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18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

Direito à informação socioambiental e


desenvolvimento sustentável

DIREITO À INFORMAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL
Revista de Direito Ambiental | vol. 45 | p. 167 | Jan / 2007
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 75 | Out / 2011DTR\2007\39
Lucivaldo Vasconcelos Barros
Mestre e doutorando em Desenvolvimento Sustentável pela UnB. Analista de Documentação da
Procuradoria da República no Estado do Pará. Professor assistente da UFPA (Biblioteconomia).
Advogado.

Área do Direito: Ambiental

Resumo: A partir de uma reflexão acerca do atual modelo de desenvolvimento adotado pela
maioria dos países este artigo faz uma discussão sobre a importância do direito à informação
socioambiental na promoção do desenvolvimento sustentável. Faz uma abordagem da garantia
legal do direito à informação pública na área do meio ambiente, mencionando os aspectos que
interferem na sua livre transmissão. Descreve, ainda, os níveis em que ocorre esse direito à
informação, enfatizando a dimensão do dever do Estado em informar a sociedade sobre as ações
públicas na área ambiental, em atendimento ao princípio da transparência administrativa.

Palavras-chave: Direito à informação - Informação ambiental - Informação socioambiental -


Desenvolvimento sustentável - Transparência administrativa
Abstract: This article starts with a reflection on the current model of development adopted by
most countries and discusses the importance of the right to socio-environmental information for
the promotion of sustainable development. It approaches the legal guarantee of the right to public
information in the environmental area, mentioning aspects that interfere with its free transmission.
It also describes the levels in which this right to information occurs, emphasizing the dimension of
the State duty in informing society about public action in the environmental area in response to
the principle of administrative transparency.

Keywords: Right to information - Environmental information - Social-environmental information -


Sustainable development - Administrative transparency
Sumário:

1.Introdução - 2.Desenvolvimento versus informação - 3.Transparência e efetividade do direito à


informação socioambiental no Brasil - 4.Dimensões do direito à informação - 5.Considerações finais
- 6.Referências bibliográficas

1. Introdução
O mundo se vê perplexo diante de tantas ameaças à natureza. O meio ambiente vive em
constante perigo. A morada comum de todos os seres é disputada de forma incontrolável pelo
homem. De um lado, um mercado cada vez mais globalizado, de outro, uma sociedade de massa
onde o consumo atinge níveis preocupantes.
A causa dos problemas ambientais deve-se, em grande parte, às ações humanas advindas após o
período industrial. O progresso desenfreado disseminou uma falsa idéia de que os ecossistemas
poderiam sustentar indiscriminadamente o crescimento econômico e que seriam capazes de se
recuperar de todas as agressões provocadas pela produção ilimitada de bens.
Desse modo, prevaleceu em nossa sociedade uma massificação da informação direcionada ao
consumo, mais voltada para o lucro, do que para a preservação ambiental, deixando em segundo
plano, questões essenciais como a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar geral. Consumir
primeiro para depois cuidar da natureza tornou-se uma regra despercebidamente aceita e seguida
no mundo moderno.
Contudo, os efeitos danosos causados pelas forças produtivas hegemônicas, se por um lado
causam prejuízos, por outro, não deixam de trazer um novo aprendizado. No processo contínuo e
dinâmico de maturidade, as sociedades contemporâneas vêm buscando alternativas para
encontrar respostas às crises com que se deparam cotidianamente.
Nesse contexto, um sentimento ambientalista ganha espaço para chamar a atenção da
comunidade internacional, alertando que os acidentes ecológicos de médias e grandes proporções

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em eclosão nos quatro cantos do mundo podem colocar em risco a vida no planeta. Alguns são
eventos ambientais locais, mas de proporções danosas globais.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável passa então a ocupar lugar de destaque nos meios
acadêmicos, políticos, sociais e profissionais, para incluir a proteção ambiental, não como um
aspecto isolado das políticas públicas, mas como parte integrante do processo global de
desenvolvimento dos países.
O documento conhecido como Relatório Brundtland, concebido pelas Nações Unidas em 1987,
recomenda que o modelo ideal de desenvolvimento a ser seguido deve atender as necessidades do
presente de modo a evitar o seu esgotamento para que as futuras gerações possam satisfazer as
suas próprias necessidades.
Aos poucos, os Estados nacionais procuram incorporar esses princípios no sentido de promover
ações mais sistêmicas, enfatizando dimensões não apenas econômicas, mas também sociais,
ambientais, éticas e culturais.
Na área ambiental, a visibilidade do Poder Público é tão vital quanto a atitude que se espera do
administrado em relação à promoção do desenvolvimento sustentável. A informação é o
fundamento para uma decisão livre e aquele que dispõe de mais recursos informacionais tem
melhores condições de fazer uma avaliação melhor sobre determinado risco ambiental.
A esse respeito, o arcabouço legal brasileiro tem consignado ao cidadão o direito de receber dos
órgãos públicos informações adequadas, claras, precisas, completas e verdadeiras, proibindo
qualquer tipo de opacidade nos conteúdos informativos sobre matéria que envolva o meio
ambiente.
O direito de acesso à informação pela sociedade, especificamente o dever do Estado em prestar
informações socioambientais, bem como os aspectos que interferem na sua livre transmissão, são
reflexões centrais em discussão neste artigo.
2. Desenvolvimento versus informação
As ameaças produzidas durante a sociedade industrial levantam a questão da limitação do modelo
de desenvolvimento adotado até então, bem como dos padrões de responsabilidade, segurança,
controle, reparação do dano e distribuição das conseqüências.
O desenvolvimento é sempre visto como a solução para todos os males da sociedade. A
mensagem escondida por trás dessa visão reducionista nos passa uma impressão errônea de que
país desenvolvido é aquele que tem o privilégio de acumular o maior número de riquezas materiais
possível.
Desse modo, por serem os recursos naturais a base de sustentação do desenvolvimento
econômico, cada país procura atingir esse estágio sem se importar com grau de exploração e
degradação que provoca na natureza. Na verdade, o homem se vê diante de um grande paradoxo.
Agindo dessa forma sem levar em conta fatores ambientais pode resultar numa saturação
definitiva da matéria-prima que dá apoio à própria produção do capital, com o conseqüente
desequilíbrio ecológico e finalmente, o colapso da economia.
Sabe-se, portanto, que os processos globais de desenvolvimento são estruturais e historicamente
manipulados por meio de políticas desprovidas de diretrizes sistêmicas. O Estado moderno nasce
envolto de uma nova ordem socioeconômica, colocando novos agentes políticos em primazia,
nomeadamente a burguesia, primeiro mercantil, depois industrial.
Nesta ordem, o papel do Poder Público, no exercício da função de legitimação, se por uma via
promove a mediação de conflitos de classe, por outra dá sustentação à hegemonia do modelo
capitalista, devido a uma "crescente disponibilidade do Estado capitalista para proteger os
interesses empresariais". 1
Sem dúvida, a transição das civilizações agrárias para a civilização industrial, sob a égide do
capital, representou uma das principais rupturas para a alteração da relação homem-Natureza, na
re-dinamização ou re-criação do mundo, inaugurando uma nova postura das sociedades com o
meio planetário.
O projeto moderno de dominação da natureza converteu os recursos ambientais em mercadoria
última e a indústria passou a ser o instrumento potencializador do homem sobre as forças naturais.
Em conseqüência, as ameaças desse novo modelo levam a humanidade a uma sociedade de risco
e a sobrevivência do ser humano, como espécie, está posta progressivamente em tênue equilíbrio
e irá depender de um esforço conjunto de toda coletividade no sentido da superação do atual
estágio. 2
Nesse sentido, as questões ambientais demandam respostas rápidas e requerem o acesso a uma
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gama de informações socioambientais e ferramentas adequadas para a análise e visualização de


modelos e cenários de impacto socioambiental, mas a apropriação isolada dessas informações é
insuficiente, tornando-se meros dados. O agente social precisa situar a informação em seu
contexto para que adquira sentido e possa transformá-la em conhecimento com a finalidade de
construir uma relação mais compreensiva da realidade. 3
De maneira breve, pode-se dizer que informação socioambiental é toda informação capaz de
provocar no cidadão-receptor uma mudança de comportamento em relação às questões que
afetam o seu ambiente. Mais informado ele se dará conta dos problemas ambientais em curso e
tomará, a sua escolha, uma posição. Por isso a importância do Poder Público em produzir e
divulgar informações, por exemplo, sobre a qualidade do meio ambiente ou sobre a existência de
uma atividade capaz de provocar um risco ambiental.
Ocorre que a esfera pública tem usado a informação como instrumento de dominação e
manipulação política. Modo geral, a apropriação dessa informação tem se dado de forma bastante
variável, conforme os contextos históricos e geográficos aos quais estejam submetidos. Há fases
e momentos em que predomina a informação, outras vezes, o que passa a ter importância é a
propaganda, senão de idéias, pelo menos de posições definidas, emergindo assim, uma forma de
poder baseado no uso e desuso da informação. 4
Da mesma forma, percebe-se que a produção, controle e uso de informações, passaram a ser
também necessidades estratégicas de mercado. A esse respeito, Boaventura de Sousa Santos
argumenta que a "progressiva mercadorização da informação e da comunicação social oferece
oportunidade virtualmente para a reprodução alargada do capital". 5
No outro pólo, a participação da sociedade em face de vários direitos tem sido um ideal longe de
ser alcançado, pois as formas de envolvimento e emancipação social foram substituídas por regras
positivistas e regulatórias.
Um dos pressupostos que levou a essa mudança "consistiu na redução política a uma prática
social setorial e especializada e na rígida regulação da participação dos cidadãos nessa prática". 6

No Brasil, como processo desse enraizamento, 7 uns passam a ter acesso a tudo e a maioria a
nada, a ponto de muitos confundirem o espaço público com o particular. Essa característica
mostrou-se mais acentuada em determinados períodos. Como exemplo, "o chamado modelo de
desenvolvimento econômico do país, patrocinado por um Estado marcadamente autoritário, acirra
a concentração de renda e os desajustes sociais". 8
Mesmo com o padrão brasileiro de redemocratização, quando se verifica uma evolução nos
debates referentes à participação pública, heranças do período centralista tornaram o Poder
Público mais regulatório que emancipatório, criando nas pessoas uma espécie de aversão à
participação e conseqüente apatia caracterizada pela ausência de lutas.
Reflexo disso, a política de informação adotada no país estimula na população uma postura
imediatista e indolente, resultante do pouco conhecimento sobre as formas de atuação possíveis e
pela forte repulsa a qualquer ingerência participativa na atividade estatal, causada pela frágil e
imatura cidadania e pelo descrédito nos políticos e nas instituições. 9
Esculpido em vários diplomas legais, o direito de acesso à informação, que deveria ser público e
socializado, não tem sido efetivado pela sociedade, mas tão somente servido a uma classe
reduzida de privilegiados, razão pela qual o desenvolvimento baseado no lucro e no consumo
acaba se tornando espelho para o modelo de governo centrado na ocultação informacional.
3. Transparência e efetividade do direito à informação socioambiental no Brasil
As reflexões sobre a visibilidade pública encontram espaço particularmente na década de oitenta,
no bojo da conjuntura política referente aos projetos de democratização do país. O direito à
informação passa a freqüentar assiduamente o discurso político. No entanto, tal análise não se
expressa, ainda, em tentativas de formulação de políticas públicas na área de informação durante
o mesmo período, sobretudo em relação à área ambiental.
Segundo Marcel Bursztyn "a experiência estrangeira na gestão ambiental norteou a política
ambiental brasileira". 1 0 Em relação ao direito à informação, o autor menciona uma pesquisa
realizada pelo Banco Mundial apontando o acesso do público a informações ambientais como um
dos instrumentos importantes e elemento-chave para a determinação dos padrões de gestão nos
países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para Drummond, "o país está passando por uma 'terceira geração' de leis, órgãos e políticas
ambientais. Passou das regulamentações da década de 1930, mais estatizantes e focalizadas na
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proteção patrimonial e em recursos específicos, para as atuais, mais genéricas, mais integradas, e
mais sensíveis à questão da qualidade ambiental como direito social". 1 1
A despeito de o Estado moderno ter respondido com a criação de normas, regulamentos e
contratos numa escala crescente, tal fato nem sempre corresponde ao grau de sua transparência
administrativa, inaugurando, inclusive, um tipo de poder, onde "a ação racional burocrática é a
coerência da relação de meios e fins". 1 2
A lei escrita, para a grande maioria da população, é um dado de pura abstração, inteiramente
dissociado da realidade na qual imersa essa maioria. O princípio da legalidade tornou-se a grande
artéria de representação do Direito. "Em nada contribui a legalidade, enquanto apenas expressão
formal do Estado de direito, para alterar as condições sociais de existência dos economicamente
desprivilegiados, no modo de produção capitalista". 1 3
Na verdade, o espírito desse direito ultrapassa essa visão simplista, para compreender que o
acesso à informação pública consiste num direito fundamental indissociável do Estado democrático
de direito e indispensável ao desenvolvimento de uma sociedade sustentável.
Nessa esteira, "a eficácia da participação depende do acesso de todos à informação de boa
qualidade e da institucionalização de mecanismos de poder sobre a tomada de decisões". 1 4
A opinião pública funciona como fermento da democracia e fonte para afirmação de valores. Na
área ambiental, o acesso a informações desempenha importante papel no equacionamento da
política ambiental, em que "os cidadãos com acesso à informação têm melhores condições de
atuar sobre a sociedade, de articular mais eficazmente desejos e idéias e de tomar parte nas
decisões que lhes dizem respeito diariamente". 1 5
Percebe-se, entretanto, que o Brasil ainda não atingiu um nível de eficácia social das normas
jurídicas e a desinformação ambiental 1 6 tem sido um grande fosso que separa o mundo legal do
mundo real, desde a colonização até os dias atuais.
Mesmo com a inserção do direito à informação na legislação e um grau mais elevado de
consciência por parte da população, tais expectativas se vêem frustradas frente a um Estado
debilitado por limitações de natureza política, econômica e gerencial e "falta de efetividade das
normas constitucionais". 1 7
Realmente, a efetividade de direitos tem sido o ponto nevrálgico de várias políticas públicas.
Edita-se uma enorme quantidade de leis, sem que a elas sejam dadas condições concretas de
acessibilidade. 1 8
É fácil perceber que o regramento jurídico não tem sido freio suficiente para acabar com a
desinformação no âmbito do serviço público, razão pela qual urge a necessidade de alteração de
conduta por parte da sociedade, colocando o problema como uma questão que se afigura também
ética e cultural. 1 9
Não basta reprimir as condutas lesivas ao meio ambiente, punir os eventualmente culpados,
reparar pecuniariamente os danos ocasionados. A efetividade da norma ambiental só será atingida
quando a grande maioria reconhecer a sua vital importância, por meio da compreensão sistêmica
dos problemas.
Por isso, devemos abandonar a crença simplista de que "só existe direito onde haja Estado. Isso é
uma ilusão hoje dominante que defronta o entendimento e as práticas do direito. Em verdade, as
práticas antecedem o Estado". 2 0 Não é a lei que modifica o mundo, mas mundo que modifica a lei.
O meio ambiente "não se limita ao direito. A legislação nada mais é do que a proteção reclamada
pelos técnicos e cientistas de outras áreas". 2 1 Logo, o direito nunca está posto, ele é a
expressão das lutas das sociedades. Não se restringe à legalidade estatal e nem envolve apenas
questões meramente formais, de fazer valer ou não o que está escrito.
Dessa leitura, depreende-se que, na maioria dos casos, a lei não consegue resolver conflitos
justamente porque o Estado não é a única fonte de direito. A fonte de direito pode estar na
manifestação popular, no comportamento ético, na cidadania, na participação civil e nas lutas
sociais por um espaço nas esferas decisórias. Isso vale também para o direito à informação.
O processo de negação da informação é um problema que se afigura também cultural, de
construção da sociedade brasileira. A visão patrimonialista herdada pela elite brasileira sempre
contaminou o nível estatal, estando a informação quase sempre ao lado da classe dominante e a
serviço do capital. 2 2

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As condicionantes da cultura política, tanto no Brasil como no restante da América Latina, "foram
marcadas por tradições estatistas, centralizadoras, patrimonialistas e, portanto, por padrões de
relação clientelistas, meritocráticos e de interesses criados entre sociedade e Estado". 2 3
Essa herança colonial está presente em vários momentos da história brasileira, tais como práticas
cartorárias, burocracia, fisiologismo, coronelismo, clietenlismo, nepotismo, 2 4 dentre outras.
Expressões cunhadas ao longo da história também foram incorporadas e difundidas no cotidiano do
cidadão brasileiro. 2 5
Acontece que o direito à informação, tal como concebido na legislação brasileira, se funda, na
maioria das vezes, em uma ideologia inquestionada, fazendo as pessoas crerem numa garantia que
está distante do dia-a-dia dos cidadãos comuns. O equívoco desdobra-se em duas facetas
fundamentais.
A primeira delas é que a informação, pensada como algo que fica guardado em algum lugar, é o
sustentáculo de toda uma sociedade. Ora, sabe-se que apenas uma parte disso é verdade. Isto
porque, a informação em seu estado bruto, armazenada ou guardada, mas sem condições de
acessibilidade, é só latente. Ela fica à espera de alguém que a use.
No âmbito acadêmico, por exemplo, a proporção de estudos incompletos, ou seja, em que os
dados foram coletados e até mesmo analisados, mas que nunca foram publicizados, é enorme. Da
pequena fração de estudos publicados, a maioria se destina a um reduzido número de
especialistas. Raramente os autores ou as instituições divulgam essas informações de forma
didática para alcançar o grande público ou apresentam seus resultados de pesquisa à sociedade.
Em outra dimensão, existe aguda confrontação entre os interesses dos países industrializados,
onde se encontram os grandes parques científicos e tecnológicos, e aqueles interesses dos países
em vias de desenvolvimento, penalizados com escassos recursos científicos e tecnológicos. 2 6
Pergunta-se então: a quem interessa uma sociedade informada? A um grupo de pessoas ou à
coletividade? E a quem interessa um Estado transparente? Aos operadores de bolsas de valores ou
às minorias? Essas reflexões são necessárias para o estabelecimento de um comportamento
pautado na ética, em primeiro lugar, e na lei, em segundo.
Ao que tudo indica, a visibilidade informacional resulta em algo capaz de enfrentar o modelo
desenvolvimentista, concentrador de riquezas, posto há séculos. A participação social na
formulação de políticas públicas constitui, nesse sentido, um processo inerente ao poder que vem
do público, conforme postula Norberto Bobbio ao enfatizar que "o Estado social é entendido não
apenas no sentido de Estado que permeou a sociedade, mas também no sentido de Estado
permeado pela sociedade". 2 7
O grau de democratização do Estado encontra, neste aspecto, um dos seus pressupostos
balizadores: "maior acesso à informação governamental, mais democráticas as relações entre
Estado e sociedade. A visibilidade social do Estado representaria, assim, um processo de
dimensões políticas, técnicas, tecnológicas e culturais, tendo como um dos seus principais
produtos a informação publicizada". 2 8
A superação das assimetrias de informação e a afirmação de uma nova cultura de direito são
necessárias em práticas que fortaleçam a capacidade crítica e de interveniência dos setores de
baixa renda através de um processo informativo de base relacional para a multiplicação e
aproveitamento do potencial dos cidadãos no processo decisório.
Ora, a visibilidade das ações estatais, ou seja, das atividades e serviços demandados pelo serviço
público, tem como premissa a transparência, da qual o direito à informação pública é condição
para a sua plenitude.
Sendo o acesso à informação pública requisito fundamental para a transparência, será - e agora a
sociedade vislumbra a possibilidade de sair das trevas - o Estado democrático de direito o mais
beneficiado com a incorporação desse princípio.
Em muitas ocasiões, sabe-se que nem sempre essa engrenagem funciona assim. A informação
pública tem seus inimigos e aqueles que querem ser autoritários e corruptos tentarão de forma
direta ou indireta dificultar a transmissão da informação socioambiental.
Para o economista Amartya Sen é possível que as pessoas freqüentemente "se encontrem em uma
situação de ignorância, mas existe algo de despropositado em um modelo de comportamento
'racional' que depende da ignorância para ser capaz de obter bons resultados, que deixe de
funcionar se as pessoas se tornarem mais bem informadas". 2 9

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Quando um risco é conhecido, a opinião pública passa a se pronunciar sobre a definição das
conseqüências dele para a saúde humana e para o meio ambiente, além de seus efeitos sociais,
econômicos e políticos. 3 0
Dessa forma, a gestão dos riscos se torna um problema público, demandando, como tal, um
diálogo entre sociedade civil, Estado e mercado sobre suas implicações. Esse diálogo pressuporia
transparência e democratização das decisões estatais relativas às obras e atividades de risco.
Como efeito indesejado pela classe dominante, a transparência pode gerar diversas formas de
mobilização social contrárias a interesses econômicos e políticos.
4. Dimensões do direito à informação
Segundo Canotilho, o direito à informação abrange três níveis: o direito de informar, o direito de
se informar e o direito de ser informado. 3 1
Sobre tais dimensões, o direito de informar consiste basicamente na faculdade de veicular
informação, que pode ser traduzido no direito a meios para transmitir informações, como, por
exemplo, o direito a um horário no rádio ou na televisão. 3 2
O direito de se informar consiste na faculdade de o indivíduo buscar as informações desejadas
sem qualquer espécie de impedimento ou obstrução. Essa face do direito à informação requer uma
enérgica participação do indivíduo. Nesse enfoque, Yves Winkin afirma que o ator social participa
da comunicação não só com suas palavras, mas também com seus gestos, seus olhares, seus
silêncios. 3 3 Isto, porque, "a população ignorante e passiva permite que o direito seja utilizado
como instrumento de dominação". 3 4
Finalmente, o direito de ser informado, remete à faculdade de ser mantido integral e corretamente
informado.
É de se esclarecer, que essas variáveis do direito à informação são complementares e
interdependentes, em muitos casos, podendo confundir-se entre si. Por exemplo, alguém que
anseie expressar uma crítica, em um veículo de comunicação, a respeito de uma atividade estatal
(direito de informar) só estará exercendo completamente sua liberdade crítica se estiver seguro de
sua tese. Por conseguinte, o acesso ao conhecimento real sobre tais atividades estatais só será
plenamente exercido (direito de ser informado) se o Estado prestar adequadamente informações
sobre suas ações, que, nesse caso, corresponde a um dever de informar.
Assim, uma norma jurídica só pode assumir três modos prescritivos: ou obriga (obrigação), ou
proíbe (proibição), ou permite (permissão). A interdependência desses três níveis leva a inferir que
num determinado ordenamento jurídico, a garantia do direito de ser informado só poderá ser
efetivada se o mesmo ordenamento atribuir a alguém o dever de prestar informações; o mesmo se
diga em relação ao direito de informar, que, revestido de uma forma positiva, só poderá ter lugar
se o arcabouço legal determinar a obrigação a alguém do fornecimento de meios para que as
informações sejam veiculadas.
À luz de tais considerações e sem desmerecer as demais vertentes do direito à informação,
cumpre empreender rápida análise do ordenamento legal brasileiro, no que diz respeito ao direito
de ser informado.
4.1 Direito de ser informado pelo Poder Público

Para que não haja prejuízo ao interesse público, 3 5 o Estado tem como missão assumir a
responsabilidade pela oferta e realização de várias atividades e empreendimentos. No exercício de
suas funções, cabe-lhe construir e oferecer obras e serviços, controlar e tutelar o exercício de
certos direitos, além de fiscalizar as atribuições exercidas por particulares.
Não há como prevenir danos causados por obras e serviços se não se tem conhecimento sobre as
atividades que estão sendo realizadas e controladas pelo Estado. Portanto, as informações
precisam ser publicizadas.
Algumas tentativas de publicização da informação socioambiental têm surgido. Recentemente, o
arcabouço legal pátrio editou a Lei 10.650/2003 - Lei do Direito à Informação Ambiental,
normatizando o acesso do público às informações existentes nos órgãos e entidades integrantes
do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (Sisnama).
O Poder Público tem sido o grande interlocutor da sociedade e mediador desse processo,
competindo-lhe também produzir e distribuir informações de modo a assegurar a todos a
transparência de suas ações.
Tais premissas evidenciam que um dos pressupostos do Estado moderno é a sua visibilidade social
mediante a implementação de instrumentos gerenciais de controle das informações que produz e o
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seu acesso pelo cidadão.


O modo como são positivados os textos legais evidencia que o direito à informação socioambiental
necessita, igualmente, de meios eficazes de realização, sobretudo por meio da participação
pública ativa do cidadão.
É, pois, a partir do conhecimento de todos os fatos que possam influir, positiva ou negativamente,
na vida dos cidadãos, que eles poderão se organizar, e a partir de experiências positivas impedir
eventos danosos à coletividade.
"A participação popular na legislação ambiental brasileira dá-se através da manifestação de
vontade e possibilidade de indagação no procedimento administrativo-licenciador, na hipótese de
ser precedido de estudo de impacto ambiental, através das audiências públicas; na participação
em órgãos dotados de poderes normativos e/ou deliberativos (conselhos e comitês) e no processo
legislativo (iniciativa popular de lei e referendo). Por fim, ela ocorre através do acesso à Justiça".
36

O regime constitucional brasileiro de 1988 estabelece que todos os indivíduos têm o direito de
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
geral (art. 5.º, XXXIII, CF/1988 (LGL\1988\3)), determinando que a publicidade dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social (art. 37, § 1.º, CF/1988 (LGL\1988\3)). Desse entendimento
se extrai que o Poder Público tem o dever de prestar informações. Logo, no que concerne às
atividades públicas, o indivíduo tem o direito de ser mantido constante e integralmente informado.
O direito de ser informado não apresenta caráter absoluto no âmago da Constituição. Isto porque,
como já dito, esse direito apresenta uma face bilateral, pois só se pode afirmar que alguém esteja
investido do direito de ser informado, quando o mesmo ordenamento atribua a outrem o dever de
prestar tais informações.
Assim, em matéria ambiental, o direito de acesso às informações (art. 5.°, XIV e XXXIII, da CF/
1988 (LGL\1988\3); art. 14, I, do Dec. 99.274/1990 e art. 8.°, da Lei 7.347/1985) pressupõe o
dever do Poder Público informar periodicamente a população sobre o estado do meio ambiente e
sobre as ocorrências ambientais importantes (art. 4.°, V, e 9.°, X e XI, da Lei 6.938/1981 e art.
6.°, da Lei 7.347/85).
Segundo Paulo de Bessa Antunes "o cidadão tem o direito de exigir que o Poder Público divulgue as
informações que eventualmente possua e na sua existência, o cidadão poderá exigir judicialmente
que a Administração produza as informações que se fizerem necessárias". 3 7
Ademais, fica consignado que o direito constitucional de acesso a informações ambientais pode
ser "exercido tanto por pessoas físicas como jurídicas, nacionais ou estrangeiras e é oponível aos
órgãos da administração direta e indireta e a todos os órgãos que exerçam funções delegadas do
Poder Público". 3 8
Do exposto resulta claro, portanto, que o direito a receber informações, em princípio, fica restrito
aos assuntos relativos às atividades do Poder Público. Da mesma forma, pode-se verificar que tal
entendimento não é absoluto. Nesse viés, em determinadas situações, o particular também tem o
dever de prestar informações, não diretamente a um indivíduo ou à coletividade, mas por força de
mandamento constante em lei ou decisão judicial. É o que ocorre, por exemplo, no licenciamento
ambiental, em que mesmo a iniciativa privada tem o dever de prestar informações ao órgão público
licenciador, devendo este, por sua vez, prestar publicidade à sociedade em geral (art. 225, IV, da
CF/1988 (LGL\1988\3)).
O particular está obrigado, portanto, a prestar à Administração Pública as informações que a lei e
os procedimentos administrativos exigirem, e mais, está obrigado também, frente a qualquer
cidadão, a fornecer as informações que detenha sobre suas atividades desenvolvidas em potencial
risco ao meio ambiente.
Nessa esteira, deduz-se que, apesar dos limites constitucionais, a informação clara e irrestrita
deve ser uma busca permanente não apenas do Estado, mas também da iniciativa privada e do
terceiro setor, já que não é possível construir uma consciência cidadã por meio de mentiras,
omissões ou meias verdades, sobretudo quando uma garantia se reveste de um direito difuso, ou
seja, quando alcança um número indeterminado de pessoas como é o caso de questões que
envolvem o meio ambiente.
5. Considerações finais
A degradação ambiental e a injustiça informacional têm início na degeneração das ações humanas.
Pensar uma possível proteção dos ecossistemas planetários requer mudanças sistêmicas e
profundas, que afetem o núcleo do paradigma hegemônico da civilização contemporânea.
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Refletir sobre os padrões atuais de desenvolvimento reaproxima o debate sobre o acesso público à
informação socioambiental, como um instrumento imprescindível à consolidação do Estado
Democrático de Direito.
A despeito de todo o caminho percorrido, estudos têm revelado que o direito de acesso à
informação socioambiental no Brasil ainda é uma barreira. Na verdade, trata-se de uma espécie de
desinformação, nociva à sociedade e contrária aos princípios do desenvolvimento sustentável, pois
dissimula o direito à informação verdadeira e admite que interesses particulares e principalmente
econômicos se sobreponham a interesses públicos.
A transparência informacional necessita de mecanismos concretos e eficazes para que se torne
uma ação transformadora, como fator de criação de uma conscientização coletiva na participação
pública ambiental.
Não há dúvida que é necessário criar na população essa nova cultura de buscar informações
socioambientais como um instrumento político de libertação e de mudanças de comportamento em
favor de um ambiente equilibrado e saudável.
Talvez a transformação só seja efetivada com uma reforma ética onde se leve em conta a
capacidade da natureza, de suportar os constantes riscos; uma sociedade onde a informação
socioambiental seja difusa e se revele como um instrumento de igualdade e não como um
mecanismo a serviço do capital ou do poder político.
Não é mais possível a prevalência de um fatalismo que determina o curso dos acontecimentos,
onde os sonhos individuais se dirigem ao lucro e ao consumismo. É necessário repensar algumas
questões essenciais nesse debate.
Qual é o papel da informação nesse quadro? Afinal, que tipo de informação a população necessita
e para quê serve? A informação tem sido orientada para o bem-estar social ou para a satisfação
de uma camada privilegiada da sociedade? O Estado brasileiro tem cumprido seu papel na
promoção do direito à informação em favor da sociedade? Está o Poder Público oferecendo
condições de acessibilidade? As informações têm sido incorporadas pelos cidadãos? Elas têm sido
utilizadas na proteção do meio ambiente?
Espera-se que essas reflexões possam demandar uma postura pró-ativa da Administração Pública
brasileira, em nível nacional, bem como dos líderes políticos das potências econômicas mundiais,
concentradoras de recursos tecnológicos, científicos e militares e de todos os agentes, estatais
ou não, dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, detentores do poder informacional.
É certo que nenhuma sociedade consegue escapar integralmente imune da corrupção, assim como
não restam dúvidas que a transparência, por si só, seja um antídoto plenamente eficaz contra as
várias formas de manipulação política e econômica.
Uma das tarefas mais importantes da democracia moderna é promover o direito à informação nas
áreas onde reina a escuridão. Quanto mais instituições tradicionalmente fechadas se tornarem
transparentes, mais a democracia avança e se consolida. O Estado permeado pelo segredo dá azo
à corrupção e outros desvios da função pública. Na área ambiental, essa falta de responsabilidade
pode ser uma tragédia irreversível.
6. Referências bibliográficas
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1. SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da


experiência. In: ______. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição
paradigmática. São Paulo: Cortez, 2000, p. 147.

2. Visão compartilhada por Santos (Op. cit.); Bartholo Jr. (1984); Beck (1996) e Dupas (2001).

3. Síntese expressa por Canhos (2004); Morin (2003); Machado (2006).

4. O conceito de informação vem adquirindo papel relevante no mundo contemporâneo,


principalmente quando se trata de matéria ambiental. A cada dia, o homem está mais dependente
de informações sobre a ação do outro para poder estabelecer sua própria ação. A informação
comporta um elemento de sentido e representa um significado transmitido a um ser consciente por
meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda
sonora etc. Como homens livres, todos têm o direito de dar e receber informações e, igualmente,
de expressar seus pensamentos. Essa garantia encontra-se registrada oficialmente em vários
diplomas legais. Entretanto, a positivação não tem sido suficiente para garantir o uso da
informação, sua disponibilidade e o desejo de usá-la. Na prática, o modo de assegurar o acesso a
informações ambientais encontra muitas dificuldades e qualquer que seja o tipo de canal utilizado
para a transferência da informação, barreiras existirão para dificultar o seu trânsito, do produtor
ao usuário. As interferências políticas e econômicas constituem obstáculos ao processo de
comunicação. Esses entraves são comuns a todos nós, ao mesmo tempo, imperceptíveis ao
primeiro olhar. Tanto no exercício da política como na prática empresarial, o culto do segredo tem
sido apontado como um instrumento de sucesso. Daí, não é de surpreender a resistência de
governos e de empresários em transmitir as informações ambientais (LE COADIC, 1996;
FIGUEIREDO, 1979; MACHADO, 2004).

5. Santos (Op. cit., p. 155).

6. Idem, p. 113.

7. No contexto histórico da escravidão, o oligarquismo, por meio de uma imposição violenta e


unilateral, garantia a unidade política e afastava o separatismo na colônia. Poucos tinham o direito
de freqüentar a Casa Grande. Aos menos favorecidos restava a Senzala. Apesar da relação entre
público e privado não se dá mediante regulação participativa, a garantia da hegemonia de uns
sobre os outros deixou marcas profundas no modelo de gestão pública no Brasil (FREYRE, 2000,
com adaptações).

8. JARDIM, José Maria. Transparência e opacidade informacional do Estado no Brasil: usos e


desusos da informação governamental. Niterói: EdUFF, 1999, p. 86.

9. Pedro Roberto Jacobi na obra intitulada Espaços públicos e práticas participativas na gestão do
meio ambiente no Brasil, publicada em 2003 deixa clara essa forma de atuação.

10. BURSZTYN, Marcel. Estado e meio ambiente no Brasil: desafios institucionais. In: ______. Para
pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993, p. 98-99.

11. DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar a história ambiental do Brasil? ensaio temático.
Varia História, Rio de Janeiro, n. 26, p. 13-32, jan. 2002, p. 29. Este autor faz a seguinte
classificação: 1.ª geração - 1934 - 1980 - prevalência da visão da natureza como patrimônio

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público a ser protegido e ou explorado preferencialmente pelo Estado; prevalência de uma posição
de aproveitamento econômico dos recursos; prevalência de proteção a compartimentos separados
da natureza; órgãos setoriais e pouco integrados entre si; 2.ª geração - 1981 (Lei da PNMA) -
1988 (Constituição) - prevalece a visão da natureza como provedora de uma qualidade de vida
que é direito de toda a população; montagem de uma estrutura legal e gerencial integrada; órgãos
unificados ou fortemente integrados; estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; pressão
pela internalização de externalidades negativas; 3.ª geração - 1988 em diante - integração da
agenda ambiental com a agenda social; aprofundamento do licenciamento ambiental e dos estudos
e procedimentos conexos; era dos compromissos internacionais (Agenda 21, Convenção da
Diversidade Biológica, Convenção de Mudanças Climáticas etc.); lei de crimes ambientais e
iniciativa do Ministério Público na área ambiental; aprofundamento de certas leis (recursos
hídricos, recursos genéticos, etc.).

12. WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1979, p. 235.

13. GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: (interpretação e crítica).
São Paulo: RT, 1990, p. 28.

14. LITTLE, Paul E. Os desafios da política ambiental no Brasil. In: ______. Políticas ambientais no
Brasil: análises, instrumentos e experiências. São Paulo; Peirópolis; Brasília: IIEB, 2003, p. 18. Num
ensaio sobre o tema, Barbosa Lima Sobrinho afirma que a informação é tão importante, que a
desinformação surge como característica do subdesenvolvimento. Segundo ele, "a extensão, a
variedade, a influência da informação associada ao exercício da democracia trouxeram para os
governantes um novo problema ou uma obrigação irredutível, qual fosse a necessidade de
persuadir como fórmula de êxito. O que acarretou a necessidade de entrar no páreo das
informações, como requisito para conquistar ou se manter no poder" (LIMA SOBRINHO, 1980, p.
160).

15. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 4. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: RT, 2005, p. 222.

16. Numa parceria com o Ibope e Iser, o Ministério do Meio Ambiente realizou pesquisa com duas
mil pessoas, em todo o território nacional, concluindo que os brasileiros, de um modo geral,
continuam se sentindo pouco informados sobre os assuntos relativos ao meio ambiente, indicando
quase nenhum avanço neste setor, após 10 anos do evento ecológico Rio-92. O resultado
apontou, por exemplo, que dos entrevistados, apenas 2% consideram-se muito bem informados a
respeito (BRASIL, 2001).

17. BARROSO, Luis Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e
possibilidades da Constituição Brasileira. 7. ed. atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 279.

18. Apesar do art. 3.° da LICC (LGL\1942\3) (Lei 4.657/42), afirmar que ninguém deve se escusar
de cumprir uma lei, alegando o seu desconhecimento, há o dilema de não se possibilitar que as
pessoas tenham acesso às leis nacionais, ou ainda, quando se tem acesso, ocorre do ato não se
tornar uma norma efetiva no mundo real, isto é, na maioria das vezes, somos ao mesmo tempo,
desconhecedores e infratores, ou meros espectadores da legislação pátria.

19. Cultural no sentido de incorporação do conjunto dos padrões de comportamento, das crenças,
das instituições e de outros valores morais e materiais, característicos da sociedade brasileira
durante períodos históricos passados. Para Alfredo Bosi cultura "pressupõe uma consciência grupal
operosa e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro" (BOSI, 1992, p.
16).

20. AGUIAR, Roberto A. R. de. Direito do meio ambiente e participação popular. 2. ed. Brasília:
Ibama, 1998, p. 29.

21. FREITAS, Vladimir Passos. A Constituição Federal (LGL\1988\3) e a efetividade das normas
ambientais. 2. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 13.

22. Várias obras procuram explicar a influência da cultura no modo de ser do brasileiro ( História
da vida privada no Brasil; Carnavais, malandros e heróis; O que é o Brasil; Casa grande &
senzala; Raízes do Brasil; Quadro da arquitetura no Brasil, etc.).

23. JACOBI, Pedro Roberto. Espaços públicos e práticas participativas na gestão do meio ambiente
no Brasil. Sociedade e Estado, Brasília, v. 18, n. 1/2, p. 315-338, jan./dez. 2003, p. 317.
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24. A palavra nepotismo foi cunhada na Idade Média para designar o costume dos antigos papas
de transformar sobrinhos e netos em funcionários da Igreja. Meio milênio depois, tais hábitos se
multiplicaram no Estado brasileiro. Investidos em seus mandatos, muitos funcionários públicos
chamam a família para assessorá-los como se fossem levar problemas domésticos e não os da
comunidade para a Administração Pública.

25. "Trem da alegria", "jeitinho brasileiro", "rouba, mas faz", "rouba, mas é meu amigo", "a lei não
pegou", "a lei virou letra morta", "memória curta", "vai dar em pizza", "molhar o pé da planta", "os
valores pagos por fora", "apadrinhamento", "Quem Indica", "peixe grande", "cacife", etc., além da
cultura da posse estampada em expressões de servidores públicos, do tipo: "meu computador",
"meu processo", "minha mesa", etc. Segundo Barbosa (1992, p. 144), o termo "jeitinho brasileiro"
já foi incorporado por alguns dicionários da língua portuguesa, como sinal de esperteza no fazer de
algo proibido por lei.

26. Guido Fernando Silva Soares em seu livro Direito internacional do meio ambiente (2003)
explica bem essa contradição.

27. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 74.

28. JARDIM, José Maria. A face oculta do Leviatã: gestão da informação e transparência
administrativa. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 119, n. 1, jan./abr. 1995, p. 138.

29. SEN, Amartya Kumar. Sobre ética e economia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999, p. 102.

30. Maíra Luísa Milani de Lima em As limitações do licenciamento ambiental como instrumento de
gestão de riscos (2005) ressalta a importância do acesso à informação para a diminuição e
precaução quanto aos riscos.

31. J.J. Canotilho na sua obra Direito constitucional (1992) estabeleceu essas três dimensões do
direito à informação.

32. NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. A proteção constitucional da informação e o direito à crítica
jornalística.

33. WINKIN, Yves. A nova comunicação.

34. LOURES, Flávia Tavares Rocha. A implementação do direito à informação ambiental. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo, v. 9, n. 34, p. 191-208, abr./jun. 2004, p. 193.

35. Percebe-se que mesmo atuando sob a égide de um regime republicano, boa parte dos
governos do Brasil, nos diversos níveis de atuação, não vem valorizando o sentido original da
palavra (do latim re publica, coisa pública).

36. CAPPELLI, Sílvia. Acesso à justiça, à informação e à participação popular em temas


ambientais no Brasil. 2002. Trabalho apresentado no Seminário Diálogo Governos-Sociedade Civil,
Santiago, Chile, 2002, p. 2.

37. ANTUNES, Paulo de Bessa. Política nacional do meio ambiente: comentários à Lei 6.938, de 31
de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 161.

38. GRAF, Ana Cláudia Bento. O direito à informação ambiental. In: FREITAS, Vladimir Passos de
(Org.). Direito ambiental em evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2002, p. 27.
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