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CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA PSICANALÍTICA NA EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO HUMANO COMO ESTRATÉGIA PARA FORMAÇÃO DA


PERSONALIDADE DO ALUNO MOÇAMBICANO

Armando Domingos1

Resumo

O presente artigo visa analisar a contribuição da teoria psicanalítica na Educação e Desenvolvimento


Humano como Estratégia para Formação da Personalidade do Aluno Moçambicano. Para materialização
deste objectivo, recorremos a Pesquisa Bibliográfica, que ajudou-nos na pesquisa de livros e artigos
científicos renomados à Teoria psicanalítica que contribui na personalidade do aluno. Quanto à
conclusão do artigo, importa explicitar que, a teoria psicanalítica é extremamente preponderante para a
contribuição na educação e desenvolvimento humano como estratégia para formação da personalidade
do aluno moçambicano, visto que, ela permite-nos compreender a mente do aluno como que funciona
através da articulação das componentes da formação de personalidade (id, ego e superego). Nesse
processo a família exercer um papel preponderante na educação de modelos de convivência social, e
posteriormente a escola, de maneira cientifica ensina e educa subsidiando dos conhecimentos do
currículo local de forma efectiva, para não estar descolocada com a realidade do aluno, visto que ele já
tem traços de personalidade do seu ambiente familiar. Ao inconsciente, importa salientar que, a teoria
psicanalítica contribui bastante para consciencializar-nos sobre os processos psíquicos e chamar atenção
aos professores sobre a sua prática educativa para não ficarem refém simplesmente ao planificado,
portanto precisam ser flexíveis para perceberem o lado inconsciente dos seus alunos, por fim, deixar
claro, que a perspectiva psicanalítica, realmente, não dispõe de metodologias de ensino para proceder-
se a prática educativa, mas sim referencial de conhecimento para compressão do ser humano.

Palavras-Chave: Aluno, Educação, Personalidade e Teoria Psicanalítica.

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1
Licenciado em Ensino Básico, atualmente Mestrando em Desenvolvimento Humano e Educação na Universidade
Jean Piaget, Beira, Docente da Universidade Púnguè em Chimoio afecto na Faculdade de Educação. E-mail:
armandodomingos2015@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo debruça sobre “Contribuição da Teoria Psicanalítica na Educação e


Desenvolvimento Humano como Estratégia para Formação da Personalidade do Aluno
Moçambicano”, pretende analisar a contribuição da teoria psicanalítica na formação da
personalidade do aluno moçambicano.
Para efectivação do objectivo deste artigo, recorremos a Pesquisa Bibliográfica, que
ajudou-nos na pesquisa de livros e artigos científicos renomados à Teoria psicanalítica que
contribui na personalidade do aluno.
De salientar que, a teoria psicanalítica de Freud procura enfatizar os conflitos que o
inconsciente apresenta no ser humano e os impulsos do id face as exigências da sociedade (ego
e superego) na sequência articulada das fases do desenvolvimento psicossexual (oral, anal,
fálica, latência e genital).
A escolha do tema deve-se pelo facto de constituir-se uma grande preocupação ao
governo, professores e pais e/ encarregados de educação sobre certas atitudes desajustadas às
normas e valores vigente na sociedade moçambicana em que os alunos apresentam, por
exemplo: muitos alunos fumam, roubam, agridem fisicamente e verbalmente aos outros,
práticas de relações sexuais precoces, pesar disso, os professores desempenham a sua função
de educá-los em prol da contribuição para formação da sua personalidade.
O tema interessou-nos ainda porque na qualidade de professores e educadores com
habilidades e conhecimentos do curso de Ensino Básico, sentimos capazes de contribuir para
inversão desta situação a partir deste artigo.
De referir que, nos jornais, na televisão e na nossa prática educativa, temos assistidos e
constatados que muitos professores enfrentam dificuldades na contribuição para formação da
personalidade do aluno, nessa perspectiva, eles ficam frustrados por não se refletirem nos seus
alunos, os valores, aptidões e normas que regem a vida social condigna, daí que surge a seguinte
questão norteadora: Que contribuição tem a Teoria Psicanalítica na educação e
desenvolvimento humano para formação da personalidade do aluno moçambicano?
O presente artigo obedece a seguinte estruturação com vista a facilitar a compreensão:
primeiro capítulo é da introdução, o segundo é da Revisão da Literatura e o terceiro é de
conclusão e por fim temos as referências bibliográficas.

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2 REVISÃO DA LITERATURA
Procuramos conformar um quadro teórico-conceitual na perspectiva de sustentar
cientificamente o trabalho, tendo sido realizada a revisão de literatura diversa relacionada de
forma específica com a contribuição da Teoria Psicanalítica na Formação da Personalidade do
aluno Moçambicano.
2.1 Conceitos básicos
Tomaz (2011), diz que, Freud concebe a teoria psicanalítica como sendo o estudo da
vida psíquica e mostra que o homem não possui consciência sobre tudo o que acontece em seu
psíquico, pois existe uma componente inconsciente que determina a sua vida.
Nesse âmbito, a maioria das ansiedades do ser vivo são causados através do seu
inconsciente, razão pela qual, torna muito difícil ultrapassa-las. Neste contexto, a psicanálise
procura subsidiar-nos a compreensão atinente aos nossos conflitos emocionais inconscientes,
indagando-nos questões direcionadas a solicitar recordações esquecidas por muito tempo.
De acordo com Baptista (2010, p.4), a teoria psicanalítica de Freud concebe a
personalidade como sendo um conjunto dinâmico constituído por componentes em conflito,
dominadas por energias inconscientes e a sexualidade.
Fadiman & Frager (1986), salientam que existem na teoria psicanalítica as seguintes
componentes: inconsciente, o pré-consciente, consciente.
Inconsciente, a primeira componente de Freud era de que existe congruência entre
todas eventualidades mentais, pelo que, um pensamento quando assemelha não estar coerente
aos sentimentos que são manifestados, as relações estão justamente na componente
inconsciente. Sendo que, os laços dos inconscientes aparecem quando o progresso desse
processo não está resolvido. (idem)
No inconsciente existem componentes instintivas, que nunca foram conscientes e que
não são acessíveis à consciência. Como se não bastasse, existe material que foi excluído da
consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é
permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas
simplesmente indiretamente. Muita componente da consciência é inconsciente.
Pré-consciente, especificamente salientando, a componente pré-consciente é um
elemento do inconsciente, mas um elemento que pode tomar-se consciente com faculdade. As
dimeções da mente que são acessíveis fazem parte do pré-consciente. Estas podem incorporar
recordações de tudo o que fizemos ontem.

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E, no diz respeito ao consciente compreende simplesmente uma pequena componente
da memória, que contempla tudo do que estamos cientes num dado momento.
Fazendo análise profunda das componentes em alusão da teoria psicanalítica, Freud
enfatizou mais a componente inconsciente do ser humano, de que a grande parte da nossa
consciência é formada por inconsciente, daí que, urge a necessidade aos professores na sua
pratica educativa, olhar também o lado inconsciente do aluno sub risco de empreender muito
esforço e não terem bons resultados.
2.2 Estrutura da personalidade
Cunha (2008), diz que, na concepção de Freud, a personalidade é formada por três
componentes: id, ego e superego.
O id, incorpora os impulsos inatos, desejos, sentimentos básicos do homem. O id
contempla energias chamadas por Freud de pulsões que condiciona biologicamente os
determinantes de desejos e necessidades que não reconhecem qualquer norma socialmente
estabelecida. Portanto, id é inato, ao passo que as duas outras partes da personalidade se
desenvolvem no decorrer da vida da pessoa.
Relativamente ao ego, significa exatamente “eu”, no entanto é a componente da
personalidade que surge através do contato com o ambiente que cerca o homem. Neste
contexto, ele observa as leis e regras socialmente aceites como também, garante a gestão de id
na nossa convivência social.
Quanto ao superego, corresponde uma componente das normas, leis e princípios morais
da sociedade em que o homem é educado. Nesse contexto, o superego constitui uma chamada
de atenção para o homem sobre comportamento socialmente aceite e não aceite.
Em conformidade ao exposto acima, compreendemos que há uma relação muito forte
entre as componentes que formam a personalidade (id, Ego e Superego), justamente porque id
manifesta impulsos e desejos que por sua vez são regulados pelas exigências da sociedade (Ego
e Superego), importa salientar que, o superego é o alerta sobre o comportamento moralmente
aceite na sociedade.
Exemplo disso, é na fase fálica concretamente no complexo édipo, onde o menino sente
mais afecto com a sua mãe, neste caso estamos a falar dos sentimentos, com isso desejando
matar o seu pai para ele ficar com a mãe (Id), mas por causa de castra irá temer o seu pai e de
ser menosprezados pela sociedade por essa prática, nesse caso a criança nessa fase estará a
desenvolver o Superego porque sabem que se matar o seu pai é comportamento moralmente

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não aceite pela sociedade.
2.3 Fases de desenvolvimento psicossexual

Gusmão (1994), diz que:


"Freud considerou o critério afetivo, que corresponderia ao comportamento do
indivíduo frente aos seus objetos de prazer e dividiu esse desenvolvimento em fases
sucessivas, atribuindo a cada uma delas um nome ligado a parte do corpo que parecia
dominar o hedonismo naquela ocasião. Todo o desenvolvimento seria marcado por
essas fases que se caracterizariam sobretudo pela mudança do que é desejado em cada
uma e pela maneira como esses desejos são atingidos".

Segundo o mesmo autor, Freud considerou como fases de desenvolvimento


psicossexuais as seguintes:
a) Fase oral (0-18 meses), grande parte da energia sexual é direcionada para os lábios e a
língua, tornando-a, portanto, a primeira zona erotogênica, uma vez que é esta a primeira
parte a ser dominada pela criança. Nela o prazer está associado, primeiramente, ao
processo de se alimentar.
São as marcas adultas de fase oral de desenvolvimento psicossexual quando existem
muitos hábitos orais bem desenvolvidos e um interesse contínuo em manter prazeres
orais: comer, chupar, mascar, fumar, morder, sarcasmo do adulto, o arrancar o alimento
de alguém, a fofoca e lamber ou beijar com estalo, são expressões físicas destes
interesses. Pessoas que mordicam constantemente, fumantes e os que costumam comer
demais podem ser pessoas parcialmente fixadas na fase oral, pessoas cuja maturação
psicológica pode não ter se completado. (Fadiman & Frager 1986)
b) Fase anal, (18- 3anos), quando a energia é grandemente direcionada para o ânus, que
passa a ser a nova zona de prazer: o ato de defecar ou reter as fezes passa a provocar
prazer sexual.
As características adultas da fase anal que estão associadas à fixação parcial na fase anal
são: ordem, parcimônia e obstinação. Freud observou que esses três traços em geral são
encontrados juntos. Ele fala do "caráter anal" cujo comportamento está intimamente
ligado a experiências sofridas durante esta época da infância. (Fadiman & Frager 1986),
c) Fase fálica (3-6 anos), cuja zona erotogênica é formada do pênis ou do clitóris. Segundo
Freud, essa fase é caracterizada de fálica porque nesse período do desenvolvimento -
em torno de três a seis anos - ela se dá conta do seu pênis ou da sua ausência nas meninas.
Estas três fases constituem as fases pré-genitais da sexualidade e o prazer obtido auto-
erógeno. Tomaz (2011), refere que, são marcas adultas da fase fálica, a personalidade
bipolar e falta de maturidade no plano afectivo.

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d) Fase latência (6-11 anos), ocorre quando a sexualidade pré-genital se extingue. O
jovem em maturação apresenta uma vida sexual quase que exclusivamente limitada as
suas fantasias e passa a dedicar-se mais as atividades culturais. O retardo da maturação
sexual é, de certo modo, uma garantia contra o incesto, pois está só deverá ocorrer
quando a criança tiver condições de respeitar o tabu cultural defendido pela sociedade.
e) Na fase genital (após a puberdade), os impulsos sexuais são despertados pelas
mudanças hormonais que ocorrem no organismo do púbere. “Nesse estágio, idealmente,
a sexualidade, abrangendo as três zonas pré-genitais e a afeição podem ser
combinada”(Kline 1988, cit in Gusmão 1994, p.2) Esta fase atinge a sua plenitude por
volta dos dezessete e dezoito anos.
Tomaz (2011), salienta que, são marcas de vida adulta da fase genital: a capacidade de
amar e cuidar ultrapassagem da sexualidade auto – erótico.
Olhando para abordagem acima, é importante ficarmos consciencializados que, a não
satisfação plena de uma das fases do desenvolvimento psicossexual, pode repercutir na fase
adulta, na mesma sequência a satisfação parcial duma determinada fase no indivíduo pode
efetivamente apresentar marcas insatisfeitas na vida adulta, o que quer dizer que, vai depender
de indivíduo para indivíduo.
Nesse âmbito, essas fases visam essencialmente abrir o nosso horizonte como
professores e educadores para orientar a prática educativa mediante a devida atenção aos nossos
alunos articular os conteúdos de aprendizagem com a fase em que os alunos se encontram em
prol da contribuição da formação da personalidade do nosso aluno.
2.4 Concepção psicanalítica no processo de ensino e aprendizagem para formação da
personalidade do aluno
Cunha (2008, p.16), explica que, fala-se muito e até se firma na legislação educacional,
que uma das tarefas da educação escolar é contribuir para a formação da personalidade da
pessoa. Sob o prisma da Psicanálise, essa pretensão deve ser relativizada, pois os alicerces do
caráter do indivíduo já se encontram firmados quando ele vai pela primeira vez à escola.
Em harmonia com Sousa & Dias (2014):
A psicanálise e a educação ao caminharem juntas a uma abordagem da criança com
problemas de aprendizagem, instigam cada vez mais psicanalistas e educadores a
refletir nos impossíveis de suas práticas, registrando aqui o desejo de que esses
profissionais, na busca dos modos de como fazer, sejam cada vez mais operativos e
assim se pautem na educação para o sujeito e a educação do futuro.
Directa e indirectamente , neuróticos todos somos, ensina a teoria psicanalítica, uma vez
que temos desejos reprimidos, a todo momento, interferindo em nossa vida consciente e, muitas
vezes, provocando desconforto, portanto, grande parte de nossos desejos e motivos conscientes,
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que julgamos conhecer e dominar, não passam de simulacros daquilo que habita nosso
inconsciente. (idem, p.4),
Cunha (2008, p.4), critica a relação pedagógica entre o professor e o aluno que muitas
vezes se resume apenas:
“À escolha de um bom método de ensino, um planeamento adequado das matérias e
um certo conhecimento das competências intelectuais dos aprendizes, porem a
educação escolar é assim apenas na aparência, mostra a Psicanálise, pois as questões
objetivas – método, planejamento, conteúdos das matérias etc. – são o que menos
importa no ato de educar. Os ensinamentos psicanalíticos dirigem nossa atenção para
o vasto e complexo mundo subjetivo oculto no interior de professor e aluno, cada qual
sofrendo constantemente a pressão de seus respectivos desejos, muitos dos quais
atingidos pela repressão”.
O professor psicanaliticamente orientado deve observar as atitudes conscientes de seus
alunos, como também as suas, procurando desvelar os desejos escondidos por trás delas. O
professor que aceita o paradigma psicanalítico está sempre interessado em ir além de ministrar
uma boa aula – no sentido técnico da expressão. Seu olhar volta-se constantemente para os
motivos desconhecidos que o levam a estar ali, as possíveis razões que o motivam a relacionar-
se com seus alunos desta ou daquela maneira. Ele é um profissional que tende a valorizar menos
a manutenção do bom comportamento de seus educandos e mais a livre expressão das crianças
e dos jovens que estão sob os seus cuidados. (idem)
Leite (2011), apresenta como um dos resultados do seu estudo relativamente a
importância a psicanálise à educação escolar:
“Verificou-se ser possível a transmissão deste saber ao professor, o qual acrescenta
novos elementos ao seu pensar sobre a importância para a aprendizagem das relações
que se estabelecem no cenário educativo. O saber da Psicanálise pode contribuir para
trazer para o ideal de normatização a impossibilidade estrutural da Educação, abrindo
para a consideração da Castração e, a partir disso, criar um espaço para acolher o
desejo dos Sujeitos implicados no processo. Assim, concluimos que a contribuição da
Psicanálise à Educação escolar existe e ela se dá no campo da ética, implicando em
uma mudança na postura dos que são afetados por ela”
O professor que conhece a Psicanálise sabe que o conhecimento está sempre permeado
pelo desejo. Se os fenômenos que dizem respeito ao ensino e à aprendizagem possuem, por um
lado, componentes inscritos no campo intelectual, possuem também toda uma carga emocional,
em grande parte inconsciente. E isso tem a ver tanto com o universo psíquico do professor,
detentor e transmissor dos saberes formalizados, quanto com o do aluno, para quem estes
saberes são destinados. (Cunha, 2008, p.4)
Com isso, pudemos verificar a importância de se estar atento e da cautela que se deve
ter ao se enunciar um discurso a outro campo do conhecimento, ainda mais em se tratando da
Psicanálise, que possui uma forma tão específica de ser apreendida e de afetar o sujeito. (Leite
2011)

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Corroborando com Ribeiro, (2014), nos seus resultados sobre a contribuição da
psicanálise para a educação face a transferência na relação professor/aluno, ressalta a vertente
psicanalítica como ferramenta útil para os professores. Nesse diálogo entre as duas áreas,
evidencia-se o efeito do olhar psicanalítico sobre as questões educacionais, desvelando o papel
desempenhado, através das práticas educativas, na constituição e no protagonismo do sujeito
na questão do desenvolvimento humano.
Conforme a discussão acima exposta, a psicanalítica no processo de ensino e
aprendizagem visa criar condições essenciais ao professor e todos implicados ao campo
educativo na compreensão do desenvolvimento da criança e do adolescente para saber lidar
com eles de forma requerida, visto que, a teoria psicanalítica no campo educativo visa
estabelecer a ética (as boas maneiras de ser do indivíduo). Essa abordagem alinha-se melhor ao
nosso artigo justamente por causa das duas premissas que estamos a discutir, a psicanalítica e
personalidade, sendo que precisam haver diálogo permanente, no sentido de trazerem soluções
na mudança significativa na maneira de conceber a prática educativa.
2.5 Estudos realizados sobre a Teoria Psicanalítica na Educação e Desenvolvimento
Humano
Carneiro (2018), no seu artigo analisa duas áreas do saber: psicanálise e educação,
tentando aproximar dois campos que olham o mesmo fenômeno de maneiras diferentes, levando
em consideração o inconsciente de cada sujeito e colocar em acção as contribuições da
psicanálise para a educação, considerando, primeiramente a Psicanálise em diálogo com a
Educação, e mostrando que o ato de educar não se restringe simplesmente a uma transmissão
de informações e conteúdos, mas implica diretamente o professor e o aluno como sujeitos na
construção do conhecimento.
A abordagem em alusão enquadra-se na perspectiva contemporânea de olhar a
educação para desenvolvimento humano, por conseguinte a formação da personalidade dos
alunos, visto que o ensino pressupõe criar condições para que o aluno construa o seu
conhecimento descontruindo o papel tradicional do professor como protagonista de
conhecimento como diz Carneiro (2018), ensinar não consiste em aplicar cegamente uma teoria
é, antes de mais nada, resolver problemas, tomar decisões, agir em situações de incerteza e,
muitas vezes, de emergência.
Em harmonia com Carli (2009), na sua monografia intitulada Psicanálise e educação: a
posição do professor e a noção de sedução no filme o sorriso de mona lisa, buscou articular duas áreas
do saber: psicanálise e educação, tentando aproximar dois campos que olham o mesmo

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fenômeno de maneiras distintas. O objetivo principal foi analisar como o professor participa
do processo pelo qual ele conduz seus alunos à aprendizagem e quais os aspectos inconscientes
podem ser observados. Os conceitos de transferência, de assimetria e de sedução são noções
que permitiram abordar a educação como arte de formar. Teve como resultados de pesquisa a
premissa de que conhecer os processos inconscientes pelos quais um professor alcança
transformação em seus alunos forma parte de um valioso recurso de trabalho para quem deseja
aprimorar sua gestão escolar.
Na verdade, o professor precisa de antemão compreender os processos inconscientes dos
seus alunos para melhor estabelecer os objectivos de aprendizagem e novo planeamento visando
melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, existem muitas atividades que
os professores podem potencializar para compreender os processos inconscientes dos seus alunos,
tal como diz Medeiros (2011), no seu estudo sobre a psicanálise: implicações na formação de
professores e alunos, traz abordagem psicanalítica e do curso de extensão para os professores
(inscrição voluntária e gratuita), foram pensadas diversas atividades tanto para os docentes
quanto alunos. Dentre as mais interessantes, certamente, configuram-se os desenhos através dos
quais compreendemos que aspectos inconscientes das crianças comparecem, ressaltando-se
questões como sexualidade infantil. Os desenhos das crianças são reveladores de aspectos
inconscientes e podem auxiliar os professores a conhecer um pouco mais de seus alunos, quando
este (re)conhecimento for desprendido de preconceitos e paradigmas. Assim, dentre as
atividades solicitadas aos professores, neste trabalho, o recorte para estudo e interpretações
centrou-se na análise do filme em que a questão da sexualidade infantil na trama cinematográfica
envolve a criança-aluno, pais, professores e ambiente social provocando análises preciosas.
Ainda nessa senda de atividades que impulsionam a componente inconsciente nos
alunos Levisky (2008), na sua dissertação apresenta e analisa atividade do grupo como sujeito
da criação as contribuições da Psicanálise para a Educação: onde teve como resultados uma
reflexão sobre os movimentos do educador, dos alunos e do grupo; a maneira com que os
vínculos são estabelecidos no coletivo; os papéis e sobre as tarefas de cada um imerso nessa
grupalidade; a presença de uma relação horizontal ou hierarquizada entre seus integrantes; sobre
o amadurecimento das relações; a função continente que o grupo pode assumir; a existência
ou não do sentimento de pertencimento, enfim, sobre a possibilidade do educador construir um
olhar clínico e uma escuta sensível-reflexiva, sobre o grupo, de forma que ele, o grupo, possa
ser reconhecido como sujeito da criação.

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Nessa perpectiva, podemos proporcionar variedades de atividades para potencializar os
processos inconscientes dos alunos como atividade lúdica, desde a música, histórias, filmes, jogos
e brincadeiras interessantes melhorando assim a educação prestada.
2.6 Enquadramento da teoria psicanalítica à realidade moçambicana
2.6.1. Influência do id, ego e superego face as fases do desenvolvimento psicossexual na
formação da personalidade de aluno moçambicano
A teoria psicanalítica é extremamente importante para a contribuição da formação da
personalidade de aluno em Moçambique, visto que, ela permite-nos consciencializar sobre
como a nossa mente funciona no processo de sanidade mental e no discernimento do bem e
mal, entretanto saber ser, saber estar e saber conviver com os outros, através da articulação das
componentes da formação de personalidade (ID, Ego e Superego) sendo as duas últimas que
são desenvolvidas na interação com a realidade, ao passo que ID É inato.
Relativamente ao Ego e Superego que surgem na interação com o ambiente
moçambicano, onde a criança o seu primeiro ambiente é a família e posteriormente a escola, o
que dá para perceber que a escola não é único ambiente que contribui para a formação da
personalidade do aluno, portanto há relação entre a família, a escola e demais ambientes.
De acordo com as nossas experiências de observação, as escolas moçambicanas estão
muito atentas ao currículo local para não estarem deslocadas com a realidade do aluno, visto
que ele já tem um traço de personalidade do seu ambiente.
Nessa perspectiva, quando o aluno entra na 1ª classe do ensino básico em Moçambique
tem aproximadamente seis anos de idade, no entanto já tem traços fortes de personalidade de
Ego em relação ao Id adquiridos no ambiente familiar, como também, já viveu as três fases pré-
genitais de desenvolvimento psicossexual de Freud (oral, anal e Fálica), neste caso, já passou o
conflito do édipo que efectiva o Superego.
Importa salientar que, as três componentes de formação da personalidade (Id, Ego e
Superego), enquadram-se à realidade moçambicana justamente porque, desde os primeiros anos
de vida, somos ensinados no ambiente familiar a seguir os padrões socioculturais já concebidos,
apesar que, os nossos impulsos ou desejos quererem algo diferente.
Na mesma sequência, as escolas moçambicanas não estão alheias, também dão
seguimento com a educação dos valores, normas e leis sob ponto de vista mais sistemático ou
cientifico para que os alunos tenham conduta aceite na sociedade (saber ser, saber estar e
conviver com outros).

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As escolas precisam revitalizarem-se as suas práticas educativas ainda mais, no sentido
de estimular em atividades que promovem o desenvolvimento da personalidade do aluno,
porque quando os alunos estão diante de tarefas que lhes impõem a refletir e pensar, será muito
produtivo, na medida em que, as exigências que os professores farão na realização dessas tarefas
fazem parte do estimulo da conduta.
Quanto as fases do desenvolvimento psicossexual, refletem também a realidade
moçambicana, apesar muitos professores terem dificuldades de lidar os alunos em cada fase por
causa de desconhecimento da psicanalítica.
Ai esta, o desafio do professor ter punho cientifico e dispor das habilidades
Psicanalíticas para saber as manifestações da libido e seus conflitos em cada fase de
desenvolvimento psicossexual, no sentido de saber intervir mediante as necessidades
individuais dos alunos sub risco de criar fratura da personalidade nos alunos, porque sabemos
muito bem que, o professor por desatenção e descuidado pode influenciar negativamente aos
alunos terem traços de personalidade indesejada pela sociedade.
2.6.2 Influência do inconsciente na formação da personalidade de aluno moçambicano
De acordo com Freud o inconsciente é extremamente importante para formação da
personalidade do homem, apesar muitos professores não o percebe muito bem, no entanto, o
inconsciente refere-se o desconhecido, sendo assim, o professor na sua prática educativa
precisa-se orientar em algum momento em algo que não o conhece do aluno.
Em harmonia com Pedroza (2010, p.93), a relação entre psicanálise e educação vem
possibilitando, desde que Freud demonstrou seu interesse pela pedagogia, melhor compreensão
dos educadores sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente. A premissa fundamental
da psicanálise é a diferenciação do psíquico em consciente e inconsciente.
Nesse âmbito, o inconsciente encontra terreno fértil na realidade moçambicana, visto
que, os professores principalmente do ensino básico, orientam- se basicamente pelos objetivos,
conteúdos, métodos, meios planificados e sentem-se frustrados quando no fim de classe muitos
alunos concluem o ensino sem obterem as competências exigidas sob ponto de vista de saber
ser, saber estar e conviver com os outros. Logo, coloca-se a seguinte questão que não quer calar:
quais são as razões do fraco rendimento escolar no ensino básico?
Aí está a necessidade de compreender-se para além de várias razões, a influência do
inconsciente para formação da personalidade dos alunos moçambicanos, para sabermos a fraca
assimilação das competências requeridas por parte dos alunos e agir conforme as suas

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necessidades. Daí que, a abordagem do inconsciente tem maior espaço na realidade
moçambicana para abrir um caminho amplo ao professor sobre a compressão do aluno.
Sabemos muito bem que, todo aluno tem direito à aprendizagem, apesar das suas
características particulares e ritmo de aprendizagem diferente dos outros, justamente porque
cada caso é um caso. Neste contexto, o professor não pode simplesmente ficar refém do plano
de aula, mas sim deve ser flexível e resiliente na prática educativa.
O inconsciente vai permitir o professor ter maior horizonte sob ponto de vista de
compressão do aluno e envidar esforços de perceber seus conflitos interiores para dinamizar a
sua pratica educativa.
Neste contexto, fazendo uma análise profunda, a abordagem em alusão alinha-se melhor
com a Pedagogia Inovadora (Escola Nova), que visa adequar as necessidades individuais do
aluno à realidade e possibilitar as experiências, cujos alunos são considerados ativos no
processo educativo, o que pressupõem dizer que, os alunos não são tabua rasa e ao passo que,
o professor é tido como orientador ou mediador da aprendizagem do aluno.
Com isso, os professores moçambicanos precisam estarem consciencializados sobre a
potencialidade do inconsciente na formação da personalidade do aluno, visto que, o ser humano
não dispõe de consciência sobre tudo que ocorre em sua mente, deste modo, os professores
precisam articular o inconsciente e a consciência para compreender a realidade do aluno
subponto de vista físico e psíquico para alcançarem bons resultados.

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3 CONCLUSÃO
Em conformidade com o nosso objetivo que é analisar a contribuição da teoria psicanalítica
na Educação e Desenvolvimento Humano como Estratégia para Formação da Personalidade do
Aluno Moçambicano, concluímos que, teoria psicanalítica é meramente importante para a
contribuição da formação da personalidade de aluno em Moçambique, visto que, ela permite-
nos compreender a mente do aluno como que funciona através da articulação das componentes
da formação de personalidade (ID, Ego e Superego) sendo as duas últimas que são
desenvolvidas na interação com a realidade, ao passo que ID é inato.
No que diz respeito as duas componente Ego e Supergo que surgem na socialização
realidade moçambicana, onde a criança o seu primeiro ambiente é a família na qual somos
ensinados modelos de convivência social, e posteriormente a escola, de maneira cientifica
aplica os conhecimentos do currículo local de forma efectiva, para não estar descolocada com
a realidade do aluno, visto que ele já tem um traço de personalidade do seu ambiente, pois ele
entra na 1ª classe com seis anos de idade, pressupõe que, já tem traços fortes de personalidade
de Ego em relação ao Id adquiridos no ambiente familiar, como também, já viveu as três fases
pré-genitais de desenvolvimento psicossexual de Freud (oral, anal e Fálica), neste caso, já
passou o conflito do édipo que efectiva o Supergo.
Relativamente ao inconsciente, importa salientar que, a teoria psicanalítica contribui
bastante para consciencializar-nos sobre os processos psíquicos e percebermos de que, o ser
humano não está no controlo de todos seus processos mentais, porque existe uma componente
designada inconsciente que influencia basicamente na formação de personalidade, e a grande
parte da consciência é formada por ele.
Quanto à compreensão do inconsciente para realidade moçambicana, percebemos que,
a teoria psicanalítica faz uma chamada de atenção aos professores sobre a sua pratica educativa
para não ficarem refém ao planificado simplesmente, portanto precisam ser flexíveis para
perceberem o lado inconsciente dos seus alunos, sub risco de empreenderem muito esforço e
sem alcançarem os resultados almejados.
De referir que, a perspectiva psicanalítica, realmente, não oferece metodologias e
modelos didáticos- pedagógicos para proceder-se a pratica educativa, mas sim referencial de
conhecimento para compressão do ser humano.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baptista, N. J. M., (2010), Teorias de Personalidade, Portugal. Disponível em:
https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0197.pdf
Carli, F. G. (2009 ), Psicanálise e educação: a posição do professor e a noção de sedução no filme
"o sorriso de mona lisa" Constantina, RS, Brasil.
Carneiro, M. A. (2018), Psicanálise e educação: pensando em uma educação para o sujeito,
Itaúna – MG.
Cunha, M.V. P. (2008), Freud - Psicanálise e Educação. São Paulo de Janeiro. Disponível em
: http://www.gradadm.ifsc.usp.br/dados/20141/SLC0630-1/Freud_psicanalise&educa
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