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Denise Hammerschmidt1
Bruna Anne Reinert2
RESUMO: O presente artigo tem como ABSTRACT: The purpose of this paper is to
finalidade examinar os limites jurídicos da examine the limits of advertising activity in
atuação publicitária em relação à prática da relation to the practice of misleading publicity
publicidade enganosa na atual sociedade de in the current consumer society, focusing on
consumo, com enfoque à técnica publicitária the advertising technique known as puffing,
nomeada como puffing, sob o prisma da from the point of view of the consumer
perspectiva consumerista. O uso desta perspective. The use of this technique, in
técnica, em certas situações, tem o condão certain situations, has the power to mislead
de induzir o consumidor em erro, vide o the consumer, according the use of
emprego do exagero de forma enganosa, de exaggeration in a deceptive way, in order to
modo a atraí-lo e condicioná-lo a determinado attract and condition it to a certain behavior.
comportamento. O controle desta prática é The control of this practice is carried out in two
realizado em dois âmbitos distintos, contudo, distinct, but, complementary areas, namely the
complementares, a saber, o âmbito jurídico, legal scope, governed by state laws, and the
regido pelas leis estatais, e o âmbito privado, private sphere, ordered by norms created by
ordenado por normas criadas pelos próprios the advertising partners themselves.
partícipes publicitários.
1 INTRODUÇÃO
1 Pós Doutora e Doutora em Direito pela Universidade de Barcelona. Juíza de Direito Substituta em 2º
grau do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Conselheira editorial da editora Juruá e professora
de processo penal da Faculdade Curitibana. E-mail: denise_hammerschmidt@hotmail.com.
2 Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal do Paraná e Assessora Jurídica
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para tanto se existia ou não o propósito de enganar, visto que sempre que o anúncio
for bastante para induzir o consumidor em erro, estará configurada a publicidade
enganosa.
Os parâmetros para mensuração do potencial de induzimento são: a) objetivo:
reflete o conteúdo da mensagem; e b) subjetivo: referente à capacidade crítica do
público-alvo, consumidor atingido ou atingível.
Em relação ao conteúdo da mensagem, o Código de Defesa do Consumidor
adota o princípio da transparência, que se traduz na obrigação de o anunciante
informar de forma prévia, ampla e adequadamente sobre o seu fornecimento e o
princípio da veracidade, pelo qual o fornecedor não pode faltar com a verdade
naquilo que anuncia, seja por afirmações ou omissões, sendo vedada a manipulação
de sons, frases e imagens, com o escopo de iludir o consumidor. (NUNES, 2005, p.
555).
Feita esta breve análise, torna-se possível conceituar o puffing, que é
qualificado como uma técnica publicitária que se vale do emprego do exagero. Sua
fundamental característica é o uso de adjetivações exageradas, como a exemplo “o
melhor carro do mundo” ou o “carro mais econômico da categoria”.
A doutrina entende que o puffing não está proibido à medida que apresentado
“como publicidade espalhafatosa, cujo caráter subjetivo ou jocoso não permite que
seja objetivamente encarada como vinculante.”. (JÚNIOR, 1992, p. 67).
Nessa senda, complementa Teixeira de Almeida:
Ainda, segundo Luiz Antonio Rizzatto Nunes (NUNES, 2005, p. 555), tal
afirmação se vale “apenas para as hipóteses em que o exagero é evidente e
inofensivo e simultaneamente não possa enganar o consumidor.” De tal modo, se o
anúncio diz que é “o carro mais econômico da categoria” deve-se poder provar que,
de fato, o carro é o mais econômico da categoria.
Desta forma, sua utilização é limitada pela capacidade de tornar enganoso o
anúncio, instigando o consumidor em erro. Logo, existirão muitos casos em que o
puffing, ainda que utilizado intencionalmente para atrair o consumidor ingênuo, não
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torna-se capaz de tornar enganoso o anúncio, vez que o seu exagero pode ser
verificado facilmente pelo “homem médio”.
Para Luiz Antonio Rizatto Nunes:
Como tais afirmações dependem de uma avaliação crítica (ou não) subjetiva
de cada consumidor, fica difícil, senão impossível, atribuir de fato a
possibilidade de prova da verdade da afirmação. Afinal, gosto é difícil de
discutir. Por isso que a doutrina dá certo desconto para o exagero. (NUNES,
2005, p. 555).
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4 ÉTICA PUBLICITÁRIA
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Válido apontar que as excludentes do nexo causal que podem ser levantadas
pelo fornecedor, são limitadas, conforme se verifica do §3º dos artigos 12 e 14 do
CDC, o fornecedor somente terá sua responsabilidade afastada quando demonstrar
a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro, que não tenha colocado o produto no
mercado ou que, apesar de ter colocado o produto no mercado, não possua defeito.
Outro aspecto que merece destaque, é a possibilidade da aplicação da teoria
da desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 28 da Lei
Consumerista, bem como a facilitação da defesa dos direitos do consumidor, que
tem como um de seus direitos básicos a possibilidade da inversão do ônus da prova,
no processo civil, segundo dispõe o art. 6º, inciso VIII do Código de Defesa do
Consumidor.
Portanto, conclui-se que embora haja quatro elementos essenciais da
responsabilidade civil, quais sejam, ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, nexo
causal, e o dano, quando se trata das relações de consumo, a responsabilidade será
objetiva, não prescindindo de prova de culpa para a reparação à vítima.
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serviço semelhante, podendo, ainda, optar por rescindir o contrato, e ter restituída a
quantia paga devidamente atualizada, sem prejuízo das perdas e danos.
Com relação à publicidade abusiva, embora na maioria das vezes não resulte
em prejuízo de ordem econômica ao consumidor, pode provocar danos de ordem
moral, que também facultam ao consumidor o direito à indenização.
Portanto, resta claro que o fornecedor-anunciante, ao divulgar determinado
produto ou serviço por meio da publicidade, deve atentar, além dos valores morais e
éticos da sociedade, os princípios e normas estabelecidos no Código Consumerista.
Sendo assim, o anunciante deverá apresentar as reais características do seu
produto ou serviço, a fim de mostrar exatamente ao consumidor o que será
apresentado no momento da aquisição.
Portanto, conclui-se que caso a publicidade divulgada pelo anunciante através
das agências publicitárias e veículos de comunicação, seja de natureza abusiva ou
enganosa, haverá a responsabilização do anunciante, que será obrigado a reparar o
consumidor por eventuais danos morais ou materiais
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exceções que excluem sua responsabilização, a saber: a) anúncios que não são
ilegais objetivamente considerados em si e dos quais não se extrai a enganosidade;
e b) anúncios por cuja veiculação não é possível ao veículo, por falta de condições
reais, saber se são enganosos. (NUNES, 2005).
Importante ressaltar que a prática da publicidade enganosa está tipificada
também como crime pelo Código de Defesa do Consumidor, conforme o disposto no
seu art. 67.
Em relação à responsabilização pelo Poder Judiciário, uma vez acionado, de
forma individual ou coletiva, este poderá determinar a supressão tanto do anúncio
veiculado como da campanha inteira do anunciante, ou apenas parte dela, além de
impedir a publicação e/ou transmissão deste.
Quanto à condenação, poderá o Judiciário, ainda, aplicar ao fornecedor a
determinação da prática de contrapropaganda, que deverá ter um conteúdo que
possa anular ou ao menos desmentir o conteúdo enganoso anteriormente produzido.
Esta deve ser implementada, no mínimo, de igual forma e com a mesma frequência
e dimensão que a publicidade enganosa, nos mesmos veículos, locais, espaços e
horários, podendo o magistrado, inclusive, condenar o fornecedor em dimensão
maior que a do anúncio enganoso, de forma a dar mais visibilidade.
O magistrado ainda poderá definir multa diária pelo descumprimento da
obrigação (astreinte), com a intenção de persuadir o infrator a cumprir a sua
obrigação, além de condenar o fornecedor ao pagamento de danos morais e
materiais cumulados, ou não, com repetição do indébito.
Desta forma, verifica-se que ao realizar uma publicidade exagerada (puffing)
que induza o consumidor em erro, tanto o anunciante quanto sua agência e o
veículo serão responsáveis solidariamente, respeitadas as exceções, pelos danos
que o anúncio causar e pelas infrações praticadas.
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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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10 BIBLIOGRAFIA
COELHO, FÁBIO ULHOA. Curso de direito comercial: direito de empresa. 16. Ed. V.
i. São Paulo: Saraiva, 2012.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil,
Responsabilidade Civil.V.3.13.ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
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NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. 2. ed. rev., modif. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2005.
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