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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

LUIZA PINTO ARAÚJO DE QUEIROZ

RESENHA CRÍTICA

DIREITO REGULATÓRIO COMPORTAMENTAL E CONSUMO


CONSCIENTE NO CONTEXTO DA ODS 12

DIREITO AMBIENTAL
DOCENTE
Heron Gordilho

Salvador - Bahia
2022
LUIZA PINTO ARAÚJO DE QUEIROZ

RESENHA CRÍTICA

DIREITO REGULATÓRIO COMPORTAMENTAL E CONSUMO


CONSCIENTE NO CONTEXTO DA ODS 12

Trabalho desenvolvido para a


disciplina de Direito Ambiental,
dirigida pelo professor Rodrigo
Moraes, cujo objetivo é realizar uma
resenha crítica acerca do artigo de
Flávia Moreira Guimaraes Pessoa e
Silvia França de Souza Morelli.

Salvador - Bahia

2022
Ao longo do texto, as autoras estabelecem argumentos em torno da construção da
ética fundamentadora para a construção da sociedade de consumo, além de abordar a relação
do meio ambiente com esse aspecto do consumo irracional que hoje permeia a sociedade. É
trazido o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 - que se relaciona a produção e
consumo responsável como embasador do caminho para a sustentabilidade que é desenhado
atualmente. As autoras pretendem ao longo do texto esclarecer e identificar quais são os fatos
impeditivos à formação de um nível de consciência educativo e quais as contribuições podem
ser proporcionadas pelo direito regulatório comportamental para o desenvolvimento de uma
sociedade que se comporta sustentavelmente.

Ao introduzirem o assunto, é contextualizado historicamente que as experiências


consumeristas precederam a necessidade de produção, uma vez que inicialmente o ser
humano era apenas extrator da natureza, o domínio de tecnologias permitiu a ampliação da
disponibilidade e a transformação dos elementos naturais. Após longo processo de
transformação, o atual estágio de evolução desse binômio concentra atenção na
responsabilidade de seu desenvolvimento para que seja possível uma produção e consumo
sustentáveis - o que não acontece atualmente. As autoras posicionam o impacto ambiental
derivado do consumo humano irracional como uma preocupação atual da sociedade moderna.
Nesse sentido, põe em contraponto a noção de sustentabilidade, que derivaria o equilíbrio
entre o consumo versus os impactos que o mesmo tem na natureza. Porém a sustentabilidade
enfrenta diversos obstáculos frente à sociedade capitalista na qual estamos inseridos,
inclusive de nem sempre o sustentável ser o mais lucrativo para aqueles que produzem.

Dentro dessa preocupação com a sustentabilidade, surge a Agenda 2030, iniciativa na


qual a Organização das Nações Unidas definiu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
com metas que devem ser almejadas pelos países e seus governos visando um futuro mais
sustentável em 2030. Também a partir desse cenário que começa a se direcionar para a
construção de uma sociedade mais sustentável, surge o conceito de nudges, que estuda quais
as melhores táticas que devem ser direcionadas no caminho de um direito regulamentado
comportamental consumerista - servindo como um conciliador do binômio consumo e
produção.
Ao citar o livro Sociedade de Consumo, de Jean Baudrillard, é trazido para o texto a
perspectiva de uma sociedade pautada na multiplicação de bens materiais - que afirma que os
homens opulentos são aqueles rodeados por objetos, e não por pessoas - fato esse que
permeia a construção de todo pensamento humano na sociedade da abundância. Não mais se
faz valida as chamadas leis ecológicas naturais, mas sim a lei do valor e da troca. Segundo as
autoras, a partir dos escritores Cardoso e Feitosa Neto, após a Segunda Guerra mundial houve
uma mudança total a partir do advento da tecnologia e as consequências diretas nos hábitos
de consumo da população. O que antes se considerava que apenas se retirava do meio
ambiente aquilo que era necessário para a subsistência, a partir dessa alteração no padrão de
comportamento, a natureza e o planeta Terra começaram a ser impactados seriamente pelo
consumo exacerbado. Dessa forma, o consumo consciente e sustentável serviria para
conciliar a proteção do meio ambiente com a sociedade capitalista e consumista que hoje
destrói o meio ambiente a partir de sua exploração. Uma iniciativa relevante citada para essa
progressão é especificamente do Objetivo 12, que procura até 2030 garantir padrões de
produção e consumo sustentável.

Entretanto, uma crítica a ser feita é em torno das ações e iniciativas trazidas de forma
mais específicas ao longo do texto. São em sua maioria trazidas iniciativas pautadas na
mudança apenas do comportamento do consumidor final - sua reeducação e conscientização.
Obviamente tais iniciativas são basilares e fundamentais quando se objetiva uma sociedade
mais sustentável e com menos consumo excessivo. Quando se menciona mais
especificamente a implementação e mensuração, principalmente dos indicadores da ODS 12,
há um desafio nesse monitoramento. Somado isso ao consumo consciente que deve - segundo
a ODS - não ser imposta por coação, e sim pela voluntariedade de adesão, não observamos no
dia a dia políticas públicas que intervenham de forma realmente efetiva nesse sentido.No
Brasil, por exemplo, a prática dos nudges é considerada como um empurrão para possibilitar
a tomada de decisão advinda de uma pequena alteração na forma da resolução do problemas”
- o que não pode ser confundido com políticas públicas regulatórias. No ritmo que o consumo
tem destruído o meio ambiente, não parece ser suficiente apenas a adoção dos nudges ou
simplesmente utilizar-se da pressão social para o atingimento de uma sociedade sustentável -
muito menos já em 2030.

Como considerações finais, é entendido que o consumo consciente não pode ser
internalizado apenas com um mero ato de negociação - como por exemplo da venda do
canudo biodegradável ao invés do de plástico. Mas sim que ocorreria naturalmente a seleção
daquilo que menos agride o meio ambiente a partir de hábitos e comportamentos sustentáveis.
Ou seja, dependendo da formação de uma consciência coletiva sobre o consumo. Entretanto,
essa parece ser uma perspectiva otimista demais em relação ao assunto. Afinal, apenas essas
ações, e no ritmo que estão acontecendo, não parecem estar levando a sociedade que é
necessária para que o meio ambiente pare de sofrer e sobreviva com a produção e consumo
exacerbados que hoje fazem parte da realidade mundial.

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