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FUNDAMENTOS DA GRAFOSCOPIA

UNIDADE I
GRAFOSCOPIA
Elaboração
Andréia Moura de Abreu Motta

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................. 4

UNIDADE I
GRAFOSCOPIA........................................................................................................................................................................................ 5

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO E CONCEITOS DA GRAFOSCOPIA.............................................................................................................. 5

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................16
INTRODUÇÃO

A Constituição deste material tem como base as mais diversas fontes utilizadas em nossa
bibliografia Nacional e Internacional. Seu desenvolvimento foi produzido em quatro
unidades com a finalidade de incentivar um maior aprendizado e aproveitamento do
curso.

O material apostilado tem como objetivo apresentar conteúdos teoricos e práticos trazendo
em sua composição exemplos reais e ilustraçoes técnico-profissionais. O Programa foi
dividio em três partes, que são: Conceitos, Técnicas e Procedimentos.

No entanto, não se deve descartar o interesse permanente pela pesquisa das matérias
científicas para a busca efetiva de um aperfeiçoamento através de um conhecimento
conciso e atualizado.

Objetivos
» Classificar a natureza da Grafoscopia.

» Instituir a terminologia a ser utilizada.

» Definir a metodologia a ser aplicada.

» Estabelecer critérios a serem empregados nos trabalhos.

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GRAFOSCOPIA UNIDADE I

Capítulo 1
INTRODUÇÃO E CONCEITOS DA GRAFOSCOPIA

1.1. Introdução e conceitos


De acordo com Gomides (2016, p. 15) em seu Manual, a Grafoscopia é uma disciplina,
que visa esclarecer questões criminais. Ela é um capítulo da Documentoscopia que trata
exclusivamente do grafismo, manuscritos, das escritas.

No Brasil, a área das Ciências Forenses que se ocupa da análise de documentos é a


documentoscopia.

A doutrina nacional conceitua documentoscopia como:

[...] o conjunto dos conhecimentos e recursos especializados de ordem


técnico-científica que têm por objeto a pesquisa, o estudo e a interpretação
das falsificações e alterações de documentos, no que possam interessar
ao esclarecimento e à prova de questões de fato, a serviço da justiça,
tanto penal como civil. (RABELLO, 1996, p.104).

Figura 1. Quadro Explicativo.

Fonte: Elaboração própria da autora, 2021.

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A Grafoscopia é uma ciência que tem por objetivo precípuo verificar a autenticidade ou
determinar a autoria dos manuscritos. Ela se ocupa da análise desses escritos manuais.

Em regra, a grafoscopia se incumbe de dizer quem escreveu aquele documento, quem


preencheu determinado documento, Cheque, Contrato, Promissórias – autoria.

Mas tão mais importante que identificar a autoria e dizer também quem não escreveu
tais documentos é determinar o que chamamos de Autoria Negativa.

Figura 2. Perguntas frequentes.

QUEM ESCREVEU? QUEM ASSINOU?


OU
QUEM NÃO ESCREVEU? QUEM NÃO ASSINOU

Fonte: Elaboração própria da autora, 2021.

A Grafoscopia é também conhecida como Grafotécnica, Grafotecnia, Perícia Grafotécnica,


denominações sinônimas e aceitáveis no universo pericial.

Há literaturas que descrevem que a Grafoscopia é a parte conceitual, teórica e a


Grafotécnica é aplicação e análise do método (parte prática). Logo, a técnica de aplicação
da Grafoscopia na prática é chamada de Perícia Grafotécnica.

O Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias de Engenharia – IBAPE/SP – traz algumas


terminologias adotadas pela própria norma, dentre outras.

» Grafoscopia: é a disciplina que tem por finalidade determinar a origem do


documento gráfico.

» Documento Gráfico: é o suporte que contém um registro gráfico.

» Escrita: é o registro gráfico que deve conter elementos técnicos mínimos para a
determinação de sua origem.

Figura 3. Afirmativa sobre a grafoscopia.

A GRAFOSCOPIA É MOVIMENTO

Fonte: Elaboração própria da autora, 2021.

No início a grafoscopia era exercida sem nenhuma base científica, somente se baseava na
interpretação subjetiva do analista para determinar a falsidade documental, ou a autoria
da escrita. Com isso, a grafotécnica foi condicionada a delicados erros de conclusões

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levando a condenações injustas, como foi o caso real que ocorreu no exército França no
final de 1894, do capitão do exército francês Alfred Dreyfus.

Após passar por várias fases, a grafoscopia atualmente é fundamentada na experiência


técnico-científica, não se baseando tão somente nos aspectos morfológicos, mas sim,
como será visto mais à frente, no campo da moderna grafocinética, minucioso estudo
constitutivo dos traços.

Para saber um pouco mais sobre o capitão do exército francês Alfred Dreyfus, assista
ao Filme sobre o caso Dreyfus: “O Oficial e o Espião”, 2019.

1.1.1. Princípios fundamentais

1.1.1.1. Primeiro

Como será observada, a escrita é individual e inconfundível, pois ela é resultante dos
estímulos cerebrais. Apesar de a formação cerebral ser semelhante a todos, seus estímulos
são diferenciados e isso que causa a individualização da escrita.

1.1.1.2. Segundo

Apesar de algumas doutrinas dizerem que as leis do grafismo independem do alfabeto


utilizado, o que não deixa de ser uma verdade, o expert tem que conhecer esse alfabeto
(sistema caligráfico), apesar de não dar tanta importância a parte morfológica e sim aos
movimentos realizados durante a escrita.

Então se pode afirmar como princípio fundamental e norteador que o grafismo é


INCONFUNDIVEL E INDIVIDUAL. Pois não existirão dois grafismos iguais. Negar
essa individualização é negar o reconhecimento da personalidade humana, já dizia Del
Picchia, em seu tratado de Documentoscopia (2016, p. 127).

1.1.2. Leis do grafismo

As 04 (quatros) leis básicas do grafismo têm como postulado que a escrita independe
dos alfabetos utilizados, porém é prudente acrescentar que o perito tem por necessidade
conhecer os métodos utilizados no aprendizado daquele determinado alfabeto, para
poder ter um apanhado do limite de variações existente para aquele determinado punho.

As leis do grafismo, demonstradas pelo francês Solange Pellat, são de extrema importância
para o expert, pois elas sempre irão nortear seu trabalho de análise.

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De acordo com a doutrina do Del Picchia Filho (2016). São elas:

1ª Lei – O gesto gráfico está sob a influência de imediata do cérebro. Sua


forma não é modificada pelo órgão escritor, se este funciona normalmente
e se encontra suficiente adaptado à sua função.

2ª lei – Quando se escreve, o EU está em ação, mas o sentimento quase


inconsciente de que o EU age passa por alternativas contínuas de
intensidade e de enfraquecimento. Ele está em seu máximo de intensidade
onde existe esforço a fazer, isto é, nos inícios, e em seu mínimo onde o
movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas
extremidades.

3ª Lei – Não se pode modificar voluntariamente, em dado momento, a


própria escrita manual, senão introduzindo no traçado marca do esforço
que se fez para obter a modificação.

4ª lei - O escritor que age sob circunstâncias em que o ato de escrever


é particularmente difícil, traça instintivamente ou formas de letras que
lhe são mais costumeiras ou mais simples, de esquema mais fácil de ser
construído.

1.1.3. Requisitos

Os requisitos estão diretamente ligados aos Padrões de Confronto, e o que são esses
padrões? Na Documentoscopia as perícias são realizadas com base num confronto, ou
seja, a peça exame (questionada) X os exemplares padrões cedidos pelo seu autor. Logo,
para conseguir uma boa análise, é necessário ter uma excelente qualidade de padrões.

Para isso é necessário seguir alguns requisitos nos procedimentos de coletas e ter alguns
cuidados. Tais como: análise prévia da questionada, padrões coletados pelo próprio
examinador, a peça de exame nunca deverá ser exibida à pessoa que cede seus padrões,
é de bom tom conter os dados pessoais de quem a fornece, local, data.

Os paradigmas (padrões) para serem úteis e de boa qualidade, devem seguir os seguintes
requisitos essenciais, em regra:

» Autenticidade.

» Contemporaneidade.

» Adequabilidade.

» Quantidade.

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A Autenticidade é o requisito de maior importância, sem ele os demais se tornam sem


valor. O padrão autêntico é aquele que o expert tem certeza de que emanou do punho
de quem deveria ceder a grafia.

Há padrões que possuem sua autenticidade presumida, segundo o artigo 405 do Código
de Processo Civil brasileiro de 2015.

Existe a autenticidade ex-officio (fé pública), que se refere à autenticidade emitida pelo
perito, ou seja, quando o perito sabe da autenticidade da assinatura. E ela pode ser
indireta quando o perito tem a ciência de que as assinaturas são do punho escritor e
quando confrontada preliminarmente com os padrões gráficos coletados ou de origem
de outros documentos e na certeza de que foi identificada a autenticidade entre si.

Toda vez que o perito “desconfiar” da autenticidade presumida, documentos particulares,


por exemplo, deverá obrigatoriamente fazer ressalvas no laudo. Da seguinte forma:
“Documento de natureza xxx emitido pelo órgão xxxx, possui autenticidade presumida,
segundo o CPC/2015”.

Os padrões devem serem contemporâneos. Como será visto mais à frente, a escrita
manual sofre modificações ao longo das diversas fases que atravessa que vai de sua
evolução até seu declínio ou involução como costumam citar alguns autores. O Perito
deve buscar, além dos documentos e grafismos atuais, os de época próxima a peça que
está sendo questionada. Para com isso ter a percepção de sua evolução ou involução,
além de suas características invariáveis.

Esse conceito de contemporaneidade traz alguns entendimentos quanto ao tempo limite


que deve ser considerado. A maioria das doutrinas traz um prazo ideal que não exceda a
02 (dois) anos, dois anteriores e dois posteriores. Pois este é o tempo, segundo estudos,
que o ser humano pode levar para incorporar novas mudanças à sua escrita manual.

Deve-se sempre levar em consideração as causas modificadoras da escrita involuntárias.

A Adequabilidade entende-se por padrões produzidos da mesma forma ou condições


da peça questionada, por exemplo, se estiver à tinta, o padrão também deverá estar e
deverá reproduzir o mesmo espaço em que foi produzido o grafismo questionado, se em
papel (suporte) pautado ou sem pauta, assim deverá ser produzido também na coleta.

No que tange à Quantidade em uma coleta de padrões sempre será: quanto maior o
número de padrões coletados, melhor será análise do expert. Um perito nunca faz sua
análise 1x1.

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Há práticas condenáveis numa coleta:

» Nunca exibir as peças exame para quem vai fornecer os padrões.

» Exercer pressão de qualquer natureza sobre o escritor.

Boas práticas numa coleta:

» Acomodar a pessoa o mais confortável possível.

» Verificar se não está muito quente ou muito frio (interfere no grafismo).

» Se a pessoa usar óculos para perto, não deve coletar sem eles.

» Fornecer sempre o instrumento escrevente, mesmo que o fornecedor tenha o dele.


Poderá deixá-lo(a) usar instrumento dele(a), mas nunca deixe de coletar com o
seu próprio (perito) instrumento escrevente.

» Fazer ditado que se correlacione aos alógrafos a serem analisados.

» Dentre outros.

1.1.4. Idade gráfica

Fases de evolução das escritas

» Rústica (Inicial ou Primária).

» Escolar.

» Automatismo.

» Senil.

Para saber um pouco mais sobre a escrita rústica, ler no livro do Dell Picchia (2016,
p. 146), que descreve grafia rústica ou canhestra.

» Escrita escolar: na fase escolar, o grafismo é mais lento e com formas caligráficas.

Figura 4. Idade civil 12 anos (Escrita Escolar).

Fonte: Elaboração própria da autora, 2020.

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Figura 5. Idade civil 46 anos/Escrita Escolar.

Fonte: Elaboração própria da autora, 2020.

» Escrita Rústica ou Primária: é um traçado inexpressivo, arrastado, com má


formação e às vezes com supressão ou substituição de letras. Indecisão na orientação
do lançamento, pressão exagerada, tudo isso por falta de hábito e treino. Possui
dificuldades na evocação, ideação e execução dos símbolos.

» Escrita Automática: é a escrita desenvolvida com criatividade, o autor não se


preocupa mais com a morfologia, com as formas gráficas padrão, criando uma
simbologia própria, grafia madura.

» Escrita Senil: tremores e indecisões são típicos pela perda da tonicidade muscular
dos membros, além da diminuição dos impulsos cerebrais.

Figura 6. Idade civil 84 anos – Escrita Escolar.

Fonte: Del Picchia, 2016.

Idade Gráfica

Como verificamos diante das noções anteriores, não podemos confundir idade gráfica
com idade civil ou cronológica. Tem mais a ver com habilidade do membro escritor e
com as funções cerebrais. As modificações do grafismo podem ter muitos fatores que
serão pontuados mais a frente.

Idade gráfica nada tem a ver com a idade civil.

1.1.4.1. Cultura gráfica ou nível gráfico

A Cultura Gráfica nada tem a ver com o nível de escolaridade do escritor. Ela está
relacionada à habilidade que aquele punho desenvolveu durante o desenvolvimento
do escritor.

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A Cultura Gráfica, além de estar ligada à Idade Gráfica, também está relacionada ao grau
ou zonas de dificuldades que aquele punho escritor possui no todo ou em parte da escrita.

Quanto maior a dificuldade, maior também será seu esforço para adequação daquele
punho para executar determinado movimento. Muitas vezes poderá suprimir alguns
alógrafos, ter tremores, sobreposição dos traços, forte pressão, paradas e retomadas,
hesitações. Estes movimentos estão relacionados à baixa cultura gráfica que por sua vez
está relacionada à Idade gráfica rústica.

Já o punho que se movimenta com maior fluidez, automatismo, traços mais firmes,
afilados, traduzem uma Cultura Gráfica de média à alta.

» Média Cultura Gráfica: idade Gráfica Escolar.

» Alta Cultura Gráfica: idade Gráfica Madura ou Automatizada.

» Cultura Gráfica Decadente: idade Gráfica Senil ou Terciária.

E em que seria útil tal informação para o perito? O Perito de posse dessa informação
e diante da peça padrão X a peça questionada (exame) consegue comparar as idades
gráficas e suas respectivas culturas. Ou seja, uma escrita de baixa cultura gráfica não
pode ser atribuída a um escritor que tenha uma elevada cultura gráfica e vice-versa.

1.1.5. Morfologia gráfica

Antes da moderna grafocinética a morfologia era a base das análises grafoscópicas,


conhecida também como “processo homológico”. Era através dela que o expert se baseava
através do empirismo para suas conclusões.

A morfologia gráfica é o aspecto exterior do traço, sua forma, seu desenho. Esse conceito
está ligado ao sistema caligráfico aprendido de acordo com o Alfabeto Latino.

Nesse tipo de análise, na comparação morfológica, as diferenças morfológicas se


diferenciavam das variações naturais. Conforme se verá mais à frente, uma análise
baseada somente na morfologia não se fundamenta atualmente, torna-se uma análise
rasa sem seu cunho científico.

Dentro da morfologia gráfica cabe ao expert ter conhecimento do sistema gráfico existente
e não somente conhecer o alfabeto.

Quando um escritor inclui em seu sistema caligráfico modelos diferentes e pertinentes a


outros sistemas caligráficos, este terá uma formação de escrita conhecida como construção
EXÓTICA.

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1.1.5.1. Diferenças de formas

A letra é a unidade do alfabeto e o Traço é a unidade da escrita. O modelo de escrita


empregado nas cartilhas brasileiras é baseado no Alfabeto Latino. Normalmente elas
obedecem a dois esquemas: o de Imprensa (tipográfica ou de Forma) e o Cursivo.

No esquema cursivo ela poderá, fora desse esquema essencial, ter traços alongados ou
adicionados, traços ornamentais, de ligação e qualquer outro que traga o registro pessoal
daquele punho escritor.

Pode ser encontrado também o polimorfismo que ocorre quando quem escreve se utiliza
de mais de uma forma concomitantemente. Como por exemplo, cursiva e tipográfica ao
mesmo tempo. No entanto, as diferenças nas representações gráficas dos nomes não
são consideradas polimorfismos.

1.1.5.2. Qualidade do grafismo

Os elementos existentes em um conjunto gráfico o tornam individualizado e personalíssimo


(sinergia gráfica). Essa individualização gráfica só é possível através das minúcias
ou mínimos gráficos produzidos pelo punho escritor. Jamais essa particularidade se
reproduzirá em um punho diferente. Quanto mais distante dos modelos caligráficos,
mais individualizadas será a escrita.

1.1.6. Escrita

No Livro “Tratado de Documentoscopia da Falsidade Documental”, em sua 3ª. Edição,


Del Picchia (2016, p. 125) traz dois conceitos para ilustrar escrita e grafismo. São eles:

» “A escrita é definida como a representação gráfica do pensamento” (conceito amplo,


pois abrangeria toda e qualquer representação gráfica do pensamento humano,
dentre elas, as pinturas, desenhos rupestres, e outros).

» “Os grafismos ou manuscritos trata-se daquela escrita resultante do gesto executado


pelo homem na fixação de suas ideias” (conceito em sentido estrito).

Figura 7. Escrita e Grafismo.

E aí, FAZ ALGUMA DIFERENÇA para os peritos grafotécnicos?

Fonte: Elaboração própria da autora, 2021.

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Ainda de acordo com Del Picchia (2016, p. 126), “não basta um sinal gráfico representar
uma ideia para que o perito grafotécnico esteja diante de grafismo. É indispensável que
essas representações gráficas contenham característicos suficientes à sua identificação”.

1.1.6.1. 1.6.1.O que é escrita?

Podemos adiantar que a escrita não é um desenho, muito menos uma impressão gráfica.
Como assim? A escrita exige execuções complexas neuromotoras para sua formação e
devido a essas complexidades seu aprendizado exige um longo tempo de treinamento.
Durante esse treinamento a escrita passa por algumas fases, também conhecidas na
grafoscopia como idade gráfica (supracitada).

Diante disso, podemos afirmar que a Escrita Manual é uma Competência Biológica,
Comportamental e Biométrica.

A escrita é um registro ou gesto gráfico, trata-se de uma característica aprendida e não


inata ou genética. Logo, a escrita é um comportamento habitual do indivíduo e quanto
mais praticada mais evoluída será.

A escrita envolve um complexo sistema humano que envolve a parte motora (músculos
e nervos) e o sistema cerebral. Logo, tem-se o sistema neuromotor envolvido na escrita.
Tratando-se de uma competência Biológica.

Essa combinação “neuro + motora” torna a escrita única, pois quem escreve é o cérebro.
Tornando a escrita única e individual, singular. É um dado Biométrico importantíssimo e
peculiar. É um dado biométrico “mutável”, sofre variações naturais até porque ninguém
escreve 2X da mesma forma, diferentemente das digitais. Essa é a beleza da escrita no
mundo das ciências forenses.

Para a grafotécnica a escrita é um gesto gráfico com um número de elementos que


possibilita sua individualização. Como bem pontua Solange Pellat, o gesto gráfico está
sob a influência do cérebro.

A produção da escrita passa por algumas fases, como dito anteriormente, referente à
primeira lei do grafismo, ela emana da influência cerebral. Portanto, para se executar
uma escrita ela terá 03 momentos. São eles: Evocação, Ideação e, por fim, a Execução.

» Evocação: a evocação, como o próprio nome traduz, é o que traz à mente o que
está armazenado na memória à medida que vamos acumulando aprendizados. E
em relação à escrita, traz à mente os símbolos caligráficos aprendidos no decorrer
da trajetória de vida. Só se consegue evocar o que é aprendido. Uma pessoa não

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conseguirá evocar uma escrita que não faça parte de sua vivência, como por exemplo,
outro sistema caligráfico.

» Ideação: ainda no ambiente da memória, como a evocação, a ideação é a parte do


planejamento para a execução do grafismo. Aqui o executor coloca em prática toda
a sua criatividade, personalidade e individualidade. E aqui se manifesta a gênese.

» A gênese gráfica é o estudo do movimento do punho escritor determinado por


impulsos cerebrais. Ela é constituída pelo planejamento, direção, tendência de
punho e, por fim, a forma gráfica ideada pelo escritor.

» Planejamento: está intimamente ligado aos momentos gráficos que aquela


escrita possui.

» Direção do traço: é a orientação de sentido que o escritor dá ao seu escrito,


podendo ser dextrovolvente, sinistrovolvente, ascendente, descendente.

» Tendência de punho: está relacionada à forma do traço que pode ser curvilíneo,
retilíneo ou misto.

» Execução: a execução ou sinergia é o ato de colocar em prática o que foi evocado


e ideado. Ou seja, transferir para o suporte a grafia. E essa qualidade da execução
estará na evocação e na ideação, se acontecer uma falha em qualquer uma das duas
fases será refletida na execução.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, C. GI – MS. CARIBEL NEWS. Carta anônima, 2017.

DEL PICCHIIA, J. F.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia
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DINAMARCO, C.R. Instituições de Direito Processual Civil. VIII. 5ª Ed. Versão atual. São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 564.

FBI. Departamento Federal de Investigação. Uma nova era de segurança nacional, 2001-2008. Site
oficial do Governo dos EUA, 2021.

FERNANDES, J. R. Perícias em Áudio e Imagens Forenses. São Paulo: Editora Millennium, 2014.

FEUERHARMEL, S. Análise Grafoscópica de Assinaturas. São Paulo: Editora Millennium, 2021.

GOMIDES, T. L. F; GOMIDES, L. Manual de Grafoscopia. 3ª ed. São Paulo: Editora Leud, 2016.

GONDRA, M. E.; GRÁVALO, G. R. Análise Forense de Documentos Instrumentos de Escrita


Manual e suas Tintas. Vol. I. São Paulo: Editora Millennium, 2012.

MENDES, L. B. Documentoscopia. São Paulo: Editora Millennium, 4. ed., 2015.

MIRABETE, J.F. Manual de Direito Penal. Vol. 3. 20ª Ed. rev. atual. São Paulo: Atlas 2005, p.238.

MORY, K. Treinamento dos Elementos Formadores. São Paulo, SP, 2020.

RABELLO, E. Curso de Criminalística: sugestão de programa para as faculdades de direito. Porto


Alegre: Sagra DC. Luzzatto, 1996

SIMÕES, E.; FEUERHARMEL, C. S. Documentoscopia: aspectos científicos, técnicos e jurídicos.


Campinas: Millenium, 2014.

Imagens
https://www.fbi.gov/history/brief-history/a-new-era-of-national-security. Acesso em: 19 out. 2021.

http://www.caribelnews.com.br/ler.php?id=5594. Acesso em: 15 nov. 2021.

Sites
https://www.ibape-sp.org.br/adm/upload/uploads/1608314202-Norma%20de%20Pericias%20
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