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QUARENTENA

Em março de 2018 foi aprovado pelo Senado Federal, o projeto de Lei PSL
341/2017, que ratifica uma quarentena de 3 (três) anos para que ex-juízes e ex-
promotores exerçam advocacia privada. Tal quarentena já estava em vigor através da
Emenda Constitucional 45/2004, mas, nesta última votação foi acrescentado ao texto
original o “impedimento do ex-juiz ou ex-promotor do MP de atividades que possam
configurar conflito de interesses ou utilização de informação privilegiada obtida em
razão ao cargo”.
Desde 2004, tem havido alguns casos no mundo jurídico que podem ter
apontado para a necessidade de criação deste último projeto de lei. Um caso notório
foi a do ex-procurador Marcelo Muller que atuou como advogado na delação premiada
de Joesley e Wesley Batista do grupo JBS s.a., antes de possivelmente ter se
desligado inteiramente do MP.
Houve também alguns casos envolvendo magistrados aposentados que
estavam advogando na mesma comarca em que haviam atuado como juízes, o que
propiciou um embate entre autoridades do meio, em virtude do termo ‘juízo’
mencionado na Emenda. Isso porque nela fala-se em vedação aos ex-juízes de
exercer advocacia no “Juízo ou Tribunal” do qual se afastaram, antes de 3 (três) anos,
por aposentadoria ou exoneração. Para muitos constitucionalistas a interpretação de
‘Juízo’ refere-se a ‘Comarca’ e não a ‘Vara’, enquanto esta última definição tem sido
amplamente usada como argumento de ex-juízes para justificarem suas práticas
advocatícias em diferentes varas, entretanto na mesma comarca onde outrora haviam
trabalhado.
De qualquer forma, mesmo não havendo um consenso quanto a palavra
“Juízo”, no último texto aprovado no ano passado, tentou-se restringir o poder de
influência dos ex-juízes e ex-promotores com o acréscimo do impedimento por parte
destes de exercer atividade que possa configurar conflito de interesse ou utilização de
informação privilegiada.
É importante salientar que tal influencia já estava preconizada no Código de
Ética da OAB, uma vez este esclarece que um dos princípios fundamentais do
exercício de advocacia encontra-se “na figura do advogado abster-se de utilizar
influencia indevida em seu beneficio ou em beneficio do seu cliente” (art, 2 inciso VIII
do Código de Ética da OAB).
O Supremo Tribunal Federal ainda não se manifestou a respeite, e
consideramos que o projeto aprovado pelo Senado não contribuiu em aspectos
importantes, faltando com clareza, como por exemplo: o entendimento da exigência
da quarentena no respectivo “juízo”. Uma questão importante a ser levantada, seria
no caso do ex-ministro do STF. Uma vez que, enquanto ministro, tiveram jurisdição
por todo território nacional, estariam impedidos de atual como advogados pelo período
de 3 (três) anos também em todo território nacional? Em nosso ponto de vista, o
projeto de lei peca ainda por não especificar a que tipos de informações privilegiadas
se refere. Logo, nossas impressões são de que as alterações do PL não são
suficientes para resguardar a justiça, uma vez que ainda dão margem a interpretações
subjetivas.

Referencias Bibliográfica

Souza Advogados, DellaCella. Ex-juiz volta a advogar e cria embate. Disponível


em: <https://dellacellasouzaadvogados.jusbrasil.com.br/noticias/136639864/ex-juiz-
volta-a-advogar-e-cria-embate>. Acesso em: 10 de abril 2019

G1.globo.com. Ex-procurador não precisaria ter cumprido quarentena antes de


advogar para JBS, diz presidente da ANPR. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/citado-por-temer-ex-procurador-nao-precisaria-
ter-cumprido-quarentena-antes-de-advogar-para-jbs.ghtml>. Acesso em: 16 de abril
2019.

Agência Senado. Aprovada quarentena para exercício da advocacia por ex-


juízes e ex-promotores. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/03/14/aprovada-quarentena-
para-exercicio-da-advocacia-por-ex-juizes-e-ex-promotores>. Acesso em: 10 de abril
2019.

Conjur. CCJ do Senado aprova quarentena de 3 anos para juízes e membros do


MP advogarem. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-dez-07/ccj-
senado-aprova-quarentena-juiz-promotor-advogarem> Acesso em: 27 de Abril de
2019.

Estatuto da OAB. Disponível em:


<https://www.oab.org.br/arquivos/pdf/LegislacaoOab/estatuto.pdf> Acesso em: 27 de
Abril de 2019.

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