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Santarém-PA
2022
Olga Castro Vieira. Mat.: 2019009560
Rebeca Santos Queiroz. Mat.: 2019013517
Santarém - PA
2022
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As propagandas enganosas e abusivas, a sua nocividade ao consumidor e a
contrapropaganda como medida reparadora: uma análise sob a ótica do Recurso
Especial nº 1633573-MG
Abstract: The birth of a consumer society entails the emergence of publicity. There is also a
need to establish, by law, a rule to meet the perspective of consumer protection in the
consumption relationship, which is the most vulnerable part in this dynamic. This article
brings through the systematic interpretation of the Consumer Defense Code and Special
Appeal No. 1633573-MG, that any and all advertising made available in the consumer market
by the product and service supplier must respect principles that safeguard fragility of the
consumer in the relationship, as well as guaranteeing the right of fulfillment, as well as a
contract signed between individuals,
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Estudante do 7° semestre de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará.
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Estudante do 7° semestre de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará.
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I - INTRODUÇÃO
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cheguem aos tribunais para uma análise sobre a oferta ser ou não uma propaganda enganosa
ou abusiva.
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então os anunciantes podiam prometer curas milagrosas ou resultados impossíveis para seus
produtos.
Dando continuidade, um grande marco para a história da publicidade-propaganda
ocorreu na Revolução Industrial, pois o surgimento de novas empresas e indústrias acarretou
no aumento de produção, que por sua vez aumentou a quantidade de produtos a circularem no
mercado. Por outro lado, seguiu-se o início da explosão demográfica, que levou a um
aumento do número de consumidores potenciais.
Assim, durante o século XIX, com todo este desenvolvimento econômico e industrial,
o mercado publicitário começa a crescer, não só pela publicação de anúncios mas também
pelo aperfeiçoamento da técnica publicitária, passando a ser persuasiva nas suas mensagens e
perdendo, quase por completo, o seu sentido informativo, isto é, o produto começou a ser
imposto e não sugerido.
Já no século XX, com o surgimento do rádio, a publicidade-propaganda ganhou mais
um meio de transmissão. Nesse contexto, passou a ser possível ter propagandas com som e
que chegassem a públicos diferentes. Além disso, a linguagem diferenciada da publicidade, já
explorada e aos poucos aperfeiçoada nas propagandas gráficas, ganhou destaque. Era
necessário, nesse diapasão, diferenciar este tipo de divulgação de programas “monótonos”,
como o noticiário. A peça da propaganda publicitária precisava atrair pelo tom, pelas músicas
e pela escolha de palavras.
Porém, o grande impulso na história da publicidade-propaganda veio com a invenção
da televisão. A possibilidade de contar com texto, imagem em movimento e som em uma
mesma divulgação revolucionou a propaganda publicitária. As pessoas podiam agora ver os
produtos sendo demonstrados em ação, ao mesmo tempo que o áudio e os textos na tela
tentavam convencer o possível comprador. Assim, passou a ser muito mais fácil transformar
um produto em objeto de desejo ou necessidade.
Nesse sentido, pode-se verificar que em toda a evolução da publicidade-propaganda,
quer na antiguidade clássica, quer nos dias atuais, o principal objetivo desta não mudou,
continuando a ser utilizada, portanto, para chamar a atenção do público ao seu produto e,
assim, adquirir lucro.
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inverídicas. Além disso, esse conteúdo falso deve ainda ser capaz de induzir o consumidor ao
erro, ou apresentar potencial para tal.
Em síntese, a publicidade enganosa apresenta bens e serviços como algo que eles não
são, passando uma falsa ideia para as pessoas sobre a sua real utilidade. Dessa forma, a
publicidade enganosa está prevista no artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor e pode
ser subdividida em:
1) Publicidade-propaganda enganosa comissiva, que incita o consumidor ao erro,
como anunciar que um relógio é à prova d’água, sendo que não é na realidade;
2) Publicidade-propaganda enganosa omissiva, que se refere à omissão de
informações, o que pode induzir o consumidor a cometer um erro, como quando um
consumidor passa mal porque não pode consumir glúten e adquire um produto que não
informou que havia essa proteína na sua composição. Pode ser considerada dano moral e se
caracteriza como responsabilidade da empresa;
3) Publicidade-propaganda enganosa parcialmente falsa, que fornece algumas
informações parcialmente falsas sobre o produto ou sobre o serviço, como quando uma
empresa que anuncia que o seu liquidificador tem X funcionalidades, enquanto, na realidade,
possui apenas Y.
4) Publicidade-propaganda enganosa inteiramente falsa, na qual os produtos ou os
serviços possuem informações totalmente falsas sobre eles. Por exemplo: o consumidor
compra um creme antirrugas que promete acabar com as rugas em 1 mês. Mas, na verdade,
quando constatado, os componentes do produto nunca resultarão no efeito prometido.
5) Publicidade-propaganda exagerada, quando um consumidor for induzido a algum
tipo de erro devido ao excesso ou ao exagero na divulgação do produto ou do serviço,
causando, assim, danos ao consumidor.
Observa-se diante disto que a veiculação de mensagens atrativas, como meio de
apresentação de empresas e entidades, comercialização de produtos e serviços, passou a ter
um controle mais efetivo com o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Ademais,
traçando uma linha eminentemente defensiva, a legislação do CDC passou a refrear a
publicidade enganosa e abusiva, possibilitando, de forma aberta e aparente, um indiscutível
avanço na proteção do consumidor.
Assim, alicerçado por princípios básicos, como identificação da mensagem,
vinculação contratual, veracidade, não-abusividade e correção, o sistema da publicidade
regulado pelo CDC tem como objetivo principal evitar a publicidade clandestina, assim como
a subliminar, sancionando, de forma direta e objetiva, a má publicidade e os seus
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transgressores. Assim, os abusos provocados passaram a contar com um controle mais efetivo
com a implementação das novas regras previstas no CDC, que permitiram a aplicação de
sanções civis, penais e administrativas.
IV - DA PUBLICIDADE-PROPAGANDA ABUSIVA
O CDC não conceitua expressamente a publicidade-propaganda abusiva, apenas
apresenta no §2o do art. 37, um rol de verbos que podem caracterizá-la. No caput do
supracitado artigo a publicidade abusiva é proibida em qualquer forma de publicidade que
atente contra os valores sociais fundamentais ou que induza o consumidor a adotar
comportamento prejudicial à sua saúde ou segurança.
Fernando Gherardini Santos ensina que, para o CDC, toda publicidade-propaganda
que ataca valores essenciais da sociedade, tais como meio ambiente ou igualdade racial, deve
ser considerada abusiva. Ainda, toda propaganda publicitária que gere dano de natureza
material ou não também é considerada abusiva, além de fazer um alerta para o fato de que os
danos que devem ser evitados sempre serão difusos ou coletivos.
Importante ressaltar que o conceito de abusividade não está diretamente relacionado
com o produto ou serviço, mas antes com a mensagem veiculada. Por isso, a doutrina diz que
o potencial abusivo da publicidade não afeta necessariamente os consumidores efetivos ou
reais, mas sim os potencialmente consumidores que têm suas fragilidades exploradas.
Conforme mencionado acima, a publicidade-propaganda abusiva tem seu conceito
disciplinado no artigo 37, §2º do CDC, tendo como principais características o combate da:
1) Discriminação de qualquer natureza, quando se incentiva de alguma forma o ato de
dispensar tratamento desigual ou injusto à uma pessoa, com base em preconceitos de alguma
ordem, como religiosa ou étnica;
2) Violência, que exerce algum tipo de constrangimento em face do consumidor, como
forma de obrigá-lo a ato qualquer;
3) Exploração do medo, quando percebe-se que a propaganda publicitária se aproveita
do estado emocional resultante da consciência de ameaça ou perigo reais, imaginários ou
hipotéticos;
4) Deficiência de julgamento e experiência da criança, quando se aproveita da falta de
conhecimento do consumidor, ou mesmo da criança que não possui discernimento necessário
para distinguir determinadas formas de persuasão;
5) Desrespeito aos valores ambientais, quando não está de acordo com os valores
ambientais preconizados;
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6) Indução de comportamento prejudicial à saúde e segurança do consumidor, quando
se incentiva o consumo de produtos prejudiciais ao consumidor.
Como pontuado acima, as possibilidades de caracterização da publicidade-propaganda
abusiva são amplas. Portanto, requer especial atenção por parte dos fornecedores para que
evitem infringir a legislação vigente. Da mesma forma, o consumidor deverá estar sempre
atento, devendo denunciar aos órgãos fiscalizatórios a ocorrência de eventual publicidade
abusiva
V - CONTRAPROPAGANDA
A contrapropaganda é uma propaganda que tem como objetivo neutralizar e/ou anular
os efeitos de outra propaganda. Algumas regras básicas podem servir para ações de
contrapropaganda:
1) Desfazer uma propaganda adversária, neutralizando e minimizando os efeitos;
2) Atacar os pontos fracos, provocando um sentimento de descredibilidade;
3) Desenvolver notas e publicações visando desacreditar o adversário;
4) Colocar a propaganda adversária em contradição com os fatos;
5) Desviar sutilmente o sentido e tornar a propaganda adversa insignificante;
6) Difundir notícias contestando ponto a ponto a propaganda adversa
(contrapropaganda direta);
7) Não fazer referência à propaganda adversa, contudo desenvolver uma propaganda
sobre o mesmo assunto com opinião diferente, e
8) Desenvolver uma propaganda sobre um assunto diferente que redirecione o
interesse do público.
A propaganda publicitária e a contrapropaganda são técnicas com processo de difusão
da informação e desinformação com o objetivo de influenciar decisões, tendo um forte
elemento persuasivo e convincente, estrategicamente introduzido no corpo do discurso.
Assim, a comunicação visa essencialmente convencer o destinatário sobre algo.
Nesse contexto, é possível se ter a compreensão de como o comportamento das
pessoas pode ser modificado. As atitudes, condutas e decisões dos indivíduos estão sob
influência, sendo frutos dos discursos e informações que constroem opiniões.
IV - DA ANÁLISE DO ACÓRDÃO
Em recente julgado do STJ, em sede de Recurso Especial nº 1633573-MG, o Banco
BMG teve sua condenação mantida pela Ministra Isabel Galloti a qual impõe ao banco a
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suspensão do oferecimento de cartão de crédito consignado à idoso, tendo em vista que, in
casu, este estava sendo proposto através de ligações telefônicas. Outrossim, o banco BMG
deverá promover a contrapropaganda como medida de reparação aos clientes afetados e
resguardando os futuros clientes.
Em razões, o recorrente, Banco BMG, alega que houve violação dos arts. 37, §2º e 60
do CDC, que dispõem da seguinte forma:
Art. 37. É proibida toda propaganda enganosa ou abusiva.
(...)
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BESSA, Leonardo Roscoe. MOURA, Walter José Faiad de. MANUAL DE DIREITO CONSUMIDOR.
Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014,4. ed, p. 92 e 93
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Distrito Federal larga na frente nessa regulamentação através Lei Distrital nº 6.930/21, que
veda às instituições financeiras oferecer qualquer tipo de empréstimo e cartão de crédito
consignado a idosos, da mesma forma empregada pelo Banco BMG, ou seja, por meio
telefônico.
Com base em tudo exposto, podemos afirmar que o Código de Defesa do Consumidor
possui institutos essenciais para a proteção do consumidor, considerada a parte mais frágil das
relações de consumo, através, por exemplo, da contrapropaganda.
É possível verificar que o judiciário em seus recentes julgados segue combatendo a
propaganda enganosa e a abusiva, especialmente daqueles mais vulneráveis, como é o caso
dos idosos, mas podemos depreender desta análise a capacidade das empresas em surgir com
novos mecanismos numa tentativa de burlar o sistema de proteção.
Destarte, apesar das tentativas, resta claro, a partir da análise do julgado, que a
prestação de contrapropaganda é um meio eficaz para difundir à população os aspectos
nocivos da contratação de cartão de crédito consignado, bem como vem como uma punição à
empresa quando ela se coloca como violadora de direitos do consumidor.
Por fim, em última análise cabe não tão somente ao judiciário realizar a sua função de
protetor dos direitos do consumidor, mas a peça principal disto é o legislativo ao promover
novas normativas a fim de especializar e aprimorar essa proteção. Como visto, o próprio
Distrito Federal já possui uma normativa que se relaciona ao conteúdo do Recurso Especial,
aplicando uma punição mais severa a esses casos.
Dessa forma, os mecanismos já existentes no CDC podem ser ditos como eficazes,
mas a sua aplicação em conjunto com normativas que possam empregar sanções que causem
um desfalque maior às empresas, em especial as que abarcam o nível nacional, são uma
alternativa para diminuir ainda mais a ocorrência da utilização da propaganda de maneira
nociva ao consumidor.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BESSA, Leonardo Roscoe; MOURA, Walter José Faiad de. MANUAL DE DIREITO
CONSUMIDOR. Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor. 2014, 4 ed. p. 92 e 93.
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de
Janeiro: Zahar, 2016.
NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 4a Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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