Você está na página 1de 5

Matriz de atividade em equipe – tarefa individual 3

Módulo: 1 Atividade: Individual 3


Título: A relação entre meio ambiente e economia
Aluno: Rangel Morrissey Mantelli
Disciplina: Administração do Meio Ambiente Turma: Curitiba
Introdução

A economia é a ciência social da gestão de recursos escassos na produção e


distribuição de bens e serviços por entre a sociedade, a fim de satisfazer
necessidades humanas.1 A substância bruta principal com a qual se faz alguma
coisa é chamada de matéria-prima,2 cujos componentes se encontram na natureza
sob a forma de recursos naturais, ou seja, elementos caracterizados pelos seus
usos sociais: solo para agricultura e pecuária, rochas para mineração, rios e
quedas-d’água para navegação e produção de energia elétrica, etc. Nesse contexto,
torna-se perceptível a relação intrínseca existente entre economia e meio ambiente,
à medida a transformação dos recursos naturais é o que traz crescimento
econômico e impactos ambientais.
Apesar de constituírem fatores de produção, os recursos naturais – pela sua
própria definição – designam um “conjunto de bens que não são produzíveis pelo
homem”,3 classificados em renováveis (que podem ser recuperados naturalmente
ou pela ação humana, como plantas, animais e a água) e não-renováveis (são
esgotáveis e “impossíveis de o homem fazer voltar à situação anterior”,4 como o
minério de ferro e o petróleo). Quando os recursos naturais são demasiadamente
explorados pelos homens, geram-se impactos negativos à preservação do meio
ambiente. Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a cada ano “são
consumidos 20% a mais de recursos em relação à quantidade regenerada, e esse
percentual não para de crescer”.5
Diante desse cenário, a presente atividade tem o objetivo de apontar, de
maneira breve, alguns efeitos negativos das ações produtivas na natureza, bem
como algumas possibilidades de conciliação na relação entre meio ambiente e
economia. Para tanto, busca-se refletir em como o conceito clássico de
desenvolvimento sustentável está implícito na Constituição Federal, instrumento
jurídico que deve nortear as ações econômico-ambientais no território nacional.
Além disso, exemplos negativos e positivos das organizações serão expostos de
maneira a complementar a análise sobre um assunto tão complexo.

A relação meio ambiente versus economia – relação prejudicial ou possível


de conciliação?

A relação entre meio ambiente e economia sempre envolveu debates sobre a


definição conceitual de desenvolvimento sustentável, isto é, o tipo de avanço que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.6 É inevitável que ações
econômicas envolvam diferentes formas de apropriação de recursos naturais e
modificação do meio ambiente. Na Revolução Industrial ocorrida a partir do século
XVIII, por exemplo, a transformação dos meios de produção trouxe alterações
ambientais, como o “aumento da poluição do ar, do solo e da água, extinção de
muitas espécies, resultado do desmatamento, da degradação do solo, destruição da
biodiversidade natural de muitos locais”.7 Nesse sentido, busca-se a conciliação
nesta relação justamente por causa dos prejuízos ambientais observados ao longo
da história.
As ideias de sustentabilidade também estão implícitas no ordenamento
jurídico brasileiro, que consagra os chamados direitos de terceira geração. O título

1
VII da Constituição Federal de 1988 trata da ordem econômica e financeira,
estabelecendo, no primeiro capítulo, princípios gerais da atividade econômica.
Destaca-se o inciso VI do artigo 170, relativo à “defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação”.8 Eros Grau (1990)
estabelece uma ética do desenvolvimento pautada em questões ecológicas:

O desenvolvimento nacional que cumpre realizar, um dos


objetivos da República Federativa do Brasil, e o pleno emprego
que impende assegurar supõem economia autossustentada,
suficientemente equilibrada para permitir ao homem
reencontrar-se consigo próprio, como ser humano e não
apenas como um dado ou índice econômico. Por esta trilha
segue a chamada ética ecológica e é experimentada a
perspectiva holística da análise ecológica, que, não obstante,
permanece a reclamar tratamento crítico científico da
utilização econômica do fator recursos naturais.9

Percebe-se a preocupação do legislador constitucional em não limitar o


conceito de desenvolvimento ao crescimento meramente econômico, estando
presentes na lei o equilíbrio entre o atendimento dos objetivos econômicos
nacionais e a obediência do princípio da defesa do meio ambiente. Outro exemplo
disso se encontra no caput do artigo 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.10

A partir dessas normas constitucionais surgiram outras previsões legislativas


para uma regulação do poder público na instalação de atividades agrícolas,
industriais e comerciais, como as leis federais 6.830/80, 6.902/81 e 6.938/81.11 A
existência desses mecanismos legais são importantes para reprimir abusos e
estabelecer pré-requisitos administrativos e ambientais para que as atividades
econômicas sejam realizadas. Além disso, existem instrumentos econômicos na
forma de incentivos estatais orientadores da atuação econômica para a proteção
ambiental, por vezes concedidos na forma de redução de impostos para
organizações que respeitem a legislação ambiental (Art. 174 da Constituição
Federal é um exemplo disso).12
A existência de legislação específica para a questão ambiental é importante,
porém não suficiente. Paulo José Leite Farias (2008) entende que há dificuldades na
implementação dessas leis, especialmente no que diz respeito à aplicação da
penalidade, a qual “se branda, estimula reiterada prática de infrações, se rigorosa
pode inviabilizar a empresa”.13 O dilema novamente aparece aqui: as organizações,
sejam oriundas da iniciativa privada ou controladas pelo Estado, são importantes
para o crescimento econômico do país. Por outro lado, ainda persiste uma falta de
consciência ecológica que considere resultados de preservação ambiental à longo
prazo, contemplando o desenvolvimento sustentável.
Um exemplo recente negativo é o caso da Vale, segunda maior mineradora do
mundo e a maior empresa privada do Brasil.14 Corporações que atuam no setor da
mineração têm um alto impacto ambiental: remoção da vegetação em áreas de
extração mineral, poluição de recursos hídricos com produtos químicos,
contaminação e erosão dos solos, mortandade de peixes, evasão de animais
silvestres, etc. Dois estudos realizados por bancos internacionais sobre
sustentabilidade no setor de mineração colocam a Vale nas últimas posições entre
empresas que captam investidores preocupados com a questão ambiental.15 Em
uma de suas campanhas publicitárias, a Vale “investiu na imagem de companhia
sustentável, capaz de transformar minérios em sonhos e ainda fazer tudo isso
respeitando o meio ambiente e as comunidades nos arredores de suas minas e

2
instalações”.16 Entretanto, os recentes desastres ambientais ocorridos em
barragens operadas pela Vale (Mariana, em 2015 e Brumadinho, em 2019)
contribuíram para a desvalorização da empresa. Estima-se que a Vale perdeu R$
51,7 bilhões em valor de mercado após desastre em Brumadinho. Além do impacto
ambiental imensurável, mais de 200 pessoas foram mortas no rompimento da
barragem. A imagem da empresa diante dos investidores e da opinião pública foi
manchada.17
Por outro lado, ações de responsabilidade ambientam também podem ser
encontradas em iniciativas brasileiras. É o caso de algumas empresas de Santa
Catarina, como a Resiliens Soluções Ambientais, que recicla 80% dos entulhos que
sobram na obra na Pedra Branca, bairro sustentável de Palhoça. Em 2012,
“empreendedores elaboraram um plano de gestão para cada novo
empreendimento, programa que ficou conhecido como Obra Limpa”.18 Giane
Formigoni, engenheira responsável pelo programa, explica como a empresa tem
oferecido treinamentos de qualificação “verde” para os operários, que aplicam os
conceitos de reciclagem no decorrer da a obras. Ademais, moradores são
cadastrados num sistema de reciclagem, que recebe cerca de seis toneladas
mensais de itens.19 A economia gerada em um ano teve impactos ambientais
expressivos, exemplo a ser notado e seguido por outras empresas.

Conclusão

A noção de que o meio ambiente pode ser explorado sem limitações é


extremamente nociva. Todavia, é impossível existir crescimento econômico sem o
uso de recursos naturais. O desafio exposto consiste em como evitar ou minimizar
os impactos ambientais nas iniciativas econômicas. Para isso, é preciso lembrar que
o crescimento econômico só se equipara a desenvolvimento quando fortalece
práticas sustentáveis relacionadas à preservação ambiental. Esse ethos ecológico,
presente na Constituição, deve ser percebido não apenas no mundo das ideias, mas
também na realidade concreta.
Se de um lado a relação entre meio ambiente e economia é complicada
devido ao histórico de superexploração dos recursos naturais, em uma ótica mais
positiva se faz necessária a conciliação, dada essa interdependência. Para tanto, é
preciso que os mecanismos de controle e fiscalização governamentais sejam
eficazes. Contudo, mais do que esperar a iniciativa do poder público, também é
fundamental que haja uma mudança radical de cultura na mente de cada cidadão,
considerando a ação humana não apenas no âmbito dos impactos imediatos, mas
projetando os seus resultados no futuro. Dessa forma, portanto, os impactos
negativos ao meio ambiente serão reduzidos e um mundo melhor será construído
para as próximas gerações.

Referências Bibliográficas

1. O que é economia? Disponível em:


<https://www.fea.usp.br/economia/graduacao/o-que-e-economia> Acesso
em 29 de fevereiro de 2020.

2. SILVA, Elcio Brito da. Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial,
um olhar para o Brasil. Rio de Janeiro: Editora Brasport, 2018. p. 28,

3. FARIAS, Paulo José Leite. A dimensão econômica do meio ambiente: a


riqueza dos recursos naturais como direito do homem presente e futuro.
Brasília: Revista de Informação Legislativa n. 180, 2008. p. 130.

4. Ibid.

3
5. Quais são as consequências da superexploração dos recursos naturais?
Disponível em:
<https://www.iberdrola.com/meioambiente/superexploracao-dos-recursos-
naturais> Acesso em 28 de fevereiro de 2020.

6. O que é desenvolvimento sustentável. Disponível em: <


https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolv
imento_sustentavel/> Acesso em 02 de março de 2020.

7. PAZ, Elizabeth Maria de Souza. BOCH, Everonice Elfrida. ORTEGA, Gisele


Pereira. CAMPOS, Neuza Alves da Silva. Revolução Industrial e Meio
Ambiente: Questões para Refletir. Disponível em:
<http://www.emdialogo.uff.br/content/revolucao-industrial-e-meio-
ambiente-questoes-para-refletir> Acesso em 28 de fevereiro de 2020.

8. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Edições Câmara


Legislativa, 2019. p. 76.

9. GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988:


integração e crítica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. p. 27.

10. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Edições Câmara


Legislativa, 2019. p. 91.

11. Leis Federais, respectivamente sobre implantação de indústrias em áreas


críticas de poluição, criação e instalação de atividades em áreas de proteção
ambiental e sobre a Política Nacional de Meio Ambiente. Disponíveis em: <
http://www.planalto.gov.br/> Acesso em 25 de fevereiro de 2020.

12. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Edições Câmara


Legislativa, 2019. p. 77.

13. FARIAS, Paulo José Leite. A dimensão econômica do meio ambiente: a


riqueza dos recursos naturais como direito do homem presente e futuro.
Brasília: Revista de Informação Legislativa n. 180, 2008. p. 134.

14. Sobre a Vale/SA. Disponível em:


<https://www.bussoladoinvestidor.com.br/guiaempresas/empresa/VALE5/dr
e> Acesso em 25 de fevereiro de 2020.

15. Impactos Ambientais da Mineração. Disponível em:


<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/impactos-
ambientaismineracao.htm> Acesso em 27 de fevereiro de 2020.

16. GASPAR, Malu. A vale quer ser verde, jun. 2008. Disponível em: <
http://www.fbds.org.br/fbds/article.php3?id_article=572> Acesso em 29 de
fevereiro de 2020.

17. Vale perde R$ 51,7 bilhões em valor de mercado após desastre em


Brumadinho. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/mercados/valeperde-r517-bilhoes-em-valor-
de-mercado/> Acesso em 29 de fevereiro de 2020.

18. SCHIESTL, Saraga. No Dia do Meio Ambiente, conheça empresas que


cuidam bem da natureza. Disponível em: <

4
https://ndmais.com.br/noticias/especial-dia-do-meio-ambiente/> Acesso em
29 de fevereiro de 2020.

19. Ibid.

*Esta matriz serve para a apresentação de trabalhos a serem desenvolvidos segundo ambas as linhas de
raciocínio: lógico-argumentativa ou lógico-matemática.

Você também pode gostar