão ritmo se sintetiza tudo quanto no grafismo exprime mo­
vimento, cadência, medida de tempo, ordem de sucessão e ligação de
sinais gráficos com outros. O ritmo é definido - uma sucessão har­
mônica de pressão, de impulso e de movimento, por meio da qual a
escrita pode ser classificada segundo a qualidade, a intensidade e a
perfeição).
O mesmo pode se dizer do dinamismo: há escritas dinâmicas e outras
frouxas, inexpressivas, sem personalidade.
Como já ficou dito, os elementos formais objetivos são de ordem ge­
ral, isto é, genéricos, por isso comuns a muitos grafismos, daí porque não
são decisivos. Equivale dizer, portanto, que as conclusões de falsidade e
de autenticidade ou de autoria não se alicerçam na sua convergência ou
divergência em face dos padrões.
Todavia, podem eles apresentar alguns aspectos que assumem maior
significação.
É o caso, por exemplo, do calibre dos lançamentos. Por vezes, deter­
minado grama é grafado em calibre maior do que os demais. Os falsários
podem não perceber esse detalhe ao reproduzir o modelo do calibre pre­
dominante.
Na inclinação axial, também, as reversões de algumas passantes nem
sempre são imitadas pelos forjadores.
No andam ento da escrita, o núm ero de m omentos gráficos não é res­
peitado.
Na verdade, ao reproduzir o modelo, o falsário aum enta o número
dos m omentos gráficos: são as chamadas paradas anormais da pena, obri­
gatórias na cópia do traçado do modelo.
Os elementos formais subjetivos, como grau de habilidade de punho,
traduzido pela qualidade do traçado, a velocidade de execução do lan­
çamento, o ritmo, todos eles são mais importantes do que os elementos
objetivos. Sendo as falsificações, via de regra, feitas por um dos processos
de imitação, é evidente que todos esses elementos ficam prejudicados. Os
C awtijí.o IV - A E scrita e seus E lementos

47

que não ocorre conTofsú^U vos” " 0 P° m° ’ “ ° de ficU ^P ro d u ção , o

c a l v o s ou Sub-
do examinador, porquanto se não são H • CreCer CUKladosa observação
apreciável d , condusão. 4 e l ^ L ’ ™ refo^
Capítulo V

T ipos de E scrita

Os lançamentos usados para redação são as escritas de texto. Quando


a maioria dos caracteres forem interligados, constitui-se a escrita cursiva.
Quando, entretanto, a maioria se encontrar lançada isoladamente, temos
a escrita sincopada.

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Figura 1 - Escrita sincopada.

Os textos feitos com caracteres imitativos de letras de imprensa são


chamados /eíra ífefô rm a . A escrita desse tipo é sincopada, embora, com o
seu uso habitual, várias letras possam aparecer interligadas.

Figura 2 - Letra de fôrma.


D ocumentoscopia —Lamartine M endes
50

1. A Assinatura

A a ssin a tu ra é um gesto convencional para representar o nome do


escritor. Ela é usada para subscrever docum entos mais solenes, como de­
clarações, atas, cheques, etc.
A assinatura tem como sinônimo a expressão f ir m a , derivada do latim
a firm a re, que significa a firm a r ou con firm ar.
A ru b rica é o lançamento que substitui a assinatura, gesto usado em
docum entos de m enor importância. É o lançamento vulgarmente chama­
do de visto.
Tudo indica que a rubrica antecedeu a assinatura.
Na Idade Média, poucas eram as pessoas que sabiam escrever. Mesmo
entre os nobres, os senhores feudais, raros eram os que sabiam assinar o
seu nome. Por isso, os que detinham o poder usavam símbolos que nao
passavam de meras rubricas, para assinar.
Eles possuíam, como eram chamados, m o n o g ra m a s , que tanto po­
diam representar as iniciais do nome como ser um lançamento conven­
cional.
Do uso dos monogramas surgiu o sin ete - carimbo cuja impressão
representava a aposição da assinatura.
Segundo consta, foi D. João II, de Portugal, o primeiro potentado a
assinar docum entos de grande responsabilidade com um sinete. Isso te-
ria acontecido pelo fato de ele se encontrar doente e impossibilitado de
escrever.
Ainda hoje, na China, os artistas e comerciantes usam sinetes para
representar, com um ideograma, o seu nome.
Os sinetes são feitos de pedra, de forma retangular. Na parte superior,
artisticamente, está esculpida a cabeça de um dragão. Na base se encontra
gravado o ideograma.
Para registrar o sinete na obra, é usada tinta vermelha.

2. M aneirismos G ráficos
Atingida a plenitude do gesto gráfico, todos nós, involuntariamente,
introduzimos no grafismo aspectos de nossa individualidade. Esses aspec­
tos, de caráter puram ente físico, e não padronizados nos moldes do sis­
tema alfabético utilizado, podem acrescentar ou omitir alguns traços nos
modelos convencionais: constituem os m a n eirism o s ou hábitos gráficos.
C apítulo V —T ipos de E scrita
51

Essas marcas da individualidade gráfica são extremamente valiosas


para as soluções dos problemas, tanto da autenticidade como da autoria
gráfica.
Compete, assim, ao examinador, fazer a anatomia do gesto gráfico,
p or assim dizer, para chegar aos maneirismos.
Enumerar aqui os vários tipos de hábitos seria uma sandice São tais
e tantos que ninguém podería catalogá-los e, se o fizesse, esse rol nunca
seria terminado, pois sempre apareceríam outros a serem coletados.
É im portante afirmar que, na fixação da autoria gráfica, o falsário se
nao pode atingir os hábitos do modelo, também não poderá abrir mão
dos seus próprios. A coincidência desses maneirismos é tão im portante e
significativa como a harmonia ou não dos elementos genéticos.
Assim, nos cotejos entre as escritas de exame e os padrões, a análise
dos hábitos gráficos é inestimável e, por isso, não pode deixar de reclamar
a atenção do examinador.
SiviERj, na obra já citada, falando dessas características, assim se ma­
nifestou:
“D a quanto è d etto fin qui si desume che ilp iú im portante risultato
d ei esame peritale consiste appunto nel precisare le caracteristiche
che la scrittura in esame presenta e che spiccano p er dimensione, per
form a, posizione, construzione etc.
É opportuno, pèro, tener presente che alcuni d i questi caratteri
assumono talvolta una speciale im portanzaper la loro eccezionalità.
In ta l caso essi debbono consideraszi come dei contrassegni
particolari, sia perchè non si rincontrano che molto raramente, sia
perchè possono, anche da soli, individuare una scrittura.
D e b b o n o c o n sid e ra rsi c o m e c o n tra sse g n i p a r tic o la r i c e rti b iz a r r i
c o lle g a m e n ti lettera li, c e r tip u n tin i o p r o fili rsic o n tra ti n e lV in te rn o d i
o v a li o in p o s i z i o n i strane; c a r a tte r istic seg n i d i a c c e n ti o virg o lette
f o r m e sin g o la r i d e le tte re e v ia d icen d o .
L im portanza d i questi caratteri speciali, nella indetificazione d i una
scrittura, p u ò essere paragonata a quella che assumono e impronte
digitali, le cicatrici, i tatuaggi nella identificazione degli individui. ”
(De tu d o q u e foi dito até aqui, deduz-se que o resultado m ais im por­
tante do exam e pericial consiste ju stam ente em precisar as caracterís­
ticas q u e a escrita em exam e apresenta e que se destacam pela dim en­
são, pela forma, posição, construção, etc.
É o p o rtu n o , porém , ter p resen te que algum as dessas características as­
sum em , às vezes, um a im portância especial p o r sua excepcionalidade
D O C U M E N T O S C O P IA - L a M ARTINE M E N D E S
52

e pela sua personalidade. Nesses casos, devemos considerá-las como


peculiaridades, porque podem, por si sós, individualizar a escrita.
Devem ser consideradas como características particulares certas liga­
ções literais bizarras, certos pontinhos ou perfis encontrados no inte­
rior dos ovais ou em posição estranha; sinais peculiares de acentos ou
vírgulas, formas singulares de letras e assim por diante.
A importância dessas características especiais, na identificação de uma
escrita, pode ser comparada àquela que assumem as impressões digi­
tais, as cicatrizes, e as tatuagens na identificação dos indivíduos).
As características especiais de que Smeri fala outra coisa não são se­
não os m o d ism o s g rá fico s .

Figura 3 - Modismo gráfico representado pela aposição de aspas abaixo


da abreviatura.

Figura 4 - Observar que as letras M e N são representadas, respectivamente,


por três e dois pontinhos.
Capítulo VI

Causas M odificadoras da E scrita

A escrita, no tocante à sua forma, pode sofrer modificações p o r três


espécies de causas:
• involuntárias;
• voluntárias;
• patológicas.

1. Causas I nvoluntárias

As causas involuntárias se distribuem por dois grupos:


• normais; e
• acidentais.

1 . 1 . Causas involuntárias normais


As modificações formais decorrentes das causas involuntárias nor­
mais são as que dizem respeito à própria evolução e posterior involução
do gesto gráfico.
Como já foi exposto, a escrita, do início do aprendizado, até sua ple­
na efetivação, formalmente, passa por vários patamares, como o da escrita
canhestra, que constitui mais uma cópia de modelos do que propriamente
escrita; o da escrita escolar, quando o escritor já abandona os modelos e
escreve, ainda com relativa morosidade, caligrafando as formas e, final­
mente, o da automatização, quando o escritor redige com grande dinamis­
mo, emprestando ao gesto gráfico sua própria individualidade.
A partir desta fase, que constitui o apogeu da escrita, com a idade
avançada, perde-se a tonicidade somática do órgão escritor e, com a maior
entidão dos reflexos, a escrita involui, aproximando-se, às vezes, da pri­
maria. E a escrita senil.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
54

1.2. Causas involuntárias acidentais


A escrita pode ser alterada em fúnção de causas que independem da
vontade do escritor. Essas causas são de duas naturezas:
• intrínsecas; e
• extrínsecas.
1.2.1. Causas intrínsecas
Entre as causas intrínsecas, as emoções, alterando o comportamento psi-
cossomático, motiva modificações mais ou menos profundas no grafismo.
A euforia, com a aceleração da circulação e consequente maior irriga­
ção no cérebro, aumenta, via de regra, a velocidade do lançamento.
Em contraposição, a depressão, relaxando o sistema muscular e cerebral,
às vezes, dependendo da pessoa, determina redução no dinamismo gráfico.
O pavor, aumentando a tensão nervosa, resulta numa escrita pesada, de
grande extensão, podendo ser desprezadas as ligações entre os caracteres.
A atenção no ato de escrever pode ter maior ou m enor intensidade e
influi no gesto gráfico.
Quando se presta muita atenção no ato de escrever, a escrita tem ve­
locidade m enor do que a habitual, as formas são bem feitas e lançadas com
firmeza. Diminuindo a atenção, a escrita já se tom a mais rápida, como se o
escritor tivesse pressa em terminar o texto e, com isso, as formas ficam seria­
mente prejudicadas, chegando a ponto do lançamento se tom ar ilegível.
A ira, com forte derramamento de adrenalina na corrente sanguínea,
altera as condições dos sistemas somáticos e cerebrais. Em razão disso, a
escrita é feita com traços fortes, com grande pressão do punho, sao am­
plos, e as ligações podem desaparecer.
O estado de embriaguez, modificando o com portam ento físico e m en­
tal do escritor, provoca alterações mais ou menos graves na forma gráfica.
Nos casos mais agudos, o escritor sequer tem possibilidade de escrever.

1.2.2. Causas extrínsecas


As causas extrínsecas são as alheias ao sistema produtor da escrita
cerebral e muscular.
São inúmeras as causas desse tipo, razão pela qual serão citadas as
mais frequentes:
• mau estado do instrum ento escrevente, obrigando o escritor a fa­
zer grande esforço para escrever;
C apítulo Ví - C ausas M odificadoras da E scrita
55

posição incômoda no ato de escrever. Há pessoas que não sabem


escrever em pé;
• suporte inadequado, escritas feitas em superfícies ásperas, irregu­
lares, como paredes, ou em suporte de tamanho reduzido, que
obriga a aglutinação dos lançamentos;
iluminação inadequada, obrigando o escritor a um esforço visual
muito grande;
o calor, que gera um relaxamento da musculatura;
• o frio, que provoca a perda da elasticidade do sistema somático.

2. C ausas Voluntárias

As causas voluntárias são as modificações que propositalmente o au­


tor introduz na sua escrita habitual, seja quando disfarça, seja quando
im ita a escrita de terceiros.

3. C ausas P atológicas

As causas patológicas acarretam deformações na estrutura da escrita


e podem ser passageiras ou irreversíveis, dependendo da natureza e da
intensidade do morbo.
Roger de Fursac, no seu livro Les écrits e t les dessin s d a n s les m a la d ie s
nerveuses e t m en ta les, distingue dois tipos de alterações nas escritas em
consequência de moléstias nervosas:
as d a fu n ç ã o m o triz, isto e, da mecânica muscular;
• as áã. fu n ç ã o p síq u ic a , ou seja, do cérebro.
No primeiro caso, encontram-se as modificações provocadas pelas mo­
léstias, cujos movimentos deformam a grafia, e, dependendo do grau de
intensidade, pode até ocorrer a impossibilidade de escrever, a agrafia.
A a ta x ia altera a função coordenadora e afeta o domínio do movi­
mento. A escrita perde o ritmo, apresenta caracteres de proporções des­
medidas. Surgem tremores, horizontais e verticais.
O tre m o r v e r tic a l é o próprio do alcoolismo crônico.
O trem o r h o r iz o n ta l é típico das escritas envelhecidas e da doença
conhecida como Mal de Parkinson, que causa a diminuição do calibre das
etras>na tentativa de o paciente evitar os tremores.
As alterações de ordem psíquica são o esquecimento das imagens grá-
cas, a regressão da qualidade do grafismo e a morfologia extravagante.
56 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

O esquecimento dos moldes gráficos ocorre nos casos de d em ên cia


e de epilepsia.
Na regressão, a escrita se desproporciona, se despersonaliza e volta
aos moldes primários, colegiais.
Sob a influência da excitação cerebral, a escrita, em certas doenças men­
tais, pode ser rápida e dinâmica. Na depressão, ao contrário, lenta e arrastada.
Segundo os grafopatologistas, as doenças que afetam o estômago,
o fígado, o sistema gastrointestinal, o coração e o útero, têm reflexos na
forma da escrita.
Essas alterações, todavia, na maioria dos casos, são passageiras, per­
duram apenas durante a enfermidade. Desaparecidas as causas, cessam os
efeitos.
As clemências, dependendo do seu tipo e intensidade, provocam alte­
rações formais intensas, não raro permanentes.
Peliat asseverou que, quando um demente manifesta alegria ou sen­
timento de grandeza, estas manifestações têm uma característica especial,
inerente à enfermidade, que não provocam nos seus grafismos as mesmas
circunstâncias que podem ocorrer nas das pessoas normais.
Falando sobre as anomalias de que as escritas podem se revestir,
Pellat fez a seguinte advertência: as alterações que podem ser constatadas
nas escritas, ainda que características de certas moléstias, não devem levar
o examinador a acreditar que o escritor realmente possa estar acometido
daquele mal, pois vários fatores extrínsecos e intrínsecos podem provocar
distúrbios semelhantes.
As deformações provocadas pelas causas involuntárias normais são
paulatinas e lentas. As que resultam das patológicas são imediatas e pro­
fundas.
Soiange Pellat, nas obras Les lo is d e V écriture e L’e d u ca tio n g u id é e
p a r la graph ologie, ofereceu resultado de estudos feitos em escritas de
pessoas portadoras de quadros mórbidos, somáticos ou mentais.
Alinhou ela, segundo a moléstia, os seguintes fenômenos que atin­
gem o gesto gráfico:
• agrafia: a perda da faculdade de escrever;
• paragrafia: o registro de palavras inadequadas ou sem sentido;
• m ogigrafia: impossibilidade de escrever durante um espasmo;
• grafofobia: aversão à escrita, como nos casos de depressão melan­
cólica;
C apítulo VI - C ausas M odificadoras da E scrita
57

ta r ta m u d e z gráfica: a desfiguração das palavras pela repetição ou


modificação das letras;
m icrografia: redução do tamanho das letras, como no Mal de
Parkinson e da encefaíite letárgica;
acata g ra fia : escrita dos histéricos, que se caracteriza pelo registro
incorreto das palavras, que determinam com certos traços no iní­
cio de letras;
escrita em espelho: lançamento feito de trás para frente, tornando
a leitura possível através de um espelho, como na surdez congê­
nita; &
g ra fo m a n ia : pessoa que escreve continuadamente, até expressões
desconexas, como se o gesto gráfico fosse uma necessidade psi-
cossomática;
• an on im ografia: fenômeno semelhante em que a pessoa escreve
cartas anônimas até para pessoas desconhecidas. Tem como carac­
terística não confessar a autoria e, quando desmascarada, a ano­
malia se exterioriza sob outra forma, não mais escrevendo cartas
anônimas.

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Figura 1 - Escrita em espelho (Gentileza do Sr. J osé Levy Gomes Corrêa).


56 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

O esquecimento dos moldes gráficos ocorre nos casos de d em ên cia


e de epilepsia.
Na regressão, a escrita se desproporciona, se despersonaliza e volta
aos moldes primários, colegiais.
Sob a influência da excitação cerebral, a escrita, em certas doenças men­
tais, pode ser rápida e dinâmica. Na depressão, ao contrário, lenta e arrastada.
Segundo os grafopatologistas, as doenças que afetam o estômago,
o fígado, o sistema gastrointestinal, o coração e o útero, têm reflexos na
forma da escrita.
Essas alterações, todavia, na maioria dos casos, são passageiras, per­
duram apenas durante a enfermidade. Desaparecidas as causas, cessam os
efeitos.
As demências, dependendo do seu tipo e intensidade, provocam alte­
rações formais intensas, não raro permanentes.
Peliat asseverou que, quando um demente manifesta alegria ou sen­
timento de grandeza, estas manifestações têm uma característica especial,
inerente à enfermidade, que não provocam nos seus grafismos as mesmas
circunstâncias que podem ocorrer nas das pessoas normais.
Falando sobre as anomalias de que as escritas podem se revestir,
Pellat fez a seguinte advertência: as alterações que podem ser constatadas
nas escritas, ainda que características de certas moléstias, não devem levar
o examinador a acreditar que o escritor realmente possa estar acometido
daquele mal, pois vários fatores extrínsecos e intrínsecos podem provocar
distúrbios semelhantes.
As deformações provocadas pelas causas involuntárias normais são
paulatinas e lentas. As que resultam das patológicas são imediatas e pro­
fundas.
Soiange Peliat, nas obras Les lo is d e V écriture e L’e d u c a tio n g u id ée
p a r la graph ologie, ofereceu resultado de estudos feitos em escritas de
pessoas portadoras de quadros mórbidos, somáticos ou mentais.
Alinhou ela, segundo a moléstia, os seguintes fenômenos que atin­
gem o gesto gráfico:
• agrafia: a perda da faculdade de escrever;
• paragrafia: o registro de palavras inadequadas ou sem sentido;
• m ogigrafia: impossibilidade de escrever durante um espasmo;
• grafofobia: aversão à escrita, como nos casos de depressão melan­
cólica;
C apítulo VI - C ausas M odificadoras da E scrita
57

• tartam udezgráfica: a desfiguração das palavras pela repetição ou


modificação das letras;
micrografia: redução do tamanho das letras, como no Mal de
Parkinson e da encefalite letárgica;
acatagrafia: escrita dos histéricos, que se caracteriza pelo registro
incorreto das palavras, que determinam com certos traços no iní­
cio de letras;
escrita em espelho: lançamento feito de trás para frente, tornando
a leitura possível através de um espelho, como na surdez congê­
nita; &
grafomania: pessoa que escreve continuadamente, até expressões
desconexas, como se o gesto gráfico fosse uma necessidade psi-
cossomática;
• anonimografia: fenômeno semelhante em que a pessoa escreve
cartas anônimas até para pessoas desconhecidas. Tem como carac­
terística não confessar a autoria e, quando desmascarada, a ano­
malia se exterioriza sob outra forma, não mais escrevendo cartas
anônimas.

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Figura 1 - Escrita em espelho (Gentileza do Sr. J osé Levy Gomes Corrêa).


Capítulo VII

A F r a u d e D ocum ental

A fraude docum ental pode ser distribuída p o r três categorias:


• falsificações;
• alterações;
• autenticidades.
No terreno das falsidades, temos:
• falsificação sem imitação;
• falsificação de memória;
• falsificação servil;
• falsificação exercitada;
• decalques: direto e indireto.
As autenticidades são:
• autofalsificação;
• simulação do falso;
• negativa de autenticidade;
• transplante.

1. T ipos de F alsários

Os falsários podem ser divididos em dois grandes grupos:


• os ocasionais;
• os profissionais.
Os falsários ocasionais ou eventuais são aqueles que não fazem da
falsificação um meio de vida. Todavia, surgindo oportunidade, podem se
valer da falsificação para se locupletarem desonestamente.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
60

Os profissionais tanto podem agir isoladamente como em quadrilha,


em que cada elem ento tem um a função, sendo o chefe, via de regra, o
falsificador.
A quadrilha, para operar, deve, preliminarmente, obter várias infor­
mações para arm ar o bote, como:
• escolher a vítima;
• verificar qual a agência e o banco em que ela opera;
• obter um padrão de assinatura da vítima;
• obter o extrato da conta da vítima;
• retirar talão de cheque com requisição falsa;
• abrir conta no banco da vítima ou em outro banco com nome su­
posto;
• falsificar o cheque e realizar o saque.
Tem-se observado, hoje em dia, que as quadrilhas que operam com
cheques falsos tendem a desaparecer, pois o assalto ao banco, de mão ar­
mada, rende muito mais e o risco que correm é menor.

2. As F alsificações

2.1. Tipos d e falsificações


O capítulo das falsificações da grafotécnica é de grande importância,
em virtude do grande núm ero de fraudes praticadas pelos falsários, envol­
vendo cheques com assinaturas de emissão apócrifas.
Passaremos em revista todos os processos de fraude, mostrando as
suas características principais.
2.2. Falsificação sem imitação
A falsificação sem imitação, como a própria denominação indica, é a
reprodução de assinatura, sem se procurar dar a forma das legítimas, que
se desconhece.
É o processo de falsificação usado por falsários eventuais ou primários.
É o desocupado que, encontrando um talão de cheques, preenche um, es­
crevendo o nome do seu proprietário. Falsificação desse tipo pode ter êxito
no comércio, entre leigos, mas não logra sucesso nos meios bancários.
O lançamento espúrio não guarda semelhança formal com a firma
do proprietário do cheque e, por isso, não passa na verificação da firma,
quando se confronta com a do cartão de assinatura do estabelecimento
bancário.
C apítulo VII - A F raude D ocumental
61

Esse processo, nos meios bancários, praticamente desapareceu, pois,


em alguns talões de cheques, não consta o nom e do correntista e nem o
núm ero da conta.
Comparando-se uma assinatura feita pelo processo de falsificação
sem imitação com a legítima, não se encontra, evidentemente, coincidên­
cias genéticas e nem mesmo nos elementos formais.
A prova da autoria das falsificações sem imitação é relativamente fácil,
porquanto o falsário simplesmente escreve o nom e de terceiros, com seu
próprio grafismo.
Os mais escolados podem introduzir artificialismos, prejudicando as
formas, mas os elementos genéticos de seu punho ali estão para a prova
de autoria.

Antagonismos gráficos: traçado inferior ou superior ao verdadeiro;


dessemelhança formal total; gênese conflitante.

2.3. Falsificação de memória


A falsificação de memória é aquela em que o falsário, estando fami­
liarizado com a assinatura de sua vítima, procura reproduzi-la sem ver o
modelo, valendo-se da memória.
Esse tipo de fraude é praticado por pessoas que trabalham em firmas
e manuseiam os cheques dos seus patrões.
O falsário, é evidente, guarda de memória os gestos mais aparentes da
assinatura que vai reproduzir, como as letras iniciais, maiusculas, as cetras
—traços ornamentais que arrematam as assinaturas —,mas não memorizam
o conjunto todo.
O traçado dessas falsificações é híbrido: há traços morosos, aqueles
que estão sendo reproduzidos pela memória, e outros mais rápidos, que
são resultantes da própria escrita do falsário.
O êxito desse tipo de fraude é relativo e vai depender, nos meios ban­
cários, da atenção do verificador de firmas. Nas perícias oficiais, o embuste
é desmascarado sem grande dificuldade.
O confronto da forjadura com os padrões mostra um quadro rico em
dissociações genéticas. No campo dos elementos formais, podem ser regis­
tradas pequenas semelhanças, ao lado de maior número de discrepâncias.
Antagonismos gráficos: traçado moroso (hesitações - trêmulos);
Paradas anormais do traço (retoques); algumas semelhanças formais;
gênese antagônica.
D ocdmentoscopia - Lamartine M endes
62

2.4. Im itação servil


A falsificação por imitação servil é o mais pobre dos processos: o falsá­
rio, fiel a um modelo, o reproduz no docum ento que está forjando.
A tarefa de copiar um lançamento não é fácil. Depois de cada gesto
produzido, o falsário é obrigado a parar e olhar o modelo, voltando a fazer
outro trecho do lançamento.
Como consequência desse fato, além do lançamento ficar moroso, ar­
rastado, apresenta paradas do instrum ento escrevente em sítios onde, no
modelo, não ocorrem. Para realizar alguns movimentos, o falsário vacila,
resultando um traço hesitante e trêmulo.
A comparação do produto de uma imitação servil com a assinatura
legítima mostra flagrante diferença na qualidade do traçado e total discre­
pância dos elem entos genéticos. Como se trata de uma cópia, apenas há
coincidências de ordem formal.
Alguns falsários, depois de executar a cópia, procuram melhorar o
lançamento por meio de retoques cuidadosos, deixando mais uma marca
do embuste.
Antagonismos gráficos: traçado moroso (hesitações - trêmulos);
grande semelhança formal; paradas do traço (retoques),
gênese conflitante.

2.5. Falsificações exercitadas


Este é o tipo mais perigoso e difícil de falsificação. O falsário se apos­
sa de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino, o reproduz.
D ependendo de habilidade do falsário, ele consegue um lançamento mais
ou menos veloz.
Nos meios bancários, esse tipo de falsificação pode ter algum êxito.
O confronto de um a falsificação exercitada com o modelo mostra rela­
tiva coincidência na qualidade do traço, mas discrepâncias nos elementos
genéticos. Quanto aos elem entos formais, pode haver certa semelhança,
sobretudo nos gestos mais aparentes.
Antagonismos gráficos: traçado relativamente rápido;
semelhança dos gestos mais aparentes e algumas dessemelhanças;
eventuais retoques; gênese conflitante.

2.6. D ecalqu es
Os decalques se dividem em dois tipos: diretos e indiretos. São pro­
cessos primários de falsificação, daí porque os resultados são grosseiros.
C apítulo VII —A F raude D ocumental
63

Para se reproduzir uma assinatura legítima pelo processo de decal-


q ue direto, basta colocar o modelo sob o suporte da peça que se prepara
e, p or transparência, cobrir o traçado daquele.
As assinaturas feitas por esse processo apresentam, é obvio, grande
semelhança formal com o paradigma, mas seu traçado é lento, crivado de
paradas do instrum ento escrevente e subsequente retom ada do traço e,
ainda, cheio de trêmulos e hesitações.
Os elementos genéticos ficam, é claro, prejudicados pela operação
de cópia.
Ao se examinar isoladamente uma assinatura decalcada, pelas suas
próprias características, ela se confunde com as falsificações servis. Toda­
via, ao se tratar de uma série de documentos, a perfeita superposição das
várias assinaturas entre si evidencia o processo.
Para se dem onstrar a fraude, bastará fotografar as duas assinaturas e
copiá-las, em mesmo grau de ampliação, uma em positivo e outra em dia-
positivo, e fazer a prova de superposição.

Antagonismos gráficos: traçado moroso; grande semelhança


formal com o modelo; gênese conflitante.

O decalque indireto muito se assemelha ao anterior. A diferença re­


side no fato do falsário reproduzir o modelo primeiramente a lápis, ou
transferi-lo com emprego de papel carbono, para depois recobrir o debu-
xo. Consequentem ente, o produto apresentará vícios dessas duas opera­
ções. Além do traço ser vagaroso, eivado de trêmulos e indecisões, existem
paradas anormais da pena e, não raro, vestígios de texto subjacente, repre­
sentados pelo traçado do debuxo.

Figura 1 Assinatura falsificada pelo processo de decalque indireto,


vendo-se assinalados os vestígios de debuxo.
D ocumentoscofia - Lamartine M endes
64

Na falsificação pelo decalque direto, ao se examinar uma assinatura


isoladamente, a fraude pode ser confundida com a imitação servil; já no
decalque indireto, a presença do debuxo identifica o m odus operandi.
Ambos, por se tratarem de um desenho, não permitem a prova da autoria,
o que constitui um atrativo aos falsários menos hábeis.

2.7. Falsificação por recorte


Outro tipo de falsificação é o do recorte, a que os franceses chamam
de Découpage.
A falsificação por recorte consiste na montagem de um texto, com
recortes de letra, grupos de letras e palavras, retiradas do manuscrito da
pessoa a que se deseja atribuir a autoria.
Esse tipo de fraude, segundo E dmond Locard, foi feito pela primeira
vez na França. Um falsário soube que determ inada pessoa, bastante abas­
tada, se encontrava doente, desenganada pelos médicos. Apossou-se de
manuscritos do doente e, recortando trechos, colou-os, justapondo-os,
num a folha de papel.
Feita a montagem, pelo processo de decalque direto, fez o docum en­
to definitivo, copiando até a assinatura. Tratava-se de um testamento, que
tornava o falsário herdeiro universal.
Relata ainda Locard que o documento, ao ser examinado por peritos,
foi tido como legítimo. A fraude só foi conhecida p or uma denúncia.
Quais seriam os indícios desse tipo de forjadura?
Denunciam a falsificação feita por recorte os seguintes vestígios:
• a desigualdade do calibre das letras que formam as palavras, espe­
cificamente, e o texto, em geral. O falsário, obrigatoriamente, re­
corta palavras de textos distintos, nos quais os lançamentos variam
de calibre;
• choques da inclinação axial dos caracteres que integram o texto.
Na colagem dos recortes podem ocorrer erros, modificando a in­
clinação axial dos caracteres;
• como a transferência da matriz é feita por decalque direto, todas
as características desse m odus operandi estão presentes na peça
espúria. O trabalho de recobertura, feita por transparência, dos
lançamentos existentes na matriz criada pela justaposição dos re­
cortes, em outra folha de papel, é tarefa ingrata.
O traçado dos lançamentos transferidos sempre será lento, mais lento
do que a escrita habitual da pessoa a quem o docum ento é imputado, eiva-
C apítulo VII - A F raude D ocumental
65

do de trêmulos, indecisões, paradas anormais do instrum ento escrevente


e outros vícios mais, como possíveis retoques.
É evidente que um docum ento desse tipo, em razão de os seus lan­
çamentos não passarem de um mero desenho, é inidentificável, embora a
prova da ilegitimidade seja sempre possível.
Os sequestradores também operam com recortes: retiram de jornais
e revistas letras, sílabas e palavras, para com por o conteúdo de uma carta
estipulando o valor e as condições do resgate da vítima.
2.8. A fa lsific a ç ão id e o ló g ic a

A falsificação ideológica é o tipo de fraude raramente praticado, mas,


nem por isso, podería deixar de ser focalizada.
Um docum ento pode ser falso sob dois aspectos:
quando o vício recai sobre a exterioridade do documento - é a
falsificação material, cujos vícios incidem sobre a integridade do
documento escrito, como a prática de rasuras, de acréscimos e a
falsificação da assinatura. Carrara chama esse tipo de fraude fa lsi
caligrafico;
quando o vício recai sobre o teor do docum ento - é a falsificação
ideológica. Ela não possui vícios materiais, mas apenas um a m en­
tira reduzida a escrita, como diz Sylvio Amaral, no seu Falsidade
Documental.
Assim, em toda falsificação ideológica, a assinatura é verdadeira, mas
o teor da peça não representa a vontade do seu subscritor.
Maggiori, a p u d Sylvio Amaral, op. cit., ensina que a falsificação ideoló­
gica deveria m elhor ser chamada de fa lsidade expressional:
M eglto ch e f a l s o id eo lo g ico - p u ic h e id e o lo g ia e q u iv a le a d iscu rso o
sc ie n z a d e lle id e e - d o u b e r r a d rise fa ls o ideale, in te lle c tu a le e riversa
m e n ta le q u a le d iz e r g e n z a trá v o lu n tá d ih ia r a ta e fe tiv a d e i n eg o zio
g iu rid ic o . ”

Fraudes desse tipo, via de regra, ocorrem com folhas de papel e de


cheque assinadas em branco ou, ainda, em retalhos de papel já contendo
uma assinatura. Outra peculiaridade é que, geralmente, o falsário se vale
do documento depois da morte do signatário.
As falsificações ideológicas são difíceis de serem comprovadas tecni­
camente e desafiam a argúcia dos peritos.
Um dos indícios que permitem desmascarar o embuste é o estudo
aos cruzamentos de traços entre o texto e a assinatura, embora nem sem-
Pre se possa fazer prova da sucessão dos lançamentos.
DO cumentoscòpia - Lamartine M endes
66

A m elhor prova, entretanto, são os anacronismos.


Luís Sandoval S mart, n o s e u M anual de Criminalística, c o n firm a o q u e
fo i d ito :
“A n a c ro n ism o . C o n siste e m d e ta lle s d e i d o c u m e n to fa ls ific a d o q u e n o
c o n c u e rd a c o m la e d a d q u e se le a trib u ye, c o m o s e r u n a fe c h a q u e n o
co rre sp o n d e a a c o n te c im ie n to s c o n sig n a d o s e n el.

E cita um exemplo:
“Es célebre a e ste respecto, la p la n c h a d e la c o rp o ra c ió n d e m a estro s
escrib a n o s d e F rancia, q u e d eseo so s d e d e m o n s tr a r d o a n tig o d e
su s p riv ilég io s. N o tr ip id a r o n en e n s a y a r su arte, fa ls ific a n d o u n a
re a l céd u la , d e u n rey d e F rancia, q u e seg ú n la fe c h a q u e a p a recia
e n e l d o c u m e n to , n o e sta b a a ú n e n ed a d , n i e n c o n d ic io n e s d e
sebscribirlo. ”
Smart, n e s s e s c a so s, r e c o m e n d a o e s tu d o d o te x to , n a b u s c a d e e rro s,
c o m o e x p re s s õ e s q u e n a d a ta fig u ra d a n ã o e r a m u s a d a s , c o m o d e fato s
n a r ra d o s q u e n ã o o c o r r e r a m n a q u e la o ca siã o .
O rlando S ivieri, no Lindagine grafica, atentou para outro aspecto:
“A n c h e la f i r m a d e v e essere e x a m in a ta te n d o p r e s e n te e ls u o p a r tic o la r e
carattere, le s u e p e c u lia r ita , il su o s tilo . ”
Os anacronismos são os antigos meios de revelação de falsidade do­
cumental. Â lei rom ana já a ele se referia. B ertillon cita o exemplo de pro­
fessores de caligrafia, a que se referiu Smart, que colocaram no documento
a assinatura de C arlos IX, em 1956, quando dataram a peça de onze anos
antes da ascensão do príncipe ao trono.
B enthaM e n u m e r o u o s d e z in d íc io s d e in v e n ç ã o d e u m a to e sc rito , a
q u e c h a m o u d e provas anorm ais:
1. Menção de fatos posteriores;
2. Emprego de palavras somente usadas depois da data escrita;
3 Asserção de fatos falsos e reconhecidos como tais por quem es­
creveu;
4. Discordância de um ato de outros precedentes;
5. Silêncio ou segredo acerca de contrato em questão no tem po em
que deveria ter dado ou tido conhecimento dele;
6. Diversidade de caráter no que diz respeito ao saber, à inteligên­
cia e à moralidade;
7. Oposição de afeições, dos gostos e das opiniões;
8. Omissão de fatos que o autor deveria ter mencionado;
9. Diversidade de estilo e de construção de frases;
C apítulo VII - A F raude D ocumental
67

10. Forma do ato, estilo e m odo essencialmente diverso daquele em


uso no local onde foi exarado.
Não se tem a pretensão de corrigir Bentham, mas ele bem poderia ter
acrescentado mais um aspecto: assinatura que na época não era usada
pelo escritor.
Para concluir este tópico, Leonódio Ribeiro, no Policia scientifica, as­
sim se manifestou sobre os anacronismos:
‘As alterações cronológicas nos docum entos p o d em ser divididas em
três grupos:
a) as q u e se referem às datas;
b) as d a idade da tinta;
c) as d o p ap el e outros elem entos.”
Novamente poderiamos acrescer mais um tipo: as que se referem à
fisionomia das assinaturas.

2.9. A s s in a tu ra à m ã o g u ia d a

É um tipo raro de fraude que pode ou não ser feita de má-fé.


Locard d is tin g u e trê s tip o s d e a s s in a tu ra s à m ã o g u ia d a :
• quando a mão está inerte;
• quando a mão é ajudada;
• quando a mão é forçada.
No primeiro caso, o indivíduo se encontra paralítico e terceiros guiam
sua mão para exarar a assinatura, a seu pedido.
É evidente que toda a movimentação é da mão-guia, que pode ou não
reproduzir a fisionomia da assinatura legítima.
Seja como for, o lançamento é arrastado, com indecisões, trêmulos e
outros vícios, pois a mão-guia ou procura imitar um modelo legítimo, ou,
então, simplesmente escreve o nome do ajudado. Neste caso, a mão-guia
terá dificuldade em movimentar a pena, com a situação anômala em que
se encontra a mão guiada e, p o r isso, não tem desembaraço para fazer o
registro.
No segundo caso, a pessoa, impossibilitada de escrever, pede a tercei­
ros que a ajudem a assinar.
O lançamento também apresentará vícios sérios no traçado, porque
ira provocar um conflito entre o gesto gráfico da mão guiada e o da mão-
guia, sendo certo que esta terá maior preponderância na execução do
íançamento.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
68

Essa assinatura, sob o ponto de vista jurídico, pode ser considerada


verdadeira, porque houve consentimento na ajuda, mas, sob o ponto de
vista técnico, é tida como falsa, pois aquela circunstância nao pode ser
aferida pericialmente.
Finalmente, ao guiar a mão contra a vontade de alguém, a assinatura
resulta num traçado descontrolado, com todos os caracteres deformados,
pela luta entre os dois punhos que escrevem.
Nos três tipos de assinatura à mão guiada, o resultado será sempre de
falsidade do registro.
2.10.Considerações finais
Passados em revista os vários tipos de falsificações, impoe-se respon­
der a uma indagação muito comum dos leigos:
Seria possível alguém falsificar uma assinatura de tal sorte que ela
pudesse ser confundida com a verdadeira, ou, então, existe a falsificaçao
perfeita?
A resposta, claro, é negativa.
Não existe a m enor possibilidade da ocorrência da falsificação perfei­
ta pelas razões que se passará a expor.
Como já se disse, a escrita é um gesto psicossomático, pois é a expres­
são muscular do centro nervoso do cérebro.
Partindo dessa premissa que é verdadeira e inconteste, admite-se que
o psiquismo é um complexo infinito. Nessas condições, como seria possí­
vel existirem dois resultados iguais?
Por outro lado, o psiquismo é fortemente modificado e influencia­
do pelo complexo somático, ou seja, pela tonicidade nervosa, muscular e
glandular.
Por essa razão, o psiquismo e as condições gerais fisiológicas diferen­
ciam a fisionomia da escrita, inserindo nela características que sao ineren­
tes a cada punho, por isso individualizando-as.
Voltando a atenção para o falsário, é sabido que ele já possui o gesto
gráfico instalado, com as características do seu punho.
Ele poderá, num esforço consciente, reproduzir formas alheias com
grande semelhança, ocultando as próprias, mas não p o d e sustar o fluxo
nervoso do centro da escrita, ou seja, em outras palavras, nao pode domi­
nar a parte psíquica da sua escrita, ou seja, o movimento.
Nessas condições, o falsário, ao imitar, criará um choque entre o
consciente e o subconsciente, este presidindo a reprodução das formas ao
C apítulo VII —A F raude D ocumental
69

modelo e, aquele, determ inando a movimentação do seu punho. Como


disse Vicente Chieregatti, ex-diretor do então Instituto de Polícia Técnica
já falecido, perito grafotécnico de primeira linha, há um conflito entre o
consciente e o subconsciente, pois aquele pensa e este escreve.
Assim, o falsário, só num período muito curto, poderá transformar
a atividade subconsciente em consciente. Nessa luta, ainda que ele não
perceba, o subconsciente triunfará, a longo prazo.
Alias, convém lembrar que esta circunstância está expressa na segun-
d a lei do grafism o, ditada por Solange Pellat:
“Q uando se escreve, o eu está em ação, m as o sentim ento quase in­
consciente de que o eu age passa p o r alternativas contínuas de in ten ­
sidade e de enfraquecim ento. Ele está n o seu m áxim o d e intensidade,
on d e existe um esforço a fazer, isto é, n o início e em seu m ínim o, onde
o m ovim ento escriturai é secundado pelo im pulso adquirido isto é
nas extrem idades.”
Assim, no início da escrita, quando se realiza um esforço (o de imita­
ção), ele é um ato consciente, tornando-se, depois, o gesto, a ser automá­
tico, comandado pelo subconsciente.
Ademais, o falsário não conhece o seu gesto gráfico, ou seja, as ca­
racterísticas do seu punho, e só tem noção da forma, que é resultante do
movimento gerado pelo cérebro. Por outro lado, ele também não conhece
as peculiaridades do gesto que vai reproduzir, atendo-se apenas, num es­
forço consciente, à sua forma.
Nessas condições, a falsificação perfeita é impossível.
Confirmando o que foi dito, Ai.bkrt Osborn diz que:
Não se p o d e fugir daquilo q u e não sabem os existir e, tam pouco, imi­
tar, com sucesso, o q u e se desconhece.”
Saudex vai ainda mais longe ao dizer que:
N inguém é capaz d e imitar, ao m esm o tem po, cinco elem entos que
integram um m odelo: a riqueza das formas, a dim ensão, as ligações a
inclinação axial e a pressão d o p u n h o .”
É evidente que, na imitação, a atenção não pode ser iguaímente distri-
uida para tantos aspectos. Em razão disso, a maioria passa despercebida
1 ai esta a prova da ilegitimidade.
A dúvida, para o leigo, decorre do fato de aliar a ideia de legitimidade
1da semelhança das formas.
O leigo ignora que o elemento fundamental da escrita é o movimento
que e materialização dos fluxos cerebrais, e a forma é mero resultado deste.
C nao sabe clue os movimentos, desde que a estrutura cerebral não esteja
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
70

É por isso que se criou um princípio que até parece contraditono.


Excesso de identidade é prova de falsidade.
A ssim e m d u a s e sc r ita s e x a ta m e n te ig u a is, a m b a s s a o falsas, o u

S ÍÍS H S H S
m o , p o u c o im p o r ta n d o a h ab U td ad e d o fa lsifica d o . .,
V eja m o s ag o ra , p ara c o n c lu ir , c o m o , s o b r e o a s s u n to , ,a s e m a n ifesta
ram a u to r e s d e n o m e a d a n a g r a fo té c n ic a .
Siviebi na obra já citada, teceu alguns comentários so b r e a q u e s ta ■

■í o p in io n e « v a i * , n e i p i u (no
le v a tu r a inteletuale)che suo tpc h m n q u e p o
Ta p r ó p r ia g r a fia «r che, per nuigatra le
sfo rzo d i v o lu n ta . C io n o n é esatto.

Será " q u r p a r a obter ,ri resultado. basta apenas um pequeno esfor-


CO da vontade. Isto não é verdade.)
P ois b e m . S e é im p o s s ív e l u m a p e s s o a m o d ific a r s e u p r o p n o grafis-
m o c o m o p o d e r ía e la im itar, c o m e x ito , o d e te r c e ir o s.

te rm in a d a p o r flu x o s c e re b ra is.
N ã o p o d e n d o o e sc r ito r m o d ific a r s e u s im p u ls o s c ereb ra is, c o m o
deria alterar a dinâmica da sua escrita? habilidade
O fa lsá rio p o d e im ita r b e m a s fo rm a s. Ii u m a

ZZZZZZTaen,
Novamente S ivieri é invocado: scopo:
lim o Io studio di chi falsifica tende,meffet, a «“
uguagltari Portginate. Cio non stgmfica amorna che d f a m f
C apítulo VII - A F raude D ocumental 71

se riesca a re n d e re V in tim a essenza, la v ita d e lia s c r ittu r a che egli


te n ta d i reprodurre; reccogliera o im ite r a p a ro le, lettere, segni, che
r a v v ic in e ra p i u o m e n o bene, m a n o n sera m a i ca p a ce d o creare u n a
escritura, s ib b e n e u n disegno. ”
(Todo esforço d e quem falsifica tende, com efeito, a este objetivo: igua­
lar ao original. Porém, não significa, todavia, que o falsificador atinja
a íntim a essência, a vida da escrita que ele tenta reproduzir; recolherá
ou imitará palavras, letras, sinais, que se aproxim arão mais o u m en os
bem , m as não será capaz d e criar um a escrita, senão um d esen h o.)
Realmente, ao falsificar, o falsário praticamente está desenhando e
não escrevendo.
M ittermeyer a f ir m o u :

“existirem falsificadores tão hábeis, capazes d e imitar de tal maneira


um a assinatura, q u e n em o mais com p eten te perito estaria capacitado
a reconhecer a falsidade.”
Existe, evidentemente, um erro fundamental nessa afirmação. Mostra
que o seu autor desconhecia o mecanismo da escrita, a despeito de sua
enorme e invejável cultura, p o r todos reconhecida.
Aqui, entre nós, juristas de conceito, como J orge A mericano e M oacyr
e muitos outros, com grande acerto, sustentam que a
A maral d o s S a n to s ,
concepção da fa lsidade perfeita não só é errônea como perigosa.
C. P aulier, na obra citada anteriormente, já ensinava, em 1913, que a
falsificação perfeita não existe:
“Un b o n fa u s s a ir e sera -t-il to u jo u rs c o n te n t d e s o n tra va il? N on,
q u e lq u e fo is se u le m e n t: u n b o n tr a v a il se ra to u jo u rs correct, il n e sera
p a s to u jo u r s p a r fa it. I l p e u t m a n q u e r l ’a ir d e Vecriture. ”
(Um b om falsário sem pre ficará con ten te com seu trabalho? Não, so ­
m ente às vezes um bom trabalho poderá ser correto, mas não será
sem pre perfeito. Pode faltar o ar da escrita.)
A marca da forjadura está estampada no produto espúrio. Sempre
será a reprodução de formas, estas feitas com certa lentidão e, com isso, a
velocidade do traçado da falsificação será m enor do que a do modelo.
E ufrasio A lcásar A nguita , na obra Técnica y peritación caligraficas,
ressaltou esse detalhe:
“L a e s p o n ta n e id a d d e la e scritu ra está e n relá cio n d ire c ta co m la
velo cid a d , d e n tr o d e c ie rto s lim ites. L a e s p o n ta n e id a d e la v e lo c id a d
m e d ia s d e la e sc ritu ra d e u n a p e r s o n d a n la m e d id a d e la n a tu r a le z a
d e su s escritos. ”
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
72

(A esp on tan eid ad e d e um a escrita está em relação direta com a veloci­


dade, dentro d e certos limites: a espontaneidade e a velocidade m édia
da escrita d e um a p esso a dão a m edida da natureza d e sua escrita.)
Os franceses afirmavam que o ar da escrita era a maior diferença
entre a falsa e a legítima. A fisionomia da escrita revela a sua procedência.
Paulier faz uma comparação muito feliz entre a escrita falsa e uma fotogra­
fia. Disse ele:
“Tout le m o n d e s a it q u e c e rta in e s p h y s io n o m ie s n e v ie n e n t p a s en
p h o to g r a fp h ie m a lg ré 1’e x a c titu ld e d e la rep ro d u ctio n : il est a u ssi
d e s écritu re s d o n t il e st d iffic ile d ’a ttr a p e r la ressem blance. L ’a ir d e
V ecriture p e u t se re n d r e c o m m e u n regard; il p e u t é ch a p p er a la p lu s
m in u tie u s e a n a ly s e d e V artiste... ”
(T odos sa b em q u e certas fisio n o m ia s n ão saem b em na fotografia,
a d e s p e ito da ex a tid ã o da rep rod u ção: assim a c o n te c e com a e s ­
crita, da q u al é d ifícil fixar a sem elh a n ça . O ar da escrita p o d e ser
com p a ra d o a u m olhar: e le p o d e escap ar à m ais m in u cio sa análise
d o artista...)

3. As A utenticidades
Labora em crasso erro quem acredita que a fraude documental só se
processa por um dos meios de falsificações ou de alterações.
Na verdade, existem golpes que pelo menos são tentados, com docu­
mentos portadores de assinaturas legítimas. São as fra u d es de autentici­
dade.
São elas de quatro tipos:
• autofalsificação;
• simulação de falso;
• transplante de escrita;
• negativa de autenticidade.

3.1. A utofalsificação
A fim de lesar sua vítima, o falsário exara sua assinatura modifican­
do a sua fisionomia. Para tanto, ele reduz a velocidade do lançamento,
deforma os caracteres, m uda a inclinação do eixo gramatical habitual,
introduz trêmulos, para, depois, com base nesses vícios, acoimá-la de
falsa.
Como se sabe, os elem entos formais objetivos e alguns subjetivos
realmente são passíveis de modificações, que podem ser provocadas pelo
próprio escritor, como o calibre das letras, seu desenho, a inclinação axial,
C apítulo VII - A F raude D ocumental
73

a firmeza do punho, a velocidade do lançamento. Não pode, entretanto,


o escritor controlar a gênese de sua escrita, pois ela constitui movimentos
que são ditados pelo cérebro, lá registrados no aprendizado.
A conclusão da legitimidade não se funda na semelhança ou não dos
elementos gerais da escrita. Estes são apenas subsidiários. O resultado do
exame se baseia na coincidência da gênese gráfica da peça questionada
com a do padrão de confronto, para a afirmação da autenticidade e, na
repulsa, no caso de falsidade.
Ao analisar a assinatura autofalsificada com o padrão respectivo,
desprezando as diferenças formais, o exam inador encontrará global har­
m onia dos elem entos genéticos para a afirmação de sua legitimidade.
Os vícios introduzidos no ato de exarar a assinatura, entretanto, de­
verão ser registrados pelo técnico, mas não deverão ser tomados para a
afirmação da autofalsificação. Isso porque não pode a perícia comprovar
a intenção de alterar o grafismo. Vícios dessa natureza poderíam ter sido
provocados por vários fatores e não existe processo para diferenciá-los
dos que resultam da vontade do escritor.
3.2. Simulação de falso
A simulação de falso difere da autofalsificação. Nesta modalidade, o
escritor lança sua assinatura habitual, para depois eivá-la de vícios, que
serão depois apontados para sustentar a sua ilegitimidade. Assim, na auto­
falsificação os vícios são introduzidos no ato de lançar a firma e, na simu­
lação, depois dela ter sido exarada.
Seja como for, o exame mostrará, a par dos vícios, uma convergência
total dos elementos genéticos, o suficiente para se provar que o lançamen­
to não é inidôneo.
Mas o próprio escritor não poderia retocar sua assinatura sem a inten­
ção da simulação de falso?
É claro que poderia. Entretanto, na simulação, os retoques são feitos
cautelosamente, para que não fiquem evidentes, pois o falsário não deseja
que eles sejam percebidos. Nas emendas feitas pelo escritor, que visam
a corrigir alguma falha, elas são feitas descuidadosamente, p or isso são
aparentes.
Deve o examinador afirmar a simulação de falso?
Esta é uma questão que, no caso concreto, o próprio examinador
deve decidir. Se o retoque era de todo desnecessário, se tem as caracterís-
tlCas de ser fraudulento, então a afirmação pode e deve ser feita.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
74

3.3. Transplante de escrita


Este tipo de fraude praticamente desapareceu.
Antigamente, quando todos os docum entos eram selados, como os
recibos, as notas promissórias e os requerim entos em geral, o transplante
da escrita, embora não fosse frequente, podia ocorrer.
Era praxe a assinatura iniciar no suporte, cruzar todos os selos e ter­
minar no papel.
Como agia o falsário?
Ele simplesmente descolava os selos de um docum ento e os recolava
em outro suporte, com um texto que lhe interessava.
Nessas condições, com exceção de pequenos trechos, no seu início e
final, a assinatura sobre o corpo dos selos era legítima.
A fraude era desmascarada pelos seguintes indícios:
• diferença de tinta entre o início e o fim da assinatura com a do
resto do lançamento. Se a tinta usada for do mesmo matiz, o seu
exame sob os efeitos dos raios ultravioleta mostrará diferença de
fluorescência;
• os traços acrescidos poderão mostrar solução de continuidade
com os que se encontram no corpo dos selos. Uma ampliação fo­
tográfica evidenciará bem esse aspecto;
• na recolocação dos selos em outro suporte, quando eles estão iso­
lados, pode ocorrer que também os traços da assinatura se desen­
contrem ou fiquem separados demais;
• às vezes, são usados dois ou mais selos, ainda unidos pelo picote,
e pode acontecer que o traço da assinatura cruze esse sítio. Na
recolagem, os pequenos traços que cruzaram o picote ficarão no
docum ento primitivo e, assim, surgirá descontinuidade no traçado
da assinatura.
Se, todavia, o falsário notar essa irregularidade, completando com
um pequeno retoque a falha, com ultravioleta se evidenciará.
Os selos deverão ser cuidadosamente destacados do documento,
para se estudar o seu dorso. O falsário usa cola diferente da que se encon­
tra nos selos antes de serem aplicados, o que pode ser comprovado. Ou,
então, no ato de descolá-los, pequenos retalhos de papel, retirados do
docum ento primitivo, poderão ficar neles aderidos.
O resultado do exame gráfico propriam ente dito provará que o lança­
mento contido no corpo dos selos apresenta coincidências formais e gene-
C apitulo VII —A F raude D ocumental
75

ticas com os padrões de confronto da pessoa homógrafa, o que permitirá a


afirmação de sua legitimidade, mas os vícios acima referidos comprovarão
o transplante feito pelo falsário.
3.4. Negativa de autenticidade
Nesta modalidade de fraude, o escritor lança normalmente a sua as­
sinatura e, depois, para fugir à responsabilidade advinda do teor do docu­
mento, alega a sua falsidade.
É evidente que o confronto dessa assinatura com os padrões vai mos­
trar um quadro rico de afinidades, seja no campo da gênese gráfica, seja
no dos elementos formais.
Pode ocorrer, entretanto, que o escritor, ao negar a autenticidade
não esteja agindo de má-fé.
Admitamos que o falsário consiga uma folha em branco, p o r alguém
já assinada, ou, então, se aproveite de sua assinatura, retirando-a numa
faixa de papel em branco de outro docum ento e crie uma declaração de
dívida, por exemplo.
Ao ser cobrada a dívida, comprovada pelo docum ento criado, tendo o
escritor certeza de que não assinou nenhum docum ento com aquele teor,
não lhe resta outra alternativa senão afirmar a falsidade da assinatura.
A prova de legitimidade da assinatura constitui tarefa difícil. Difícil
sera, e raro se consegue, provar a falsificação ideológica. Este assunto já
foi tratado anteriormente.
Capítulo VIII

A l t e r a ç õ e s D o c u m e n t a is :
P r á t ic a s A n t ig a s e M o d e r n a s

Caracteriza-se como alteração documental toda modificação estrutu­


ral, seja por meio da supressão, do acréscimo ou da substituição de parte
ou do todo dos dizeres de um determ inado documento.

1. A lterações po r S upressão

As alterações ou modificações, por supressão, se processam mediante


as seguintes formas:

1.1. Rasuras
As rasuras consistem na remoção de dizeres de um texto, com o em­
prego de uma borracha ou instrum ento similar.
Tendo-se em vista os vestígios deixados pela utilização da borracha, as
rasuras podem ser de três tipos:
• superficiais;
• rasas;
• profundas.
Nas rasuras superficiais, a borracha é aplicada sem exercer grande
pressão contra o suporte.
É claro que, na operação desse tipo, só podem ser removidos traços
feitos também com leveza de punho, sobretudo a lápis.
O papel, na fase final do seu preparo, sofre um a operação de alisa-
mento de sua superfície, o que lhe empresta discreto brilho. A ação da
borracha, então, provoca uma solução de continuidade nesse brilho, o
que é facilmente percebido com luz jogada num ângulo de 45 graus.
78 D ocumentoscopia - Lamabtine M endes

Na rasura superficial, nem sempre a borracha remove todo o texto,


rem anescendo vestígios do texto apagado, chamado texto subjacente.
Nessas condições, caracterizam as rasuras superficiais:
• solução de continuidade no brilho do papel;
• vestígios do texto subjacente.
Nas rasuras rasas, a borracha é atritada com maior pressão, numa
tentativa de remover todo o texto.
Em consequência do atrito da borracha, as fibras do papel se libertam
e pode ocorrer que ainda fiquem vestígios do texto subjacente.
Se novo texto for exarado no campo rasurado, sobretudo com tinta
fluida, as fibras em liberdade, por capilaridade, ficam p o r ela tingidas.
Caracterizam-se, assim, as rasuras rasas:
• solução de continuidade no brilho do papel;
• levantamento de fibras;
• eventualmente texto subjacente.

l « » l tm j 1*1I **»■>**-> 11*1 cü |o « t » r í f ío | |Seo.QO ^ 4 = 1


fiifcapfcrA 5---------------

Figura 1 - Reprodução de fotografia feita com luz natural, para demonstrar


a destruição do fundo de segurança.

Nas rasuras profundas, a aplicação de borracha é feita com energia.


Em resultado disso, além de quebrar a homogeneidade no brilho do papel,
o levantamento das fibras remove parte da polpa do suporte, tornando-o,
nesse trecho, mais delgado, o que permite maior filtragem de luz.
Na rasura profunda, é raro encontrar-se textos subjacentes.
A melhor maneira de se evidenciar esse tipo de alteração é observar o
docum ento por transparência, para constatar a maior passagem de luz.
As rasuras profundas, portanto, apresentam as seguintes características:
• solução de continuidade no brilho do papel;
• levantamento de fibras;
O M ^ V ra - D ocumentais: R U « as ^ , M odernas
79

remoção de parte maior da polpa;


• filtragem de luz.

at o CVÍden,CÍar as rasuras é fotografar

1.2. Raspagem

que a ^ n p t T S r m eCânH a malS 6 mais p“ d°


lá m ta , estilete ou instrum ento s i m i l ^ ^ ™ " ' 05 C° m° ’ P° r exemPto’

I f ra » rT s. r . r , r ; , „ . r
^ F*F SftO'0'Q
OÍ (1
-------------------------- ... • _ T.

BANCO R E A L

S w w asran u r
(03»)2737325 ClftNTíOft(BK^S^~

M wcwoa 033 >*0d»aBA soB O B nasaea*


Figura 2 - Reprodução de fotografia feita
• . c, oai luz natural' Para demonstrar a destruição de forma
intensa, do fundo de segurança.

1.3. Amputações

T Pane d° « ° ™ P°D

033 i001 J0J« ? : i j <5* MÍ J d «00 noive

Choqu*FmmxtMCla.nc
0 Banco do Brasil

01 M3I3IÍ0 fiSPMQ

Figura 3 - Reprodução ilustrativa da prática de amputação.


D ocumentoscopia —Lamartine M endes
80

1.4. L avagens q u ím ic a s
A fraude é feita por meio da aplicação de um reagente químico para
retirar o lançamento exarado no documento. Qualquer produto à base de
cloro ou éter se presta a esse fim. Atualmente, com a difusão das canetas
esferográficas, a lavagem pode ser feita com a utilização de álcool, aceto-
na, água sanitária, etc.
Observando-se um documento sob os efeitos dos raios ultravioleta fil­
trados, ele oferece fluorescência homogênea no seu todo. Depois de aplica­
do nele qualquer reagente, ao exame com ultravioleta, aparecem manchas,
ou seja, zonas de fluorescência diversa do todo, pois o trecho afetado reage
de forma diferente à fonte de luz. Em certas ocasiões, é até possível a leitura
do texto lavado e, quando não, parte do seu lançamento.
Como nas rasuras, os papéis de segurança não comportam lavagens,
porque a ação do reagente provocará descoramento do suporte, resultan­
do manchas perceptíveis à vista desarmada e à luz natural.
Lavagens quím icas: são alterações diminutivas, pelo emprego de re-
agentes químicos sobre manuscritos à tinta de escrever à base de ferro ou
esferográfica. Usam-se, frequentemente, corretores à base de hipossulfito,
água clorada, água sanitária e acetona.
Modernamente, os papéis de segurança, especialmente aqueles utiliza­
dos na fabricação de cheques, apresentam inúmeros componentes que rea­
gem de forma diferenciada, para cada tipo de reagente químico utilizado.
A utilização de éter ou seus derivados não propiciam a retirada dos
lançamentos primitivos produzidos com esferográfica, ocasionando a mi­
gração desses lançamentos para a massa do papel, atingindo inclusive o
verso. Essa ocorrência é perfeitamente visualizada a olho nu.

Figura 4 - Reprodução demonstrativa da migração da tinta, na hipótese de


utilização do éter e seus derivados, nas tentativas de remoção de manuscritos
constantes de cheques.
C apitulo V III - Alterações D ocumentais: P ráticas Antigas e M odernas
81

Na hipótese do uso de cloro ou seus derivados, o papel de segurança


reage de forma diferenciada, surgindo, imediatamente, após o uso desses
produtos, as expressões Nulo ou Anulado.

Figura 5 Reprodução demonstrativa da ocorrência de revelação de dados


ocultos, na hipótese de utilização do cloro e seus derivados, nas tentativas de remoção de
manuscritos constantes de cheques.

Atualmente, constitui grande dificuldade aos peritos oficiais a de­


terminação do m odus operandi utilizado nas lavagens dos Certificados
de Registro de Veículo, especialmente no que tange ao Recibo de Venda
considerando-se as inúmeras fraudes nas datações, p o r meio do uso de
produto químico que suprime os dados primitivos sem deixar marcas apa­
rentes, possibilitando a aposição de nova data ou até mesmo de dados de
indivíduos que não participaram da negociação.
Essa prática resulta em prejuízos aos cofres públicos, considerando-se o
prazo legal de trinta (30) dias para a respectiva transferência do veículo.
É sabido que os documentos expedidos por órgãos públicos, via de
regra, sao impressos em papel de segurança, que não permitem a prática da
avagem química. Entretanto, buscando soluções para o problema aflitivo
dos departamentos de trânsito de todo o Brasil, esta perita, após inúmeros
ensa^s, logrou êxito em observar que um produto, denominado Corector
m ie, de origem francesa, propicia tal fraude sem marcas aparentes.
A conclusão de inobservância de marcas aparentes deve-se ao fato de
nao serem visualizados vestígios a olho nu, nem mesmo com a utilização
e u travioleta de ondas curtas. Os dados primitivos, entretanto, poderão
er visualizados com o uso de ultravioleta de ondas longas, que refletem
ao so uma mancha acentuada, como também, propiciam a recuperação
® lançamentos Primitivos, subjacentes aos lançamentos posteriores
nrorme demonstração seguinte.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
82

-- .-- —-- —
-- vUXi-Z- -------------- -
coo
d ■' 3. r \ Ç.CC S
__ ___ - -c—*>. TC^AUWC*---- —

Figura 6 - Reprodução demonstrativa de dados primitivos,


lançados em suporte de segurança, utilizado na confecção de
Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo.

1 1 'e a . i s
«• -rctrto u r^iiN C i-

Figura 7 - Reprodução demonstrativa da utilização do produto químico referido.


A visualização dos dados primitivos que foram suprimidos
foram obtidos com o uso de ultravioleta.

>G.CC<\
r ecc S
____________ -3 --------------

Figura 8 - Reprodução demonstrativa da utilização do produto químico


referido e a sobreposição dos lançamentos atuais com visualização daqueles
suprimidos quando utilizada a luz ultravioleta
C apitulo VIII - Alterações D ocumentais: P ráticas Antigas e M odernas
83

<9 ,0 0
^ e z - e n o v e r<e.C Li's

Figura 9- Reprodução demonstrativa da produção final,


visualizada a olho nu.

Observe-se que os papéis de segurança utilizados na confecção de


cheques, também não demonstram a utilização do produto anteriorm ente
mencionado, quando da prática da supressão de dados primitivos.

9 1 0 -2 o soo SS0279 0 êMOO


•c

E s p * c ) :> f C l a s s l c

6ARRQ P R E TO
0 0 . 0 0 0 . 0 0 0 / 2 2 3 6 5 *. x
HUA PAR ACATU 3 1 3 BARRO , \ N

=00430105 Ò33S502795* S22QE5<?SQ28*

Figura 10 Reprodução demonstrativa dos dizeres-de-preenchimento primitivos.

00

Q c p jo
BARRO PRETO MG
00i 0 0 0 . 0 0 0 / 2 2 3 Í . 5 4
ROA PAR ACATU 3 1 3 SARRO 01 M 2 6 3 1 C 0 S S P *G
CUEW TE D E S o l 5 2 /1 9 M

?00130*<25 ÍJ3a35q27a5(<. 1B220BS<aS02S#


Figura 11 - Reprodução demonstrativa do suporte,


após a supressão dos dados primitivos.
D ocumentoscopia - L amartine M endf.s

84

..-ã&J
i ChewM B p e c í» ! ClM »te
3 0 BANCODOBRASH. SSPW
C-
IBARROP^TO
88á
j PRETO

esaoer.oso:*-

dos dizeres-de-preenchimento lançados posteriormente,


Figura12- Reprodução demonstrativa R$2.000,00 (Dois mil reais).
quais sejam:

2. A lterações por A c réscim o


acréscimo, processam-se por meio
As alterações ou modificações, por
das seguintes formas:
2 .1 . R e to q u e s melho-
São pequenos traços feitos em uma escrita. ? original-, o

Figura13- Reproduções demonstrativas da prática de retoques.


C apítulo V III - Alterações D ocumentais : P ráticas Antigas e M odernas 85

2 .2 . E m enda

Emenda-, ao contrário do retoque, consiste em um acréscimo de tra­


ço, ou traços, a uma letra ou algarismo, com o propósito de alterar-lhe a
forma de significação. É o caso da transformação de um 0 (zero) em 6 ou
9; transformação de um o em a pela adição de um grama.

s . t f r Wq

Figura14- Reproduções demonstrativas da prática de emenda.

2 .3 . A créscim o s

Constituem acréscimos ou enxertos os lançamentos aduzidos em tex­


tos exarados em escrita cursiva ou nos datilografados.
Nos textos feitos em cursivos, os acréscimos podem ser feitos nos
seguintes espaçamentos:
• intervocabulares;
• interlineares;
• para substituir palavra retirada mediante rasura;
• no final das linhas, quando estas se distanciam da margem;
• no que medeia o final do texto e a aposição da data ou das assina­
turas.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
86

Para a constatação da alteração feita mediante acréscimo, devem ser


observados os seguintes detalhes:
a) Tintas diferentes
Não raro o falsário intercala um term o usando tinta da mesma
cor, mas de tipo diferente. Os exames, então, deixam muito a
desejar, pois os processos que existiam, e ainda existem, não
podem ser aplicados na perícia, pois acarretam a danificação
do docum ento. Q uando as tintas forem de cores diferentes, a
prova será mais fácil.
Modernamente, as tintas de escrever caíram em desuso. Mas nem
com isso facilitou-se a prova de aditamento feitos com esferográ­
ficas da mesma cor. Com uso dos raios ultravioleta, é possível
fazer-se a prova.
Como se verá oportunam ente, a colorimetria computadorizada
resolve o problem a na maioria dos casos.
b) Punhos diferentes
A m elhor maneira de se comprovar o acréscimo é fazer a prova
de que foi ele exarado por punho diferente do que produziu o
resto do contexto. É verdade que, sendo o acréscimo de apenas
uma palavra, o campo gráfico por ela representado nem sempre
permite que as características do punho que a produziu possam
ser estudadas. Mas, por vezes, o campo gráfico do acréscimo é
maior e, então, a prova é perfeitamente exequível.
c) Aglutinações
Sempre que a palavra a ser acrescida ocupar um campo maior
do que o falsário dispõe para a fraude, ele é obrigado a reduzir o
calibre das letras, os espaços intergramáticos, interliterais e inter-
vocabulares. Tudo é feito de forma espremida. Por outro lado, se
o espaço for maior que o ocupado pelo termo a ser acrescido, ha­
verá quebra dos espaçamentos interliterais, abrindo-se os espaços
entre as letras.
Essas diversidades de com portam ento são chamadas de acrésci­
mo.
d) Reflexo de evitam ento
Em algumas ocasiões, a despeito da aglutinação do tem po acres­
cido, nem assim o espaço é suficiente para o seu registro. Então,
C apítulo VIII Alterações D ocumentais: P ráticas A ntigas e M odernas 87

para impedir que o texto aduzido caia sobre o original subse­


quente, o falsário muda a orientação da escrita, fazendo-a ascen­
dente ou descendente - é o reflexo de evitamento.
Outro detalhe poderá oferecer indícios para a prova do enxerto,
quando este for feito com instrum ento escrevente e tinta de mesmo matiz
do original. É o estudo dos cruzamentos de traços.
É de grande valor o estudo do com portam ento dos traços acrescidos
e do original quando estes cruzarem as dobras do papel.
A dobra, bem vincada, provoca, na sua lombada, destruição parcial de
encolagem do papel, libertando, nesse sítio, fibras de sua polpa.
Assim, o texto original, no cruzamento, sofrerá pequena solução de
continuidade, observável no microscópio. O mesmo fenômeno, entretan­
to, não ocorrerá no traço do enxerto.
Se o lançamento tiver sido feito com tinta líquida, esta poderá embe­
ber as fibras soltas, por capilaridade, provocando pequenas manchas.
Finalmente, nessas circunstâncias, a pena, na feitura do adendo, po­
derá sofrer pequeno desvio, ou então, tropeçar, acarretando o desprendi­
m ento de pequenas gotículas de tinta, que mancharão o suporte.
A destruição da gomagem no vinco da dobra provoca uma solução de
continuidade na impermeabilização do suporte. Em virtude disso, ao cru­
zar esse sítio, a tinta se infiltra na polpa do papel, formando um a pequena
mancha.
Para concluir, p o r vezes o acréscimo é feito para substituir lança­
m entos removidos com em prego de borracha. A diferença de brilho na
gomagem do papel, o levantam ento de fibras ou a rem oção de polpa
podem denunciar a operação, bem como rem anescentes do texto pri­
mitivo —o texto subjacente. Ao fazer novo lançamento, dada a falta de
impermeabilidade do suporte nas zonas rasuradas, poderão aparecer
pequenas manchas ou, então, o traço aduzido perde definição de sua
estrutura. Se o texto primitivo tiver sido removido com a aplicação de
um reagente químico, os exames com raios ultravioleta comprovarão a
fraude, em razão da diversidade entre a fluorescência desse sítio e as dos
demais do suporte.
Nos acréscimos simples, temos que a alteração que consiste na adição
de letras, sinais ou traços, objetiva a modificação do teor do texto primiti­
vo. A ocorrência mais frequente é a transformação de ponto final do texto
em ponto e vírgula, para perm itir a continuação da frase; alteração do
D ocumentoscopia - Lamaktine M endes
88

valor primitivo de um cheque de hum m il reais para trinta m il reais, Três


reais para Treze reais, etc.

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2 o»Ilissass 'ãlM U lú-Z-
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HB<EtQU22f»H t3t3t3;3.í 3 2 5 S 5 * H 003 flBC» 3*123*

Figura 15- Reprodução demonstrativa da prática de alteração. No presente caso


o valor primitivo de hum mil cruzeiros reais foi alterado para trinta mil cruzeiros reais.

A intervocabulação caracteriza-se como o acréscimo de palavra a um


determ inado texto primitivo, como, por exemplo, a alteração do valor de
um cheque de Cinco reais para Cinco m il reais, etc.

ra rm r„ r, ^ ^ r. i nr™ r «r 5,000,00

Figura16- Reprodução demonstrativa da prática de alteração.


No presente caso a intervocabulação caracteriza-se como o acréscimo de palavra
a um determinado texto primitivo, como por exemplo,
a alteração do valor de um cheque de Cinco reais para Cinco mil reais.

2.4 . T ra n c a m e n to
Designa-se assim a ocultação parcial ou total de um texto, por meio
de risco, manchas, escrito superposto ou uso de corretivos. Nesta hipóte­
se, o uso adequado de luzes poderá revelar os lançamentos primitivos.
C apítulo V III - Alterações D ocumentais: P ráticas Antigas e M odernas 89

.ui!í 3bíík saaiBMasBaB*

Figura17- Reproduções demonstrativas da prática do chamado trancamento,


que consiste na ocultação parcial ou total de um texto por meio de risco, manchas,
escrito superposto ou uso de corretivos. Nesta hipótese, o uso adequado
de luzes poderá revelar os lançamentos primitivos.

Temos, ainda, como modalidade de fraude, o conhecido golpe do es­


tilete, no qual se processa a delaminação do suporte do cheque, como
será dem onstrado a seguir.

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Figura18- Reprodução demonstrativa da retirada da primeira camada do suporte,


referente aos valores numéricos, extenso e nome do beneficiário.
90 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Figura19- Reprodução demonstrativa da retirada de porção de suporte similar,


de outro cheque, porém do mesmo banco, que será colada ao primeiro.
Posteriormente serão inseridos dados novos, obviamente, distintos dos primitivos.

Figura20- Reproduções demonstrativas da retirada


da primeira camada do suporte,
referente ao número do cheque e posterior à aposição de retalho similar.

Também temos a supressão de impressões contidas nos cheques, me­


diante aquecimento do suporte e posterior raspagem, conforme demons­
trado abaixo.
C apítulo VIII - Alterações D ocumentais: P ráticas A ntigas e M odernas
91

! a í » , i « a U R s í ã ] 7 r s = s s & i 2r . « OT. « , . . j
9' * í r ‘ U l 41 * * * k -j i » « *j**ct3 <• « h e M ^ td v o s lI i tt tl lt lt m iM t f U t

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a a u u s is te oa^Bíioaeas» >oo 2 7 W OO;

Figura21 - Reproduções demonstrativas da supressão de impressões contidas nos cheques,


através do aquecimento do suporte e posterior raspagem.

POf n l t c2i*ou« • qu*nu*

CAIXA ECONÔMICA

■iiCKosaese^ãoooi. rpu* aoonoiaaaModní

WBXIMGTOHLUCIODÔSrSANTOS
^ 0 ^ 4 - 5 0 3 3 ,6 -8 3 0 /4 3 8 4 5 0 2 ÍM ISSO R SSP/MGABERTURA £ « ;< * /,M 8

^ ' ““T I m o n s a m da * impressões contidas nos che


referentes aos dados do seu titular, atraeés do aquecimento do suporte e posterior raspagem,
registrando-se as marcas da fraude, visualizadas a olho nu.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Cq3 3 1*341 I 0 9 3 t | 4 ! 2 7 4 8 3 -5
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_SAHAMW?
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=3<ia?J37tò 0333211735» 1000027Co35S#

referentes regjstrando.se as marcas da fraude, visualizadas a olho nu.


Capítulo IX

A A u t o r ia G r á fic a

A própria definição da grafotécnica já indica que a perícia tem dois


objetivos:
• determinação da autenticidade;
• determinação da autoria gráfica.
Assim sendo, só se pode cogitar da determinação de autoria gráfica de
um lançamento depois de se ter estabelecido a sua falsidade. Proceder dife­
rentemente será contrariar as normas da perícia e pode oferecer um perigo:
até a feitura do exame, o lançamento questionado é considerado falso apenas
pela alegação de uma das partes. A perícia não pode partir de pressupostos.
Somente depois de provada a falsidade é que se pode pensar em autoria.
Essa norma, evidentemente, só será desprezada no caso de se tratar
de uma assinatura fictícia, pois, não existindo a pessoa homônima, não há
como se cuidar do problema da legitimidade.
Os exames tendentes à determinação da legitimidade de um lançamen­
to sempre darão resultados categóricos, seja de afirmação, seja de negação.
Isso, como se disse anteriormente, por vezes pode não acontecer na in­
vestigação da autoria gráfica. Nestes casos, que são raros, mas existem, o
examinador deve esclarecer as razões pelas quais não pôde chegar a um
resultado quanto à autoria da peça questionada, mostrando assim que não
está, deliberadamente, ocultando o resultado por motivos subalternos.
Há falsificações que não permitem a fixação da autoria. São aquelas
feitas pelos processos de decalque direto e indireto. O resultado desse pro­
cesso não passa de mero desenho e não registra, p or isso, as peculiaridades
gráficas do punho do falsário, impossibilitando a prova da autoria.
Na perícia gráfica tendente à determinação da autoria, o examinador
poderá se defrontar com escritas de três tipos:
• escritas naturais;
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
94

♦ escritas disfarçadas;
• escritas imitadas.
1. E scritas N aturais
As escritas naturais são aquelas exaradas normal e espontaneamente,
sem qualquer artifício, para mascarar o gesto gráfico habitual do seu autor.
O exame de escritas desse tipo, no confronto de padrões do suspeito,
não oferece qualquer dificuldade, pois nas duas peças estarão bem marca­
das as características genéticas do punho.
Casos dessa natureza podem ocorrer nas falsificações sem imitação,
quando o falsário, com o seu próprio grafismo, registra o nome de terceiros.
Fora isso, são raros.
2. E scritas D isfarçadas
As escritas disfarçadas, por terem os seus elementos gerais afetados
pelo escritor, com o intuito de ocultar o seu grafismo natural, obrigam o
examinador a proceder um estudo mais aprofundado e cuidadoso.
Na comparação da escrita disfarçada com o padrão da pessoa hom ô­
nima, as diferenças formais serão desprezadas e toda a atenção se voltará
para o estudo da gênese gráfica, ou seja, da movimentação do punho para
concretizar as formas registradas.
Nas perícias desse gênero, os padrões de confronto deverão ser abun­
dantes, para dar oportunidade ao suspeito de registrar as peculiaridades
gráficas de seu punho.
3. E scritas I mitadas
As escritas im itadas são aquelas em que o autor, fugindo do seu gra­
fismo habitual, imita a forma gráfica de terceiros. Assim, nas imitações, o
muito que se pode fazer é reproduzir a forma de uma assinatura alheia, pois
a gênese gráfica nunca poderá ser reproduzida.
Nas imitações, geralmente existe, em face dos padrões, semelhança dos
elementos gerais, mas a operação de cópia será lenta, gerando um traçado
menos veloz do que o do modelo.
Os elementos objetivos poderão ser imitados até certo ponto.
Assim, como regra, o andamento da escrita é modificado, aparecendo,
no lançamento apócrifo, maior núm ero de momentos gráficos, com para­
das anormais do traço e sua subsequente retomada.
Disse Pauijer, op. cit. :
“Ce so n tp r é c is é m e n t les fo r m e s q u e le fo r g e u r cherche a im iter... ”
(São precisamente as formas que o falsário procura imitar...)'
Capítulo X

P r o b l e m a s em D o c u m e n t o s c o p ia

S ara L aís R a h al L e n h a r o

A despeito do progresso da técnica e da evolução do seu aparelha-


m ento técnico, há problemas que, até hoje, desafiam a competência dos
peritos e, na maioria das vezes, na falta de provas concretas, ficam insolú­
veis. São eles os seguintes:
• determinação da idade do documento;
• estabelecer a prioridade de dois lançamentos com base no cruza­
m ento de traços;
• as letras de fôrma e os algarismos;
• as montagens.
Examinemos cada um a dessas questões.

1. D e te r m in a ç ã o da I d ad e do D o c u m e n to

Quando eram de uso comum instrumentos escreventes constituídos


de caneta e pena metálica, com utilização de tintas líquidas, a determ ina­
ção da idade do docum ento já era difícil, embora se contasse com alguns
testes de natureza química para avaliar o grau de oxidação dos lançamen­
tos, como o teste de Mitchell (ácido oxálico). Mas os resultados não passa­
vam de estimativas precárias e discutíveis.
Q uando as tintas à base de sais de ferro foram substituídas pelas aní-
licas, o problema se agravou ainda mais.
Hoje, com a generalização das esferográficas, a determinação da data
do docum ento é inexequível.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
96

Em alguns casos, fazendo-se abstração do exame dos lançamentos,


anacronismos podem provar que o docum ento não foi elaborado na data
figurada.
Muitas vezes, o falsário elabora um docum ento com data bastante
recuada e comete sérios deslizes, como figurar, no dia do reconhecimento
da firma obtido por meios escusos um a data que corresponde a feriado
ou domingo.
Em outras ocasiões, o falsário, ao redigir o texto, obedece regras or­
tográficas que não estavam em vigência na data figurada.
Quando o recuo da data for muito grande, de muitos anos, o falsifica­
dor corre o risco de utilizar instrum ento escrevente ou tinta que não eram
disponíveis na data da feitura do documento.
É assim que os anacronismos podem ajudar na elucidação do caso.
Eis um caso real em que o anacronismo foi a solução de um a trapaça:
certa pessoa costumava viajar para o exterior com muita assiduidade. Pro­
curava, por muito tempo, sempre o mesmo despachante, para preparar o
seu passaporte e, na época, as declarações negativas do imposto de renda.
Para facilitar o trabalho do despachante e agilizar os expedientes, deixava
com ele folhas assinadas em branco.
Certa ocasião, viajou ele para o exterior e veio a falecer num desastre
aéreo.
Aberto o seu inventário, o despachante apresentou-se como credor
de razoável importância, que por ele fora emprestada ao de cujus, exibin­
do uma confissão de dívida.
Os filhos do falecido estranharam o fato. Sabiam que seu pai tinha
bastante numerário disponível, depositado em bancos e, se houvesse ne­
cessidade de uma grande quantia, era mais provável que lhes pedisse e
nunca iria pedir emprestado a um despachante. Além do mais, arguíam
os herdeiros, a confissão de dívida era de data muito anterior à morte do
pai e não se explicava porque o despachante não tivesse cobrado a dívida
enquanto ele estava vivo.
O despachante, por sua vez, alegava que nunca cobrara a dívida por­
que o falecido era seu cliente constante e esperava que ele próprio to­
masse a iniciativa em solver o débito. Como ele morrera, só lhe restava se
habilitar no espólio.
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopla
97

Inconformados, os filhos negaram a legitimidade da assinatura de seu


pai na confissão de dívida.
Foi então instaurado um Incidente de Falsidade e o docum ento enca­
minhado ao então Laboratório de Polícia Técnica de São Paulo.
O perito criminal que examinou o docum ento concluiu pela legitimi­
dade da assinatura.
Os herdeiros voltaram à carga e pleitearam um novo exame.
Outro perito do Laboratório de Polícia Técnica foi encarregado para
rever o caso.
Esse perito também certificou que a assinatura do docum ento era
legítima. Todavia, procurou estudar todo o documento, para a verificação
da possibilidade de ele ter sido assinado em branco.
Não encontrou nenhum vício que pudesse pelo menos evidenciar
esse tipo de fraude, pois não havia cruzamentos de traços da assinatura
com o texto para se estudar a prioridade. Nada foi encontrado que pudes­
se ao menos levantar dúvida contra a legitimidade da peça.
O docum ento iniciava com a qualificação do credor, seu nom e e en­
dereço de seu escritório.
Estudando as possibilidades, o perito se ateve à num eração do
escritório do despachante. Na prefeitura, descobriu que a ru a onde ele
se situava tinha sido renum erada. O núm ero figurado no docum ento
era um erro crasso: atrasou a data, mas colocou a num eração atual do
seu escritório e não a da época figurada. Com isso a fraude foi desm as­
carada.

Mas, quando não ocorrem vícios ou anacronismos, a solução é ine


xequível.

2. C r u za m e n to s de T raços

A determinação da prioridade de lançamento por interm édio dos cru­


zamentos de traços sempre foi um desafio para os técnicos.
E d m o n d L o c a r d , já no século XIX, advertia que, quando dois tra­
ços se cruzam, o feito com tinta mais escura do que o outro, sem pre
parece estar sobre ele, em bora a sucessão dos lançam entos tenha sido
diversa.
Mas, na realidade, já houve época em que, em algumas circunstân­
cias, a determinação da prioridade dos lançamentos, até certo ponto, era
DOCUMENTOSCOPIA - L aMAKTINE MENDES

98

de farpas fle­
usadas canetas com penas metálicas
possível: quando eram
xíveis e tinta aquosa.
tratado quando se focali-
Este problema, com maiores detalhes, sera
zar o estudo dos traços feitos à tinta.

Figura1- Fotografias feitas com microscópio eletrônico.

pena“ rd Í° I^

dOS fotografeção do cruzamento com infravermelho, em

— - —

alentadores, como mostra a Figura 1.


C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 99

2 .1 . C ru z a m e n to d e tra ç o s e m d e s c a r g a do m a te r ia l c o ra n te d e fita s d e
p o lie tile n o

Nos cruzamentos de traços nas descargas do corante das fitas de po­


lietileno carbonadas, por vezes, é possível a determinação da prioridade
do lançamento dos traços no estudo do seu cruzamento, segundo estudos
do perito criminal M otoho C hiota, da polícia técnica paulista.
A descarga da fita produz um a película carbonada relativamente per­
sistente. Em razão disso, não permite a combinação de cores do sítio do
cruzamento e, como consequência, não ocorre a ilusão de ótica de que a
mais escura está sempre sobre a mais clara.
O processo tendente à m ostrar a prioridade dos lançam entos con­
siste na rem oção cuidadosa da descarga carbonada. Se essa descarga
tiver sido o segundo lançamento, deixa a descoberto integralm ente o
prim eiro.
Todavia, se no traço descoberto existirem soluções de continuidade,
quando observadas no campo de um microscópio, indica que este lança­
m ento foi o segundo a ser registrado, isso porque a matéria carbonada da
fita impediu a penetração da tinta do instrum ento escrevente.
Esse teste, entretanto, não permite um a conclusão segura quando se
tratar de canetas hidrográficas, de carimbos e de roller bali.
Esses tipos de instrumentos perm item que a tinta penetre na película
carbonada e, por essa razão, as soluções de continuidade inexistem.
Nos lançamentos feitos a lápis, o teste também não é aconselhável.
Quanto à retirada do depósito carbonado de uma impressão, no sítio
do cruzamento, deve ser evitado o uso de fitas adesivas, pois estas provo­
cam o levantamento das fibras do papel.
Outro exame recom endado é o da observação no campo de um mi­
croscópio, com luz rasante, pois ele pode revelar dois elem entos que p o ­
dem determ inar a prioridade dos lançamentos:
• primeiro: a remoção da película mostra ligeiro levantamento das
fibras do papel, provocado pelo atrito do instrumento escreven­
te ao fazer o segundo registro. Esse detalhe é muito frequente
quando for usada caneta esferográfica, caneta-tinteiro ou do tipo
roller bali. O exame por transparência também pode mostrar que
a superfície da película carbonada foi lesionada pela passagem do
segundo instrum ento escrevente;
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
100

• segundo: outros indícios que revelam a prioridade de lançam en­


tos dactilografados são os rastros deixados pela passagem do
segundo instrum ento escrevente no anterior, evidenciado pela
aderência da pigmentação da tinta, pelo brilho ou pelo sulco
deixado. Essas características estão presentes quando o segundo
traço for feito com esferográfica, hidrográfica, roller bali e p o r
lápis. No caso de uso de carimbos, cuja tinta infiltra na película
carbonada, essas características não estão presentes. Nao ocor­
rendo esses fenôm enos, indica que a dactilografia foi feita depois
do lançam ento anterior, pois a película se encontra íntegra.

2 .2 . C ru z a m e n to d e tra ç o s : a m ic ro sc o p ia e le trô n ic a d e v a r r e d u r a
a p lic a d a à d o c u m e n to s c o p ia

2.2.1. Introdução
Apesar da evolução nos tipos de equipam entos utilizados em docu­
mentoscopia, bem como o desenvolvimento das mais diversas técnicas
de análise de documentos, ainda hoje existem problemas que desafiam a
competência e a capacidade dos peritos documentoscópicos, tais como a
determinação da prioridade de lançamentos com base no cruzamento dos
traços.
Em documentoscopia, quando dois traços se cruzam ou se tocam,
eventualmente, pode haver a necessidade de se verificar qual dos dois foi
lançado por último (ordem de aposição). Trata-se de um exame relativa-
mente frequente, geralmente controverso e de difícil solução.
Nestes casos, tanto da área civil como da área penal, e principalmen­
te da área trabalhista, uma das partes reconhece a assinatura, rubrica ou
manuscrito apostado no docum ento como autêntico. No entanto, nao re­
conhece o docum ento tal como se apresenta, negando tê-lo assinado. Em
geral, a referida parte alega que assinou o docum ento (recibo, etc.), ou a
folha de papel, em branco. Desta forma, o docum ento questionado tena
sido, então, produzido posteriorm ente e sem a autorização e conhecimen­
to da respectiva parte.
Assim, quando houver um cruzamento de traços entre a assinatura,
rubrica ou manuscrito e outro texto (independentem ente de ter sido pro­
duzido mecanográfica ou manualmente), existe a possibilidade de se de­
term inar a ordem cronológica de aposição dos escritos e determ inar se o
docum ento questionado expressa a verdade.
O presente subcapítulo tem como objetivo apresentar a possibilida­
de de determ inar com relativa precisão a aposição de lançamentos <-nl
C apítulo X —P roblemas em D ocumentoscopia
101

cruzamento de traços, através da utilização do microscópio eletrônico de


varredura acoplado com feixe de íons focalizado.

2.2.2. Microscopia Eletrônica de Varredura com Feixe de íons


Focalizado
Neste capítulo usar-se-á como exemplo de microscópio eletrônico
de varredura (MEV) com feixe de íons focalizado (FIB) o equipam en­
to recentem ente adquirido pelo Instituto Nacional de Criminalística da
iretoria Técnico-Científica do D epartam ento de Polícia Federal flNC/
DITEC/DPF), conforme Fig. 02. Inicialmente a aquisição deste equipa­
m ento foi efetuada para aplicação na área de residuografia de disparo
de arma de fogo. Em função da versatilidade de sua aplicação, o referido
equipam ento tem sido utilizado em diversas áreas da Criminalística in­
clusive na Documentoscopia.
Preliminarmente à descrição dos métodos e resultados obtidos a par­
tir de sua utilização no exame de determinação da ordem de aposição
de lançamentos em cruzamentos de traços em documentos, é necessário
caracterizar o equipam ento e suas partes.

Figura2 - Aspecto geral do MEV/FIB do INC/DITEC/DPF.

Equipamentos de microscopia eletrônica de varredura (MEV) moder-


J " podem operar em alto e baixo vácuo, juntam ente com os detectores
eSpeCtr° metrÍa de disPersão de energia (EDS) e espectrome-
de dispersão de comprimento de onda (WDS), que possibilitam a exe-
DOCUMENTOSCOPIA - LAMARTINE MENDES

102

cução de análises
uma infinidade de materiais. ’ focalizado, que permite
do ao equ i p a m e n t o u m s « d e A r m a ç õ e s bidimensionais
“cortar” e analisar a amostra ae muuu *
através de imagens e análises. .
rrliíil do MEV é a formação de imagens
A função primordial d ~n auando comparada ao mi-

su p e rfic ie . constituído p o r u m a c o l u n a ( c o m p o s ta p o r
B a s ic a m e n te o MEV e c o ,f. ~n v a r r e d u r a e o b je -
u m c a n h ã o d e e lé t r o n s , sistema e emag ^ detectores e um s is te m a

- — •
fe ix e .

Fonte de elétrons

A n odo

Condensadoias
C o lu n a e m
a lto v á c u o
Bobinas de
varredura
O b je d v a

C â m a ra e m
a lto o u baixo
A m o stra
vácuo

B o m b a s de
vácuo

* Hn MFV /rptirado do site http://www-kimika.blogspot.com/2008/06/


3' - acessado em ,2/05,2009).

O feixe de elélrons é demagnificado por várias l e n b s e l e b o m a ^ ;


cas (lentes condensadoras), com o o b ^ o * “
metro pequeno e focalizá-lo em direção a amostra.
C apítulo X — P roblemas em D ocumentoscopia 103

O aum ento ou magnificação é dado pela razão entre o tamanho linear


da imagem na tela e o tamanho linear da área varrida na amostra. O au­
m ento máximo conseguido no MEV é da ordem de 300 mil vezes.
A interação do feixe de elétrons com a amostra origina um a série
de fenômenos físicos, os quais podem ser medidos p o r vários detecto­
res, dentre eles, os mais comuns de elétrons secundários e elétrons
retroespalhados. Os elétrons secundários são gerados na superfície da
amostra (~ 50 qm de profundidade) e, portanto, fornecem informações
da topografia da amostra. Já os elétrons retroespalhados interagem com a
subsuperfície da amostra (~ 0,1 f i m de profundidade) e fornecem infor­
mações principalmente da composição do material, em função do núm ero
atômico médio.
Além disso, com um ente tem-se acoplado ao MEV detectores para
análise quím ica p o r raios X, os quais coletam inform ações do m aterial
em um a profundidade relativam ente m aior quando com parados aos
elétrons retroespalhados, ou seja, num a profundidade em to rn o de
1 jum.
As principais vantagens da utilização do MEV são:
• facilidade de preparação da amostra (o material pode ser observa­
do sem nenhum a preparação anterior);
• diferentes tipos de imagens obtidas, dependendo da natureza dos
sinais escolhidos para detecção; e
• a possibilidade de combinar a análise microestrutural com a análi­
se química microlocalizada.
O equipam ento do INC/DITEC/DPF apresenta uma outra coluna, co­
locada num ângulo de 52° com a coluna de elétrons (Figura 04 - A e B).
Essa segunda coluna, chamada coluna de íons, constitui o sistema de feixe
de íons focalizado (FIB) que é usada para remover e/ou adicionar material
através da utilização de íons de Gálio (em vez de elétrons). As amostras
são preparadas in situ e o imageamento com elétrons é simultâneo à reti­
rada de material com íons. Esse sistema permite de modo efetivo a análise
visual e química da 3a dimensão. Detalhes sobre a utilização do sistema
MEV/FIB serão apresentados juntam ente com os exemplos de aplicação
cm documentoscopia a seguir.
104 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Figura4- Imagens CCD do interior da câmara. A - Porta amostra na posição normal.


B - Porta amostra inclinado a 52° para injeção de tungstênio.

2.2.3. Metodologia: exem plos de aplicação em


docum entoscopia
Para a utilização dos recursos de MEV em documentoscopia, especifi­
camente tratando-se da análise de lançamentos manuscritos ou impressos
sobre o papel, devem-se considerar dois possíveis métodos de trabalho,
ou seja, pode-se preparar o docum ento questionado por meio de recobri-
m ento metálico para operação em alto vácuo, ou então colocar o equipa­
m ento em baixo vácuo e desta forma não efetuar nenhum a preparação e/
ou alteração da amostra.
Para a utilização do FIB, como será abordado mais adiante, serão efe­
tuados recobrimentos microscópicos de tungstênio para fornecer susten­
tação do papel ao corte de íons.
2.2.3.1. Utilização do MEV em cruzamento de traços
A utilização do MEV para análise da ordem de lançamentos manus­
critos e/ou impressos com base em cruzamento de traços, eventualmente,
pode ser efetuada apenas através da análise de imagens, com o uso do
detector de elétrons secundários que evidencia os aspectos topográficos.
No trabalho de Rosa & Américo (2006), com a utilização do MEV foram
comparados diversos cruzamentos de traços manuscritos e impressos.
No primeiro exemplo (Figuras 5, 6 e 7), tem-se o cruzamento de dois
traços, sendo um deles aposto com caneta esferográfica e outro traço efe­
tuado com impressora a laser, denom inado “toner”.
Através dessas imagens pode-se verificar que o traço aposto com ca­
neta esferográfica forma um sulco (ou baixo topográfico) sobre o traço
de “toner”. Além disso, observando com mais detalhe o local exato do
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia
105

&r S ~ = ~
caneta e s f e r o ^ a Job rfo^ raçT d e ^^íoner^ tem ^e' “ ^ u 0 **** ^

Figura5- Vista geral do cruzamento de traços com caneta esferográfica e “toner’

Figura6- Cruzamento de traços com caneta esferográfica e "toner".


106 D ocumentoscopia - L amartine M endes

Figura 7 - Detalhe do cruzamento de traços com caneta esferográfica e “toner” .

No segundo exemplo (Figuras 9, 10 e 11), tem-se o cruzamento de


dois traços, sendo um deles manuscrito com caneta esferográfica e outro
traço impresso a laser, novamente denom inado “to n er”.
Embora o sulco deixado em todo o traço da caneta esferográfica seja
mais evidente em função de sua aparência mais escura, pode-se verificar,
principalm ente nas Figuras 11 e 12, que não existe quebra de relevo
abrupta no exato local do cruzamento. Na realidade verifica-se um p re­
enchim ento do sulco com aparência de relevo suave. Esse preenchim en­
to do sulco está mais evidente na Figura 12. Esses aspectos indicam que
o traço de caneta esferográfica foi apostado anteriorm ente à impressão
do traço de “to n er”, o qual durante sua execução preenche parcialm ente
o relevo negativo, anteriorm ente sulcado pela pressão da caneta sobre
o papel.

Figura 8 - Vista geral do cruzamento de traços com caneta esferográfica e “toner” .


C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia
107

Figura 10 - Detalhe do cruzamento de traços com caneta esferográfica e “toner” .

! i f ° lOCandl lad° 3 lad° ° cruzame™° de traços apresentado na Figura


soh ° ner S° ^ CanCta esferográfica) e outro com caneta esferográfica
oX T do h <HgUra I2>' “ dÍferenÇ“ ^ * refcTO « « * » "O
cal exato cruzamento tornam-se mais perceptíveis.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
108

Figuras 11 e 12 - Detalhe de dois cruzamentos de traços com ordem de aposição distinta. I\la Figura
11 tem-se “toner” sobre caneta esferográfica e na Figura 12, caneta esferográfica sobre “toner” .

2.2.3.2. Utilização do MEV/FIB em cruzamento de traços


Dentre as etapas de trabalho numa folha de papel para análise da or­
dem de aposição de um cruzamento de traços, utilizando-se o sistema MEV/
FIB, inicialmente deve-se ajustar o posicionamento dos dois feixes, de íons
e de elétrons, numa altura eucêntrica e ponto coincidente (Figura 1 3 ).

Figura 13 - Coincidência dos feixes de íons e elétrons -


Figura retirada do manual do equipamento marca FEI, modelo Quanta 200 3D.
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia
109

Em seguida é efetuado o posicionamento da amostra em ângulo de


52° do feixe de elétrons e normal ao feixe de íons (Figura 04-B). Define-se
então o local exato onde será feito o corte dentro do cruzamento do traço
(Figura 14). Neste local onde será efetuado o corte (Figura 15) faz-se um
recobrim ento parcial com tungstênio (ou platina) para fornecer para o
papel resistência ao corte (Figura 16).

Figura 14 - Definição do local exato onde será feito o corte.


D ocumentoscopia - Lamartine M endes
110

Figura 16 - Recobrimento com Tungstênio na área rachurada


(preparação para o corte).
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 111

Após a etapa de recobrimento, inicia-se o processo de “moagem” (re­


tirada de material) da área a ser cortada pelos íons. A área de moagem
geralmente é definida como um a seção transversal com vários degraus,
conforme apresentado na Figura 17. A moagem pode ser efetuada em di­
versas etapas com diferentes graus de acabamento, desde um corte mais
grosseiro (Figura 18) até um corte mais fino. Após a moagem é efetuado
uma limpeza da superfície cortada (acabamento mais fino) (Figura 19)
para posterior imageamento (Figura 20).

Figura 17 - Vista da seção transversal durante a moagem - Figura retirada do


manual do equipamento marca FEI, modelo Quanta 200 3D.

Figura 18 - Corte inicial com acabamento mais grosseiro.


D ocumentoscopia - L amartine M endes
112

w
Figura 19 - Superfície de limpeza na frente do corte.

Figura 20 - Imageamento da superfície final do corte.

Um exemplo de corte de papel com tinta de impressora (toner) para


determ inar a espessura da tinta (na borda) é apresentado na sequência de
C apítulo X —P roblemas em D ocumentoscopia
113

Figuras 21, 22, 23, 24, 25 e 26. Verifica-se uma espessura de deposição de
tinta em torno de 6,7 jxm.

Figura 21 - Traço de “toner” onde será realizado o corte.

Figura 22 - Início do corte mostrando o “toner" e as fibras de papel.


DOCUMENTOSCOPIA - U M A * ™ .? MENDES

114

Figura 23 - Detalhe do corte.

Figura 24 - Medida da espessura da camada de “toner


C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 115

Figura 25 - Marca final deixada na superfície do papel.

Figura 26 - Dano imperceptível.

Dois exemplos de trabalhos para determinação da ordem de aposição


eni cruzamento de traços são apresentados a seguir.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
116

No prim eiro exemplo trata-se de um cruzamento de traços em papel


couchê de caneta esferográfica com impressão a laser (“toner”), conforme
apresentado na Figura 27. O corte, para observação em perfil das duas
tintas (esferográfica e “toner”), foi efetuado na parte inferior direita da
letra “a”.
Após o corte, pode-se verificar na porção superior um a camada de
tinta com aspecto hom ogêneo (caneta esferográfica), seguida de uma
camada intermediária com textura heterogênea (“to n er”) e, ainda, mais
uma camada, também homogênea (recobrimento do papel couchê), so­
breposta às fibras do papel (Figura 28). Neste caso, pode-se afirmar que a
impressão do “to n er” foi anterior à aposição do lançamento com caneta
esferográfica.

Figura 27 - Cruzamento de tragos em papel couchê - letra “a” .


C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia
117

Figura 28 - Ordem de aposição de lançamentos com base em cruzamento


de traços em papel couchê.

No segundo exem plo tem-se um cruzam ento de traços em papel


ultrabranco, tam bém de caneta esferográfica com im pressão a laser
(“to n e r”), m ostrado na letra “c” (Figura 29). O corte foi efetuado ao
longo do traço transversal da caneta em pontos de coincidência com a
letra “c”.

As Figuras 30 e 31 mostram o cruzam ento de traços após o corte,


sendo a prim eira um a imagem de elétrons secundários e a segunda
uma imagem de íons. Verifica-se através destas imagens um a camada
superior, irregular e com textura heterogênea, seguida de um a fina
camada, na forma de cunha, com textura hom ogênea, já sobreposta as
ras do papel (celulose). Deste m odo, pode-se determ inar que o ma-
uscrito de caneta esferográfica foi anterior a im pressão do “to n e r”.
D ocumentoscopia - L amartine M endes
118

Figura 29 - Cruzamento de traços em papel ultrabranco letra c

Figura 30 - Ordem de aposição de lançamentos com base em cruzamento


de traços em papel ultrabranco - feixe de eletrons.
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 11 9

Figura 31 - Ordem de aposição de lançamentos com base em cruzamento de


traços em papel ultrabranco - feixe de íons.

2.2.33. Utilização do MEV com EDS em documentoscopia


O acoplamento de um espectrôm etro de dispersão de energia por
raios X ao MEV cria a possibilidade de se executar análises químicas
microlocalizadas associadas a imagens de grande aumento.
Em documentoscopia, a identificação de falsificação de moedas pode
ser efetuada por meio da comparação da composição química dos metais
constituintes das amostras padrões e aqueles constituintes das amostras
questionadas, utilizando-se o MEV com EDS.
No caso de moedas de um real, análises microlocalizadas podem ser
executadas tanto no núcleo prateado como no anel externo dourado. Re­
sultados de análises do núcleo da m oeda de um real é apresentado nos
Figuras 32 e 33, de uma moeda padrão e um a questionada, respectiva­
mente.
Os resultados dos espectros mostram pequenas diferenças na com­
posição do núcleo das duas amostras, ou seja, na amostra questionada
(Figura 33) tem-se, além de Ni e Cu, a presença de Zn.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Figura 32 - Espectro de EDS do núcleo da amostra padrão.

Figura 33 - Espectro de EDS do núcleo da amostra questionada.


C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 121

Adicionalmente a diferença encontrada na composição química, as


imagens feitas no MEY com detector de elétrons retro-espalhados (varia­
ção composicional) confirmam a diferenças composicionais e texturais,
através da heterogeneidade do metal na amostra padrão em oposição a
homogeneidade no metal da amostra questionada (Figuras 34 e 35).

Figura 34 - Imagem de elétrons retroespalhados do núcleo da amostra


padrão - 1 real.

Figura 35 - Imagem de elétrons retroespalhados do núcleo da amostra


questionada - 1 real.
122 D ocumentoscopia - Lamartjne M endes

Eventualmente, apenas as análises de imagens são suficientes para


solucionar alguns problemas em documentoscopia.
Em um trabalho de perícia docum entoscópica para determ inar se a
espessura das impressões calcográfícas em selos oficiais estariam dentro
dos padrões exigidos no referido processo de licitação, ou seja, apresen­
tando uma espessura de tinta maior que 25 /tm acima da superfície do
papel, foram efetuadas várias imagens no MEV em amostras colocadas
na posição norm al ao feixe, simulando corte da superfície impressa dos
selos encam inhados por diversos concorrentes. A Figura 36 é um exem­
plo deste trabalho, no qual pode-se verificar a espessura total da tinta
de 37,86 /cm e a espessura da tinta em relação a superfície do papel de
25,54 fxm.

det rnode -----------300 nnn--------------


00 52 PM 13 2 mm 20.00 kV LFD SE Balística - INC - PfTEC • DPF

Figura 36 - Espessura de impressão calcográfica em selo.

2.2.4. Avaliação dos Resultados


Os exemplos de trabalhos periciais ora apresentados e seus respec­
tivos resultados mostram que a técnica de microscopia eletrônica de var­
redura, principalmente associada ao feixe de íons focalizado, pode ser
bastante útil em perícias documentoscópicas de difícil solução, além de
servir para várias outras áreas da Criminalística.
No entanto, deve-se ter em m ente que trata-se de uma técnica rela­
tivamente nova que ainda deve ter seus procedim entos aprimorados em
relação a suas aplicações.
Desta forma, e considerando o atual estágio de desenvolvimento, são
abordados a seguir seus aspectos positivos e negativos.
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia 12 3

2.2.4.1. Aspectos positivos


O aspecto positivo mais relevante na utilização do MEV/FIB para a
análise da ordem de aposição de lançamentos com base em cruzamento
de traços é a transformação desse tipo de análise, antes essencialmente
subjetiva, em uma prova material mensurável.
Outra vantagem dessa utilização é que, ao final dos exames, as marcas
deixadas no papel são muito pequenas, amareladas, quase imperceptíveis
a olho nu (Figura 37). Os tamanhos dos cortes efetuados com FIB são na-
nométricos, ou seja, ainda menores que as marcas amareladas.
Desta forma, esse tipo de análise pode ser considerado como não
destrutivo, causando poucas alterações na amostra, preservando a prova
material para novos exames, se necessário.

Figura 37 - Marcas amareladas deixadas no papel após análise com MEV/FIB.

2.2.4.2. Aspectos negativos


Como qualquer outra técnica, há também alguns aspectos negativos
que devem ser considerados e, na medida do possível, minimizados.
O prim eiro aspecto negativo é a colocação do docum ento dentro da
câmara e o respectivo posicionamento da área a ser examinada. Para tal, é
necessário dobrar o documento, causando assim marcas de amassamento
e manuseio. Além disso, o aterramento da amostra é difícil, o que ocasiona
o aparecimento de cargas elétricas que prejudicam a qualidade da imagem
obtida.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
124

Outra possibilidade, em vez de dobrar o documento, seria cortar a


área de interesse para ser colocada na câmara (Figura 38). Porém, nesse
caso, estar-se-ia danificando o docum ento original.

ínsiiiulo Nacional tk Criwiaai^íKa Ditviork Teu iu ( icnuíiví IXputtmuniu dc Pulíci.» Fp*k t tl


Instituto Nacional dc Crimraáfciica fíkcior» PcVrouví k nuílcn TVp tri muito dc Pulívu fed a 1
Instituto Nacional ck CriroirtaliMk i Dito*>riU levnuo-í icnuiic Defurtüfixnto dc Pp Ucw W i !4
Instituto Nacional dc Crirftmdíisuca fsirctoEu 1 ><. »í cntiík’> IXp»mwçWo de Pulfc F«k r ■
Instituto Nacional dc CfimináiMiui ÜkcIoe a íócnko-CkWÜK.v Dtp trt.uncftW dc fb ltãt F«<fc»4
Instituto Nacional dc Crimitulísliv a DrntofU TcCt Uü-fiefitífjCB - FXp tftanwftto tk Políçí» Fptk r4
Instituto N idonjjfeík' CrifltiiwlbihÇd D ir e t a F^RÍcoCiçníifiC* ffcpartartiínip de Policia Fwkf i
Instituto Nacional d c€ mròuíktka Dirclorit k v w -n efltíflf» - IXpaitjniçniodo Pollua *4
Insiilulo Nacional dc ÍJÍmiíulislic i !Sir*, lo 11 Fuit ko 1 iwnííitc*- Ikptftar&çoiO dc P°' ua Ff<k'4
Instituto Nacional dc (. rimifuíishv. i IXfctoií i I >.uuv *4. k ntihcrf- DepiiíuííRSWü de PMiCfu Foácíá
Instituto Nacional tk ( nminahsttva DítcIoju iiu ico -i tcíUiitfttTXpaftateento dc Polícia F$ífc< 1
Instííuio Nacional dc ('rirmn siNtk i Diti; torta f a nk > t aniilVa IXpBtfítntolílo dc Pplíç'3 ^
iastituioNa^nai dc £ rímiiijliMivd Dirctori-* i úcnic i ( ia h«k < lkpufiamcflte4í PoUCt* Fwkfid
Instituto Nacional dc irunuidística Diretoria fc\ftko-í knujici lXpiriafflct)to<Í6PíJlíct*F«kf4
instituto Nacional dc Oitninaíistiça Diiuoria Ucmco í icradicá !kp*{itufiçjitfj de Polkk FcA-t d
Instituto Nacional dc Criimnaiistu a Dttcunia I-.cnivu-í icmifka - D qw w ^eâddc Polida F«kr^
Instituto Nacional dc Crimin.«liMiw 1hrcum: Ió meo-í icMiftet - Ocp«íMtweiO dc*Policia Federá
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Figura 38 - Documento com retirada de material para a análise no MEV/FIB.

Outra desvantagem da técnica é que, após longos períodos de exposi­


ção da amostra ao feixe de elétrons, marcas de queima do papel tornam-se
mais perceptíveis, mas este dano pode ser controlado através do tem po
utilizado na análise.
Cabe salientar que trabalhando em alto ou baixo vácuo, com elétrons
ou com íons, a análise e o imageamento em papel torna-se um a operação
difícil, em que há necessidade de variações de voltagem, distância de tra­
balho, ângulo de observação (“tilt”), etc. Neste contexto, deve ser conside­
rado também o custo de análise que hoje em dia é cara.
2.2.5. As letras de fôrma e os algarismos

2.2.5.1. Letras de fôrma


Os textos feitos em letras imitativas às de imprensa, vulgarmente cha­
madas de letras de fô rm a , oferecem sérios obstáculos para a sua prova de
legitimidade ou de autoria gráfica.
Várias são as causas que concorrem para essa dificuldade:
• via de regra, as letras de fôrma não são o tipo de grafia habitual da
maioria dos escritores, com ressalva dos engenheiros e desenhis-
C apítulo X - P roblemas em D ocumentoscopia
125

tas. Assim, não constituem a reprodução de um hábito gráfico já


automatizado. Assim sendo, não registram, de maneira inequívo­
ca, as características gráficas do punho do escritor;
• sendo lançamentos isolados, isto é, não havendo interligação en­
tre os vários caracteres, difícil se torna o estudo da movimentação
do punho;
• os lançamentos sincopados ocupam um campo gráfico muito exí­
guo, o que torna o exame ainda mais árduo, pois seria a identifica­
ção de letra por letra.
Entretanto, a despeito desse óbices, poderá ocorrer circunstâncias
que podem ser apreciadas para a fixação do problema da autenticidade
ou da autoria, como a pressão nos vários gramas das letras; o hábito de
pingar o / maiusculo ou de omitir esse sinal do minúsculo; a posição do
terceiro grama da letra A capital; o tamanho e localização do corte do t
minúsculo; a diferença de calibre dos gramas que integram as letras B, R
ou E maiúsculos.
O alinhamento gráfico do texto, os espaçamentos entre os caracteres
e entre os vocábulos não podem ser ignorados. A existência de erros gra­
maticais e ortográficos, tudo isso concorre para se chegar a uma solução,
tendo em vista os padrões de confronto.
Q uando a letra de fôrma constitui o grafismo habitual dos escritos,
então esse tipo de grafismo adquire outras características, podendo até
haver interligações entre vários grupos de caracteres. Assim, a grafia é in­
dividualizada, facilitando o seu exame. Seja como for, são exames ingratos
e que nem sem pre oferecem dados para uma solução.

I t tf***’*'
1 p e S ite f W & b )

I C reií», 1**
p-tÇPbtítrh
_ _

Figura39 Escrita em letras de fôrma - Observar que, a despeito de serem lançamentos


sincopados, o autor interliga vários grupos de caracteres.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
126

2.2.5.2. Algarismos
A identificação de algarismos e a determinação de sua autoria nem
sempre é possível.
Os algarismos são lançamentos sincopados e representam um campo
gráfico muito exíguo para registrar as características do punho que os exa­
rou. Q uando eles, por modismo do escritor, se interligam, ou seja, o rem a­
te projetado de um dá o ataque do subsequente, a tarefa fica facilitada.
No registro de zeros consecutivos, os modismos se apresentam com
maior frequência: ou bem são eles interligados pelo topo, ou vão dimi­
nuindo gradativamente seu calibre (gladiolagem).
Embora a prova da autenticidade ou da autoria de algarismos não
sejam inexequíveis, na prática, nem sempre se logra êxito.
2.2.6. As Montagens
O aparecimento dos processos de reprodução, de vários tipos, mas
todos chamados de cópias xerox, deu margem ao aparecimento de uma
nova fraude docum ental - a montagem.
Assim é feito o embuste: o falsário possui um docum ento subscrito
com uma assinatura legítima, que pode até estar reconhecida por um car­
tório de notas, o que é importante, porque dá cunho de legitimidade à
assinatura. Retira parte do suporte contendo esses lançamentos. Prepara,
então, um novo texto, em seu benefício. Cola a parte tirada do docum ento
verdadeiro. Tira então uma cópia xerox. Em razão de haver diferença de
nível na parte acrescida, em relação ao suporte, pode aparecer na cópia
o vestígio da montagem. Esse vestígio é então removido com a aplicação
de um a borracha. Na nova cópia, se ainda houver qualquer vestígio, este
é novamente apagado. Faz outra copia, até não aparecer o m enor indício
da fraude.
Em um docum ento assim preparado, dificilmente se prova que resul­
tou de uma montagem. É por essa razão, principalmente, que toda e qual­
quer cópia xerox de documento, antes de ser examinada, deve, necessa­
riamente, ser conferida com o seu original. O exame, segundo as normas
da perícia, só pode ser feito nos originais dos documentos.
Todavia, se indispensável for a realização da perícia, o examinador
deve ter cautela de condicionar a exatidão da solução ao confronto da
cópia com o original.
Temos um ponto de vista pessoal sobre o problema do exame de
reprografias: quando o resultado do exame contrariar a versão de quem
C apítulo X —P roblemas em D ocumentoscopia 127

exibe o documento, dele procurando tirar proveito, a solução é plena­


mente válida.
Melhor explicando: se a parte alega ser verdadeira a assinatura do
docum ento reproduzido e o exame provar a sua falsidade, a conclusão é
válida, pois ninguém iria fazer uma montagem se valendo de uma assina­
tura apócrifa. Em caso contrário, impõe-se as precauções já aludidas.
Finalmente, o exame de lançamento em cópias xerox nem sem pre são
proveitosos, porque inúmeros elementos úteis à identificação se perdem,
como a pressão do punho, os ataques e os remates nem sempre ficam
fielmente registrados, os traços leves tendem a desaparecer, parecendo ter
havido uma interrupção do traço, modificando o andamento da escrita.
Por isso, exige-se muita cautela na realização de exames dessa nature­
za, para não se laborar em erro e, em última análise, prejudicar uma das
partes e dar vitória ao falsário.
Existe, entretanto, outro tipo de montagem: num livro de cartório,
de cópias de escrituras, o falsário retirou um a folha. Confeccionou outra'
com a cópia de uma escritura que atende às suas intenções desonestas e à
m ontou no livro. A fraude foi bem engendrada, mas mal executada.
Ficaram claros indícios da montagem, como p or exemplo: a folha de
papel utilizada era de tipo diferente das primitivas do livro e, com isso, o
seu exame sob os efeitos dos raios ultravioleta mostrou uma fluorescência
diversa.
Além disso, o papel era maior do que os do livro e, para acertar o seu
tamanho, dele foi retirada uma faixa. Mas ocorre que, usando um a tesou­
ra, as bordas do papel ficaram irregulares.
O livro tinha suas folhas numeradas mecanicamente. O falsário fez, na
folha montada, com carimbo numerador, a mesma numeração da substi­
tuída, mas o desenho e o tamanho dos algarismos eram diferentes.
A chancela de autenticação da folha foi feita pela reprodução de uma
das autenticações das demais folhas do livro.
Assim a fraude foi desmascarada.
Capítulo XI
As T in t a s d e E s c r e v e r

1. H istórico

A história das tintas de escrever já foi bem retratada pelos estudiosos


do assunto.
Tão logo surgiram os primeiros processos gráficos para exprimir o pen­
samento, as inscrições eram gravadas em blocos de pedra, de mármore, em
madeira, em barro, em placas de metal, em conchas, em marfim, etc.
Quando se passou a fazer o registro em papiro, em pergaminho ou
couro, surgiu a necessidade de se criar instrum entos escreventes e a tinta
de escrever.
Acredita-se, em razão dos depoim entos de F linders P etric, que o pri­
meiro material corante ou tinta teria sido usado no Egito. Constituía ma­
terial obtido pela raspagem da fuligem do fundo das panelas, datando de
cinco mil anos antes de Cristo. A tinta, pois, nada mais era do que uma
emulsão à base de carbono (carvão).
A história registra, também, que os monges budistas escreviam com
o próprio sangue.
As tintas ferro gálicas teriam aparecido por volta da primeira era cris­
tã, quando o papel já era conhecido. Consistia em uma mistura de sulfato
ferroso com uma infusão de noz de Gália e seiva de seringueira.
Tintas dessa natureza foram identificadas nas escritas do Codex Sinaiticus,
manuscrito do século y o que leva a crer que era usada pelos romanos.
As tintas ferro gálicas, mais tarde, foram enriquecidas com tanino.
Depois de lançadas no suporte, com a ação do oxigênio do meio ambien­
te, adquiriam uma coloração preta, em razão da formação de um precipi­
tado dessa cor: os íons ferrosos se transformavam em férricos.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
130

As tintas de campeche, segundo alguns autores, desapareceram por


volta do século XVIII.
A seiva de pau campeche foi adicionada às tintas ferro gálicas. Poste­
riormente, foi acrescentado cromato de potássio, substituindo os compos­
tos de ferro.
As tintas anílicas, descobertas por Permns, apareceram em 1856. A
sua cor era púrpura. Os ingleses, em 1861, patentearam as tintas anüicas
de cor azul.
Para arrematar, não pode ser esquecido que, na China, era usado o
n a n q u i m , tinta feita à base de carbono, que chegou até o nosso tempo.
As tintas de secagem rápida vinham sendo pesquisadas de longa data.
Elas, todavia, só foram postas em uso recentem ente, pela Parker, para uso
das canetas rolling p e n e roller bali.

2. Características dos T raços à P ena e T inta

No tem po em que só se usava caneta com pena metálica, os traços


por ela produzidos tinham características muito úteis no estudo da au­
tenticidade e da autoria dos grafismos, isso sem falar no aspecto pictórico
muito bonito que se obtinha com a distribuição dos traços grossos e finos
(pleins e deliés).
Todavia, seria interessante tratar dessas peculiaridades, pois parece
que as penas metálicas estão voltando ao mercado.
As características são as seguintes:
• sulcagens;
• falsas sulcagens;
• rebarbas;
• falsas rebarbas;
• meniscos;
• refluxos e inundações;
• tropeços da pena.
2 .1 . As s u lc a g e n s
Interessavam nos lançamentos os sulcos deixados pela pressão exer­
cida no instrum ento escrevente - a sua variação de intensidade, a localiza­
ção e a sua direção.
Cada escritor tem uma maneira particular de pressionar mais ou menos
a caneta, segundo o grama que está executando. Os traços feitos com maior
C apítulo XI - As T intas de E screver
131

pressão ficavam largos, provocando fortes sulcos no papel. Os de m enor pres­


são resultavam mais finos e sem sulcos. Essa distribuição de pressão dificil­
mente o falsário conseguia imitar. Era um marco do trabalho fraudulento.
2.2. Falsas sulcagens
As falsas sulcagens eram resultantes apenas da maior ou m enor des­
carga da tinta, sem que a pressão exercida na caneta fosse forte. Ocorria
p or um defeito na pena, cujas farpas não ficavam unidas.
2.3. Rebarbas
Consistiam elas num sombreado localizado abaixo do traçado como
se fosse uma franja, ocasionado pela posição da pena em relação ao supor­
te, formando um ângulo agudo.
2.4. Falsas rebarbas
Às vezes, pequenas sujidades ou pedaços de papel ficavam presos
entre as farpas da pena. Ao escrever, eles manchavam os traços, sobretudo
na parte inferior.

2.5. Meniscos
Os meniscos constituíam na invasão da tinta ao se realizar traços circula­
res, formando na base uma pequena meia lua, em razão da tensão do líquido.
2.6. Refluxos e inundações
Os refluxos ocorriam quando o traço à tinta cruzava com mecanogra-
ha. O material graxo do corante da fita repelia o líquido da tinta.
As inundações aconteciam quando um traço cruzava outro. A tinta fluía
e invadia o traço cruzado. A presença desse detalhe constitui um vestígio
valioso no estudo da prioridade de dois lançamentos que se cruzavam.

Figura 1- Fenômeno da inundação, para comprovar que o traço retilíneo é


posterior ao curvilíneo.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
132

2 .7 . T ro p eço s d a p e n a
Quando os traços feitos a tinta cruzavam uma mecanografia, provoca­
da pela diferença de nível, a pena sofria um diminuto tropeço, desviando
o traço e, ainda, ocasionando o desprendim ento de gotículas de tinta, que
manchavam o suporte em volta do sítio onde o fenômeno ocorria.

Figura 2 - Fenômeno do tropeço da pena - 0 traço curvilíneo sucedeu ao retilíneo.

Este detalhe era de valia para se estabelecer a prioridade nos cruza­


mentos de traços a tinta com textos dactilografados.
Com o surgimento das canetas esferográficas, todas essas peculiari­
dades desapareceram e, com isso, os examinadores perderam vestígios
preciosos para os seus exames.

3. E xam e das T in t a s de E screver


O exame das tintas de escrever, seja para determinar a sua composi­
ção, seja para saber a data do seu lançamento, sempre constituiu problema
de difícil solução, sendo, até mesmo, impossível na maioria dos casos.
O único exame que poderia resolver a questão é a espectrografia. To­
davia, na prática, sua aplicação não é possível, pois implicaria a destruição
do documento.
As tintas à base de carbono não envelhecem e, por isso, a estimativa
da época do seu lançamento é impraticável.
C apítulo XI —As T intas de E screver
13 3

Vários estudiosos ofereceram seu m étodo para resolver o problema.


Mitcheix preconizava o uso do ácido oxálico para estimar, pelo seu tem po
de descoramento, a época do seu lançamento.
O teste, na realidade, é inoperante, porque sempre ficará a pergunta
se a tinta não estaria envelhecida no próprio tinteiro. Por outro lado, pode
haver docum entos que, bem guardados, não sofreram a ação do meio am­
biente, e o envelhecimento da tinta não ocorre.
Metzger, Raull e Hess ofereceram o seu teste, baseado na migração
dos cloretos e sulfatos na massa do papel.
Na prática, o exame não pode ser feito, pois implica a destruição do
documento.
Albert Osborn, para resolver o problema, idealizou um microscópio
para o exame das tintas, mas, na prática, não teve o sucesso por ele dese­
jado.
O problem a é tão sério que O Hara, no seu An introduction to
criminalistic, assim se manifestou:
“The many practical dijficulties, over which the document examiner
has no control, are usually sufficient to defeat any attempt at the
determination or comparison o f the age ofwritings. ”
(As muitas dificuldades práticas, sobre as quais o examinador de do­
cumentos não tem controle, são geralmente suficientes para afastar
qualquer tentativa de se estimar ou comparar a idade das escritas.)
Todavia, nada impede que o examinador proceda ao exame dos lan­
çamentos sob os efeitos dos raios ultravioleta, pois, se elas possuem ou
não pigmentos fluorescentes, a diferenciação poderá ser feita.
Mas a determinação da época dos lançamentos poderá resultar cons­
tatação de anacronismos.
Capítulo XII

I n s t r u m e n t o s E sc r e v e n t e s

Como um dos primeiros suportes que o homem usou foi a pedra,


uma haste metálica foi o primeiro instrum ento escrevente.
Com o passar do tempo, na Mesopotâmia, a pedra foi substituída p or
tijolos de barro. Passou-se, então, a usar estiletes de madeira, os cuneus,
para a escrita cuneiforme. Mais tarde, foram usadas placas de madeira, e o
instrum ento escrevente passou a ser um a lasca de pedra cortante. Varetas
de bambu, com uma das extremidades batidas para libertar as fibras, uma
espécie de pincel, foram usadas no Egito, para as inscrições hieroglíficas.
A tinta era feita do sumo de vários frutos.
Na Idade Média, na Europa, as penas de pato, com a extremidade
chanfrada, era o instrum ento escrevente utilizado.
Nova evolução do instrum ento escrevente ocorreu nos Estados Uni­
dos, em Birmingham, em 1780, com o aparecimento das penas metálicas
com farpas flexíveis, que logo invadiram a Europa.
Entre as penas metálicas, na França, as Mallat eram muito difundidas
e, na Alemanha, em razão do uso do alfabeto gótico, as round eram de
muito uso.

1. As C a n etas - T in t e ir o s
Muitas invenções ocorreram por obra do mero acaso, como a desco­
berta do Raio-X e a da caneta-tinteiro.
Lewis Edson Waterman, em Nova Iorque, nos fins do século XIX, era
agente de seguros.
D o ci MHVroscopiA —Lamartine M endes
136

Certa feita, um borrão, provocado pela caneta, que ainda necessitava


molhar a pena no tinteiro, inutilizou um docum ento de certa importância,
impedindo, por isso, a realização de um negócio rendoso.
Aborrecido com o acidente, W aterman com eçou a procurar sanar
o inconveniente. M ontou, então, um a caneta que possuía, no interior
do corpo, um reservatório, que era enchido, com conta-gotas, de tinta,
e esta fluía para a pena p o r capilaridade. Estava inventada a caneta-
tinteiro.

Figura 1 - Reprodução da primeira folha de um laudo datado de 1865,


elaborado com pena de tinta de farpas flexíveis, mostrando a beleza provocada
com a distribuição de traços grossos e finos, segundo a pressão exercida na caneta.
(Gentileza do perito criminal chefe Dr. P edro Lourenço T homas.)

Segundo consta, o Tratado de Versailles, em 1919, teria sido assinado


com uma caneta Waterman de ouro.
C apítulo X II - I nstrumentos E screventes 137

Mais tarde, G eorge Parker aperfeiçoou a caneta de Waterman e pôs no


mercado a Parker 51, cujo uso, nos anos 40, dava status aos seus possui­
dores.
A Parker 51, quanto ao seu carregam ento, sofreu várias modifica­
ções. Para encher o reservatório de alguns m odelos, que era de b o rra­
cha ou de outro material plástico, acionava-se um a pequena alavanca
enquanto a pena era imersa no tinteiro. Pressionada a alavanca, um
vácuo era criado no depósito e, ao liberá-la, a tinta era sugada para
den tro dele. Em outro m odelo, a com pressão do reservatório era feita
p o r um a lâm ina de metal flexível, situada ao longo do reservatório e
presa num a das extrem idades no corpo da caneta. Foram, também, fa­
bricadas canetas cujo preenchim ento do reservatório era feito p o r um
dispositivo de sucção a pistão, chamado snorker. O pistão, pressionado
para baixo, com a pena imersa no tinteiro, criava um vácuo no recipien­
te. Puxado para cima, sugava a tinta. O utro m odelo possuía um disposi­
tivo de rosca, girado m anualm ente p o r um botão na parte superior da
caneta. Havia, também, as que tinham o reservatório preenchido p o r
capilaridade.
Finalmente, surgiram as canetas rolling p en e roller bali, chamadas
canetas de cartucho. A tinta é contida num cilindro em cuja extremidade
se alojava um soquete, contendo uma pequena esfera, e a tinta é de seca­
gem rápida.
Tal foi o sucesso da caneta-tinteiro Parker 51 que, segundo consta,
G etúlio Vargas, nas vésperas do seu suicídio, teria dado uma a Tancredo
Neves, que era Ministro da Justiça do seu governo.
Atualmente, uma das canetas mais cobiçadas e de mais alto custo é a
Montblanc, fabricada em Hamburgo, na Alemanha, e há quem diga que ela
é o Rolex das canetas.

2. As C anetas E sferográficas

A origem das canetas esferográficas ainda é discutida. Há autores que


afirmam que ela foi inventada na França, em 1880. Outros, que teria sido
patenteada pelo norte-americano J ohn Loud , em 1888.
Todavia, é certo que Laszlo B iro adquiriu a patente francesa e m ontou
a fábrica na Argentina. Era fabricada a birome, caneta metálica, não des­
cartável, de boa aparência e que era carregada com cartuchos contendo a
massa corante, e um soquete onde se alojava um a pequena esfera, como
ocorre com as atuais canetas desse tipo.
138 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Diz-se que um grupo de pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos,


que se encontrava em Buenos Aires, viu uma demonstração da birome,
que podia escrever até debaixo d ’água. Ficaram encantados com a caneta
e adquiriram em grande núm ero e as levaram de volta para o seu país de
origem.
A primeira em presa nos Estados Unidos que passou a fabricar as cane­
tas foi a Reynolds, com a vantagem de elas serem descartáveis e, portanto,
de baixo custo.
Assim foi que as canetas esferográficas descartáveis invadiram os Esta­
dos Unidos e se espalharam além fronteiras.
No Brasil, as esferográficas eram adquiridas no contrabando, mas
logo várias foram as empresas que passaram a fabricar as esferográficas,
com massa corante preta, azul e vermelha.

2 .1 . E x am e d a m a s s a c o ra n te d a s c a n e ta s e s fe ro g rá fic a s

Não existem processos hábeis para a diferenciação da massa corante


das esferográficas de mesma cor e tonalidade e nem mesmo para se esti­
mar a época do seu lançamento.
É possível, todavia, que, no exame com utilização dos raios ultravioleta,
baseando-se na diferença da fluorescência, se possa fazer a diferenciação.
O autor, entretanto, pela colorimetria com putadorizada e com es-
pectrofotôm etro, conseguiu fazer diferenciação entre várias canetas esfe­
rográficas existentes no mercado.

2.2. E x am e da m assa das c a n e ta s e s fe ro g rá fic a s p e lo p ro c e sso


c o lo rim é tric o

Até o momento, a diferenciação da massa das canetas esferográficas,


por meio de lançamentos por elas realizados, quando, na observação co­
mum, a cor e a tonalidade do corante são semelhantes, constituía um pro­
blema sem solução.
Todavia, testes feitos pela colorimetria computadorizada oferecem re­
sultados positivos, o que permite, assim, a identificação das massas coran­
tes das esferográficas, sem mutilar o documento.
Foram realizados lançamentos com os seguintes instrumentos escre­
ventes:
caneta com tinta líquida;
C apítulo X II - I nstrumentos E screventes 139

• caneta esferográfica Bic-,


• caneta esferográfica super clip-,
• caneta esferográfica sem marca aparente;
• caneta esfert ígráfica Kilom étrica;
• caneta esferográfica de carga cambiável Parker.
Todos os lançamentos feitos, na observação ótica, eram de cor azul e
de mesma tonalidade.
Feito o teste, através do espectrofotômetro, tomando-se como pa­
drão o lançamento feito com caneta esferográfica Bic, que foi colocado
no centro gráfico, a leitura das tabelas oferecidas pelo com putador mostra
a diferenciação das várias massas corantes. O gráfico, que é a análise es-
pectrofotométrica dos pigmentos que com põem a massa corante, permite
diferenciar as várias canetas esferográficas:
• o lançamento feito com a caneta-tinteiro em relação ao realizado
com a caneta Bic é 12% mais verde e 5% mais amarelo e ainda claro
28% no eixo D l (luz do dia);
• o feito com a super clip Bic é 20% mais azul e com variação peque­
na no eixo do verde, sendo 15% mais escura;
• o da caneta de propaganda, sem marca aparente, é 13% mais azul
e 6% mais verde, sendo mais clara 4%. Entre o padrão e o lança­
m ento feito com a citada caneta, a variação é muito pequena. Em
razão desse fato, seria temerário fazer-se uma afirmação categórica
de identidade. Mas, como os resultados são muito semelhantes,
essa possibilidade não pode ser desprezada de plano;
• o lançamento feito com a caneta Kilométrica é 17% mais azul, ha­
vendo um pequeno desvio no eixo do vermelho, sendo 20% mais
clara;
• o feito com caneta Parker, de carga descartável, é 75% mais azul,
tendo um ligeiro desvio no eixo do verde, sendo 86% mais clara.
Como se vê, até esta data, quando a descarga das canetas esferográfi­
cas eram de corantes opticamente da mesma cor, era impossível tentar-se
a sua diferenciação. A colorimetria com putadorizada, necessariamente,
deve ser incluída nos exames procedidos por todas as polícias técnicas do
país.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
140

Dados tabulados pelo computador


no exame de traços feitos com canetas esferográficas
de cor azul e de marcas diferentes

A m ostra D65 A TL84


R(%) I a prova
Padrão
dE* 1.26 1.11 1.15
400 nm: 29.52 30.31
420 nm: 62.92 64.27
1.09m. 1.04m. 1.05m.
78.80 75.46 dL*
440 nm: claro claro
75.63 claro
460 nm: 73.41
480 nm: 72.89 75.49 0.4lm.
da* 0.59m. 0.36m
500 nm: 71.96 74.92 vermelho
73.50 verde verde
520 nm: 70.69 0.22m.
72.20 db* 0.23m. 0.06-
540 nm: 6986 amarelo
71.33 amar.
560 nm: 6916
580 nm: 6919 70.90
0.20m. 0.05- 0.23m.
600 nm: , 69.33 71.14 dC*
limpo i apagado
620 nm: 70.58 72.53
640 nm: 71.67 73.60
-0.60 -0.37 0.41
72.25 74.57 dH*
660 nm:
680 nm: 71.82 75.56
700 nm: 73.14 1 77.02 ]___________

índice de metameria: A: 0.27 TL84: 0.17

Dados tabulados pelo computador


no exame de traços feitos com canetas esferográficas
de cor azul e de marcas diferentes

2 a prova D65
R(%) 0.99 1.12 1.09
400 nm: 29-82 dE*
420 nm: 62.45 -0.66m.
dL* -0.59m. -0.66m.
440 nm: 73.37 escuro
escuro escuro
460 nm: 73.29 -0.02
da* -0.08 -0.12
480 nm: 72.72
500 nm: 71.51
520 nm: 69.74
-0.79m. 0.90m. -0.87m.
540 nm: 68.54 db*
azul azul azul
560 nm: 67.55
580 nm: 67.57 -0.86m.
~dC * 0.77m. 0.90m.
600 nm: 67.76 limpo
limpo limpo
620 nm: 6916
640 nm: 70.15 -0.11
dH* , 0.18 -0.15
660 nm: 71.19
680 nm: 70.52
700 nm: 72.24 ■ J--------------------

índice de metameria: A: 0.14 TL84: 0.12


C apítulo X II - I nstrumentos E screventes 141

Dados tabulados pelo computador


no exame de traços feitos com canetas esferográficas
de cor azul e de marcas diferentes

R(%) 5a prova D65 A TL84


400 nm: 28.64 dE* 2.32 2.57 2.51
420 nm: 60.81 ___________
440 nm: 72.15 dL* -1.73m. -1.85m. -1.83m.
460 nm: 72.03 escuro escuro escuro
480 nm: 71.01 da* -0.09m. -0.41m. -0.10-----
500 nm: 69.38 escuro verde
520 nm: 67.37
540 nm: 66.20 db* -1.55m. -1.73m. -1.71m.
560 nm: 65.47 azul azul azul
580 nm: 65.27
600 nm: 65.39 dC* 1.52m. 1.74m. 1.70m.
620 nm: 66.42 limpo limpo limpo
640 nm: 67.22
660 nm: 67.66 dH* 0.34 -0.38 -0.24
680 nm: 67.54
700 nm: 68.45

índice de metameria: A: 0.11 TL84: 0.05

A colorimetria com putadorizada, com emprego do espectrofotôme-


tro, abre um horizonte inestimável para a criminalística.
Questões até aqui julgadas insolúveis podem ser resolvidas com abso­
luta exatidão, num diminuto espaço de tempo.
Podem ser feitos os seguintes exames:
• de papéis;
• de impressos de todos os tipos;
• de tintas de todas as naturezas;
• de terras e poeiras;
• de tintas de automóveis;
• de placas da pintura de veículos;
• de resíduos da pólvora deflagrada;
• de papel-moeda.
Estudos mais demorados, todavia, poderão ainda ampliar esse rol.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
142

D65: db* m. amar.


dl*

*1

da*
*3
*4
*2
*5
-2

Gráfico representando a posição dos vários traços


em relação aos eixos verde-vermelho e amarelo-azul.
0 padrão - caneta Bic - está no cruzamento (+) dos eixos.

Para finalizar, o autor teve a primazia


com putadorizada nos exames doeum entoscop.eos « a m e ^ s te qu
muito comum nas fábricas de tecidos, tintas, papéis e outras ma .
Capítulo X III

E volução d o S u po rte

1. E volução H is t ó r ic a

O suporte para os registros gráficos sofreram, através dos séculos,


uma grande evolução. Partindo da pedra, passou para o mármore, para a
argila, para o papiro, o pergaminho, o couro e, finalmente, para o papel
propriam ente dito.

1.1. 0 p a p ir o

O papiro, usado pelos egípcios desde o ano 2400 antes de Cristo, era
feito da camada de um a planta aquática abundante no Rio Nilo, cyperus
papyrus.
A técnica usada era muito simples: a m edula do talo da planta era
cortada em tiras longas e finas. A seguir eram feitas camadas, em núm ero
adequado à espessura que se pretendia dar à folha. O conjunto era forte­
mente batido com martelos de madeira. Com isso, o suco que impregnava
as tiras era libertado e, ao mesmo tempo, servia para colá-las entre si, com­
pactando as camadas. Seca, a folha estava pronta para ser usada.
Os papiros são muito duráveis, pois já foram encontrados exemplares
de até 3000 anos antes de nossa era.
Quando surgiu a escrita no Egito, os papiros sofreram m elhor pre­
paro, com a utilização de óleo de cedro e, posteriormente, polidos, para
ficarem perfeitamente lisos e permitirem a escrituração.
O papiro continuou a ser usado para a escrituração, na Itália, até o
século XI. O material, é claro, era importado.
No Egito, o papiro floresceu e foi usado como papel por três mil e
quinhentos anos.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
144

Na Etiópia, ainda nos nossos dias, são fabricados barcos de papiro, o


que constitui um atrativo turístico.
A partir do século XI, o papiro foi substituído pelo pergaminho.

1.2. 0 p e r g a m in h o
Segundo Ú rsula E. Katzenstein, no livro A origem do livro, é de se
admitir que ele tenha se originado na cidade de Pérgamo, na Ásia Menor,
no século II a.C., daí sua denominação.
O pergaminho é feito de pele de animal. Existe muita confusão a res­
peito, pois muitos historiadores confundem o pergaminho com o couro.
Mas existe um a diferença fundamental.
A pele é composta de três camadas superpostas:
• epiderme;
• derme;
• hipoderme.
O pergaminho é feito da camada intermediária da pele, isto é, da
derme.
A pele do animal é limpa e seca. Depois vem o curtimento.

1.3. 0 c o u ro
Na feitura do pergaminho, as peles são secas e esticadas.
Outra diferença entre o pergaminho e o couro consiste no esticamen-
to da pele, o que não ocorre com aquele.

2. 0 P apel

2.1. R á p id o h is tó ric o
Antes da invenção do papel, o hom em esculpia suas mensagens na
pedra ou na argila.
No ano 2400 antes de Cristo, os egípcios se valiam do papiro, feito da
planta aquática de igual nome, muito abundante no rio Nilo.
Outro suporte m uito usado era o pergam inho, feito da derme da pele
de animais, de preferência a cabra.
A China, segundo a maioria dos estudiosos, foi o berço do papel. No ano
105 da nossa era, Ts’Ai Lun, oficial da guarda imperial, foi o seu inventor.
Esta era a sua técnica:
1. colocava, num tonel cheio de água, folhas e cascas de amoreira, pe­
daços de bambu, rami, trapos velhos, e os deixava em maceração;
C apítulo XIII —E volução do S uporte
145

2. depois de certo tempo, adicionava cal para o desfibramento de


todo o material. Formava-se, então, uma verdadeira pasta;
3. submergia na massa um quadrado de madeira, chamado fo rm a ,
revestido por um tecido de malhas finas (seda) que ficava cober­
to com a massa;
4. retirava o quadrado com a massa e deixava escorrer a água. Reti­
rava a polpa e a estendia sobre uma mesa;
5. essa operação era repetida várias vezes. Assim eram feitas várias
camadas, formando uma folha de papel;
6. a folha de papel era posta ao sol para secar.
A grande aceitação desse suporte criou uma verdadeira indústria e,
com isso, surgia uma nova profissão, a do papeleiro.
Os chineses entraram em guerra com os árabes no século VIII, ano
751, sendo derrotados por estes.
Entre os prisioneiros feitos pelos árabes, na vida civil, muitos eram
papeleiros e ensinaram aos árabes a fazer o papel.
As caravanas dos árabes levaram o papel para o Egito, a Síria e para o
norte da África.
No século VII, os árabes invadiram a Península Ibérica, dom inando
a Espanha e Portugal. Introduziram lá a indústria do papel. Partindo da
península Ibérica, o papel espalhou-se pelo resto da Europa.
Com a invenção da imprensa por G utenberg p o r volta de 1440, o pa­
pel passou a ter lugar de destaque em todos os meios sociais, impondo-se
como um produto indispensável para a cultura dos povos.
Na América, os maias e os astecas foram os primeiros povos a usar
o papel para fins culturais. Faziam papel das plantas tropicais da família
Moraceae.
No Brasil, a primeira fábrica foi instalada na Bahia, em 1843. Não su­
portou a concorrência do papel estrangeiro e fogo foi à falência.
Nova tentativa foi feita em 1851, com a Companhia Fluminense, no
Rio de Janeiro, que durou apenas dez anos. Usava trapo como matéria-
prima.
Na mesma época, também no Rio de Janeiro, foi instalada uma fábrica
de celulose, depois transferida para São Paulo - a Companhia Melhora­
mentos de São Paulo S.A.
A partir de 1920, a indústria brasileira de papel explodiu e se encon-
tra hoje entre as melhores do mundo.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
146

O Brasil foi o prim eiro país a usar a celulose retirada dos


eucaliptus.
A Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na gestão do D r . E dmun­
do N avarro de Andrade, m andou para os Estados Unidos - Forest products
laboratory, Madison, Wiscosin - amostras de vários tipos de eucaliptus, a
fim de verificar a possibilidade de se obter celulose.
Feitos os estudos, foram apontadas duas qualidades de eucaliptus
como fonte de celulose de boa qualidade.
Baseada nesse resultado, surgiu a firma Gordinho-Braune & Cia., em
Jundiaí, São Paulo, em 1927, que passou a fabricar papéis de vários tipos,
com celulose de eucaliptus.
A partir dessa data, a indústria de papel e celulose se espalhou por
todo o país, não mais se im portando papel, a não ser para a imprensa.

2.2. Os d iferen tes tip os d e papel

Os vários tipos de papel podem ser reduzidos a duas especies:


2.2.1. Quanto à matéria-prima ou à sua natureza
• Papéis à base de trapos;
• Papéis à base de madeiras;
• Papéis à base de palhas;
• Papéis à base de mistura.
2.2.2. Quanto ao processo de fabrico
• Pasta mecânica;
• Pasta química com bissulfito;
• Pasta química com soda.
2.3. Q uanto ao seu p eso ou à sua fin alidade

Os papéis podem, ainda, ser distribuídos em grupos segundo o seu


peso ou a sua finalidade:
a) Papéis fin o s
• o seu peso é inferior a 40 g/m2 sendo papéis finos para máquina
de escrever ou para cartas aéreas, com 15 a 20 g/m2, e são fabri­
cados de pasta química e celulose de palhas;
• papéis de bíblia, com peso de 25 a 30 g/m2, à base de linho e
algodão ou pasta química;
C apítulo XIII —E volução do S uporte
147

• papéis de seda, com 15 a 30 g/m2, contendo pasta de bissulfito


sem carga. Sua transparência é obtida pela imersão de óleos ve­
getais ou minerais.
b) Papéis de escrituração
• são papéis acetinados, muito encolados e fortemente carrega­
dos (15% a 20%). Contém pasta química pura, para os de uso
comum, ou uma mistura de pasta química (80%), e de pasta de
trapo (20%) nos papéis de luxo. O peso destes está com preendi­
do entre 64 e 100 g/m2.
c) Os cartões
• em princípio, o seu peso oscila entre 200 a 100 g/m2 e espessura
entre 0,3 a 1,0 mm. A pasta é feita de papéis velhos ou de pa­
lhas.

2.4. Fabricação d o papel

No fabrico do papel, as diferentes pastas podem ser usadas isolada­


mente ou misturadas entre si.
A pasta é colocada, imersa em água, num a cuba chamada pilha refi-
nadora. A massa, por movimento rotativo, é novamente misturada.
Conforme a duração e a intensidade dessa operação, obtêm-se as di­
ferentes qualidades de papel.
Da pilha refinadora, a pasta é encaminhada para a cuba m isturadora,
onde é refinada, podendo ser misturada com outras pastas. Refinada, à
pasta é diluída e então transportada para a m áquina de papel.
As operações que transformam a pasta em papel são realizadas numa
máquina comum a série de mecanismos em cadeia, daí porque é chamada
m áquina contínua, e pode ter até cem metros de comprimento.

Entrada
da massa
Feltros Cilindros aquecidos a vapor

avergoar Feltro de secagem


Tela fina de bronze
linha d'água

Figura 1 - Esquema da máquina contínua de fabricar papel


idealizada pelos irmãos Foudrinier, da qual derivam todas as máquinas modernas.
(Reprodução da gravura do livro Indústrias de processos químicos.
de N orris S heve e J oseph A. B rink J r.)
D oojmentoscopia - Lamaetine M endes
148

O equipam ento essencial desse engenho é um a longa tela m etá­


lica, puxada, horizontalm ente, entre dois cilindros. O processo de fa­
bricação segue a seguinte ordem : a pasta, p ro n ta para ser processa­
da, é colocada num a caixa, no início da máquina. A pasta semilíquida
vai para a tela metálica, que é agitada constantem ente p o r cilindros, e
avança, deslocando o material. As fibras que ficam retidas se entrela­
çam fortem ente.
A seguir, por uma série de cilindros, a pasta é prensada, várias vezes,
resultando uma folha uniforme e consistente.
A folha, assim obtida, passa, então, p or uma série de filtros e calan-
dras que, ao mesmo tempo, a enxugam e alisam a superfície.
Vem, a seguir, a fixação a seco da folha para lhe emprestar o último
brilho. E o papel está pronto para ser bobinado.
2.4.1. Polpa mecânica
O processo mecânico da polpa de madeira foi criado por Keller, na
Saxônia, em 1884.
A polpa é preparada sem uso de qualquer produto químico.
A matéria-prima é a madeira, principalmente o p in u s e o abies, que
são moles, para que flutuem nas correntes líquidas da fabrica, enquanto
o choupo afunda.
A madeira é partida e descortiçada. Então é moída em água. A moa-
gem é feita em ângulo agudo em relação ao comprimento das toras, para
se obter fibras mais longas.
Quando se trata de pequenas quantidades, é usado moinho de três
câmaras. Trata-se de uma mó central, m ontada num eixo de aço, em cuja
periferia existem três câmaras. Cada câmara é provida de um pistão cilín­
drico hidráulico, que em purra as toras contra a mó que está em rotação.
Normalmente a mó é de pedra.
A mistura da polpa e da água vinda da mó é lançada num coletor si­
tuado abaixo do m oinho e passa por um crivo. O material mais grosso é
retido, sendo jogado fora. O material fino é lançado num poço, de onde é
bombeado para as peneiras finas. Ele passa pela peneira, concentrando-se
em espessadores, dando a polpa do papel.
O material grosso é tratado em refinadores e volta para as peneiras.
O que sobra dos espessadores contém 15% a 20% de fibras originais e
é a água de m adeira, usada depois para a moagem inicial.
C apítulo XIII - E volução do S uporte
149

2.4.2. Polpa ao sulfito


O processo ao sulfito foi patenteado nos Estados Unidos p o r Tilghman,
em 1867. A quantidade de polpa feita por esse processo, embora seja de
qualidade superior, tem diminuído muito em razão de provocar a poluição
da água.
A madeira mais usada nesse processo é o pinus. A madeira descorti-
çada é limpa e cortada.
Os cavacos ob tid o s têm cerca de 0,5 polegadas de c o m p rim en ­
to, ou seja, l,27cm . São eles tra n sp o rta d o s para os silos de estoca-
gem, localizados acim a dos digestores, ag u ard an d o a o p eração de
cozim ento.
A química do processo de digestão ao sulfito é muito complicada e,
p or isso, não sera aqui ventilada, pois o objetivo é apenas apreciar o p ro­
cesso físico.
O m étodo mais comum consiste na digestão da madeira numa solu­
ção aquosa contendo sulfito de cálcio e dióxido de enxofre em excesso.
O processo envolve dois tipos de reações:
• sulfonação e solubilidade da lignina pelo bissulfito;
• decomposição hidrolítica do complexo celulose-lignina.
Na medida em que o processo segue, é preciso adicionar água fresca,
para m anter baixa a tem peratura e, por isso, remove-se parte da água da
madeira. Antes dessa água ser lançada no esgoto, peneiras retiram as fibras
remanescentes. Essas fibras retornam aos espessadores.
A única modificação química que ocorre no processo é o da hidrata-
Ção, provocada pelo contato com a água.
A polpa, na maioria das vezes, é usada para a confecção de papéis
mais baratos, em que não é necessária sua durabilidade. A deterioração
do papel é provocada pela decomposição das partes não celulósicas da
madeira.
A polpa ainda é submetida à operação de alvejamento, que determina
a qualidade de branco. É um processo caro. São usados vários tipos de
drogas químicas, como o ozônio, o oxigênio, o dióxido de cloro e outras
mais.
Na fabricação de papel para jornal, de papel manilha barato, de papel
de parede, de papel de seda e outros tipos de papel para embrulho, a pol­
pa de madeira recebe parte de polpa química.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
150

2.4.3. Polpa k ra ft ou ao sulfato


O processo ao sulfato ou kraft se deve às experiências feitas por D ahl,
e D antzig, Alemanha, em 1884.
A polpa kraft - que em alemão significa forte - resulta de um pro­
cesso alcalino. É o responsável pela maior parte da polpa que se fabrica
atualmente. Tem a vantagem de usar qualquer tipo de madeira, mole ou
dura. Entretanto, dá-se preferência à madeira das coníferas.
O m étodo foi desenvolvido para remover as grandes quantidades de
óleos e resinas dessas madeiras. Usa-se um processo ao sulfato modificado
para a produção da polpa de dissolução para o rayon, a partir das madei­
ras duras.
Obtida a polpa, vai ela para o cozimento. Cozida, é bombeada do
tanque receptor para uma série de peneiras, onde os nós da madeira são
removidos e os aglomerados de fibras. O filtrado das peneiras é lança­
do em calhas de sedimentação ou em centriíugadoras, para ser retirada a
matéria estranha. A polpa é então concentrada em espessadores, que são
tanques cilíndricos cobertos por uma tela de bronze. A água passa pela
tela e a polpa fica retida.
Esta, a seguir, vai para o alvejador. Feita esta operação, o material é
lavado e depois enviado à caixa distribuidora. Da caixa distribuidora, a
polpa sai em forma de folhas. São então secadas com rolos aquecidos a
vapor e depois enfardadas.
A polpa ao sulfato é de alta qualidade e serve para a fabricação dos
melhores tipos de papel. Pode ser usada isoladamente ou com mistura de
polpa de trapos, para a feitura de papel de escrever de alta qualidade, e
para a impressão de livros.
Existe, ainda, outro tipo, como o de polpeam ento semiquímico, sur­
gido em 1925. O processo é parte mecânico e parte químico, daí a sua
denominação.
2.5. Matérias-primas para a fabricação de celulose e de papel
Na obtenção de celulose, com o objetivo de fabricar papel, foram
usadas as seguintes fibras:
• de frutas, como os pêlos das sementes do algodão e do epicarpo
do coco da Bahia;
• de folhas, como o sisal, o abacaxi e a carnaúba;
• de caules, como a palha dos cereais, dos bambus e bagaço da
cana;
C apítulo X III - E volução do S uporte 151

• de plantas lenhosas, como a casca e as folhas das coníferas e de


arbustos;
• de plantas herbáceas, como o linho, o rami e a juta;
• de madeiras, como ás das coníferas, abeto, pinho, faia, castanhei­
ro, bétula, choupo e epícea;
• do caule do pinho do Paraná, pinos, ciprestes, eucaliptus, boleiro,
grapuruvu e acácia negra.
A lã foi usada entre as fibras animais.
O asbesto e o vidro entre as fibras minerais; o rayon, o nylon, o orlon
e o dacron, como fibras artificiais.
Os derivados do petróleo também podem ser utilizados, mas o seu
elevado custo faz com que não sejam explorados.
Finalmente, não se pode esquecer que o papel pode ser fabricado de
trapos e do próprio papel já usado. Aliás, consta que, nos Estados Unidos,
26% do papel comercializado é desse tipo.
• madeira: a madeira é um material composto de fibras. Estas são
uma espécie de canudo, com uma cavidade central denom inada
lumen. As fibras se juntam e formam um agrupamento, como se
fosse um cabo torcido.
A celulose é um hidrato de carbono, de fórmula [C6H10O5]n, que
forma a estrutura da madeira. As fibras de celulose são ligadas entre si por
uma substância chamada lignina.
O papel pode ser feito com as fibras de celulose, mas, sendo de qua­
lidade inferior, não atende às necessidades do comércio.
A polpa de fibras de celulose, para dar ao papel algumas característi­
cas, é adicionada de produtos químicos, seja na própria preparação, seja
no seu processamento, a máquina contínua. Esses produtos são chamados
de aditivos.
D ependendo do aditivo utilizado, obterem os um tipo da polpa do
papel e a sua resultante qualidade.
Os aditivos mais utilizados são: caulim, talco, óxido de titânio, gesso
e sulfato de zinco.
A adição desses aditivos dão uma característica ao papel como:
• brancura;
• opacidade, para que os registros feitos numa face não sejam visua­
lizados na outra;
D ocumentoscopia - Lamahtine M endes
152

• lisura, para permitir maior facilidade na movimentação do instru­


mento escrevente;
• maior absorção da tinta para impressão.
O adicionamento de produtos minerais é chamado de carga: cola de
breu, amido, caseína.
Todos esses produtos têm por finalidade m anter a resistência, o bri­
lho e a lisura do papel, melhorando a sua superfície para impressões.
Vários produtos químicos são usados para m elhorar o papel, como o
sulfato de alumínio, para tornar o breu insolúvel na água, evitando que a
cola seja eliminada.
São usados, também, corantes, como anilinas, para o fabrico de papel
de cor.
Para aum entar a reflexão da luz, aum entando a brancura, são usados
produtos alvejantes. São os chamados alvejantes ópticos.
Finalmente, quando os papéis se destinam ao acondicionamento de
frutos, os aditivos são fungicidas e germicidas.
• Fibras das folhosas: estas fibras são provenientes do choupo, do
castanheiro, do eucaliptus e de outras madeiras tropicais.
As fibras das folhosas são de dois tipos:
• suporte (fibras);
• transporte para a seiva.
As fibras que servem de transporte para a seiva são as únicas utilizadas
na identificação da pasta, quando examinadas com microscópio.
• Fibras de palhas: as fibras de palhas são procedentes de várias
gramíneas, como o trigo, o arroz, o centeio, a cevada, etc. Possuem
elas características muito semelhantes as fibras das folhosas, mas
são mais finas e estão associadas a células epidérmicas, em forma
de pêlo ou de pentes, ainda que sejam as células parenquimatosas
cilíndricas ou esféricas.
Estes exames, como é obvio, só poderão ser feitos por especialistas
treinados, que saibam distinguir os vários tipos de fibras.
Estas técnicas foram preconizadas por J. L. C lement e B. Risi. O primei­
ro, engenheiro doutor em Ciências da Identificação Judiciária da Polícia
de Paris; e o segundo, chefe da tipografia dos serviços técnicos da Pre­
feitura de Polícia de Paris. Estas técnicas foram publicadas na Revista de
identificação crim inal, de Lisboa, a graduação de Rosa Maria Enes e E llísio
B arbosa, edição de dezembro de 1983-
C apítulo X III - E volução do S uporte
153

2.6. E x am e d o p a p e l

O papel pode ser submetido a três tipos de exames distintos:


• exame métrico;
• exame óptico;
• exame de pasta.
2.6.1. Exame m étrico
Para se determ inar as características médias de uma folha de papel, é
preciso tom ar as seguintes medidas:
• dimensões da folha (comprimento, largura e espessura);
• peso por metro quadrado (gramatura), ou seja, peso de um qua­
drado de 10 x 10 cm multiplicado p o r 100;
• o toque, que os dá ao tato, a espessura. Um papel que tem toque
parece ter uma grande espessura em comparação com o seu peso
por m etro quadrado.
Podemos calcular o toque através da seguinte fórmula:
toque = es oessuram ícron s
peso/grama
Os valores desta fórmula são compreendidos entre 0,7 e 2,5 para uma
média de 1,6.
O conteúdo de cinza que se obtém fazendo queimar num recipiente
de platina, previamente pesado, um quadrado de papel de 10 x 10 cm. O
peso das cinzas obtido é depois multiplicado p o r 100.
São estas as únicas medidas que podem os efetuar no quadro de uma
peritagem, porque as outras, como resistência longitudinal e transversal,
índice de ruptura, etc., exigem grande quantidade de papel e aparelha-
mento técnico apropriado.
2.6.2. Exame óptico
Consiste na observação do grau da transparência e de fluorescência
do papel:
• a estrutura superficial é observada sob iluminação tangencial;
• a transparência permite avaliar a homogeneidade do papel;
• a fluorescência, mais ou menos intensa, dos papéis sob radiação
ultravioleta perm ite distingui-los. Esta propriedade está ligada à
incorporação, na pasta, de branqueadores ópticos, como a cuma-
rina ou a estibina, prática usada depois de 1950.
D ocumentoscopia . - Lamartine M endes
154

2.7. E x am e d a p a s ta

2.7.1. Pesquisa da cola aplicada


• o am ido é posto em evidência através de uma solução de iodo e
iodeto de potássio, fazendo azular o papel;
• a gelatina é revelada dissolvendo a pasta em água fervente e, com
a adição de um a solução de tanino, aparecerá um precipitado ne­
buloso;
• a cola vegetal ou resina é posta em evidência pela sua extração
no álcool quente. Após esfriamento, o líquido é lançado na água e
forma-se um anel esbranquiçado.
2.7.2. Determ inação da natureza do tratamento da pasta
Exame com finalidade de determ inar a natureza do tratamento da
pasta pode ser realizado com os seguintes reagentes.
Reagente de Herzberg:

Deposita-se um a gota de reagente sobre o papel e observa-se a mu­


dança de cor.
Resultados:

Herzberg Lofton
Natureza da pasta
Amarelo Azul-verde
Pasta mecânica
Azul-violeta Incolor
Pasta química
Vermelho Incolor
Pasta de trapo
C apítulo X III - E volução do Suporte 155

2.7.3. Diagnóstico das fibras


A análise das fibras que entram na composição da pasta é feita ao
microscópio e exige do examinador não só conhecimentos razoáveis de
botânica como, também, muita prática.
O exame é procedido da seguinte maneira:
Um fragmento de papel medindo cerca de 1 mm2 é colocado sobre
uma lâmina que contém carbonato de soda ou lixívia de soda num a solu­
ção a 1%, o que vai provocar sua coloração com o emprego do reagente
de Herzberg.
A seguir, a lâmina é estudada no campo do microscópio.
As fibras usualm ente usadas no fabrico do papel são as seguintes:
• fibras têxteis: as fibras têxteis são muito longas e apresentam um
canal central estreito, chamado imen. São provenientes, sobretu­
do, do linho, do cânham o ou do algodão-,
• fibras de madeira: são provenientes de coníferas, como o pinho,
o pinho-de-flandres. Todas elas são do tipo único, servindo, às ve­
zes, de proteção ao transporte da seiva. São mais curtas que as
fibras têxteis - 0,22 a 3 mm - e a sua largura atinge 40 mícrons
(milésimos de milímetros). São providas de um largo canal e con­
têm orifícios circulares largos, cercados de um friso (pontuações
aureoladas).
Capítulo XIV

P apel d e S e g u r a n ç a

São denom inados papéis de segurança aqueles que possuem caracte­


rísticas que impedem a falsificação de docum entos com ele preparados e
os dos formulários impressos para os mais diversos fins.
Essas características tanto podem ser incorporadas na própria fabrica­
ção do papel, como no preparo das matrizes de impressão, dos fotolitos,
quando se tratar de impressão off-set, na composição das tintas de impres­
são e, até mesmo, introduzindo, na impressão, falhas ou sinais em sítios
predeterm inados.
As várias técnicas podem ser usadas isoladamente ou associadas, e
aqui serão passadas em revista as que já foram ou estão sendo empregadas
na confecção do nosso papel-moeda.

1. T écnicas de F o t o l it o , de I m pressão e de T in t a

1.1. Talho-doce
O talho-doce é uma técnica de impressão pastosa, obtida no ato de
sua deposição sobre o papel, sob pressão direta de quarenta toneladas por
centímetro quadrado, a uma tem peratura de cerca de cento e quarenta
graus centígrados.
A deposição da tinta resulta na grande nitidez das linhas e no seu rele­
vo, que pode variar de traço para traço, dependendo da profundidade da
gravação da chapa e, ainda, diferentes tonalidades de uma mesma cor.
A secagem da tinta depositada, pouco im portando o tem po passa­
do após a impressão, ocorre apenas na superfície. Equivale dizer que a
impressão continua úmida no seu interior. Esta é a razão pela qual, ao
se atritar um a impressão em talho-doce contra um papel, ocorrerá uma
descarga da tinta.
158 D ocumentoscopia - Lamaetine M endes

1.2. Imagem fantasma


A imagem fantasma consiste em uma impressão a talho-doce que pos­
sui, em local predeterm inado, uma solução de continuidade do relevo. A
observação do conjunto dessas interrupções, por um ângulo não habitual,
mostra uma imagem que vem a constituir a imagem fantasma.
O falsário, ainda que reproduza fotograficamente o docum ento ou
formulário a fim de fazer a matriz para sua reprodução, não conseguirá
criar a imagem fantasma.

1.3. Fundo arco-íris


A impressão arco-íris é obtida através de tinteiros que possuem várias
divisões, contendo tintas de cores diferentes.
A tinta é distribuída pelo movimento de rolos transferidores, chama­
dos bailarinos, tornando-as homogêneas, criando uma superposição de
cores na impressão em faixas, resultando o surgimento de novas cores e
tonalidades em determinadas áreas.
O falsário não tem possibilidade de obter impressões irisadas, mesmo
porque a justaposição de tintas puras e derivadas impedirá, com o uso da
sua reprodução fotográfica, a confecção da matriz.

1.4. Duplo arco-íris


Neste processo, são usadas duas torres com dois tinteiros. Assim será
possível fazer-se a justaposição de tinta na segunda torre onde já houve
impressão da primeira.
Com esse processo, o grau de complexidade da impressão será au­
mentado, dando maior segurança ao produto final.

1.5. Guilhochê
O guilhochê é uma técnica de desenho de alto nível de complexida­
de, apresentando partes negativas e positivas.
A impressão é feita em talho-doce e a trama, as diferenças de espes­
sura e o conjunto, visto como um todo, ao ser fotografado, perde muitos
detalhes.

1.6. Delachrome
Trata-se de uma impressão feita com tintas especiais, e, quando justa­
postas, uma ocultará o conteúdo da outra.
C apítulo XTV - P apel de S egtoança 159

A revelação da impressão oculta, dita m ascarada, é feita com o uso


de filtros. Na observação, este eliminará a segunda impressão, perm itindo
visualizar a primeira.
Em razão dessas características, a impressão é feita com tintas de co­
res e tonalidades restritas.

1.7. Microtexto
A técnica se constitui na impressão de um texto, em tamanho super-
reduzido, sempre com efeito secundário.
Assim, pode-se aplicar o microtexto como se fosse uma linha, um tra­
ço, ou até em substituição de linhas de cercadura.

2. T écnicas de F o t o l it o e de T in tas

2.1. Microletras
E o fundo composto por letras de tamanho ultrareduzidos, cuja fina­
lidade é meramente decorativa.
A associação dessa composição, ao uso de tintas puras e derivadas
para a impressão, emprestará um grau de expressiva confiabilidade e se­
gurança ao processo.

2.2. Medalhões simplex e duplex


É um a técnica de preparação de fotolito, no qual um grande núm ero
de linhas retas e curvas, repetidas, umas próximas das outras, ou ainda
por conterem mudanças de angulação predeterminadas, resultam num
efeito ótico de relevo ou de terceira dimensão, formando um a imagem
convencionada.
O tipo sim plex apresenta impressas, numa só cor, linhas com predo­
minância de um só ângulo.
O tipo duplex apresenta linhas em dois ângulos distintos e a impres­
são é em duas cores, um a com tinta pura e outra com derivada.
2.3. Fundo moiré
É uma técnica de efeito óptico. Consiste na preparação de um fotolito
por meio da justaposição de dois filmes, um com traços paralelos e outro
com sinuosos, resultando, na impressão, um efeito óptico de ondulação.
O nome moiré deriva de um tecido francês, cuja trama e urdum e
apresentam uma ilusão ótica de ondulação das linhas (chamalote).
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
160

Para fraudar, o falsário é obrigado a fazer uso de um a retícula e esta


destrói o efeito obtido.
2.4. Fundo anti-scanner
O fundo é constituído de um fotolito obtido por um desenho espe­
cial com alteração de angulação das linhas, de tal forma que não impeça a
prospecção através de scanner, mas que modifique o resultado obtido.
As cores e a angulação especial farão com que a exploração do scan­
ner tenha resultado diverso do que se vê no original.

3. T écnicas de F o t o l it o e de I m pressão

3.1. See-through
Trata-se de um a dupla impressão, um a no anverso e outra no reverso,
feitas simultaneamente, num mesmo sítio do formulário, de maneira que,
na observação por transparência resulte um registro perfeito de superpo­
sição, completando e formando um desenho predeterminado.

3.2. Falha técnica


Trata-se de falhas propositadam ente introduzidas em traços, letras,
logotipos, etc.
A técnica mais usada é a da inversão de letras ou de textos ou, ainda,
a omissão de pequenas particularidades nos motivos impressos.

3.3. Fundo geométrico


Trata-se do preparo de fotolito para fundo, cujo desenho básico é
constituído por traços geométricos de linhas não paralelas.
A segurança reside na escolha das tintas com que se comporá a im­
pressão.

4. T éc nica de F o t o l it o , de T in t a e de P apel

O processo consiste na concorrência do uso de duas técnicas contra


as fraudes documentais.
Quanto maior for o núm ero de técnicas usadas, tanto maior a segu­
rança e a dificuldade na sua reprodução fraudulenta.

5. T écnica d e T in t a e de I m pressão
Trata-se de impressão com uso de tinta especial, que desaparece à
medida em que vai sendo depositada no papel.
C apítulo XTV - Papel de S egurança
161

Sua composição é um agrupamento de textos, como nulo, falso, e


outros, que devem ocupar toda a área do documento.
A ação provocada por erradicadores clorídricos faz com que se tom e
visível a impressão do fundo.
Os cheques feitos por toda a rede bancária possuem esse tipo de im­
pressão.

LAVAGEM COM
"CLCRXT

Figura1- Fotografia feita com emprego dos raios ultravioleta


para mostrar a remoção da tinta que oculta os dizeres Nulo.

6. T écnicas de P apel

6.1. Fibras coloridas


Trata-se da dispersão de fibras coloridas na polpa do papel, na fase
final de sua fabricação, que ficam visíveis na observação comum.
As fibras coloridas a serem utilizadas podem, também, ser entintadas
com fluorescência latente, que reagirá sob o efeito dos raios ultravioleta.

Figura2- Foto feita com ultravioleta, mostrando os filetes de segurança


na polpa do papel utilizado para a impressão dos cupons de pedágio na Nova Dutra.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
162

6.2. Papel reagente


Trata-se de papel em cuja massa são usados produtos químicos que
reagirão na presença de erradicadores à base de cloro e inorgânicos.

6.3. Marca d’água


A marca d ’água, também chamada filigrana, constitui motivos intro­
duzidos no papel, durante o seu fabrico, que só podem ser vistos por
transparência e não reagem ao ultravioleta.

7. T écnica de F o t o l it o

7.1. Traço aleatório


A técnica consiste em se acrescentar um traço não repetitivo no filme,
de maneira que, se for necessário, serão confrontados os documentos im­
pressos com o filme, a fim de verificar a coincidência do traço, fazendo-se
a superposição do filme com o documento.

7.2. Reforço de traço


É o aum ento de espessura proposital de determinados traços de de­
senhos ou de logotipos.
Essa particularidade pode não ser observada pelo falsano e, na tenta­
tiva de ser reproduzida fotograficamente, pode provocar distorções.

7.3. Imagem secreta


A técnica consiste em se introduzir, discretamente, em local determi­
nado, um sinal convencional.
A sua localização deve obedecer, de preferência, às características usa­
das na periferia da impressão.

8. T écnica d e T in t a
É a utilização de tintas de determinado tipo na impressão de papéis
de superfície lisa.
A tinta depositada adere à superfície do papel e não resiste à ações
mecânicas, como a aplicação de lixas ou borrachas, que provocam o desa­
parecimento da impressão, evitando a fraude p o r rasura.

8.1. Tinta reagente ou solúvel


Trata-se de impressão em off-set com tintas que não resistem à ação de
reagentes químicos, álcool, acetona, água clorada e até mesmo a comum.
C apítulo XIV —Papel de S egurança
163

Os resultados da reação podem provocar o descoramento da impres­


são, sua mudança de cor, ou, ainda, o aparecimento de manchas.
8.2. Fluorescência com troca
Trata-se de impressão com tinta que reage aos raios ultravioletas, mu­
dando a cor sobre a qual foi superposta.
8.3. Fluorescência fixa
É a impressão feita com tinta que reage à radiação ultravioleta. Sua
presença, portanto, poderá ser observada por esta, ressaltando e alteran­
do algumas cores.

8.4. Fluorescência latente


A técnica consiste na impressão com tinta à luz ultravioleta e, para ser
reconhecida, é indispensável estar sob essa fonte luminosa, caso contrário
será invisível à observação comum.

9. H o lo g r a f ia

A holografia consiste num processo fotográfico que permite a repro­


dução de uma imagem com aspecto bi ou tridimensional.
O processo foi inventado em 1947. Atualmente, a utilização dos raios
laser permitiu o aprimoramento dessa técnica de segurança, podendo ser
usada em docum entos importantes ou de grande valor.
Capítulo XV

A A rte d e I m p r im ir

A arte de imprimir talvez seja a mais importante das invenções do


homem e, quiçá, a mais antiga.
O primeiro processo de imprimir utilizado era chamado tubular: os
dizeres eram esculpidos num a placa de madeira. Pronta a inscrição, a tá­
bua era mergulhada num recipiente com tinta e deixada escorrer. A tábua
era pressionada contra um a folha de pergaminho ou de papiro. O proces­
so foi usado a partir do século III d.C.
Esse processo rudim entar foi usado durante séculos, pois, na Itália,
no século XII, ainda era usado pelos artesãos.
No século X na Europa, apareceram livros, de texto manuscrito, com
ilustrações feitas pelo processo tubular - era a xilografia. Em Roma, a xi-
lografia teve um núm ero grande de adeptos.
Mas as matrizes de madeira tinham o inconveniente de durarem mui­
to pouco, não possibilitando um grande núm ero de impressões.
Em razão disso, outros sistemas apareceram, um dos quais até hoje é
usado, como veremos no devido tempo.

1. C lâssificação das E scritas M ecânicas

As escritas mecânicas são classificadas tomando-se as suas matrizes


como ponto de referência.
Assim, podem ser matrizes de alto relevo - os motivos a serem im­
pressos constituem saliências em relação à superfície da matriz; de baixo
relevo - a parte a ser impressa está abaixo da superfície da chapa; p la n a
- os motivos a serem impressos estão no mesmo plano da superfície da
placa - vazada - os motivos a serem reproduzidos constituem soluções
de continuidade na superfície da matriz.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
166

Tomando como base essas características, as impressões podem ser


de quatro tipos fundamentais, com vários subtipos:
• relevografia;
• encavografia;
• planografia;
• permeografia.
Entre os vários tipos, por ser de maior interesse da documentoscopia,
dar-se-á maior ênfase à relevografia, à tipografia, à datilografia e à Aexo-
grafia, com rápidas noções sobre a letter set, a encavografia, a calcografaa,
a planografia, os vários tipos de off-set e a eletrografia, a permeografia e o
processo silk-screen.

2. M a t r iz e s e m A l t o R ele vo ( R e le vo g r afia )

2.1. A tipografia
Na China, no ano de 1041, Pi C h in g , em blocos de argila, talhou carac­
teres alfabéticos, que eram fixados num suporte, formando uma página.
Mergulhados os blocos em tinta, eles eram pressionados contra a
seda, imprimindo.
Mas as matrizes, em razão de se constituírem em pequenos blocos de
argila, não só tinham curta duração, como também se danificavam ou não
fixavam a tinta. Com isso, esse sistema m orreu no nascedouro.
Entretanto, não resta a m enor dúvida de que foi na China, com a in­
venção de Pi C hing , que se criou o prim eiro sistema de impressão de tipos
móveis.
No século Xy surgiram os tipos móveis de metal (chumbo), com os
trabalhos de G utemberg, em 1440, oferecendo ao m undo a primeira prensa
de imprimir.
Em 1445, G utemberg imprimiu a Bíblia latina, com quarenta e duas
linhas por folha e com 1.282 páginas.
Na mesma época, na Holanda, foram criados tipos móveis, mas de
madeira.
Como o sistema que se espalhou p o r todo o m undo era o de tipos
móveis de metal, de G utemberg, a ele foi creditada a invenção da impren­
sa.
Na prática, a identificação de um texto tipografado se faz tendo em
conta o desenho, o tamanho dos tipos e, sobretudo, a constataçao o
seus defeitos, como fraturas, amolgamentos, etc.
C apítulo XV - A Arte de I mprimir
167

Pode-se ainda, por mau funcionamento da prensa, reforçar o exame


com a ventilação de falhas ou defeitos na própria impressão, que não são
atribuídos aos tipos em si.

2.2. A datilografia

2.2.1. A máquina de escrever


Segundo os registros oficiais, a primeira patente de uma máquina de
escrever foi requerida por H enry M ills, na Inglaterra, em 1714.
Em 1829, W illiam A. B urt, nos Estados Unidos, requereu, p or sua vez,
a patente de uma máquina de escrever, a que chamou typographer.
As máquinas não foram fabricadas e seus planos se perderam num
incêndio do arquivo de registros de patentes.
Por essa razão, não se pode saber se, na prática, aqueles planos ti­
nham ou não condição de funcionalidade.
A partir dessa época, na Europa - Itália, França, Alemanha -, outros
inventores apresentaram os seus planos, tendo alguns até mesmo feito o
protótipo.
A primeira máquina de escrever foi posta no mercado pela Reming-
ton, em 1873 - era o modelo n. 1.
A Underwood fez o mesmo em 1897; a Olivetti em 1911.
A primeira máquina de escrever elétrica foi apresentada, na Alema­
nha, pela Mercedes, em 1921. A Remington passou a fabricar a sua a partir
de 1925 e a IBM em 1933.
Mas ocorre que, no Brasil, em Pernambuco, doze anos antes da Re­
mington apresentar o seu m odelo n. 1, o padre F rancisco J oão Azevedo,
em 1861, já fabricara uma máquina que produzia, mecanicamente, tex­
tos, representados p o r símbolos de taquigrafia e não de caracteres alfa­
béticos.
Seja como for, o invento do padre Azevedo escrevia mecanicamente.
Na Exposição Geral do Império no Brasil, em 02 de dezembro de
1862, a máquina foi exposta no grupo IV e mereceu a medalha de ouro
pela Comissão Diretora da Exposição.
Mas ocorre que o padre Azevedo não se preocupou em patentear o
seu invento.
Chegou ele, também, a substituir os símbolos do teclado de sua má-
fiuma por letras do alfabeto. Construiu, pois, a máquina de escrever con-
168 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Segundo registros da época, fato que é defendido pelo Prof. Dr. J osé
Carlos Ataliba Nogueira - além de professor de direito era membro do Ins­
tituto Histórico e Geográfico - no seu livro Um inventor brasileiro, os
planos do padre Azevedo lhe foram furtados.
Na Inglaterra, em Londres, em 1862, houve um a exposição mundial.
A máquina do padre foi enviada, mas não exibida, sob a alegação de falta
de espaço. Há docum entos a esse respeito.
A máquina de escrever, apresentada p or uma firma estrangeira, outra
coisa não era senão a cópia da máquina do padre Azevedo.
Assim como a invenção do aeroplano é, para nós, do brasileiro Alber­
to Santos Dumont, em que pesem os protestos dos americanos, também a
da máquina de escrever é nossa, do padre pernam bucano Francisco João
Azevedo. Proteste quem quiser.
2.2.2. Exames datilográfícos
As escritas datilográficas comportam três tipos de exame:
• identificação da máquina;
• identificação do datilografo;
• verificação de acréscimos.
2.2.3. Identificação da máquina
Como é sabido, de um mesmo tipo de teclado são fabricadas milhares
de máquinas de escrever. Se a sua montagem for precisa, a datilografia
produzida em duas máquinas distintas praticamente se confundem.
O uso constante da máquina de escrever, todavia, com o correr do
tem po ou por imperícia do datilografo, introduz no seu teclado defeitos,
sejam eles resultantes do desajuste das hastes, sejam determinados pelo
amolgamento e até pela fratura dos tipos.
O desajuste das hastes, deslocando-se mais para a direita ou para a es­
querda, mais para cima ou para baixo, ou dois desses defeitos concomitan­
tes, faz com que a letra impressa saia de seu espaço mecânico e, com isso, vá
se juntar ao tipo anterior ou ao subsequente, abaixo ou acima dele.
Ao se confrontar duas mecanografias - evidentemente de tipos da
mesma forma e tamanho - a verificação desses defeitos dá ao examinador
elementos seguros para a identificação da máquina. Mas é preciso muito
cuidado em se certificar, na peça de exame, como nos padrões, que são
batidos na máquina suspeita, que esses defeitos se repetem em toda a me-
canografia e que, por isso, não foram fruto de um acidente, de imperícia
do operador, e sim resultantes de um defeito do próprio teclado.
C apítulo XV - A Akte de I mprimir
16 9

desses defeitos r e p e t t t a M K ' ‘P° S A

d^r —- ™
FLáV IO M O N TIEL DA ROí-Ha

D ILEN E FER R EIR A DA S l 7 u »


* ?

CÉSAR AUGUSTO. DE AN DRADE


* X 1

Fijura 1 - Padrão do confronto, ,endo-se assinados defeitos dos datilotipos.

JOMF ABIDIRr* i
RABELO

C A T tG O R IA |U N C

Figura 2 - Peça de exame, com os mesmos defeitos nos tipos.

2.2.4. Identificação do mecanógrafo

a da i n d W d S S ^ X ^ u ^ d e ' e s c T O l 0” *1 dU,cU do <!ue


pode chegar a conclusões seguras. ’ nCm Sempre> ° técnico
Devem ser considerados os seguintes aspectos:
arranjo do texto no suporte;
tamanho das margens;
sistema de pontuação;
uso do espacejador;
estilo;
erros ortográficos;
pressão no acionamento das teclas;
hábitos peculiares.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
170

No tocante à distribuição da matéria, é claro que, em certos docu­


mentos, cuja datilografação obedece a uma norma preeestabelecida, o
detalhe perde qualquer significação. Todavia, quando assim nao for, ela
passa a ter valor.
Deve-se observar a colocação da data e a sua posição na testada do
papel e o tamanho da margem superior.
O espaço deixado entre o texto da data e do nome da pessoa a que se
escreve deve ser levado em consideração, bem como o que medeia entre
este lançamento e o início do texto.
O tamanho das margens deve ser observado, principalmente o fato
de o operador respeitar ou não a margem direita. Também a abertura dos
parágrafos oferece elementos para a perícia.
No que diz respeito ao teor do texto em si, é necessário verificar se se
trata de linguagem culta ou popular; se foram usados, convenientemente,
os sinais de pontuação; se existem erros de ortografia ou de concordância,
constantes.
O texto mecanografado em si deve ser examinado, procurando-se
verificar a distribuição da pressão do acionamento dos datilotipos. Nem
sempre o operador pressiona de forma hom ogênea todas as teclas, dai
surgem letras com maior ou m enor descarga do material corante da fita.
Finalmente, devem ser detectados vícios datilográficos. São sinais dis­
pensáveis, que não integram o texto, mas que o operador tem o habito de
registrar sempre no mesmo local, como um a barra no final de cada linha,
como um hífen depois de cada ponto e outros mais.
Para realizar a perícia, os padrões de confronto produzidos pelo sus­
peito, reproduzindo o texto de exame que lhe é ditado em português
correto, devem ser examinados detidamente, anotando-se todas as pecu­
liaridades oferecidas. O passo seguinte será o estudo da peça questionada
com o mesmo objetivo.
Se o balanço final dos indícios anotados for positivo, a conclusão será
afirmativa. Mas não se deve concluir com base apenas em um pequeno
núm ero de coincidências, para não se correr o risco de laborar em erro,
a menos que os detalhes sejam, por si só, por demais sugestivos. Mas
sempre será prudente alicerçar a conclusão num núm ero grande de coin­
cidências.
Outro cuidado que o perito deve ter é o de verificar se o texto discu­
tido é da lavra de quem o datilografou. Se assim não for, todos os erros
gramaticais, de concordância, devem ser desprezados, porque foram re-
C apítulo XV —A Arte de I mprimir
171

sultantes da cópia de um rascunho. Assim, o operador pode ter sido quem


datilografou a peça, mas não ser o autor do texto.
Na feitura do laudo, todas as convergências que sustentam a conclu­
são devem ser fotografadas.

2.2.5. Acréscimos mecanográficos


Os acréscimos mecanográficos podem ser demarcados atentando-se
para os seguintes detalhes:
diversidade de m áquina: bastará a comparação do desenho e ta­
manho dos tipos do texto primitivo com o supostam ente acresci­
do;
diversidade da fita : a diversidade da fita poderá revelar pela dife­
rença, não só da tonalidade do corante, como a trama do próprio
suporte;
• aglutinações: sempre que o espaço de que o falsário dispõe para o
acréscimo for m enor do que seria ocupado pela palavra a ser adu­
zida, ele recorre à tecla do retrocesso, diminuindo os espaços inter-
literais e vocabulares. Para isto, antes de acionar a tecla do datiloti-
po, ele aperta a de retrocesso, fazendo com que diminua o espaço
mecânico entre a letra a ser registrada e a última do vocábulo an­
terior e, assim, vai fazendo até terminar. Como resultado, todos os
espaços mecânicos da máquina são diminuídos, ficando o vocábulo
acrescido apertado entre dois lançamentos;
rebatidas: é m uito frequente, quando o falsário quer fazer o acrés­
cimo depois de um a vírgula, ele rebater esse datilotipo, para ali­
nhar a máquina. Ocorre, então, que um pequeno desajuste do
papel no carro faz com que o datilotipo caia ligeiramente fora do
espaço mecânico ocupado pela vírgula primitiva e, com isso, esse
sinal de pontuação mostra dupla impressão. Em outras ocasiões
o falsário procura modificar um ponto final em vírgula, para dar
continuidade ao texto com o acréscimo. Não sendo possível ajus­
tar o papel na máquina precisamente como fora para a feitura do
texto primitivo, o rebatimento faz com que a vírgula apareça com
dupla cabeça;
• desalinhamentos: como se sabe, ao se datilografar um a palavra,
todas as letras ocupam espaços mecânicos iguais, desde que a má­
quina não se encontre com defeito.
Datilografando-se uma linha, todos os caracteres obedecerão a uma li­
nha de base ideal. Movimentando-se o carro para outra linha, com o espaço
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
172

desejado e marcado na própria máquina, a nova datilografia, como as linhas


subsequentes, guardarão entre si a mesma distância e sempre obedecerão à
mesma linha de base imaginária. É o alinhamento horizontal.
Observando-se um texto, composto de várias linhas, fácil e verificar
que todos os caracteres, no sentido de comprimento do papel, formam
verdadeiras colunas. É o alinhamento vertical.
Batido um docum ento, se ele for retirado da máquina e a ela voltar,
para novo texto, por mais que o dactilógrafo se esforce, sempre o papel
ficará em posição diversa da que se encontrava no texto primitivo. Com
isso, se se examinar o texto batido na segunda assentada com o resultante
da primeira, poderão ser encontrados desalinhamentos horizontais e ver­
ticais. Essa quebra de comportam ento da mecanografia é prova da dupli­
cidade de assentadas.
Os alinham entos mecanográficos são observados com a utilização
de gabaritos. São películas transparentes, onde são traçadas ordenadas
e coordenadas, tendo em vista o espaçam ento norm al interlinear e ín-
terliteral das máquinas de escrever, form ando um quadriculado. Coloca­
do o gabarito sobre a datilografia, estuda-se o com portam ento do texto
mecanografado em relação às coordenadas e ordenadas. Se a quebra
do alinham ento for resultante de um desajustam ento da máquina, ele
se repetirá em todo o contexto, daí não se confundir com o provocado
pelo acréscimo.
C apítulo XV —A A rte de I mprimir
173

Só resta consignar que o acréscimo datilográfico nos espaços inter-


vocabulares é praticamente inviável, pois a máquina de escrever caminha
espaços mecânicos iguais, seja quando é acionada a tecla do datilotipo,
seja quando é utilizada a do espacejador. Assim, resta pouco espaço para
se acrescentar outro vocábulo. Entretanto, um termo pode ser rasurado e
ser substituído por outro. Mas, se isso acontecer, só a prova da rasura já
denuncia a fraude.
Os acréscimos em textos mecanografados são mais frequentes no fi­
nal de uma linha, desde que este esteja distante da margem, nas entreli­
nhas ou, então, no espaço deixado entre o final do texto e a aposição da
data ou das assinaturas.
Acréscimos com as m áquinas elétricas: com o avanço da tecno-
logia, surgiram as máquinas de escrever eletromecânicas e eletrô­
nicas, com o uso de fitas de polietileno corrigível, sem que seja
necessário o uso de borracha.
Por essa razão, seria de bom alvitre incluir-se aqui mais dois tipos de
alterações físicas:
• recobertura de impressões-,
• supressão de impressões.
Na / ecobertura de impressões, em que os textos impressos, median­
te o uso de um tipo de papel carbono, cujo corante, destacável, é de cor
branca, ou de fita destinada a esse fim, uma impressão pode ser facilmente
recoberta, ficando, por isso, oculta.
Na maioria das vezes a recobertura, todavia, não passa de mera corre­
ção, o que é fácil se verificar com a simples leitura do texto.
Entretanto, quando todo um vocábulo for recoberto e outro diverso
for registrado, o uso de um gabarito, para verificar os desalinhamentos
datilográficos, pode esclarecer a questão. Assim, se não houver desalinha-
mento, porque o papel não foi retirado da máquina, tudo indica que a
recobertura não passa de mera correção. Se, porém, forem encontrados
desalinhamentos, então a alteração pode assumir aspecto de fraude.
A recobertura é visível na observação comum e facilmente revelada
com utilização dos raios ultravioleta.
Com relação à supressão de impressões-, a datilografia, com uso de
itas de polietileno carbonadas, permite a retirada do tipo impresso sem
oferecer danos à integridade física do suporte. Para isso, tanto pode ser
usado um tipo de borracha, destinada à limpeza dos datilotipos, como
ma lta adesiva. Esta última tem a desvantagem de provocar o levanta­
mento das fibras do papel, denunciando a operação.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
174

O tipo removido, todavia, com aplicação de iluminação rasante, pode


ser lido facilmente, pois ficam gravados no papel, em baixo relevo, os seus
contornos.
• Acréscimos datilográficos feito s com uso de gelatina: o avanço
tecnológico, na área do armazenamento de dados e na da repro­
dução de documentos, é uma arma de dois gumes: de um lado,
provocou o abandono de algumas práticas fraudulentas, de outro,
deu aos falsários meios mais sofisticados para a realização de sua
ação criminosa.
Assim, as fraudes ontem feitas com o uso da gelatina copiativa, em
setores contábeis de escritórios e bancos, caíram no esquecimento.
Todavia, nem por isso os técnicos documentoscópicos podem desco­
nhecê-la, pois, em empresas de pequeno porte, onde a contabilidade não
for computadorizada, ocasionalmente esse processo copiativo pode ser
levado a efeito.
A gelatina é obtida de proteínas existentes nos ossos e tecidos fibro­
sos dos animais, que formam com a água géis, ou seja, um sistema coloidal
constituído por um a fase líquida e outra sólida, que tem a propriedade de
manutenção de formas, semelhantes a dos sólidos.
Para o fim comercial, é ela submetida a um tratam ento especial para
obtenção de cópias de várias cores.
Para obtenção de cópia com em prego da gelatina, o p rocedim en­
to é o seguinte: prepara-se um a m atriz, datilografada com cópia u ti­
lizando-se papel carbono copiativo. A segunda via dessa datilografia
é pressionada contra um a placa de gelatina, transferindo para ela o
texto.
Essa placa de gelatina será a segunda matriz. Pressionada contra o
livro mercantil, transferirá para ele o texto do documento.
O m odus operandi para a realização da fraude é o seguinte: um fun­
cionário desonesto da empresa recebe a quantia de R$3.420,00 para pagar
um imposto. Preenche um guia de depósito nesse valor. A seguir, faz outra
guia no valor de R$420,00. Vai ao banco e realiza o pagamento com esta
segunda guia e recebe a autenticação de caixa. Na mesma ocasião, depo­
sita em sua conta corrente pessoal R$3.000,00 recebendo o comprovante
do depósito.
De volta para o escritório, passa para a gelatina o comprovante do
primeiro depósito. Do segundo depósito recorta o algarismo três passan-
C apítulo XV - A A rte de I mprimir
175

do para gelatina adulterando o depósito original. Ao final, copia a gelatina


adulterada para o livro, ficando registrado o valor de R$3.420,00. Nessa
operação ele embolsou R$3.000,00.
Esta fraude é de falsário principiante, ingênuo e tolo, pois a reparti­
ção a que o imposto foi pago irá reclamar, pois ele foi a m enor e, com isso,
não só denunciará a fraude, como indicará o seu autor.
Sob o ponto de vista técnico, a comprovação da fraude não oferece
a m enor dificuldade, pois a quebra dos espaçamentos internumerais e os
desalinhamentos verticais ou horizontais, constatados com a aplicação de
um gabarito, comprovará o acréscimo.

2.2.6. Leitura da fita datilografada


A leitura através da fita de máquina de escrever do tipo convencional,
se estiver muito usada, é impraticável.
Dois fatores concorrem para isso:
as fitas são cintas de tecido sintético que recebem uma camada de
corante. Ao imprimir o tipo, o corante sofre apenas um a descarga,
ou seja, não se destaca completamente;
as fitas correm de um carretei para outro e, depois, retornam para
aquele. Com isso, os textos se sobrepõem, caindo sobre sítios an­
teriorm ente batidos pelos datilotipos.
A fita nova, que tenha sido usada uma só vez, isto é, que não tenha
retornado para o carretei de origem, torna a leitura possível.
Nas fitas de m áquinas elétricas, IBM ou Olivetti, entretanto, como
a fita sai de uma bobina para outra e não retorna, a leitura p o d e ser
feita.
As fitas das máquinas elétricas são feitas de polietileno e têm uma das
faces, a que fica voltada para o papel, recoberta por um corante que, ao
ser batido pelo tipo, se destaca completamente e fica aderido ao suporte.
Nessas condições, na cinta fica o contorno do tipo, em branco.
Nas máquinas Olivetti, os tipos se alinham no centro da fita, não fi­
cando espaços mecânicos livres entre as palavras, portanto todo texto fica
sequencial, pois o acionamento do espaçador não movimenta a fita, con­
forme dem onstra a gravura a seguir.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
176

livicaicilop OLIVETTI

Figura 4 - Leitura da fita de máquina Olivetti das palavras Polícia Civil .

Nas máquinas IBM outra é a situação. As fitas são mais largas do que
as da Olivetti e os tipos são batidos, alternadamente, em tres faixas da fita
- junto à base, no centro e na parte superior.
Ao se datilografar, a esfera caminha um a casa e o dispositivo da fita
sobe de nível. Assim, na sucessão das batidas, a esfera registra os tipos em
três níveis diferentes; o registro pode se dar:
• na faixa da base da escrita;
• na faixa central da fita;
• na faixa superior da fita.
Na primeira situação, feito o registro, ao se acionar a segunda tecla, o
mecanismo da esfera se posiciona de sorte a imprimir no centro da fita e
esta recua um espaço mecânico. No terceiro registro, da-se novo recuo e
ele feito pela elevação da esfera, na faixa superior da fita. Prosseguindo
quarto registro ficará na base da fita e tudo volta a ocorrer como fo. descri-
% para as duas situações anteriores. Após cada recuo, a fita se movimenta
em um a casa da esquerda para a direita.
Assim, os tipos são dispostos em três níveis diferentes, mas eles não
formam colunas verticais como na datilografia feita com as maquinas tradi-
cionais, pois ficam elas ligeiramente inclinadas para a esquerda.
Em razão disso, a leitura é feita da direita para a esquerda em zigue-
zague, como apontado na gravura.

leitura
POLICIA CIVIL - IBM C 6 C «' o , 2

L ’2 I9 I*, L9 V " A -1 T 4 *
i v i \

i C 5 ! O2

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L>* 19 2> L*
Figura 5 - Leitura da fita de máquina IBM.
C apítulo XV - A Arte de I mprimir 177

Para realizar a leitura, a fita deve ser tirada aos poucos do cartu­
cho, com cautela, a fim de evitar o seu atrito contra as suas paredes,
pois isto provocaria a rem oção do m aterial corante, o que dificultaria
o exame.
O trecho retirado deve ser colocado num dispositivo para observação
p o r transparência ou sobre um fiando branco.
A leitura, feita da direita para a esquerda, será facilitada com a locali­
zação de um ponto. Este sinal indica, à esquerda, o fim de um período e,
à direita, início do subsequente.
A leitura tanto pode ser direta, registrando-se os trechos lidos, como
pela transcrição de todos os caracteres, separando-se as palavras, para,
posteriorm ente, tudo ser passado a limpo.
2.2.7. Máquinas de escrever elétricas
No início da década de 60, a IBM passou a desenvolver a máquina
elétrica de escrever.
A nova máquina de escrever tem como diferença principal das con­
vencionais, além de ser acionada por corrente elétrica alternada, o fato
de seu carro perm anecer parado, enquanto o dispositivo de impressão se
movimenta ao longo da linha, a cada toque do teclado.
O elem ento de impressão dos tipos é uma esfera pequena, contendo
44 caracteres minúsculos e outro tanto de maiúsculos, além de sinais de
pontuação e de acentos.
As máquinas de elem ento único, ou seja, de esfera, com um ente
chamada de bola de golfe, têm a vantagem de seus tipos poderem ser
m udados rapidam ente, pela substituição da esfera. Além disso, evitam o
desalinham ento dos caracteres, o que ocorre nas máquinas convencio­
nais quando da colisão das barras que sustentam os tipos com o rolo da
máquina.
Os caracteres, nos modelos de plástico niquelado, formam um total
de vinte e duas colunas verticais, com quatro sinais em cada uma.
Para se datilografar, acionando o teclado, a esfera gira, oferecendo o
tipo correspondente para o suporte, e depois se inclina, para atingir a fita
e provocar a impressão.
Um delgado fio de metal provoca a rotação transmitida pelo mecanis­
mo correspondente, enquanto a inclinação é feita por um a fita.
O mecanismo de rotação é acionado por um conjunto de cames. O
controle do movimento é transmitido à cabeça de cada tipo p o r um con­
junto de alavancas e travas.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
178

Ao se pressionar um a tecla, ela aciona o mecanismo que estabe­


lece a correta combinação de travas e alavancas, que determ inarão os
movimentos de rotação e de inclinação correspondentes ao sinal a ser
impresso.
O movimento do elem ento diante da linha de escrita é proporciona­
do por um conjunto transportado que corre ao longo de um eixo - eixo
de impressão —à frente do cilindro de borracha. O transportador é en­
volvido por um a bainha dotada de um conjunto de carnes e uma cavilha
metálica. A cavilha se adapta à ranhura, fazendo com que a bainha e seus
carnes girem com o eixo.
Os carnes da bainha são responsáveis pelo movimento que dirige,
fazendo a cabeça do tipo contra o papel operar um sistema de linguetas
que mantém a cabeça em posição correta para acionar os mecanismos da
fita de impressão.
Um m otor aciona o eixo de impressão por meio de um sistema de
embreagens, operado pela tecla.
Impresso o sinal, o transportador se move ao longo do eixo até a pró­
xima posição de impressão. Esse movimento é fornecido por uma mola,
que se enrola quando o transportador volta à esquerda, para iniciar nova
linha.
Na maioria das máquinas, essa mola faz girar um tam bor em que se
enrola um cordão de nylon, preso ao transportador.
O deslocamento do transportador é controlado por um sistema de
linguetas, que se encaixam numa cremalheira, colocada paralelamente e
abaixo do cilindro de borracha.
Com o passar do tempo, novos aperfeiçoamentos foram introduzidos
nas máquinas de escrever elétricas. Foram elas equipadas com um dispo­
sitivo de memória, para a feitura de rascunhos que, em seguida, com os
dados armazenados, possam imprimir o docum ento final.
O operador, nesses tipos de máquinas, pode armazenar as palavras
em um sistema de fita ou de cartão, para fazer as necessárias correções, se
desejar. Feita a correção, a máquina datilografa o docum ento final, numa
velocidade de 150 palavras por minuto.
Existem, ainda, modelos mais sofisticados, que podem ser usados na
produção de placas litográficas destinadas às gráficas.
Só resta registrar que as máquinas elétricas IBM operam com fitas de
polietileno, em três planos diferentes, não retornando, após seu término,
como nas máquinas convencionais, para nova datilografação.
C apítulo XV —A Arte de I mprimir
179

2 .3 . F le x o g ra fia

A diferença entre a tipografia e &flexografia reside no fato de que


naquela a matriz é de metal e nesta de borracha.
A matriz flexográfíca, de borracha, tem seus tipos em relevo e é afixa­
da numa placa de madeira, para uso em escritórios e repartições públicas.
Depois de entintada, mediante pressão contra uma almofada embebida
de tinta, ela é manualmente pressionada sobre o papel, produzindo a im­
pressão.
A flexografia, como arte gráfica, foi introduzida no Brasil exclusiva­
mente para impressão de papel de embrulho.
No início, os clichês eram feitos à mão, numa lâmina de borracha,
depois fixada num cilindro de ferro niquelado. A tinta usada era anílica.
Por essa razão, o processo era conhecido como impressão de clichê de
anilina.
Surgindo no mercado a baquelita, que podia ser fundida em fornos,
os clichês de borracha passaram a ser mais bem preparados, utilizando-se,
na sua imagem, fios finos, retículas finas e, com isso, se podia obter im­
pressões mais nítidas, sobretudo nas embalagens flexíveis.
O processo de flexografia, todavia, é muito dispendioso. Para a con­
fecção do clichê de borracha, é preciso, primeiro, a gravação de um clichê
de zinco, com paredes o mais reto possível, para fundir a baquelita. Na
matriz de baquelita, funde-se a borracha crua, que vai ocupar o espaço
vazio e, assim, finalmente, a matriz flexográfíca está pronta.
Atualmente, o suporte usado é de borracha vulcanizada, partindo de
um clichê tipográfico.
Na documentoscopia, o que interessa é o exame fac-similar da im­
pressão de carimbos.
A primeira verificação que se faz diz respeito ao tempo de uso do
carimbo, partindo da estrutura dos seus tipos. Nos carimbos de pouco
uso, todos os caracteres se encontram com os seus contornos nítidos, sem
sujeira nos vazados, as vinhetas com as linhas bem retas.
Nas impressões com carimbos já muito usados, ocorre, com sua bati­
da constante contra o suporte, ficarem sinuosas as linhas retas, os caracte­
res rachados, mais grossos, e os vazados cheios de poeira depositada.
Deve-se levar em conta o desenho e o tamanho da impressão como
um todo, se existe ou não vinheta, bem como a forma e o calibre dos tipos
que compõem as palavras impressas.
180 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

O utra verificação indispensável é da form a do texto im presso,


se é retangular, circular, ovalado, bem com o a disposição dos vários
registros.
Na coleta dos fac-símiles de comparação, deve-se colher várias im­
pressões, pressionando pouco o carimbo sobre o papel, não o entintando
em demasia para não borrar e, depois, batendo normalmente o carimbo
contra o suporte.

3. M atrizes de B ak o R elevo ( escavografia)

No processo de baixo relevo, contrariamente ao anterior, os motivos


impressos é que são rebaixados em profundidades graduadas. As partes
que não serão impressas constituem uma superfície lisa, ficando em nível
superior.
A tinta utilizada, em lugar de ser pastosa, como a do processo ante­
rior, é líquida.
Depois de entintada a chapa, por um processo mecânico, p or meio
de facas especiais, a tinta é retirada da superfície polida.
Na impressão, a tinta é retirada dos cavados e depositada no suporte.
São impressões de baixo relevo:
• gravura;
• timbrado;
• calcografia;
• fotogravura.
Será tratada com maior ênfase a calcografia ou talho-doce.
O sistema de gravura é utilizado para a reprodução de obras de arte
em razão do relevo que confere aos motivos impressos, a par da nitidez da
própria impressão e, finalmente, por não estar esse processo ao alcance
dos falsários.
O processo de gravura nasceu como fruto do avanço natural de um
processo de conservação de desenhos, que era usado por armeiros, ou­
rives e relojoeiros. Os dizeres e os desenhos que eram introduzidos nas
armas, nas jóias e nos relógios eram feitos por gravação, não só para difi­
cultar a sua contrafação como também para dar aos motivos um a grande
duração.
A criação do processo se deve a M aso F iniguerra , ourives e escultor de
Florença, na Itália, no ano de 1452.
C apítulo XV - A Arte de Imprimir 181

Com o surgim ento da im prensa, esse processo passou a ser usa­


do para a confecção de matrizes, sobretudo das partituras musicais.
Posteriorm ente, o seu uso, com o aperfeiçoam ento do processo, se
generalizou.
Terminada a Guerra Civil nos Estados Unidos, o governo federal de­
terminou a padronização do meio circulante no país e convidou o grava­
d o r P aul R evere, famoso na época, para preparar o papel da moeda, que
seria o padrão dollar.
Revere, baseado na técnica da gravura em baixo relevo, criado por
criou a impressão a talho-doce ou calcografia.
M aso F ineguerra ,
Essa técnica passou a ser um elem ento de segurança para a impres­
são de dinheiro em papel em todo o m undo e de outros documentos de
grande importância.
3.1. Feitura da matriz
Em princípio, a matriz é constituída por uma placa de aço doce, na
qual o artífice, retirando material com um buril, grava os motivos a serem
impressos, que ficam em baixo relevo.
Feita a gravação, a placa é temperada. A seguir, outras placas de aço
doce são prensadas contra a primeira chapa, recebendo, por transferên­
cia, seus motivos, que ficam, assim, em alto relevo. São feitas tantas placas
quantas forem necessárias para imprimir uma folha de papel em toda a
sua extensão.
Todas essas placas, depois de temperadas, são dispostas para ocupar
as dimensões do papel onde será feita a impressão.
Depois de assim dispostas, um cilindro de aço doce, sob forte pres­
são, passa sobre elas, recebendo os motivos em alto relevo das placas,
ficando, assim, nela, em baixo relevo.
Temperado o cilindro, ele vem a ser a matriz para a impressão.
A tinta a ser usada é especial, pastosa, que será depositada pelo cilin­
dro no papel, aquecida a cento e dez graus centígrados, sob um a pressão
de quarenta toneladas por centímetro quadrado.
A camada de tinta, que ficará na superfície do cilindro e que não será
impressa, é limpa mecanicamente.
Depositada no papel, a tinta cria uma crista, em prestando relevo à
impressão, com traços de alturas e espessuras diferentes, conforme as gra­
vações sejam mais profundas ou largas.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
182

Outra característica da tinta é a de secar apenas na periferia da crista,


perm anecendo úm ido o seu interior, pouco im portando quanto tem po se
passará após a impressão.

Cilindro em aço doce;

gravação em baixo relevo 0 = 3


Chapa em alto relevo
temperado: é a matriz

1 - entintador

2, 3 - cilindros limpadores

4 - cilindro porta-matriz

Figura 6 - Esquema da feitura da matriz calcográfica e do sistema de impressão.

A impressão a talho-doce permite completa nitidez dos motivos, re­


gistrando os detalhes, por menores que sejam.
No Brasil, os primeiros gravadores, logo aproveitados pela Casa da
Moeda do Brasil, foram D ias de O liveira e V iegas de M enezes .
A máquina utilizada pela Casa da Moeda é denom inada intagliocolor
e permite impressão em até seis cores, em passagens distintas.

4. M a trizes P lanas ( P lanografia )


No processo de impressão plana, todas as partes da superfície da cha­
pa, a serem impressas ou não, ficam no mesmo plano.
Os principais processos de impressão plana são:
• litografia;
• off-set-,
• matrizes de cópia direta;
• matrizes fotográficas direta e indireta; e
• eletrografia.
C apítulo XV - A A rte de I mprimir 183

4 .1 . L ito g ra fia
A descoberta da litografia se deve a A loys S enefelder , que, na Baviera,
em 1793, com um a tinta espessa, copiou, num a folha de papel, um texto.
Para evitar que o vento carregasse a folha, enquanto a tinta secava, cobriu-a
com uma placa de pedra. Os dizeres escritos na folha se transferiram para
a pedra e de maneira indelével.
Ocorrera uma reação química entre a tinta e o carbonato de cálcio,
que constituía o material da pedra.
Estava descoberto o processo da litografia (lithos - pedra; e graphé -
escrita, no grego).
Deste processo surgiram outros mais tarde.
4 .2 . O ff-set
O sistema off-set de impressão surgiu na Alemanha, em 1880. Uma
gráfica recebeu a encom enda para imprimir o nome da firma em telhas de
folhas de flandres.
Naquela época, o único processo de impressão disponível era o tipo­
gráfico. Ele não poderia ser usado, porquanto as telhas não eram planas,
mas onduladas.
O dono da gráfica, cujo nome é desconhecido, inventou um processo
de impressão indireta: fez uma matriz em alto relevo. Os motivos criados
eram entintados e transferidos para um rolo de borracha e este os passava
para a telha.
Posteriormente, o processo sofreu várias modificações e aperfeiçoa­
mentos nos Estados Unidos, aparecendo, então, as máquinas de off-set em
cores e simultâneo.
A impressão off-set é, pois, plana e indireta, como mostra o esquema
adiante.
As partes da matriz não impressionadas pela luz na feitura repelem a
tinta, não imprimindo - OFF - e as que foram sensibilizadas são as que vão
imprimir - SET (origem do termo).

Cilindro porta-matriz Cilindro transferidor


em alto relevo

Papel C

Figura 7 - 0 processo.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
184

Na impressão off-set, de fotografias, os negativos em branco e preto,


oriundos da seleção de cores, são transportados em slides positivos, já
com uma retícula aplicada durante o processo.
Para cada cor fundamental, há um tipo correspondente de retícula:
75° para o vermelho, 90° para o amarelo, 105° para o azul e 45° para o
preto. Mediante esses recursos, obtém-se uma quadricromia completa. As
transparências obtidas são denominadas fotolitos.
Quando se trata de textos, eles são fotografados diretam ente em filme
diapositivo. O texto pode, também, ser impresso diretamente numa folha
de celofane.
Preparadas as transparências e montadas no diagram a, faz-se a pre­
paração da chapa de alumínio, que irá constituir a matriz impressora.
O primeiro cuidado é o dagranulação da chapa. Para isso, é ela colocada
numa bacia rotatória e ondulante, contendo água, areia e bolinhas de aço.
A movimentação da bacia, com o rolar e o choque das esferas de aço
contra a superfície da placa, criam nela asperezas, formando diminutas
cavidades. Essas cavidades têm a função de aum entar o poder de retenção
da superfície da placa.
A operação seguinte é a de polimento da placa para receber a camada
fotossensível. Esta última é constituída por um a solução de goma arábica
ou de álcool polivinílico com 5% de dicromato de amônio ou potássio.
Pronta a placa, bem como o diagrama com as transparências, tudo é ex­
posto a uma fonte luminosa. Como resultado, a camada fotossensível se
endurece nas partes transparentes do diagrama, ficando as demais solú­
veis. A placa é então revelada.
A gelatina não endurecida é lavada, descobrindo a superfície de me­
tal. Serão estas partes que darão a impressão. A gelatina endurecida é reti­
rada com água quente e um a escova.
Para terminar a placa impressora, é ela dessensibilizada nas regiões
que não serão impressas. A chapa está pronta.
Colocada na máquina, os motivos entintados da placa passam para
um rolo de borracha e este os transfere para o papel.
Existe interesse em que o examinador de docum entos conheça e re­
conheça esse processo, porquanto é ele usado para a impressão do fúndo
de segurança e dos registros de superposição de nosso papel-moeda.

4.3- Eletrografia
Existe outro processo do tipo off-set, muito mais simples do que o
tradicional - é a cópia eletrostática ou eletrografia.
C apítulo XV - A Arte de I mprimir
385

Nesse processo, o fotolito é substituído p o r um sten cil eletrostático.


O funcionamento da máquina lembra muito as copiadoras do tipo
xerox : o docum ento a ser impresso e duplicado é colocado na parte supe­
rior, numa placa de vidro.
Abaixo, numa bandeja, é colocado o stencil.
Fechada a gaveta da bandeja, a máquina é ligada.
Um sistema de iluminação se desloca, longitudinalmente, da direita
para a esquerda, para fazer a leitura ótica do texto.
Concluída essa etapa, a máquina desliga e a matriz está quase pronta.
A matriz, embora já impressa, não deve ser tocada, para não manchar
ou apagar o texto.
A seguir, o stencil é colocado num dispositivo acoplado à máquina,
onde, exposto à luz, os dizeres impressos são fixados.
A matriz está pronta para ser colocada na máquina impressora.
O reservatório de tinta umedece um rolo de borracha e este entinta
a matriz que, por sua vez, ttansfere os motivos a serem impressos a outro
rolo de borracha e este os repassa para o papel.
4.4. Xerografia
A reprodução de docum entos por xerografia é um processo hoje ge­
neralizado em todo o mundo. Por essa razão, seria interessante falar-se
sobre esse m oderno e revolucionário meio de copiação.
Até 1930, a duplicação de documentos só era possível pelo processo
de retrofotografia ou fo to stá tic o . Era um processo primário de fotogra­
fia, pelo simples contato da peça a ser copiada com uma folha de papel
revestida por uma camada fotossensível. Expostos ambos à luz, o papel
fotográfico revelado era convertido num negativo. Seco o negativo, era
ele novamente justaposto a outra folha de papel fotostático virgem e no­
vamente sensibilizado pela luz. A operação final era a revelação da folha,
obtendo-se, assim, um positivo.
O processo, além de dem orado, oferecia resultados pouco satisfa­
tórios.
A partir dessa época, um advogado revolucionou o processo da dupli­
cação de documentos de forma mais exata e, sobretudo, mais rápida.
Nos Estados Unidos, Chester Carlson inventou a eletrofotografiu.
Ele utilizou uma lâmina de metal recoberta com enxofre que, ao ser
friccionada com uma pele de animal de pelos macios, ficava carregada de
eletricidade estática.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
186

Carregada a lâmina, era ela exposta à luz refletida da imagem do do­


cum ento original, perdendo, em razão disso, nas partes impressionadas,
parte da carga eletrostática.
Após essa operação, a lâmina era revestida por uma camada de uma subs­
tância vegetal pulverizada, chamada licopódio. Essa camada aderia às partes
carregadas de eletricidade estática, formando assim, a imagem do original.
Prensada a chapa sobre uma folha de papel a imagem era para esta
transferida. Era a sua cópia exata.
Embora C arlson tivesse descoberto um processo revolucionário e rá­
pido para a duplicação de documentos, por falta de meios, durante muito
tempo, não pôde ser comercializado.
Em 1936, finalmente, conseguiu patrocínio para continuar em suas
pesquisas de uma pequena companhia de fotografia - Harold - e do Insti­
tuto de Pesquisa Batelle.
A sua técnica foi então aperfeiçoada e batizada com o nome de xero-
grafia (xeros, do grego seco egrapben, escrever).
Pouco tem po depois, muitas empresas passaram a fabricar máquinas
de xerografar, entre as quais a Xerox, a.Nashua e outras, todas partindo do
mesmo princípio, mas com técnicas diferentes.
As máquinas de xerografia atuais, em princípio, admitindo-se varia­
ções de marca para marca, consistem num cilindro de alumínio, revestido,
externamente, de óxido de alumínio. Este, por ser isolante, evita que des­
cargas elétricas possam ocorrer.
Sobre a camada de óxido de alumínio, existe um a cobertura de se-
lênio, um elem ento que conduz eletricidade quando excitado p or uma
fonte luminosa.
Essas duas camadas permitem a retenção, por tem po indefinido, de
um a carga eletrostática na superfície do cilindro e carregada de eletrici­
dade estática. Para tanto, é usado um fio metálico sem qualquer isolante,
chamado corotron, que é submetido a uma corrente elétrica de alta volta­
gem positiva.
Girando sobre o corotron, o cilindro é carregado.
O docum ento a ser copiado é exposto a um iluminante. Sua imagem
se projeta sobre o cilindro por um jogo de lentes e de espelhos, gerando
uma imagem virtual, isto é, invertida.
A luz refletida pelas partes não impressas do documento, ou seja, que
se encontram em branco, descarrega a carga eletrostática da superfície do
cilindro nas áreas atingidas.
C apítulo XV - A A kte de I mprimir
187

As partes impressas do docum ento não modificam a superfície do


cilindro, ficando ela ainda carregada.
Nessas condições, a superfície do cilindro reproduz o docum ento
apenas na parte invisível, que consiste num a união de pontos descarrega­
dos e carregados de eletricidade.
A seguir vem a revelação da imagem virtual.
A revelação se processa com o uso de um revelador seco - daí a ex­
pressão xerox. O revelador é constituído por dois pós, um chamado trans­
p o rtador e o outro tonalizador. O primeiro é formado por diminutas
esferas de vidro, de metal ou de areia, com diâmetro de 0,25mm. São
revestidas de material plástico. O segundo é de cor preta, constituído por
minúsculas partículas compostas por uma resina termoplástica e grafite.
Esses materiais, quando friccionados, são eletrolisados: o transporta­
dor adquire carga positiva e o tonalizador fica com carga negativa.
Nessas condições, as partículas positivas do primeiro são recobertas
p or uma camada de partículas negativas do segundo.
Q uando o revelador é derramado sobre o cilindro, as bolinhas do
transportador, recobertas pelo tonalizador, rolam sobre a sua superfície.
A imagem latente, na superfície do cilindro, é constituída de carga
eletrostática positiva maior do que o transportador, e o tonalizador adere
ao cilindro naqueles sítios, tornando a imagem visível, que corresponde
ao original.
A imagem assim obtida é transferida num a operação a uma folha de
papel, copiando o docum ento original.
Nesse novo estágio, o corotron é usado novamente, para que o pó
tonalizador seja transferido para o papel e a descarga se faça quando o
cilindro for comprimido contra a folha de papel.
Na fase da fusão, o papel é comprimido contra o cilindro sob a ação
de aquecedores ou por rolos aquecidos. O aquecimento tem p or finalida­
de derreter a resina termoplástica do tonalizador, provocando a sua fusão
com as fibras do papel. A cópia está feita.
Logo após a feitura da cópia, tem início a operação de limpeza no cilin­
dro do pó remanescente do tonalizador, para prepará-lo para nova cópia.
Por meio de outro corotron, com corrente de carga negativa, é anu­
lado o restante da carga positiva, facilitando, ainda, a remoção do pó to­
nalizador.
Uma escova, semelhante às dos dínamos, varre toda a superfície do
cilindro.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
188

A seguir, é ele exposto à luz para que a parte restante da carga positiva
seja anulada.
Com isso a máquina está pronta para fazer nova cópia. Tal foi a evolu­
ção das máquinas xerográficas que hoje já são possíveis cópias em cores.
A velocidade do processo também foi acelerada, podendo-se tirar até
duas cópias por segundo.

5. M a t r iz e s V azadas ( P e r m eo g r afia )

A impressão com matrizes vazadas é o que comumente se conhece por


silk-screen, ou seja, serigrafia. A expressão provém do grego serykin - seda.
Rapidamente será exposto o processo profissional de serigrafia, usado
para inscrever dizeres em ampolas de injeção ou outros vidros em geral.
Estica-se uma tela de nylon num quadro de madeira, grampeando-se
bem para mantê-la esticada.
Lixa-se um quadro de ferro para que a cola tenha aderência. Passa-se
cola nesse quadro e, em seguida, ele é colado no nylon. Deixa-se secar por
mais ou menos oito horas.
Secada a cola nas laterais, passa-se para o processo fotográfico.
Os quadros a serem fotografados devem ser bem lavados com deter­
gente neutro e postos a secar numa estufa.
Seco o quadro, sobre ele, num a câmara escura, é passada um a cama­
da de emulsão fotossensível, voltando para a estufa.
Após ter secado a tela, é ela colocada sobre um fotolito e, então, ex­
posta à luz. Após cinco minutos de exposição, a tela está fotografada.
A seguir, vem o processo de revelação. Tira-se a tela do fotolito e lava-
se com água morna. Já começam a ser visualizados os motivos a serem
impressos.
Retoca-se, então, a tela e, em seguida, leva-se para a estufa. Depois,
é presa pelas bordas no quadro e a matriz está pronta para entrar na má­
quina impressora.

6. Os C om putado res
Em 1879, nos Estados Unidos, foi posta no mercado a primeira má­
quina de escrever - a Remington n° 1.
A sua utilização logo se generalizou e os escribas e os amanuenses
foram relegados a segundo plano.
C apítulo XV - A A rte de I mprimir
189

Mas, na verdade, está comprovado que a máquina mecânica de escre­


ver é invenção brasileira. Foi o padre F rancisco J oão Azevedo, em Pernam­
buco, o seu inventor.
Em 1862, foi realizada a Exposição Geral do Império no Brasil e o pa­
dre Azevedo, pela sua invenção, recebeu medalha de ouro de D. P edro II.
Nesse mesmo ano, em Londres, ocorreu uma exposição mundial e
a máquina de escrever foi para lá enviada, mas, segundo os responsáveis
pela exposição, não foi exposta por falta de espaço.
O professor J osé Carlos de Ataliba N ogueira, do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, na sua obra A m áquina de escrever, invento bra­
sileiro, publicada em 1962, garante que a Remington n. 1 é cópia, com
alguns aperfeiçoamentos, da máquina do padre Azevedo.
O aparecimento dos computadores acoplados com um impresso,
como a máquina de escrever, teve seu uso generalizado, pondo, até certo
ponto, no esquecimento, as máquinas de escrever.
Há quem diga, hoje, que quem não possui um microcom putador é
analfabeto.
É presumível que também possa ocorrer falsificações de textos feitos
p or impressoras e, em razão disso, se abre, na documentoscopia, um novo
capítulo.
Em razão disso, ainda que sem maior profundidade, esse novo tipo
de fraude será passado em revista.
Para tanto, de forma sumária, será exposto o funcionamento dos mi­
crocomputadores, os vários tipos de impressoras e, por fim, a diferencia­
ção entre os vários tipos de impressão e os indícios que poderão determi­
nar a existência de fraude.

6 .1 . 0 fu n c io n a m e n to d o s c o m p u ta d o re s p a r a a im p re s s ã o d e te x to s e
g rá fic o s

As impressoras, conjugadas a microcomputadores, seja do tipo ma­


tricial, a jato de tinta, a laser ou térmica em cores, todas elas, em bora fun­
cionem de forma diversa, possuem um ponto comum: criam uma série de
pontos que configuram os caracteres.
Os pontos criados podem ser dimensionados de várias formas no seu
conjunto, apenas são transferidos para o papel dos processos distintos.
Assim sendo, seja qual for o tipo da impressora, as imagens, de texto
ou de gráfico, são realizadas p or uma série de pontos e, quanto m enor for
() seu número, tanto melhor é a impressão.
190 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Para que se faça a impressão, é indispensável que exista um esquema


para a determinação da posição dos pontos.
Dois são os esquemas mais comuns:
• as fontes bitman-,
• as fontes vetoriais.
As fontes bitmam vêm em tamanho e espessura diferentes, e as veto­
riais podem dar qualquer tamanho e atributos variados.
As imagens bitman limitam-se à impressão de textos, pois, para criar
um gráfico, sem programa, é necessário enviar instruções que a impres­
sora possa entender. As vetoriais usam uma linguagem de descrição de
página que tudo gerencia, tanto texto como imagens gráficas.
As fontes bitman são de um determ inado tipo, com certos atributos,
como negrito e itálico.
A maioria das impressoras traz duas fontes bitman - Corrier e Line
Printer - com características normais e negrito na memória perm anente
(ROM). Outras, entretanto, possuem memória de acesso aleatório (RAM),
para a qual o com putador pode reunir fonte bitman e outras mais.
Para se realizar a impressão, deve ser dado um comando de impres­
são, através do sistema operacional ou, então, por um programa, a fim de
que o com putador informe qual das tabelas bitman, existentes na memó­
ria, deve ser usado.
Isto feito, para cada registro, o com putador envia um código, ou seja,
um conjunto de números hexadecimais constantes da tabela.
Para os demais componentes, a impressora usa o bitman para que
possa ser reproduzido no papel, sendo que o com putador envia à impres­
sora os registros um por um.
Diversamente, as vetoriais não estão limitadas a tamanhos determina­
dos e nem a atributos.
Elas consistem na descrição matemática de cada registro.
Impressoras existem que têm um conjunto de linguagem gráfica, de
programa inserido em um microchip.
A linguagem traduz o m undo das fontes vetoriais e instrui para que a
impressora gerencie onde irá colocar os pontos no papel.
Quando a impressora não tiver a linguagem embutida, o programa
traduz os comandos dela na impressora em instruções necessárias a ela.
Ao se enviar um comando de impressão, o aplicativo manda um a sé­
rie de comandos de descrição de página por meio de um conjunto de
C apítuio XV - A Arte de I mprimir
191

fórmulas matemáticas ou algoritmos. Eles descrevem linhas ou arcos que


irão conformar os caracteres da face dos tipos. Se o tipo for p or demais
grande ou pequeno, os algoritmos fazem as modificações necessárias.
Os comandos possuem formas variadas, para alterar tanto o tamanho
como os atributos.
A linguagem de descrição, em lugar de enviar comandos individuais,
manda à impressora instruções para imprimir a página integralmente. As­
sim, a página nada mais é do que uma grande imagem gráfica, a que se
pode inserir texto, pois este recebe o mesmo tratamento da parte gráfica.
6.2, Os v á rio s p ro c e s s o s d e im p re s s ã o
Três são os tipos de impressoras:
• matricial;
• a jato de tinta;
• a laser.
Todos os três tipos de impressão funcionam, por meios diferentes,
de maneira analoga: criam uma série de pontos no papel que configuram
caracteres ou gráficos.
6.2.1. A impressão matricial
Vejamos como se processa a impressão matricial.
O m icrocomputador manda um a série de códigos que representam
caracteres, sinais de pontuação, assentos tônicos e de movimentos da im­
pressora, como, por exemplo, a tabulação, o avanço do formulário, o re­
torno do carro, movimentos estes que controlam a posição da cabeça do
pino de impressão em relação ao formulário.
Esses códigos se encontram armazenados no buffer, que constitui uma
parte especial da memória de acesso aleatório - RAM - da impressora.
Como o tem po de impressão dos caracteres é maior do que o do
com putador e o programa enviado, o buffer auxilia o com putador para
realizar outras funções durante a impressão.
O buffer interno da impressora matricial tem a capacidade de armaze­
nar apenas de 7KB a 8KB. Q uando atingida a capacidade de armazenamen­
to no buffer, a impressora envia ao com putador o código XOFF, fazendo,
com isso, que o envio de dados seja suspenso.
Ao liberar espaço, o buffer envia alguns caracteres ao seu processa­
dor, a impressora envia o código de controle XON para o computador, e
libera, dessa forma, o envio de dados.
D ocumentoscopia - Lamartini; M endes
192

Entre os citados códigos, existe um comando que manda a impresso­


ra usar determinada tabela bitm an e de uma fonte, fonte esta situada nos
chips ROM (memória perm anente) da impressora.
Essa tabela informa o modelo de pontos que a impressora deverá usar
para produzir os caracteres representados pelo código ASCII.
O processador da impressora, ao receber a informação da tabela
bitm an, constituída por um a linha inteira de tipos, calcula a maneira mais
eficaz que a cabeça do pino de impressão deve realizar.
Em algumas ocasiões, as linhas precisam ser impressas da direita para
a esquerda.
O processador envia o sinal que aciona os pinos da cabeça de impres­
são e, ao mesmo tempo, controla os movimentos da cabeça de impressão
e do cilindro.
Os sinais elétricos do processador são amplificados e correm p or al­
guns dos circuitos que levam à cabeça de impressão.
A cabeça de impressão pode possuir de nove a vinte e quatro agulhas
ou pinos de impressão, que se encontram alinhados verticalmente.
A extremidade de cada pino de impressão se encontra ligada a um só
solenóide ou eletromagneto.
A corrente enviada pelo processador vai ativar o solenóide e, com
isso, o magneto situado na extremidade do pino o movimenta em direção
ao papel.
O pino, então, atinge a fita recoberta de tinta. O impacto do pino con­
tra a fita faz com que seu material corante se transfira para o formulário,
imprimindo um ponto.
Logo a seguir, uma mola faz com que o pino volte à sua posição inicial.
E assim prossegue a marcha dos pinos, gerando a impressão do texto.
Para produzir impressão de negrito, em algumas impressoras, ele re­
sulta de uma segunda impressão do mesmo tipo, provocando, assim, uma
segunda série de pontos que reforçam os anteriores.
6.2.2. Os raios lasers
Antes de se dar o funcionamento das impressoras a laser, seria inte­
ressante dar-se aqui algumas informações sobre esse tipo de radiação.
O nome laser é formado pelas iniciais de Light Am plification by
Stim ulated Emission ofR adiation, ou seja, amplificação de luz através da
emissão estimulada de radiação.
C apítulo XV - A Arte de I mprimir
193

Qualquer fonte luminosa de luz se propaga em todas as direções, o


que não ocorre com os raios laser: trata-se de um equipam ento que tem
uma fonte de luz peculiar, que produz um feixe luminoso muito estreito e
quase que exatamente paralelo. Assim, a luz emitida se irradia em uma só
direção, que foi anteriorm ente estabelecida.
O feixe luminoso é quase perfeitamente cilíndrico. A luz é m onocro­
mática, pois possui um só comprimento de onda. Todas as frentes são de
ondas planas e paralelas, sendo, pois, coerente.
O emprego do laser veio substituir as antigas técnicas, seja no estudo
de certas propriedades de radiação, seja na pesquisa dos fenômenos atô­
micos e nucleares.
O laser, assim, veio substituir o arco voltaico e a centelha.
Sendo o raio concentrado numa área muito pequena, perm ite o exa­
me de diminutas quantidades de materiais.
Anos atrás, quando os raios laser foram descobertos, foi ele chamado
de raio d a morte, com grande poder de destruição pela luz.
Entre os vários usos do laser, como delicadas cirurgias, na agrimen-
sura, na construção civil, encontra-se o das impressoras ligadas aos micro­
computadores.
6.2.3. Impressão a laser
As impressoras que utilizam os raios laser controlam, necessariamen­
te, cinco tarefas ao mesmo tempo:
1. A interpretação dos sinais emitidos pelo computador;
2. Converter os sinais recebidos em instruções que irão controlar o
feixe dos raios laser;
3. Controlam a movimentação do formulário;
4. Polarizam o papel de maneira que atraia ô toner negro que irá
com por a imagem;
5. Fundem o toner depositado na superfície do formulário.
A impressão a laser se processa segundo as seguintes operações:
• o com putador envia sinais à impressora, onde, no papel, se encon­
tra cada ponto do toner;
• o alimentador em purra o formulário para fora da impressora, es­
tando, geralmente, com a parte a ser impressa para baixo, faci­
litando que as páginas fiquem na ordem correta na bandeja de
impressão;
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
194

• o papel é em purrado por outro conjunto de rolamentos para o


mecanismo chamado sistem a de fusão. Nesse sistema, o calor e a
pressão ligam o toner ao papel, derretendo e pressionando a cera
que compõe o toner. A fusão do toner, que faz com que o papel
saia aquecido, é resultante do sistema de fusão;
• um fio fino, denom inado Corona Wire - fio Corona - se aproxima
pela rotação do cilindro. O fio recebe a eletricidade que o atraves­
sa, formando um anel ou coroa em sua volta, com carga positiva, o
que justifica sua denominação;
• o fio devolve a carga negativa para toda a superfície do cilindro,
para que novo texto possa ser desenhado na superfície pelo raio
laser;
• o raio laser é refletido por um espelho giratório, para que este
trace uma linha horizontal na superfície do cilindro - o cartucho
orgânico fotocondutor ou OPC — Organic Photoconducting
Cartridge. Da combinação do acionamento e desativação do raio
laser com a movimentação da direção do raio sobre o cilindro,
resultam vários pontos minúsculos de luz que criam um a linha na
superfície do cilindro;
• cessando o disparo do laser, cessam os pontos de luz. O cilindro
gira e, assim, se inicia a formação da linha seguinte;
• o cilindro ao girar, uma série de engrenagens e rolamentos puxam
a folha de papel para o m ódulo de impressão, pelo alimentador
do papel (paper train). O paper train puxa o papel sobre o fio
eletricamente carregado e este transmite energia estática para ele.
A carga tanto pode ser negativa como positiva, dependendo do
projeto da impressora. A sequência da operação será feita com car­
ga positiva;
• no sítio em que cada ponto de luz atinge o cilindro, uma fibra
carregada negativamente, situada na superfície do cilindro, altera
sua carga e, com isso, os pontos possuem a mesma carga elétrica
do papel. Cada carga do cilindro irá marcar um ponto que irá ser
impresso em preto no formulário. As áreas do cilindro que não são
atingidas pelos raios laser mantêm sua carga negativa e resultam
nas áreas brancas da impressão;
• na rotação do cilindro, mais ou menos no meio do seu curso, o
OPC entra em contato com uma bandeja que contém o toner. Este
tem carga negativa. As partículas de cargas estáticas opostas atra­
em o toner e o fixam nos pontos criados pelo raio laser. Girando
C apítulo XV - A Arte de I mprimir
195

o cilindro, ele pressiona-se contra a folha de papel que está sendo


puxada pelo alimentador. Sendo a carga elétrica do papel a mesma
gerada no cilindro pelo raio laser, puxa o toner do cilindro para o
papel, cuja carga é maior.
E está concluída a operação.
6.2.4. Impressão a jato de tinta
Um cartucho cheio de tinta é ligado à cabeça de impressão. Ela se
move lateralmente pela superfície do papel que, p or seu turno, é alimen­
tado pelo trator da impressora, situado abaixo da cabeça de impressão.
A cabeça de impressão é constituída por cinquenta compartimentos
de tinta, sendo cada um deles ligados a um orifício capilar.
Finos transistores, localizados abaixo dos compartimentos, emitem
impulsos elétricos, que tem a finalidade de m ontar a letra no papel.
A fina camada de tinta é aquecida na base do compartimento p o r uma
corrente elétrica através de uma resistência, acima de 490 graus centígra­
dos, p or alguns milionésimos de segundo. A tinta ferve, resultando uma
bolha de vapor.
A gota despejada tem o volume de cerca de milionésimo de uma gota
de água que sai por um conta-gotas.
A gota de vapor em purra a tinta na sua extremidade.
A seguir, ela rom pe a tensão da superfície da tinta e a sua pressão a
pressiona contra o papel.
Uma letra é formada por uma sequência de vinte gotas de altura por
outro tanto de extensão.
Ao resfriar a resistência, a bolha estoura. A sucção resultante puxa nova
quantidade de tinta do compartimento e assim prossegue a operação.
6.2.5. Impressão térmica em cores
Para encerrar este tópico, será mostrado como funcionam as impres­
soras em cores.
As impressoras desse tipo puxam uma folha de papel, este de textura
especial, da bandeja para o interior do mecanismo de transporte. O papel,
então, é preso de um lado por um rolamento, que o pressiona contra um
filme largo, revestido de tintas coloridas, misturadas com cera ou plástico.
O filme contém uma faixa para cada cor - ciano (azul esverdeado),
magenta (carmim), amarelo e, por vezes, preto.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
196

Cada faixa de cor cobre uma área ampla, que corresponde ao compri­
m ento e à extensão da folha de papel.
Quando o papel passa pelo alimentador, primeiramente, é pressiona­
do contra a faixa ciano do filme.
Nessa ocasião, um ou mais elem entos de aquecimento, que se encon­
tram em linha na cabeça térmica de impressão, do lado oposto do filme,
são acionados e derretem os pequenos pontos daquela cor. Os pontos
derretidos são pressionados contra o formulário.
O papel continua a se mover pelo alimentador até ser expelido da im­
pressora. Ao papel se afastar do filme, a tinta ciano, que não foi derretida,
fica no filme, e a derretida, na superfície do papel.
A seguir, o filme colorido se movimenta, exibindo a faixa magenta e o
papel retoma à impressora, sendo, então, pressionado contra a faixa e o pro­
cesso térmico se repete, até que a impressora tenha utilizado todas as faixas co­
loridas do filme, e só então o papel é expelido por completo da impressora.
6 .3 . Id e n tific a ç ã o d e te x to s im p re s s o s p o r m ic ro c o m p u ta d o re s

6.3.1. Pré-requisitos
• Coincidências preliminares:
- tipo da impressão: matricial; a jato de tinta; a laser;
- números de pinos ou agulhas;
- tipo dos caracteres;
- tamanho dos caracteres;
- núm ero de pontos por polegada quadrada.
• Elementos para a identificação:
- coincidência do mesmo núm ero de pontos nas hastes verticais
das letras;
- ausência de um determ inado pino em todos os caracteres;
- desalinhamento, para a esquerda ou para a direita, de determi­
nado pino;
- o uso de acentos gráficos;
- conformação dos algarismos;
- outros que forem observados.
6.3.2. As fraudes por com putador
Com a vulgarização dos microcomputadores e de suas impressoras,
dos vários tipos, as máquinas de escrever passaram a ocupar um segundo
C apítulo XV - A Arte de I mprimir
197

plano, seja nas empresas, seja nos estabelecimentos bancários e, ainda,


em uso por particulares.
Por essa razão, já se presume que possa ocorrer fraudes em docu­
mentos impressos pelos PCs, abrindo uma nova perícia do âmbito da dò-
cumentoscopia, seja para se verificar se dois documentos foram impressos
por uma mesma impressora, seja para determinar se um docum ento foi
feito num a determinada impressora.

6 .4 . A id e n tific a ç ã o d a im p r e s s o r a

A identificação de uma máquina de escrever, mecânica, elétrica ou


eletrônica, se faz pela verificação e comparação de vícios criados pelo seu
próprio uso.
Assim, havendo coincidências de determinados defeitos, seja no ali­
nham ento dos tipos, seus amolgamentos e fraturas, a conclusão será sem­
pre de que as peças cotejadas foram datilografadas numa mesma máquina
de escrever.
O mesmo ocorre com os textos feitos nas impressoras de microcom­
putadores.
Q uando se procurar saber se dois textos foram impressos num a mes­
ma impressora, antes de mais nada, deve-se certificar da convergência das
seguintes características:
• o tipo da impressora;
• o núm ero de pinos ou agulhas;
• o programa utilizado;
• o tipo dos caracteres;
• o tamanho dos caracteres;
• a resolução, ou seja, o número de pontos por polegada quadrada.
Positivada a concordância dessas características, então, o exame das
impressões pode ser realizado.
Não ocorrendo essas analogias, é certo que os documentos de exame
foram feitos em impressoras distintas.
No primeiro caso, os dois textos devem ser cotejados entre si, objeti­
vando a presença das seguintes irregularidades:
• a coincidência, ou não, do mesmo núm ero de pontos nos traços
verticais dos caracteres;
a presença, ou não, de pontos fora do alinhamento, mais para a
direita ou para a esquerda;
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
198

• a ausência de um determinado ponto na estrutura dos caracteres;


• a conformação dos algarismos;
• a presença, ou não, dos sinais gráficos.
Apenas para ilustrar, as gravuras a seguir são detalhes, e em mesmo
grau de ampliação, de trechos de dois documentos.

e « , hemat or,v
í. a ç o e s , ® *m° s
u m e n tos 1 i z ados na
►i c a d o s | t:s,...a n f..l o \ j o exaree
ps i nu. i ca tr
;n c ; a pode ! s e r

ntecp que-, r e c aaliccuulua i w u ■


v i g e n t e ( I N VÇK 03.10-b
l , ’ xerox et,\ a n e x o ) , com- l
ponte
Ponte pagadora
pag nSo guarda c
e.j aMós«

Figura 8.

Bastará se observar o desenho das letras u, a, l e d para se afirmar


que ambos foram digitados em impressoras distintas. Alem do mais, existe
flagrante diferença no tamanho das letras.
5 As gravuras abaixo são detalhes, em mesmo grau de ampliação, de
trechos de dois documentos. Os dois foram registrados pela mesma im­
pressora, o que pode ser confirmado pelo desenho das letras r e «, sendo
que, nesta, falta, no traço vertical, o quinto ponto.

%I a o e s Br a s i 1 & i r a «> a t r a v d<


m p a r Á -• 1 o <r> c o nt C o d i <•>o s •::! -a >:
o do e s t u. p r o (c o n j u. n a o «:
«aça) 7 Pí/ssaremo«i ■■■/ discud
& \c < s n* ~

r., e q u i moses - hecmat: <


feos ,.t i < i z a d o c nv
C tU al U l O d O
pode s e r ps i « u i i c a ,

Figura 9.
C apítulo XV - A A rte de I mprimir 199

6.4.1. A distinção entre os vários tipos de impressão


O reconhecimento da impressão matricial é p or demais fácil, pois o
conjunto de pontos que conformam os tipos não só são plenam ente vi­
síveis como poderão até ser contados. Essa peculiaridade a distingue dos
outros dois tipos.
Na impressão a laser, os tipos apresentam discreto brilho, facilmente
observável com iluminação rasante, o que não ocorre com as feitas a jato
de tinta, que são opacas.
Vejamos, agora, como diferenciar as impressões feitas a jato de tinta
das a laser.
No primeiro caso, o uso de papel inadequado ou de baixa qualidade
faz com que a impressão ofereça aspecto de se encontrar borrada, os ca­
racteres perdem a nitidez dos seus contornos, pois eles não perm item a
imediata absorção da tinta.
Na impressão a laser, a falta de toner provoca impressão que vai en­
fraquecendo à medida que este produto for acabando.
O cilindro ótico, com muito tem po de uso, geralmente, provoca uma
impressão de baixa qualidade, podendo, até, deixar sinais e sujidade no
papel.
Nos dois tipos de impressão, entretanto, poderão ocorrer outros de­
feitos que só o caso concreto permite identificar.
Nos exames destinados a diferenciar essas modalidades de impressão,
respeitadas as cautelas já registradas quanto à adequação da impressora
com a impressão questionada, seria de bom alvitre confrontar-se a peça
de exame com outros padrões de mesma época, pois, se nos padrões os
defeitos não existirem, foi porque eles foram reparados.
Finalmente, se entre a peça de exame e os padrões não forem encon­
trados indícios que permitam sua diferenciação, nem por isso o examina­
dor deve concluir que ambas foram feitas num a mesma impressora.
Capítulo XVI

A F a l s if ic a ç ã o d e S e l o s

No passado, com o largo uso de selos da taxa de educação, estampi­


lhas estaduais e federais e a sua obrigatoriedade nos documentos, a falsifi­
cação desses adesivos era coisa de todos os dias.
Na comparação de selos falsos com os padrões, o examinador deve
atentar para as seguintes características:
• qualidade do papel;
• tipo de impressão;
• qualidade da tinta e cor;
• picotagem;
• gomagem do verso;
• fluorescência.
Com referência ao papel, evidentemente, os exames ideais são as aná­
lises químicas quantitativas, qualitativas e os espectrográficos. Se o exami­
nador possuir apenas um exemplar do selo suspeito de falso, portanto não
podendo destruí-lo, esses processos não podem ser postos em prática.
Nesse caso, procura-se verificar a diferença entre a peça e o padrão
quanto à fluorescência, com emprego de lâmpada ultravioleta, e quanto à
espessura média, com utilização de um micrômetro.
Os selos legítimos, via de regra, ou eram impressos pelo processo
litográfico ou calcográfico. Não podendo os falsários lançar mão desses
processos, eles faziam os selos tipograficamente e, por vezes, pelo proces­
so de off-set.
A diferenciação do processo de impressão é elem ento seguro para a
conclusão de falsidade.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
202

O estudo dos motivos impressos, quanto à sua nitidez e à presença de


manchas, empastamentos e falhas, fornecem elementos proveitosos para
a conclusão.
Os exames da tinta, como os do papel, também não podem ser reali­
zados. Todavia, a comparação da cor do selo não pode ser desprezada.
Finalmente, deve ser examinada a picotagem dos selos. Como se sabe,
nos selos autênticos, a picotagem é feita em máquinas especiais. Todos os
picotes são feitos simultaneamente. Ocorre, então, que todos guardam igual
distância entre si e cada selo tem, no sentido do comprimento e no da largu­
ra, o mesmo número de picotes. Além disso, são todos do mesmo tamanho.
Não podendo picotar os selos num a só operação, os falsários os cos­
turam . Adaptam na máquina de costura uma pequena punção e costuram
a folha impressa, nos claros entre os selos, no sentido horizontal e, de­
pois, no vertical, criando, assim, um a falsa picotagem.
Como resultado dessa dupla operação, a distância &&picotagem entre
os selos fica quebrada e pode ocorrer, entre a carreira vertical e horizon­
tal, um encontro de picotes, que ficam remontados nos cantos dos selos.
Além disso, o núm ero de picotes de cada selo verdadeiro vai se diferenciar
dos feitos pelo falsário, podendo até ser diverso o seu tamanho.
Só resta, agora, falar da goma do reverso dos selos. Muitas vezes, esse
procedimento é abandonado pelos falsários e, em outras, são aplicadas
gomas diversas das usadas pelo fabricante.
A comparação das gomas é feita pela medição do grau de acidez ou
alcalinidade do material.
Mas, na verdade, hoje não mais se falsificam estampilhas, pois elas
caíram em desuso. Até o selo da taxa médica foi substituído pela sua im­
pressão nos formulários médicos.
A principal diferença entre as estampilhas íâlsas e as legítimas, sem se
levar em conta a qualidade do papel, é o fato de aquelas terem sido impres­
sas por um processo plano - zinco-fotogravura - e estas em calcográfico.
Com o abandono das taxas adesivas, este problema só deve ser cogi­
tado quando se tratar de selos oficiais, ou selos de controle, que a seguir
serão passados em revista.

1. Selos de Controle
Constituem selos de controle os que são aplicados na aguardente,
bebidas alcoólicas e ainda os de controle do IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados).
C apítulo XVI - A F alsificação de S elos
203

Todos esse selos são confeccionados na Casa da Moeda do Brasil, em


papel de características técnicas específicas e por processos de impressão
diferentes.
Os exames desses selos devem atender ao tipo de impressão - ti­
pografia, off-set úmido, off-set seco e talho-doce —e às características do
papel.
Os selos impressos tipograficamente são usados para o controle de
aguardente e bebidas alcoólicas.
Em off-set úmido, são impressos selos de controle para aguardente e
bebidas alcoólicas.
Finalmente, os selos de controle para uísque e relógios, nacionais e
estrangeiros, têm os seus motivos impressos pelo processo do talho-doce,
apresentando, pois, relevo.

2. As Máquinas de Reprodução e a Falsificação de D ocumentos


O avanço das máquinas de reprodução, de alta definição e com uso
dos raios laser, no que diz respeito à facilidade e à perfeição da reprodu­
ção, permitem falsificações de docum entos muito bem feitas.
Em razão disso, no exterior, vários docum entos são proibidos de se­
rem reproduzidos, como o papel-moeda, os bilhetes de viagem e outros,
que, na sua produção, foram incluídos dispositivos anticópias. Ao se fazer
a reprodução, fica nela estampada a expressão Void, nulo.
No Brasil, o Banco Central realizou testes em copiadoras em cores,
para avaliar o grau de perfeição das falsificações possíveis com essa nova
tecnologia.
Os próprios fabricantes dessas copiadoras também se preocuparam
com o seu uso para o cometimento de fraudes e embutiram segredos téc­
nicos nas suas copiadoras para que se possa diferenciar a cópia do origi­
nal. Em algumas copiadoras, na cópia, foi programada uma distorção de
0,25 a cada reprodução, tanto na escala vertical como na horizontal.
No Japão, a Canon Inc. vem desenvolvendo uma copiadora digital
que faz cópias coloridas com funções antifalsificação.
Nos países mais industrializados, os equipamentos que reconhecem
papel-moeda foram programados para não fazer delas cópias perfeitas.
Além disso, um dispositivo de segurança insere na cópia códigos que
indicam onde a cópia foi realizada, que não são visíveis na observação
comum.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
204

As atuais copiadoras viraram verdadeiros computadores, com scanner


e impressora a raio laser.
As copiadoras modernas, ao simples apertar de uma tecla, reduzem
ou ampliam o original, e já existem copiadoras dotadas de memória, para
armazenar a imagem do original. Outras podem colorir imagens em bran­
co e preto.
Por essas razões todas, o examinador deve agir com muita cautela
quando submeter a exame uma reprodução do seu original, alegando ter
sido este perdido.
Ao se tratar da peça de exame, o problema da substituição do origi­
nal do docum ento por um a cópia do tipo xerox será tratado com maior
profundidade.
Capítulo XVII

A P eça d e E xam e

1. Considerações Sobre a P eça de Exame

Seria de todo conveniente tecer aqui algumas considerações sobre a


peça de exame a ser manuseada pelo perito nos seus estudos e pelo fo­
tógrafo, para fixar os detalhes julgados necessários para a fundamentação
da conclusão.
A peça de exame é sagrada. Não pode, de forma alguma, ser alterada
ou danificada. Em razão disso, a primeira cautela será a de fotografá-la,
para fixar o seu estado físico de conservação no início dos exames.
Ocorre que, depois de examinada e juntada aos autos do inquérito,
ela sofrerá, na polícia e na justiça, intenso manuseio, podendo vir a ser
mutilada, ou então ser viciada criminosamente por pessoas interessadas.
A fotografação da peça na abertura dos trabalhos ressalvará o exami­
nador, no futuro, da responsabilidade desses fatos.
O exame sempre será realizado no original do documento. Nenhum
tipo de reprografia, para esse fim, poderá substituí-lo.
As reproduções, sejam de que tipo forem, são imperfeitas e podem
ser eivadas de vícios que não podem ser detectados na perícia.
Comecemos por ver qual a posição da justiça com relação à reprodu­
ção de documentos.
A legislação brasileira aceita qualquer tipo de reprodução, satisfeitas
as condições que a lei impõe.
O art. 161, da Lei n° 6.015, de 31.12.1973, Lei dos Registros Públicos,
quanto às reproduções, estabelece:
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
206

“Art. 161. As certidões do registro integral de títulos terão o mesmo va­


lor probante dos originais, ressalvado o incidente de falsidade destes,
oportunamente levantado em juízo.
§1° O apresentante do título para registro integral poderá também dei­
xá-lo arquivado em cartório ou a sua fotocópia, autenticada pelo ofi­
cial, circunstâncias que serão declaradas no registro e nas certidões.
O art. 223, do Código Civil, sobre o assunto, assim estatuiu:
‘Art. 223. A cópia fotostática de documento, conferida por tabelião de
notas, valerá como prova de declaração de vontade, mas, impugnada
sua autenticidade, deverá ser exibido o original.”
O Código de Processo Penal é menos preciso do que o de Processo
Civil, com relação às reproduções de documentos. O parágrafo único do
art. 232 dispõe que:
“À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mes­
mo valor do original.”
No art. 237, desse mesmo código, o problema ficou mais claro:
“As públicas-formas só terão valor quando conferidas com o original,
em presença da autoridade.”
Mas ocorre que essa conferência não é feita por técnico. Assim, ao se
apresentar ao conferente leigo um docum ento portador de um a assinatu­
ra apócrifa e a respectiva cópia, a conferência será realizada.
Se se destruir o original, a parte terá em mãos um a cópia autenticada
do docum ento fraudulento.
Como poderia a perícia receber essa reprodução para exame em subs­
tituição do seu original, já que nem sempre, por meio dela, a falsificação
pode ser evidenciada, por carência de elementos?
A experiência tem mostrado à saciedade que reproduções têm sido
anexadas aos autos de inquérito desacompanhadas da certidão a que se
refere a Lei dos Registros Públicos e nem sequer a sua conferência é feita
em face do original, com o comparecimento das partes interessadas.
O egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, em vários acórdãos, fez
alusão às exigências da Lei dos Registros Públicos.
Eis, para ilustrar, um a decisão da nossa Corte de Justiça:
“Fotografia. Acresce que a prova documental por fotocópia pública-
forma de documentos originais é admissível em juízo quando possível
a conferência determinada no art. 225 do Código de Processo Civil,
mormente quando é suspeito o conteúdo declarativo da reprodução.
A razão é óbvia: se tais reproduções não gozam da presunção de au­
tenticidade (como sucede com as certidões e os traslados c o m p r e e n d id o s
C apítulo XVII - A P eça de E xame
207

no art. 226), somente a apresentação do original, sujeito ao exame da


parte contrária e à conferência em Juízo proporcionará elementos à inves­
tigação da autenticidade impugnada.” (R tsp 263/519, 293/511 e 263/518)
E sábia a decisão do Tribunal, pois, respeitando princípios de direito,
atende aos postulados da grafotécnica.
Subindo na hierarquia judicial, o Supremo Tribunal Federal fez coro
à jurisprudência paulista:
Rejeitando a cópia fotostática nas circunstâncias do relatório do V
Acórdão, certamente se pronunciará sobre o valor jurídico das provas
—mas o fez corretamente, se violar a lei federal pelo contrário, inter­
preta razoavelmente, a meu ver, bem, os arts. 237 da Lei dos Registros
Públicos e 225 do CPC.” (RTJ 40/61,62)
Se a reprodução de um documento, pura e simples, não é aceita nas
lides jurídicas, como pode ela ser acatada para efeito de um exame grafo-
técnico?
Mas, se é verdade que a reprodução, acompanhada dos requisitos exi­
gidos pelas leis, para efeito jurídico, substitui plenam ente o seu original, o
mesmo não ocorre no campo da perícia e há fundadas razões para isso.
A despeito do avanço tecnológico, as reproduções de docum entos do
tipo xerox apresentam vários inconvenientes para a perícia:
• os vestígios de fraudes desaparecem nas correções feitas em cópias
sucessivas de uma reprodução, a ponto de, em determ inada cópia,
deixarem de existir, não havendo como prová-las;
• as cópias feitas normalmente, sem qualquer intuito de fraude, p o ­
dem apresentar defeitos, em bora inexistentes no original;
• elementos indispensáveis para o estudo do documento, no senti­
do de se provar ou não a sua idoneidade, podem desaparecer ou
ficam de difícil observação.
Os estudiosos de renom e da grafotécnica são unânimes em recusar
uma reprodução, para efeito de exame, substituindo o original do docu­
mento.
Albert O sborn (op. cit.) a esse respeito fez a seguinte advertência:
R e p ro d u c tio n s in p h o to s ta tic f o r m o f a lleg ed lo st d o c u m e n ts a re
re p re se n te d a n d s h o u ld be re c e iv e d w ith g re a t ca u tio n , i f a t all, a n d
a v e re d ic t s h o u ld n e v e r b e b a s e d u p o n them . ”
(Reproduções na forma fotostática de documentos alegados perdidos
são apresentados e devem ser recebidos com grande cautela, e uma
decisão nunca deverá ser baseada nelas.)
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
208

Deixou ele bem clara a precariedade das reproduções para efeito pe­
ricial. Disse ele:
»For a s tu d y o f th e c o n te n t o f th e d o c u m e n t, a p h o to s ta tic is
in o b je c tio n a b le , b u t i f th e re is d o u b t o n its g en u in ess, a p h o to s ta tic
s h o u ld n e v e r b e d e p e n d e n t upo n . The p ro c e ss a im s to m a k e every
s tr o k e legible a n d d is tin c t a n d th is excessive c o n tra st o fte n h id e s
evid e n c es o ffo rg e ry . ”
(Para o estudo do conteúdo de um documento, uma fotostática é ques­
tionável, mas, se houver dúvida quanto à sua autenticidade, uma fo­
tostática nunca será hábil. O processo objetiva fazer todos os traços
legíveis e distintos e esse excessivo contraste frequentemente esconde
os vestígios da falsificação.)
Vale registrar que o autor se refere à fotostática, porque esse era o
único processo de reprodução à sua época.
O sborn n ã o a b re m ã o d a c o n fe rê n c ia d o o rig in a l c o m a s u a r e p r o d u ­
ção :
“P h o to g ra p h s m a y be d is to r te d a n d m a y be d ish o n est; a n d is th ey
c a n n o t be p r o p e r ly p ro v e d , o r v e r ifie d b y c o m p a riso n w ith o rig in a l
th e y s h o u ld b e e x c lu d e d . ”
(Fotografias podem ser distorcidas ou desonestas; e se isto não puder
ser propriamente provado ou constatado mediante sua comparação
com o original, elas deverão ser rejeitadas.)
Edmond Locard não confiava nas fotografias apresentadas pelas partes
em substituição ao original do documento. No M anuel de technique
policère, registrou essa circunstância:
“Les p h o to g ra p h ie s. Les p a r tie s p r o p o s e n t p a r fo is à T exp sert d e lu i
rem ettre, a u lie u d e s o rig in a u x , d e s épreu ves p h o to g ra p h iq u e s. Cela
est à p e u p r é s c o n s ta m m e n t in a cceptable. ”
(Às vezes, as partes propõem de enviar, em lugar dos originais, as pro­
vas fotográficas. Isto é quase constantemente inaceitável.)
“D e sp h o to g r a p h ie s q u e q u e V o n n 'a p a s f a i t e s so i-m êm e n e r e d e n t n u l
c o m p te d e s a lté r a tio n s d u d o c u m e n t: d ’a u tr e aprt, elles p e u v e n t être
tru q u és. ”
(As fotografias que não tenham sido feitas pelo próprio perito não
apresentam provas das alterações do documento. Por outro lado, elas
podem ter sido falsificadas.)
Na obra Suspect docum ents, de W ilson H arrison, o assunto também
foi focalizado:
“W h ilst e x c e lle n t f o r p ro p o se s o f record, p h o to s ta tic co p ies u su a lly
su jfe r f r o m excessive co n tra st, a n d a lso la c k th e f i n e d e la ils a n d
C apítulo XVII - A P eça de E xame
209

th e co rrect re n d e rin g o f d e ta ils w h ic h a re ch a ra c te ristic o f c a rfu lly


p r e p a r e d p h o to g ra p h s. ”
(Embora excelentes para o propósito de arquivo, cópias fotostáticas
geralmente sofrem excessivo contraste, e perdem finos detalhes e o
correto reconhecimento dos detalhes que são característicos de foto­
grafias cuidadosamente preparadas.)
Como se vê, os autores não aceitam o exame de reproduções de do­
cumentos, sem a cautela de sua conferência com o original, para não labo­
rar em erro, pois nem sempre as fraudes nelas praticadas deixam vestígios
que podem ser comprovados.
Para arrematar estas considerações sobre a peça de exame, a perícia
num a reprodução pode ser feita, é claro, mas o perito deve ter a cautela de
condicionar sua conclusão à conferência da cópia com o original.
É p o r tudo isso que O rlando Sivieri (op. cit.) afirma enfaticamente:
“Nulla può sostituire la realitá grafica constituita dal documento
originale.”
(Nada pode substituir a realidade gráfica constituída pelo documento
original.)
Esta é a opinião dos mestres, sob o ponto de vista teórico.
Na prática, todavia, não se pode afirmar que a perícia sobre assinatura
em docum ento representado por uma reprografía de qualquer tipo seja
inexequível, pois, se assim fosse, uma larga porta se abriría e, p o r ela, as
falsificações fluiríam impunemente.
Uma reprografía pode ser examinada, desde que o perito se cerque
de certas cautelas.
F elix D el Val Latierro, no seu livro Grafocrítica —El documento, la
escritura y su procession forense, foi bastante realista ao encarar o proble­
ma. Disse ele na sua obra:
‘E l p e r ito n o p u e d e a c tu a r so b re fo to c o p ia s; n o so lo p o r q u e o c u lta m
d e ta lh e s in te re ssa n te s y h a s ta d e c isiv o s p a r a e l cotejo, s in o ta m b ié n
p o r q u e p u e d e m lle v a rle a d ic ta m in a r so b re la h a se d e u n engano, s i se
tr a ta n d e fo to g r a fia s co m p u esta s, y, adernas, p o r q u e le g a lm e n te n o se
p u e d e in fo r m a r u tiliz a n d o so lo fo to g ra fia s. E n e l caso, m u y raro, d e
q u e e l o rig in a l e stu v ie ra d e s tr u íd o y fu e r a p re c iso h a r a su d ic ta m e n
c o m la s sa lved a d es, ta n to legales c o m o técnicas, p e rtin e n te s, y su s
c o n c lu sio n e s n o p o d r a n se r sin o p ro b le m á tic a s. ”
(O perito não pode trabalhar sobre fotografias; não só porque ocultam
detalhes interessantes e ate decisivos para o cotejo, como também por­
que podem levá-lo a concluir baseado num engano, se se tratar de fo­
tografias forjadas e, ademais, porque iegalmente não se pode informar
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
210

utilizando apenas fotografias. No caso, muito raro, em que o original


tenha sido destruído e tenha sido preciso valer-se de uma fotografia, o
perito dará sua conclusão com as ressalvas, tanto legais como técnicas,
pertinentes, e suas conclusões não poderão ser senão problemáticas.)
É aconselhável, quando o perito entende que pode proceder a exame
de um a reprografia, que, no laudo, consigne que suas conclusões ficarão
dependendo do confronto da peça de exame com o seu original. Assim
sendo, caberá ao julgador decidir se a reprografia é ou não confiável, acei­
tando ou não a solução pericial.
Na prática, todavia, sempre que a solução for contrária à tese de quem
apresenta a reprodução, sob a alegação da perda do original, então é ela
significativa, pois é muito pouco provável que o falsário apresente uma
reprografia cuja assinatura falsificou, a menos que pretenda evitar o seu
exame.

2. C autelas e N ormas P ara o M anuseio da P eça de E xame

A peça de exame deve ser cercada de todas as cautelas para que se


não danifique com o manuseio.
Conforme a sua natureza, podem ser feitas as seguintes recom enda­
ções:
• segurar a peça de exame com pinças, para evitar possíveis depósi­
tos de humores das mãos;
• fotografar o docum ento para evitar o manuseio do original;
• não dobrar a peça de exame;
• se estiver dobrado, não desdobrar e dobrar sucessivamente para
evitar o seu rompimento;
• não expô-la ao calor, à um idade e à poeira;
• quando estiver grampeado a um suporte, retirar cuidadosamente
os grampos e regrampeá-la no mesmo local;
• não transportar a peça para fora da repartição. Usar a fotografia se
for preciso;
• não abandonar a peça sobre a mesa ao se retirar do ambiente de
trabalho.
Aos fumantes, cuidado com o cigarro!
Capítulo XVIII
P adrões de C onfronto

No campo da documentoscopia, as perícias são realizadas com base


num confronto: coteja-se a peça de exame com padrões de confronto.
Significa, p o r isso, que todo o êxito da perícia está na dependência da qua­
lidade dos padrões de confronto. O ideal seria que esses padrões fossem
obtidos pelo próprio examinador, pois, conhecendo a peça questionada,
saberá como melhor orientar a colheita. Mas, na verdade, tal prática só
pode ser efetivada na perícia particular e não seria possível na oficial, o
que já constitui um risco para os exames.

1. R equisitos dos P adrões de C onfronto

Os paradigmas, para serem úteis, devem se revestir dos seguintes re­


quisitos:
• espontaneidade;
• contemporaneidade;
• adequabilidade;
• quantidade.
E certo que o padrão deva ser espontâneo, ou seja, represente a grafia
habitual do escritor.
E evidente que, na perícia criminal, o suspeito sempre tentará ocultar
o seu grafismo. Ocorre, entretanto, que toda a sua atenção ficará voltada
para a forma, enquanto a movimentação do punho para criá-la, a gênese
gráfica, não pode ser alterada.
Para se evitar que o suspeito tenha êxito no disfarce, que não impe­
dirá a perícia, mas pode dificultá-la, deve-se conversar com ele enquanto
escreve, procurando quebrar a sua atenção para o artificialismo que deseja
pôr em prática. Além disso, quanto mais ele escrever, maior a possibili-
212 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

dade de que, com a quebra da atenção, ele venha exarar, traído pelo seu
subconsciente, a sua escrita normal.
Devem os padrões serem contem porâneos, pois o passar do tempo
pode acarretar certas modificações formais, próprias da evolução ou invo-
lução do gesto gráfico.
Se o lançamento tiver sido exarado em época distante do exame, além
dos padrões atuais devem ser procurados documentos com grafismos pro­
duzidos naquela época.
A adequabilidade do termo de comparação é de suma importância: as­
sinaturas confrontam-se com assinaturas e lançamentos de texto com os de
mesma natureza. O padrão deve reproduzir, entre outras, as mesmas palavras
a serem examinadas. O suporte deve ser de mesmo tipo: se a peça de exame
tiver sido exarada em papel pautado, o do padrão deve ser do mesmo tipo.
Isso para se estudar o alinhamento da escrita em relação à linha de pauta.
Lançamentos feitos a tinta devem ser examinados com padrões tam­
bém exarados a tinta e assim por diante.
A adequação dos padrões à peça de exame deve, também, atender às
dimensões do campo gráfico. Assim, ao preencher um cheque, o escritor,
necessariamente, tem de acomodar a sua escrita às dimensões dadas a
cada um dos lançamentos, incluindo-se as da assinatura.
Finalmente, os padrões devem ser numerosos, para dar ao escritor a
possibilidade de exarar o seu grafismo habitual e também as diferenças for­
mais resultantes do polimorfismo gráfico, como mostra o modelo a seguir.
Na colheita de padrões mecanográficos, sempre que possível, essas
mesmas circunstâncias devem ser atendidas.

Figura 1.
C apítulo XVIII —P adrões de C onfronto
213

1.1. O b serv açõ es im p o r ta n te s

• A peça de exame nunca deve ser exibida à pessoa que está forne­
cendo os padrões de confronto.
Essa medida não só evita que o escritor veja o grafismo da peça de exa­
me e procure modificá-la na sua forma, como também, e sobretudo, que ele
dela se apodere e a destrua, engolindo-a, por exemplo, como já ocorreu.
• Os padrões de confronto devem ser colhidos mediante ditado.
Muitas vezes interessa ao examinador a verificação da coincidência
ou não de erros gramaticais. Se o texto for adrede preparado, as analogias
serão destituídas de qualquer valor.
Finalmente, o escritor, ao fornecer os padrões, deve ser m antido bem
calmo, sem qualquer pressão, para que a modificação do seu sistema ner­
voso não acarrete alterações na qualidade do traçado do texto que está
escrevendo.
WiixiAM D ienstein, no livro Technics fo r the crime investigator, fez a
seguinte observação:
S a tisfa c to ry re q u e st s ta n d a r d s a r e o b ta in e s m o re f r o m d ic ta tio n . I f
a n y o th e r m e th o d is used, lh e o p p o r tu n ity f o r c o n sc io u s c h a n g e o r
d isg u ise o f th e w r itin g is greater. I f th e su b ject is a llo w e d to co p y the
text, h e h a s a n e x c e lle n t o p p o r tu n ity to a tte m p t a disguise. ”
(Padrões de confronto, com muita frequência, são obtidos mediante di­
tado. Se qualquer outro método for usado, a oportunidade consciente
de mudar ou disfarçar será maior. Se o escritor for autorizado a copiar
o texto, ele terá uma excelente oportunidade em tentar o disfarce.)
Segundo o autor citado, deve-se fazer o ditado da seguinte maneira:
‘The m a te r ia l is d ic ta te d w ith o u t a n y su ggestion a s to a rra n g e m e n t,
spelling, p u n c tu a tio n , a n d c a p ita liz a tio n . N o th in g is su g g ested th a t
m a y c a u se to su b je c t to v a r y fr o m h is n a tu r a l w ritin g h a b its. ”
(O material é ditado sem se fazer qualquer sugestão quanto à sua dis­
posição, à ortografia, à pontuação e ao uso das maiusculas. Nada é
sugerido que possa levar o indivíduo a modificar seus hábitos naturais
de escrever.)
Padrões colhidos obedecendo todas essas normas e peculiaridades
estão fadados a permitir um exame de resultado seguro, sem obrigar o
examinador a maiores esforços de inteligência.

2. T écnica de C oleta

São práticas condenáveis:


• exibir a peça de exame para a pessoa que vai fornecer os padrões,
incluindo a vítima;
214 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

• dar ao escritor textos manuscritos ou mecanografados para serem


por ele reproduzidos;
• fazer qualquer sugestão durante a coleta, seja quanto à disposição
da matéria, à ortografia, ao uso das letras maiusculas, à silabação
das palavras, etc.;
• exercer sobre o escritor pressão de qualquer natureza, antes ou
durante a coleta dos padrões.
• São práticas aconselháveis:
• criar, no ato da colheita, um clima amistoso, antes e durante a
coleta;
• colocar a pessoa em posição cômoda para que possa escrever com
naturalidade, sem qualquer esforço;
• fornecer à pessoa, se ela não tiver, instrum ento escrevente funcio­
nando satisfatoriamente;
• fazer a colheita mediante ditado em português correto;
• usar suporte e instrum ento escrevente do mesmo tipo do usado
para a feitura da peça de exame;
• ditar, por várias vezes, todos os dizeres contidos na peça de exa­
me;
• em se tratando de assinatura, m andar a vítima e o suspeito exará-la
pelo menos dez vezes;
• se se tratar de carta anônima, ditar todo o teor da carta pelo menos
três vezes;
• em se tratando de texto longo, distribuir a coleta em duas etapas,
com um pequeno intervalo, não só para o descanso do escritor,
como para acalmá-lo e, ainda, para evitar que mantenha, no novo
padrão, o mesmo artificialismo usado no anterior;
• os padrões colhidos devem ser do mesmo tipo da peça de exame -
escrita cursiva ou de fôrma com paradigmas análogos;
• para o exame de docum entos feitos em datas muito afastadas, além
de colher a escrita atual da vítima e do suspeito, diligenciar por es­
critas produzidas p o r eles na mesma época da peça questionada;
• para a identificação da máquina de escrever, bater na máquina sus­
peita, por mais de uma vez, o texto a ser examinado;
• o mesmo procedim ento quando se tratar da identificação de texto
supostam ente acrescido ao original;
C apítulo X VIII - Padrões de C onfronto 215

• para identificar o mecanógrafo, fazê-lo datilografar um a peça do


mesmo tipo - carta, ou ofício, ou vale, etc. - po r várias vezes e de­
pois ditar o texto a ser examinado;
• para o exame de impressões fac-similares de carimbos, usar o ca­
rimbo suspeito: colocá-lo sobre o papel e depois pressioná-lo o
suficiente para que faça a impressão. Além disso, usar o carimbo
como se estivesse carimbando normalmente. Não usar almofada
muito velha e nem muito nova. Não embeber a almofada de tinta
na ocasião da coleta, para evitar impressões manchadas.
O carimbo também deve ser examinado para a constatação do seu
estado físico.

3. Arquivo de P adrões
Existe uma falha no Instituto de Criminalística de São Paulo que, p ro ­
vavelmente, também ocorre nos demais congêneres do país: a falta de um
arquivo de padrões de confronto.
Passam pela seção técnica de documentoscopia do Instituto centenas
de inquéritos sobre falsificações. Os exames são realizados. Os laudos são
expedidos com os autos de inquérito. E com estes seguem os padrões de
confronto colhidos do falsário. Pode ocorrer —e certamente já tem acon­
tecido - que o setor receba um inquérito sobre falsificação cujo autor é
desconhecido. Mas pode acontecer que, desse mesmo falsário, outras for-
jaduras já tenham sido examinadas. No arquivo de padrões seria encontra­
do material necessário para elucidar mais um caso, que continuará como
sendo de autoria desconhecida em caso contrário.
De certa forma, a inexistência de um arquivo dessa natureza favorece
os falsários, pois ficam na impunidade em razão da falta de provas.
Seria de bom alvitre que o titular do Instituto de Criminalística pleite­
asse junto ao Departamento Estadual de Polícia Científica um expediente
obrigando que todos os padrões colhidos em todas as delegacias do es­
tado fossem feitos em duas vias. Uma delas ficaria no processo e a outra,
com todos os dados, seria enviada ao Instituto de Criminalística e lá arqui­
vada para consultas futuras.
Todavia, se tal procedim ento não for adotado - o que seria absurdo -,
a direção do Instituto de Criminalística poderia determ inar que todos os
padrões de confronto que instruíssem os inquéritos fossem fotografados
e arquivados.
Seria um a medida louvável e que possibilitaria o esclarecimento de
casos em que o autor da falsificação não fosse localizado para colheita de
216 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

padrões, pois nenhum falsário opera um a só vez. Com essa medida, fácil
de ser posta em prática, o Instituto de Criminalística estaria colaborando
com a justiça e servindo à sociedade de forma efetiva.
O padrão de confronto é de tal significação que o legislador patrício
dele se ocupou no Código de Processo Penal. Efetivamente, o art. 174 as­
sim normatizou a questão:
“No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de le­
tra, observar-se-á o seguinte:
• a pessoa a quem se atribui ou possa se atribuir o escrito será intimada
para o ato, se for encontrada;
• para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a
dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos
como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida;
• a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os docu­
mentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou
nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados;
• quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficien­
tes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que for
ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última
diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as
palavras que a pessoa será intimada a escrever.”
A lei adjetiva civil também focalizou o problem a dos padrões de con­
fronto:
‘Art. 433. (...)
Parágrafo único - Quando o exame tiver por objeto a autenticidade
da letra e firma, o perito poderá requisitar, para efeito de compara­
ção, documentos existentes em repartições públicas; na falta desses,
poderá requerer ao juiz que a pessoa, a quem se atribui a autoria do
documento, lance em folha de papel, por cópia, ou sob ditado, dizeres
diferentes, para fins de comparação.”
Com a devida vênia e com todo o respeito, uma observação deve ser
feita com referência à parte final do parágrafo: a colheita dos padrões, se­
gundo as normas da perícia, deve constituir exatamente os termos da peça
de exame - adequabilidade - e, além disso, nunca se deve dar ao suspeito
um texto para ele copiar. O padrão sempre será tomado sob ditado.
Capítulo XIX

Q u e s it o s

A formulação de quesitos é indispensável para a realização da perícia


grafotécnica, pois eles fixam o seu objetivo e, portanto, ensejam que a
dúvida existente no processo ou a prova do fato alegado possam ser enfo­
cados pelo perito.
Esta é a lição de M anzini, no Repertório Enciclopédico de Direito Bra­
sileiro:
“Para que se possam conseguir os escopos da perícia, é necessário que
o magistrado saiba impostar bem as questões a resolver, formular que­
sitos com ordem, precisão e clareza, de modo a circunscrever, dentro
de certos limites, as averiguações controláveis, e requerer do perito só
o que lhe pode ser legitimamente pedido (atendido o caráter jurídico
da perícia), e evitar tudo o que se atém a outros meios de prova.”
O art. 176, do Código de Processo Penal, diz que:
‘A autoridade e as partes podem formular quesitos até o ato da dili­
gência.”
A resposta aos quesitos é balizada pelo art. 160 deste mesmo Código:
“Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosa­
mente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único - O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de
10 (dez) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcio­
nais, a requerimento dos peritos.”
No Repertório Enciclopédico já aludido, a questão foi assim focalizada:
“O que se reclama é a clareza nas respostas, que devem ser sempre mo­
tivadas, com uma exposição sincera e franca dos fundamentos apoia­
dos, necessariamente, em bases científicas.”
218 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Assim, não basta a resposta ao quesito por si só: é indispensável que


as causas que a determinam sejam expostas, tendo-se em vista os postula­
dos científicos da perícia.
Francisco D’Auria, para concluir, também se manifestou sobre a res­
posta aos quesitos, afirmando:
“A redação das respostas deve ser em linguagem clara e precisa, tendo
como norma a repetição das mesmas expressões das proposições e
perguntas, quando a elas tenha de referir-se, transcrever ipsis verbis
as partes examinadas que interessarem, e nada omitir ou aditar aquilo
que é limitado nos quesitos.”
Sem ter a pretensão de criticar a lição do grande jurista patrício, por
vezes, quando o quesito não atinge o fulcro da questão, por ter sido for­
mulado p o r um leigo e, tendo encontrado o ponto crítico do problema, o
perito tem o dever moral de expor à Justiça a sua observação, pois, caso
contrário, estará ocultando a verdade que se procura e que ele conhece.
Capítulo XX

A P e r íc ia G r a f o t é c n ic a

Entende-se por perícia os exames procedidos por um especialista, in­


vestigações e conclusões dela derivadas para o esclarecimento de um fato.
Assim, é a firmação técnica sobre determinado feto de interesse da justiça.
Ensina Carvalho Santos que:
“A perícia consiste no encargo conferido a pessoas competentes, de
preferência especializadas tecnicamente, para proceder às averigua­
ções que se fizerem necessárias, para o esclarecimento das questões
debatidas no processo; sempre que tais pronunciamentos exijam co­
nhecimentos especializados, devendo o resultado do exame procedido
ser levado ao conhecimento do juiz por meio de laudo.”
As perícias datam da antiguidade. Eram conhecidas dos babilônicos,
dos hebreus, dos persas e dos árabes.
Entre os gregos e os romanos, as perícias eram precedidas de um ri­
tual religioso, por isso delas se encarregavam os sacerdotes. Era o período
religioso da perícia.
Dessa fase, a perícia passou pelo período filosófico, pois a filosofia,
praticamente, abrangia todo conhecimento hum ano e chegou, na m oder­
nidade, a ó período científico ou técnico.
A perícia foi, pela primeira vez, regulamentada na França, em 1352.
Hoje, a perícia é o mais im portante elem ento de prova e os peritos se
especializaram nas várias áreas da criminalística.
Entre nós, as perícias obedecem a determinados requisitos, uns dita­
dos e sancionados pela experiência e outros para satisfazerem a preceitos
legais.
A polícia científica - entre nós, o Instituto de Criminalística - é o ór­
gão encarregado de proceder a todas as perícias necessárias à instrução do
processo criminal.
220 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

A polícia científica absorveu todos os ensinamentos da evolução cien­


tífica do século XVIII.
Afrânio P eixoto, n o liv ro M edicina legal, p re c o n iz o u a a ç ã o da p o líc ia
cien tífica:
“A criminalidade dos grandes centros urbanos é culta, engenhosa,
bem apercebida dos meios e conhecimentos de fazer mal, oriun­
dos da própria ciência que os dá a todos liberalmente, e, portanto,
lhes cabe por igual, a sociedade; que tem, pois, que separar, por
meios idôneos, contra esses terríveis inimigos, os criminosos pro­
fissionais.”
Esses meios idôneos de que fala o m estre de medicina legal patrício
são justam ente as perícias ensejadas pelos ensinam entos da criminalís­
tica.
A solução deve nascer naturalmente da soma dos elementos técnicos
coletados pelo examinador, obedecendo os ditames da perícia e jamais de
acordo com a sua opinião pessoal.

1. Evolução da P erícia G rafotécnica

O exame pericial é a melhor das provas do fato delituoso porque é,


segundo J oão Monteiro:
“O olho que vê,
A mão que apalpa,
A trena que mede,
A ciência que tolhe a chicana,
A arte que materializa a verdade.”
Parece não haver dúvida de que a figura do falsário antecedeu à do
perito gráfico.
Assim, dizeres inscritos em m onum entos, na antiguidade, foram alte­
rados, para dar glórias a generais que haviam sido derrotados.
Já se teve a oportunidade de registrar que T itus foi o maior falsário
do seu tempo.
A perícia, segundo a notícia mais antiga, teria surgido no ano 88 da
nossa era. O Instituto Oratória, de Quintiliano, continha as primeiras re­
ferências à perícia de escritas.
No campo jurídico, no direito romano, apareceu o crime de falsifica­
ção, a Lex Cornelia de Falsis.
Na Constituição Criminal Carolíngea, no direito germânico, a lei pe­
nal tutelou alguns documentos.
C apítulo XX - A P erícia G rafotécnica 221

Na Idade Média, o direito italiano não se preocupou com a falsifica­


ção, mas, com o surgimento do direito romano, houve uma modificação
na legislação.
A França, ao que tudo indica, foi o berço da grafotécnica. A primeira
notícia de falsificação data de 1370.
Q uando a perícia se encontrava ainda exercitando seus primeiros
passos, a falsificação da assinatura de C arlos IX, em docum ento em que
abdicava do trono, deu novo impulso à perícia.
Como fruto desse evento, em 1570, na França, foi criada a Comunité
d ’écrivains experts verificateurs. Os membros dessa corporação, p o r lon­
go tempo, gozaram de muito prestígio nas cortes de justiça. Por isso, os
Maitres écrivains atraíram muitos especialistas.
Essa corporação, todavia, com o passar do tempo, foi empalidecen­
do. Mesmo assim, Raveneau, mem bro da sociedade, publicou um livro em
1665, Traité des inscriptions en fa u x , obra esta considerada a primeira
sobre a perícia gráfica, na qual expunha os vários processos de falsificar e
as suas características.
Luiz XIX com uma decisão do Conselho Privativo, chegou a conferir
certas imunidades aos Maitres écrivains.
Mas o declínio dos experts era evidente. Chegou a tal ponto que Ra­
veneau, não acreditando na capacidade dos membros da comunidade, pas­
sou a falsificar. Mas foi apanhado, julgado e condenado.
T urgot dissolveu a corporação em 1776. Mais tarde, ela foi revivida
e de novo extinta em 1791. Surgiu então a Académie d ’É critur, mas de
pouca duração.
B ertillon, o c ria d o r d a a n tro p o m e tr ia , se e n tu s ia s m o u c o m Raveneau
e c h e g o u a a firm a r q u e , d e p o is d e le , n a d a m ais se p o d e r ia a c re s c e n ta r à
p e ríc ia d a s esc rita s. O p r ó p r io B ertillon p a s s o u a fa zer ex a m e s, m a s fo i m al
s u c e d id o , c o m o se v e rá m ais a d ia n te .
A Academia de Letras cerrou as portas com a Revolução Francesa. Na
Inglaterra, os meios oficiais só passaram a se interessar pela grafotécnica
quando falsificaram cartas como sendo do punho da rainha M ary S tuart.
Em virtude de um pós-escrito daquelas cartas apócritas, M ary Stuart
foi condenada à morte, embora sempre negasse ser ele de seu punho.
Se, naquela época, fossem provadas as falsificações, talvez a história
da Inglaterra tivesse tomado outros rumos.
Depois desse período, a falsificação e os experts caíram no esqueci­
mento.
222 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

No século XEX, com vários insucessos, a perícia de escritas ficou no


pelourinho. Os erros seguidos em processos rum orosos abalou o seu
conceito.
Na França, o Caso Dreyfus, todavia, levou a perícia ao plano nacional
e internacional. No Brasil, tivemos o rum oroso Caso Bernardes, de 1921
a 1922.
Em 1906, Reiss, que esteve no Brasil, em São Paulo, publicou uma
obra - L a PhotographieJudiciaire - na qual trata de questões relacionadas
com a grafotécnica. Em 1913, Paulier ofereceu sua o b raÉtude de Vécrituire
artifielle dans les docum ents forgés; em 1909 surgiu o Q uestioned
docum ents, de A lbert O sborn, obra clássica na perícia.
Com todos esses trabalhos, a perícia tom ou novos rumos, agora já
com base científica e com soluções seguras.
1.1. A primeira perícia grafotécnica em São Paulo
O Professor Roman B lanco dá notícia de que a primeira perícia grafo­
técnica em São Paulo foi feita em 1619-
F rancisco G aia, acompanhado do procurador de seu seguro, J acques
F elix, em São Paulo, inquinou de falsas quatro quitações juntadas no pro­
cesso do testam ento de I sabel F elix, esposa do espanhol D iogo Sanchez, do
qual seu sogro era o curador.
O magistrado nom eou a D omingos M orato B ittencourt, Tabelião da Vila,
Antonio R odrigues M iranda, escrivão da Câmara e Simão B orges C erqueira,
escrivão e tabelião dos órfãos, como peritos.
Procedidos os exames, os peritos deram a sua conclusão oralmente:
as assinaturas das quitações eram falsas.
O magistrado, com base no pronunciam ento dos peritos, proferiu a
sentença.
É de se lamentar que o laudo não tenha sido feito p o r escrito, pois
hoje poder-se-ia examiná-lo e ter-se-ia idéia de como os peritos orientaram
seus trabalhos e como fundamentaram a sua conclusão e qual o grau de
seu acerto.

2. Do Exame G rafotécnico

A prim eira preocupação será a de se examinar o docum ento na sua


integridade, a fim de verificar o estado de conservação. Examinar suas
dobras, o com portam ento do texto em relação a elas, para saber se a do-
bragem antecedeu ou sucedeu ao registro do conteúdo, assim como as
rasgaduras que contiver. Manchas eventualmente encontradas deverão ser
C apítulo XX - A P erícia G rafotécnica 223

submetidas aos raios ultravioleta, certificando-se se foram ou não objeto


de fraude (lavagem química).
Anotados os resultados dessa inspeção geral, o docum ento deve ser
fotografado, a fim de se fixar o seu estado físico no início dos exames e,
bem assim, em detalhe, tudo aquilo que se julgar interessante para o es­
clarecimento da verdade.
Na prim eira fase, ele deverá ser estudado no seu conjunto, para se
saber se se trata de grafismo evoluído ou não, se há características de que
tenha sido feito com espontaneidade ou se há indícios - retoques, repas­
sadas de pena, trêmulos, hesitações - indicadores de uma operação de
imitação ou de simulação.
Das observações serão registrados os detalhes e fotografados, se hou­
ver necessidade.
Prosseguindo, serão examinados os elementos gerais da escrita, objetivos
e subjetivos. No levantamento dos elementos objetivos, serão focalizados:
• a inclinação axial, atentando para a existência de sua reversão e,
no seu registro, anotar na fotografação;
• o calibre dos caracteres, interessando, sobretudo, a relação de sua
proporção entre todos eles;
• o andam ento da escrita - os espaçamentos intergramaticais, lite­
rais e vocabulares, visando a determ inar as paradas e retomadas do
traço, que tanto podem ser características do punho escritor como
resultado de imitações;
• anotar a projeção das passantes em haste superior ou inferior e
das em laçadas;
• constatar o alinhamento gráfico, em relação à linha de pauta - im­
pressa ou ideal;
• estudar os traços complementares de alguns caracteres, como o
corte do t , quanto à sua localização na haste, ao seu tamanho,
sua localização em relação à própria letra - acima da haste, à es­
querda ou à direita, registrando-se o porm enor para fotografá-lo,
se houver necessidade. O mesmo fazer em relação ao pin g o do i,
registrando sua forma e localização e até a sua inexistência e, final­
mente, a cedilha do ç;
• verificar se há predominância de ângulos ou de curvas.
Todas as características encontradas deverão ser anotadas, bem como
a fotografação dos detalhes, que poderão ser úteis posteriorm ente para a
ilustração da fundamentação técnica da conclusão.
224 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Examinados que foram os elementos formais objetivos, serão passa­


dos em revista os subjetivos.
Deverão ser estudados, nesse sentido:
• fixação do aspecto geral da escrita, que não é outra coisa senão as
características já anotadas no prim eiro exame geral do texto, quan­
do se iniciou o estudo da peça de exame;
• classificação da escrita, quanto à sua velocidade de produção;
• como resultado dessas observações, será estimada a habilidade do
punho e a pressão que exerceu no instrumento escrevente;
• finalmente, o perito ficará sabendo se se trata de um lançamento
ritmado e dinâmico ou não.
C ontinuando seus exames, o perito vai conclui-los com o estudo da
gênese gráfica de todos os lançam entos que com põem o texto questio­
nado.
Nessa verificação, a preocupação é o ataque dos vários gramas, as
suas interligações e seus remates. É o estudo da movimentação do gesto
gráfico. Toda e qualquer peculiaridade gráfica será analisada. Nesta fase, é
de grande significação o perito detectar os modismos ou hábitos gráficos
que podem existir nos lançamentos examinados. São particularidades que
servem de reforço expressivo para a conclusão.
Feitos os exames, as observações serão registradas, assinalando-se as
que merecem, pela sua expressividade, nas fotografias.
Procedido o exame do docum ento incriminado, o examinador voltará
a atenção para os padrões de confronto, realizando as mesmas verificações
feitas naquela peça. Chega-se, assim, à fase final do exame: a confrontação
dos exames feitos nas duas primeiras etapas, complementada pelo cotejo
direto da peça questionada com os padrões.
A conclusão do exame será o resultado natural das observações feitas:
na sua convergência será ela positiva e, contrariamente, na divergência,
será negativa. Caso não sejam encontrados elementos suficientes para ali­
cerçar esta ou aquela conclusão, citando essas circunstâncias, o perito não
deverá se manifestar. É claro que isto só pode ocorrer na indagação da
autoria gráfica, e nunca na da autenticidade de lançamentos.
Fotografados os dados julgados indispensáveis para a fundamentação e
assinaladas essas características nas fotografias, o laudo já pode ser redigido.
É evidente que, dependendo da questão proposta pelas partes e pela
natureza dos lançamentos a serem examinados, outras verificações pode­
rão ser feitas.
C apítulo XX —A P erícia G rafotécnica 225

Assim, nas escritas cursivas, nos casos de falsificações, o perito deve


se manifestar sobre o seu tipo, se se tratar de falsificação servil, sem limita­
ção, de memória, exercitada ou de decalque. Em decorrência disso, novas
fotografias poderão ser feitas, com a presença de debuxos, nos casos de
decalques indiretos ou a superposição do lançamento questionado com a
matriz, se eles forem encontrados, em se tratando de decalque direto.
Em se tratando de assinaturas falsas em cheques, é conveniente que
o perito registre se se trata de falsificação feita com habilidade ou de p ro ­
duto grosseiro.
Nas lavagens químicas, serão feitos exames com Luz de Wood; nas
barragens de textos, estudo com em prego dos raios infravermelhos.
Na identificação de máquina de escrever, relacionados os defeitos de­
correntes do uso nas mecanografias questionadas e o padrão de confron­
to; os detalhes devem ser fotografados e ampliados na mesma escala.
Cogitando-se de acréscimos, o comportamento dos alinhamentos
dactilográficos serão examinados com utilização de películas transparen­
tes gabaritadas. Serão feitas as necessárias fotografias para ilustrar a con­
clusão.
Enfim, cada tipo de exame, em razão da natureza da peça questiona­
da, obrigará anotações específicas para o caso.

3. A P erícia por C omputador

Ao que tudo indica, os falsários, que operam forjando assinaturas em


cheques e outros documentos, estão com os seus dias contados: Um in­
vento lançado no mercado pela IBM obrigará esses estelionatários a m udar
de profissão, pois os exames grafotécnicos, num futuro muito próximo,
serão feitos po r computadores. Quando esse processo estiver vulgarizado,
nos bancos, sobretudo, os princípios da perícia serão m udados radical­
m ente —não mais serão feitos confrontos com as convergências genéticas
da peça de exame em relação aos padrões, pois tudo será resolvido pelo
computador, e os peritos da área, nesse setor, deverão ser treinados no
novo m étodo de exame.
O exame por com putador se baseará na velocidade dos vários lança­
mentos que integram o docum ento e na pressão exercida no instrum ento
escrevente, na sua produção.
As canetas são dotadas de sensores e conectadas a computadores. Isto
permitirá medir as mudanças de velocidade de punho, as de sua direção e
pressão, podendo até registrar as hesitações, no caso das falsificações.
226 DOCUMENTOSCOPIA - I.AMARTINE MliNDES

Os computadores, hoje, são aparelhos de uso doméstico e, muito


breve, os dedicados aos exames gráficos estarão no mercado, bem como
as canetas com sensores.
Os cheques e os documentos, por sua vez, também serão feitos com o
novo tipo de canetas, cujo gráfico será lido pelo com putador e comparado
com o já registrado na memória.
N oel H erbst, um dos inventores do sistema, afirma que as mudanças
de um falsário ao imitar as características dinâmicas de um modelo serão
diferentes das assinaturas verdadeiras. Por isso, recom enda o processo aos
estabelecimentos bancários, cujos resultados são exatos e oferecidos ime­
diatamente sob a forma de gráfico.
A revista americana O mni, de junho de 1979, deu notícias desse detec­
tor de falsificações, num artigo assinado p o r Kenneth J ohn Rose. Em prin­
cípio, com base apenas no teor desse artigo, que não examinou a técnica
com profundidade, não se acredita no seu êxito.
O gráfico dado pelo com putador baseia-se em três elementos:
• pressão do punho;
• velocidade do lançamento;
• direção do traço.
Ora, esses são elementos gerais da escrita, por isso, sua harmonia não
determina a autenticidade e nem o seu conflito comprova a ilegitimidade.

Figura1- Reprodução dos gráficos que ilustram o artigo Forgery detector ,


publicado pela revista americana mencionada.

São vários os fatores, intrínsecos e extrínsecos, que podem alterar


esses elementos, mesmo nas escritas legítimas.
Assim sendo, como poderá o com putador separar os conflitos gera­
dos por uma imitação, feita por punho alheio, dos que são resultantes das
modificações normais dos grafismos?
C apítulo XX - A P erícia G rafotécnica 227

Mas, seja como for, é preciso reconhecer que se trata de abertura de


um novo horizonte para a perícia grafotécnica. As falhas, hoje existentes,
possivelmente venham a ser corrigidas no futuro pelo avanço dessa nova
tecnologia.
E o que ficou dito não é um devaneio de um idealista. A m eta almeja­
da, como se verá a seguir, já chegou.
Capítulo XXI

O L a u d o G r a f o t é c n ic o

O laudo é o cartão de visita do perito e é por meio dele que se forma


o seu conceito de bom ou mau profissional. O laudo, pelo seu zelo, pela
sua cultura técnica, pela sua lealdade, conquista a confiança da justiça.
Constitui um a peça séria, monolítica: a materialização da verdade, p or isso
útil no ajuizamento do litígio. Os laudos feitos apenas por obrigação pro­
fissional, nada contribuindo para o esclarecimento do fato ajuizado, são
peças mortas que, por vezes, nem merecem a atenção do julgador.
O laudo é uma ata técnica: o relato do examinador, de tudo quanto se
fez e os resultados obtidos. Nada pode ser omitido.
O laudo, é claro, não é peça literária, mas isso não significa que sua
linguagem seja descuidada. Muito ao contrário: sem pruridos retóricos,
tudo deve ser exposto com clareza e precisão, banindo os termos dúbios,
de dupla significação ou de sentido discutível.
Assim, portanto, três são as virtudes do laudo:
• clareza;
• concisão;
• precisão.
O texto deve ser urdido com períodos curtos, de preferência na or­
dem direta.
O laudo é uma peça séria, que pode acarretar prejuízos para as partes
envolvidas e até para o seu subscritor. O perito deve tomar todas as caute­
las para que no seu relato não haja contradições.
M alatesta, no livro Lógica delia Prova in Criminale, focaliza com m ui­
ta propriedade essa questão:
“A incredibilidade das afirmações retira a fé do testemunho; a invero-
similhança diminui a fé; se um perito cai em contradição, no contexto
230 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

de sua própria perícia, demonstrando com isso não ter ele próprio
certeza, não pode inspirar aos outros a certeza das coisas afirmadas; o
testemunho pericial, quando é em si contraditório, perderá, portanto,
mais ou menos fé, segundo a natureza das afirmações, entre as quais
tem lugar a contradição.”
No Repertório Enciclopédico, já aludido, a questão foi assim focali­
zada:
“O que se reclama é a clareza nas respostas, que devem ser sempre mo­
tivadas, com uma exposição sincera e franca dos fundamentos apoia­
dos, necessariamente, em bases científicas.”
Assim, não basta a resposta ao quesito por si só: é indispensável que
as causas que a determinam sejam expostas, tendo-se em vista os postula­
dos científicos da perícia.
Francisco D’Auria, para concluir, também se manifestou sobre a res­
posta aos quesitos, afirmando:
“A redação das respostas deve ser em linguagem clara e precisa, tendo
como norma a repetição das mesmas expressões das proposições e
perguntas, quando a elas tenha de referir-se, transcrever ipsis verbis
as partes examinadas que interessarem, e nada omitir ou aditar àquilo
que é limitado nos quesitos.”
Sem ter a pretensão de criticar a lição do grande jurista patrício, por
vezes, quando o quesito não atinge o fulcro da questão, p o r ter sido for­
mulado por um leigo, e tendo encontrado o ponto crítico do problema, o
perito tem o dever moral de expor à Justiça a sua observação, pois, caso
contrário, estará ocultando a verdade que se procura e que ele conhece.
Antonio Dellepiene, na obra Nova Teoria da Prova, teceu estas consi­
derações sobre a perícia:
“Toda prova, por plena e perfeita que seja, de um fato inverossímil,
torna-se, por esta circunstância, suspeita e, mais do que isso, presumi­
velmente falsa, e, por tal razão, judicialmente inaceitável.”
Alguns estudiosos fazem distinção entre laudos e relatórios: os pri­
meiros são instruídos com quesitos, o que não ocorre com os segundos.
Mas, na verdade, todo exame procura responder a uma indagação,
seja explícita ou não; assim, não há por que se fazer aquela distinção. Afi­
nal de contas, o laudo é o resultado de um exame de natureza técnica e
outra coisa não é o relatório.
Seja como for, laudo ou relatório não passam do estabelecimento da
verdade de um a disputa técnica ou a exposição de um fato ocorrido, em
que, na sua dinâmica, seus resultados são esclarecidos, consubstanciando-
se, assim, a infração penal.
C apítulo XXI - O Laudo G rafotécnico
231

O laudo grafotécnico possui uma característica que nem sem pre re­
veste os relacionados com exames de outras especialidades: no que diz
respeito às falsidades, depois de comprovar o fato, ele determ ina a sua
autoria, ou seja, aponta nominalmente o seu autor.
As conclusões, para a perícia grafotécnica, sempre são expostas ca­
tegoricamente, seja para afirmar ou negar. Com isso, o examinador não
pode usar verbos no condicional e nem apresentar alternativas.
Outra peculiaridade dos laudos grafotécnicos: nas questões que en­
volvem indagações sobre a legitimidade de um lançamento, sempre com­
portam um a solução, seja ela de autenticidade, seja de falsidade.. Disso
não há como fugir: ou uma assinatura é legítima ou é apócrifa. Não há
meio termo.
Nas questões que versam sobre a autoria gráfica, entretanto, depen­
dendo de condições particulares da peça de exame ou dos padrões de
confronto, é possível que o perito não possa chegar a uma conclusão. Nes­
sa oportunidade, as circunstâncias que impediram a solução do problema,
necessariamente, devem ser expostas. Confessar que não chegou a um a
conclusão, fundam entando com dados técnicos, não serve de argum ento
para se alegar a incompetência do examinador. Ao contrário, ele dá prova
de coragem e de lealdade.
Finalmente, nas questões mais complexas, pode o perito, para robustecer
sua fundamentação, transcrever citações de autores de renome, tendo o cui­
dado de citar o nome da obra, a página e a edição, sempre que possível for.

1. R oteiro do L audo

O la udo , na perícia documentoscópica, deve ser redigido num a lin­


guagem clara, precisa e objetiva.
Depois da abertura do laudo, geralmente preenchendo-se os claros
de uma fórmula impressa, em que constam o nome da autoridade requi-
sitante da perícia, o seu objetivo, o inquérito policial, a que se destina e o
nome dos peritos designados, abre-se o título peça de exame.
E então o docum ento objeto do exame descrito sumariamente, se ele
tiver sido fotografado.
A seguir, vem o capítulo objetivo do exame, no qual se especifica o
que o exame pretende, podendo essa meta estar ou não consubstanciada
em quesitos.
Padrões de confronto é o item seguinte, no qual se nomeiam os pa­
radigmas, localizando-os nos autos de inquérito e dando o nome do for­
necedor.
232 D ocumentoscopia —Lamartine M endes

Vem, então, o título aparelham ento utilizado, devendo o perito indi­


car quais os aparelhos de que se serviu para a realização do exame.
Se, para a realização dos exames, foram feitas diligências - em cartó­
rios, bancos ou arquivos - deverão elas ser consignadas sob o título dili­
gências realizadas.
Prosseguindo, se quesitos tiverem sido apresentados, esse será o
item: quesitos.
Transcrito o quesito, deve ele ser respondido logo a seguir, também
de maneira clara, precisa e objetiva. Por exemplo:
A assinaturaX do documento de fls. Y dos autos é autêntica (ou falsa) em
face dos padrões de confronto colhidos do punho da pessoa homônima?
Resposta: - A assinatura tal é verdadeira, pois proveio do punho da
pessoa homônima, em face do padrão de confronto colhido do seu punho
às fls. dos autos.
Ou então:
O lançamento X, exarado no docum ento de fls. dos autos, proveio
do punho do indicado, em face dos padrões de confronto colhidos de seu
punho?
Resposta: - O lançamento X proveio do punho de fulano de tal, que
forneceu os padrões de confronto de fls. dos autos.
Quando não houver quesito, o perito abrirá o capítulo conclusão/ões,
e oferecerá a solução, seguida da indispensável fundamentação.
Respondido o quesito, ou dada a conclusão, que será feita com desta­
que, segue-se o item fundam entação. O perito deverá então indicar todos
os elementos convergentes ou divergentes que encontrou, em abono da
sua pronunciação.
O laudo será encerrado indicando-se quem o redigiu, o núm ero de
páginas, de fotografias, a data e as assinaturas dos dois peritos, sendo a
primeira do relator.
O laudo pericial c a peça fundamental do processo criminal, p o r isso
ele deve ser bem elaborado, bem fundamentado, redigido com linguagem
clara e precisa, com conclusões categóricas.
Sem esses requisitos, o laudo tem pouca valia para a justiça. O perito
criminal, por essa razão, tem, com seu laudo, lugar de destaque no proce­
dim ento penal.
Carnelutti, com muita propriedade, ensina que:
“Testemunha recorda, o perito relata; a primeira é meio de reconstru­
ção e o segundo de comunicação da verdade.”
C apítulo XXI - O Laudo G rafotécnico 233

É preciso, pois, que os peritos façam jus a esse conceito do grande


penalista italiano.
A justiça paulista já se pronunciou a respeito do valor do laudo, na
Apelação n. 32.821, da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo —Boletim de Jurisprudência n. 51/7, assim se manifestando:
“Deve sempre prevalecer o laudo da polícia técnica; quando não exis­
tir nenhum fundamento sério para convencer da ocorrência de qual­
quer vício que possa desacreditá-lo. A polícia técnica é órgão que está
acima de qualquer suspeita, sendo regra, no conflito de provas entre
depoimento de testemunhas e perícia, ser dado preponderância a essa
última.”
Para finalizar, não se pode esquecer que, de acordo com o art. 182 do
Código de Processo Penal,
“O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.”
x

E evidente que não poderia ser de outra forma, pois, do contrário, o


perito se colocaria num plano acima do magistrado e tal situação é inad­
missível.
Seja como for, por outro lado, é inegável que o laudo pode contribuir
de maneira decisiva no convencimento do Juiz, desde que suas conclusões
não estejam, comprovadamente, divorciadas da verdade.

2. 0 Valor da P erícia

2.1. Considerações
A perícia documentoscópica é aceita universalmente, em todos os
tribunais, em razão dos seus foros científicos.
A despeito disso, ainda existem aqueles que lhe fazem algumas res­
trições.
Em 1962, o autor teve a oportunidade de estagiar no CrimeLaboratory
da Polícia Municipal de Filadélfia, nos Estados Unidos. Essa repartição
técnico-policial, no entanto, no campo da documentoscopia, apenas
procedia a exames mecanográficos. Os exames grafotécnicos eram p o r
eles encaminhados ao Federal Bureau o f Investigation, DC. A alegação
era de que os técnicos julgavam muito difícil a materialização da prova, o
que não ocorre com a dos exames mecanográficos.
Na verdade, houve época em que a perícia era desacreditada. Nessa
ocasião, os m étodos de exame eram inaceitáveis, como a grafometria - a
medição das curvas e dos ângulos da escrita.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
234

Com os trabalhos de P ellat, que ditou as leis dos grafismos, aqueles


exames, puram ente empíricos, foram abandonados e, com isso, a perícia
se robusteceu e sua aceitação se generalizou.
Nos dias atuais, a perícia é recebida por todos os nossos tribunais, as­
sim como nos do exterior. Mas é preciso reconhecer que ainda há críticas
quanto à exatidão da perícia.
Duas são essas causas: de um lado, leigos têm se arvorado em peritos
grafotécnicos e as suas soluções, muitas vezes, dependem apenas de um
acerto com uma das partes. Eles, por assim dizer, comercializam a perícia.
Por outro lado, outros, sem vivência na especialidade, oferecem resultados
discutíveis, que afrontam os postulados da perícia, embora ajam de boa-fé.
O atual Código de Processo Civil Brasileiro, talvez em face da fragi­
lidade dos laudos periciais grafotécnicos dos peritos forenses, procurou
p ôr cobro a essa situação, já que condiciona a nomeação dos peritos ju­
diciais, de preferência, aos militantes nos institutos de criminalística. Foi
dado um passo à frente. Melhor teria sido que a escolha recaísse entre
aqueles que, em suas repartições, procedem a esse tipo de exame e, por
isso, têm maior experiência na especialidade.
Outro fator que leva muitas pessoas a não acreditar na perícia é o
desconhecim ento dos seus fundamentos. D. F rederico M iracle Y C arbonell ,
no livro El falsificador de firm a s e documentos, colocou a questão nos
seguintes termos:
“C a d a in d iv íd u o d e la especie h u m a n a lle v a im p re sa e n s u p e c u lia r
e sc ritu ra cu rsiv o u s u a l u n a f i s in o m ia ta n cara cterística , cjue con
se r e sp e c ia l y ú n ica , se d is tin g u e p e r fe c ta m e n te d e c u a lq u ie r o u tr a
e sc ritu ra q u e h a ia e x istid o , e x is ta ó p u e d a existir. ”
(Cada indivíduo da esp écie hum ana leva im pressa sua escrita cursiva
peculiar habitual, um a fisionom ia tão característica que, por ser esp e­
cial e única, se distingue perfeitam ente de qualquer outra escrita que
tenha existido, exista ou p ossa existir.)
E pondera:
“S i lo s p r o fa n o s n o c o m p r e n d e m e sta a severa ció n c ie n tific a p o r n i
sa b e r d is tin g u ir lo s d iv e rso s ca ra cteres d e letra cu rsiv o usuales, n i
m u c h o m e n o s d e sc u b rir la s fa ls ific a c io n e s, n o es q u e su s s e n tid o s les
en g a n en , es ta n so lo p o r q u e les f a l t a la exp e riê n c ia cien tífica ; p o r
c u y a r a z ó n ju z g a n se g ú n s u im p re sió n ó seg ú n su p re o c u p a c ió n , sin
re la c io n a r e l caso p r e s e n te co n la s o b serva cio n es a n te rio re s p ró p ria s
ó a je n a s q u e h a n c o n s titu íd o la s regias d e i arte. ”
(Se o s leigos não com p reen d em esta afirmação científica, p or não sabe­
rem distinguir o s diversos tip os de letras cursivas habituais, nem m uito
C apítulo XXI —O Laudo G rafotécnico
235

menos descobrir as falsificações, não é que seus sentidos os engana­


ram, é tão somente porque lhes falta a experiência científica; por esta
razão julgam segundo sua impressão ou segundo sua preocupação,
sem relacionar o caso presente com as observações anteriores, pró­
prias ou alheias, que constituem as regras da arte.)
Aqueles que não acreditam na perícia documentoscópica, indagaría­
mos como, na falta de outras provas, poderíam os tribunais decidir sobre
a legitimidade ou não de um documento?

3. Conselhos P ara os P eritos


O perito deve ser cauteloso e não se deixar impressionar pelas apa­
rências. Qualquer característica que venha a observar só poderá ser de-
cisória depois de uma interpretação serena. Dúvidas que possam surgir
devem levá-lo a discutir o assunto com um companheiro mais experim en­
tado. As trocas de idéias entre os técnicos devem ser de rotina. É uma
troca de conhecimentos e vivências. Por isso, o perito deve ter a hum ilda­
de de reconhecer que outros possam ter mais conhecimentos do que ele
sobre a especialidade. Só os tolos não têm dúvidas, porque julgam, na sua
ignorância, que tudo sabem e que são os donos da verdade.
O perito não pode ser afoito: a pressa é inimiga da perfeição. Não
deve existir pressa na solução de um problema.
O perito não deve ser arrojado, mas deve ter a coragem, com apoio
dos elem entos técnicos, de oferecer um a solução e defendê-la, pois ela
constitui a materialização da verdade.
O perito, finalmente, não deve ser gabola, deve conhecer a limitação
dos seus conhecimentos.
O verdadeiro perito está convencido de que, no âmbito de sua capa­
cidade, ainda existem lacunas, que o estudo dos autores, a experiência de
outrem ou suas, com o tempo, irão ser preenchidas. O perito aprende dia
a dia; cada exame descortina um novo horizonte e novos conhecimentos
são adquiridos.
Todos aqueles que assim não procederem não são peritos n o estrito
sentido da palavra e, no decorrer do tempo, logo serão desmascarados,
com sérios prejuízos para a sua moral, que sempre terá reflexos na insti­
tuição que servem.
Não tem o perito a obrigação de concluir, mas, sempre que, p o r moti­
vos técnicos, a solução não aflore, o perito deve expor essa circunstância,
justificando o seu silêncio.
Capítulo XXII
As M o e d a s M e t á l ic a s

Antigamente, as moedas metálicas eram fundidas. Tanto na China


como em Roma, o processo consistia em entalhar um desenho em molde
e depois derram ar sobre ele metal em fusão. Esse sistema foi logo abando­
nado e as moedas passaram a ser cunhadas. O processo de cunhagem, no
começo, era muito rudim entar e era conhecido por batim ento. Faziam-se
dois moldes para cada lado da moeda. Para cunhar, um disco de metal
aquecido era colocado entre os dois moldes e, depois, batia-se fortem ente
sobre eles com um martelo. O resultado era precário, pois a nitidez dos
motivos gravados dependia da força aplicada na batida: se a pancada fosse
por demais violenta, a moeda ficava achatada e, com isso, sofria pequeno
aum ento de tamanho; se fosse fraca, os desenhos mal ficavam visíveis.
No século XVII, surgiu uma invenção, fazendo com que as batidas
fossem aplicadas sempre com a mesma intensidade. Mesmo assim, depen­
dendo da liga do disco ou do seu preaquecimento, ainda podiam ocor­
rer diferenças no seu tamanho. Esse inconveniente foi sanado, logo após,
com o aparecimento de um acessório chamado Virola. Era um aro de me­
tal, dentro do qual era colocado o disco, e isso impedia que ele dilatasse
ao receber a batida.
M odernamente, as moedas são cunhadas em máquinas inventadas no
século XEX e que vêm sendo aperfeiçoadas continuamente. Não passam
de prensas mecânicas, sendo os moldes alimentados automaticamente,
permitindo a cunhagem simultânea das duas faces da moeda.

1. 0 P reparo do Disco
A cunhagem das moedas pode ser dividida em três fases.
A primeira fase tem início no preparo da liga, atendendo às especifica­
ções técnicas determinadas pela lei. A composição da liga é rigorosamente
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
238

controlada. Esse controle tanto pode ser feito por análises químicas como
por meio do espectrofotômetro, com iluminação de raio X.
Obtida a liga, é esta transformada em lingotes, que serão posterior­
mente reduzidos a lâminas, com a espessura que a moeda deverá ter. A
laminação do lingote é processada a quente e, depois de a lâmina estar
pronta, sofre ela novo tratamento a frio. A lâmina é, então, submetida a um
processo de recozimento para corrigir a perda de maleabilidade causada
pelo encruamento, este provocado pela própria laminação. Já recozida e na
espessura desejada, a lâmina é levada a uma máquina com ferramentas de
corte, onde são feitos os discos no tamanho determinado para a moeda.
O uso de lubrificantes e o recozimento do metal acarretam manchas
no disco e eles podem oxidar, por isso passam por um processo de limpe­
za, polim ento e desoxidação, mergulhados num tam bor rotativo contendo
ácido diluído. Girando o tambor, o simples atrito dos discos, uns contra
os outros e todos contra as paredes do tambor, deixa-os completamente
limpos, polidos e desoxidados. A seguir os discos são lavados e depois
secados.
Feitos os discos, eles sofrem um a operação de recalque, isto é, são
comprimidos para repuxar o metal em direção à orla, para que esta fique
mais espessa do que o campo, ou seja, o centro do disco.

2. F eitura da Matriz
Enquanto se processa o preparo do disco, concomitantemente inicia-
se a feitura dos cunhos, ou seja, das matrizes, uma para o anverso e outra
para o reverso da moeda.
O primeiro passo para a confecção das matrizes é o do desenhista. Ele
desenha em tamanho grande, em escala, todos os motivos a serem cunha­
dos no anverso e reverso da moeda.
Aprovado o desenho, eles são reproduzidos em relevo, numa peça de
resina dura, de diâmetro muito maior que o da moeda a ser feita. Dessa
peça, onde os motivos se encontram em relevo, por um pantógrafo, eles são
transportados para uma peça de aço rápido, reduzidos no tamanho exato
do relevo original. A seguir, essa peça de aço rápido é resfriada num banho
especial e endurecida por tratamento térmico. Está pronto o cunho.

3. Cunhagem
A máquina de cunhagem, em princípio, consiste num bloco de aço
perfurado, com a dimensão exata da m oeda a ser feita. Essa máquina é
chamada de colar
C apítulo XXII - As M oedas M etálicas
239

Uma das matrizes fica instalada no fundo do bloco. O disco é coloca­


do, automaticamente, no interior do colar e aí recebe a pressão da outra
matriz que desce e o comprime, sob uma pressão de 180 a 250 toneladas.
Q uando se tratar de moedas com serrilhas no bordo, estas estão gravadas
nas paredes internas do bloco e se transferem para o disco na ocasião da
expansão do metal ao receber o impacto.
Feita a moeda, ela passa p o r revisão, rejeitando-se as que apresenta­
rem qualquer defeito.

4. Nomenclatura da Moeda
• Disco: o suporte metálico.
• Anverso: face principal da moeda, onde se encontra a efígie do
homenageado, uma alegoria ou brasões.
• Reverso-, lado oposto ao anverso, onde se encontra o dístico do
valor.
• Campo-, parte central do disco da moeda, onde se encontram
gravados os motivos decorativos.
• Orla-, faixa da moeda que contorna o campo e que, geralmente,
traz inscrições.
• Rebordo-, parte externa, em relevo, do disco da moeda, para im­
pedir o seu desgaste. Serve para medir a espessura da moeda.
• Bordo: superfície curva da moeda, que pode ser lisa, serrilhada,
cinescópica ou conter dísticos.
• Enxergo-, parte inferior da orla, onde se inscreve a data (era) e o
local da emissão.
• Módulo: diâmetro do disco da moeda.

Figura 1 - Nomenclatura do disco da moeda: 1 - Módulo (diâmetro); 2 - Campo; 3 - Orla; 4 -


Rebordo (referência para medição da espessura); 5 - Bordo; 6 - Enxergo (era - data de emissão).
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
240

5. A F alsificação de Moedas Metálicas


A história do dinheiro na China, onde, segundo alguns autores, te-
riani surgido as primeiras moedas e não na Grécia —,está cheia de falsifica­
ções desse meio circulante.
As moedas eram moldadas em bronze, o que facilitava a reprodução.
As falsificações eram tantas, que o povo se recusava a receber as moedas,
preferindo substituí-las por espécie, como seda, chá ou búzios. Outra con­
sequência provocada pelas falsificações era a variedade incrível de moe­
das circulantes, pois cada imperador, cada mandarim, mandava moldar as
suas, para evitar o uso de moedas falsas emitidas anteriormente.
Conta-se que, só num ano, cerca de 40 antes de Cristo, foram desco­
bertos cerca de 100 mil moedeiros falsos.
Na Inglaterra, no reinado de H enrique I (1100-1135), os pennies de
ouro eram desbastados e, com isso, se alterava o seu peso. A luta contra
esses aproveitadores só teve fim no século XVII.
Para evitar o desbaste, foi, então, gravado o bordo das moedas com
os dizeres: decus et tutam en - ornam ento e salvaguarda. Essa técnica foi
substituída pelas serrilhas.
A primeira fabriqueta de dinheiro falso no Brasil foi descoberta em
1731, no Rio de Janeiro. O falsário e seus auxiliares, por sentença reinol,
foram condenados à morte e executados um ano depois.
No passado, a introdução de dinheiro falso no nosso meio já consti­
tuiu um a calamidade nacional.
Logo após a proclamação de nossa Independência, a contrafação de
moedas de cobre foi de tal m onta que, na praça, as falsas corriam parale­
lamente às autênticas e até repartições arrecadadoras e pagadoras não as
diferenciavam.
Essa indústria foi tão lucrativa que, em algumas províncias, várias fa­
mílias se enriqueceram. Gente de alto coturno dificultava a aplicação de
medidas repressivas por parte do governo.
Na Bahia, a falsificação de moedas era tão generalizada que obrigou
a adoção de medidas administrativas para evitar um craque financeiro. O
brigadeiro J osé B arbuda , quando assumiu a província, começou um a guer­
ra sem quartel aos falsários e obrigou a troca de moedas de cobre em cir­
culação por papel-moeda emitido pelo Tesouro.
No dia 28 de fevereiro de 1830, o brigadeiro B arbuda foi assassinado,
crime este nunca esclarecido, e o homicida permaneceu desconhecido.
Em 1833, a lei de 3 de outubro determ inou o recolhimento de todas
as moedas de cobre em circulação no país, substituindo-as p or cédulas,
C apítulo XXII - As M oedas M etálicas
241

com redução de cinco por cento do seu valor. Era o único meio para se
tirar de circulação as moedas falsas.
Correndo mais no tempo, aqui em São Paulo, nos idos de 1930, na
Penha, um ãlemão fabricava moedas de um mil réis e inundou com elas a
praça. Bem mais tarde, foram reproduzidas moedas de cinco mil réis, com
a efígie de S anto s D um m ont .
Hoje em dia, a falsificação de moedas metálicas foi abandonada, não
só porque elas representam valores pequenos, como porque o seu valor
intrínseco seria maior do que o extrínseco.
Atualmente, toda a atenção dos moedeiros falsos está voltada para o
papel-moeda nacional e estrangeiro.

6. P rocessos de F alsificação de M oedas

Três eram os processos utilizados pelos moedeiros falsos para repro­


duzir as moedas legítimas:
• moldagem;
• cunhagem;
• galvanoplastia.
A falsificação pela moldagem era feita por moldes —anverso e reverso
- de moedas verdadeiras, fazendo-se duas caneletas, uma para respiro e
outra de alimentação.
Feito o molde em gesso e unidas as duas partes, pela caneleta de
alimentação, derramava-se para o seu interior a liga metálica em fusão.
Resfriado o molde, era ele aberto e retirada a moeda. Procedia-se, então, a
limagem das rebarbas correspondentes à entrada e saída do metal.
Se o bordo da moeda era serrilhado, esse detalhe era feito com utili­
zação de um a lima.
As moedas feitas por este processo deixavam muito a desejar, pois
suas imperfeições eram patentes, como grumos na superfície do metal,
decorrentes do seu próprio resfriamento, os motivos ficavam mal impres­
sos, sem definição nos contornos. A limagem das serrilhas e das rebarbas
da alimentação e respiro eram evidentes.
No processo da cunhagem, dois cunhos eram feitos, um do anverso
e outro do reverso da moeda padrão. Feito o cunho, sob ele era colocado
um disco de metal. Batia-se, então, fortemente, sobre o cunho, para que
os seus motivos se transferissem para o disco.
As moedas feitas por esse processo apresentam defeitos evidentes: de­
pendendo da força aplicada na batida do disco, este pode se dilatar, aumen­
DOCUMENTOSCOPIA - LAMAKTINE MENDES
242

tando o seu diâmetro. Se a batida não for com muita força, os motivos ficam
mal impressos. Além disso, a cunhagem é feita em duas etapas: pronta a
primeira é feita a segunda. Novamente o disco pode aumentar de diâmetro.
O serrilhado é também todo imperfeito, posto que é feito por limagem.
Galvanoplastia é o processo usado para dar banho de prata ou de
ouro às moedas falsas quando as legítimas foram cunhadas com esses me­
tais nobres. É o processo pelo qual se deposita sobre a moeda, que serve
de molde, um a camada de metal - ouro ou prata - previamente dissolvido
num líquido, submetendo-se essa solução à ação de uma corrente elétrica
- galvanômetro.

Figura 2 - Molde feito em gesso para reprodução de uma moeda.

7. E x a m e das M oedas

Para diferenciar a moeda falsa da legítima, seja ela qual for, deverão
ser feitas, tendo em vista um padrão, as seguintes verificações:
• análise quantitativa e qualitativa do disco;
• diâmetro;
• espessura;
• nitidez dos motivos impressos;
• o serrilhado.
No passado, foi grande o núm ero de moedas que foram falsificadas,
tanto nacionais como estrangeiras. Entre outras, a partir das moedas de
cobre, foram falsificadas as seguintes moedas:
• moedas de prata no valor de $ 1000 réis, de 1913;
• moedas de bronze e alumínio de $ 1000 réis, de 1927;
C apítulo XXII - As M oedas M etálicas
243

• moedas de prata de $ 2000 réis, de 1929;


• moedas de prata de $ 5000 réis, de 1936;
• moedas de bronze e alumínio de $ 2000 réis, de 1938.

8. As M oedas d o R eal

Por meio de medida provisória, o Presidente da República substituiu


o cruzeiro real pelo real, fruto do Plano Real elaborado pelo senador
F ernando H enrique C a r d o so , quando Ministro da Fazenda.

Trata-se de moeda forte, com lastro em dólares e com ele tendo pari­
dade, de grande poder aquisitivo, objetivando dar estabilidade econômica
ao país e para debelar a inflação.
Posto em circulação no dia I o de julho de 1994, impôs-se como m oe­
da forte e estável. Decorridos 20 anos, apesar das desvalorizações sofridas
desde então, revela-se a sua criação como o principal fator responsável
pelo fantástico desenvolvimento econômico e social verificado nas duas
últimas décadas.

8 .1 . As a tu a is m o e d a s d o p a d r ã o r e a l

Em julho de 1998, festejando os quatro anos de vigência do padrão


Real, a (.asa da Moeda cunhou novas moedas para substituir as anteriores.
As moedas têm, cunhadas no reverso, a efígie de figuras de nossa
história, a saber:
• P edro Á lvares C abral - u m r e a l;

• T iradentes - c i n c o c e n t a v o s ;

• D. P edro I - dez centavos;


• M al . D eo d o r o da F onseca —vinte e cinco centavos;
• B arão d o Rio B ranco - cinquenta centavos.
A m oeda de um real é bimetálica: o centro é de liga de cobre e níquel;
o anel que circula é de liga de latão, em prestando um aspecto dourado.
As moedas de dez e vinte e cinco centavos foram cunhadas com uma
liga de latão, e as de cinquenta num a liga de cobre e níquel, assim como
a de um centavo.

8.1.1. Características físicas


As características físicas das novas moedas do padrão real são:
244 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Valor M ódulo (m m ) E sp essu ra (m m ) M assa (gr)

1 centavo 17 1,6 2,45


5 centavos 22 1,6 4,10
10 centavos 20 2,2 4,80
25 centavos 20 2,4 7,65
50 centavos 23 2,8 9,27
1 real 27 1,9 7,90

8.1.2. Os bordos
• As moedas de 1, 5 e 10 centavos possuem os bordos lisos;
• As de 25 centavos possuem bordo serrilhado;
• As de 50 centavos, em baixo relevo, entre duas pequenas estrelas
“Brasil” e “Ordem e Progresso”;
• As moedas de 1 real, trecos são lisos seguidos de serrilhados em
toda a volta.

Figura 4 - Fotografia do reverso das novas moedas do real.


Capítulo XXIII

O P a p e l - M o e d a N a c io n a l

1. Nomenclatura

Antes de entrar no cerne da questão, seria interessante, desde logo,


dar-se aqui a terminologia aprovada pela Junta da Caixa de Amortização,
em 1964, para as diversas partes da cédula, com a finalidade de oferecer
meios para a uniformização do vocabulário nos laudos sobre a falsificação
do meio circulante de papel.
A nomenclatura aprovada é a seguinte:
• anverso: face anterior e principal da cédula, onde se encontra a
efígie do homenageado;
• reverso: face posterior e secundária da cédula, onde se encontra
o painel.

2. Características de I mpressão

• Arabesco: ornatos geométricos entrelaçados em estilo árabe.


• Area livre: partes em que se encontram impressos algarismos in­
dicativos do valor nominal da cédula, circundados com arabescos,
também chamados de fu n d o de segurança.
• Azurado: segmentos de traçados paralelos, horizontais ou verti­
cais, entre a cercadura e os demais motivos impressos.
• Carteias: áreas gravadas, nas quais se abrem os dísticos, também
chamados de tarjas.
• Cavado-, trabalho de rebaixo a talho-doce ou calcografia.
246 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

• Corandel: coluna de algarismos alinhados no sentido vertical, nas


extremidades laterais da composição.
• Gravação, alto relevo produzido pela tinta.
• D entículos: desenhos executados em m áquinas cicloidais, que
lem bram pequenos dentes e que guarnecem a m oldura e as la­
terais.
• Dísticos: dizeres que constituem o texto da cédula, abertos nas carte­
ias.
• Efígie: representação da figura humana, real ou simbólica, também
chamada de portrait.

2 .1 . E fígie

No início, a efígie das cédulas eram figuras simbólicas, referentes à


indústria, ao comércio. A sua posição, então, era no centro da cédula.
Ocorria que ela, com sucessivas dobragens, se danificava. Em razão disso
passou a ser colocada lateralmente.
A figura de m ulher na efígie, segundo relata T rigueiros , na obra já ci­
tada, foi introduzida pela primeira vez na Espanha, em 1844. Era o rosto
da R ainha I sabel II.
As cédulas espanholas eram impressas na França e este país só ado­
tou a figura de um a m ulher na efígie em 1862, nas cédulas de 100 fran­
cos.
No Brasil, foi feita efígie de m ulher nas notas de dois mil réis. Embora
se trate da reprodução de parte do quadro Saudade, de C onrad K iesel, o
fato provocou muita polêmica, em 1909
Afirmavam os maledicentes que se tratava da reprodução do rosto da
concubina do então Ministro da Fazenda.
A esse respeito, ainda hoje, muitos estudiosos da numismática afir­
mam ter sido verdade.
Até 1966 a efígie era im pressa no centro do anverso da cédula.
Depois, para evitar dano à efígie pela dobragem , ela passou a ser la­
teral.
A prim eira cédula com essa modificação foi a de 5.000 cruzeiros, emi­
tida em 1966, com a efígie de T iradentes .
C apítulo X X III - O Papel-M oeda N acional 247

Figura 1 - Reprodução do anverso e reverso da cédula de vinte mil réis, contendo, ainda, a efígie da
concubina do Ministro da Fazenda, como as emitidas em 1909.

Em 1978/79, as cédulas de mil cruzeiros apresentavam duas efígies, em


posições opostas. Todavia, a dobragem recaía no meio delas e, por isso, não
as danificava. O mesmo ocorreu em 1981, nas cédulas de 100, 200, 500 e
5.000 cruzeiros e, mais tarde, em 1991, com as de mil cruzeiros (com duas
filigranas).
A partir de 1984, a efígie passou a figurar lateralmente, à direita do
observador.

3. E lementos A cessórios

São os que, não sendo objeto da concepção da cédula, a ela se inte­


gram, completando-a:
• os de identificação individual (núm ero da estampa, da série e da
cédula);
• os de autenticação (microchancela).
Crenos: saliências pontiagudas das letras.
Estampa-, conjunto de elementos que constituem toda a impres­
são da cédula, seu tamanho e características. Quando se modifi­
cam os om atos ou se substituem as cores, há uma nova estampa.
248 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Filete de cercadura: traço liso ou de fantasia que enquadra os


ornatos da composição gráfica da cédula.
Florão: vinheta que imita flor ou folhagem, usada como peça
ornamental. As cédulas de cruzeiro são de impressão irisada.
Fundo de segurança-, impressão fraca, m ono ou policromática,
incluindo, ou não, algarismos inscritos sistematicamente em de­
senhos tramados.
O fundo de segurança é composto pelos seguintes elementos:
• impressão monocromática (arabescos e indicação em algarismos);
• impressão irisada (linhas sinuosas, paralelas, transversais e florões
que ladeiam as rosáceas principais).
Indicação num érica do valor: empregada para fixar o valor no­
minal da cédula, em tipo apropriado com terminações geralmen­
te em fantasia. Nas cédulas de cruzeiro, são do tipo greco-roma-
no.
Legenda: dizeres identificadores da gravura.
Linha de retenção: a que retém a tinta, ou, em outras palavras, o
cavado onde fica depositada a tinta de impressão, no processo cal-
cográfico.
Margem branca: superfície não impressa que circunscreve a gra­
vura, com bordos de corte mecânico.
Medalhão: ornato de forma oval ou circular, em que se inscreve
a efígie ou qualquer outro desenho representativo.
Microchancela: chancela reduzida.

4. Máquinas Impressoras
A Casa da Moeda, só para a impressão das cédulas, está equipada com
o seguinte maquinário:
4.1. Impressão off-set
Impressora de off-set a seco, em cinco cores, com quatro matrizes, da
marca Simultan;
Impressora a seco, a seis cores, da marca Super Simultan.
4.2. Calcografia
Impressora calcográfica, com quatro matrizes, em três cores, marca
Intagliocolor;
Impressora calcográfica Super Intalglio.
C apítulo X X III - O Papel-M oeda N acional 249

4.3. Tipografia
Para as impressões tipográficas, possui a máquina num eradora Super
Numerota.
Além disso, possui toda um a inffaestrutura, como guilhotinas, bem
como m oderno maquinário para cunhagem de moedas.

5. A M archa da Impressão
A impressão de nossas cédulas é feita em três etapas distintas:
5.1. Primeira
Impressão em off-set simultânea do anverso e reverso na máquina Si­
multan. São três ou duas impressões no anverso e duas ou três no reverso.
As matrizes são feitas pelo processo fotom ecânico. São várias ma­
trizes justapostas, para im prim ir um a carreira de cédula ao m esm o
tem po. Em cada folha de papel, são impressas, no todo, trinta e cinco
cédulas.
Nesta fase, é impresso o fu n d o de segurança, com preendendo o re­
gistro de superposição.
5.2. S e g u n d a

A seguir são impressos os motivos principais da cédula em calcogra­


fia, na máquina Intagliocolor.
O reverso é impresso em prim eiro lugar.
5.3. Terceira
A última fase é da impressão tipográfica, na máquina Numerota, dos
elementos identificadores da estampa, bem como as chancelas (estas em
algumas cédulas).
As fases são as de seleção das impressões, rejeitando as defeituosas e,
finalmente, o corte.

6. As C édulas do N ovo P adrão M onetário R eal

6.1. índices de segurança das novas cédulas


6.1.1. O papel
O papel com que são impressas as cédulas é constituído de três cama­
das justapostas, formando um todo inseparável: as externas são de celulo­
se de madeira e a interna de celulose de algodão. Nesta camada, chamada
250 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Linden, enquanto a massa ainda se encontra úmida são postos os seguin­


tes índices de segurança:
• filetes coloridos, azuis, vermelhos e verdes, disseminados na polpa
do papel e que afloram à superfície;
• fita magnética, que aciona as modernas contadoras e selecionado­
res de papel-moeda, facilmente observável;
• filetes fluorescentes, que só podem ser visualizados com os efeitos
dos raios ultravioleta;
• filigrana, tam bém cham ada marca d ’água, representando o sím­
bolo da República, só observável p o r transparência. A filigrana
é obtida p o r formas de arame, de fibras em áreas determ inadas
e com diversa concentração em outras, criando um jogo de luz
e sombras, sem que seja utilizada tinta de impressão.

6.1.2. Processos de im pressão

Três são os processos de impressão usados na feitura das cédulas, a


saber:
• calcográfico-, que oferece relevo ao tato. Com eles são impressos,
no anverso e reverso da cédula, os motivos principais, bem como
a imagem latente, próxima à inscrição do valor literal da cédula,
representado pelas letras maiúsculas BC e, ainda, as microletras
BCBCB, dentro do contorno os algarismos referentes ao valor da
cédula;
• off-set-, o fundo de segurança e o registro de superposição,
im pressos, no m esm o sítio, de um a e o u tra fase da cédula,
re p re se n ta as armas da República. A exata superposição e com-
plem entação das cores só p o d e ser observada p o r tran sp arên ­
cia. Ainda p o r esse processo, na tram a do fundo de segurança,
está im pressa a palavra FALSA, não identificada na observação
com um . Num a cópia xerox, en tretan to , a expressão Falsa, re­
petidam ente, fica gravada. Finalm ente, ainda p o r essa técnica,
num a tarja ao lado da efígie, na parte inferior, são gravadas as
m icroletras BCBC, só perceptíveis com utilização de lupa;
• tipográfica-, tipograficamente são impressas as numerações alfanu­
méricas das cédulas.
C apítulo XXIII —O Papel-M oeda N acional
251

lementos de segurança
do Real

Figura2- índices de segurança do Real.

7. As A lterações I ntroduzidas nas A tuais C édulas do R eal

Nas cédulas do real em circulação, foram introduzidas, em 1997 as


seguintes alterações:
nas cédulas de um real, no reverso, a impressão (beija-flor) é mais
lisa; foi subtraído o fio de segurança;
nas cédulas de cinco reais também foi retirado o fio de segurança;
nas cédulas de dez reais o papel é um pouco mais fino.
Em todas essas cédulas, a filigrana (marca d ’água), que era a efígie da
República, foi substituída pela bandeira nacional.
A retirada dos fios de segurança foi feita para impedir que aquelas
cédulas, depois de lavadas, fossem impressas no valor de cinquenta ou
cem reais.

S E VOCE O W AR BEM, VAI VE» QUE O NOSSO WNHETRO ESTÃ AINDA MAIS CONFIÁVEL

Figura3 Alterações introduzidas nas cédulas do real.


252 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

A partir de 13.12.2001, o Banco Central lançou uma cédula interm e­


diária no valor de dois reais, que traz os principais elementos de seguran­
ça existentes nas outras cédulas da família do Real e, como novidade, a
marca d ’água com a tartaruga marinha e o núm ero 2.

E le m e n to s d e S e g u ra n ça
Melhorias já adotadas na cédula de R$ 2.00.

çom numera. 2

Figura4- Elementos de segurança na cédula de dois reais.

A partir de 27.06.2002, o Banco Central lançou a cédula de vinte reais


que traz os principais elementos de segurança existentes nas outras cédu­
las da família do Real e, como novidade, a marca d ’água com a figura do
mico-leão-dourado e o núm ero 20.

Elementos de Segurança
Elemento de segurança opticamente variável

Figura5 Elementos de segurança na cédula de vinte reais.


C apítulo XXIII - O Papel-M oeda N acional 253

8. F alsificação de P a pel - M oeda

Tendo se tornado desinteressante a contrafação de moedas metálicas,


em razão do seu pequeno valor, fazendo com que o intrínseco supere o ex-
trínseco, os moedeiros falsos passaram a se dedicar à falsificação do papel-
moeda.
No começo, o processo escolhido era o da zinco-fotogravura, que
consistia em transportar para uma chapa metálica a fotografia de um a cé­
dula verdadeira. A impressão era feita pelo processo tipográfico. Com isso,
a necessidade da feitura de vários clichês acarretava defeitos, dificilmente
superados. Além disso, na impressão tipográfica, os motivos impressos no
anverso provocavam relevo no reverso.
Mas as técnicas de impressão evoluíram. Apareceu o processo off-set.
E tem sido este o usado pelos falsários para a confecção de cédulas espú­
rias.
Em razão da constante atividade dos falsários, contando agora com
recursos mais avançados, seja no campo da fotografia, seja no da impres­
são, maior é a preocupação das autoridades responsáveis pelo nosso meio
circulante, procurando introduzir nas cédulas índices de autenticidade
dificilmente reproduzíveis e, quando o forem, o produto espúrio é logo
reconhecido.
A injeção de dinheiro falso no país é altamente danosa, pois as suas
consequências, para as finanças do país, são funestas. Tanto isso é verdade
que os nazistas costumavam introduzir dinheiro falso nos países que sub­
jugavam e até mesmo pagar espiões com ele.
Tão desastrosa é a introdução do dinheiro falso que D ante, na D ivina
Comédia, reservou para os moedeiros falsos a região das penas eternas - o
inferno.
U rsula E. Katzenstein, na obra citada, para mostrar como a falsificação
de dinheiro é coisa antiga, diz que, na China, p or ocasião dos funerais:
"... eram queimadas grandes quantidades de dinheiro falso, presumi­
velmente na crença de que o dinheiro capacitava o falecido a comprar
todo o necessário ao luxo desejado quando chegasse ao mundo dos
espíritos.”
O papel-moeda pode ser objeto dos moedeiros falsos com duas m o­
dalidades de fraudes diferentes:
• a falsificação parcial da cédula, com a alteração do seu valor: cédu­
la falsificada;
• a falsificação total da cédula: cédula falsa.
254 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

8.1. Cédulas falsificadas


Nos anos 40, não tendo os falsários meios para reproduzir os índices
de segurança das cédulas em circulação, dificilmente apareciam cédulas
falsas - elas eram falsificadas mediante elevação do seu valor. Esse tipo de
fraude só tinha êxito em razão não só da boa-fé do povo, como também
do não conhecimento do meio circulante. O homem do povo recebia a cé­
dula pelo valor nela expresso, sem se preocupar com os demais detalhes.
Até a cor das cédulas era ignorada. Com isso, os falsários se locupletavam
desonestamente, dando prejuízo aos incautos.
A princípio, a técnica de alteração era grosseira e consistia, simplesmen­
te, no transplante de uma cédula para outra, de recortes contendo cifras e
dizeres. E evidente que um exame atento da cédula denunciava a falcatrua,
pois os recortes eram superpostos e, com isso, ficavam em relevo, percep­
tíveis ao tato. Mesmo assim, o embuste constituía uma indústria lucrativa e
não foram poucos aqueles que se dedicaram a ela, lesando o povo.
As cédulas mais alteradas foram as de dez mil réis para cem mil réis e
as de dez cruzeiros para quinhentos cruzeiros.
Os falsários, entretanto, aprimoraram a sua técnica. As cédulas im­
pressas nos Estados Unidos, pelo American Bank Note Company, tinham
o suporte constituído de duas lâminas de papel justapostas. Colocadas
as cédulas dentro de um recipiente com água, depois de algum tempo,
as duas lâminas de papel podiam ser separadas. Esse inconveniente deu
margem a outro processo da indústria de cédulas falsificadas.
Após separadas as duas lâminas de papel, num a delas o falsário retira­
va um recorte contendo o valor numérico e literal da cédula. Justapostas
novamente, aqueles claros eram preenchidos com outros recortes, com
o novo valor. Depois disso, a cédula era prensada e, assim, não se notava
qualquer solução de continuidade na superfície do papel. Nem pelo tato
se podia descobrir o enxerto. Com o aparecimento das cédulas do padrão
cruzeiro, que eram impressas num a lâmina simples de papel, essa modali­
dade de fraude desapareceu. Não mais se alteram cédulas, mas são falsifi­
cadas totalmente. No começo, era usado o processo de zinco-fotogravura
e agora o de off-set.
8.2. As cédulas falsas
Em vários pontos do país foram falsificadas as nossas cédulas. Algu­
mas contrafações eram mais ou menos bem feitas, outras grosseiras. Vistas
em conjunto, essas cédulas falsas se diferenciavam das legítimas nos se­
guintes detalhes:
C apítulo X X III - O Papel-M oeda N acional 255

• eram impressas em papel comum, daí porque não resistiam ao manu­


seio prolongado e não permitiam uma impressão bem nítida;
• ram, primeiro, impressas tipograficamente e, depois, em off-set.
Trata-se de impressões planas, sem o relevo resultante da impres­
são calcográfica dos motivos principais - alegoria e painel;
• o índice de segurança, constituído pelo pattern-m oiré, que dava
a sensação de ondulação das linhas, com o uso da retícula para a
feitura do clichê, desaparecia;
• no registro de superposição a complementação das cores não
ocorria;
• a irisação dos traços era feita por um jogo de diferentes clichês,
resultando desencontro das linhas, soluções de continuidade e a
mudança abrupta das cores;
• a filigrana era impressa, tanto pelo processo tipográfico como pelo
do silk-screen, com tinta bem clara. Com isso, não só era visível na
inspeção direta, como reagia fortemente sob os efeitos dos raios
ultravioleta.
Além dessas anomalias, que eram comuns a todas as falsificações,
cada uma delas apresentava características individuais.

Figura 6 - Acima, fotografia de uma cédula falsa de cem reais, impressa em cédula lavada de um
real. Abaixo, uma cédula de um real sem o fio de segurança.
256 D ocumentoscopia - Lamaxtine M endes

f,

Figura 7 - Acima, fotografia de uma cédula antiga de um real,


vendo-se o fio de segurança que posteriormente foi abolido.
Abaixo, uma cédula de um real após ter sua impressão lavada quimicamente.

Figura 8 - Acima, fotografia de uma cédula falsa de vinte reais,


observando-se que no lugar da faixa holográfica encontra-se, apenas,
uma faixa de papel metalizado.

9. P a p e l - m o ed a Im p r e s s o e m P lástico

A Austrália, em 1996, substituiu seu papel-moeda impresso em papel


de segurança, imprimindo-o em plástico.
C apítulo X X III - O Papel-M oeda N acional 257

O Conselho Monetário Nacional aprovou a substituição das cédulas


de dez reais por outras impressas em plástico, que foram lançadas no mer­
cado em 22 de abril do ano 2000, festejando o quinto centenário do Des­
cobrimento do Brasil.
O anverso da cédula, reproduzida pela Figura 9, publicada na Folha
Imagem, tem, de um lado, o retrato de Pedro Álvares Cabral, ladeando o
primeiro mapa feito do nosso país e algumas caravelas. O reverso repre­
senta o Brasil moderno, com imagens do povo e o mapa do Brasil dese­
nhado por com putador (Figura 10).

Figura 9 - Anverso da cédula de dez reais impressa em plástico,


que foi apresentada no dia 22 de abril de 2000,
como homenagem ao quinto centenário do descobrimento do nosso País.

Figura 1 0 - 0 reverso da mesma cédula da figura anterior,


homenageando nossa gente.
258 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Figura 11 - Elementos de segurança na cédula comemorativa de dez reais.

Calcula-se que foram substituídas 125 milhões das cédulas antigas de


d ez reais.
Muito embora se acredite que o custo das novas cédulas seja maior, a
vantagem é que sua duração é maior e o suporte é cem por cento reciclável.
A única crítica que pode ser feita é o fato de apenas uma empresa
fabricar o suporte das cédulas e, por isso, o seu custo poderá ser elevado
a qualquer tempo.

10. C aso P rático

10.1. Cédulas falsas de cinquenta reais


Um amigo nos exibiu uma cédula de cinquenta reais que fora rejeita­
da por um banco.
Submetemos a exame a cédula e constatam os que no papel se en­
contravam todas as características adotadas nas cédulas do padrão, como
fios coloridos, fio plástico de segurança e a filigrana (marca d ’água).
Em face desses resultados, em princípio, acreditávamos que a cédula
fosse verdadeira e, por isso, não deveria ter sido rejeitada pelo estabeleci­
m ento bancário.
Por mera curiosidade, comparamos a cédula rejeitada com outra legítima.
C apítulo XXUI —O Papel-M oeda N acional 259

Realizado o exame, constatamos que o fio plástico de segurança da


alegada era ilegítimo, pois não se encontrava no mesmo local da cédula
verdadeira.
Passamos então a comparar a cédula falsa com outras de diversos
valores.
Para nossa surpresa, a posição do fio plástico de segurança na cédula
verdadeira distava 5cm da margem. A localização desse índice de seguran­
ça da cédula discutida distava 3,7 cm da margem.
Foi, portanto, constatado um conflito com relação à posição do fio de
segurança da cédula tida como falsa e da verdadeira.
Continuando os exames, chegamos à solução final: nas cédulas de
cinco reais, a posição do fio de segurança dista 37 mm da margem. Esse
fato nos convenceu que a nota de cinquenta reais recusada era falsa, pois
fora impressa em um a nota de cinco reais previamente lavada.
A ilustração a seguir mostra a diferença entre a posição do fio de se­
gurança das notas de cinco e de cinquenta reais.
Lamentavelmente, dada a solução, o portador rasgou a cédula falsa,
o que nos impediu de fotografá-la e proceder a outros exames como o da
impressão de todos os motivos.
Seja como for, fica aqui o registro para alerta de pessoas leigas ao re­
ceberem de terceiros cédulas de cinquenta reais.

Figura 12 - Fotografia de uma cédula falsa de cinquenta reais impressa


em uma cédula lavada de cinco reais.
Capítulo XXIV
O P a p e l - M o e d a N o r t e -A m e r ic a n o - O D ó l a r

O dólar é o papel-moeda mais cobiçado no m undo e o meio circulan­


te mais falsificado.
Vários fatores militam em favor do moedeiro falso. Desprezando-se o
avanço da impressão off-set e a cobiça dos homens, pode-se citar:
A cédula americana é impressa com tinta verde, na maioria de seus
motivos, no anverso e no reverso, com papel de mesma cor, de tom
mais claro. Em virtude disso, as falhas das reproduções ficam, de certa
forma, mascaradas.
No Brasil, nossas cédulas oferecem a vantagem de serem impressas
em várias cores, obrigando o falsário a fazer o desdobram ento das matri­
zes, criando oportunidade de erro no seu uso.
Além disso, o nosso papel é de cor branca. Assim, qualquer erro é
logo perceptível.
• Toda a superfície do dólar, - as duas faces, - é impressa, restando
poucos sítios em branco. Em razão disso, os defeitos da impressão
apócrifa se perdem no meio dos outros motivos.
Nas cédulas nacionais, existem muitos claros, o que permite, só na
observação atenta, identificar as falhas.
Mesmo assim, os falsários ainda conseguem engodar os m enos
atentos.

1. 0 P apel

1.1. Características
O papel usado para a impressão das cédulas de dólar possui, com
pequenas modificações, as mesmas características do usado pela Casa da
Moeda do Brasil para a impressão das cédulas brasileiras.
262 D ocumentoscopia - Lamartjne M endes

No final da sua fabricação, são introduzidos três índices de segurança:


filetes azuis e vermelhos, nas cédulas emitidas até 1989, e mais o de cor
verde, nas postas em circulação a partir de 1990. Nestas cédulas, foi intro­
duzido, ainda, um filete plástico, contendo a sigla USA, seguida do valor
numérico da cédula, repetidamente.
Na observação comum, esse filete não é visto, podendo, entretanto,
ser observado p o r transparência.
O papel é fabricado pela firma Crane & Co., Mass. e a impressão é
feita pelo Bureau o f engraving a n d p rin tin g Co., na Capital Federal dos
Estados Unidos.

2. A T inta
Na impressão em cor preta do anverso, a tinta é magnetizada.

3. T écnica de I mpressão

3.1. Calcografia
3.1.1. Anverso
• toda a m oldura da cédula e a linha de cercadura;
• a efígie;
• o valor literal sob o selo do Departamento do Tesouro;
• os dísticos sob as chancelas do secretário do Tesouro e do tesou­
reiro dos Estados Unidos;
• o microtexto que ladeia a efígie.
3.1.2. Reverso
• toda a m oldura do painel e a linha de cercadura;
• o painel.
3.2. Tipografia
3.2.1. Anverso
• os selos do Banco da Reserva Federal e do Departamento do Te­
souro dos Estados Unidos;
• a letra de controle e o respectivo algarismo;
• o núm ero do distrito do banco emissor;
• as chancelas do tesoureiro dos Estados Unidos e do secretário do
Tesouro;
C apítulo XXIV - O Papel-M oeda N orte-Americano - O D ólar 263

• a sequência alfanumérica;
• a letra e o núm ero da matriz do anverso;
• a data da emissão;
• os dizeres This Note is Legal Tenderfo r M l Debts, Public and Private.
3.2.2. Reverso
• o núm ero da matriz.

4. A Emissão
No Brasil, a impressão do papel-moeda é delegada ao Banco Central.
Nos Estados Unidos é do Banco da Reserva Federal que, por sua vez, dele­
ga poderes a doze bancos estatais, a saber:
1o Distrito Boston A
2o Distrito New York B

3o Distrito Filadélfia C
4° Distrito Cleveland D
5o Distrito Richmond E

6o Distrito Atlanta F
T Distrito Chicago G
8o Distrito St. Louis H

9o Distrito Minneapolis I
10° Distrito Kansas City J
11° Distrito Dallas K
12° Distrito San Francisco L
O algarismo correspondente ao distrito está impresso nos quatro
quadrantes do anverso da cédula, e a letra, correspondente à cidade, no
centro do Selo da Reserva Federal com o núm ero na sua base.

5. Vida Util das Cédulas


Os técnicos americanos acreditam terem as cédulas os seguintes tem ­
pos de vida:
1 dólar 6 meses
2 dólares 11 meses
5 dólares 13 meses
10 dólares 18 meses
20 dólares 30 meses
264 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Nas cédulas de 50 e 100 dólares, o tem po de vida é muito maior em


razão da sua pouca utilização e manuseio.
Como se vê, quanto m aior for o valor, tanto m aior é o seu tem po
de vida.
A renovação do meio circulante de papel é constante. Acredita-se
que os bancos emissores destroem cerca de quinze bilhões em cédulas
p or ano.
Para se ter uma ideia, em 1958 - única estatística que foi encontrada -
os Estados Unidos renovaram 70% das cédulas em circulação, a Inglaterra
90% e o Brasil apenas 6%.

6. 0 D ólar

As autoridades monetárias dos Estados Unidos, tendo se conscienti­


zado de que o papel-moeda dólar é o mais falsificado em todo o m undo
e, além disso, que sua reprodução não oferece maiores dificuldades aos
falsários, a partir de 1990, puseram em circulação novas cédulas, m anten­
do as características das anteriores, mas introduzindo mais três índices de
segurança.
Assim, na massa do papel, os filetes azuis e vermelhos foram manti­
dos, mas foram acrescentados outros de cor verde.
Nas proximidades do selo do Banco da Reserva Federal, perpendicu­
larmente, foi introduzido um fio plástico que, na observação comum, não
é percebido. Todavia, na observação contra a luz, repetidam ente foram
impressas, em microletras, a abreviatura USA seguida do valor numérico
da cédula.
Finalmente, ladeando a efígie, de ambos os lados, em microletras, foi
impresso The United States o f America, só legível mediante uma lupa.
Os dois índices de segurança - fio plástico com microimpressão e os
dizeres The United States o f America - não poderão ser reproduzidos pe­
los moedeiros falsos e, por outro lado, a cédula verdadeira será facilmente
reconhecida.
Outro meio fácil para o leigo reconhecer a cédula falsa do dólar é
observar a era (data de emissão): nas falsas, feitas pelo processo off-set, o
contorno dos algarismos é nítido, enquanto nas verdadeiras, em razão da
grande pressão da tinta na impressão, podem ser observadas pequenas
fugas.
Estes detalhes são mostrados nas gravuras adiante.
C apítulo XXTV - O Papel-M oeda N orte-Americano - O D ólar 265

SERIES
1969 ^
Figura 1 - Fotografia da era de cédula falsa.
Observar que existe nitidez no contorno dos algarismos.

Figura 2 - Fotografia da era de cédula verdadeira. Observar a existência de


pequenas fugas no contorno dos algarismos.

Figura 3 - 1 ) Cédula fotografada normalmente;


2) A mesma cédula fotografada por transparência.
266 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

? FOR ALL DEBT

Figura 4 - Foto ampliada feita por transparência


vendo-se o fio plástico com microimpressão.

Figura 5 - Cédula de dólar. Foto ampliada mostrando


o microtexto que ladeia a efígie em ambos os lados.

7. As N ovas C édulas do D ólar

A partir de 1996, foram postas em circulação as novas cédulas do dó­


lar, impressas em papel com as mesmas características das anteriores.
As modificações feitas foram as seguintes:
C apítulo XXIV - O P apel-M oeda N orte-Americano - O D ólar 267

7.1. Modificações no anverso


• o portra it foi resenhado;
• o texto The United States or Am erica, que estava de um só lado,
abaixo da expressão Federal Reserve Bank, ficou localizado à
esquerda da efígie;
• o emblema do banco emissor foi substituído pelo do Federal
Reserve System-,
• os dizeres This Note is Legal Tender fo r a ll Debts, Public a n d
Private, que se encontravam acima do emblema do banco emissor,
foram colocados abaixo do Federal Reserve Bank-,
• a data da emissão agora se encontra abaixo da efígie;
• a numeração da cédula foi colocada, de um lado, ao alto da efígie
e, do outro, abaixo, impressa em cor verde;
• o valor da cédula, na base e dos dois lados da efígie, são impressos
com tinta furta-cor.
7.2 Modificações no reverso
• a alegoria do reverso foi modificada num plano de semicírculo.

Figura 6 - Acima, fotografia da antiga cédula de cem dólares e, abaixo, a atual


268 D ocumentoscopia - Lamahtine M endes

Figura 7 - Fotografia do reverso das cédulas de cem dólares reproduzidas


na gravura anterior.
Capítulo XXV

E x a m e d o P a pel - M o e d a

Para se verificar a legitimidade de uma cédula, deverão ser realizados


os seguintes exames:

1. Q uanto ao S uporte

Verificar:
• a natureza da polpa;
• o grau de alcalinidade;
• o grau de acidez;
• a fluorescência;
• a resistência à dobragem;
• a resistência à tração;
• a gramatura;
• a espessura;
• os filetes fluorescentes.

2. Q uanto à I mpressão

Verificar:
• o processo de impressão;
• a nitidez das linhas de contorno;
• a presença de falhas;
• a presença de empastamentos;
• as cores e suas tonalidades;
• a presença de microletras;
• a presença de microtextos;
• a presença de imagem latente;
• a exata superposição do registro.
270 D ocumentoscopia - Lamaktine M endes

A
3. Q uanto aos Í ndices de S egurança

Verificar:
• a presença dos filetes coloridos;
• a presença de filigrana;
• a presença do fio plástico magnetizado;
• a presença de filetes fluorescentes em algumas cédulas.

3.1. Quadro comparativo


L e g ítim a F alsa

• p a p e l 1 0 0 % ce lu lo se • p a p e l com ercial c o m u m
• relev o n o s m o tiv o s principais • im p ressão plana
• filigrana só visível p o r transparência • filigrana visível o u inexistente
• filetes azuis, verd es e ve rm e lh o s • filetes in existentes o u im p re sso s

• filetes flu orescen tes • filetes flu orescen tes inexistentes

• exata su p e rp o siç ã o d o registro • d e se n c o n tr o d o s c o n to rn o s

• irisação perfeita • d e se n c o n tr o das linhas


• fio plástico m agn etiza d o • fio plástico inexistente
• m icroletras legíveis c o m lupas • m icroletras ilegíveis
• m icrotextos legíveis • m icrote x tos ilegíveis
• im ag em latente p resen te • im a g em latente inexistente

Além disso, pode haver diferença na tonalidade das cores e nas di­
mensões da cédula.

4. E xame das C édulas po r R ajos-X

Atendendo solicitação do autor, o diretor industrial da Casa da Moe­


da do Brasil ofereceu um laudo sobre exame de cédulas p or raio-X, fir­
mado por G erson V ieira F erreira, perito em valores e Paulo Antônio C oe­
lho , supervisor, que aqui transcrevemos, bem como as fotografias que o
ilustram.
O exame p o r raio-X, além de dar prova cabal de que os motivos princi­
pais das cédulas legítimas são impressos pelo sistema calcográfico, possuin­
do, por isso, relevo, e que as falsas são feitas pelo processo off-set, tratando-se
por isso, de impressão plana, evita que o examinador faça outras verificações,
tomando mais rápida a produção da prova. Eis o teor do laudo.
4.1. Caso prático

Departamento tecnológico
DPDT/Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico
Laboratório de Perícia e Desenvolvimento de Valores
C apítulo XXV - E xame do P apel-M oeda 271

Informação Técnica n. 012/90


Assunto: Exame Pericial com Raios-X
Conforme solicitado pela DIRIND, preparam os a presente Informa­
ção Técnica sobre Exame Pericial com Raios-X a ser enviada ao Professor
Lamartine B izarro M endes, da Academia de Polícia Civil de São Paulo.

Introdução
Os motivos e detalhes de uma cédula ou qualquer outro impresso de
valor que incorporem impressão calcográfíca e/ou filigrana, quando sub­
metidos a um poderoso feixe de raios-X, utilizando-se um filme apropria­
do, propiciam a geração de imagens pelas diferentes densidades de massa,
correspondentes às características inerentes ao processo calcográfico e à
filigrana.
Na calcografia, a diferença de densidade de massa é resultante da
espessura do filme de tinta transportado da chapa impressora ao papel
e pelos constituintes especiais da tinta. Quanto à filigrana, a diferença de
densidade de massa é resultante das áreas diferenciadas onde há maior ou
m enor deposição das fibras com ponentes do papel, conforme sua acomo­
dação no cilinder m ould, de acordo com a técnica da fabricação do papel-
moeda, em que é empregada uma máquina especial denom inada cilinder
m ould machine.
Normalmente uma impressão em off-set ou tipografia não dá origem
a imagens em um filme, quando submetidas aos raios-X, pois a constitui­
ção das fitas e a ausência nos impressos são bem diferenciados, compara­
tivamente ao processo calcográfico.
Interpretação dos resultados
Tendo em vista que o raio-X gera imagens em um filme fotográfico
especial com uma densidade ótica proporcional à densidade de massa do
impresso examinado e/ou a da filigrana, esse procedim ento pode ser utili­
zado em exames periciais, considerando-se as seguintes possibilidades:
• provar, diretamente, se uma cédula (ou outro impresso de valor) é
falsa, desde que a impressão calcográfica e/ou filigrana tenha sido
imitada por impressão tipográfica ou off-set. Neste caso, a cédula
suspeita, quando radiografada, não propicia a geração da imagem
correspondente aos motivos em calcografia e/ou filigrana;
• determ inar se um impresso de valor, objeto da perícia, é falso ou
legítimo, pela análise comparativa entre os detalhes das imagens
reproduzidas pelas radiografias do impresso, objeto a perícia, e do
272 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

impresso padrão oficial, relativas aos motivos originais em calco-


grafia e/ou filigrana. Há casos de falsificações em que são utilizadas
determinadas tintas, na impressão fraudulenta de linhas e detalhes
com ponentes do motivo principal (em calcografia) e simulação de
filigrana, gerando imagens de variadas intensidades, mas sempre
bem diferenciadas das imagens de um a filigrana autêntica e dos
motivos originais, propiciando, assim, a comprovação de uma fal­
sificação;
• identificação de motivos e linhas impressas por calcografia, além
de filigranas em cédulas carbonizadas ou descaracterizadas por
desgaste anormal.
Este tipo de exame também é muito válido, tanto na identificação de
possíveis tentativas de fraudes por carbonização de cédulas falsas, bem
como na detecção de papéis especiais com fibras de algodão, com marcas
d ’água do fabricante, utilizados por quadrilhas internacionais de falsários.
Neste laboratório, já tivemos oportunidades de examinar cédulas falsas
de dólar e cruzeiro, que foram impressas no mesmo tipo de papel, cuja
verificação só foi possível através de radiografias.
Equipamento, material utilizado e método de operação

Descrição da câmara de Raio-X


A câmara tipo cabide, utilizada na execução das radiografias, é a Hewllet
Packard Faxitron, modelo 43805N, que opera no sistema automático e
manual.
Material utilizado
• Filme: X-Ray Film Kodak, tipo Industrex AA; Film AA-5.
• Revelador: revelador e reforçador rápido Kodak para raios-X.
• Fixador: fixador e reforçador Kodak para raios-X.

Método de operação
O impresso a ser radiografado é colocado diretamente sobre o filme,
dentro da cabine, e, posteriormente, é seguida a seguinte sequência de
operações:
• Voltagem utilizada: 10 a 11 KVp.
• Tempo de exposição: 40 a 50seg.
• Tempo de revelação: 90 a 120seg.
• Tempo de fixação: 30 a 60 seg.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 273

5. A COLORIMETRIA COMPUTADORIZADA
O com putador já invadiu todos os setores da atividade humana, de tal
sorte que, segundo se diz, quem não o souber manipular é considerado
analfabeto.
O emprego do com putador nos exames de documentos não é um
sonho atrevido, mas uma realidade promissora, como aqui será dem ons­
trado.
O autor, com a colaboração do perito criminal M anoel Antonio F ernan­
des Rei, realizou a primeira perícia utilizando-se de um computador.
Como se trata de uma nova aplicação da colorimetria com putadori­
z a d a , seria de bom alvitre, ainda que de passagem, fazer-se uma pequena
digressão sobre os fenômenos da luz e da cor.
Para encontrar um conceito de luz, vários cientistas, no passado, gas­
taram muita tinta, e numerosos trabalhos foram escritos. Várias teorias
foram apresentadas até se chegar ao conceito definitivo.
Voltemos, pois, aos idos do século XVII. A primeira manifestação so­
bre a teoria da luz foi do cientista inglês I saac N ewton, entre 1675 e 1704.
Acreditava ele ser a luz constituída de pequenas partículas, emitidas
pela fonte luminosa, que viajavam no espaço com enorme velocidade.
N ewton chegou bem perto da verdade, pois as partículas a que se referia
hoje são chamadas fótons.
Os fótons têm a propriedade de atravessar o vácuo e os meios trans­
parentes, de refletir nas superfícies sólidas, para depois atingir o órgão
visual - a retina - e produzir a sensação de luz.
A retina, cujo nome deriva do latim - diminutivo do latim rete (rede)
-, significa reter, é composta de dez camadas, das quais vão nos interessar
apenas três:
• a camada de células visuais - cones e bastonetes - que são os ele­
mentos sensíveis aos raios luminosos;
• a camada de células bipolares, ou células de ligação, que transmi­
tem a excitação luminosa às células ganglionares;
• a camada de células ganglionares, de onde partem as fibras nervo­
sas que, reunidas, constituem o nervo ótico.
N ewton c rio u a te o ria c o r p u s c u la r d a lu z q u e , m ais ta rd e , fo i d e r r u b a ­
d a p o r C hristian H uygens, c o m a te o ria o n d u la tó ria .
Durante muito tempo, os adeptos de N ewton lutaram contra os de
H uygens, até que o físico Augustin J ean F resnel terminou a polêmica cientí-
274 DOCUMENTOSCOPIA - l.AMAKTINE M END ES

fica, firmando, definitivamente, a teoria ondulatória, dem onstrando que a


luz também contornava objetos, no fenômeno da difração.
Posteriormente, surgiram os trabalhos de J ames C lerk Maxwell e de
H einrich Rudolf H ertz, que provaram a existência das ondas eletromagné­
ticas.
Em razão disso, pode-se afirmar que a luz é um a radiação eletromag­
nética.
Atualmente, a luz pode ser definida segundo dois aspectos: subjetivo
e objetivo.
Sob o aspecto subjetivo, ou seja, quanto aos efeitos que a luz causa
sobre o observador, a luz é um agente físico específico que provoca a sen­
sação visual, agindo de maneira normal no órgão visual.
Encarando a luz sob o aspecto objetivo, isto é, quanto às caracterís­
ticas intrínsecas, a luz é um a modalidade de energia radiante capaz de
impressionar o órgão visual.
N ewton, e m 1666, fo i o p rim e iro c ie n tis ta a fa z e r a a n á lise d a luz, c o m
a s e g u in te e x p e riê n c ia :
Um raio solar, por um a fenda, penetrou num a câmara escura e, pas­
sando por um prisma, atingiu uma tela branca.
Como resultado, do prisma não saiu um feixe de luz branca, mas vá­
rios raios de cores diferentes, distribuídos num feixe de sete cores:
• vermelho;
• laranja;
• amarelo;
• verde;
• azul;
• anil;
• violeta.
É o espectro solar.
A luz solar contém todas as radiações visíveis e invisíveis. As radia­
ções visíveis têm seu comprimento de onda situado entre cerca de 3.800
e 7.800Â (angstrõns); as radiações infravermelho estão na faixa superior
a 7.600Â e são invisíveis, bem como as radiações ultravioleta, compre­
endidas entre 3.200 e 4.000Â aproximadamente (1Â corresponde a um
décimo-milionésimo de milímetro).
Em virtude disso, um objeto iluminado com a luz solar pode se apre­
sentar colorido.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 275

O fenôm eno ocorre porque o objeto difunde relativamente as radia­


ções que nele incidem. Umas bem e outras mal. Em consequência, a com­
posição da luz difundida pelo objeto pode ser muito diversa daquela que
o iluminou.
Esse fato também explica porque, segundo a natureza da fonte lumi­
nosa, o objeto pode m udar de cor (metameria).
Houve quem explicasse o fenômeno de maneira curiosa: imaginou
fileiras de soldados que não têm a mesma constituição física, dispostos, a
partir da esquerda, desde os mais para os menos robustos.
Caminhando em terreno plano, todos os soldados mantém a mesma
direção e velocidade de marcha. Todavia, ao cruzar um terreno acidenta­
do, os soldados mais fracos diminuem o ritmo da marcha e se desviam.
Em razão disso, as fileiras se abrem em leque. Pois bem, cada soldado
representa um a cor.
A velocidade da marcha, por sua vez, representa o comprimento de
onda da cor correspondente.
Nessas condições, os homens mais fortes, com maior velocidade de
marcha, ou melhor, com mais comprimento de onda, que são os raios ver­
melhos (0,65 milésimos de milímetro), sofrem um pequeno desvio.
Os mais fracos farão um desvio maior, são mais lentos (0,42 milési­
mos de milímetros) e constituem a faixa violeta.
Partindo do exemplo dado, deduz-se que as cores dependem do com­
prim ento de onda e, ainda, que a mistura de todas dá uma cor única - a
branca.
Mas, é necessário dizer-se, a cor não é um a manifestação física, mas
uma impressão fisiológica, provocada por células muito sensíveis do ór­
gão visual - do qual se falará no devido tempo. A sensação da cor nos é
dada pela luz difusa que atinge a vista. Assim, a cor de um determ inado
objeto é determ inada pelas ondas luminosas que ele não absorveu.
Se, contrariamente, o objeto absorver todas as ondas, ele é negro.
Quando difunde todas, é branco.
Os corpos transparentes são os que deixam passar todas as radiações,
não absorvendo nenhuma. O opaco é o meio no qual a luz não se propa­
ga, por penetrar muito pouco nele.
Em suma, a cor não passa da luz refletida pelos corpos no órgão da
visão.
G rasmann c o n s e g u iu r e p r e s e n ta r a c o r m a te m a tic a m e n te , e s ta b e le c e n ­
d o a equação das cores, e m q u e u m a d e te r m in a d a cor, d e in te n s id a d e
276 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

conhecida, pode ser representada numa das três cores fundamentais, A -


B -C , por meio da expressão:
C = xA + yB + zC
Na fórmula, x, y e z são as coordenadas cromáticas em função da in­
tensidade de cada cor.
Dois o u tro s fen ô m en o s a re sp e ito d a co r devem ser c o n sid e ­
rados:
• pessoas diferentes não percebem a m esm a im pressão de um a
d eterm inada cor. Os bastonetes, sensores sensíveis da re ti­
na, m edem a lum inosidade acrom ática e entram em ação em
am bientes escuros, divisando apenas o branco, o cinza e o
preto. Os cones, receb en d o a luz refletida sobre o objeto, uns
absorvem as faixas do azul, o u tro s do verm elho, o u tro s ainda
as do am arelo, e transferem os sinais para o cérebro que, fi­
nalm ente, identifica a cor. Pessoas que possuem defeitos nos
cones, em uns ou em todos, têm dificuldade de p erceb er as
cores que as dem ais identificam . É o caso do d a lto n ism o , p o r
exem plo;
• as cores, d e p e n d e n d o do tipo da fonte lum inosa, p odem m u ­
dar. É o fenôm eno da m eta m eria . Assim, um autom óvel de
cor verm elha, trafegando pela Via dos Im igrantes à luz do dia,
se to rn ará m arrom ao passar pelos túneis, cuja ilum inação é
fluorescente, se na tinta existirem vários elem entos que re­
flitam diferentes com prim entos de ondas. Estamos diante do
fenôm eno da m etam eria. Isto p o rq u e os pigm entos que com ­
põem essa tinta verm elha do autom óvel refletem diferentes
com prim entos de ondas quando excitados p o r diferentes ilu-
m inantes.
Se misturarmos vários pigmentos para obter um a cor e, variando es­
sas concentrações, vamos encontrar espaços dentro das misturas que vão
refletir comprimentos de ondas diversos, portanto visíveis em várias fon­
tes luminosas.
O espectrofotômetro é o aparelho capaz de detectar e medir essas va­
riações. O passo seguinte foi acoplar esse aparelho a um com putador que
pudesse armazenar esses dados e transformá-los em uma grandeza numé­
rica impressa. O espectrofotômetro trabalha com tríplice iluminação: a luz
do dia, a fluorescente e a incandescente. Oferece os resultados da reflexão
de todas elas em um gráfico.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 277

Este foi o processo usado para se exam inar duas notas de dólares,
tidas como falsas, em função de dois padrões de confronto, sendo um a
cédula de m uito m anuseio e outra de m enos circulação. Esse cuidado
foi tom ado para controlar a variante provocada pelo resultado do m a­
nuseio. Foram subm etidas ao exame colorim étrico com putadorizado
as cédulas de cem dólares, de núm eros 340A e 958A, inquinadas de
falsas.
Para a análise comparativa, serviram de padrão de confronto duas
cédulas de cem dólares, de números 767A e 343B, um a delas com aspecto
de manuseio intenso. O exame foi feito com a utilização de um microcom­
putador, conjugado a um espectrofotômetro e a uma impressora. Foram
examinados o anverso e o reverso das cédulas: quanto ao fundo (o supor­
te) para o exame do papel; quanto aos pigmentos da tinta de impressão;
quanto à reflexão ou remissão.

5-1. Exames quanto ao branco (papel)


Submetidas as cédulas falsas e as de confronto, isoladamente, ao es­
pectrofotômetro, que operou com três fontes luminosas distintas - luz do
dia, incandescente e fluorescente - obteve-se, do computador, o registro
gráfico dos dados tabulados nas gravuras a seguir. Na segunda fase, as cé­
dulas de exame foram comparadas com as de confronto.

Dados tabulados pelo computador na composição


das cédulas falsas com as de comparação

AM OSTRA
R (% ) l s PROVA D 65 A TL84
PADRÃO
400nm 2 9 .5 2 3 0 .3 1 dE* 1 .2 6 1.11 1 .1 5
420nm 6 2 .9 2 6 4 .2 7
440nm 7 8 .8 0 7 5 .4 6 dL* 1 .0 9 m . 1 .0 4 m . 1 .0 5 m .
4 6 0 nm 7 2 .4 1 7 5 .6 3 claro claro claro
480nm 7 2 .8 9 7 5 .4 9
500nm 7 1 .9 6 7 4 .9 2 da* 0 .5 9 m . 0 .3 6 m . 0 .4 l m .
520nm 7 0 .6 9 7 2 .5 0 verd e verde verd e
540nm 6986 7 2 .2 0
560nm 6916 7 1 .3 3 db* 0 .2 3 m . 0 .0 6 — 0 .2 3 m .
580nm 6919 7 0 .9 0 amar. apag.
6 0 0 nm 6933 7 1 .1 4
620nm 7 0 .5 8 7 2 .5 3 dC* 0 .2 0 m . 0 .0 5 0 .2 2 m .
640nm 7 1 .6 7 7 3 .6 0 lim p o amar.
660nm 7 2 .2 5 7 4 .5 7
680nm 7 1 .8 2 7 5 .5 6 dH -0 .6 0 -0 .3 7 0 .4 1
700nm 7 3 .1 4 7 7 .0 2

ín d ice d e m etam eria: A 0 .2 7 T L 8 4 : 0 .1 7


278 D ocumentoscopia - Lamaktine M endes

Dados tabulados pelo computador na composição


das cédulas falsas com as de comparação

_____ _____________ 2 a P ro va D 65 A TL84


400nm 2 9 .8 2 dE * 0 .9 9 1 .1 2 1 .0 9
420nm 6 2 .4 5
440nm 7 2 .8 7 dL* 0 .5 9 m . -0 .6 6 m . - 0 .6 6
460nm 7 3 .2 9 escu ro escu ro escu ro
480nm 7 2 .7 2
500nm 7 1 .5 1 da* _ 0 .0 8 -------- 0 . 1 2 -------- - 0 . 0 2 --------
520nm 6974
540nm 6 8 .5 4 db* 0 .7 9 m . 0 .9 0 m . -0 .8 7 m .
560nm 6 7 .5 5 azul azul azul
580nm 6 7 .5 7
600nm 6 7 .7 6 dC* 0 .7 7 m . 0 -9 0 m . 0 .8 6 m .
620nm 6916 lim p o lim p o lim p o
640nm 7 0 .1 5
660nm 7 1 .1 9 dH 0 .1 8 -0 .1 5 -0 .1 1
680nm 7 0 .5 2
700nm 7 2 .2 4

ín d ice d e m etam eria: A 0 .1 4 T L 8 4 : 0 .1 2

Dados tabulados pelo computador na composição


das cédulas falsas com as de comparação

R (% > 3 - P ro v a D 65 A TL84
400nm 2 9 .2 3 dE* 0 .3 2 0 .4 3 0 .3 1
420nm 6 2 .3 6
440nm 7 2 .8 4 dL* - 0 . 0 9 -------- _0.1 3 -------- -0 .1 1 --------
460nm 7 3 .8 4
480nm 7 2 .1 9 da* - 0 .l 6 m . 0 .1 9 m . - 0 . 0 1 --------
500nm 7 2 .0 1 verde verd e
520nm 7 0 .6 0
540nm 6 9 .6 7 db* -0 .2 6 m . -3 6 m . 0 .2 7 m .
560nm 6 8 .9 2 lim p o azul azul
580nm 6 8 .8 3
600nm 6 8 .9 7 dC* 0 .3 1 m . o .3 5 m . -0 .2 6 m .
620nm 7 0 .2 2 lim p o lim p o lim p o
6 4 0 nm 7 1 .0 4
660nm 7 1 .4 1 dH 0 .0 4 -0 .2 0 -0 .1 4
6 8 0 nm 7 1 .3 6
700nm 7 2 .0 1

ín d ice d e m etam eria: A 0 .1 1 T L 8 4 : 0 .5 5


C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 279

Dados tabulados pelo computador na composição


das cédulas falsas com as de comparação
R (% > 3 - P ro v a 1 )6 5 A TL84
400nm 2 9 .2 3 dE* 0 .3 2 0 .4 3 0 .3 1
420nm 6 2 .3 6
4 4 ()n m 7 2 .8 4 dL* - 0 . 0 9 -------- - 0 . 1 3 -------- . 0 . 1 1 --------
460nm 7 3 .8 4
480nm 7 2 .1 9 da* -0 .l 6 m . 0 .1 9 m . - 0 . 0 1 --------
500nm 7 2 .0 1 verde verde
520nm 7 0 .6 0
540nm 6 9 .6 7 db* -0 .2 6 m . -3 6 m . 0 .2 7 m .
56()nm 6 8 .9 2 lim p o azul azul
580nm 6 8 .8 3
600nm 6 8 .9 7 dC* 0 .3 1 m . o .3 5 m . -0 .2 6 m .
620nm 7 0 .2 2 lim p o lim p o lim p o
640nm 7 1 .0 4
660nm 7 1 .4 1 dH 0 .0 4 - 0 .2 0 - 0 .1 4
680nm 7 1 .3 6
700nm 7 2 .0 1

ín d ice d e m etam eria: A O.XI T L 8 4 : 0 .5 5

5.2. A n álise d o s g rá fic o s d o e x a m e d o b ra n c o


As duas colunas do gráfico com núm eros (R%) representam os valo­
res de reflexão ou remissão do padrão e das peças de exame. São dezesseis
valores e cada um está associado a um comprimento de onda. O prim eiro
valor de comprimento de onda é de 400nm (nanômetros) que, variando
de 20 em, 20, atinge 700nm (o espectro visível).
Após a comparação da peça de exame com o padrão, chegou-se aos
seguintes resultados:
• dE: diferença total de cor;
• dL: diferença de intensidade da cor (escuro/claro);
• da: diferença no eixo verde/vermelho;
• db: diferença no eixo azul/amarelo;
• dC: diferença em saturação;
• dH: diferença em hue (cor).
Essas diferenças são mostradas nos três tipos de fontes luminosas:
• D65: luz do dia;
• A lu z incandescente: tungstênio;
• TL84: luz fluorescente.
Utilizando-se os valores de dE (diferença de cor), determina-se um
índice de metameria (mudança de tonalidade);
Comparação luz do dia (D65) e incandescente (A) o índice de meta­
meria A.
280 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Comparando luz do dia (Dó5) e fluorescente (77.84) o índice de me-


tameria TL84.

5.3. I n te r p r e ta ç ã o d o s g rá fic o s q u a n to a o b ra n c o (e x a m e d o p a p e l)
O papel, sem dúvida, é um elem ento valioso para a diferenciação das
cédulas.
Na composição dos papéis, usam-se fibras de várias fontes, processa­
das com métodos e fórmulas diferentes, com produtos químicos os mais
diversos, de conformidade com o procedim ento adotado pelo fabricante.
Assim, os papéis adquirem características próprias, reflexões diferentes sob
a excitação de uma fonte luminosa, propriedades estas, às vezes, imperceptíveis
à vista humana, mas que não escapam às células do espectrofotômetro.
Uma outra situação deve ser considerada. Já se disse que a polpa do
papel é feita de fibras. Tanto a pasta mecânica - fibras de madeira - como
a de fibras de algodão ou linho, ou de ambas associadas, passam por um
processo alcalino, para a separação da celulose da lignina. Depois, segue-
se o processo de branqueam ento, com peróxido de hidrogênio - H 202.
Ao padrão do branco adquirido se adiciona, em maior ou m enor
quantidade, um branqueador. A mistura dos dois vai dar o branco final.
Este é diretamente proporcional ao branco da fibra mais o branco óptico.
Nessas condições, as cores de duas folhas de papel branco, na ob­
servação óptica normal, podem parecer iguais. Entretanto, o espectrofo­
tôm etro consegue detectar a diferença entre elas quanto à cor, porque o
branco óptico reflete sob a excitação dos raios ultravioleta, dando, assim,
a somatória da reflexão do branco das fibras com o óptico, diferenciando
as duas folhas de papel.
Antes de mais nada, serão oferecidos aqui apenas os resultados obtidos
com a luz natural, designada pela sigla D65, e pela luz fluorescente, TL84.
Uma cédula verdadeira foi colocada no centro do gráfico, a fim de
servir de parâmetro para a comparação com as peças questionadas.
Os gráficos a seguir reproduzem os gráficos que representam a compa­
ração feita entre as duas peças de exame e os dois padrões de confronto.
O com putador deu informes nos eixos do amarelo, no do verde, do
vermelho e do azul e, ainda, a variação de luminosidade, num eixo chama­
do dL, isto é, natural, e a porcentagem -R % - de reflexão.
A cédula padrão mais manuseada apresenta um a certa variação de
tonalidade - é algo mais amarelada e avermelhada -, variação esta insigni­
ficante, quando comparada com a das notas submetidas a exame.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 281

O gráfico mostra uma variação adimensional de 0,3 no eixo do amare­


lo e 0,2 no do vermelho, entre as duas notas paradigmas, e uma variação
de 1,0 ponto na escala de luminosidade no eixo dL.
As duas notas submetidas a exame, quando comparadas com os pa­
drões, mostram, respectivamente, 2,0 e 3,7 pontos no eixo do amarelo e
0,5 e 0,7 no eixo do verde.

dl* D65: db* m. amar.

5
*3

*2
m. verde
2 da*
1
3 -5 m. verm.

m. azul

Gráfico representando a comparação das amostras sob a luz do dia (D65). 0 centro do gráfico (+) é
a amostra (nota 767A). Os números representam as provas 1,2 e 3, respectivamente.

dl* TL84: db* m. amar.

5 5
*3 V
+
*2 V
m. verde *1 5
2 da*
1
3 -5 m. verm.

m. azul

Gráfico representando a comparação das amostras sob luz fluorescente (TL84). 0 centro do gráfico
(+) é a amostra-padrão. 0 deslocamento dos números 2 e 3 se deve à metameria existente. 0 n. 1
representa uma nota verdadeira e sua posição não é alterada.
282 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

No eixo da lum inosidade (dL), as duas notas verdadeiras ap re­


sentam um a variação de 0,3 pontos, ao passo que as de exame, em
relação ao padrão, indicam , respectivam ente, 1,1 e 2,2 p o n to s de va­
riação.
Há de se observar que o máximo de variação que um objeto pode ter,
dentro das grandezas escalares, é de 5,0 pontos.
Se transformarmos esses valores em porcentagens ou fizermos uma
análise adimensional com os próprios eixos, pode-se inferir que, no eixo
do amarelo, as notas questionadas estão, respectivamente, 32% e 76%
mais amarelas.
No eixo da luminosidade, estão elas, respectivamente, 22% e 44%
mais claras.
Quanto aos padrões, elas apresentam uma variação de 8% no eixo do
amarelo e 6% no da luminosidade, que é diferença aceitável, p o r ser um
dos padrões muito manuseado.
Comparados os gráficos do fundo dos padrões com os das cédulas
de exame, as variações encontradas nos dois eixos já seria suficiente para
a prova segura de que, quanto ao fundo, as duas notas examinadas são
falsas, porque elas foram impressas em papel de características diferentes
do das paradigmas.
Mas os exames podem ainda ser mais aprofundados quanto ao fundo,
colocando-se em gráfico os valores da remissão - luz emitida pelo obje­
to - em porcentagem nos eixos Y e X , variando o comprimento de onda
entre 400 nm (nanômetros) e 700 nm, escalonados de 20 a 20 nm, que é
o espectro visível.
Feita essa verificação, contatou-se, então, que, nos padrões, as curvas
são iguais, apresentando um a pequena variação num a delas em resultado
do seu intenso manuseio. Todavia, os mesmos valores, inclusive de varia­
ção proporcional, resultam em curvas absolutamente paralelas. É o que
mostram os gráficos anteriores.
Se compararmos esse gráfico com o obtido das duas peças de exame,
verifica-se que as curvas são totalmente diferentes.
Em resumo, as notas padrões apresentam gráficos iguais, paralelos
e harmônicos, enquanto que os das peças de exame são dessemelhantes
entre si e em relação aos paradigmas.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 283

Os gráficos mostram as curvas de comparação entre as duas cédulas


legítimas com as de exame. Assim, as notas verdadeiras partem de 47% no
início de 400 nm, enquanto que as de exame começam, respectivamente,
com 38% e 40% e terminam em 700nm com 65% e 63%.
Nos gráficos, a coluna vertical representa o eixo l e a horizontal o
eixo Y.
O exame das cédulas falsas poderia ser concluído aqui.
Todavia, pode-se, ainda, fazer a análise das tintas utilizadas na impres­
são das falsas e na dos padrões.
É o que se fará a seguir, para ter-se um exame computadorizado com­
pleto.

5.4. A n álise d o s p ig m e n to s d a s tin ta s

O exame das tintas utilizadas na impressão das cédulas é feito pela


espectrofotometria computadorizada, do mesmo m odo que o utilizado
para o papel.
Os gráficos das análises foram feitos de dois pontos iguais, escolhidos
nas peças em confronto.
A feitura desses gráficos mostra os seguintes valores: enquanto os
paradigmas apresentam ligeiras diferenças, acarretadas pelo grande ma­
nuseio de um deles - 00 e ponto 1 - variando de 0,9 e 1,0 no eixo do
amarelo, uma das cédulas de exame mostra essa variação entre 3,6 e 4,7
no eixo do azul e a outra de 4,0 e 5,1 no mesmo eixo.
O estudo da variação gráfica entre 400nm e 700nm também mostra
discrepâncias iguais às da análise do fundo.
No eixo da luminosidade, entretanto, verifica-se uma variação de
+ 1,4 entre a dos paradigmas e as peças questionadas.
As notas incriminadas, entretanto, apresentam um a variação de - 3,5
para uma e 4,2 para outra no mesmo eixo.
Em face dos dados obtidos, expressos com absoluta exatidão,
fica plenam ente com provada a origem esp ú ria das duas cédulas exa­
m inadas. O papel é de qualidade diferente q u an to à com posição da
sua pasta e, finalm ente, existe diversidade de to n alid ad e nas cores
da tinta.
284 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Amostra: Prova:
R(%)
Nota 100 US$ 7 6 7 <’ > Nota 100 \ J S $ 3438^
íOOnm 46.68 45.14
420nm 47.05 45.18
440nm 47.95 45.81
460nm 50.42 48.10
480nm 53.66 51.18
500nm 57.83 55.13
520nm 61.93 5908
540nm 64.00 61.65
560nm 64.87 63.17
580nm 64.30 62.49
óOOnm 64.04 62.06
620nm 64.14 62.03
640nm 65.04 62.77
660nm 66.85 64.49
680nm 67.92 65.58
700nm 68.89 66.78

Obs.: (*) cédula verdadeira; (**) cédula de exame.

767A

340A

Curvas iguais representam cores iguais.


0 paralelismo representa que uma cor é mais escura do que a outra.

5.5. E x a m e s d o re v e rs o

Os mesmos exames foram procedidos no reverso das cédulas, toman-


do-se como ponto de referência a árvore situada à esquerda da alegoria,
conforme demonstram as tabelas e gráficos a seguir.
C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 285

Os resultados são muito próximos dos obtidos nos exames do anverso


das cédulas. Todavia, embora o laudo comprovando a falsidade das cédulas
examinadas já esteja até aqui devidamente comprovada, se o examinador
desejar, poderá arrolar outras diferenças técnicas, como as técnicas de im­
pressão e gramatura, a espessura do papel, a sua resistência à tração e ao
alongamento e, finalmente, à presença de falhas e manchas na impressão.
Dados tabulados pelo computador na composição
das cédulas falsas com as de comparação

Amostra: Prova:
R(%)
Nota 100 USS 767° Nota 100 USS 3438
400nm 46.68 39-98
420nm 47.05 42.50
440nm 47-95 45.24
460nm 50.42 48.95
480nm 53.66 52.27
500nm 57.83 58.52
520nm 61.93 62.19
540nm 64.00 62.75
560nm 64.87 63.49
580nm 64.30 63.97
600nm 64.04 64.09
620nm 64.14 64.46
640nm 6504 65.05
660nm 66.85 65.88
680nm 67.92 66.13
700nm 68.89 65.95

Obs.: (*) padrão de confronto; (**) padrão de exame.

Curvas diferentes representam cores diferentes.


286 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Dados tabulados pelo computador na composição


das cédulas falsas com as de comparação

Amostra: Prova:
R(%) Nota 100 US« 9
Nota ÍOO US$ 767^ 5 8 A m

400nm 46.68 36.01


420nm 47.05 38.07
440nm 47.95 40.54
460nm 50.42 44.17
480nm 53.66 47.58
500nm 57.83 54.49
520nm 61.93 58.62
540nm 64.00 59.25
560nm 64.87 60.13
580nm 64.30 60.67
600nm 64.04 60.72
620nm 64.14 60.97
640nm 65.04 61.53
660nm 66.85 62.40
680nm 67.92 62.66
700nm 68.89 62.38

Obs.: (*) padrão de confronto; (**) padrão de exame.

767A

958A

Curvas diferentes representam cores diferentes.


C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 287

Dados tabulados pelo computador na comparação


do reverso das cédulas em comparação

A m o s tr a
R (% ) I a P ro v a D 65 A TL84
Padrão
400nm 1 8 .8 7 1 9 .3 2 dE* 1 .6 8 1 .6 9 1 .8 0
420nm 1 9 .0 9 1 9 .5 7 dL* 1 .3 2 m . 1 .3 6 m . 1 .3 7 m .
440nm 1988 2 0 .4 3 claro claro claro
460nm 2 1 .5 8 22. 27 da* -0 .2 1 m . 0 .1 2 - - - 0 .2 3 m .
480nm 2 2 .9 6 23 90 verd e verde
500nm 2 6 .6 9 2 7 .9 0 db* l.O l m . l.OOOm. 1 .14m .
520nm 3 1 .2 0 3 2 .9 4 amar. amar. amar.
540nm 3 1 .6 7 3 3 .5 5 dC* 0 .9 6 m . 0 .8 9 m . l.l O m .
560nm 2 8 .2 1 2 9 .6 1 lim p o lim p o lim p o
580nm 2 6 .0 7 2 7 .4 2 dH - 0 .3 7 -0 .4 6 -0 .3 6
600nm 2 5 .7 1 2 7 .1 0
620nm 2 5 .8 3 2 7 .3 3
640nm 2 8 .0 5 3 0 .0 3
660nm 3 0 .4 7 3 2 .8 7
680nm 2 9 .7 0 3 1 .9 5
700nm 2 9 .4 7 3 1 .9 5

ín d ice d e m etam eria: A: 0 .2 7 T L 8 4 : 0 .1 2

Dados tabulados pelo computador na comparação


do reverso das cédulas em comparação

R (% ) 2 a P ro v a 065 A T I.8 4
400nm 1 7 .0 6 dE* 4 .6 1 5 .1 8 6 .0 1
420nm 1 7 .9 7
4 4 Onm 1 9 .2 6 dL* -2 .8 7 m . -3 .13m . -3 -5 0 m .
460nm 2 1 .0 2 esc u ro e sc u ro e sc u ro
480nm 2 2 .3 8
500nm 2 6 .2 2 da* -0 .1 l m . -------- -0 .8 3 m . 1 .1 7 m .
520nm 2 7 .9 4 ve rd e verm .
540nm 2 6 .4 7
560nm 2 4 .8 1 db* - 3 .6 l m . -4 .0 4 m . -4 .7 5 m .
580nm 2 3 .8 6 azul azul azul
600nm 2 2 .8 3
620nm 2 2 .1 8 dC* -2 .7 6 m . -3 -llm . -4 .5 8 m .
640nm 2 2 .6 8 apag. apag. apag.
660nm 2 4 .5 5
680nm 2 4 .9 5 dH 2 .3 3 2 .7 2 1 .6 9
700nm 2 3 .3 7

ín d ice d e m etam e ria: A 0 .8 2 T L 8 4 : 0 .8 6


D ocumentoscopia —Lamartine M endes
288

Dados tabulados pelo computador na comparação

do reverso das cédulas em comparação

Amostra: Prova:
R(%) Nota ÍOO US$ 767Ac*> Nota ÍOO US$ 340A<**>
400nm 18.87 18.87
420nm 1909 1909
440nm 19-88 19.88
460nm 21.58 21.58
480nm 22.96 22.96
500nm 26.69 26.69
520nm 31.20 31.20
540nm 31.67 31.67
560nm 28.21 28.21
580nm 26.07 26.07
600nm 2571 25.71
620nm 25.83 25.83
640nm 28.05 28.05
660nm 30.47 30.47
680nm 29.70 2970
700nm 29.47 29.47

Obs.: (*) verso árvore esquerda; (**) verso árvore esquerda.

(VERSO ARV)

(VERSO ARV)

Curvas diferentes indicam cores diferentes.


C apítulo XXV - E xame do Papel-M oeda 289

Dados tabulados pelo computador na comparação


do reverso das cédulas em comparação

A m o stra : Prova:
R (% )
N ota ÍOO US$ 7 6 7 A (*> N ota ÍOO US$ 9 5 8 A (**>
4()0nm 18.87 16.69
420nm 1909 17.58
440nm 1988 18.85
460nm 2 1 .5 8 2 0 .5 9
480nm 2 2 .9 6 2 1.81
500nm 2 6 .6 9 2 5 .5 5
520nm 3 1 .2 0 2 7 .2 5
540nm 3 1 .6 7 2 5 .8 0
560nm 2 8.21 2 3 .9 5
580nm 2 6 .0 7 2 3 .0 1
6()Onm 2 5.71 2 1 .9 6
620nm 2 5.83 2 1 .3 5
640nm 2 8 .0 5 2 1 .8 9
660nm 3 0 .4 7 2 3 .8 4
6 8 0 nm 2 9 .7 0 2 4 .2 5
700nm _____ 2 9 .4 7 2 2 .6 3

Obs.: (*) verso árvore esquerda; (**) verso árvore esquerda.

(VERSO ARV)

(VERSO ARV)

Curvas diferentes mostram tintas de pigmentação e cores diferentes.


D ocumentoscopia —L vmaktini: M endes
290

dl* D65: db* m. amar.

*1
m. verde
da*
*2
-5 m. verm.
*3

-5 -5

m. azul

Gráfico representando a comparação das amostras sob a luz do dia.

dl* TL84: db* m. amar.

*1

*2

*3
-5

Gráfico mostrando a comparação das amostras sob a luz fluorescente.


C apítulo XXV - E xame do P apel-M oeda 291

Dados tabulados pelo computador na comparação


do reverso das cédulas em comparação

R <*>______ I a P ro v a D 65 A TT84
400nm 1 6 .6 9 dE * 5 .4 1 6 .0 5 6 .7 6
420nm 1 7 .5 8
440nm 1 8 .8 5 dL* -2 .6 1 m . -3 .9 1 m . -4 .2 5 m .
460nm 2 0 .5 9 escu ro escu ro escu ro
480nm 2 1 .8 1
500nm 2 5 .5 5 da* -0 .2 6 m . -1 .0 4 m . 0 .9 5 m .
520nm 2 7 .2 5 escuro verde verm .
540nm 2 5 .8 0
560nm 2 3 .9 5 db* -4 .0 1 m . -4 .5 0 m . -5 .1 8 m .
580nm 2 3 .0 1 azul azul azul
600nm 2 1 .9 6
620nm 2 1 .3 5 dC* -2 .9 3 m . -3 .3 2 m . -4 .7 8 m .
640nm 2 1 .8 9 apag. apag. apag.
660nm 2384
680nm 2 4 .2 5 dH 2 .7 5 3 .2 1 2 .2 1
700nm 2 2 .6 3

ín d ice d e m etam eria: A 0 .8 9 T L 8 4 : 1 .8 5

5.6. E x am e d e m a s s a s d e c a n e ta s e s fe ro g rá fic a s
Até o momento, a identificação de canetas esferográficas por meio
de lançamentos por elas feitos, quando, na observação comum, a cor e
a tonalidade do corante são semelhantes, constituía um problem a sem
solução.
Todavia, testes feitos mostraram ser possível essa identificação pela
colorimetria computadorizada.
Realizaram-se lançamentos com os seguintes instrumentos escreventes:
• caneta com tinta líquida;
• caneta esferográfica Bic-,
• caneta esferográfica Bic Super Clip-,
• caneta esferográfica de propaganda sem marca aparente;
• caneta esferográfica Kilométrica-,
• caneta esferográfica de carga cambiável Parker.
Todos os lançamentos feitos, na observação ótica, eram de cor azul e
de mesma tonalidade.
Feito o teste, através do espectrofotômetro, tomando-se como pa­
drão o lançamento feito com caneta esferográfica Bic, que foi colocado
no centro gráfico, a leitura das tabelas oferecidas pelo com putador mostra
a diferenciação das várias massas corantes. O gráfico, que é a análise es-
pectrofotométrica dos pigmentos que compõem a massa corante, permite
diferenciar as várias canetas esferográficas:
292 D ocumentoscopia - Lamarune M endes

• o lançamento feito com a caneta-tinteiro em relação ao realizado


com a caneta Bic é 12% mais verde e 5% mais amarelo e ainda claro
28% no eixo D l (luz do dia);
• o feito com a Super Clip Bic é 20% mais azul e com variação peque­
na no eixo do verde, sendo 15% mais escura;
• o da caneta de propaganda, sem marca aparente, é 13% mais azul
e 6% mais verde, sendo mais clara 4%; entre o padrão e o lança­
mento feito com a citada caneta, a variação é muito pequena. Em
razão desse fato, seria temerário fazer-se uma afirmação categórica
de identidade. Mas, como os resultados são muito semelhantes, essa
possibilidade não pode ser desprezada de plano;
• o lançamento feito com a caneta Kilométrica é 17% mais azul, ha­
vendo um pequeno desvio no eixo do vermelho, sendo 20% mais
clara;
• o feito com a caneta Parker, de carga descartável, é 75% mais azul,
tendo um ligeiro desvio no eixo do verde, sendo 86% mais clara,
conforme as tabelas a seguir.
Como se vê, até esta data, quando a descarga das canetas esferográficas
eram de corantes opticamente da mesma cor, era impossível tentar-se a sua
diferenciação. A colorimetria com putadorizada, necessariamente, deve ser
incluída nos exames procedidos por todas as polícias técnicas do país.
Dados tabulados pelo computador no exame de traços
feitos com canetas esferográficas de cor azul e de marcas diferentes

A m o stra
R (% ) I a P ro va 065 A TL84
Padrão
400nm 2 9 .5 2 3 0 .3 1 dE * 1 .2 6 1 .1 1 1 .1 5
420nm 6 2 .9 2 6 4 .2 7
440nm 7 8 .8 0 7 5 .4 6 dL* 1 .0 9 m . 1 .0 4 m . 1 .0 5 m .
460nm 7 3 .4 1 7 5 .6 3 claro claro claro
480nm 7 2 .8 9 7 5 .4 9
500nm 7 1 .9 6 7 4 .9 2 da* 0 .5 9 m . 0 .3 6 m . 0 .4 l m .
520nm 7 0 .6 9 7 3 .5 0 verd e verd e verm .
540nm 6986 7 2 .2 0
560nm 6 9 .1 6 7 1 -3 3 db* 0 .2 3 m . 0 .0 6 — 0 .2 3 m .
580nm 6 9 .1 9 7 0 .9 0 amar. amar.
600nm 6 9 .3 3 7 1 .1 4
620nm 7 0 .5 8 7 2 .5 3 dC* 0 .2 0 m . 0 .0 5 - - - 0 .2 3 m .
640nm 7 1 .6 7 7 3 .6 0 lim p o apag.
660nm 7 2 .2 5 7 4 .5 7
680nm 7 1 .8 2 7 5 .5 6 dH - 0 .6 0 - 0 .3 7 0 .4 1
700nm 7 3 .1 4 7 7 .0 2

ín d ice d e m etam eria: A 0 .2 7 T L 8 4 : 0 .1 7


C apítulo XXV —E xame do Papel-M oeda
293

Dados tabulados pelo computador no exame de traços feitos

com canetas esferográficas de cor azul e de marcas diferentes

R Q ) 2 a P ro v a
D 65 A TL84
400nm : 2 9 .8 2 dE * 0 .9 9 1 .1 2 1 .0 9
420nm : 6 2 .4 5
440nm : 7 3 -3 7 dL* -0 .5 9 m . -0 .6 6 m . -0 .6 6 m .
460nm .- 7 3 .2 9 escu ro escu ro escu ro
480nm : 7 2 .7 2
500nm : 7 1 .5 1 da* - 0 . 0 8 -------- - 0 . 1 2 -------- - 0 . 0 2 --------
520nm : 6 9 .7 4
540nm : 6 8 .5 4 db* -0 .7 9 m . 0 .9 0 m . -0 .8 7 m . ~~
560nm : 6 7 .5 5 azul azul azul
580nm : 6 7 .5 7
600nm : 6 7 .7 6 dC* 0 .7 7 m . 0 .9 0 m . -0 .8 6 m .
620nm : 6 9 .1 6 lim p o lim p o lim p o
640nm : 7 0 .1 5
660nm : 7 1 .1 9 d lt 0 .1 8 -0 .1 5 -0 .1 1
680nm : 7 0 .5 2
7 0 0 n tn : 7 2 .2 4
— —
ín d ic e d e m etam eria: A 0 .1 4 T L 8 4 : 0 .1 2

Dados tabulados pelo computador no exame de traços feitos

com canetas esferográficas de cor azul e de marcas diferentes

R (% ) 5 a P ro v a D 65 A TL84
400nm 2 8 .6 4 dE* 2 .3 2 2 .5 7
420nm 6 0 .8 1 2 .5 1
440nm 7 2 .1 5 dL* -1 .7 3 m . -1 .8 5 m . -1 .8 3 m .
460nm 7 2 .0 3 escuro escuro escuro
480nm 7 1 .0 1
500nm 6 9 .3 8 da* -0 .0 9 m . - 0 .4 l m . - 0 . 1 0 ------- ~
520nm 6 7 .3 7 escuro verd e
540nm 6 6 .2 0
560nm 6 5 .4 7 db* -1 .5 5 m . -1 .7 3 m . -1 .7 1 m
580nm 6 5 .2 7 azul azul azul
600nm 6 5 .3 9
620nm 6 6 .4 2 dC* 1 .5 2 m . 1 .7 4 m . 1 .7 0 m .
640nm
lim p o lim p o lim p o
660nm 6 7 .6 6
6 8 0 nm 6 7 .5 4 dH 0 .3 4 -0 .3 8 -0 .2 4
700nm 6 8 .4 5

ín d ice d e m etam eria: A 0 .1 1 T L 8 4 : 0 .0 5


D ocumentoscopia - Lamartine M endes
294

dl* D65: db* m. amar.

2 2

*1
m. verde *1
j
*3 1 * 3
*4 -2 *4
*2 * 2
* 5

*5 -2
-2
m. azul

Gráfico representando a posição dos vários traços em relação aos eixos verde-vermelho e
amarelo-azul. 0 padrão - caneta Bic - está no cruzamento (+) dos eixos.

5.7. C o n clu são


A colorimetria com putadorizada, com emprego do espectrofotôme-
tro, abre um horizonte inestimável para a criminalística.
Questões até aqui julgadas insolúveis podem ser resolvidas com abso­
luta exatidão, num dim inuto espaço de tempo.
Podem ser feitos os seguintes exames:
• de papéis;
• de impressos de todos os tipos;
• de tintas de todas as naturezas;
• de terras e poeiras;
• de tintas de automóveis;
• de placas da pintura de veículos;
• de resíduos da pólvora deflagrada;
• de papel-moeda.
Estudos mais demorados, todavia, poderão ainda ampliar mais esse
rol.
Para finalizar, o autor teve a primazia da aplicação da colorimetria
com putadorizada, nos exames documentoscópicos, exame este que é
muito comum nas fábricas de tecidos, tintas, papéis e outras mais.
Capítulo XXVI
A p l ic a ç ã o d o E s p e c t r o d e L u z em E x a m e d e
D o c u m e n t o s Q u e s t io n a d o s
Marcos Passagli1

1. I n tro dução

O uso do espectro de luz em exame de documento questionado repre­


senta uma maneira muito prática e rápida de estabelecer a autenticidade
de um documento. A luz interage diferentemente com diferentes tipos de
tintas em um documento, oferecendo informações para a detecção de al­
terações fraudulentas. A grande diferença de fazer uso de método físico é
que este não destrutivo, portanto, o perito pode errar sem correr o risco de
corromper a prova material As regiões do espectro de luz, começando pelo
ultravioleta, passando pelo visível e chegando ao infravermelho oferecem
ao examinador um rol de variáveis extremamente interessantes. Cada região
possui uma aplicação própria e seu próprio papel na análise do documento
(Figura 01). Ao longo deste capítulo, faremos discussões sobre a aplicação
de cada região de luz, assim como dos dois principais métodos para aquisi­
ção de informações: os modos de absorção e de luminescência.
<r-------------------------- L 1Kh t—-------------------------------

P ir a
>1 e £

___i
L'V
" A"
____1
V i s i b 1-

___I___!___1
___1 l 1
Red
1 i
200 300 400 SOO 600 700 H0ÍI VOO
W a \ e í cn g í h — —^

Figura 01 Todas as três regiões do espectro de luz (ultravioleta, visível e infravermelho) são
importantes no exame de documentos questionados).

1 E-mail: mpassaRli'.h vahoo.cotn.br: passadi1


» safefpchhrasil rnm.hr
296 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

2. Região Ultravioleta

2.1. As p ro p rie d a d e s básicas da luz ultravioleta

A região ultravioleta é dividida em duas partes, ultravioleta baixa/cur-


ta (UV “B”) entre 200 e 300 nm e ultravioleta alta/longa (UV “A”) entre 300
e 400 nm. Os fótons de luz ultravioleta possuem a energia mais alta e os
comprimentos de onda mais curtos em toda a região de iluminação. A luz
ultravioleta não é visível aos olhos humanos e, em geral, o vidro de sódio
é opaco a todos os comprimentos de onda ultravioleta, exceto pequenas
porções de UV fraca entre 350-400 nm vai passar. Duas conclusões impor­
tantes podem ser feitas:
1. Como a luz UV não é visível, não estamos diretamente cientes de
sua presença nem de sua intensidade. Indiretamente, a luz ul­
travioleta pode ser detectada pela luminescência que ela produz
pela interação com muitos substratos comuns, por exemplo, pa­
pel, tecido, tinta etc. Observe que a luz UV é perigosa aos olhos
humanos e pele, especialmente com exposições longas e repeti­
das. Os óculos protetores UV devem ser usados todas as vezes que
trabalhar com a luz UV A pele deve ser protegida quando estiver
trabalhando com fontes de alta intensidade e longas exposições à
luz UV Das duas partes, a luz ultravioleta curta (UV “B”) é a mais
perigosa, quanto mais curto os comprimentos de onda maior pe­
netração e maiores são os riscos de danos ao indivíduo.
2. A pequena quantidade de luz UV (350 - 400 nm) que passa pela
lente da câmera de vidro pode interferir na fotografia de luz vi­
sível, o filme pode não reproduz a mesma coisa que vemos com
nossos olhos. Isso requer o uso de um filtro bloqueador UV (ex.
Kodak 2A, 2B ou 2E ou similares) na frente da câmera para foto­
grafia de luminescência excitada por luz UV Existem no mercado
câmaras especiais para fotografia com luz UV
2.2. 0 u so d e luz ultravioleta em exam e d e d ocu m en to q u estion ad o

As informações podem ser adquiridas nos dois modos, absorção e lu­


minescência. Devido à invisibilidade da luz UX o m odo de absorção pode
ser somente implementado indiretamente, fazendo uso comparador de
vídeo ou fotografia (Figura 02). Como uma lente de vidro transmite pobre­
mente na região UV o m odo de absorção é útil somente quando é usada
um a lente de quartzo. Como as lentes de quartzo são caras, um trabalho
pequeno de pesquisa foi feito usando o modo de absorção UV Podemos
C apítulo XXVI - C asuística
297

esperar mais aplicações no futuro próximo quando as lentes de quartzo se


tornar mais comuns no mercado e os preços caírem.

Figura 2 - Implementação do modo de absorção na região ultravioleta.


• Lente de quartzo
• M onitor TV
• Vídeo im pressora
• Fonte d e luz ultravioleta
• Filtro de transm issão ultravioleta
• Luz ultravioleta refletida
• Lum inescência induzida por UV
• Luz ultravioleta

O m odo de luminescência com excitação na região ultravioleta é ge­


ralmente empregado em exame de docum ento questionado. O ajuste típi­
co deste m odo é mostrado na Figura 04.

Figura 03 - Ajuste típico para o modo de luminescência com excitação na região UV


e observação na região visível.
• Lente de vidro norm al
• M onitor TV
• Vídeo im pressora
298 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

• Fonte de luz ultravioleta


• Filtro bloqueador de Uy ex. Kodak 2A
• Luz ultravioleta refletida
• Emissão de fotoluminescência induzida por UV
• Luz ultravioleta
O exame de luminescência excitada pelo ultravioleta é muito útil para
revelar características de segurança na forma de diferentes fibras ou tintas
as quais são adicionadas a um docum ento em particular, durante o pro­
cesso de fabricação. Estas características de segurança geralmente não são
visíveis sob a luz normal. Algumas obliterações e rasuras também podem
ser reveladas neste modo. Um docum ento pode conter tinta ou resíduos
químicos que são luminescentes sob estas condições. E alguns casos, o
fundo de alta luminescência pode inundar a luminescência de alterações
e rasuras. Neste caso, a excitação com diferentes faixas de luz na região
visível pode ajudar a superar o problema. A fonte de luz possui um filtro
ultravioleta de passa banda embutido com um comprimento de onda cen­
tral de 350 nm que produz um a faixa muito forte de luz UV de compri­
m ento de onda longo.
2.3. Região Visível
Ambos os modos de aquisição de informações (absorção e lumines­
cência) podem ser usados com sucesso na região visível a olho nu. Entre­
tanto, a ajuda de um sistema de vídeo pode ter um ótimo impacto na ve­
locidade e qualidade do resultado final. Um bom sistema de filtro dentro
da fonte de luz, e também ao lado da câmera (filtros barreira), será a base
para ambos os modos. A fonte luz com sua variação de faixas em toda a
região visível e capacidade de sintonia baixa, representa um a excelente
solução para os modos de absorção e luminescência.
O modo de absorção pode ser usado para m elhorar algumas carac­
terísticas no documento, mas em geral não é muito útil na região visível.
Ele pode ser implementado com e sem um filtro barreira e isso depende
da natureza da luz ambiente. A recomendação é ir através das faixas de
fonte de luz disponíveis e observar qualquer m elhoram ento no monitor.
O m odo de absorção é muito mais útil na região do infravermelho, con­
forme será discutido posteriorm ente. O m odo de luminescência possui
um grande núm ero de aplicações na região visível e pode revelar rasuras,
alterações e entradas adicionais.
Há requisitos básicos para aplicação do m odo luminescente na região
visível:
1. Uma fonte de luz de alta intensidade multi-espectral de qualidade.
C apítulo XXVI - C asuística
299

2. Uma boa variedade de filtros passa banda e filtros barreiras.


3. A compatibilidade de filtro deve ser observada todas as vezes, o
que significa que a faixa do filtro barreira não deve sobrepor-se a
faixa do filtro da fonte de luz.
4. A luz ambiente deve ser removida, isto é, todo trabalho deve ser
feito sob condições de ambientes escuros ou semi-escuro.
O procedim ento recom endado é iniciar com o conjunto de filtros de
barreira passa alta/baixa. Selecione a faixa violeta na fonte de luz e obser­
ve o resultado enquanto m uda os filtros barreira na frente da câmera de
vídeo.
A faixa de excitação é então m udada para a próxima faixa disponível
e a observação enquanto os filtros de barreiras são mudados e repetidos.
Q uando as melhores condições para visualização das alterações, ou en­
trada adicional for estabelecida uma cópia de uma impressora de vídeo é
obtida. Uma câmera convencional pode ser usada ao invés de um a câmera
CCD. Para a fotografia bem sucedida neste caso, a compensação de expo­
sição (enquadram ento) deve ser empregada.

Figura 4.

Quando a diferença entre uma alteração, ou entrada adicional e as


entradas de fundo do docum ento é muito pequena, poderá ser quase im­
possível revelá-la pelo m étodo descrito acima (isto é, usando filtros de
barreira de passa baixa/longa). Neste caso, a observação é feita com um
conjunto de filtros passa banda de interferência. A sintonização dos filtros
de excitação e de barreira deverão ser explorados sempre. Existem fon­
tes que produzem excelentes suportes para filtro CCD sintonizável para
complementar a sintonia da fonte de luz do lado da barreira. Os filtros de
passa banda de interferência são montados em uma régua especial que
300 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

desliza no suporte do filtro na frente do CCD. Q uando a régua desliza, o


filtro particular encaixa na posição certa. A régua pode então ser inclinada
na frente do CCD, de 0 a 45 graus. A inclinação oferece sintonia baixa.
2.4. Um problema de tinta clássico
Sempre uma entrada é feita com um a tinta similar à tinta original em
um documento.
Estamos frente a um problem a clássico nos exames de documentos.
Aos “olhos desarmados” do examinador duas tintas distintas poderão pa­
recer iguais.

Gráfico - Comprimento de onda

Figura 5 - Exame de duas tintas similares por uma variedade de filtros barreira passa longa.

O escaneamento através de filtros na absorção e luminescência não


revela a entrada adicional. Ambas as tintas mostram luminescência similar
usando filtros barreira passa longa. Quando os espectros de luminescên­
cia são medidos, é revelado que a luminescência de ambas as tintas são
muito similares, mas há alguma diferença do lado esquerdo do espectro
de emissão (Figura 08). Gostaríamos de explorar esta diferença para se­
parar a entrada adicional. Se uma variedade de filtros barreira passa longa
(1, 2, 3, etc.) for usada, as intensidades da luminescência (a intensidade da
luminescência é proporcional à superfície sob a curva relevante) de cada
tinta que passa através do filtro são quase iguais, e duas tintas se parecem
mais ou menos iguais. É óbvio que este tipo de exame pode levar a uma
falsa conclusão.
Este problema pode ser resolvido usando uma variedade de filtros
passa banda de interferência. Um sistema de vídeo com uma instalação de
integração seria essencial neste caso. Os filtros são m udados até a melhor
luminescência ser alcançada. No primeiro exemplo (Figura 08), as inten-
C apítulo XXVI - C asuística 301

sidades da luminescência de cada tinta que passa através do filtro passa


banda, são quase iguais. Ambas as tintas parecem ás mesmas e não temos
como resolver o problema. A situação parece diferente se o filtro passa
banda é inclinado, e sua faixa é sintonizada logo baixo para uma nova
posição. Na nova posição de faixa a luminescência da entrada de tinta adi­
cional cai muito rapidamente enquanto a luminescência da tinta original
ainda está intensa (Figura 09: A). As duas tintas parecem ser diferentes e
a entrada adicional é descoberta. A intensidade da luminescência da tinta
original que passa através do filtro (A) é significativamente maior do que a
intensidade da luminescência para a entrada adicional (B).
Pode ser notado que:
1. O mesmo m étodo que é aplicável para qualquer parte da região
visível ou do infravermelho mostrou que temos uma boa varieda­
de de filtros passa banda de interferência de barreira disponíveis,
ex. com comprimentos de onda centrais a cada 50 nm.
2. Esta não é a solução para todos os problemas. Q uando as tintas
não mostram propriedades luminescentes, ex. docum ento de
impressão a laser, este m étodo não produz qualquer resultado.

2.5. Região do infravermelho


A região do infravermelho é geralmente usada em exame de docu­
m ento questionado e cobre usualm ente os comprimentos de onda de 700
nm a 900 nm. Há um núm ero de requerimentos para qualquer trabalho
na região do infravermelho.
1. Devido à intensidade do olho humano nesta região, alguns tipos
de dispositivos sensíveis ao infravermelho (CCD infravermelho
ou filme infravermelho) são essenciais.
2. Uma boa variedade de filtros passa longa e de barreira passa ban­
da.
3. Uma fonte de luz de alta intensidade de qualidade, multi-filtrada
na região visível com alguns filtros no infravermelho.
4. Lâmpadas fluorescentes não são adequadas desde que não te­
nham emissão no infravermelho.
5.Um CCD sensível ao infravermelho é usado, qualquer provisão
para integração (reconstituição de uma imagem fraca) na ordem
de segundos ou minutos é muito útil, quase uma necessidade.
Os modos de absorção e luminescência podem ser usados para exa­
me de um documento.
302 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

A “luminescência infravermelha” geralmente significa que as faixas na


região visível são usadas para excitação, e a emissão de luminescência é
observada na região do infravermelho. Tudo observado acerca do modo
luminescente na região visível é aplicável à região do infravermelho. Além
disso, quando a diferença entre uma entrada adicional e uma entrada
original é muito pequena, ou não pode ser mostrada, é possível imergir
todo o docum ento em nitrogênio líquido e examinar novamente no modo
luminescente. A luminescência de algumas tintas é bem aum entada pela
baixa de temperatura. A diferença entre duas tintas pode, às vezes, ser
claramente mostrada usando esta técnica. O m étodo também é aplicável
para luminescência visível, mas não até certo ponto. O m odo de absorção
na região do infravermelho (Fig. 11) é muito mais útil para exame de do­
cumentos do que o m odo de absorção na região visível.

Figura 6 - Ajuste básico para o modo de absorção na região infravermelho.

• Câmera sensível ao infraverm elho


• Lente d e vidro
• M onitor TV
• V ídeo im pressora
• Filtro de transm issão de infravermelho
• Infraverm elho q u e passa p e lo filtro
• Infraverm elho rejeitado p elo filtro
• Luz infravermelha
Algumas tintas absorvem bastante no infravermelho enquanto outras
se tornam transparentes em certos comprimentos de onda do infraverme­
lho. Este m étodo pode às vezes revelar entradas que são obliteradas com
outra tinta. Por este exame, com uso de boa fonte de luz infravermelha,
não necessariamente filtrada, e um a boa variação de filtros passa longa
e passa banda, são suficientes, e complementares ao m odo de lumines-
C apítulo XXVI - C asuística 303

cência e não deve nunca ser ignorado como um m étodo para exame de
documento.

3. Conclusão
O uso da luz em exame de docum ento questionado representa a ma­
neira mais útil e rápida de estabelecer a autenticidade de um documento.
A luz interage diferentemente com diferentes tintas em um documento,
oferecendo informações para a detecção de alterações ilegais. Cada região
de luz, ultravioleta, visível e infravermelho possui seu próprio papel. A
aplicação de cada região de luz, assim como dois principais m étodos para
aquisição de informações: os modos de absorção e de luminescência per­
mitem ao perito criminal afirmar com muita propriedade sobre autentici­
dade ou não de docum ento enviado a exames.
O uso do Espectro de Luz nos exames de docum entos questionados
apresenta-se como uma excelente alternativa e deverá ser em m uito breve
tem po ser implantado na maioria dos laboratórios de documentoscopia
do país. Os principais problemas técnicos têm sido sistematicamente re­
solvidos e cada vez mais temos peritos buscando capacitação na área como
forma de fazer uso de métodos físicos de análises nas rotinas laboratoriais
de exames de documentos. Os custos dos equipamentos já estão deixando
de ser proibitivos em razão da entrada de novos fornecedores no mercado
nacional e em breve poderá ser uma realidade na perícia nacional.

Bibliografia
SAFERSTEIN, R. C rim in a listic s a n d I n tr o d u c tio n to F orensic Science. 7a Ed,
1999.
DEFORST, R; GAENSSLEN, RF; LEE, HC. F orensic Scienc: In tr o d u c tio n to C rim i­
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STOILOV1C, M; LENNARD, C. The A p p lic a tio n o f L ig ht F orense - M a n u a l A u stra -
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MENDES, L. Documentoscopia. Ed. Sagra Luzzato, 1999


http://www. Spex.com
http: /Avww. Projectina. com.se
hhtp:/Avww.vildis. com. ru
C apítulo XXVII
C a s u ís t ic a 01

N ã o b a sta saber, é p re c iso


p o d e r a p lic a r a q u ilo q u e se sabe.
JOH A N W OLFGANG G o E T H E

1. A P e r íc ia G ráfica em P rocessos R umorosos

A história revela inúmeros casos famosos que envolveram perícias


grafotécnicas.
No ano 88, Q uintiliano, no Instituto Oratória, recom endou normas
para os peritos pautarem seus exames.
J ustiniano, em 539, na novela 93, conta que houve um erro judiciário em
razão de os peritos terem afirmado a falsidade de um documento autêntico.
Na Inglaterra, a rainha M ary Stuart foi condenada à morte, em razão
de uma perícia ter atribuído a seu punho cartas endereçadas a B othwell,
que a ligava ao assassinato de D arnley. A despeito de a rainha ter negado a
autoria das cartas, ela foi executada.
Na França, em 1665, J acques Raveneau, que publicou uma das primei­
ras obras sobre grafotecnia - Traité des inscriptions en fa u x não acre­
ditando na capacidade dos peritos da sua época, passou a falsificar, na
certeza de que eles jamais iriam provar a autoria e, assim, não poderia ser
descoberto. Todavia, isso não aconteceu e Raveneau foi condenado.
1 .1 . Caso L a R onciéri
Na França, em 1834, ocorreu o caso La Ronciéri.
Em 24 de agosto daquele ano, houve uma grande festa na casa do
general M orell, da qual o tenente La Ronciéri participou.
Na festa, o tenente conversou com a filha do general e, indelicada-
mente, disse à jovem que seria uma infelicidade que ela pudesse ser seme­
lhante à sua mãe.
306 D ocumentoscopia - Lamartini; M endes

Ofendida, a moça retirou-se da companhia do tenente e foi reunir-se com


D ’E stouilly, oficial de cavalaria, que a cortejava, com a autorização do pai.
O oficial, depois da festa, recebeu três cartas, com referências com­
prom etedoras à jovem. As cartas eram assinadas p o r R ou por E. de la R.
No dia 21 de setembro, La Ronciéri foi a um recital de música na resi­
dência de M orell e foi convidado a se retirar.
Dois dias depois, um indivíduo invadiu o quarto da jovem M orell,
agrediu-a e a arremessou pela janela, causando-lhe graves ferimentos.
A jovem, depois, disse que o agressor era La Ronciéri.
Dias depois, a senhora M orell encontrou no seu dorm itório uma car­
ta anônima, fazendo-lhe sérias ameaças.
O marido também recebeu cartas anônimas, fazendo-lhe ameaças de
vingança, o mesmo acontecendo com o oficial D ’E stouilly, desafiando-o
para um duelo. A carta estava assinada E mill. de La Ronc....
Interpelado, o tenente negou ter sido o autor das cartas.
Todavia, o duelo entre o tenente e D ’E stouilly se realizou. O desafia­
do ficou ferido no braço.
Nessa ocasião, o tenente disse ao rival ferido: “Meu pobre D ’E stouilly,
esqueci o que se passou.”
O ferido respondeu que podería esquecer tudo se ele reconhecesse ter
sido o autor das cartas anônimas. O tenente outra vez negou ter sido o autor.
Depois de vários fatos, finalmente, em 21 de outubro, o general M orell
apresentou queixa contra La R onciéri. Julgado, o tenente foi condenado a
dez anos de reclusão.
Em 1843 a pena foi reduzida.
Houve quem afirmasse que as cartas eram da autoria da jovem M orell,
pois a escrita se assemelhava com a da moça e que o papel, este pouco
encontrado no mercado, coincidia com o de seu bloco.
A jovem m orreu em 1884 e nunca foi esclarecido se as cartas eram ou
não de sua autoria.
1.2. Caso A lfred D reyfus

Na Europa, no ocaso do século dezenove, já vinha germinando a


guerra que estourou em agosto de 1914.
Em razão disso, espiões pululavam em toda a parte, forçando a cria­
ção de serviços de contraespionagem, como o Intelligence Service, na
Inglaterra, o Nachrichten Bureau, na Alemanha e, na Aústria-Hungria, o
C apítulo XXVII - C asuística 01
307

Evidenz Bureau. Esses serviços de inteligência espalharam seus espiões


por toda a Europa.
O serviço secreto francês possuía, em 1894, dois espiões infiltrados
na Embaixada Alemã: um - um a m ulher - tinha por função recolher, nos
cestos de lixo, papéis contendo anotações e o outro interceptava toda a
correspondência encaminhada ao adido militar.
E foi assim que chegou às mãos do chefe do serviço secreto francês,
recolhido de uma cesta de lixo, um papel contendo anotações secretas do
exército francês.
Esse docum ento deu ensejo ao célebre caso Dreyfus.
Começaram as investigações para se apurar quem transmitira aos ale­
mães aquelas informações. A busca do espião se tornou uma questão de
honra nacional.
A letra de todos os oficiais do Estado Maior foi comparada com a gra­
fia das anotações que quebraram o sigilo militar gaulês.
O Coronel Fabre, no dia 5 de outubro, mostrou o docum ento ao Te­
nente-Coronel D ’Aboville. Este passou a comparar as grafias-padrão com
as da peça de exame. Concluiu ter achado muita semelhança com a escrita
do Capitão Alfred D reyfus.
Havia, na época, nos meios políticos e militares, muita antipatia pelos
israelitas. O slogan era “Desconfie dos Judeus”.
Alfred D reyfus era judeu e isso bastou para fortalecer a suspeita.
O caso foi então entregue ao Ministro da Guerra, que pediu ao Coman­
dante Du Paty de C lam que realizasse a perícia, pois era grafólogo amador.
Feito o exame, o oficial apresentou sua conclusão:
“Apesar de certas dessemelhanças, há, entre as duas letras, suficiente
parecença para que se justifique uma perícia legal.”
Note-se que o oficial não apresentou uma conclusão técnica. Apenas
sugeriu que as escritas fossem examinadas oficialmente, ou seja, p or pes­
soa habilitada.
Em razão da gravidade do fato, o Ministro da Guerra o levou ao co­
nhecim ento do Presidente da República, Casimir P erier.
P erier, p r u d e n te m e n te , ju lg o u n e c e s s á rio q u e se c o lig isse m m ais p r o ­
vas, p o is a in fo rm a ç ã o e r a d e u m a m a d o r e, p o r isso, d iscu tív el.
E foi assim pedido ao grafólogo G obert que procedesse ao exame.
Este concluiu que:
“A carta anônima incriminada podería ser de uma pessoa diversa da
suspeita.”
308 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

A solução não satisfez o Estado Maior francês. Recorreram então a


Alfonse B ertiiaon.
A lfonse B ertillon era filho de célebre antropologista de mesmo nome.
Ingressou na Prefeitura de Paris em 1878, como mero escrevente. No ano
seguinte, propôs o reconhecim ento de delinquentes reincidentes por
meio de um processo de sua autoria - a Antropometria baseado no mé­
todo da Antropometria de Q uelet.
O processo consistia na medição de certas longitudes somáticas, par­
ticularmente invariáveis, pelo menos a partir de vinte e um anos.
O processo baseava-se no fato das dimensões dos ossos não se modi­
ficarem durante a idade adulta, de não serem iguais nas pessoas e na faci­
lidade e relativa precisão com que podem ser medidas certas dimensões
do esqueleto humano.
O processo de identificação antropométrico constava de quatro prin­
cípios fundamentais:
• o assinalamento antropométrico;
• o assinalamento descritivo ou retrato falado;
• as marcas particulares;
• a fotografia.
Na falta de outro processo para a identificação do homem, com o
abandono dos processos cruentos em voga, o m étodo de B ertillon logo
foi oficializado na França (1888), posto em prática na Inglaterra (1884), na
Espanha e na Alemanha (1896), na Argentina (1889) e no Brasil em 1899-
Mas logo caiu em desuso, por várias razões, entre elas o fato das me­
didas a serem tomadas diferirem de técnico para técnico e de ser difícil o
arquivamento dos resultados, por falta de um princípio de classificação
para efeito de arquivamento.
Além disso, o processo só poderia ser aplicado a indivíduos que já
tivessem atingido seu pleno desenvolvimento físico.
Seja como for, B ertillon teve o mérito de criar um processo de identi­
ficação que se assentava em princípios científicos pela primeira vez.
Mas não constava que B ertillon fosse especializado em exames de
escritas. Não se conhecia nenhum trabalho dele sobre essa especialida­
de. Assim, sua indicação como perito grafotécnico se devia mais ao seu
renom e internacional do que aos seus conhecimentos particulares sobre
a Grafotecnia. Em razão disso, sua nomeação foi temerária, pois outros
estudiosos pontificavam nessa técnica.
B ertillon, n o d ia 13 d e o u tr u b r o , c o m u n ic o u s u a c o n c lu sã o :
C apítulo XXVI] - C asuística 01 309

“Se não se trata de um documento elaborado com cuidado muito gran­


de, está claro, a nosso juízo, que foi a mesma pessoa a autora de todas
as peças relacionadas no documento incriminado.”
Como se vê, a conclusão não era convincente. Poder-se-ia indagar de
e se o docum ento foi preparado com grande cuidado, quem
B ertillon :
seria o autor?
Mas B ertillon ainda não havia entregue o seu laudo, quando o Gene­
ral G o nse convocou D reyfus ao seu gabinete, ordenando que se apresen­
tasse à paisana, às 9 horas da manhã do dia 13 de outubro de 1894.
Obedecendo à convocação, D reyfus foi ao Ministério da Guerra, sen­
do introduzido no gabinete do Chefe do Estado Maior, recebido pelo Co­
m andante Du P aty de C ia m .
Alegando estar com um dedo machucado, este oficial pediu a D reyfus
que escrevesse uma carta para ele, no que foi atendido. Du P aty ditou
a carta, incluindo trecho das anotações que estavam sendo atribuídas a
D reyfus.

À certa altura, Du P aty perguntou a D reyfus porque ele estava trem en­
do. Este declarou que estava com os dedos frios.
Inesperadamente, Du P aty pôs-se de pé e disse em v o z alta:
- Capitão D reyfus, detenho-o em nome da lei. É o senhor acusado de
crime de alta traição.
Não s a b e n d o d o q u e s e tr a ta v a , D reyfus f i c o u a t ô n i t o e j u r o u i n o c ê n ­
c ia , f o s s e q u a l f o s s e a a c u s a ç ã o q u e c a ía s o b r e a s u a p e s s o a .

D u P aty deu as costas a D reyfus e se retirou.


Sob a maior vigilância, o Capitão, sempre protestando sua inocência,
foi levado para a prisão, onde foi conservado em regime de incomunica-
bilidade.
D u Paty, então, foi à casa do Capitão, para uma busca completa. Lá
encontrou sua esposa, a quem informou que seu marido estava preso e o
assunto era secreto. Chegou a ameaçá-la, dizendo que, se ela comentasse
sobre o assunto, D reyfus poderia ser morto.
No dia 19 de dezembro de 1894, foi instituído o Conselho de Guerra,
presidido pelo Coronel M aurel e mais sete oficiais. A acusação ficou a car­
go do Comandante B risset e a defesa com o advogado D em ange .
O Conselho de Guerra, entendendo que a publicidade dos debates
poderia gerar distúrbios, m andou esvaziar a sala - a sessão seria secreta.
Quatro dias após o início do julgamento, dia 22 de dezembro, veio o
veredictum : o réu era culpado.
310 D ocumentoscopia - Lamaktinf. M endes

D reyfus f o i c o n d e n a d o , p o r u n a n i m i d a d e , à p e n a d e e x p u l s ã o e à d e
d e g r a d a ç ã o e d e d e p o r t a ç ã o p e r p é t u a n u m a f o r t a le z a .

Na manhã do dia 5 de janeiro de 1895, D reyfus foi levado para o pátio


da prisão de Cherche-Midi, para a solenidade de degradação.
Às nove horas, os tambores começaram a rufar. O General D arras or­
denou que as armas fossem terçadas e disse em alta voz:
- Alfred D reyfus! Alfred D reyfus! O senhor é indigno de vestir a farda.
Em nome do povo francês o degradamos.
Enquanto um sargento passou a retirar as insígnias do seu uniforme,
quebrando sua espada, Dreyfus gritou:
- Soldados. Desonra-se a um inocente.
- Viva a França.
- Viva o Exército.
Dias depois, D reyfus avistou-se com a esposa. Nessa mesma noite foi
embarcado no Sain-Lazare com destino a uma ilha, onde se localizava um
hospital para leprosos - a Ilha do Diabo - na então Guiana Francesa, onde
amargou por doze longos anos.
Anos depois da condenação, o Senador S chevrer-K estner iniciou uma
campanha para a revisão do processo e acusava o Comandante E sterhazy
como o autor dos informes passados à Embaixada Alemã.
E sterhazy f o i l e v a d o a j u l g a m e n t o e f o i a b s o l v i d o p o r u n a n i m i d a d e .

Foi então que É mile É douard A nt o in e Z ola ergueu a sua voz.


Referindo-se ao caso, Z ola dizia que só o antissemitismo tornou pos­
sível o erro judiciário.
Z ola , então, redigiu uma petição, exigindo a revisão do processo.
Com ele, assinaram vários intelectuais da época, como A natole F rance , Otá­
vio M irabeau , M arcel P r o ust , entre outros.

Z ola , então, publicou o seu famoso J ’Accuse:


“Acuso o Tenente Coronel Du Paty de C lam de ter sido o autor diabó­
lico do erro judiciário... Acuso o General Mercier de haver se tornado
cúmplice de uma das maiores iniquidades do século. Acuso o General
Billot de ter tido nas mãos as provas palpáveis da inocência de D reyfus
e de tê-las abafado... Acuso o General D e Foisdeffre e o General G onse
de se terem tornado cúmplices do mesmo crime... Acuso o General
Pellieux e o Comandante Ravary de terem feito um inquérito crimino­
so... Acuso os três peritos grafólogos de mentirosos e fraudulentos em
suas informações... Acuso os funcionários do Ministério da Guerra de
terem sustentado na imprensa uma campanha execrável para ludibriar
a opinião pública e encobrir as próprias faltas. Acuso, por último, o
C apítulo XXVII - C asuística 01
311

primeiro Conselho de Guerra de ter violado o direito e condenado


um acusado com fundamento numa peça que conservou em segredo
e acuso o segundo Conselho de Guerra de ter acobertado essa ilegali­
dade para cumprir ordens, cometendo o crime de absolver conscien­
temente um culpado.”
A publicação desse manifesto levou Z ola às barras do Tribunal, sendo
condenado a quatro anos de prisão, o que o levou a fugir do país.
No Brasil, Rui B arbosa defendeu o oficial francês, escrevendo em I 895
- foi o primeiro a se opor publicamente contra a condenação de D reyfus:
“De que é culpado esse criminoso? Ninguém o sabe. Onde está o cor­
po de delito? Ninguém no-lo mostra. Ninguém viu o processo. Fala-se
de um papel cuja letra se atribui ao condenado, porém a única coisa
que se sabe a respeito, com um pouco de certeza, é que, de cinco
peritos que examinaram o documento, três o atribuíram a D reyfus e
dois sustentaram o contrário. Meditando sobre essas coisas, o obser­
vador estrangeiro dificilmente desfaria uma impressão de dúvida ante
a D reyfus.
Esse homem estava condenado na alma de seus compatriotas. Antes do
julgamento, o Ministro da Guerra se declarava convencido da culpabi­
lidade do acusado.”
Em 1899, depois de o Comandante E sterhazy ter confessado ter sido
o autor do bilhete, para condenar seu colega de farda A lfred D reyfus, foi
determinada a revisão do processo. O comandante foi condenado a dez
anos de reclusão. Foi indultado pelo Presidente Lo u b e t .
Nova revisão ocorreu em 1906 e a ação concluiu pela anulação da
condenação de D reyfus, pela sua reintegração ao Exército e pela concessão
da Medalha da Legião de Honra.
D reyfus , no posto de Tenente-Coronel, morreu em 1935, no mais
completo esquecimento.
Se o caso D reyfus é uma página negra na história da França, é também
um a mancha indelével na perícia: um exame feito por um grafólogo ama­
d or e, depois, por técnico de renome, cujo método ainda era experimen­
tal, para ser logo depois rejeitado, custou ao infeliz oficial doze longos
anos de martírio na Ilha do Diabo.
1 .3 . Caso B ernardes
No Brasil, a princípio, os exames gráficos eram entregues aos Tabe­
liães, pois não havia nenhum diploma legal regulando o assunto.
Nas Ordenações havia apenas uma recomendação para que houvesse
muita cautela por parte daqueles que servissem como peritos, recom en­
312 D ocumentoscopia - Lamaktine M endes

dando que suas conclusões fossem feitas por analogia e, p or isso, não se
cogitaria da identificação gráfica.
Mas, em 1921, explodiu um escândalo nos meios políticos, envolven­
do A rthur da S ilva B ernardes , candidato à Presidência do Brasil, e a perícia
gráfica voltou ao cenário.
Eis o que ocorreu.
Em 1921, a perícia grafotécnica já se encontra sistematizada e E d m o n d
Lo car d , na França, pontificava. Suas obras eram fonte de consulta em todo
o mundo.
A despeito disso, aqui no Brasil, o famoso técnico francês se envolveu
num processo rum oroso e ofereceu um laudo cujas conclusões abalaram
a opinião pública e, mais do que isso, se divorciavam da verdade, enxova­
lhando a perícia em que era mestre.
O fato ficou conhecido como o Caso Bernardes e merece ser do co­
nhecim ento dos que militam na perícia gráfica, mesmo porque se trata de
uma página agitada da vida política nacional.
Em 1921, a escolha do Presidente da República que sucedería a E pitá-
cio P essoa provocou acirrada luta política, com reflexos em todo o país.

Os políticos da situação desfraldavam a bandeira de A rthur da S ilva


B ernardes , então governador do Estado de Minas Gerais.

A oposição se agrupava em volta de B orges de M edeiros , chefe do Exe­


cutivo do Estado do Rio Grande do Sul: era a chamada Reação Republi­
cana, que tinha por objetivo pôr fim à dominação do eixo político São
Paulo-Minas.
Os oposicionistas, então, lançaram a candidatura de N ilo P eçanha .
E, assim, os políticos, a im prensa e a opinião pública estavam di­
vididos.
Em plena efervescência política, o jornal Correio d a Manhã, de Mi­
nas, publicou a fotografia de um a carta, assinada p or A rthur B ernardes,
endereçada a Raul S oares, em 3 de junho de 1921.
A carta continha graves ofensas aos militares, chamando o Marechal
H ermes R o drigues da F onseca de sargentão sem compostura e de canalha,
e aos demais Generais de anarquizadores.
A bomba, cujo pavio já tinha queimado, explodiu.
Os insultos sacados contra os militares provocaram um a reunião do
Clube Militar, para que fosse verificada qual a atitude a ser tomada. Essa
reunião, todavia, por ordem do próprio Marechal H ermes, não se sabe até
hoje por quê, foi encerrada sem chegar a qualquer resultado.
C apítulo XXVII - C asuística 0 1 313

No dia 13 de outubro, dias após a publicação da carta insólita, o mes­


mo jornal deu publicidade a outra.
A rthur B ernardes declarou, então, serem apócrifas as cartas, mas os
jornais da oposição puseram em xeque o desmentido.
Em razão disso, ficou uma pergunta no ar: as cartas eram ou não falsas?
O Clube M ilitar realizou nova reunião, no dia 12 de novembro. Foi
aprovada, por grande maioria, a moção do Tenente-Coronel F rutuoso
M e n d e s , que exigia que a autenticidade da carta fosse apurada, por meio
de um exame pericial, na conformidade da lei.
Em razão disso, foi nom eada uma Comissão para se encarregar da
apuração. Foi indicado como perito o Sr. S erpa P in t o , p or se tratar de pes­
soa entendida no assunto e de reputação ilibada.
O convite foi aceito. A designação foi concretizada.
B ernardes indicou como seu representante na Comissão o General
B arbosa L ima e, como seu perito, E dgard S imões C orrêa. O jornal Correio da
M anhã, por sua vez, indicou como seu representante e perito o General
A. X lM E N O DE VlIXERO Y.
Os exames foram realizados e o seu resultado veio a público no dia
8 de dezembro de 1921: a cârta era verdadeira, portanto do punho de
A rthur da S iiva B ernardes .

O perito indicado pelo jornal concordou com o laudo do perito da


comissão, dele discordando apenas o perito de B ernardes .
A despeito de dois peritos terem afirmado a legitimidade das cartas,
nos corredores políticos comentava-se que, realmente, eram elas falsas.
Era apontado O ldemar de Lacerda como o falsificador.
Pretendendo pôr fim ao assunto, o jornal Correio d a M anhã pediu o
concurso de E d m o n d Locard , Diretor do Laboratório de Polícia Técnica de
Lyon, nome que era muito festejado na perícia gráfica na época.
Em 2 de fevereiro de 1922, Locard ofereceu seu laudo. Concluira ele
que:
1. as duas cartas datadas de “Minas, 3 de junho de 1921 e 6 de ju­
nho”, assinadas por “A rthur B ernardes” , não são nem falsificação
por imitação, nem falsificação por decalque;
2. com toda a evidência e com toda a certeza, essas cartas são au­
tênticas.
Para fazer fogo de encontro, os adeptos de B ernardes foram procurar,
na Itália, o Diretor da Escola de Polícia de Roma, Professor S ajlvatore
O ttolengui , nome também muito festejado.
314 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

O grande mestre italiano, em fevereiro de 1922, ofereceu seu laudo:


“As duas cartas - concluía ele - atribuídas ao senhor doutor Arthur
Bernardes, endereçadas ao senhor Raul Soares nas datas de 3 6.1921 e
6.6.1921, cujas reproduções foram objeto de meu exame, são quase
certamente falsas.”
Com isso, o problem a ainda mais se agravou: dois técnicos estrangei­
ros, de nomes consagrados, divergiam em suas conclusões.
Em maio de 1922, nova bomba explode: O ldemar Lacerda declarou
que fora ele quem m andara falsificar as cartas, mas não declinou o nome
do falsário.
Novamente o eleitorado pegou. Foi então que J acinto G uimarães sur­
giu como sendo o autor das falsificações. Este não só confessou o fato,
como chegou a dem onstrar como fizera o embuste.
Tudo parecia estar resolvido, quando o Correio d a M anhã publicou
novas declarações de J acinto G uimarães, agora negando ter sido o autor da
falsificação.
Novo exame grafotécnico foi realizado, desta vez p or M arc B ish o ff ,
não menos famoso professor da cadeira de Polícia Científica da Universi­
dade de Lausanne. B ish off sucedera o Professor Reiss , outro grande mestre
da Criminalística do passado.
B ish off n ã o a p e n a s c o n c l u i u p e l a f a l s i d a d e d a s c a r t a s , c o m o a s a tr i­
b u i u a o p u n h o d e O ldemar Lacerda .

Os ânimos se acalmaram. A rthur da S ilva B ernardes foi eleito Presiden­


te da República.
Mas as cartas realmente eram apócrifas. Eram um ardil baixo para
destruir a candidatura de B ernardes. Sua eleição provou que o eleitorado
não foi ludibriado com o estratagema político da oposição.
Mas, como se aceitar que técnicos de alto coturno, como L ocard , ti­
vessem claudicado no seu laudo, quando ele era, como realmente foi, o
mestre no assunto e suas obras ainda hoje são fontes de consulta?
O grande mestre Locard , todavia, sob o ponto de vista técnico, não
errou: houve um descuido na redação do laudo. Locard recebera padrões
de confronto como sendo de B ernardes, mas, na realidade, eram de
O ldemar L acerda . A conclusão de que as peças de exame e os padrões eram
do mesmo punho era correta e esta deveria ter sido a solução, e não a de
atribuir as cartas a B ernardes .
Voltando à projeção da perícia no nosso Estado, em São Paulo, em
1913, R eiss proferiu um ciclo de palestras sobre Criminalística. Como eco
C apítulo XXVII - C asuística 01 315

dessas conferências, em 1926 foram criadas a Delegacia de Técnica Poli-


ciai e a Escola de Polícia.
Em 1926, essa Delegacia cedeu lugar ao Laboratório de Polícia Téc­
nica, órgão que, depois de várias reestruturações, veio a constituir, hoje,
o Instituto de Criminalística, em cuja reestrutura existe a Secção Técnica
de Documentoscopia, contando com peritos de alto gabarito técnico, que
vêm prestando relevantes serviços à Justiça de São Paulo.
Para concluir estas anotações, é compreensível que em 1894 e 1921,
quando a perícia ainda não estava estratificada, pudessem surgir laudos
cujas conclusões eram divorciadas da verdade.
Dez anos depois, a perícia já estava firmada em princípios científicos
e, a essa altura, os erros não mais poderíam ser tolerados.
Mas, mesmo assim, vale aqui narrar, suscintamente, o caso do seques­
tro e m orte do filho de Lin d ber g h , no qual a perícia gráfica ocupou lugar de
destaque, mas não se pode deixar de fazer reparos ao famoso laudo.
1.4. Caso Hauptmann
Em 1927, C harles A. Lin d b e r g ii , num vôo solitário, pela prim eira vez,
cruzou o Atlântico.
Com seu feito, o piloto de New Jersey se tornou herói nacional.
No dia I o de março de 1932, acometido de um resfriado, seu primo­
gênito, ainda de tenra idade, encontrava-se dorm indo no seu berço, num
quarto do segundo andar de uma mansão em Hopewell, cidade natal do
grande aviador americano.
Por volta de 21:00 horas dessa noite, o casal se encontrava na sala de
jantar, quando ouviu um ruído surdo no jardim, ao qual não deu maior
atenção.
O p e q u e n o C harles e s t a v a s e n d o s e q u e s t r a d o n a q u e l a h o r a .

Às 22 horas, a governanta B etty Gow, ao ir ver a criança, encontrou


o berço vazio e um bilhete pedindo a soma de cinquenta mil dólares pela
devolução do menor.
Dado o alarme, as investigações tiveram início.
Ao ser examinado o jardim da casa, em sítio que correspondia com a
janela do quarto da criança, foram encontrados uma escada, com um dos
degraus quebrado, outro rem endado e um formão. Nada mais.
No dia seguinte, a notícia do sequestro do filho da Águia Solitária
abalou todo o país, com grandes reflexos no exterior.
O sequestrador enviou outras cartas, acertando o pagamento do resgate.
316 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Cinco dias depois, o Dr. John Francis Condon, professor da Universida­


de de Fordham, ofereceu-se para ser o intermediário com o sequestrador
e acertar o pagamento da quantia pedida.
No dia 17 de março, o Dr. Condon foi ao cemitério Woodlawn, onde
falou com o sequestrador, que se encontrava escondido na escuridão e,
por isso, apenas ouviu a sua voz. O sequestrador se identificou como sen­
do John e o pagamento foi acertado.
No dia 19 de abril, Lindbergh recebeu nova carta, acompanhada da
roupa de dormir da criança, para confirmar que John era o sequestrador.
O Dr. Condon teve novo encontro com John e entregou o dinheiro,
cujos números e séries foram anotados pela polícia. Recebeu, então, do
sequestrador, uma anotação com o endereço onde a criança poderia ser
encontrada: um barco de nom e Nelly, que se encontrava ancorado nas
proximidades da Ilha Elizabeth, entre as praias de Horsenek e Gay Head.
Condon e Lindbergh foram para o local indicado e não encontraram o
barco onde a criança se encontrava.
Um motorista de caminhão, WilliamAllen, na tarde do dia 12 de maio,
nas margens da Estrada Mount Rose - Hopewell, encontrou o corpo de
um a criança. Era o do filho de Lindbergh.
A notícia infausta abalou novamente a sociedade americana. Para to­
dos, para a polícia e a imprensa, a captura do sequestrador homicida era
uma questão de honra.
A moeda de papel do resgaste era do padrão ouro (dollar gold note).
No início do ano de 1933, o governo americano recolheu o padrão ouro,
substituindo-o por papel-moeda (greenback). As cédulas desmonetizadas
deveriam ser recolhidas ao Federal Reserve Bank, em Nova Iorque, até I o
de maio.
No último dia do prazo, um desconhecido, que dera o nome de J. J.
Kaulkner, apresentou, para troca, 2.900 dólares-ouro. Essas cédulas, como
se constatou depois, faziam parte do resgate pago por Lindbergh.
Mas o nome do indivíduo era fictício e o endereço dado p o r ele não
existia.
Muitas outras cédulas do resgate apareceram em Nova Iorque, por
isso era lá que devia se encontrar o criminoso. A polícia apertou o cerco
ao sequestrador naquela grande metrópole.
Finalmente, no dia 13 de setembro de 1934, num posto de gasolina,
na Avenida Lexington, um homem loiro, de olhos azuis, parou para abas­
tecer seu carro. Atendido, o pagamento foi feito com dólares do padrão
C apítulo XXVII - C asuística 01 317

ouro. Por essa razão, o empregado do posto anotou a marca do carro e sua
placa. Era um Dodge azul, de placas 40-13-14.
Tendo o fato chegado ao conhecimento da polícia, com esses dados,
logo foi localizado o endereço do proprietário do veículo: era o alemão
Bruno Richard Hauptmann, que residia na Rua 222, n. 1.279, no bairro Bronx,
na cidade de Nova Iorque.
Imediatamente a polícia foi ao endereço e revistou a casa de H aupt­
m ann . Embora este alegasse inocência, foram encontrados lá indícios que
o ligavam ao sequestro.
Entre esses indícios cumpre salientar:
1. uma caixa, contendo 13.730 dólares-ouro, que faziam parte do
resgate pago;
2. num armário da casa, no painel da porta, a lápis, estava registra­
do um telefone - D ecatur 37174 - que outro não era senão o do
mediador Dr. Condon;
3. num jogo de ferramentas, estava faltando uma talhadeira, a que
fora encontrada no local do fato;
4. no sótão, observou-se a falta de um pedaço de madeira, pedaço
este que mais tarde se provou que fora usado para rem endar um
dos degraus da escada encontrada no local.
Embora Hauptmann continuasse a jurar sua inocência, sua sorte pare­
cia estar selada.
As explicações dadas pelo alemão, de certa forma, enfraqueciam as
provas. Quanto ao dinheiro que fora encontrado em sua casa, afirmava ser
da propriedade de um com panheiro de trabalho - Isidor Fish - que pedira
para guardar a caixa, cujo conteúdo, na ocasião, ele ignorava. Isidor Fish
pedira dinheiro emprestado a ele, para voltar para a Alemanha, no que foi
atendido.
Tendo recebido notícias da morte do amigo, procurou examinar o
conteúdo da caixa. E assim encontrou o dinheiro. Retirou então o valor
do empréstimo que fizera e guardou o resto, aguardando ser reclamado
pelos herdeiros de Isidor.
As outras provas eram de pouca consistência e podiam ser rebatidas
sem grande dificuldade.
Mas a perícia gráfica, ao que tudo indica, pôs uma pá de cal no pro­
blema: a escrita era do punho do suspeito.
318 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Seja como for, os indícios eram tantos que o G randJury do Condado


de Hutudon, New Jersey, denunciou Bruno Richard Hauptmann como autor
do sequestro e da morte do filho de Lindbergh.
Dois peritos americanos - pai e filho J. V Harding e J. H. Harding,
foram nomeados para examinar o pedido do resgate.
H auptmann foi condenado à morte e executado no dia 3 de abril de
1936, jurando ser inocente.
Os dois peritos citados, em 1937, publicaram um livro sobre o pro­
cesso famoso, dando conta, inclusive, dos exames preliminares que rea­
lizaram, antes de surgir no cenário o alemão, e mostraram a exposição
que fizeram no Tribunal, com fotografias, que provavam o acerto de suas
conclusões, quando atribuíam ao réu as escritas dos bilhetes do resgate.
Foi dessa obra que se retiraram os dados e as gravuras que ilustram estas
anotações.
Depois de terem examinado o bilhete do pedido de resgate - a Figura
1 é reprodução que ilustra a publicação aludida -, afirmaram:
1. a escrita da carta estava obviamente disfarçada;
2. a carta fora redigida por um estrangeiro, provavelmente um ale­
mão;
3. o autor da carta era iletrado;
4. era evidente ser estrangeiro o autor das escritas do bilhete de
resgate por quatro motivos:
a. a posição errada do cifrão na quantia em dólares - “que não
seria feito - diziam eles - nem mesmo entre os americanos e/ou
ingleses mais incultos”;
b. a formação de algumas letras, que assumiam moldes caligráfi-
cos germânicos;
c. o uso da preposição fo r , no trecho “we w arn yo u fo r m aking
anyding public or fo r notify the Police". Essas preposições, se­
gundo eles, não são assim empregadas no inglês, mas ocorrem
no alemão;
d. a palavra gute, grafada por good, era de origem alemã; o lan­
çamento de anyding, por anything, mostrava a dificuldade que
os estrangeiros têm do registro do th.
De todos os itens apresentados, só é aceitável o primeiro.
Realmente, necessariamente, o texto da carta devia estar eivado de
artificialismo. Isso é fato corriqueiro nas anonimografias.
C apítulo XXVII - C asuística 01 319

Mas, se os dois peritos aceitaram como provável essa premissa, tudo


o mais não poderia ter sido levado de disfarce? Por que não?

Figura 1 - Reprodução do bilhete acertando a devolução do filho de Lindbergh.

O disfarce em textos dessa natureza, via de regra, oculta o gesto grá­


fico habitual do seu autor e os erros de gramática são necessários. Real­
mente, essas escritas acenam para punho de pessoa de poucos recursos.
Isso não é novidade.
Além do mais, por que sugerir que o escritor era possivelmente ale­
mão? Não poderia ele ser austríaco e, por isso, falar o alemão?
Não poderia a grafia ser de Isidor Fish, alemão que o réu alegara que
lhe confiara a caixa com o dinheiro do resgate e que m orreu na Alema­
nha?
Se os peritos americanos fizessem essas afirmativas depois da prisão
de Hauptmann e de terem examinado seus padrões de confronto com as pe­
ças de exame, então elas seriam válidas e representariam um bom reforço
para suas conclusões. Mas, num exame prévio, elas não são aceitáveis.
Mas, como foi feita a demonstração da unidade de punho havida en­
tre as escritas questionadas e os padrões do suspeito?
Os peritos americanos, de escritas do punho de Hauptmann recorta­
ram palavras, letras, sinais de pontuação e os foram arranjando de molde
a formar o texto do bilhete do resgate. Cada sinal recortado foi colocado
na mesma posição e situação em que se encontrava na escrita de exame.
Dessa forma, terminado o texto com os recortes, realmente o texto obtido,
formalmente, era extremamente semelhante ao de exame e os recortes
eram efetivamente do punho do réu, como demonstra a Figura 2.
320 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Figura 2 - Montagem feita pelos peritos, com recortes de letras e palavras justapostas,
formando o texto da carta do pedido de resgate,

O quadro de demonstração organizado pelos peritos americanos, para


provar ser o réu o autor dos textos dos bilhetes de resgate, não encontra
respaldo em nenhum a obra sobre o assunto. Mais do que isso, constitui a
primeira fase de um processo de falsificação - a decupagem.
Edmond Locard, no M anuel de technique policière, consta como esse
tipo de fraude é realizado:
“Lefauxsur découpage-Lefauxsur découpages’opère en deux temps:
1.) constitution du texte-, 2.) transfer.
1. - Constitution du texte. Le premier soin du forgeur est de se
procurer des autographes de la personne dont il veut imiter
Vécriture, autographes en quantité suffisante et, autant que possible,
ayant rapport aux mêmes idées ou aux rnômes faits que le texte è
construire. ’’
(A falsificação por decupagem. A falsificação por decupagem se opera
em duas fases: 1.) a constituição do texto; 2.) a transferência.
1. - A constituição do texto. A primeira preocupação do falsário é a de
procurar escritas da pessoa que ele deseja imitar a escrita, escritas em
quantidade suficiente e, se possível, que reproduzam as mesmas idéias
ou os mesmos fatos do texto a ser construído.)
“Le faussaire n ’a plus qu’à s ’armer de ciseaux. Il découpe lesphrases
ou les mots dont il a besoin, les groupe defaçon à constituer son texte,
et les colle sur une feuille blanche. ”
(O falsário não precisa mais do que uma tesoura. Ele recorta as sílabas
ou as letras de que necessita, e grupos para construir seu texto, e os
cola sobre uma folha branca.)
“Voilà donc le texte constitué. Um faussaire habile n ’utilisera
pas ce découpage tel quel. Il est mieux de le photographier pour le
C apítulo XXVII - C asuística 01
321

transformer en une surface plane et unie. Encore cela dépend il du


mode de transferí que l ’on va adopter. ”
(Eis o texto constituído. Um falsário hábil não se utilizará da decou
page tal como está. É melhor fotografá-las, para transformá-las m.
-uto numa
superfície plana e única. Agora irá depender do modo de transferência
que for adotado.)
Na falta de melhores elementos, os peritos engodaram o Tribunal
com um estratagema condenável.
Entre nós, não se acredita que nenhum perito tenha a ousadia de
fazer tal fundamentação e, se o fizerem, nenhum Tribunal a aceitaria. A
conclusão da perícia pode até estar certa. O que se condena é o método
da fundamentação.
Mas os dois peritos americanos eram pessoas probas e especializadas
em exames de documentos, daí se lamentar ainda mais o fato.
Para concluir, é lícito que se tire da questão uma lição preciosa:
A perícia vale pelos seus fundamentos, tendo-se em vista os postulados
da Grafotecnia, e não pela reputação e pelo renome do seu subscritor.
Ainda hoje há quem duvide da culpabilidade de Hauptmann.
Um detalhe é preocupante: pela legislação americana, quando o réu
confessa o crime, a pena de morte pode ser comutada em prisão perpétua.
Por várias vezes o advogado de Hauptmann lhe pediu que confessasse para
evitar sua execução, o que ocorreu antes de ele entrar na câmara da mor­
te. Hauptmann, no entanto, continuou a afirmar sua inocência.
É difícil se com preender essa circunstância. Porque alguém enfrenta­
ria a morte quando podia salvar sua vida? Seria obstinação? Seria o marce­
neiro alemão efetivamente inocente?
É um verdadeiro mistério.
1 .5 . CasoJ abes R abelo

1.5.1. Rápido histórico


Jabes Rabelo, Deputado Federal por Rondônia, em razão da quebra do
decoro parlamentar, foi cassado pelo Congresso Nacional.
Um laudo grafotécnico selou a sua sorte.
Abidiel, irmão de Jabes Rabelo, foi preso em flagrante, p o r porte de
cocaína.
Ao ser preso, exibiu um a carteira funcional de Assessor da Câmara
dos Deputados, expedida p o r seu irmão.
322 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Vejamos, pois, os exames que foram realizados da carteira apreendi­


da, cujos resultados condenaram Jabes Rabelo com a perda do seu mandato
de Deputado Federal por Rondônia.
1.5.2. Análise do Laudo do Serviço de Criminalística da
Superintendência da Polícia Federal em São Paulo
Os laudos do Serviço de Criminalística da Polícia Federal em São Pau­
lo, de n. 18.723 e 18.804, da lavra dos Peritos Criminais Federais Eduardo
Caetano Laria Filho, Mário Cesar Pires de Camargo e Paulo Rubens de Hoianda
Cavalcante, sustentaram a Autenticidade da assinatura de Jabes Rabelo e de
Abidiel Pinto Rabelo, exaradas da de exame, e a Falsidade da assinatura atri­
buída ao Diretor-Geral.
A fundamentação da conclusão expendida foi bastante sucinta, pro­
vavelmente em razão do caráter de urgência dado à peritagem, pois estava
ela relacionada com prisão em fragrante, cujo prazo é exíguo.
Todavia, a realização dos exames obedeceu aos postulados da Grafos-
copia, tendo sido o laudo devidamente instruído com a necessária ilustra­
ção fotográfica.
1.5.3. Análise do parecer do professor Dr. A n t o n io C a r lo s
VlLLANOVA

O Professor Antonio Carlos Villanova é um dos baluartes da Crimina­


lística no Brasil e, como Perito Criminal Federal que foi, já prestou rele­
vantes serviços à sociedade, revelando-se um profissional zeloso, culto, de
caráter sem jaça.
Ao elaborar seu parecer, para consternação dos signatários, o ilustre
técnico violou norma consagrada na perícia grafotécnica e o preço dessa
inobservância o levou a sustentar conclusão inadequada.
O subscritor do parecer em análise chegou à conclusão da falsidade
da assinatura questionada examinando uma cópia reprográfica secundária
(xerox), mas não realizou confrontação com o original.
De longa data, todos os tratadistas impõem essa cautela.
Edmond Locard, um dos que estruturaram as técnicas periciais relacio­
nadas com o exame de escritas, foi bem claro, a esse respeito, conforme se
verifica no seguinte trecho:
“Les photographies. Les parties proposent parfois à Vexpert de lui
remettre, au lieu des originaux, des épreuves photographiques. Cela
est à peu près constamment inacceptable. Des photographies que
Von pas faites soi-même ne rendent nul compte des altérations du
document. D ’autrepart, ellespeuvent être truquées. Enfin, il est très
C apítulo XXVI1 - C asuística 01 323

rare qu’elles soient strictement grandeur nature: ellespeuvent donc


donner des indications fausses sur les calibres, les espacements, etc.
Lorsque les circonstances empêchent absolument que le document
soit remis à Vexpert, celui-ci a tout avantage à se déplacer. Si
cependant il est réduit a opérer sur les photographies, il devra faire
toutes réserves, indiquer dans son rapport ou sa consultation qu’il
n ’a pas vu les originaux, et, en tout cas se faire remettre non des
épreuves positives, mais des négatives, ce qui lui permettra de faire
certaines constatations, impossibles sur les tirages, notamment en ce
qui concerne la possibilite d ’un truquage. ”
(As fotografias. Por vezes, as partes propõem remeter ao perito, em lu­
gar dos originais das provas, cópias fotográficas. Isso é sempre inaceitá­
vel. As fotografias que não tenham sido feitas por ele mesmo, não dão
conta das alterações do documento. Por outro lado, elas podem ser
viciadas. Enfim, é muito raro que elas sejam estritamente do tamanho
natural: elas podem, pois, dar indicações falsas sobre os calibres, os
espaçamentos, etc. Quando as circunstâncias impedem absolutamente
serem enviadas ao perito, este terá de a elas se deslocar. Se, todavia, for
obrigado a examinar fotografias, deverá fazer todas as ressalvas, indicar
no seu relatório ou na consulta que não viu os originais e, em todo
caso, se referir não às provas positivas, mas às negativas, o que lhe per­
mitirá fazer certas constatações, impossíveis nas cópias, notadamente
no que concerne às possibilidades de uma fraude).
Locard, no texto, faz referência a fotografias, isso porque à sua época
era o único processo existente para a reprodução de documentos.
Se as fotografias, que sem pre são mais fiéis, não são aceitas, com mui­
to maior razão as cópias xerox.
Como é sabido, as reproduções por leitura óptica, sejam de que tipo
for, mesmo que tenham sido feitas sem qualquer intuito de fraude, sempre
são imperfeitas. Assim, traços feitos com leveza de punho, pequenos ges­
tos nos ataques e remates dos gramas, a distribuição da pressão, tudo isso
pode se perder. A inobservância desses detalhes, que são características do
punho escritor, levam o examinador a uma conclusão diversa daquela que
atingiria se examinasse o original do documento.
Assim, pois, não respeitar os conselhos do grande mestre citado é
correr o risco de laborar em erro, com sérios prejuízos para as partes e
para a competência do próprio examinador.
As cópias xerox não reproduzem minúcias, como os ataques e rema­
tes dos gramas e outros essenciais aos exames, de m odo que todo o con­
junto do lançamento perde definição. A distribuição da pressão do punho
na projeção do registro, é evidente, não pode ser apreciada.
324 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Todos esses elementos, que se perdem na reprodução, e que existem


no original do documento, não podem ser constatados pelo examinador
e, como consequência, podem levá-lo a uma conclusão divorciada da ver­
dade.
Os tratadistas condenam o uso de reproduções para efeito de exames
grafotécnicos, sem que pelo menos tenha havido o cotejo da cópia com o
original, como será m ostrado a seguir.
Na famosa obra Q uestioned docum ents problems, de Aebert Osborn, a
esse respeito, encontra-se a seguinte advertência:
“Reproductions in photostatic form o f alleged lost documents are
represented and should be received with great caution, if at all and a
veredict should never be based upon them. ”
(Reproduções na forma de fotostáticas de documentos alegados perdi­
dos são apresentadas e devem ser recebidas com grande cautela, e uma
decisão nunca deve ser baseada nelas.)
Albert Osborn deixou bem clara a precariedade das reproduções para
efeito pericial. Disse ele:
“Por a study o f the content o f the document, a photostatic is
inobjectionable, but if there is doubt on its genuiness, a photostatic
should never be dependent upon. The process aims to make every
stroke legible and distinct and this excessive contrast often hibes
evidences for forgery. ”
(Para o estudo do conteúdo de um documento, a fotostática é inques­
tionável, mas se houver dúvida quanto a sua autenticidade, a fotostáti­
ca nunca será hábil. O processo objetiva fazer todos os traços legíveis
e distintos, e esse excessivo contraste frequentemente esconde os ves­
tígios de falsidade.)
Deve ser consignado que o autor se refere à fotostática porque esse
era o único processo de reprodução à sua época.
Osborn disse ainda mais:
“Photographs may be distarted and may be dishonest, and if they
cannot be properly proved, or verified by comparison with original
they should be exclused. ”
(Fotografias podem ser distorcidas e desonestas, e se isto não puder
ser propriamente provado ou constatado com sua comparação com o
original, elas deverão ser rejeitadas.)
L uís S andoval S mart d iz :
“Como una regia esencial en investigaciones de documentos, no debe
hacer perícias, sino con el documento original a la vista. ”
C apítulo XXVII - C asuística 01 325

(Como uma regra essencial nas investigações de documentos, não deve


haver perícias, senão com o documento original à vista.)
E prossegue:
“La no observación de estas regias trae como consecuencia grandes
errores o decepciones alperito que se olvida de ellas. ”
(A não observação destas regras traz como consequências grandes er­
ros ou decepções para o perito que delas se esquece.)
Hajrrison também focaliza o assunto:
“Whilst excellent for proposes o f record, photostatic copies usually
suffer from excessive contrast, and also lack. the fine details and
the correct rendering o f details which are characteristic o f carfully
prepared photographs. ”
(Embora excelente para o propósito de arquivo, cópias fotostáticas
geralmente sofrem o excessivo contraste, e perdem finos detalhes e
correta apreciação do que são características nas fotografias cuidadosa­
mente preparadas.)
Como se vê, os autores não aceitam o exame de reproduções de do­
cumentos, sem a cautela de sua conferência com o original, para não labo­
rar em erro, pois nem sempre as fraudes nelas praticadas deixam vestígios
que possam ser comprovados.
Para arrematar estas considerações sobre a peça de exame, a perícia
num a reprodução pode ser feita, na inexistência do original, mas o perito
deve ter a cautela de dar sua conclusão com ressalvas.
É por tudo isso que Orlando Sivieri afirma enfaticamente:
“Nulla puó sostituire la realitá grafica constituita dal documento
originale. ”
(Nada pode substituir a realidade gráfica constituída pelo documento
original.)
F elix del V al Latierro f o i b a s t a n t e r e a l i s t a a o e n c a r a r o p r o b l e m a :
“El perito no puede actuar sobre fotocopias, no solo porque ocultam
detalhes interessantes y hasta decisivos para el cotejo, sino también
porque puedem llevarle a disctaminar sobre la base de un engano, si
se tratarse de fotografias compostas, y, además, porque legalmente
no se puede informar utilizando solo fotografias, en el caso, muy
raro, de que el original estuviera destruído y fuera preciso valer-se de
una fotografia, el perito hará su dictamen com las salvedades, tanto
legales como técnicas, pertinentes y sus conclusiones no podran ser
sino problemáticas. ”
(O perito não pode amar sobre fotocópias, não só porque ocultam de­
talhes interessantes e até decisivos para o cotejo, como porque podem
326
D ocumentoscopia - Lamartine M endes

levar a concluir na base de um engano, se se tratar de fotografias mon­


tadas e, ademais, porque legalmente não se pode informar utilizando
apenas fotografias; no caso, muito raro, de o original ter sido destruído
e for preciso valer-se de uma fotografia, o perito dará sua conclusão
com ressalvas, tanto legais como técnicas pertinentes, e suas conclu­
sões não poderão ser senão problemáticas.)
Essa é a opinião em criminalística.
Assim, é indispensável, quando o perito entende que pode proceder
a exame de uma reprografia, consigne que suas conclusões ficarão depen­
dendo do confronto da peça de exame com o seu original. Caberá, então,
ao julgador decidir se a reprografia é ou não confiável, aceitando ou não
a solução pericial.
Voltando a atenção para o parecer ora examinado, seu subscritor foi
além: examinou cópia de cópia, sem tê-las cotejado com o original, e sem
ressalvar.
Encerrando seu parecer, o ilustre perito transcreveu um trecho do
livro Tratado de documentoscopia, da lavra de José Del Picchia, com o
seguinte teor:
“Na interpretação de alguns fatos grafotécnicos, poderá haver, em ca­
sos particulares, confusões, por esse motivo admite-se a controvérsia
honesta e sincera entre dois peritos, qualificados.”
Os signatários, contudo, consideram que tal afirmação não se aplica
ao caso presente, pois a técnica aplicada no parecer foi inadequada, inva­
lidando, por isso, a respectiva conclusão.
1.5.4. Laudo pericial docum entoscópico
A Reitoria da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp - , atenden­
do à solicitação do Deputado Vital do Rego, Relator da sindicância instaura­
da pela Câmara dos Deputados para apurar irregularidades que envolvem
o Deputado por Rondônia Jabes Rabelo, para realizar exame grafotécnico
na cédula funcional de Assessor, apreendida com o irmão do mencionado
parlamentar, quando de sua prisão em flagrante, designou para coordenar
os trabalhos o Prof. Fortunato Antonio Badan Palhares, médico-legista efe­
tivo da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, professor doutor e
chefe do Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Ciências Médi­
cas da Universidade Estadual de Campinas, detentor da medalha de Honra
ao Mérito por relevantes serviços prestados ao Instituto Médico-Legal de
São Paulo, durante os festejos de Centenário daquele órgão, professor
convidado da Academia Nacional de Polícia (Brasília), ex-diretor do Posto
de Perícias Médico-Legais da cidade de Campinas, Estado de São Paulo, o
C apítulo XXVII - C asuística 01
327

qual, na qualidade de chefe do Departamento de Medicina Legal da referi­


da Universidade, constituiu Comissão Técnica, integrada por:
1) Lamartine B izarro M endes, perito criminal aposentado, designado Rela­
tor, professor da cadeira d e D ocum entoscopia, d o Curso de Formação
Técnico-Profissional para Peritos Criminais, da Academia d e Polícia Civil
d e São Paulo, advogado, inscrito na Ordem dos Advogados d o Brasil
Secção de São Paulo, sob n. 108.542, professor de Inglês e Português
registrado n o Ministério d e Educação e Cultura, sob n. 140235.

1.5.5. Objetivos da perícia


A perícia visa a determinar:
a) se é, ou não, autêntica a assinatura J abes R abelo , exarada na cartei­
ra submetida a exame;
b) se os textos mecanografados nos claros da credencial foram, ou
não, mecanografados num a das máquinas de escrever em uso no
serviço com petente da Câmara dos Deputados, incumbido da
expedição daquelas credenciais;
c) se é, ou não, autêntica a assinatura do diretor-geral, aposta na
cédula funcional examinada;
d) análise dos laudos e pareceres anexos.
1.5.6. Descrição
1) Peça questionada
A - Da carteira
Trata-se de uma carteira do tipo porta-docum entos, usada, confeccio­
nada em corvine preto, constituída de um corpo principal, de formato re­
tangular, medindo 89 x 119mm, quando dobrada, e 178 x 119mm, quando
aberta. Tem, cosido na parte súpero-direita, um outro corpo secundário,
da mesma essência, m edindo 74 x 112mm, que pode ser intercalado na
face interna do corpo principal, quando dobrada.
Tanto o corpo principal como o secundário apresentam as contra­
capas revestidas com película de material plástico, transparente, além de
contar com uma divisão interna, também de plástico transparente.
Na parte mediana do frontispício do corpo principal encontra-se cra­
vado, num entretalho, o brasão das Armas da República, circundado pelos
dizeres Câmara dos Deputados, impressos com tinta dourada e as expres­
sões Poder Legislativo - Brasília-DF, impressas com tinta de mesma cor,
dispostos nos terços superior e inferior.
D ocumentoscopia - Lamartine M endes
328

Agora, a parte vestibular do corpo secundário apresenta, igualmente,


entretalho com as Armas da República, tendo, transversalmente, uma tarja
verde-amarela. Na parte superior e na base, respectivamente, encontram-
se, impressos com tinta dourada, os dizeres A bidiel P into R abelo e Assessor
Parlamentar. Logo acima dessa linha, lê-se A bidiel P into R abelo , em baixo
relevo, sem entintamento.

No interior do compartimento vedado, encontrava-se a cédula funcio­


nal em nome de A bidiel P into Rabelo , que o qualificava como Assessor da
Câmara dos Deputados.
B - Da Cédula Funcional
O espelho da cédula funcional é confeccionado em papel de segu­
rança pela empresa Thomas de La Rue, exclusivamente para o Congresso
Nacional.
C apítulo XXVII - C asuística 01 329

É constituída de duas folhas, medindo, fechadas, 197 x 65mm, apro­


ximadamente. Nas faces externas da cédula, à guisa de linha de cercadura,
foi impressa uma tarja ornam ental pelo processo calcográfico, em prestan­
do-lhe relevo.
No fundo de segurança, impresso em off-set, constam, além das Ar­
mas da República, os dizeres Câmara dos Deputados, Categoria Funcio­
n a l e Expedida em. Na base, no canto equerdo do observador, espaço
reservado para a colocação da fotografia do portador, que não se encontra
autenticada e, no lado oposto, outro, para a aposição de impressão digital
do polegar direito, que se encontra em branco.
O fundo de segurança é constituído pela impressão, em microletra,
da abreviatura da Câmara dos Deputados “CDCDCDCD...” e em toda a
extensão, com ressalva do sítio destinado à impressão dígito-papilar.
Os claros da cédula foram preenchidos mecanograficamente com os
dizeres A bidiel P into Rabelo - Assessor e a data 4.02.91.
No verso da segunda folha, foram mecanografados os dizeres “4.02.91
- 964 649 SSP/PR- B oaventura P into R abello - P edrina de J esus Rabelo -19.6.54
- Brasiliera (sic) - Paraná - 4.02.91”. Mais abaixo os dizeres Diretor-Geral e,
nesse espaço gráfico, assinatura ilegível, bem como a do portador.

1.5.7. Padrões de confronto


Para servirem como padrões de confronto, foram entregues aos peri­
tos sete documentos, dos arquivos da Câmara dos Deputados, portadores
da assinatura do Deputado J abes Rabelo ; as mecanografias feitas em máqui­
nas de escrever da Secção do Pessoal da Câmara dos Deputados e da que
se encontra no Gabinete do Deputado J abes Rabelo , bem como de assina­
turas do punho do diretor-geral daquela Instituição.
1.5.8. Instrumental de pesquisa e apoio
1) Stereom icroscópio (Lupa)
330 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

com iluminação acoplada e sistema próprio de re­


L u p a C a r l Z e is s ,
produção fotográfica, com ampliações de 4 a 63 vezes, cedido gentilmente
pela ProU Dr* Ana M aria G oulart de A. Tozzi, Chefe do Departamento de
Botânica do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas.

1.5.9. M etodologia
Os signatários orientaram os seus estudos, segundo as normas preco­
nizadas pela perícia grafotécnica:
a) estudo isolado das escritas submetidas a exame, a saber:
- a s s i n a t u r a J abes Rabelo;
- os textos mecanografados na cédula;
- assinatura do diretor-geral;
b) análise e interpretação das características de todos esses lança­
mentos;
c) anotação dessas peculiaridades;
d) estudo de todas as escritas (cursivas, dactilográfícas e mecânicas)
oferecidas como term o de comparação, devassando suas pecu­
liaridades gráficas;
e) anotação das particularidades observadas em todos esses lança­
mentos;
f) confronto dos resultados obtidos nas duas fases preliminares
dos exames, verificando qual a preponderância entre as conver­
gências e divergências anotadas;
g) discussão entre os signatários sobre as características afins e di­
vergentes entre as escritas comparadas, verificando quais delas
são preponderantes, para chegar à conclusão final;
h) execução dos trabalhos fotográficos, destinados a ilustrar as con­
clusões a serem expendidas;
i) redação do laudo pelo perito relator;
j) revisão e discussão entre os signatários deste laudo, para sua
redação final.
1.5-10. Exames realizados
1) Prelim inares
A e s c r ita , s e g u n d o P ellat, c o m o u m d o s p r in c íp io s f u n d a m e n ta is d a
p e r íc i a g r a f o té c n ic a , é in d iv id u a l.
C apítulo XXVII - C asuística 0 1 331

A escrita é um gesto psicossomático. Como esses dois sistemas - psíquico


e somático - diferem nos indivíduos entre si, suas respectivas escritas também
divergem, o que enseja a afirmação de que o gesto gráfico é individual.
Qual seria a diferença entre uma escrita legítima e outra falsa?
S oderman & 0 ’C o nnel a esse respeito enfatizaram:
“Ce s o n tp r e c is e m e n t les fo r m e s q u e le fo r g e u r cheche a im iter... ”
(São p re c isa m e n te as fo rm as q u e o fo rja d o r p ro c u ra im itar...)
E ufrasio A lcásar A nguita reforça essa afirmação:
“L a ig u a ld a d o u d e s ig u a ld a d d e f o r m a d e a lg u n a o a lg u n a s le tra s n o
d ic e n a d a e m p r o l n i e n c o n tr a d e la le g itim id a d d e u m escrito. ”
(A ig u ald ad e o u d e sig u a ld a d e d e alg u m a o u algum as letras n ã o diz
n a d a a favor n e m c o n tra a leg itim id ad e d e um escrito.)
O que pode determ inar a legitimidade de um lançamento?
Para m elhor responder a essa indagação, necessário se torna uma pe­
quena digressão teórica sobre o fenômeno da escrita.
A esçrita é comandada pelo cérebro (Primeira Lei de S olange P eliat) .
Durante o aprendizado, o escritor registra no centro nervoso da es­
crita - segunda circunvolução frontal esquerda do cérebro, de acordo com
a teoria neurológica da escrita - movimentos que criam formas. No iní­
cio, a criança escreve imitando os moldes que lhe são oferecidos. Faz um
grande esforço muscular para adaptar a musculatura do braço e da mão à
realização daqueles movimentos que não lhe são habituais. Continuando
o treino, o esforço físico é menor, pois há o início de automatização. Com
a introjeção das formas gráficas, a criança passa a não mais se preocupar
com elas, e sim com o conteúdo ideológico. No ponto mais elevado do
aprendizado, o escritor atinge o patam ar da escrita automatizada. Escreve
com velocidade, não fazendo nenhum esforço muscular. Então, o seu gra-
fismo, graças às peculiaridades que nele são inseridas, inconscientemente,
adquire sua plena individualidade.
Se há determinados hábitos gráficos que fogem ao controle conscien­
te do escritor, outros há - como a forma - que podem ser voluntariamente
por ele modificados.
A forma gráfica, por isso, pode variar, em decorrência de fatores intrínse­
cos e extrínsecos, mas a gênese, movimento para a realização da forma, só se
altera excepcionalmente, v.g., na incidência de moléstias nervosas graves.
D e F ursac d i s t i n g u e t r ê s t i p o s d e a l t e r a ç õ e s d o g r a f i s m o , p r o v o c a d o s
p o r m orb os:

1. os que atingem a função motriz, isto é, a mecânica muscular;


D ocumentoscopia - Lamartine M endes
332

2. os que atingem a função psíquica, ou seja, o cérebro; e


3. os que atingem concomitantemente as duas funções.
Se se fizer um paralelo entre a gênese e a fo rm a , pode-se afirmar
que escritas de formas dessemelhantes, mas com unidade de gênese, são
oriundas do mesmo punho. É o que acontece com as simulações.
Por outro lado, escritas de formas semelhantes, mas de gênese confli­
tante, são de punhos distintos. É o que vai acontecer com as falsificações.
Resumindo, a gênese gráfica é o elemento diferenciador entre a es­
crita legítima e a contrafação.
O falsário procura sempre imitar as formas, mas não tem possibili­
dade de fazer abstração da gênese do seu grafismo, tampouco imitar a da
escrita de terceiros, espontaneamente.
Não pode existir falsificação perfeita. Como afirma O sborn , citando
Saudek:
“N ão se p o d e fugir d a q u ilo q u e n ã o sab em o s existir e ta m p o u c o im itar
c o m su cesso o q u e se d e s c o n h e c e .”
Aliás, ele foi ainda mais longe, ao afirmar que ninguém é capaz de
imitar, ao mesmo tempo, os cinco elementos que integram um modelo:
• a riqueza e variedade das formas;
• a dimensão;
• as ligações;
• a inclinação axial; e
• a pressão do punho.
Efetivamente, para imitar, o falsário apenas se preocupa em repro­
duzir as formas do modelo. É a ausência, na forjadura, das peculiaridades
gráficas deste, que autoriza o examinador a separar o jo io do trigo.
Em sua obra, C arbonell informa que, ao examinar um grande núm ero
de assinaturas e docum entos falsos, descobriu que:
“P or se r u n h ech o e v id e n te y a to d a s lu ces m a n ife s to e l q u e c a d a in ­
d iv íd u o d e la especie h u m a n a lle v a e m su p e c u lia r e sc ritu ra cu rsiva
u s u a l u n a fis io n o m ia ta n ca ra cterística , q u e c o n ser esp ecia l y unica,
se d is tin g u e p e rfe c ta m e n te d e q u a lq u ie r a o u tr a e sc ritu ra q u e h a y a
ex istid o , e x is ta o p u e d a existir. ”
(Por s e r u m fato e v id e n te e a to d a s lu zes m anifesto, cad a in d iv íd u o da
esp é c ie h u m a n a leva im p re ssa n a p e c u lia r escrita u su a l u m a fisionom ia
tã o característica, q u e , p o r s e r e sp ecial e ú n ica, se d istin g u e p e rfe ita -
m e n te d e q u a lq u e r o u tra q u e te n h a existido, exista o u p o ssa existir.)
Pois bem. Como se verifica a gênese de um grafismo?
C apítulo XXVII - C asuística 01
333

A gênese de uma escrita, pela forma, é estudada através da maneira


peculiar com que o escritor inicia o lançamento (ataque), o projeta inter­
ligando a outros caracteres do traçado, se se trata de escrita desenvolvida
rápida, já automatizada, ou se o punho de movimenta com lentidão e a
distribuição da pressão que o escritor exerce no instrumento escrevente.
Existem, ainda, outras características, chamadas maneirismos, que são pe­
culiares a cada punho.
Numa escrita cursiva, isto é, em que a maioria de seus com ponentes
se interligam, a apreciação dessas características é possível para quem as
conhece.
Nas escritas sincopadas —aquelas em que a maioria dos caracteres são
lançados isoladamente -, a constatação das características é mais difícil,
mas sempre possível. Aliás, só o fato de o escritor ter o hábito de escrever
sincopadamente, este aspecto é, por si só, uma peculiaridade.
Feitas estas considerações, passam os signatários a examinar o caso
concreto.
1.5.11. Exame grafoténico
1) Assinatura J abes R abelo
A assinatura submetida a exame não é integrada por símbolos alfabé­
ticos bem definidos. Pela qualidade do seu traçado, realizado com rapidez
e dinamismo, não possuindo nenhum vício, como paradas anormais da
pena e subsequente retomada do traço, indecisões, trêmulos ou retoques,
ela se reveste das características dos lançamentos feitos com espontanei­
dade, portanto representativa do punho que a produziu.
Realmente, todo lançamento espúrio, imitando as formas de um mode­
lo, possui um traçado lento, pela interveniência da atenção na sua feitura,
daí resultando hesitações, trêmulos, sobretudo nos traços mais amplos e
circulares, paradas anormais da pena, aumentando os momentos gráficos.
Estudada a assinatura questionada, os peritos anotaram as suas pecu­
liaridades individualizadoras.
A seguir, a mesma atenção foi dispensada aos padrões de confronto.
Essas escritas ostentam um traçado veloz, realizado com desembaraço, re­
velando tratar-se de gesto gráfico já automatizado, acenando para punho
já afeito ao manejo do instrum ento escrevente.
Semelhante à questionada, os padrões incorporam caracteres alfabé­
ticos definidos.
Depois destes exames, as características gráficas de tais lançamentos
foram devidamente registradas.
334 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Concluindo suas análises, não só os resultados das verificações preli­


minares, como a da própria peça motivos foram, várias e sucessivas vezes,
cotejadas com os paradigmas.
Feito o balanço entre as divergências e convergências presentes nas
duas peças - questionada e padrão - preponderaram as analogias. As dis-
crepâncias são atribuídas às variações normais dos grafismos, feitas em
tem pos e situações diversas.
Essa unidade de características entre a assinatura de exame e as pa­
radigmáticas induziu os signatários a concluir que todos os lançamentos
examinados procederam de um só punho.
No campo da gênese, há perfeita convergência na evolução do traçado
das assinaturas cotejadas entre si. Como os lançamentos possuem poucos
caracteres alfabéticos, podem ser citados a coincidência dos ataques em
gancho e os remates em colchete, nelas existentes. São pequenos gestos
que, nas falsificações, escapam à observação dos falsários e, se forem per­
cebidos, por serem pouco aparentes, são desprezados ou feitos mediante
cuidadosos retoques.
Quanto aos elementos formais objetivos - aqueles que podem ser
mensurados - há perfeita concordância no calibre dos lançamentos, na
sua inclinação axial, nos espaçamentos intergramaticais. As divergências
que podem ser observadas são necessárias, pois refletem as variações na­
turais a que todo lançamento gráfico está sujeito.
No que diz respeito aos elementos formais subjetivos - aqueles que
não podem ser m ensurados mas são percebidos -, como o dinamismo e a
velocidade gráficas, são harmônicos.
Não pode ficar sem registro que, entre a peça de exame e os para­
digmas, há concordância até na distribuição da pressão do punho, sendo
semelhantes em seus segmentos homótipos.
Ver assinalamentos nas figuras a seguir.

O
O

Esta minúcia só pode ser encarada como um mero acidente. Sua os-
tensividade não permite que ela seja encarada como retoque.
C apítulo XXVII - C asuística 01
335

Em face de tudo quanto foi exposto, os peritos afirmam, de forma


categórica, ser legítima a assinatura J abes Rabelo, exarada na cédula fun­
cional de Assessor da Câmara dos Deputados, apreendida em p o d er de
A bidiel P into Rabelo, irmão do mencionado Deputado, em face dos padrões
de confronto do seu punho e exibidos aos signatários.
Confirmam, portanto, os signatários, a conclusão expendida no lau­
do n. 18.723, do Serviço de Criminalística da Superintendência Regional
de Policia Federal em São Paulo.

ASSESSOR PAFJÀiCT!ES.Íi S / R35írjNSlí,çlO


P--3A A GlHàltA 0 0 '; OEPTjy/üICS.

A bem da verdade, é flagrante que, na assinatura questionada, na úl­


tima laçada, em sua parte superior, existe uma rebarba, que não pode ser
confundida com retoque, conforme mostra o assinalamento na Figura 7.

Esta minúcia só pode ser encarada como mero acidente. Sua ostensi-
vidade não perm ite que seja interpretada como retoque.
Em face de tudo quanto foi exposto, os peritos afirmam, de forma
categórica, ser autêntica a assinatura questionada, exarada na cédula fun­
cional de Assessor da Câmara dos Deputados, apreendida em p o d er de
Abidiel P into Rabelo, irmão do m encionado Deputado.
1.5.12. Legendas fotográficas
1) Analise d a assin atu ra J abes R abelo - relação dos assinala-
m entos efetuados
Qualidades gerais da escrita convergentes entre padrões e questionada:
• espontaneidade e automatização do gesto gráfico;
• qualidade do traçado;
• grau de habilidade do punho escritor;
336 D ocumentoscopia - L amartine M endes

• formas;
• posição da linha de base;
• calibre;
• inclinações axiais;
• alternância de pressão;
• ritmos de pressão e progressão;
• velocidade.
Ideografocinetismos convergentes entre padrões e questionada:
• gênese do minúsculo ponto de ataque do J;
• gênese do minúsculo ponto de remate do J;
• ponto de remate do prim eiro poligrama (J e cetra);
• ponto de remate do segundo poligrama (caracteres de pouca dei-
nição);
• traços peculiares com pressões negativas;
• gênese do ponto de remate do traço interrompido;
• gênese do ponto de ataque do traço interrompido;
• gênese e forma do traço de impulso do a e morgênese desta letra;
• gênese das duas laçadas ascendentes do segundo poligrama;
• gênese peculiar da laçada que substitui o anel do traço inicial do J,
sempre m enor do que a segunda;
• gênese da peculiar laçada que substitui o anel do J (junção do pri­
meiro e segundo gramas), sempre maior do que o primeiro;
• morfogênese do grama articular entre as laçadas;
• gênese da cetra na totalidade dos seus gramas; e
• o grama de remate do segundo poligrama (independente do J e
cetra) sinistrovolvente com ponto de remate desvanescente.
Vide assinalamentos nas Figuras a seguir.
C apitulo XXVII - C asuística 01
337

2) Assinatura a trib u íd a a o D iretor-G eral d a Câm ara dos De­


p u ta d o s
Efetivamente, um simples cotejo da assinatura questionada e atribuí­
da ao diretor-geral da Câmara dos Deputados com os padrões produzidos
pelo punho do Dr. A delmar S ilveira Sabino , mostra flagrantes divergências
morfogenéticas, impondo-nos a conclusão da fa lsid a d e daquele lança­
mento. A comparação lado a lado se pode efetuar nas Figuras 11 e 12 a
seguir.

A datilografia dos dizeres preenchedores na qualificação do portador


da cédula de identidade falsa —A bidiel P into Rabelo —foi feita com utiliza­
338 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

ção da mesma máquina eletromecânica com a qual foram mecanografados


os claros do atestado de frequência do mês de junho de 1991, assinada
pelo Deputado J abes R abelo.
Como ensinam os tratadistas, a identificação das máquinas de escre­
ver se baseia na presença de defeitos dos tipos decorrentes do seu próprio
uso.
No seu festejado livro Policia Scientifica, Leonídio Ribeiro , a esse res­
peito, assim se manifestou:
“Duas máquinas de escrever de uma mesma fabricação e modelo, pos­
tas em uso, apresentam, em muito pouco tempo, acidentes de impres­
são capazes de as distinguirem com facilidade.”
Com efeito, esses defeitos, decorrentes do uso continuado da máqui­
na de escrever, podem ser de quatro tipos:
• desajuste das hastes que suportam as sapatas, onde os tipos se en­
contram em alto relevo, fazendo com que a datilografação se apro­
xime mais do tipo registrado anteriorm ente e distancie-se mais do
que for registrado subsequentem ente, ou vice-versa;
• deslocamento das sapatas, na extremidade das hastes, imprimindo
de forma incompleta os contornos das letras ou, ainda, ficando
estas acima ou abaixo da linha de base dos demais caracteres;
• deformação das linhas de contorno das letras, provocada por alon­
gamentos;
• fratura de pequenas traves que completam as letras na base ou no
topo das hastes.
É evidente que qualquer um desses vícios só pode ser recebido como
defeito de uso, quando eles se repetem nas mesmas letras, em todo o tex­
to mecanografado.
No presente caso, os defeitos que levaram os peritos a identificar a
máquina são constituídos não só por deformação dos contornos de algu­
mas letras, como fraturas, em sítios análogos, de outras.
Os vícios decorrentes do uso da máquina que preencheu os dizeres
referentes à qualificação de Abidiel P into R abelo, na cédula de identidade,
são a deformação das letras maiúsculas R, das fraturas das traves das letras
A. Ora, esses mesmos defeitos podem ser observados na mecanografação
do nome J abes Rabelo no atestado de frequência do mês de junho de 1991,
conforme mostram os assinalamentos em preto feitos nas figuras 13 e 14,
e que estabelecem a unidade e origem dos textos comparados.
C apítulo XXVII - C asuística 01
339

Não pode ficar sem reparo, todavia, que existe apenas um a diferenc
entre as duas mecanografias, como a perda parcial da trave superior da
haste vertical, à esquerda do observador, da letra L, como mostram os as
sinalamentos nas figuras 13 e 14.
Essa diversidade não enfraquece a conclusão, porque a mecanografa-
ção dos claros da cédula de identidade foi feita em 04 de fevereiro de 1991
enquanto que a do preenchim ento do atestado de frequência ocorreu em
julho de 1991, já que ela se refere ao comparecimento dos servidores
durante o mês de junho. Ora, o uso continuado da máquina de escrever
durante cinco meses, acarreta, por vezes, como ocorreu, novos defeitos
Todavia, evidentemente que os defeitos anteriores não desaparecem.

NQMEM 3 IDIEL* PINTO


RABELO
____3
* -------------------------------------

___ A S S E S S O R _____________
♦ CATEGORIA JjUNCIONAL

EXPEDIDA EM____ 0 4 / 0 2 / 9 1 ------

F L Á V I O M O N T I E L DA ROCHA (G?
t X

diT e n e ferreirã da silva


X
CE SA R AU GU ST O DE AN DR AD E (G
X X *
F R A N C I S C O jJOStf DE SOUSA ___
1*1 * ««( T*°l . «»l .8*1 .*«1 1 mÍ* .8*1

Por outro lado, é inaceitável que defeitos em sítios análogos de uma


mesma letra, que integram as duas mecanografias comparadas, possam ser
obra de mero acaso, em duas máquinas de escrever distintas.
Finalmente, com este laudo complementar, seus signatários esgota­
ram os exames cabíveis na cédula de identidade funcional de Assessor
Parlamentar, apreendida em poder de Abidiel P into Rabelo, irmão do De­
putado Federal por Rondônia J abes Rabelo.
340 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

1.5.13. Conclusões
Tendo em vista os resultados obtidos nos exames retrocaracterizados
passam a concluir:
a) é autêntica a assinatura de Jabes Rabelo contida na peça questio­
nada;
b) é inautêntica a assinatura exarada no espaço destinado ao dire-
tor-geral, na cédula examinada;
c) a dactilografia dos dizeres preenchedores da qualificação do
portador da cédula de identidade falsa - Abidiel Pinto Rabelo -
foi feita com utilização da mesma máquina eletromecânica com
a qual foram mecanografados os claros do atestado de frequên­
cia do mês de junho de 1991, assinado pelo D eputado Jabes
Rabelo.
Lamartine Bizarro Mendes - Perito Relator
Carlos Guido da Silva Pereira - Perito
Leonardo Rodrigues - Perito
José Cândido Neto - Perito
J osé Barth - Perito
Carlos Alberto Zerbetto - Perito
Fortunato Antonio Badan Palhares - Coordenador
Campinas, setembro de 1991.
Capítulo XXVIII

C a s u ís t ic a 02
Edilene Maria da Silva

1. Das Impressões Gráficas F raudulentas em


D ocumentos de Segurança
No início de 2008, simultaneamente em Minas Gerais e São Paulo
foram detidas quadrilhas de falsários que atuavam em todo o país, espe­
cializadas na reprodução, falsificação e adulteração de diversos tipos de
docum entos de segurança, tais como:
• Carteiras de Identidades (modelo único nacional, instituído pela
Lei n° 7.116 de 29/08/83),
• Carteira Nacional de Habilitação,
• CPF
• talões de cheques clonados,
• TRU,
• vistos para os Estados Unidos, etc.
Sendo que somente em Minas Gerais foram apreendidos cerca de
10.000 espelhos de tais docum entos e outros tantos em São Paulo. Além
disso, também fotolitos, chapas de gravação, computadores, papel, rea-
gentes físicos e químicos, bem como tintas especiais de efeitos fluores­
centes e papéis especiais filigranados e com aparente marca d ’água. Todo
esse material apreendido foi colocado a disposição do Instituto de Crimi­
nalística, na Seção de Documentoscopia do Estado de Minas Gerais, onde
foram examinados.
342 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Formulário de Identidade Falso.

Papéis de Segurança
Simulação de Calcografia mediante um tipo de grofagem.

Tinta tipo Watermark para:

Fibras fluorescentes e linhas simular marca d’água Paralelas sinuosas fluorescentes


C apítulo XXVIII - C asuística 02

Brasão da República e outros dizeres impressos com tinta fluorescente

Numeração produzida por (matricial de agulhas)


impressora de impacto

Duas impressões a offset traço (duas matrizes).


Assinatura da Diretora produzida por impressora de computador
344 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

FORMULÁRIO DE IDENTIDADE - AUTÊNTICA X FALSA

Impressão com tinta fluorescente (UV) (mais forte e com tonalidade verde-amarela na falsa).
A X / X X a X XXXXXXX>Xa X •
<XXX XXX5Í XXXXXXXXX ÁXXXXX

cxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxx y*x*


<XXX*XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXaX»Xv <XXXXnx x x
<XXXXX < XXXXXXXXX X 9V /'9 /
•>'XXXX X v XXX a XXX XXXXX XXXXX
txxxx\y/xxxx:<xxxxxxxx<Xxxxx
<x.\',\'<.xx.:/xx xxxxx xxxxxxxxx

Impressão tipo Watermark (na falsa, visível apenas sob luz transmitida).

Impressão calcográfica (simulação através de gofragem na falsa).


C apítulo XXVIII - C asuística 02
345

FORMULÁRIO DE CNH FALSO

Frente: imagens invisíveis sob luz branca,


fortemente fluorescentes sob radiação UV.
Verso: simulação de marca d’água
com tinta tipo Watermark.

Detalhes das microletras em Positivo com erro


técnico intencional(sigla CNH invertida).
Uso de dois fotolitos e fundo policromático
produzido por impressora de computador.

Simulação de calcografia mediante um tipo de


gofragem (diferente das carteiras autênticas).
Retículas das impressões do fundo policromático
feitas por impressora de computador.
346 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

FORMULÁRIO DE CNH - AUTÊNTICO X FALSO

Impressões com tinta fluorescente (UV) semelhantes às autênticas.

Impressão em calcografia (simulação através de gofragem na falsa,


mas diferente da utilizada na carteira autêntica).
C apítulo XXVIII - C asuística 02
347

Impressão tipo Watermark contrastando com o papel fluorescente


(a marca d’água original não reage à radiação UV).
Capítulo XXIX
D o c u m e n t o s d e I d e n t if ic a ç ã o M a is U t il iz a d o s
pelos C id a d ã o s B r a s il e ir o s

Nesta nova edição introduziremos o capítulo sobre documentos de


identificação, dando ênfase aos dois documentos mais utilizados pelos ci­
dadãos, quais sejam: Carteira de Identidade e Carteira Nacional de Habilita­
ção, destacando-se que demais documentos podem ser utilizados para esse
fim, tais como Carteira do Trabalho, Carteira da Ordem dos Advogados do
Brasil, Carteiras Funcionais, Carteiras dos diversos Conselhos , etc.

1. Carteiras de I dentidade
Até 1984 não existia uma unicidade de modelos das Carteiras de Identi­
dade, sendo que cada Estado possuía modelos e sistemas de expedição pró­
prios. A partir desse ano e embasado na Lei n° 7.116 de 29-08.83 foi implan­
tado o modelo nacional, no qual foram inseridos espaços, para registro da
Certidão de Nascimento ou de Casamento, bem como o número do CPF.
A cédula de identidade também conhecida popularmente p o r car­
teira de identidade ou RG (de Registro Geral), é o docum ento nacional
de identificação civil no Brasil. Em Portugal o documento equivalente de-
nomina-se Bilhete de identidade. Contém o nome, data de nascimento,
data da emissão, filiação, foto, assinatura e impressão digital do polegar
direito do titular.
Sua emissão é de responsabilidade dos governos estaduais, entretan­
to, a cédula de identidade tem validade em todo o território nacional. É
interessante notar que não existe restrição legal à solicitação de outra cé­
dula num outro estado da Federação, bastando ir à repartição expedidora,
levando a documentação necessária, e solicitá-lo. Assim é possível que o
cidadão tenha mais de um docum ento de identidade de estados e num e­
ração diferentes, todos totalmente válidos em todo o país.
350 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Os documentos necessários para pedir a emissão deste documento de­


pende do estado civil do requerente. Para solteiros, solicita-se a certidão de
nascimento original (ou cópia autenticada por tabelião). Para casados, soli­
cita-se a certidão de casamento original (ou cópia autenticada por tabelião).
Para todos os casos, solicitam-se fotos no formato 3 por 4 centímetros.
1.1. Dados Constantes no Anverso da Carteira de Identidade
• Número do registro geral (pode conter dígitos e letras); cada Uni­
dade da Federação decide como ordenar o seu sistema
• Data de expedição
• Nome do portador
• Filiação (nome do pai seguido pelo da mãe)
• Naturalidade (cidade e estado onde o portador nasceu, segundo o
docum ento fornecido)
• Data de nascimento
• Doc. origem (documento que deu origem ao registro geral, que
podem ser Certidão de Nascimento ou Certidão de Casamento.
• Número do CPF ou PIS/PASEP (se houver). )
1.2. Dados Constantes no Reverso da Carteira de Identidade
• Brasão da UF, nome da UF, Secretaria da Segurança Pública
• Fotografia 3 cm por 4cm
• Polegar direito
• Assinatura do portador (se o portador for analfabeto, é carimbada
a inscrição não alfabetizado).
1.3. Características de Segurança da Carteira de Identidade

/
Fundo Reticulado Coloração violácea reativa à luz ultra-violeta
Impressão Calcográfica
Filigranas coloridas e fluorescentes

iOBBBE .[ I n
1 H

Fotografia provida de perfuração identificadora Brasão luminescente no anverso e verso


C apítulo XXIX - D ocumentos de I dentificação ...
351

Concomitante a este m odelo nacional, alguns Estados estão utilizan­


do o modelo abaixo identificado, também instituído pela Lei Federal n°
7.166/83 e Decreto n° 89.250/83, cujos dados e elementos encontram-se
demonstrados.

* Personalização eletrônica
_ .. , • Papel de Segurança •Impressão Incolor
* Película com fibras coloridas reativa
à luz ultra-violeta
• Impressão
i • Data da Instituição
da nova carteira

• Impressão • Imagem do Rosto


Digital
Digitalizada Digitalizada *C h a n c e la
•Assinatura
Digitalizada

Em abril de 1997, pela Lei n° 9454/1997, o governo criou o Registro


Único de Identidade Civil (RIC), cuja regulamentação deveria ocorrer
seis meses depois. Além disso, a legislação previa que todos os docum en­
tos perderiam a validade em um prazo máximo de cinco anos, a partir da
prom ulgação da lei. Em 2004, o Palácio do Planalto criou um a comissão
interm inisterial para tentar im plantar o sistema, mas não deu certo. A
conclusão foi que, se todas as carteiras de identidade fossem m udadas
na época, o custo seria m uito alto. Além disso, apenas um a em presa ale­
mã estava habilitada em todo o m undo a fazer este tipo de trabalho.
Finalmente, a partir de janeiro de 2009, os brasileiros terão um a nova
carteira de identidade. A novidade é que nela estarão incluídos os dados
de todos os docum entos pessoais do cidadão, além de informações sobre
sua biometria, como altura e cor dos olhos. A lei que prevê esse docum en­
to existe há mais de uma década, mas só agora será regulamentada pelo
governo, que deve editar nos próximos dias um decreto estabelecendo as
novas regras. Com a mudança, o cidadão terá um único núm ero em seus
docum entos atuais.
352 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

Com a implantação do Afis (sigla em inglês do Sistema Automático


de Identificação de Impressões Digitais) no Instituto Nacional de Identi­
ficação (INI) da Polícia Federal, a intenção é gerar um núm ero nacional
para todos os brasileiros. Como já explicitado, atualmente, cada órgão que
cuida do assunto nos estados produz um núm ero diferente de carteira de
identidade, o que possibilita a uma pessoa emitir o docum ento em dife­
rentes regiões. Agora, as impressões digitais serão encaminhadas para o
INI, que fará um único banco de dados.
Ainda, considerando que alguns estados não fazem o exame de digi­
tal, possibilitando a emissão (de docum ento) por mais de uma vez. Agora,
as digitais serão enviadas ao INI, que checará se não há outro indivíduo
com a mesma biometria, mas usando outro nome. A partir disso, o institu­
to da Polícia Federal enviará as informações para outros órgãos públicos,
como INSS, tribunais eleitorais, Receita Federal, entre outros. O cidadão
passa a ter, além do núm ero original de seus documentos, um novo núm e­
ro, que será único para todas as instituições.
O novo docum ento de identidade vai ter o tamanho de um cartão de
crédito. A maior novidade é o chip, que armazena todas as informações da
pessoa e também as impressões digitais.
A informação não é em tinta, então nenhum reagente químico poderá
alterá-la; todos os dados são gravados a laser no corpo do documento.
A proposta é que, em nove anos, todos os brasileiros tenham o novo
registro, que vai acabar com o problem a de homônimos (pessoas que têm
o mesmo nome e núm eros de registro diferentes) e principalmente com
as fraudes.
A RIC terá o núm ero do RG, CPF, Título de Eleitor e conterá um chip
com informações sobre tipo sanguíneo, cor da pele, altura, peso e diver­
sos itens de segurança, tais como: dispositivo antiescâner, imagens ocul­
tas, palavras impressas com tinta invisível, fotografia e impressão digital a
laser e ainda a possibilidade de armazenar informações trabalhistas, previ-
denciárias e criminais.Todas as informações pessoais serão enviadas e ar­
mazenadas em um banco de dados do Instituto Nacional de Identificação
(INI).
Em relação ao m odelo antigo, que ainda terá exem plares em circu­
lação, e que já podia ser considerado um docum ento de boa qualidade,
certam ente superior ao RG clássico, indicamos a seguir as principais ca­
racterísticas de segurança no novo m odelo da Carteira de Identidade.
C apitulo XXIX - D ocumentos de I dentificação...
353

1.4. A n o v a C a rte ira d e Id e n tid a d e q u e s e r á im p la n ta d a a p a r t i r do an o


d e 2009

«*»

7tH»fc0Í^ 3U&r$«<M*f6T*cm
OUVEIRA<<KARIA<SUVA<<<<<<<<<

2. Carteira Nacional de Habilitação


A C arteira N acional d e H abilitação (CNH) é um docum ento ofi­
cial que no Brasil atesta a aptidão de um cidadão para conduzir veículos,
sendo de porte obrigatório ao condutor do veículo. A CNH atual contém
fotografia e os núm eros dos principais docum entos do condutor, servindo
como docum ento de identidade em todo o território nacional.
Essa é um a inovação oriunda de décadas recentes. O modelo de CNH
emitido em 1987 possuía menos informações e sequer incluía a fotografia
do condutor. O modelo antigo não tinha valor como docum ento de iden­
tidade. De fato, era obrigatório apresentar a identidade conjuntam ente à
CNH antiga.

2.1. Modelo da Carteira Nacional de Habilitação Antiga


354 D ocumentoscoma - Lamartine M endes

A Lei n° 9 503/97, em seu Art. 159, dispõe que ‘A Carteira Nacional


de Habilitação, expedida em modelo único e de acordo com as especifi­
cações do CONTRAN, atendidos os pré-requisitos estabelecidos neste Có­
digo, conterá fotografia, identificação e CPF do condutor, terá fé pública
e equivalerá a docum ento de identidade em todo o território nacional.”
A CNH (Carteira Nacional de Habilitação), emitida pelos Detrans sob as
diretrizes do Denatran, é provavelmente o m elhor docum ento de identifi­
cação disponível hoje no Brasil. Isso por algumas razões:
1. É um docum ento com prazo de validade definido, portanto a
foto sempre é relativamente recente.
2. É um documento unificado, portanto igual em seu formato e mo­
delo em todos os estados do Brasil, e com numeração única.
3. É um docum ento de excelente qualidade do ponto de vista da se­
gurança, com numerosas características de segurança, de difícil
reprodução e que usa materiais e recursos avançados e moder­
nos.
4. É um docum ento completo, pois reporta, num mesmo suporte,
núm ero do RG, núm ero da habilitação, núm ero do CPF, filiação,
nascimento etc. Poderia ser ainda m elhorado com a indicação
de alguns dados a mais e a inclusão da digital (identificação por
datiloscopia).
2.2. Características de Segurança da Carteira Nacional de Habilitação
C apítulo XXIX - D ocumentos de I dentificação ...
355

A Lei n° 9.503/97, em seu Art. 159, dispõe que “A Carteira Nacional


de Habilitação, expedida em m odelo único e de acordo com as e
ficações do CONTRAN, atendidos os pré-requisitos estabelecidos *
te Código, conterá fotografia, identificação e CPF do condutor terá fé
pública e equivalerá a docum ento de identidade em todo o território
nacional.”
A CNH (Carteira Nacional de Habilitação), emitida pelos Detrans sob
as diretrizes do Denatran, é provavelmente o melhor documento de iden
tificação disponível hoje no Brasil. Isso por algumas razões:
• É um docum ento com prazo de validade definido, portanto com
foto e assinatura sempre recentes;
• É um docum ento unificado, p o rtan to igual em seu formato e
m odelo em todos os estados do Brasil, e com numeração ún i­
ca.
• É um docum ento de excelente qualidade sob o ponto e vista da se­
gurança, com numerosas características de segurança, de difícil re­
produção e que usa materiais e recursos avançados e modernos.
• É um docum ento que contêm inúmeras informações, tais como,
núm ero do RG, num ero da habilitação, número do CPF, filiação,
data de nascimento.
Sob a ótica de alguns especialistas da D ocum entoscópia, em tese,
a C arteira Nacional de Habilitação não se caracteriza como do cu m en ­
to com pleto p o r não conter o registro da im pressão digital, que com ­
p letaria o trio identificador, qual seja: foto, assinatura e im pressão
digital.
Em 2006 foi lançado um novo modelo de Carteira Nacional de Ha­
bilitação (CNH) que começou a ser emitido a partir de 03.07.2006 pelos
Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) do País. Aprovado pela
resolução 192 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), o modelo
foi idealizado para evitar falsificações. O docum ento terá impressa a mar­
ca d ’água com os símbolos da Bandeira Nacional e o Brasão da Repúbli­
ca. Traz ainda faixa holográfica bidimensional semelhante à da célula de
R$ 20, com a inscrição do Departamento Nacional de Trânsito. A validade
será de cinco anos. No novo modelo, o espaço para observações sobre
o condutor ganhou mais linhas para informações sobre tipo sanguíneo,
correção visual e necessidade de veículo especial para portadores de defi­
ciência. Além dos dois números de identificação - nacional e estadual - , o
docum ento tem código numérico com dados individuais de cada CNH, os
quais são reproduzidos na sequência.
D ocumentoscopia —Lamartine M endes
356

2.3. Características de Segurança da Nova Carteira Nacional de


Habilitação

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Capítulo XXX

D a P r o v a P e r ic ia l - D is p o s it iv o s L e g a is

1. Considerações Gerais
Tendo em vista as modificações de artigos do Decreto-Lei n. 3.689,
de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prova,
nesta edição destacaremos o que realmente afetará o trabalho do Perito
Criminal.
É que até a vigência do novo dispositivo legal, todos os procedim en­
tos periciais eram executados por dois (02) peritos oficiais, inclusive as
perícias documentoscópicas, sem qualquer menção à escolaridade do p ro­
fissional.
Também, como matéria inovadora, temos a presença do assistente
técnico, anteriorm ente inadmitida no processo penal, o que fatalmente
propiciará ao Perito Criminal a prática de trabalhos particulares.
Para o perfeito entendim ento das aludidas alterações, p ertin en tes
à prova material, transcrevem os, na sequência, os antigos artigos do
CPC.

1.1. Redação primitiva dos artigos pertinentes ao trabalho pericial,


atualmente modificados
Art. 155. No Juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas serão
observadas as restrições à prova estabelecidas na lei civil.
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer: mas o juiz po­
derá, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, determinar,
de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Art. 157. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova.
Art. 159- Os exames de corpo de delito e as outras provas serão feitos
por dois peritos oficiais.
358 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

1.2. Lei n° 11.690, de 9 de junho de 2008


Altera dispositivos do Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941
- Código de Processo Penal, relativos à prova, e dá outras providências.
O P resid en te da R epública Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. Io Os arts. 155,156,157, 159, 201, 210, 212, 217 e 386 do Decreto-
Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal,
passam a vigorar com as seguintes alterações:
‘Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na inves­
tigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observa­
das as restrições estabelecidas na lei civil.” (NR)
‘Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício:
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção an­
tecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
II —determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença,
a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.”
(N R )

‘Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo,


as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
§1° São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras,
ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte indepen­
dente das primeiras.
§2° Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo
os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§3° Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inad­
missível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente.
§4° (VETADO)
‘Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados
por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
§1° Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pes­
soas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencial-
C apítulo XXX - D a P rova P ericial - D ispositivos Legais
359

mente na área específica, dentre as que tiverem habilitação t '


lacionada com a natureza do exame. ecnica re-
§2° Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e f I
te desempenhar o encargo. le men'
§3° Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acu
ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos°
indicação de assistente técnico.
§4° O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após
a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais
sendo as partes intimadas desta decisão.
§5° Durante o curso do processo judicial, é permitido às panes, quan­
to à perícia:
I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os que­
sitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com ante­
cedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;
II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em
prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.
§6° Havendo requerimento das panes, o material probatório que ser­
viu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial,
que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para
exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.
§7° Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área
de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais
de um perito oficial, e a parte indicar mais dê um assistente técnico.”
(NR)
“CAPÍTULO V
DO OFENDIDO
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado
sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor,
as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.
§1° Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo jus­
to, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.
§2° O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos, ao
ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para
audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem.
§3° As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por
ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio
eletrônico.
360 DOCUMENTOSCOPIA - 1.AMAKTINE MENDES

§4° Antes d o início da audiência e durante a sua realização, será reser­


vado esp aço separado para o ofendido.
§5° Se o juiz en ten d er necessário, poderá encam inhar o ofen d id o para
atendim ento m ultidisciplinar, esp ecialm ente nas áreas psicossocial, de
assistência jurídica e d e saúde, a expensas d o ofen sor ou do Estado.
§ 6 ° O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intim i­
dade, vida privada, honra e im agem d o ofendido, p od en d o , inclusive,
determ inar o segred o de justiça em relação aos dados, d ep oim en tos e
outras inform ações constantes d o s autos a seu respeito para evitar sua
exp osição aos m eios de com unicação.” (NR)
“Art. 210. As testem unhas serão inquiridas cada um a de per si, de m odo
que um as não saibam nem ouçam o s d ep oim en tos das outras, d even ­
d o o juiz adverti-las das penas com inadas ao falso testem unho.
Parágrafo único. Antes d o início da audiência e durante a sua realiza­
ção, serão reservados esp aços separados para a garantia da incom uni-
cabilidade das testem unhas.” (NR)
‘Art. 212. As perguntas serão form uladas pelas partes diretam ente à
testem unha, não adm itindo o juiz aquelas que puderem induzir a res­
posta, não tiverem relação com a causa ou im portarem na repetição de
outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre o s p on tos não esclarecidos, o juiz poderá com ­
plem entar a inquirição.” (NR)
‘Art. 217. Se o juiz verificar que a presença d o réu poderá causar hum i­
lhação, temor, ou sério constrangim ento à testem unha ou ao ofendido,
d e m o d o q u e prejudique a verdade d o d ep oim en to, fará a inquirição
por videoconferência e, som en te na im possibilidade dessa forma, d e­
terminará a retirada d o réu, p rossegu in d o na inquirição, com a presen ­
ça d o seu defensor.
Parágrafo único. A adoção de qualquer das m edidas previstas n o caput
deste artigo deverá constar d o term o, assim com o os m otivos que a
determ inaram .” (NR)
“Art. 3 8 6 ..............................................................................................

IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;


V - não existir prova d e ter o réu concorrido para a infração penal;
VI - existirem circunstâncias q u e excluam o crim e ou isentem o réu de
p en a (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e §1° d o art. 28, tod os do C ódigo Penal),
ou m esm o se houver fundada dúvida sobre sua existência;
VII - não existir prova suficiente para a condenação.
Parágrafo ú n ic o .....................................................................................
C apítulo XXX - Da P rova P ericial - D ispositivos Legais
361

II - ordenará a cessação das m edidas cautelares e


cadas; provisoriamente apli-

............................................................................................ (NR)
Art. 2o A queles peritos q u e ingressaram sem exigência d o diplom a de
curso superior até a data d e entrada em vigor desta Lei continuarão a
atuar exclusivam ente nas respectivas áreas para as quais se habilitaram
ressalvados o s peritos m édicos.
Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua
publicação.

Brasília, 9 de junho de 2008;


187° da Independência e 120° da República!
Luiz inácio da silva
T arso G enro
J osé A n to n io D ias T offoli
R e f e r ê n c ia s B ib l io g r á fic a s

AMARAL, Sylvio do. Falsidade Documental. 4a ed. Campinas: Millennium


Editora, 2000.
ANGUITA, Eufrásio Alcásar. Técnica e Peritación Calligraficas.
BLANCO, R. Roman. Estudos de Paleografia.
CONWAY, James V P Evidencias Documentales, I Trad. Jilia Elena de la
Pena.Ln Rocca, Buenos Aires, 2002.
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GROSS, Hans. Guia Prático para a Instrucção dos Processos Criminaes.
Trad. João Alves de Sá, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1909.
HARDING, J. Vreeland. The H a n d o f H auptm ann.
HARRISON, Wilson, R E.SuspectDocuments. TheirScientificExamination.
Nelson-Hall Publishers, Chicago, 1982.
KATZENNSTEIN, Úrsula. A Origem do Livro.
LOCARD, Edmond. M anuel de Technique Policière. Payot, Paris, 1923.
MARCHESAN, Rolando. Introduzione Alia Psicologia Delia Scritura.
MIRACLE, D. Frederico; Carbonell. M anual de Revisión de Firmas y
Papeles Suspechos. Imprenta de Luis Tasso y Serra, Barcelona, 1884.
MORLAND, Niguel. Science in Crime Detection.
NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba. Um Inventor Brasileiro - a m áquina
de escrever.
OSBORN, Albert. Q uestioned Documents. 2a ed., 6. impressão. New York:
Boyd Printing Company, 1949.
PAULIER, C. Étude Sur Vécriture Artificielle D ans les Documents Forgés.
QUIGGIN, A H. A Flistória do Dinheiro.
RAS, Matilde. Grafologia. ReaccionesAnímicasemEl Gesto Grafoescritural.
3a ed. Labor: Barcelona, 1937.
SHREVE, R. Norris. Indústrias de Processos Químicos.
364 D ocumentoscopia - Lamartine M endes

SIVIERI, Orlando. Uindagine gráfica.


SOMERFORD, Albert W Foreign handw ritting sistems.
TRIGUEIROS, Florisvaldo dos Santos. O dinheiro no Brasil.
VANDERBOSC, Charles G. Investigación de delitos. I a ed. México: Editorial
Limusa - Wiley, S. A., 1971.
T ratado de P erícias Criminalísticas
DOCUMENTOSCOPIA

ORGANIZADOR
Domingos Tocchetto
Perito Criminalístico (1972 a 1991), ex-Chefe do Serviço de Perícias Criminalísti­
cas e da Seção de Balística Forense do Instituto de Criminalística (Porto Alegre, RS),
Bacharel em História Natural (Biologia), Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (Di­
reito), Professor de Criminalística da Escola Superior da Magistratura - AJURIS, de Por­
to Alegre, RS (1981 a 1998), Professor Honorário da Academia de Polícia Civil do Estado
do Rio Grande do Sul e Membro da Academia Paraense do Júri. Especialista em Perícias
de Balística Forense, título concedido pela Associação Brasileira de Criminalística, em
11.11.07.
E-mail: dtocchetto@terra.com.br e domingos.tocchetto@gmail.com

AUTOR
Lamartine Bizarro Mendes
Perito Criminalístico (1947-1986); Advogado; Ex-Chefe da Seção de Criminalística da
Delegacia Regional de Polícia de Santos; Professor de Documentoscopia do Curso Su­
perior de Criminalística da Academia de Polícia Civil de São Paulo; Fundador da As­
sociação Brasileira de Criminalística, hoje Sociedade Brasileira de Criminalística e Asso­
ciação Paulista dos Peritos Criminais de São Paulo.

ATUALIZADORA
Wanira Oliveira de Albuquerque
Advogada; Perita Judicial; Professora de Fundamentos de Criminalística e Documen­
toscopia da Academia de Polícia do Estado de Minas Gerais e da Academia de Polícia
do Estado do Amazonas; Instrutora de Grafoscopia dos antigos Banco do Estado de
Minas Gerais, Banco do Progresso S.A, Associação dos Serventuários da Justiça do
Estado de Minas Gerais e empresas de telefonia. Perita Criminal, aposentada, ex-chefe
da Seção Técnica de Documentoscopia do Instituto de Criminalística do Estado de
Minas Gerais.
Avenida Augusto de Lima, 1.376 - sala 1.504 - Bairro Barro Preto
Belo Horizonte, MG - 30190-003
Tel.: (31) 3201.5288 e 9982-2159
E-mail: wanira@terra.com.br
COLABORADORES
Carlos Magno de Souza Queiroz
Perito Criminai Federal. Agrônomo formado pela UFy Viçosa/MG, em 1989. MBA em
Gestão de Políticas de Segurança Pública, pela FGX em 2005, tendo apresentado a
monografia intitulada “Aplicações da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) em
Criminalística”. Ingresso na Carreira Policial Federal em 1996, lotado até o momento
no Instituto Nacional de Criminalística no Setor de Balística Forense, na área de Mi­
croscopia Eletrônica. Especialista em Microscopia Eletrônica de Varredura aplicada a
caracterização de microvestígios.

Edilene Maria da Silva


Mestra em Ciência da Informação pela U fpb (2009), com Especialização em Gestão da
Informação (2006) e formação em Biblioteconomia pela U fpe (2002). É bibliotecária-
documentalista da U fpe com experiência nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, atuando nos seguintes temas: Política de informação em C&T, avaliação de
serviços de bibliotecas, indicadores de desempenho, indicadores de C&T, metodologia,
normalização, biblioteca universitária, biblioteca pública, programas de incentivo a lei­
tura. Atualmente é professora das Disciplinas Metodologia científica e Metodologia da
Monografia Jurídica da Faculdade dos Guararapes.

Marcos Passagli
Farmacêutico-Bioquímico. Especialista em Análise Clínicas e Toxicológicas pela Uni­
versidade Federal de Minas Gerais. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Pós Graduado em Estudos de Criminalidade e Segurança Pública pelo
C risp/U fmg . Perito Criminal aposentado, ex-chefe da Divisão de Laboratório do Instituto
de Criminalística de Minas Gerais, ex-Coordenador dos cursos de Criminalística da
A cadepol/M G . Professor da A cadepol/M G e da APM/MG. Atualmente exerce o cargo de
Gerente técnico da Safetech - Sistemas Tecnológicos de Segurança Ltda.

Sara Laís Rahal Lenharo


Perita Criminal Federal. Geóloga formada pela UNESR Campus de Rio Claro, em 1983.
Especialista em Processamento Mineral pela Tohoku University, Sendai, Japão, em 1990.
Mestre em Engenharia Mineral pela USP, São Paulo, em 1994. Doutora em Engenharia
Mineral pela USP, em 1998, sendo que parte do trabalho de pesquisa foi desenvolvido
na James Cook University, Townsville, Austrália. Ingresso na Carreira Policial Federal
em 2003, lotada durante o ano de 2004 na Superintendência Regional de Roraima e a
partir de dezembro de 2004, até o momento, no Instituto Nacional de Criminalística,
no Setor de Balística Forense, na área de Microscopia Eletrônica. Especialista em téc­
nicas analíticas instrumentais, como Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica de
Varredura, aplicadas a caracterização de microvestígios.
T ratado d e P erícias C rim in a lístia

Acidentes de
Trânsito
ri í Análise da Prova Verdadeiro VadeMecum para os do_
Pericial - 4a edição res e aplicadores do direito na utilização de
laudos periciais em seus misteres, estabele­
Autor: cendo de modo simples, claro e objetivo
fef rA* *i Ranvier F eitosa Aragão uma ponte entre o mundo jurídico e o mun­
do das perícias em matéria de acidentes de
Brochura - 608 páginas tráfego.
i - • Formato: 160 x 230 mm

Balística Forense Orienta a realização de perícias criminalís-


ticas, conciliando conceitos, técnicas e tec­
ri %4 Aspectos Técnicos e nologias mais recentes, baseados em fun­
Jurídicos - 5a edição damentos multidisciplinares, como a físi­
] i »w®I ca, a química, a matemática, a anatomia,
Autor: etc., compatíveis com a legislação vigente
V »-T -*J' I D o m in g o s T occhetto
I Descreve em detalhes as inovações tecno­
í •' * Brochura - 400 páginas lógicas e os produtos mais recentes incor­
P IV?
Formato: 160 x 230 mm porados pelos fabricantes de armas. A obra
apresenta-se, mais que atual, completa.

Na prática da perícia criminal, o domínio


Computação Forense de fundamentos e o uso dos recursos da in­
formática, reunidos nesta obra, são impres­
Autor: cindíveis ao perito criminalista, não só co­
Marcelo Antonio mo ferramenta de trabalho de uso diutur-
Sampaio Lemos Costa no, como na elucidação de crimes que en­
volvem computadores em fraudes, desvios
I Brochura - 264 páginas
de dinheiro, terrorismo, roubos, furtos, ex­
Formato: 160 x 230 mm
torsões, espionagens e sabotagens, pratica­
dos em escala crescente.

w w w .m illen n m m ed ito ra.com. b r


T ratado d e P erícias C rim in alísticas

Uma das obras mais importantes da cole­


Criminalística ção, reúne os fundamentos da perícia cri­
4a edição minalística. Descreve a evolução histórica e
o enquadramento na legislação vigente, es­
Autores: pecialmente quanto à parte processual e
•!

Luiz E. C arvalho D orea penal, passando pelos aspectos éticos, so­


<'m S f t t i f l . t t i > t /*

Victor P aulo Stu m voll ciais, os papéis e funções dos profissionais


V ictor Q uintela que atuam na área. Ensina, com riqueza de
detalhes, as técnicas fundamentais de perí­
Brochura - 352 páginas
Formato: 160 x 230 mm cias, emprego de recursos técnicos e tecno­
lógicos, fluxos administrativos e interações
com outras áreas afins.

Desenho para O desenho aplicado à criminalística vem


criminalística e sendo progressivamente utilizado como
retrato falado instrumento de otimização da prova à dis­
posição da justiça. Com o advento da infor­
Autor: mática e a adoção de novas técnicas, pa­
A lbani B orges d o s Reis
drões de comunicação e convenções gráfi­
Brochura - 192 páginas cas e visuais, as práticas periciais ganham
Formato: 160 x 230 mm em celeridade, acuidade e confiabilidade.
Dinâmica dos
Acidentes de Trânsito
Análises, Reconstruções e
Prevenção - 3a edição
Analisa conceitos e definições utilizados
Autores: nos m eios periciais e forenses. Explica a di­
Osvaldo Negrini Neto nâm ica dos acidentes com base nos funda­
Rodrigo Kleinübing m entos d a física e da m ecânica, além de ofe­
recer orientações, roteiros e planilhas p a­
Brochura - 336 páginas ra elaboração d e laudos, utilizando casos
Formato: 160 x 230 mm reais com o m odelo.

Documentoscopia
3a edição
Descreve as práticas mais frequentes n a
Autor: ^ adulteração e falsificação d e certificados
Eamartine Bizarro Mendes d e p ro p rie d ad e de veículos, escrituras, pa-
Wanira O^de Albuquerque ^ « f e d a , *elos e o u tro s docum entos.
Colaboradores- A borda a m odernização dos recursos e tec-
Carlos Magno de S. Queiroz nicas clue dificultam as fraudes e aum en-
Edilene Maria da Silva tam a segurança contra ações crim inosas e
Marcos Passagli fornece roteiros para a co rreta investiga-
Sara Lais Rahal Lenharo ção, perícias e elaboração d e laudos.
Brochura - 38-1 páginas
Formato: 160 x 230 mm

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T ratado d e P erícias C rim in alísticas

Entomologia Forense
Quando os insetos são
vestígios - 2a edição Aborda fundamentos sobre a estrutura e a
biologia dos insetos. Relaciona procedi­
Autora e Coordenadora: mentos de seleção, coleta, transporte, mon­
Janyra Oliveira-Costa tagem e armazenamento de evidências
Colaboradores:
Cátia A. de Mello-Patiu
entomológicas. Interpreta os procedimen­
Daniely Oliveira Santana tos, as análises, os laudos e as conclusões.
Guaraci dos Santos Dias Constitui ferramenta indispensável a pro­
H ingtid Yara S. Quintino fissionais envolvidos em litígios em que a
Leonardo Gomes perícia se faça necessária.
Lucila Maria L. de Carvalho
Luiz Roberto Fontes
Margareth Maria de C. Queiroz
Patrícia Jacqueline Thyssen
Renata Rocha Pessanha
Sidney Milano
Thiago Blanc Celino

Brochura - páginas
Formato: 160 x 230 mm

Fonética Forense
2a edição
Este livro aborda os fundamentos, a fisiolo-
Autor: gia, as técnicas e os recursos e analisa os
Antonio César principais crimes, como a interceptação te­
Morant Braid lefônica e as transcrições.
Brochura - 144 páginas
Formato: 160 x 230 mm
M Série
• a í: <
P c r id g g
Organizador:
D o m ingos
T o c c h e tto

Identificação Humana
Identificação pelo DNA
Identificação Médico-legal
Perícias Odontológicas
V olum e II
O tema Identificação Humana é agora divi­
Autores: dido em dois volumes. Neste segundo volu­
Luís R. da Silveira Costa
Luiz Fernando Jobim
me, o capítulo da Identificação Humana
Moacyr da Silva através do DNA é atualizado e ampliado; é
introduzido o tema da Identificação Mé-
Brochura - 328 páginas dico-Legal e aborda com detalhes a utilíssi-
Formato: 160 x 230 mm ma Perícia Odontolegal.

Incêndios e Tema antes apresentado em matérias es­


Explosivos parsas, é agora enfeíxado num só livro de
Uma Introdução à características inéditas. Traz os melhores
Engenharia Forense fundamentos, orienta análises das causas fí­
sicas e químicas dos fenômenos incêndio e
Autor:
Ranvier Feitosa Aragão explosões, seleciona os métodos periciais
Colaboradores: mais apropriados para cada sinistro e reco­
Celito Cordioli menda cuidados na elaboração de laudos
Osvaldo Negrini Neto periciais. Assinam a obra os mais qualifica­
Rodrigo Kleinübing
dos especialistas brasileiros, brindando os
Brochura - 496 páginas leitores com uma obra, além de original, de
Formato: 160 x 230 mm excepcional qualidade e utilidade.

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M etodologia Científica
e Perícia Criminal
O bra fundam ental, p ropicia aos profissio­
Autor: nais d a área a adoção d e m etodologia cien­
Albani Borges dos Reis tífica consagrada e p ara planejam ento, o r­
ganização e realização d e perícias unívoca
Brochura - 232 páginas
e racional, visando a fom entar a área fo ren ­
Formato: 160 x 230 mm
se com inform ações objetivas, sucintas e
com pletas - essenciais à celeridade d o s p ro ­
cessos e à ju sta aplicação das sentenças.

Química Forense
Sob Olhares Eletrônicos

Autora e Coordenadora:
Regina Pestana de O. Branco

Anamaria D. P. Alexiou
Dalva L. A. Faria
Henrique Eisi Toma Reúnem -se nesta o b ra oito renom ados pes­
Jorge E. S. Sarkis quisadores qu e descrevem as mais recen­
(Ja ia r/rj f-o rru sc

Luiz W. C. de Souza tes aplicações d a Quím ica a serviço d a perí­


Márcio O. Branco cia crim inalística e forense. Apresentam
Vera L. Ribeiro Salvador eq uipam entos, tecnologias, técnicas e pro­
cessos d e investigação com fartas ilustra­
Brochura - 328 páginas
Formato: 160 x 230 mm ções em cores.
Toxicologia Forense
Teoria e Prática
2a edição
Autor:
Marcos F. Passagli
Colaboradores: Reúne os principais fundamentos para a
Cláudia D. Ramos Ricoy
Frederico Nunes Valladão compreensão e aplicação nos procedi­
Márcia Martins Barroca mentos periciais, laboratoriais e práticas fo­
Mário L. O ttoni Guedes renses. Descreve as ações das drogas sobre
Pablo Alves Marinho os indivíduos nos aspectos físicos e com-
Patrícia D. S. Carvalho portamentais, estendendo comentários às
Roberta de Faria Rodrigues consequências danosas para a sociedade.
Rogério Araújo Lordeiro Na parte prática relaciona os principais pro­
Wanderley de Souza
Washington Xavier de Paula cedimentos periciais e de análises labora­
toriais para exames das drogas e produtos
Brochura - 416 páginas mais conhecidos e usados, assim como dos
Formato: 160 x 230 mm gases tóxicos e tóxicos metálicos.

Perícia Ambiental
Criminal
Coordenador:
Domingos Tocchetto
Autores:
André de Farias
Bettina Tomio Heckert
Bianca de A. Carvalho
Cristina Barazzetti Barbieri
Daniel Russo
Daniela Falcão Sampaio
Eduardo Kunze Bastos A perícia em crimes e desastres ambientais
Fernando Furtado Kerber é ainda pouco difundida em nosso país.
Gustavo Aveiro Lins Para produzir um livro com elementos
João Pedro Pinheiro Vieira para o aperfeiçoamento profissional de pe­
José Cavalcanti dos Santos
Josim ar Ribeiro de Almeida ritos com os melhores fundamentos e téc­
Marcelo de Lawrence B. Blum nicas periciais, o Dr. Domingos Tocchetto
Mauro M endonça Magliano reúne um grupo de renomados especia­
Osmar Pires Martins Júnior listas - professores universitários, consul­
Paulo Sérgio Portela de O. tores, técnicos de empresas e peritos com
Rafael de Arêa Leão Alves vistas a oferecer obra de exepcional quali­
Rafael Salum de Oliveira
Rodolfo Antônio da Silva
dade, inequívoca utilidade e oportuni­
Rodrigo de Almeida dade, visando oferecer à Justiça, laudos
completos, perfeitos e inquestionáveis.
Brochura - 352 páginas
Formato: 160 x 230 mm

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rr.Y .A ^ Y v
P e r íc ia s C r im in a lís tic a s
\clibes Burgarellí Eliane Perei
Adriano Roberto da Luz Figini Eron \ferissi
Vlonso Celso F. Rezende Estêvão Luíá
Albani Borges dos Reis Fabiana Mui
Alberi Espindula Fabiano Ger
Alberto Angerami Fábio Palia n
Perícia Criminal e Cível Alencar Frederico Fausto Mart
Uma visão geral pa ra Alexandre Bonfanti de Lemos Fernanda d<
As diferentes modalidades de exames peri­ Alexandre Mendes C. Ferreira Fernando Jc
peritos e usuários d a ciais são descritas em uma só fonte, de Alexandre Wunderiich
perícia - 3a edição Flávia Cunh
maneira clara e objetiva, enfatizando as dife­
renças entre as perícias realizadas no âmbito .Álvaro Stringherti Ferreira Flávia Regin
Autor: criminal e cível. Ponto de partida para qual­ Amador Paes de Almeida Flavia Witko
Alberi Espindula quer pesquisa de dados periciais, é dirigida a Anamaria Dias Pereira Alexiou Floriano de
peritos criminais e forenses, magistrados, Andresa Minatel Francisco dc
Brochura - 446 páginas promotores, delegados, professores e estu­
Formato: 160 x 230 mm dantes de academias de polícia.
Antônio Carlos Mathias Coltro Frederico A
Antonio César Morant Braid Geraldo Fcr
Antonio Cláudio M. Oliveira Gilberto Pa:
Aparecida Dinalli Guilherme
Amoldo Wald Guilherme
Arthur JoséJacon Mathias Guilherme
Avila Coimbra Gustavo F. C
Carlos Alberto Bittar Filho Gustavo O.
Carlos Biasotti Flamilton F
Carlos Ernesto Paulino Haroldo Par
Carlos F, Brasil Chaves Heliana Mar
Carlos Roberto Diogo Garcia Helena Regí
Cássio Mattos Honorato Helita Barre
Celso José Pimentel Henrique Ei
Celso Luiz Limongi Hiídebrandi
César de Moraes Sabbag Horácio Ber
Cinthia Robert Iberê de Ca:
Cláudia Stefano JaymeVita F
Falsidade Cláudio Cesar de Paula Jamil Migue
Documental Comélio Vieira de Moraes Jr. Janyra Olive
4a edição Uma das mais valiosas contribuições às letras
jurídicas pétreas. De grande utilidade para o Dalva L. A. Faria Jaques de C
Autor: estudo dos problemas que a aplicação da lei Daniel Torres de Cerqueira J.J. Calmon
Sylvio do Amaral penal proporciona no intrincado setor dos Daniela de C. Mucilo Restiffe Joana Cristii
Atualizador: crimes contra a fé pública. As soluções pro­ Daniela Petrocelli Joaquim M.
Ovídio Rocha B. Sandoval postas são criteriosas e discorrem com argu­
mentação bem construída e invariavelmente David Teixeira de Azevedo Jorge Eduar
convincente. David Zimerman Jorge Luís M
Encadernado - 294 páginas
Formato: 140 x 210 mm Débora da Silva Roland Jorge Luiz d
Dino Boldrini Neto José Antônií
Domingos Franciulli Netto José Femam
Domingos Tocchetto José Cretellí
DonaldoJ. Felippe José Frederi
Edemur Ercílio Luchiari José Gerald
Edgard de Moura Bittencourt José Maria d
Édis Milaré José RaffaeU
Erik Frederico Gramstrup José Renato
www. m illen n iu m editora. com. br Eduardo Reale Ferrari José Robertí
lAclibes Burgarclli Eliane Pereira Rodrigues Poveda
jAdriano Roberto da Luz Figini Eron Veríssimo Gimenes
[Afonso Celso F. Rezende Estêvão Luís Lemos Jorge
lAlbani Borges dos Reis Fabiana Mussato de Oliveira
Alberi Espindula Fabiano Genoíre
Alberto Angerami Fábio Pallaretti Caldni
Alencar Frederico Fausto Martin De Sanctis
Alexandre Bonfanti de Lemos Fernanda de Paula F. Mói
Alexandre Mendes C. Ferreira Fernando José Pertinhez
Alexandre Wunderlich Flávia Cunha Rios
Álvaro Strínghetti Ferreira Flávia Regina Ribeiro da Silva
Amador Paes de Almeida Flavia Witkowski Frangetto
Anamaria Dias Pereira Alexiou Floriano de Azevedo M. Neto
Andresa Minatel Francisco de Assis F. Mendes
Antônio Carlos Mathias Coltro Frederico A, Paschoal
Antonio César Morant Braid Geraldo Ferreira Lanfredi
Antonío Cláudio M. Oliveira Gilberto Passos de Freitas
Aparecida Dinalli Guilherme de Barros M. Ribeiro
Amoldo Wald Guilherme de Souza Nucci
Arthur José Jacon Mathias Guilherme Madeira Dezem
Ávila Coimbra Gustavo F. Campos Monaco
Carlos Alberto Bittar Filho Gustavo O. Diniz Junqueira
Carlos Biasotti Hamilton Fernando Castardo
Carlos Ernesto Paulino Haroldo Paranhos Cardella
Carlos F. Brasil Chaves Heliana Maria Courinho Hess
Carlos Roberto Diogo Garcia Helena Regina Lobo da Costa
Câssio Mattos Honorato Helita Barreira Custódio
Celso José Pimentel Henrique Eisi Toma
Celso Luiz Limongi Hildebrando Herrmann
César de Moraes Sabbag Horácio Bernardes Neto
Cinthia Robert Iberè de Castro Dias
Cláudia Stefano Jayme VIta Roso
Cláudio Cesar de Paula Jamil Miguel
Cornélio Vieira de Moraes Jr. Janyra Oliveira-Costa
Dalva L. A. Faria Jaques de Camargo Penteado
Daniel Torres de Cerqueira J J. Calmon de Passos
Daniela de C. Mucilo RestifFe Joana Cristina Paulino
Daniela Petrocelli Joaquim M. Bittencourt Netto
David Teixeira de Azevedo Jorge Eduardo de S. Sarkis
David Zimerman Jorge Luís Mialhe
Débora da Silva Roland Jorge Luiz de Almeida
Dino Boldrini Neto José Antônio Cremasco
Domingos Franciulli Netto José Fernando Simão
Domingos Tocchetto José Cretella Neto
Donaldo J. Felippe José Frederico Marques
Edemur Ercílio Luchiari José Geraldo da Silva
Edgard de Moura Bittencourt José Maria da Costa
Édis Milaré José Raffaelli Santini
Erik Frederico Gramstrup José Renato Nalini
Eduardo Reale Ferrari José Roberto Leitão e Silva

L
Judith Martins-Costa Paulo Marco Ferreira Lima
Juliana Zacarias Fabre Paulo José Freire Teotônio
Kelly Susane Alflen Paulo Restiffe Neto
Lamartine Bizarro Mendes Paulo Sérgio Restiffe
Lédio Rosa de Andrade Paulo Stanich Neto
Leopoldo Ubiratan C. Pagotto Pedro Paulo Filho
Lídia Reis de Almeida IVado Peter Panutto
Lucas Naif Caluri Ranvier Feitosa Aragão
Lucas de Souza Lehíeld Regina do Carmo P. O. Branco
Luciana C. A, Alves llrnri<|oc Renato Luís Benucci
Luciano de Camargo IVnteadn Ilenc Ariel Dotti
Luís Praxedes Vieira da Siba Ricardo Algarve Gregorio
Luiz Alexandre Cru Ferreira Ricardo Dip
Luiz Carlos Branco Koberta Ceriolo Sophi
Luiz Eduardo Carvalho Dorej Koherto Barbatojr.
Luiz Fernando Cassilhss \bira Roberto Fragale Filho
Luiz Fernando lobim Roberto Liesegang
Luiz Fernando V A- Guilherme Roberto Silva Oliveira
Luiz Flávio de Oliveira Rodrigo KJeinubing
Luiz Geraldo Morctti Rogério A. Correia Dias
Luiz Guilherme Moreira Porto Rogério Bellentani Zavarize
Luiz Henri<|ue \ntunc* AÍO<Kjp Rubcn Tcdeschi Rodrigues
Luiz Roberto Homero Russo Rubens Beçak
Luiz Waltcr Carvallto dc Souza Samuel Mendonça
Marcei Cordeiro Samuel Muçgel Branco
Marcelo Amonio S, L Cosia Sérgio Cadcmartori
Marcelo Augusto Seuddcr Filho
Marcelo < orrea da Silva Sétgio Eduardo M. de Alvarenga
iarcelo Ferreira Abdalla Sérgio Luiz Monteiro Salles
Marcus Vinícius Lopc' da Silva Sérgio Resende de B irros
Maria Cristina V B. Tarrrga Sidnci Agostinho Beneti
Marina Bccfcrr Sílvio de Salvo Vcnosa
Marina Mczzavllla Verri Sueli Aparecida De Pirri
Mauncio Marangoni Sueh Miguel Rodrigues
Mauro Sérgio Rodrigues Sybio do Amaral
Miguel Avuso (Espanha) ■Sampaio Ferraz Junior
Miguel l loresiano NCW Thalira de Joseanm S. Silva
Miguel Reale Valderj dos Santos
Migu 'I Reale |r. Vera I.ucia Ribeiro Salvador
Mina l.erena Misailidis Vera Lúcia R. S. Jucovsky
Moaevr da Silva Vu eme de Abrru Amadei
Monnalisie Gintencs Ccêcu Vtccntc ■t I- : madei
Nesior S. 1’rmeado Filho Vicente de Paula R. Maggio
Nc-wton de Oliveira Neves Victor Paulo Stumvoll
( >rlando Laitano Vladimir Passos dc Freitas
Osvaldo Ncgrilíi Neto Votuey Corrêa I. dr Moraes Jr.
Oswaldo Bcrtogna Júnior Wiliain Viandrrlev Jorge
<hadio Rocha liana» Sandoval Wilson Lavorrnti
Paulo F. da Cunha (Pornigal)
Paulo Jtwé da Costa Júnior
Unu editora é reconhecida por
*eu» autores c auullzadn res
O saudoso professor Lamaktine B izarro Mendes é consi­
derado verdadeiro ícone na perícia criminalística. O seu livro
Documentoscopia, que ora se publica em terceira edição, vem
sendo utilizado há mais de uma década, como manual prático
quase obrigatório, por estudiosos e pela maioria dos profis­
sionais que atuam na área. Aborda dados históricos interessan­
tíssimos e reúne conceitos e fundamentos de maneira clara,
organizada e didatica, que facilitam sobremaneira a compreen­
são das modernas técnicas periciais, dos recursos mais impor­
tantes e suas aplicações nas diferentes espécies de fraudes
praticadas atualmente. Conduz-nos ao entendimento de que
muitas das fraudes que insurgem como novidades constituem,
na prática, variações ou versões sofisticadas de modalidades
aqui explicadas.
Revista e atualizada pela perita W anira O liveira de Albu ­
querque , a nova edição vem enriquecida com valiosas contribui­
ções trazidas por colaboradores dos quadros da Polícia Federal e
especialistas de empresas fabricantes de equipamentos, que
descrevem recursos, métodos e técnicas que constituem as mais
recentes tecnologias empregadas na investigação de fraudes em
documentos.
Por tais características renova-se como a obra preferida pelas
Academias de Polícia, por professores, estudiosos, peritos pro­
fissionais e postulantes a concursos públicos.
Latnartine Bizarro Mendes
T A Série ^ ^ 1
Tratado de v
Perícias
Cri minalísticas

Documentoscopia
Orpnizador.
D o m in g o s
>V T o c c h e tto
■ "sã s A

Colaboradores:
Carlos Magno de Souza Queiroz
Edilene Maria da Silva Adaptado segundo a
nova ortografia da
Marcos Passagli Língua Portuguesa

Sara Lais Rahal Lenharo

M ille n n iu m

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