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6 - PADRÕES GRÁFICOS

As análises grafoscópicas se dão por meio de comparações entre manuscritos com objetivo de identificar a autoria
(questionados) e aqueles cuja autoria seja conhecida - os padrões gráficos.

A função destes escritos padrões é permitir ao perito identificar os hábitos gráficos de uma determinada pessoa que se
suspeite a autoria.

Portanto, o sucesso da grafoscopia dependerá basicamente de três fatores:

• 6.1 - Características dos escritos questionados: este dificilmente poderá ser melhorado ou aperfeiçoado, já que não
se pode escolher quais documentos serão examinados;

• 6.2 - Capacidade técnica do perito: este depende de vários anos de estudo e trabalho prático para que tenha
condições de atuar com eficiência, mas nunca mudará sua natureza humana, limitada e passível de falhas.

• 6.3 - Qualidade dos padrões gráficos: é o único que pode chegar perto da perfeição, sem que imponha alguma
limitação aos trabalhos. Existem basicamente dois tipos de padrões gráficos: 6.3.1 - Padrões fornecidos sob demanda:
produção solicitada especialmente para a realização de uma perícia grafoscópica, com conhecimento do fornecedor;

OS: Padrões naturais: escritos sabidamente produzidos por uma pessoa durante sua vida normal, independente de estar
implicada com as questões que motivaram a perícia.
Os padrões sob demanda permitem que se obtenham textos com a mesma composição dos questionados, na
quantidade que se julgue necessária, e tantas vezes quanto for preciso.

O ideal é em torno de 20 assinaturas. No entanto, tais padrões estão sujeitos a diversas variações que podem ocorrer,
desde aquelas de natureza psicológica, em virtude do estresse emocional que o fornecedor pode sentir durante sua
produção até as variações intencionais: os disfarces gráficos.

Além disso, se o documento for antigo, esses padrões podem não mais corresponder plenamente à escrita da época em
que o documento questionado foi produzido, tornando-os não contemporâneos.

Falecimentos ou não localização do fornecedor ou sua recusa também são fatores impeditivos ao fornecimento de
padrões gráficos.
 
Já os padrões naturais normalmente não sofrem grande influência de fatores psicológicos e, em tese, estão livres de
disfarces gráficos.
 
Porém, na prática jurídica, em muitos casos a perícia grafotécnica fica prejudicada pela dificuldade ou impossibilidade
de obter padrões naturas contemporâneos de assinaturas questionadas.
 

Para que se exerça satisfatoriamente sua função, os padrões gráficos devem atender os seguintes requisitos:
 

• A - Autenticidade: certeza da origem = fidedignidade. Peças oriundas de pessoas qualificadas a produzi-las. Elas
podem ser colhidas na presença do perito (peças testes) ou antes da solicitação, sem intenção pericial (peças
padrão), sendo as duas peças de confronto.

OBS: Cartões de assinatura em cartórios de notas, apesar da autenticidade presumida por lei, não são inteiramente
confiáveis, já que também são passíveis de falsificação.
 
B - Adequabilidade: são as peças de confronto que exibem as mesmas condições do grafismo questionado. Na peça teste,
o perito deve tomá-la em condições análogas às da peça questionada.
 

EXEMPLO:
Peça teste feita com caneta esferográfica e papel com pauta - o material colhido deve seguir estas mesmas condições. Isso
vale também para o tamanho do espaço, etc.

Estas condições permitem ao perito observar características decorrentes das modificações do grafismo habitual,
principalmente em relação ao calibre.

C - Contemporaneidade: são peças produzidas em datas próximas, já que a escrita vai sofrendo alterações como
evoluções, inovações e modismos ao longo da vida. Datas muito distantes podem evidenciar tais alterações.

D - Quantidade: quanto mais peças de confronto, melhor será a confiança na perícia, pois o perito terá mais condições de
interpretação correta das variações acidentais, modismos e outras alterações existentes. Pode ser através de textos ou
assinaturas ditados pelo perito e sugere-se a coleta de pelo menos 20 padrões para confronto.

 
E - Espontaneidade: diz-se do ato natural de escrever, onde a atenção do escritor se volta para o conteúdo do texto e não
para o formato de letras e palavras. Nestas condições, o grafismo é uma ação quase inconsciente e os manuscritos são
produzidos de forma natural e espontânea, evidenciando hábitos gráficos normais do escritor.
7- ELEMENTOS GRÁFICOS
“A escrita é a expressão muscular do centro nervoso do grafismo.”
 
Se a manifestação do grafismo está intimamente ligada aos estímulos enviados a partir do sistema nervoso central e que este
processo varia de pessoa para pessoa, pode-se afirmar que a escrita apresenta elementos personalíssimos que individualizam
o punho escritor.

São eles:
 
• A - Elemento dinâmico: representa a sucessão dos movimentos determinados por comandos por comandos cerebrais
que dão origem à forma.

• B - Elemento estático: representa a forma gráfica, ou seja, o desenho gerado pela manifestação muscular e, por isso,
está sujeita às alterações voluntárias do escritor.
 
Este elemento não é individualizador e, por isso, diz-se que é o aspecto mais consciente da escrita. Neste sentido, deve-se
ter atenção para não confundir forma e gênese. Os símbolos abaixo ilustram a diferença:

• As circunferências acima são idênticas, ou seja, apresentam a mesma forma, mas não a mesma gênese.

• No exemplo A, o movimento foi produzido da direita para a esquerda. Já o exemplo B foi produzido no sentido da
esquerda para a direita
8 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

A perícia grafoscópica, em geral, implica em confrontos entre uma ou mais peças de que se deseja descobrir a autoria
(peças questionadas) e outras de autoria conhecida (padrão gráfico).

Porém, esta tarefa vai além da simples comparação ou busca por semelhanças e diferenças. Trata-se de um estudo
aprofundado e abrangente dos hábitos gráficos registrados nas duas peças (tanto a padrão quanto a questionada).

Hábitos gráficos são ações rotineiras e repetitivas, como mecanismos inconscientes, que o escrevente executa ao longo
da onda gráfica e, muitas vezes, nem se dá conta dos gestos-tipo que vai deixando registrado no papel.

Estes traços individuais são os que diferenciam sua escrita de todas as outras escritas do universo.

Quando se tem um único exemplar da escrita, seja a padrão ou questionada, torna-se difícil identificar hábitos gráficos.

Neste sentido, a fim de se ter maior margem de segurança na análise, deve-se trabalhar com uma grande quantidade de
escritos, com repetição de frases, palavras ou assinaturas.

Assim, a análise será feita com base nos hábitos gráficos, e não em características, aumentando então a eficiência do
exame.

Além disso, é sugerido analisar separadamente cada grafismo que será confrontado, para então confrontá-los entre si.

Neste momento, o perito vai estar mais familiarizado com seus elementos identificadores, tendo, inclusive, alguma
noção das características que devem ganhar mais peso e quais delas são mais freqüentes ou mais raras.

PS: Vale ressaltar que na maioria das perícias há confrontos que envolvem somente escritas de autoria desconhecida,
onde só é possível identificar se há ou não unicidade de punho.
Para evitar procedimentos desnecessários e conseqüente perda de tempo, vale adotar uma metodologia que não
comprometa a qualidade da perícia, a saber:

A - Ao analisar os escritos questionados, deve-se observar não só todo o documento como as circunstâncias em
que supostamente foi produzido, evitando se restringir à analise do grafismo.

Fato importante a ser considerado junto às circunstâncias do documento são as alegações das partes envolvidas.

O prévio conhecimento das histórias contadas pelas partes é fundamental para o perito, não apenas para
comparar com o resultado de seu trabalho, mas principalmente para buscar dados que corroborem ou
contradigam o que foi declarado por elas.

• A área da Grafo-Psicologia é uma base importante que tem muito a contribuir com a perícia judicial. Trata-
se de uma ciência humanista que estuda a personalidade a partir de registros gráficos. Entretanto, esta
aplicação somente deve ser feita com conhecimentos profundos da psiquiatria, psicologia e antropologia.

• A grafo-psicologia judicial pode ser aplicada como especialidade de utilização forense no diagnóstico da
personalidade para investigação de estado anímico ou de determinadas patologias que podem ser objeto do
caso em questão.

• Certos gestos-tipo também podem aparecer por descuido do falsificador e a Grafologia irá sinalizar uma
personalidade dissimulada.

• Entretanto, é preciso estar atento para não se influenciar no sentido de atribuir a responsabilidade à pessoa
que grafologicamente apresenta maior predisposição à falsidade.
Esta 1ª etapa inclui verificar a natureza e a morfologia da peça questionada: se se trata de uma
assinatura ou textos diversos, se está em estilo cursivo ou letras desligadas, tamanho do campo gráfico,
etc.

• B - Observar a natureza e a importância do documento questionado, que pode sinalizar o quanto


alguém estaria disposto a investir tempo e dinheiro para imitar ou disfarçar a escrita de alguém.

• C - Buscar sinais de raspagens, acréscimos ou sulcos gerados por outros manuscritos; identificar
existência de retoques, sinais de hesitação, paradas, etc;

• D - Verificar a homogeneidade dos grafismos quanto ao instrumento escritor, estilo de escrita,


calibre, pressão, etc;

A partir destas observações, parte-se para o confronto utilizando equipamentos adequados como lupas,
microscópio ou tela de computados, que permitam ampliações das imagens. Neste confronto também
são analisados inclinação, alinhamento, espaçamentos, remates, etc.

A comparação e a avaliação são etapas feitas em conjunto, pois tudo o que for comparado precisa ser
simultaneamente ponderado. Comparar duas escritas consiste em verificar se os elementos
discriminadores (verificados na fase da análise) são convergentes ou não.

Esta comparação irá resultar numa relação quantitativa de divergências e semelhanças, onde cada
característica identificada numa escrita deve ser comparada com o que existe na outra. Todas as
avaliações feitas no documento padrão devem ser feitas na peça questionada.

PS: Nas falsificações servis, as convergências superam as divergências. A razão disso é que o falsário
prima por não deixar divergências, enquanto que o titular da assinatura não se importa se ela sai um
pouco diferente.
José Balbuena Balmaceda, em sua obra FIRMAS AUTÉNTICAS Y DETECCIÓN DE FIRMAS FALSAS,
defende:

• “As diferenças de forma de duas firmas que apresentam movimentos equivalentes fará pressupor a
normalidade, provavelmente a autenticidade....”

• “É correto pensar que todo imitador de firmas, busca prioritariamente que ela se pareça o máximo
possível com os modelos autênticos. Certamente, quanto mais parecida a firma falsa, mais seguro
se sentirá de lograr seu intento. Se a firma falsa lhe sai diferente da autêntica, tentará outra vez e,
finalmente, guardará a que sela mais semelhante à autêntica. Como conclusão, então, podemos
afirmar que: todo falsificador busca executar a firma o mais parecida com as autênticas....”

• “Estas constatações nos permitem afirmar que: se há diferenças entre questionadas e autênticas,
essas diferenças podem provir mais do que tudo do seu titular.” (id.Ibd.PG.200)

No livro TRATADO DE DOCUMENTOSCOPIA, SILVA & FEUERHARMEL advertem:

• “Se houver numerosas e significativas convergências entre as características dos escritos padrões e
questionados, pode-se até mesmo concluir por unicidade de punho; a despeito da falta de
contemporaneidade...

• Já em uma situação oposta, isto é, no caso de serem encontradas muitas divergências, é preferível
não emitir conclusões sobre autoria.”

Esta relação pode ser verificada até mesmo por leigos, mas somente um estudo mais aprofundado será
capaz de sinalizar o grau de relevância de cada aspecto, tornando, assim, a avaliação a fase mais crítica
da perícia.

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