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Pagamento por serviços ambientais e seus aspectos tributários:

desenvolvimento sustentável através de normas promocionais

Fabrício Scudelarek Laskos


E-mail: fabriciolaskos@gmail.com
Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná, Brasil.

Amanda Cristhina Flach


E-mail: amanda.c.flach@gmail.com
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná, Brasil.

Resumo: Um meio ambiente saudável é vital à sobrevivência dos seres vivos. O homem, no decorrer
da história não deu a devida atenção às práticas predatórias que ocorrem há séculos, com isso, a
degradação de ecossistemas, a diminuição da qualidade de vida e a falta de recursos escassos e
essenciais à vida se tornou uma realidade, colocando em risco a perduração da espécie e de todas as
outras formas de vida. Por isso, surge a proposta de pagamento por serviços ambientais, regulada pela
Lei nº 14.119, promulgada em 2021. A Lei busca fomentar o desenvolvimento responsável dos
produtores rurais, por intermédio das normas promocionais, ou, ainda, denominas de sanções
positivas, em que, o polo passivo da relação jurídica recebe vantagens financeiras na proporção de
suas atitudes. Essa nova forma de positivação do direto é disposta por Norberto Bobbio, o qual visa
demonstrar a importância do direito positivo mais promocional e menos sancionatório, pois acredita que
assim o direito terá maior eficácia social.

Palavras-chave: Pagamento por Serviços Ambientais; Sanções Positivas; Desenvolvimento


Ecologicamente Correto; Atuação Eficiente do Direito Ambiental; Lei nº 14.119/2021.

Introdução

O aquecimento global é um dos grandes problemas ambientais, sendo uma


ameaça a toda forma de vida do planeta, é clarividente que tomar medidas eficazes
contra esse fenômeno é questão de sobrevivência. Por isso, desde a década de 70,
práticas sustentáveis e meios para desacelerar os impactos negativos, causados
pelas práticas predatórias do homem, vêm sendo discutidas e executadas por
intermédio de tratados e acordos internacionais.
Apesar disso, em quase 50 anos, os resultados foram insatisfatórios, no
Brasil. Poucas metas de reduções de poluentes foram batidas, o desmatamento
aumentou consideravelmente e a impunidade é crescente.
Isso se explica devido ao método de abordagem predominantemente punitivo
do direito, seja pelas dificuldades de controle e fiscalização, seja pela inoperância de
repressão ágil e incisiva. Sendo o desencorajamento de uma sanção repressiva
ineficaz em muitos casos.
Portanto, o presente resumo finda analisar a influência das leis promocionais
na preservação do meio ambiente, sobretudo aplicada à Lei nº 14.119/2021, de
pagamentos por serviços ambientais (PSA), e como esse método pode fomentar
práticas ambientais conscientes, focando nas pessoas jurídicas, no impacto
econômico positivo, de encontro à clássica frente meramente sancionatória.
É de suma importância promover a visão jurídica de encorajamento devido à
escassez de discussão do tema, e o excesso do método repressivo de controle social,
baseado no Estado liberal clássico. A jovem Lei de PSA demanda detalhamento e
ampla discussão para que seja ramificada e aplicada de forma eficiente e eficaz. As
dificuldades modernas, chamadas por Norberto Bobbio de direitos de terceira
dimensão, são geradas do “amadurecimento de novas exigências”, e devem ser
enfrentadas com métodos novos e condizentes com as necessidades.

Objetivos

Estudar a aplicação das normas promocionais ao Direito Ambiental. Este


resumo tem como objetivo demonstrar a maior eficácia na proteção do meio ambiente
– direito difuso – quando as normas positivadas possuem um caráter promocional,
seja ela de incentivo ou norma premista.
Traz-se para discussão, a importância no direito ambiental da norma
promocional. Para demonstrar essa importância, discute-se o incentivo tributário aos
sujeitos de direito que cumprem as regras ambientais, no âmbito rural. Este incentivo
é recente e está disposto na Lei nº 14.119/2021.
Por fim, quer investigar a eficácia da norma, quando se estimula o sujeito a
praticar condutas, ao invés de sancioná-las.

Método e Técnicas de Pesquisa

Para analisar a inclusão das normas promocionais no direito positivo


ambiental brasileiro, foi utilizado o enfoque qualitativo, pelo qual foram verificadas as
legislações ambientais e as normas promocionais, tendo como finalidade estimular os
sujeitos de direito a preservarem.
O enfoque é qualitativo, pois se analisa “a relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não poder traduzido em números” (OTANI, 2011, p. 37).
Utilizou-se a pesquisa descritiva, pois objetivou-se a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de
relações entre variáveis (GIL, 1991).
Para coletar os dados utilizou-se a técnica documental indireta, sendo o
“processo de coleta de dados através de uma pesquisa documental” (OTANI, 2011, p.
34), por intermédio de pesquisa bibliográfica dedutiva, esse método “parte-se do geral
para o específico através de premissa e do pensamento lógico” (GUEDES, 2016).

Resultados

A presente pesquisa permitiu concluir que as leis puramente sancionatórias


não são suficientes para um desenvolvimento sustentável, o Estado não tem
condições fáticas para punir ao ponto de erradicar as atitudes contrárias ao meio
ambiente. Porém, que é possível, através de estímulos e fomento reeducar a
população, sobretudo o produtor que detém maior poder de proteger ou danificar os
ecossistemas, para isso, basta que seja atrativo.
Para isso, a Lei de PSA pretende incentivar os ruralistas e demais a pensarem
em seus lucros, também, através de atividades e serviços que colaborem com o meio
ambiente. Entretanto, o conceito ainda é pouco aprofundado no Brasil, havendo
incertezas na precificação dos serviços, por exemplo. Então, nos próximos anos, será
necessário grande ativismo por parte dos interessados e regulação por parte do
legislativo para que a Lei deixe de ser apenas um estímulo subjetivo e passe a ter
eficácia em grande escala de maneira objetiva.
Ainda, o Código Tributário, o qual terá maior poder de tornar o PSA atrativo
deve encarar com a noção de extrafiscalidade, sem objetivar arrecadar através do
PSA, as normativas devem ser intencionalmente moldadas para estimular os cidadãos
a agir em favor do meio ambiente.

Discussão

A imagem clássica e engessada do direito é de um mecanismo meramente


repressivo, cheio de sanções ou punições a qualquer conduta diferente da esperada
pelo Estado. Essa repressão realizada pelo Estado é nominada, por Norberto Bobbio,
de sanções negativas. Devido a sua função social de controle do coletivo, há
fundamento para que essa seja uma das facetas mais marcantes do mundo jurídico,
emulando um poder de polícia da sociedade como um todo, generalizado, onipresente
e onisciente. Entretanto, o tempo foi esclarecedor que, o direito não é tão eficaz assim
em certas problemáticas mais modernas, pelo menos, não enquanto às trata com os
métodos rudimentares, estruturados para amenizar problemáticas já, em sua maioria,
superadas.
O direito ambiental, previsto por Norberto Bobbio como uma problemática
contemporânea (1992, p.6) é “O mais importante deles é reivindicado pelos
movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente não poluído. ”, baseado na
teoria das gerações dos direitos, o meio ambiente saudável expressa a solidariedade
das gerações atuais com as futuras, portanto, devem ser enfrentadas com métodos
novos e condizentes com as necessidades.
A dificuldade em punir atos contrários à saúde do meio ambiente, ao
desenvolvimento sustentável fez com que o planeta e todos os seres vivos que aqui
habitam percam anos de vida, recursos escassos e primordiais à sobrevivência e até
mesmo saúde de forma imediata.
Os diversos tratados e convenções ambientais, que acabam se sobrepondo
uns aos outros, dado que as metas não são batidas com grande incidência, com maior
destaque o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris são demonstrações de que, os
métodos adotados não são plenamente eficazes.
Para ilustrar, o Protocolo de Kyoto criou um Comitê de Implementação, o qual
avaliaria o Estado descumpridor de seus compromissos e puniria com sanções
baseado na frequência em que o descumprimento ocorresse, claramente baseada no
modo de operar do direito clássico. Tal método de repressão precisa de uma reforma.
O direito clássico tem como norte a repressão, definição de limites e controle
social, a fixação de critérios e diretrizes para a atuação e exercício de certas
atividades. De encontro a esse pensamento, e consonância ao Estado garantista, a
concepção moderna do direito funde ao modelo clássico sua face incentivadora, a
qual desenvolve mecanismos de fomento e subsídio às ações desejadas,
desprendendo menor importância à atuação de castigar.
Dantas discorre sobre essas duas frentes:

A diferença primordial entre o ordenamento protetivo-repressor e o


promocional reside no fato de que ao primeiro interessam os comportamentos
socialmente não desejados, considerando que o seu objetivo é impedir, ao
máximo, a sua prática, enquanto que ao ordenamento jurídico promocional
interessam os comportamentos socialmente desejáveis (DANTAS, 2013, p.
14).
Portanto, entende-se que a escolha do método de atuação do direito define
qual a função, primordialmente, ele “quer” exercer. As sanções unicamente negativas
representam o direito estático, passivo, repressivo, aos moldes do Liberalismo
Clássico, que já se mostrou ineficiente para os tempos modernos, portanto, superado.
Além disso, essa face estimula a inércia quase absoluta das mudanças sociais em um
patamar demasiadamente conservador.
Ao atuar com sanções positivas, avoca o direito ativo, garantista e de certa
forma, propulsor de mudanças sociais compatíveis com as necessidades do presente
e do futuro. Com isso, ocorre, com o passar do tempo, uma reestruturação do
comportamento social, estimulando e dando enfoque aos atos desejáveis e não às
condutas indesejadas, semelhante a uma educação em grande escala.
Nessa seara, Pitágoras, pai do conceito de Justiça, norteadora do Direito,
declarou: “educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Tal conceito pode
ser considerado o alicerce do fundamento das normas promocionais, objetivando a
diminuição da necessidade da sanção negativa, ainda que em um futuro, através do
estímulo positivo das condutas desejadas no presente.
No direito europeu, há a incidência de normas promocionais ligadas a esse
tema desde os anos 90. Em Portugal estão previstos benefícios fiscais aos doadores
de fundos para ONGs ambientalistas desde 1998. Na Alemanha, em 1992 foi instituído
um imposto municipal proporcional à cilindrada, com isso, houve um grande estímulo
pelos veículos mais eficientes, não só pela compra, mas também, às montadoras em
desenvolver carros competitivos no desempenho e no preço.1
No Brasil, as normas promocionais ainda estão sendo incluídas no direito
positivo. Um grande marco entre o direito ambiental e as normas promocionais no
Brasil, foi a Lei nº 14.119/2021, a qual trouxe o direito ao recebimento do proprietário
da terra por serviços ambientais.
Os serviços ambientais são definidos, no texto para discussão 105 – da Lei
apresentado pelo Senado, como:

Genericamente, serviços ambientais (ou serviços ecossistêmicos ou de


ecossistemas) são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas.
No entanto, é aceita também a diferenciação conceitual entre serviços
ambientais e serviços ecossistêmicos. Serviços ecossistêmicos, nesse
sentido, seriam as funções e processos dos ecossistemas relevantes para a
preservação, conservação, recuperação, uso sustentável e melhoria do meio
ambiente e promoção do bem-estar humano, e que podem ser afetados pela
intervenção humana.

A legislação supracitada, prevê não somente o pagamento direto – monetário


ou não – mas, também, a possibilidade de isenções tributárias, melhorias na
propriedade, títulos verdes2, comodato, entre outros, àqueles que prestarem serviços
ambientais.
Além disso, o PSA é bem-sucedido em agradar e empolgar duas frentes
opostas, os ambientalistas e os ruralistas, pois representa benefícios a ambos, ao
desenvolvimento e ao ecologicamente correto.

1 http://www.sefaz.ba.gov.br/scripts/ucs/externos/monografias/monografia_marlon_lima.pdf
2 Segundo a Bolsa de Valores brasileira (B3), Títulos Verdes ou “Green Bonds” são títulos
relacionados às: Adaptação às mudanças climáticas, Conservação da biodiversidade terrestre e
aquática, Eficiência energética, Tecnologias e processos de produção ecoeficientes e/ou adaptados à
economia circular, Prevenção e controle de poluição, Transporte limpo, etc.
Quanto ao pagamento, apesar de haver experiências com o PSA anteriores à
Lei nº 14.119, promulgada em 13 de janeiro de 2021, não havia uma lei federal
regulamentando e especificando, como a lei supracitada passou a fazer. Na realidade,
o Estado passou a considerar o PSA como uma possibilidade concreta apenas após
o Código Florestal de 2012, e ainda de forma bem simplificado e pouco detalhada.
Inclusive, anteriormente à Lei, até mesmo o conceito de PSA era incerto, por vezes
conceituado de maneira muito ampla, se referindo a qualquer instrumento econômico
para a conservação e, às vezes, de maneira muito restrita, dificultando sua execução.
Entretanto, a nova Lei do PSA veio para dar fim a essas incertezas,
conceituando de forma objetiva os serviços ambientais, promovendo os pontos que
pretende incentivar e delimitando e esclarecendo os financiadores do programa.
Segundo o Art. 2º, V, o pagador de serviços ambientas poderá ser: o poder público,
organização da sociedade civil ou agente privado, pessoa física ou jurídica, de âmbito
nacional ou internacional.
Porém, precificar o quanto vale os serviços prestados, calcular o preço do ar
puro que respiramos, a água pura que bebemos, é uma tarefa de extrema
complexidade, sendo um dos maiores desafios a serem perseguidos.
É visto que, o pagamento/isenção ofertado pelo Estado deve ser atrativo aos
produtores de forma superior ao proveito que se obteria com a exploração do bem
natural, caso contrário, não há motivos para o produtor optar pela forma
ambientalmente correta, dado seu fim lucrativo. Ao Estado, o gasto deve ser encarado
sob a ótica do tributo extrafiscal, ou seja, aquele que não finda arrecadação, mas ser
um mecanismo de orientação para que sejam tomadas atitudes em favor de um
determinado bem público. Semelhante ao que ocorre com o ICMS ecológico, que com
o tempo, passou a ser encarado como receita pelos estados que aumentaram seus
repasses conforme implementavam políticas públicas ambientais.

Conclusão

A partir do exposto, nota-se que as leis promocionais são essenciais às


dificuldades modernas e futuras, a Lei do PSA é um exemplo positivado em nossa
legislação, ela oferece esperança a polos bem distintos, comprovando que tem a
capacidade de resguardar o desenvolvimento econômico sem agredir a garantia de
vida em nosso planeta no futuro.
O PSA já era, de forma rudimentar e experimental, aplicado no passado,
porém, começou a ganhar destaque há poucos anos, com a realização de eventos
ambientais específicos e com a Lei promulgada esse ano. A ausência de maturidade
desse sistema em nosso país deixa clarividente a necessidade de aumentarmos e
instigarmos a discussão, pesquisa e aplicação do tema, novas metodologias deverão
surgir nos próximos anos, novas aplicações também.
A presente pesquisa permitiu encontrar alguns casos de aplicações das leis
promocionais, obter informações acerca do PSA e levantar questionamentos quanto
ao pagamento e as isenções, os métodos, valores, como funcionará a precificação
pelos serviços e se serão, realmente, viáveis ao produtor.
Por fim, insta salientar que a sobrevivência humana e a existência das
gerações futuras dependem das atitudes de hoje, da preservação de ecossistemas e
recursos. Para que isso ocorra, cabe ao Poder Público encarar os pagamentos como
um investimento de longo prazo, o qual proporcionará economias e o mais importante,
garantirá a vida saudável para as próximas gerações.
O deputado Rubens Bueno (Cidadania/PR), autor do Projeto Lei de PSA no
programa Palavra Aberta 3da Câmara dos Deputados afirmou que a promulgação da
Lei de PSA serve grandemente como incentivo, palavra essa muito usada na lei,
inclusive, deixando claro o papel de incentivar/estimular o desenvolvimento
sustentável. Porém, a Lei não pode ser apenas incentivadora, para que seja efetiva,
é necessária regulamentação detalhada, através de outras normas, principalmente de
normas tributária. Nos próximos anos, o Estado deve dedicar-se a tornar a
precificação do PSA transparente, baseada em métodos lógicos e de fácil
entendimento, sendo possível ao produtor contabilizar.

Referências

BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos; tradução de Carlos Nelson Coutinho. 11. Ed.
Rio de Janeiro: Campus, 1992.

DANTAS, Gisane Tourinho. Função promocional do direito e sanção premial na


perspectiva metodológica de Durkheim. Revista Direito UNIFACS – Debate Virtual,
nº 149, nov. 2012. Disponível em: https:
www.revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/2374. Acesso em 30/08/2021.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projeto de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1991.

OTANI, Nilo Souza. TCC - Métodos E Técnicas. 2.ed. São Paulo: Visual Books, 2011.

3
https://youtu.be/3pW3kgVOtDQ

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