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Aprendendo um pouco mais sobre as

leis do grafismo
Publicado por Criminalísitca Forense

Conhecer e compreender as leis do grafismo, de Solange Pellat, é fundamental para


qualquer pessoa que busca desenvolver seus estudos grafotécnicos, pois além de ser
conclusões científicas de consagração mundial, promove um entendimento da natureza e
dos aspectos fundamentais do grafismo, servindo de grande auxílio para o processo de
análise de lançamentos gráficos.

As conclusões do estudioso e tratadista francês Solange Pellat em seu livro “LE LOIS DE
L’ECRITURE” (em 1927) foram enunciadas em quatro leis do grafismo, cujo princípio
fundamental geral é:
“A escrita é individual e inconfundível, e suas leis independem do alfabeto utilizado
para a sua produção”.

A conclusão pericial grafotécnica sobre a autoria gráfica tem como embasamento o fato
de que ninguém consegue imitar, ao mesmo tempo, todas as características individuais
de outro escritor, principalmente as forças de pressão e deslocamento, sob o aspecto do
dinamismo. Logo, o grafismo é individual e inconfundível e inimitável.

Vejamos as leis

1) Primeira lei do grafismo:


“O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é
modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra
suficientemente adaptado à sua função.”

O enunciado desta lei mostra que, sendo o cérebro humano o gerador do gesto gráfico,
onde se formou a imagem das letras e demais símbolos utilizados na escrita, desde que o
mecanismo muscular esteja convenientemente adaptado à sua função, haverá produção
escrita sempre com as mesmas e idênticas peculiaridades.

Assim, o indivíduo com punho escritor destro (que escreve com a mão direita) se, por
exemplo, passar a fazê-lo com a mão esquerda (canhota) após sucessivos treinamentos,
apresentará escrita com idênticas características grafocinéticas.

Observou-se, após a segunda grande guerra mundial que pessoas cuja mão ou braço
tinham sido amputados e que desenvolveram a habilidade de escrever, segurando o lápis
ou caneta com outro órgão, como a boca ou o pé, mantiveram as mesmas características
individualizaras da sua escrita, conforme é farta a literatura a este respeito, provada
pela casuística pericial.
Em seu livro “Detecting Forgery”, JOE NICKELL, refere que o United States Postal
Laboratory desenvolveu um projeto com 500 grupos de gêmeos idênticos para testar a
similaridade da respectiva escrita, no entanto verificou-se que nada os diferenciava do
geral da população, uma vez que as grafias eram divergentes.

Um outro exemplo é a situação dos loucos: o fato de eles não conseguirem escrever em
seus acessos, voltando a fazê-lo nos eventuais momentos de lucidez, é a maior evidência
da premissa da primeira lei de Solange Pellat.

Comprovadamente, é o cérebro que comanda o sistema motor composto por ossos,


músculos e nervos, cuja tonicidade e controle varia de pessoa para pessoa, assim sendo,
o ato de escrever é um gesto humano, que tem origem no cérebro.

Como não existem duas pessoas com cérebro idêntico ou com idênticos músculos, ossos e
nervos, também não existem duas pessoas com idêntica escrita. Assim, não existem dois
escritos traçados por distintas mãos com idêntica grafia.

Robert Saudek, grafologista tcheco, que fundou a sociedade de grafologia profissional na


Holanda, publicou “Grafologia Experimental”, em 1929, e examinando a velocidade de
escrita, através de microscópio, paquímetro, placa de pressão, régua, transferidor e
imagens em câmera lenta, relatou que:

“ninguém é capaz de imitar, ao mesmo tempo, estes cinco elementos do grafismo:


riqueza e variedade de formas, dimensão, enlaces, inclinação e pressão”.
Já em 1930, pelo médico francês, Jules Crepieux-Jamin, “ABC de la Graphologie” (PUF
1930) – “ABC da Grafologia”-, foi constatado que “nenhuma escrita é idêntica a outra.
Cada indivíduo possui uma escrita característica, que se diferencia das demais e que é
possível reconhecer”. No mesmo sentido, escreveu FEDERICO CARBONEL:
“Assim como não existem duas pessoas com exata fisionomia, também não existem
dois escritos traçados por distintas mãos com idêntica ou exata fisionomia.”
2) Segunda lei do grafismo:
“Quando se escreve, o “eu” está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de
que o “eu” age passa por alternativas contínuas de intensidade e de
enfraquecimento. Ele está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a
fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movimento
escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades”.

O enunciado da segunda lei se aplica aos casos de anonimografia, onde o esforço inicial
dos disfarces é muito mais acentuado, perdendo sua intensidade à medida que a escrita
vai progredindo. Incidindo no automatismo gráfico, o punho escritor aproxima-se de sua
escrita habitual, deixando vir à tona elementos que poderão denunciá-lo e incriminá-lo.

O mesmo pode ocorrer nos casos de falsificação, demonstrando a conveniência de um


exame mais atento nos finais dos lançamentos, onde os maneirismos gráficos ocorrerão
com mais frequência.
3) Terceira lei do grafismo:
“Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento sua escrita natural
senão introduzindo no seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter
a modificação”.

Na prática, essa lei tem aplicação usualmente nos casos de auto-falsificação, podendo,
contudo, ocorrer em outras simulações.

Em qualquer deles, o simulador se trairá através de paradas súbitas (anormais), desvios,


quebras e mudanças abruptas de direção ou interrupções, sobreposições da escrita,
cabendo ao expert interpretar convenientemente essas particularidades.

4) Quarta lei do grafismo:


“O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente
difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou
as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído”.
Existem casos dessa natureza, em que se torna difícil e/ou penoso escrever, como em
escritas produzidas em circunstâncias desfavoráveis, posições desfavoráveis, tais como
em veículos em movimento ou deitado em uma cama, em suportes inadequados, como
em madeiras e paredes, por pessoas enfermas, por exemplo, ou em situações que
demandem extrema urgência, quando prevalecerá a “lei do mínimo esforço”, resultando
em simplificações, abreviaturas, letras de forma ou esquemas pouco usuais, buscando
abreviar os lançamentos gráficos.

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Referências: http://www.sorayaacosta.com e http://www.pericia-grafotecnica.com

““No Brasil, não existe nenhuma lei ou regra que obrigue o cidadão a escrever de forma legível
ou parecida com o próprio nome..”

“A assinatura faz parte da personalidade da pessoa. Não podemos exigir que ela faça uma
assinatura idêntica ao nome. É uma questão pessoal, então, cada um pode fazer da maneira
que quiser. A única coisa que não pode é acrescentar nomes por questão de falsidade
ideológica", explica o policial..

Evando Ferreira de Assis, assessor do Instituto de Identificação da Polícia Civil de Minas Gerais
Perícia grafotécnica –
A escrita pode revelar seus sentimentos
Luciana Camperlingo

A escrita pode revelar os nossos


sentimentos. Através de análise gráfica, um
perito é capaz de identificar
personalidades, caráter, mentiras,
falsidades e inúmeras outras atitudes
intrínsecas ao ser humano.

Contudo, diante da crescente virtualização


da comunicação, a escrita no papel está cada vez mais escassa. Raramente
escrevemos, apenas digitamos. Os relacionamentos através de contato
pessoal também se esfriaram. Conhecemos pessoas através de aplicativos, e
por sorte as encontraremos para uma conversa pessoal.

E cartas? Quem hoje escreve cartas para um amigo? Quem envia um cartão
postal para os pais quando viaja? Hoje apenas digitamos uma mensagem e
enviamos uma foto da viagem. Ninguém mais demonstra seus sentimentos
através da caligrafia.

Sim, ninguém mais demonstra seus sentimentos!

A escrita é algo muito interessante. É um mundo individual a ser explorado, é


conhecer o outro verdadeiramente. Em linhas gerais a escrita é considerada a
representação gráfica de palavras ou ideias através de sinais. A escrita
nasceu da necessidade do ser humano se comunicar com os demais.

O perito francês Edmond Solange Pellat, considerado o pai da grafoscopia,


estabeleceu os fundamentos do grafismo em seu livro "Les Lois de L’ècriture",
formulando as quatro leis que respaldam a grafoscopia. Tais regras se
baseiam no princípio fundamental de que o grafismo é individual e
inconfundível. Dessa forma, os postulados da grafoscopia são válidos para
todos os tipos de idiomas e todos os alfabetos.
A primeira lei do grafismo dita que "o gesto gráfico está sob influência imediata
do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor, se este funciona
normalmente e se encontra suficientemente adaptado a sua função".

Ora, o enunciado desta lei deixa claro que o gesto gráfico se origina da
mente. Desta forma, ele terá as mesmas características, independente se a
pessoa escreve com a mão direita, esquerda, ou até com a boca ou pés, uma
vez que, quando o organismo está funcionando normalmente, o cérebro
comanda a ação que é direcionada aos músculos, a fim de efetuar os gestos
que irão gerar a escrita.

A segunda lei da escrita enuncia que "quando se escreve, o 'eu' está em ação,
mas o sentimento quase inconsciente de que o 'eu' age passa por alternativas
contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está no seu máximo de
intensidade, onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios e no seu mínimo de
intensidade, onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto
é, nas extremidades".

Portanto, por esta lei, temos que o ato de escrever se inicia por um comando,
mas prossegue através de um instinto natural sem que o escritor se dê conta
de todos os mínimos detalhes que ocorrem durante a sua produção. Isto é
conhecido como automatismo gráfico.

Pela terceira lei do grafismo, temos que "não se pode modificar voluntariamente
em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no seu traçado a
própria marca do esforço que foi feito para obter a modificação".

Esta lei demonstra que a naturalidade da escrita é fator importante para


analisar a sua veracidade. Os traços do verdadeiro autor podem até ser
copiados, mas para tanto, o fraudador terá de utilizar técnicas que
instintivamente demonstrarão formas imprecisas ou forçosas, sem
naturalidade, e consequentemente, sem a individualidade do autor da escrita.

Por último, e não menos importante, temos a quarta lei da escrita, que dita "o
escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente
difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhes são mais costumeiras,
ou as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído".

Através desta lei, verificamos que o escritor geralmente recorre a traços mais
simples quando ocorrem situações que limitam o ato da sua escrita, como,
problemas com o objeto de escrita, suporte inadequado, posição do punho
escritor em relação ao suporte, produção da escrita em movimento, dentre
outros, ou seja, sempre que se torna penoso o ato de escrever, em
circunstâncias desfavoráveis, prevalecerá a "lei do mínimo esforço",
resultando em simplificações, abreviaturas, letras de forma, ou esquemas,
buscando abreviar os lançamentos.

Verificamos então que a escrita é como nossa digital, e assim como não
existem digitais iguais, não existem letras iguais. Podem até ser parecidas,
porém nunca serão idênticas, pelo simples motivo de que aquilo que
reproduzimos no papel é o resultado de um mecanismo que se origina de um
espaço de nosso organismo, lotado de pensamentos, experiências individuais
e sentimentos próprios de cada um.

Portanto escrever é como pintar um quadro, pois demonstra a personalidade


de uma pessoa como um todo. O ato de escrever externaliza o "eu", mostra a
capacidade mental de cada indivíduo, como ele se organiza, como sente as
coisas, como toma suas decisões, seu equilíbrio interior, seu grau de
maturidade, como se relaciona com outras pessoas, enfim, o ato de escrever
coloca para fora sentimentos não demonstrados no ato de digitar.

Assim, há uma diferença gritante quando alguém digita uma mensagem pelas
redes sociais, de que "está com saudade", e quando esta mesma pessoa
escreve uma carta dizendo que "está com saudade".

Este surto virtual trouxe enormes desafios a todos os profissionais que


dependem da análise gráfica no papel para a realização de seus ofícios,
como peritos grafotécnicos, juízes de direito, advogados, psicólogos,
psiquiatras, dentre outros.

Nesta matéria procuramos introduzir o tema, trazer alguns conceitos sobre a


escrita, como ela pode exteriorizar os nossos sentimentos.

Iremos explorar mais profundamente nas próximas matérias a análise da


escrita na perícia, os desafios da crescente virtualização da comunicação, a
assinatura digital e a perda de rastros de grafia, as dificuldades do perito
grafotécnico em captar mensagens através das letras, entre outros
importantes assuntos sobre este tema.

*Luciana Camperlingo é perita grafotécnica da Conserto Consultoria.

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