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PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Direito
AS LACUNAS EXISTENTES NO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR QUANTO ÀS
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE
ARREPENDIMENTO

Autora: Juliana Maria Milanez

Orientadora: Drª. Fabiana Teixeira Albuquerque


JULIANA MARIA MILANEZ

AS LACUNAS EXISTENTES NO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR QUANTO ÀS HIPÓTESES DE CABIMENTO
DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Direito da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do Título de Bacharel em
Direito.

Orientadora: Drª. Fabiana Teixeira


Albuquerque

Brasília
2009
Monografia de autoria de Juliana Maria Milanez, intitulada “AS LACUNAS
EXISTENTES NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR QUANTO ÀS
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO”, apresentada
como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito da
Universidade Católica de Brasília, em (data de aprovação), defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________
Prof. Drª. Fabiana Teixeira de Albuquerque
Orientadora
Direito - UCB

_______________________________________
Prof. (titulação) (nome do membro da banca)
Direito - UCB

_______________________________________
Prof. (titulação) (Nome do membro da banca)
Direito - UCB

Brasília
2009
A lei tem por função proteger os fracos contra os fortes.
Jean Calais – Auloy
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus.

Agradeço a todos que se dedicaram a me dar bons ensinamentos, em especial aos


meus queridos pais, Paulo José Milanez e Arlene Maria da P. Milanez, que tanto
envidaram esforços para que eu concluísse o curso.

Agradeço ainda a minha irmã pela paciência e colaboração no transcorrer do curso e


minha família pelo incentivo e motivação.

Agradeço também a todos os meus amigos e professores pela confiança e pelo


apoio e auxílio durante esta jornada.
RESUMO

MILANEZ, Juliana Maria. As Lacunas Existentes no Código de Defesa do


Consumidor Quanto Às Hipóteses de Cabimento do Direito de
Arrependimento. Brasília. 2009. 81f. Trabalho de conclusão de curso (graduação
em Direito) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2009.

No presente estudo serão abordadas as lacunas existentes no Código de Defesa do


Consumidor quanto às hipóteses de cabimento do direito de arrependimento. Lança
mão de proposta de extensão da aplicabilidade do art. 49 do Código de Defesa do
Consumidor as novas modalidades de vendas, por meio da positivação do
entendimento jurisprudencial e doutrinário. Pressupõe que os princípios
informadores do direito do consumidor devem servir de vetores para a interpretação
para demais normais , entre elas, o direito estabelecido pelo art. 49 do CDC. Realiza
análise comparativa com as legislações e providências adotadas pela União
Européia, que já encerrou eventuais dúvidas sobre as mesmas lacunas por meio da
criação das Diretivas. Conclui que o direito de arrependimento deve ser interpretado
à luz dos princípios da legislação consumerista. E também a grande necessidade de
evolução legislativa da norma protetiva do consumidor no Brasil, especificamente
quanto ao direito de arrependimento, uma vez que há várias lacunas no
ordenamento.

Palavras-chave: Direito de arrependimento. Hipóteses. Vendas fora do


estabelecimento comercial. Lacunas.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10
1. O SURGIMENTO DO MOVIMENTO CONSUMERISTA E SUA EVOLUÇÃO NO
BRASIL .....................................................................................................................12
1.1 A ORIGEM DO MOVIMENTO CONSUMERISTA ...............................................12
1.2 A EVOLUÇÃO NO CENÁRIO MUNDIAL ............................................................14
1.2.1 O movimento consumerista no Brasil ..........................................................18
1.2.1.1 Das primeiras providências legislativas.........................................................21
1.2.1.2 A constituição e o código de defesa do consumidor .....................................25
2. O DIREITO DE ARREPENDIMENTO DO CONSUMIDOR ...................................28
2.1. HISTÓRICO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO .........................................28
2.2 O DIREITO DE ARREPENDIMENTO NO BRASIL .............................................29
2.2.1 Conceito ..........................................................................................................29
2.2.2 Finalidade........................................................................................................30
2.2.3 Requisitos .......................................................................................................33
2.2.4 Fundamentos..................................................................................................38
2.2.5 Hipóteses comuns de cabimento .................................................................39
2.2.5.1 Venda a domicílio ou venda porta a porta .....................................................39
2.2.5.2 Vendas por telefone e correspondência ........................................................41
2.6 OUTRAS HIPÓTESES: LACUNAS IMPOSTAS PELAS NOVAS FORMAS DE
VENDAS....................................................................................................................43
3. O DIREITO COMPARADO E O DIREITO DE ARREPENDIMENTO....................47
3.1 ASPECTOS COMPARATIVOS ...........................................................................47
3.1.1 Prazo para reflexão no direito comparado...................................................47
3.1.2 Vínculo jurídico ..............................................................................................49
3.1.2. Questões/Lacunas sobre o art. 49 do CDC e o direito comparado...........53
3.2. VENDAS EMOCIONAIS DE TIME SHARING ....................................................56
3.3 VENDAS POR TELEFONE, TELECOMUNICAÇÃO E INTERNET.....................61
3.4 ESTENDENDO O DIREITO DE ARREPENDIMENTO ÀS NOVAS FORMAS DE
VENDAS....................................................................................................................65
3.4.1 Vendas emocionais ou vendas de time-sharing..........................................66
3.4.2 Vendas pela internet e comércio eletrônico ................................................70
CONCLUSÃO ...........................................................................................................75
REFERÊNCIAS.........................................................................................................78
10

INTRODUÇÃO

Hoje, o consumo é inerente ao ser humano. Todos são consumidores,


sem exceção. Consumimos desde o nascimento e em todas as fases da nossa
existência, por diversos motivos, que vão desde a utilização de mercadorias e
serviços para satisfazer as necessidades humanas, até pelo simples desejo, ou seja,
o consumo pelo consumo. 1
Destarte, a Revolução Industrial implicou uma série de mudanças nas
relações sociais. As relações de consumo e de trabalho foram as que mais sofreram
os impactos. É notório que as relações de consumo evoluíram. Entretanto, essas
evoluções nas relações consumeristas culminaram por fluir na tomada de
consciência de que o consumidor estava vulnerável, desamparado e careciam de
uma reposta legal protetiva. Diante desses novos fatos, urgia a criação de uma
legislação balizadora daquela relação.
A defesa do consumidor no plano da política constitucional é
relativamente nova, apenas com a Carta Magna de 1988 é que foram incluídos
quatro dispositivos característicos sobre o tema.
Logo após a inserção na Constituição Federal, o amparo ao
consumidor foi normatizado por meio do cumprimento ao art. 48 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, que anunciava a edição do tão
esperado Código de Defesa do Consumidor, a Lei nº. 8.078 de 11 de setembro de
1990. Sua eficácia deu-se em 11 de março de 1991, e busca alcançar toda e
qualquer relação consumerista.
Este trabalho, tendo por base a Tutela do Consumidor amparada pelo
Código de Defesa do Consumidor - CDC, terá como escopo geral enfocar o
exercício do Direito de Arrependimento em novas formas de venda, fora do
estabelecimento comercial, e as lacunas presentes no art. 49 do CDC.
O direito de arrependimento no Brasil está disposto no art. 49 do
Código de Defesa do Consumidor, e outorga ao consumidor o direito de arrepender-
se quando o fornecimento de produtos ou serviços ocorrer fora do estabelecimento

1
ALMEIDA, João Batista de. Manual de direitos do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1.
11

comercial, cabendo-lhe em caso de arrependimento a devolução dos eventuais


valores pagos, independentemente de justificar o motivo e desde que esteja dentro
do prazo de reflexão.
Todavia, o exercício desse direito é muito polêmico, pois o artigo não
fornece elementos adequados para uma interpretação segura, e portanto, uma
correta aplicação da lei, o que pode acarretar, dúvida na decisão do caso concreto
nos Tribunais.
A fim de cumprir a finalidade, o presente trabalho foi estruturado em
quatro itens. Partindo do item 02, retrata o surgimento, o desenvolvimento e a
evolução do movimento consumerista no Brasil.
No tópico 03, são feitas análises no campo conceitual do direito de
arrependimento, sua finalidade, requisitos, fundamentos e suas hipóteses de
cabimento, bem como as lacunas impostas pelas novas formas de vendas, baseado
quase sempre no marketing agressivo.
Já o item 04, lançou mão do direito comparado, enfatizando o direito
de arrependimento e seus aspectos quanto às divergências e similaridades com o
instituto brasileiro. E ainda, buscou a extensão da aplicação do direto de
arrependimento nessas novas modalidades de vendas para proporcionar a efetiva
proteção do consumidor.
12

1. O SURGIMENTO DO MOVIMENTO CONSUMERISTA E SUA EVOLUÇÃO NO

BRASIL

1.1 A ORIGEM DO MOVIMENTO CONSUMERISTA

A defesa do consumidor é considerada uma obra muito recente na


legislação e na doutrina, mas remonta os mais longínquos tempos. Contudo,
indiretamente é encontrada adjacências desse segmento, de maneira esparsa, em
normas variadas, jurisprudências e, também, nos costumes de diversas nações.
Porém, nos tempos remotos, não era concebido como uma categoria jurídica distinta
e não recebia o título que hoje apresenta.
A palavra consumidor é oriunda da palavra latina consumere, que tem
como definição o ato de gastar, despender, enfim, consumir. Ação essa que leva a
satisfação do ser humano frente a um interesse que dele necessite.
Como expõem José Geraldo Brito Filomeno, 2 às primeiras normas de
proteção ao consumidor estão no Código de Hamurabi 3 (2.300 a.C.), ainda que
indiretamente, na Pérsia. Naquele período, o Código rezava que, se o arquiteto
edificar uma casa cujas paredes se revelassem deficientes teria a obrigação de
refazê-la ou consolidá-las às suas próprias expensas, segundo a Lei nº. 233.
Extremas, também, as conseqüências de desabamento da construção
com vítimas fatais: o empreiteiro da obra era obrigado a reparar os danos, e sofria
punição (morte), caso de morte do chefe de família; caso morresse o filho do dono
da obra, este pagaria com a morte de seu próprio filho, e assim por diante. Da
mesma forma, o cirurgião que operasse alguém e provocasse a morte por imperícia
seria condenado à morte além de lhe pagar indenização. Conforme, a Lei nº. 235, o
construtor de barcos estava compelido a refazê-lo em caso de defeito estrutural,

2
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
p. 24.
3
O Código de Hamurabi é um dos mais antigos conjuntos de leis já encontrados, e um dos exemplos
mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi>. Acesso em 22 out 2009.
13

dentro do prazo de até um ano, dando uma pequena noção do que chamamos hoje
de “vícios redibitórios”. 4
Tal Código previa a regulamentação do comércio de modo que o
controle e a supervisão ficariam na responsabilidade do palácio. E ainda
demonstrava uma estrutura de controle de lucros abusivos, resultado da
preocupação de resguardar a defesa do consumidor nas relações de compra e
venda da época.
No Código de Massú, no século XIII a.C., na índia, previa multa e
punição, além de indenização dos danos, àqueles que adulterassem gêneros (Lei nº.
697), ou entregassem produtos de espécie inferior ao contratado, ou vendessem
5
bens de igual natureza por preços diferentes (Lei nº. 689).
Na Constituição de Atenas, na Grécia, existia uma preocupação com a
defesa do consumidor, estabelecendo métodos fixos para medidas das mercadorias,
métodos para impedir que estas se misturassem e, também, métodos para impedir a
sua adulteração.
Além disso, na Europa Medieval, em meados do século XV,
precisamente na Espanha e na França, havia previsão de penas rigorosas aos
fornecedores que adulterassem produtos de gêneros alimentícios, como, por
exemplo, o vinho e a manteiga. 6
No Direito Romano Clássico, aquele que vendia era responsável pelos
vícios da coisa, a não ser que esses fossem por ele desconhecidos. Todavia, no
Período Justiniano, mesmo que ignorado o defeito, era conferido à responsabilidade
ao vendedor. O consumidor de boa-fé, em caso de vício oculto na coisa vendida, era
ressarcido por meio da ação redibitória e quanti minoris. Se aquele que vendia
tivesse conhecimento do vício, deveria restituir o que recebeu em dobro. 7
A bibliografia assinala que desde os tempos mais remotos havia
normas de proteção ao consumidor, mesmo que rudimentares. Todavia, nessas
normas está o gênesis do direito do consumidor.

4
CCB - Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou
defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
5
FILOMENO, 2004, p. 25.
6
FILOMENO, loc. cit.
7
PEDRON, Flávio Barbosa Quinaud; CAFFARATE, Viviane Machado. Evolução histórica do Direito
do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 41, mai 2000. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=687>. Acesso em: 15 set. 2009.
14

1.2 A EVOLUÇÃO NO CENÁRIO MUNDIAL

O consumo é fenômeno social que se instalou com a modelação da


chamada “sociedade de massa” 8 . A grande maioria das nações teve o consumismo
aumentado em razão da égide do capitalismo, em conseqüência das duas grandes
guerras mundiais. 9 Com esse aumento de consumo, juntamente, com o fenômeno
da industrialização trazida pela Revolução Industrial, que teve seus efeitos
ampliados pelo mundo inteiro a partir do século XIX, causou significativamente um
aumento da produção em massa, disponibilizando no comércio uma infinidade de
produtos.
Logo, o mundo começou a perceber profundas transformações com a
extinção do modo de produção artesanal e manufatureiro, para ceder lugar à
indústria e a produção em série.
Após esse marco, começaram a aparecer movimentos sociais com
escopo de estabelecer a proteção nas relações trabalhistas. 10 É precisamente com o
aparecimento desses movimentos sociais que desponta o movimento consumerista,
como assevera José Geraldo Brito Filomeno: 11

(...), que o chamado movimento consumerista, tal qual nós conhecemos


hoje, nasceu e se desenvolveu a partir da segunda metade do século XIX,
nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que os movimentos sindicalistas
lutavam por melhores condições de trabalho (...)

Perante essa nova perspectiva, a relação entre o consumidor e o


fornecedor 12 se transformou, pois que, a relação não era mais interpessoal. O

8
BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicola, e PASQUINO, Gianfranco (orgs.) Dicionário de Política.
Brasília: Editora da UnB, 13ª, 2007, vol 2, p. 1211.
9
Primeira Grande Guerra (1914-1918) houve um incremento na produção, que se solidificou e
cresceu em níveis extraordinários. Segunda Grande Guerra (1939-1945) surgimento da tecnologia de
ponta, do fortalecimento da informática, do incremento das telecomunicações etc. (RIZZATTO, 2007,
p. 3.)
10
Ensina José Geraldo Brito Filomeno, (2007, p. 70) que o sucesso da luta por melhores salários e
condições de trabalho certamente propiciaria, como de resto propiciou, melhores condições de vida.
11
FILOMENO, José Geraldo Brito. Código de defesa do consumidor comentado pelos autores do
anteprojeto. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. p. 70.
12
João Batista de Almeida (2003, p. 40) entende ser fornecedor, não apenas quem produz ou fabrica,
industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também
15

consumidor distanciava cada vez mais do fornecedor, extinguindo o contanto direto


entre eles. Com base nesse novo molde de produção e de distribuição em larga
escala, o consumidor passou a adquirir produtos de um comerciante, que se tornou
o intermediário nessa relação. Destarte, por meio dessa nova relação de distribuição
e venda de produtos, passaram o consumidor e o fornecedor a não mais se
conhecerem.
Deste modo, fez-se indispensável adequar a estrutura jurídica à nova
realidade econômico-social. A velocidade na produção e na comercialização, tornou-
se fundamental para que a indústria pudesse acompanhar um mercado cada vez
mais célere. Rizzatto 13 assevera que:

Esse modelo de produção industrial, que é o da sociedade capitalista


contemporânea, pressupõe planejamento estratégico unilateral do
fornecedor, do fabricante, do produtor, do prestador de serviço etc. Ora,
esse planejamento unilateral tinha de vir acompanhada de um modelo
contratual. E este acabou por ter as mesmas características da produção.

Por essa razão, surgiu a criação de um modelo de contrato


homogêneo em seu conteúdo, que contivesse cláusulas preestabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor, ou seja, pela parte economicamente mais forte,
cabendo ao consumidor, aceitá-las ou não, quase sem qualquer negociação.
Claudia Lima Marques 14 aponta que:

(...) por uma questão de economia, de racionalização, de praticidade e


mesmo de segurança, a empresa predispõe antecipadamente um esquema
contratual, oferecido à simples adesão dos consumidores, isto é, Pré-redige
um complexo uniforme de cláusulas, que serão aplicáveis indistintamente a
toda essa série de futuras relações contratuais.

Então, em vez de negociar cláusulas o consumidor passou a aderi-las.


Diante disto, surgiu casa vez mais o desequilíbrio da relação entre consumidor e
fornecedor, uma vez que não há um debate prévio das cláusulas contratuais, já que,
existi uma predisposição unilateral do fornecedor.

quem vende, ou seja, comercializa produtos nos milhares e milhões de pontos- de- venda espalhados
por todo o território.
13
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto, Curso de direto do consumidor: com exercícios. 2. Ed. São
Paulo: Saraiva 2007, p. 4.
14
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: O novo regime das
relações contratuais. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 65.
16

Assim, nasce o novo instrumento jurídico, o Contrato de Adesão.


Consoante o ensinamento da professora Cláudia Lima Marques. 15

(...) os contratos por escrito, preparados e impressos com anterioridade pelo


fornecedor, nos quais só resta preencher os espaços referentes à
identificação do comprador e do bem ou serviços, objeto do contrato.

Ainda, buscando descrever, Claudia Lima Marques 16 adota o seguinte


posicionamento:

Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas são preestabelecidas


unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte
(fornecedor), ne varietur, isto é, sem que o outro parceiro (consumidor)
possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito.

Portanto, a sistematização do consumismo acarretou a necessidade de


disciplinar o conflito entre o consumidor e fornecedor, elementos constituintes do
binômio necessário ao meio consumerista. Até por que, como descreve Josimar
Santos Rosa, 17 os princípios são necessários para disciplinar o processo consumista
e para a proteção dos direitos do consumidor contra as constantes ameaças
geradas pelo fornecedor.
A autonomia da vontade era a pedra angular do direito, no século XIX.
A concepção de vínculo contratual está centrada na idéia de valor da vontade, como
elemento basilar, como fonte única e como legitimação para o surgimento de direitos
e obrigações oriundos da relação jurídica contratual. 18 Porém, o que antes era
suficiente e certo para orientar o contrato, a autonomia da vontade e a igualdade de
partes, não se mostrava mais eficientes.
Conforme cita Pellegrine e Herman: 19

Se antes fornecedor e consumidor encontravam-se em uma situação de


relativo equilíbrio de poder de barganha (até porque se conheciam), agora é
o fornecedor (fabricante, produtor, construtor, importador ou comerciante)
que, inegavelmente, assume a posição de força na relação de consumo e
que, por isso mesmo, “dita as regras”.

15
MARQUES, 2006, p. 69.
16
Ibid, p. 71.
17
ROSA, Josimar Santos. Relações de consumo: a defesa dos interesses de consumidores e
fornecedores . São Paulo: Atlas, 1995. p. 20.
18
MARQUES, op. cit., p. 51.
19
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 6.
17

Como lembra Maria Antonieta Donato, 20 a autonomia caiu por terra, eis
que, no fim do século XIX, sobrevieram novas transformações sociais gerando a
evolução do liberalismo. Manifestações dessa afirmação são os contratos entre
produtores a fim de limitar os efeitos da concorrência, criando situações
monopolísticas ou oligopolistas.
Ademais, tal processo gerou um sistema poderoso de marketing,
persuasivo e motivador, já que, com uma enorme concorrência entre os
fornecedores, faziam de tudo para aumentar as vendas por meio de novas técnicas
de vendas e demonstração de benefícios de produtos, capaz de induzir e controlar
os consumidores. A partir de então, o consumidor não só comprava objetivando a
atender suas necessidades básicas, mas ainda, com o desígnio de consumir o que
lhe foi imposto pelo marketing exacerbado.
Em face dessas transformações advindas, tanto no processo produtivo
como no processo mercadológico, o consumidor ficou em uma situação de extrema
fragilidade e vulnerabilidade 21 em relação ao fornecedor.
Outro fenômeno notado, além da vulnerabilidade do consumidor, foi o
aumento de riscos ao consumidor, em virtude da grande produção em massa
desses produtos. E não se tratava somente dos riscos intrínsecos do produto, mas
sim de riscos causados pela deficiência de técnica ou falha na elaboração, pois
esses existem e devem ser informados ao consumidor.
Por conta da concorrência desleal que fazia com que somente
buscasse a lucratividade, o fornecedor não transmitia segurança ao consumidor e
até não se preocupava com a segurança e qualidade dos produtos colocados no
comércio. “Multiplicaram-se as imperfeições do mercado e o consumidor se viu, de
22
uma hora pra outra, sujeito a toda uma série de abusos” . Essas e outros
descontentamentos acarretaram riscos até mesmo à vida do consumidor.
Deste modo, a preocupação resumia-se à relação interpessoal entre
consumidor e fornecedor, especialmente, até a década de 60. Acreditava-se de

20
DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. 2.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 17.
21
Cláudia Lima Marques distingue três tipos de vulnerabilidade: técnica, fática e jurídica. A primeira
diz a respeito à ignorância técnica quanto ao produto. A vulnerabilidade fática se refere à posição do
fornecedor (por ex. se monopolista, ou de grande poder econômico, ou se o produto ou serviço que
ele fornece é essencial). Por último, a vulnerabilidade jurídica é caracterizado pela ausência de
conhecimento legais ou de respaldo de competência profissional nesta área. (MARQUES apud
BLUM, 2002, p.33.)
22
BENJAMIN apud BLUM, 2002, p. 20.
18

modo errôneo que a proteção ao consumidor deveria ser meramente regrada pelas
relações de caráter privado e não na esfera pública, social, política e econômica.
Faz-se forçoso acrescer que a proteção do consumidor faz parte da
terceira geração, já que, o titular é a coletividade, motivo pela qual sua função
essencial é a proteção dos interesses difusos e coletivos.
O movimento consumerista, ao longo da história, por meio de lutas e
conquistas sociais, formou associações de proteção e defesa do consumidor, as
quais foram cruciais no surgimento de um direito que viesse garantir os direitos
básicos do consumidor.
Toda e qualquer legislação de proteção ao consumidor tem a mesma
ratio, vale dizer, reequilibrar a relação consumerista, seja tornando mais forte,
quando possível, a posição do consumidor, seja coibindo ou limitando certas
práticas de mercado. 23

1.2.1 O movimento consumerista no Brasil

O direito brasileiro não tem se calado na criação de regras para


disciplinar as relações consumeristas.
O Brasil, em sua fase colonial, seguindo as Ordenações Afonsinas e
Manoelinas, já resguardava, de uma maneira básica, o consumidor, aplicando-se
multas para aqueles que comercializassem mercadorias acima do preço fixado.
Antes da chegada do CDC não existia a figura adequada do
consumidor, onde os contratos eram regidos pelo Código Civil Brasileiro e por
normas esparsas.
Nos anos 70 e 80, já experimentava uma forte necessidade de uma
norma específica para regulamentar as relações advindas do consumerismo, logo
que, após o período pós-Revolução Industrial, o consumo aumentou
significativamente, e em decorrência disso, abusos por parte do fornecedor.
Além disso, as transformações de ordem social, econômica e jurídicas
e suas conseqüências provocaram uma maior observância à ordem jurídica por meio

23
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 7.
19

da implantação de medidas preventivas, cujo objetivo, era assegurar ao consumidor


proteção à vida, à saúde, à segurança, à liberdade de escolha e à igualdade de
condições nos contratos. 24
O Estado começou a demonstrar mais interesse em tutelar o bem
comum, preocupando-se com o interesse público. “O reconhecimento de que o
consumidor estava desprotegido em termos educacionais, materiais e legislativo
determinou maior atenção para o problema e o aparecimento da legislação
protetiva”. 25 Como relata José Geraldo Brito Filomeno: 26

Com efeito, a própria estruturação do Estado, como sociedade política por


excelência, revela não apenas a organização do poder e tecido social por
intermédio de seu ordenamento jurídico, como também a disciplinação dos
meios de produção com vistas ao consumo, uma das facetas do próprio
bem-comum.

Observa-se ainda, que Pellegrini e Herman asseveraram que é


necessária a intervenção do Estado nas suas três esferas: “o Legislativo, formulando
as normas jurídicas de consumo; o Executivo, implementando-as; e o Judiciário,
dirimindo os conflitos decorrentes dos esforços de formulação e de
implementação”. 27
Ao inserir medidas preventivas, o Estado evidenciou maior respeito e
interesse à chamada proteção ou defesa do consumidor.
Nessa esfera, o Estado, as entidades públicas e privadas, como a
Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor - PROCON, associações civis,
como por exemplo o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor, e donas de casas,
além da classe política e de líderes comunitários buscaram empregar esforços.
O auge se deu com o progresso da legislação consumerista na década
de 70, inspirada nas avançadas economias ocidentais, como por exemplo, os
Estados Unidos, onde já havia uma vasta legislação e uma forte atuação da
sociedade civil.
O cenário do desenvolvimento influenciou fortemente industrialização e
a economia, sendo o começo das reivindicações da coletividade em defesa do

24
DONATO, 1994, p. 19.
25
ALMEIDA, 2003, p. 4.
26
FILOMENO, 2004, p. 24.
27
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 7.
20

consumidor. Logo, a década de 70, tornou-se um grande marco nas concepções de


associações voltadas para a defesa dos consumidores.
O ingresso da defesa do consumidor ficou evidente com: a seriedade
dada ao tema pela impressa; o aparecimento dos primeiros projetos de leis
específicos; a criação de associações civis e entidades governamentais de defesa
do consumidor. 28
Mais tarde, iniciar-se-ia a discussão de projetos para uma legislação de
proteção ao consumidor. Nessa etapa, o consumo já não era prerrogativa apenas de
uma pequena parcela da sociedade, mas uma preocupação generalizada. Passa a
existir no Brasil a seleta indústria do consumerismo.
Embora, tenham ocorrido algumas iniciativas de associações civis e a
legalização das relações de consumo 29 por volta dos anos 70 e anos 80, o
consumidor “só abriu os olhos” em meados da década de 1980. Entretanto, não se
pode assegurar que antes deste fato o movimento consumerista no Brasil era
inexistente, mas, a partir dele, começou a desenvolver-se e a ocupar cada vez mais
lugar na pauta da sociedade civil, pois até então as iniciativas de defesa do
consumidor partiam, em sua grande maioria, do Estado.
Foi apenas na década de 90, com a abertura do mercado nacional e a
concepção do Código de Defesa do Consumidor, que a proteção e a defesa do
consumidor passaram a figurar definitivamente na pauta da sociedade civil. Nesse
novel contexto, as relações de consumo sofreram modificações e o Serviço de
Atendimento ao Consumidor passou a exercer papel fundamental na relação entre
consumidores e empresas, ajudando as organizações não só no entendimento com
esse público, como também, na prevenção de conflitos e no melhoramento de
produtos e serviços por ela oferecidos. 30

28
FREITAS, Ricardo Ferreira. Desafios contemporâneos em comunicação: perspectivas de
relações públicas. São Paulo: Summus, 2002, p. 89
29
As relações jurídicas que se encontram sob o regime do CDC são denominadas relações jurídicas
de consumo, vale dizer, aquelas que se formam entre fornecedor e consumidor, tendo como objeto a
aquisição de produtos ou utilização de serviços pelo consumidor. Os elementos da relação de
consumo são três: a) os sujeitos; b) o objeto; c) o elemento teleológico. São sujeitos da relação de
consumo o fornecedor e o consumidor; são objeto da relação de consumo os produtos e serviço. O
elemento teleológico da relação de consumo é a finalidade com que o consumidor adquiriu o produto
ou se utiliza do serviço, isto é, como destinatário final. Se a aquisição for apenas meio para que o
adquirente possa exercer outra atividade, não terá adquirido como destinatário final e,
conseqüentemente, não terá havido a relação do consumo. (NERY JÚNIOR apud ROSA, 1995. p.
67).
30
FREITAS, op. cit., p. 90.
21

Ao avaliar a relação entre consumidores e organização, identificou-se


variáveis socioeconômicas que colaboraram para essa modificação: a globalização e
abertura da economia, a retomada do regime democrático, o maior acesso à
informação por parte do consumidor e à cultural organizacional 31 .

1.2.1.1 Das primeiras providências legislativas

Não há um consenso sobre o aparecimento do movimento de proteção


e defesa do consumidor brasileiro. Esse desacordo parece ser conseqüência natural
das diversas interpretações e conceituações do que seja um movimento de defesa
do consumidor.
É de fato que o elenco de normas editadas demonstrava, muitas
vezes, um caráter dispersivo. Contudo, apesar da dispersão da norma, isso não
anulava o anseio do legislador em conter as práticas abusivas.
A defesa do consumidor, no Brasil, é relativamente nova como matéria
específica. João Batista de Almeida 32 assevera que:

São de 1971 a 1973 os discursos proferidos pelo então Deputado Nina


Ribeiro, alertando para a gravidade do problema, densamente de natureza
social, e para a necessidade de uma atuação mais enérgica no setor. Em
1978 surgiu, em âmbito estadual, o primeiro órgão de defesa do
consumidor, o PROCON – Grupo executivo de Proteção e Orientação ao
Consumidor de São Paulo, criada pela Lei nº. 1.903, de 1978. Em âmbito
federal, só em 1985 foi criado o Conselho Nacional de Defesa do
Consumidor (Decreto nº. 91.469), posteriormente extinto e substituído pela
SNDE – Secretaria Nacional de Direito Econômico.

Como matéria não específica, constatou-se a existência de leis que de


maneira indireta protegia o consumidor, apesar de esse não ser o desígnio
fundamental do legislador.
Como preconiza João Batista de Almeida, 33 a primeira manifestação
nessa área é o Decreto nº. 22.626 de 07 de abril de 1933, editado com fim de
reprimir a usura. Posteriormente, na Constituição de 1934 surgiram as primeiras

31
FREITAS, 2002, p. 90.
32
ALMEIDA, 2003, p. 9.
33
ALMEIDA, loc. cit.
22

normas constitucionais de amparo a economia popular. O Decreto-Lei nº. 869 de 18


de novembro de 1938, e depois o Decreto-Lei nº. 9.840, de 11 de setembro de 1946,
trataram dos crimes contra a economia popular, sobrevindo, em 1951, a Lei de
Economia Popular. A Lei de Repressão ao Abuso do Poder Econômico, de 1962,
que reflexamente favorece o consumidor, além da criação do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica – CADE. Em 1984 foi editada a Lei nº. 7.492 de
16 de junho de 1986, que previa a punição de crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional.
A partir de 1985 foram dados os passos mais importantes. A Lei nº.
7.347 de 24 de julho de 1985, disciplinava a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao consumidor, além de outros direitos tutelados. No mesmo
dia foi assinado o Decreto federal nº. 91.469, alterado pelo de nº. 94.508, criando o
Conselho Nacional de Defesa do Consumidor – CNDF, que tinha o intento de
assessorar o Presidente da República na formulação e condução da política
nacional de defesa do consumidor.
Além dessas principais normas disciplinadoras, Josimar Santos Rosa 34 ,
ainda aponta outros dispositivos, como o Decreto n° 24.038/34, de 26 de março de
1934, que estabelecia a nulidade de cláusulas que expressam o pagamento de
obrigações em moeda estrangeira. A Lei nº. 4.137 que previa o posicionamento
repressivo ao abuso do poder econômico. O Decreto-Lei nº. 422, de 20 de janeiro de
1969, que alterou parcialmente a Lei Delegada nº 4, de 26 de setembro de 1962,
que estabeleceu originalmente um processo intervencionista no setor econômico,
objetivando disciplinar a distribuição de produtos para o processo consumista.
O fato é que o aparecimento do consumerismo no Brasil, de forma
pública, deu-se com o Decreto nº. 7.890, de 06 de maio de 1976, editado pelo
estado de São Paulo. Observou-se que tal normatização vigorou, no início, apenas
na esfera estadual. Destarte, o sistema foi ainda mais reforçado com a Lei n° 1903,
em 1978, que institui o PROCON.
Apenas em 1985, é que, no campo federal, deu-se criação do
Conselho Nacional de Defesa ao Consumidor - CNDF, com o escopo primordial de
elaborar a política nacional de defesa do consumidor. Tal órgão colegiado foi extinto
e substituído pelo Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor,

34
ROSA, 1995, p. 32-33.
23

subordinado à SNDE, na estrutura do Ministério da Justiça. Integravam o extinto


órgão, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Confederação da Indústria e Comércio e
o Ministério Público, entre outros.
O CNDF cumpriu um papel de grande relevância, já que, por meio dele
surgiram propostas à constituinte para a inclusão da defesa do consumidor no texto
da Constituição, bem como, a idéia de fixar uma comissão de notáveis juristas para
a concepção do Anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor.
É clara a contribuição da participação crucial das entidades de classes
dos consumidores, bem como, a contribuição do PROCON para a criação, em 1987,
do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC. Ainda, nesse decêndio foi
dado o início aos debates sobre a preparação de um Código, pelas entidades
privadas e públicas do país.
Nessa trilha, destaca-se como sendo de maior influência a participação
do IDEC e também o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial – Inmetro, que segundo José Geraldo Brito Filomeno: 35

(...) têm direcionado parte de suas atividades exatamente naquele sentido,


destacando-se pesquisas em matéria de garrafas térmicas, chuveiros
elétricos, botijões de gás, fusíveis, chupetas, leites, águas minerais,
temperos contraceptivos de látex etc., com especial ênfase para questão da
qualidade dos produtos e segurança, em face da incolumidade do
consumidor.

O IDEC é uma entidade civil, desvinculada do governo, apartidária,


sem fins lucrativos. 36 Fundando em 1987 para atuar basicamente em duas áreas: a
jurídica, representando seus associados perante a justiça, e a técnica, por meio de
testes e avaliação dos produtos. Membro do Consumers International - CI, 37 uma
federação que congrega mais de 250 associações de consumidores, entre eles o
Estados Unidos e vários países da Europa.

35
FILOMENO, 2004, p. 25.
36
Estatuto do IDEC - Art. 1º. – O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, é uma
associação civil de finalidade social, sem fins econômicos e lucrativos, apartidária, regida pela
legislação vigente e por este Estatuto, constituída por prazo indeterminado e situada à Rua
Desembargador Guimarães, 21, São Paulo, SP. Parágrafo Único - A missão do IDEC é a defesa dos
consumidores, na sua acepção mais ampla, representando-os nas relações jurídicas de qualquer
espécie, inclusive com as instituições financeiras e com o Poder Público .
37
CI (Consumers International) é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada na
Holanda, que reúne e harmoniza as atividades das organizações de consumidores em cerca de 115
países. A CI protege e promove os interesses dos consumidores em todo o mundo e por meio da
pesquisa, informação e educação, representa os interesses dos consumidores nos foro
internacionais.
24

O Instituto é membro do Fórum Nacional das Entidades Civis de


Defesa do Consumidor, criado para fortalecer o movimento dos consumidores em
todo o País e da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais -
Abong. Já o INMETRO é uma autarquia federal, fundado também em 1973, que
objetiva fortalecer as empresas nacionais, aumentando a sua produtividade por meio
da adoção de mecanismos destinados à melhoria da qualidade de produtos e
serviços.
Nesse instante, a proteção do consumidor resultava, sobretudo, por
meio de controle sobre as normas econômicas e sobre as normas jurídicas. Todavia,
esse controle não era o bastante a ponto de aperfeiçoar o sistema jurídico de defesa
do consumidor como um todo.
É relevante enfatizar que, antes da presença do Código de Defesa do
Consumidor, a proteção ao consumidor era exercida pelas normas de repressão a
abusos sofridos, na esfera penal, normas de reparação de danos, na esfera civil, e
normas de controle direto e fiscalização na esfera administrativa.
Fábio Ulhoa Coelho 38 salienta que, no âmbito administrativo havia um
conjunto lacunoso de regras concernentes à proteção do consumidor. O citado
autor, ainda reflete, que as regras de direito penal e administrativo mostravam-se
eficazes à medida que efetivamente eram aplicadas. Contudo, em relação às
normas de Direito Civil (âmbito privado) o mecanismo jurídico regulador das
reparações de danos encontrava-se inadequado e insuficiente.
Dessa maneira, evidencia-se a ampla dificuldade do consumidor em
reclamar seus direitos. Até porque, os diplomas supracitados não versavam da
relação de consumo diretamente, ou seja, não havia conceitos e princípios
essenciais norteadores da relação consumerista. Os mesmos só conservaram-se
com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor.
Foi na década de 70 que as raízes do consumerismo foram lançadas
no Brasil, contudo, foi nos anos 1980 que o progresso se tornou realidade prática
para o consumidor.
Como se nota, a matéria vem sendo amplamente debatida com
extremo rigor por parte do legislador pátrio. O triunfo mais importante foi a inserção

38
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 26.
25

de quatro dispositivos específicos na Constituição Federal promulgada em 05 de


outubro de 1988, criando um novo referencial legislativo para os consumidores.

1.2.1.2 A constituição e o código de defesa do consumidor

O direito do consumidor se manifesta como de ordem pública, a partir


do inciso XXXII do art. 5º da Carta Magna, no capítulo relativo aos direitos e deveres
individuais e coletivos, estabeleceu que dentre os deveres impostos ao Estado
brasileiro, está o de promover, na forma da lei, a defesa do consumidor 39 . Portanto, é
um direito fundamental asseverado ao consumidor.
Aludida preocupação é também encontrado no capítulo da Ordem
Econômica, o art. 170, em seu inciso V, da citada Constituição, que afirma a
apreensão do Estado nos reflexos da relação consumerista na Ordem Econômica e
Financeira, tendo por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social. 40
O art. 150, ao tratar das limitações do Poder Público e no âmbito da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios para tributar, em seu §5° estabeleceu
que a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca
dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços. 41
Ainda em plano constitucional, o legislador não satisfeito, no art. 175,
inciso II da Carta Magna, tratou sobre a concessão ou permissão dos serviços
públicos, estabeleceu que a lei disponha de modo expresso, além de obviedade do
regime de concessão ou permissão, dos direitos dos usuários, que deve ser
entendidos claramente como consumidores dos mencionados serviços, prestados

39
CF – Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor.
40
CF - Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: V - defesa do consumidor.
41
CF - Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: § 5º - A lei determinará medidas para que os
consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.
26

pelas empresas concessionárias ou permissionários dos que caberiam,


42
principalmente ou em forma de monopólio, ao Poder Público.
E, por fim, ainda no bojo da Carta Constitucional, rezava seu art. 48 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias dispunha de maneira categórica
que o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará o código de defesa do consumidor, 43 limite esse, já, muito
extrapolado quando promulgado o texto da Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de
1990, após longos debates, muitas emendas e vários vetos.
O professor José Geraldo Brito Filomeno 44 corrobora ainda, que:

Referida conquista, é mister salientar-se, deveu-se ao ‘movimento


consumerista brasileiro’, apesar de sua inicial fragilidade, e sempre em
franca ascensão, sobretudo após a vigência do Código de Defesa do
Consumidor, e da implementação do chamado Sistema Nacional de Defesa
do Consumidor, além do fortalecimento e criação de novas entidades
públicas não governamentais de revelo nessa área. Com efeito, esse
movimento, desde a década de 1980, mediante a realização de encontros
nacionais de entidades de defesa e proteção do consumidor, tem
contribuído decisivamente para a implementação das diretrizes dessa
defesa e proteção, no plano constitucional, inclusive.

A Lei nº. 8.078, conhecida com Código de Defesa do Consumidor ou


CDC, entrou em vigor em 11 de março de 1991, representando uma grande
mudança no ordenamento jurídico brasileiro, deixando de lado a visão liberal e
individualista do anterior Código Civil para uma visão social, que “valoriza a função
do direito como ativo garante do equilíbrio, como protetor da confiança e das
legítimas expectativas nas relações de consumo no mercado”. 45
O novo Código provocou uma enorme expectativa nos meios de
comunicação em massa, e, proporcionou uma revolução no direito brasileiro por
meio do reconhecimento constitucional de um fator econômico antes quase ignorado
e desprotegido pelo Estado, o consumidor.
O CDC apresenta uma seqüência de 119 artigos, no qual trouxe
inovações para o universo jurídico brasileiro, como por exemplo, conceito de

42
CF - Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão
ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei
disporá sobre: II - os direitos dos usuários.
43
ADCT - Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
44
FILOMENO, 2007, p. 23.
45
MARQUES, 2006, p. 34.
27

consumidor, de fornecedor, a adoção da responsabilidade objetiva, a inversão do


ônus da prova etc..
Segundo a professora Claudia Lima Marques, 46 o art. 1.º deixa nítido
que a nova legislação representa exatamente a necessária intervenção do Estado
ordenado pela Constituição de 1988, em seus arts. 5.º inciso XXXII, e 170, inciso V.
Além disso, a autora assevera que coube ao Estado intervir nas relações de
consumo para reduzir o espaço para a autonomia da vontade, cominando normas de
modo a restabelecer o equilíbrio e igualdade de forças entre fornecedores e
consumidores.
Destarte, outras importantes prejudiciais serão inseridas nos tópicos
seguintes a fim de auxiliar o leitor no entendimento da idéia proposta.

46
MARQUES, 2006, p. 35.
28

2. O DIREITO DE ARREPENDIMENTO DO CONSUMIDOR

2.1. HISTÓRICO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO

O direito de arrependimento surgiu em meados da década de 70 na


Europa e posteriormente nos Estados Unidos. Seu aparecimento deu-se devido a
uma nova modalidade de venda, fora do estabelecimento comercial, a chamada
venda de porta a porta.
Ao invés de os fornecedores aguardarem os consumidores no seu
estabelecimento comercial para contratação do fornecimento de produto ou serviço,
o fornecedor fez o caminho inverso, ia até a casa ou domicílio dos consumidores
para apresentar seus produtos e serviços, dando a eles uma maior comodidade,
praticando as vendas em domicílio. Com o passar do tempo, essa nova modalidade
de venda, porta a porta, chega no Brasil.
Depois, desse tipo de venda, os fornecedores, com intuito ter maior
lucro mais ousaram ainda mais, oferecendo seus produtos e serviços por meio de
contratos de multipropriedade ou time-sharing, e também, através do telemarketing,
e mediante correspondência (mala-direta, carta-resposta etc.).
Por fim, com a era da informática, e o nascimento da internet e a sua
alta acessibilidade pelos consumidores, os fornecedores ofereciam seus produto e
serviços através de e-mail, mala direta, sites e o comércio eletrônico ou seja, o e-
commerce. Utiliza-se até, inclusive, canais exclusivos de televisão criados para essa
finalidade, os teleshopping.
Com isso, passa a existir a necessidade de normatizar essas novas
modalidades de vendas a distância, com intuito de proteção e defesa dos
consumidores, parte vulnerável na relação de consumo, para que eles não sejam
alvos de possíveis práticas abusivas ou enganosas pelos fornecedores, que cada
vez mais, estão sedentos pela lucratividade.
A lei acarreta inovações nessa área, porém de maneira limitada. Para
os contratos feitos no estabelecimento comercial, com a prévia informação dos
29

termos contratuais e mediante reflexão do consumidor, vigora o princípio pacta sunt


servanda, 47 ou seja, ele deverá cumprir a obrigação e terá que sujeitar-se as
48
conseqüências do inadimplemento.
Se no caso da contratação do fornecimento de produto ou serviço se
der fora do estabelecimento comercial, o legislador deferiu-lhe o direito de
arrependimento, ou seja, de desistir do contrato.
Logo, essas novas formas de vendas começaram a ser reguladas por
leis consumeristas que prevêem um tratamento diferenciado das leis civis para as
relações de consumo. Dentre eles, a redação dado ao artigo 49 da Lei nº. 8.078/99,
que trata sobre o direito de arrependimento do consumidor.
É mister enfatizar que as leis de consumo não nascem para prejudicar
os fornecedores, e sim, com intenção de equiparar o consumidor com o fornecedor.
Ainda é cediço que os consumidores não são só sujeitos de direitos, como também,
possuem deveres e obrigações, carecendo deste modo atender e atentar para os
princípios basilares, principalmente, o da boa-fé nas contratações.

2.2 O DIREITO DE ARREPENDIMENTO NO BRASIL

2.2.1 Conceito

Segundo o Aurélio, 49 por arrependimento entende-se por “ato ou efeito


de arrepender-se; compunção, contrição; mudar de atitude, de procedimento, de
parecer; voltar atrás em relação a compromisso assumido”. Essa mesma noção é
transferida para o direito de arrependimento, visto que, “o Código consagra o direito

47
Pacta sunt servanda (do latim os pactos devem ser observados) é a obrigatoriedade em que o
contrato deve ser cumprido. Essa obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O Ordenamento
deve conferir à parte instrumentos judiciários para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a
indenizar pelas perdas e danos. Não tivesse o contrato força obrigatória e estaria estabelecido o caos
(Venosa, 2002, p.376).
48
ALMEIDA, 2003, p. 115.
49
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo dicionário Aurélio. Versão Eletrônica 5.0.40.
Editora Positivo Informática, 2004.
30

de o consumidor arrepender-se e voltar atrás em declaração de vontade que haja


50
manifestado celebrando relação jurídica de consumo”.
Nas palavras de Claudia Lima Marques, 51 direito de arrependimento
pode ser conceituado como “prazo de uma reflexão obrigatório”. Conseqüentemente,
o direito de arrependimento estabelece um prazo de reflexão para o consumidor
exercer esse direito, sob pena de prejudicar o fornecedor. Dessa forma, incentiva-se
o equilíbrio contratual entre o fornecedor e o consumidor.
No ordenamento jurídico brasileiro, o aludido direito está previsto no
Capítulo VI, Da Proteção Contratual, no art. 49 do Código de Defesa do Consumidor,
Lei nº. 8.079/90, in verbis:
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete)
dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço,
sempre que a contratação de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento
comercial, especialmente por telefone ou a domicilio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento
previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o
prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
Pode-se concluir então, que o direito de arrependimento qualifica-se
como o direito que o consumidor possui para desistir de relação contratual
consolidada, com a restituição da quantia paga com o produto ou serviço que não se
quer mais obter.

2.2.2 Finalidade

Extrai-se do artigo 49 que o direito de arrependimento foi criado


especificamente para dar uma maior proteção aos consumidores que contratam
produtos e serviços fora do estabelecimento comercial do fornecedor.
O consumidor, quando realiza uma compra dentro de um
estabelecimento comercial, pressupõe-se que este fez cotação de preços, examinou
as especificações do produto pretendido, pesquisou as melhores bases para

50
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
51
MARQUES, 2006, p. 835.
31

contratar, entre outros comportamentos acautelatórios. Dentro do estabelecimento


comercial, o consumidor, pode efetivar a esperada compra e venda, conforme as
suas previsões.
Contudo, o consumidor está sujeito “às variações naturais decorrentes
de sua vontade de contratar, não se podendo falar que terá sido surpreendido pelo
oferecimento das alternativas do fornecedor”. 52
Logo, se o consumidor não está preparado para uma abordagem mais
invasiva, “derivada de práticas e técnicas de vendas incisivas”, 53 não terá
discernimento suficiente para contratar ou não, dependendo do poder de
convencimento aplicado nessas práticas.
O professor Rizzatto Nunes trazer à baila que: 54

Nesse tipo de aquisição o pressuposto é que o consumidor está ainda mais


desprevenido e despreparado para comprar do que quando ele decide pela
compra e, ao tomar a iniciativa de fazê-la, vai até o estabelecimento
comercial. (...) Mas, ainda assim, quando a compra é feita no
estabelecimento comercial o pressuposto é de que partiu do consumidor a
iniciativa de procurar o fornecedor para fazer a compra.

Tal direito tem por fim proteger a declaração de vontade do


consumidor. Isto é, favorece que a compra seja decidida e refletida livremente, com
cautela e sem atropelos.
Nessa linha, José Geraldo Brito Filomeno, assevera que: 55

(...) as chamadas “venda sob pressão”, em que sobretudo a dona de casa,


atarefada em seus afazeres domésticos, é bombardeada com propostas de
vendedores de porta a porta, ou então pelo telefone, tendo nenhum tempo
disponível para discutir até a necessidade da aquisição de determinados
produtos ou a contratação de certos serviços, valendo-se exatamente de
tais apuros os espertos vendedores para empurrar aos consumidores
desavisados toda a espécie de produtos e serviços, muitos deles de
qualidade duvidosa.

Ora, o art. 49 do CDC foi elaborado para aqueles consumidores que


cederam as pressões feitas pelo fornecedor para adquirir produtos ou serviços fora
do estabelecimento comercial, dando a ele a oportunidade de desistir da compra. O

52
NERY JÚNIOR, 2007, p. 561.
53
NERY JÚNIOR, loc. cit.
54
RIZZATTO, 2007, p. 611.
55
FILOMENO, 2006, p. 146.
32

artigo inova o ordenamento jurídico nacional e estabelece um prazo de reflexão


obrigatório e, por conseguinte, um direito de arrependimento.
Objetiva ainda, resguardar das práticas agressivas de marketing
conferidas pelos fornecedores aos consumidores, já que, quase sempre o
consumidor se encontra desprevenido e despreparado para comprar.
A finalidade desse instituto é evitar abusos por parte do fornecedor,
contrabalanceando a relação de consumo. Como conseqüência, o consumidor
permanece resguardado de compras por impulso, ou efetuadas sob forte apelo
publicitário. Isto é, fica protegido de circunstâncias desvantajosas, das práticas
agressivas, como as que ocorrerem nas vendas ocorridas fora do estabelecimento
comercial do fornecedor.
O ilustre professor Fábio Ulhoa Coelho, corrobora que: 56

Normalmente, os produtos e serviços vendidos através de marketing


agressivo são ruins e dependem dessa técnica para serem consumidos.
Quer dizer, se as pessoas tiverem oportunidade de se informar sobre o que
lhes está sendo oferecido e refletirem acerca da necessidade do consumo,
tenderão a descartar a hipótese de compra. Por essa razão, o direito
procura resguardar o consumidor de tais práticas mercadológicas.

O direito de arrependimento propõe tutelar o consumidor, dando-lhe


proteção, especialmente nas vendas a distância. Essa relação, no entanto, foi
colocada antes do surgimento do comércio eletrônico e do estabelecimento virtual.
Portanto, exige-se uma revisão tal conceito, segundo o Fabio Ulhoa Coelho, já que
não há diferença entre dirigir-se ao estabelecimento físico ou virtual, relativamente à
liberdade de reflexão do consumidor. 57
Não resta dúvida que as práticas abusivas são aplicadas ao
consumidor, seja em casa, no trabalho, na escola, na rua, em qualquer horário, dia e
lugar. Enfim, qualquer pessoa pode estar sujeito ao aliciamento dos fornecedores
por meio das práticas abusivas.
Contudo, o caso concreto é que vai determinar o que seja venda fora
do estabelecimento comercial sujeita ao direito de arrependimento ou não. Se for
dos usos e costumes entre as partes a celebração de contratos e quando for da
essência do contrato ser realizado fora do estabelecimento comercial não incide o
dispositivo e não existe o direito de arrependimento.
56
COELHO, 2001, p. 47.
57
COELHO, loc. cit.
33

Destarte, quando o direito de arrependimento for exercido, outra


finalidade do art. 49 é de que, os valores eventualmente pagos pelo consumidor,
serão devolvidos de maneira imediata e devidamente corrigidos.
“A condição estabelecida no art. 49 é do tipo que, uma vez exercida,
faz com que o efeito retroaja ao início do negócio, para caracterizá-lo como nunca
tendo existido”. 58
Dessa maneira, competi ao fornecedor a restituir os valores
eventualmente pagos, e também, ao consumidor restabelecer o status quo ante,
devolvendo o produto ou ressarcindo o fornecedor pelo serviço, se já prestado, que
também é um dos desígnios apresentado pelo direito de arrependimento.
Segundo Nelson Nery Júnior: 59

O consumidor te, direito à devolução imediata das quantias eventualmente


pagas, monetariamente atualizadas pelos índices oficias, caso exerça o
direito de arrependimento dentro do prazo de reflexão. A cláusula contratual
que lhe retire o direito ao reembolso das quantias pagas é abusiva e,
portanto, nula, de acordo com a prescrição do art. 51, n.º II, do Código.

Qualquer fornecedor que pratique as chamadas vendas em domicílio


passa a estar sujeito ao regime especial instituído pelo artigo supracitado para que
seja assegurada a boa-fé, a lealdade nas relações contratuais entre consumidor e
fornecedor. 60

2.2.3 Requisitos

O CDC traz no bojo do art. 49 certos requisitos para o exercício do


direito de arrependimento, são eles: a venda ter sido contratado fora do
estabelecimento comercial e a manifestação do arrependimento ocorrer no prazo de
sete dias.
Segundo Saad, esse artigo trás o “vício da obscuridade” o que enseja
interpretações divergentes. Acredita-se que o legislador consumerista não quis dizer

58
RIZZATTO, 2007, p. 616.
59
NERY JÚNIOR, 2007, p. 563.
60
MARQUES, 2006, p. 835.
34

que é todo e qualquer contrato firmado pelo consumidor que lhe dá o direito de
arrepender-se. Pois, se assim fosse instalar-se-ia no mercado uma insegurança que
acabaria por levar muitos fornecedores a abandonar seu ofício. 61
“O alcance da norma é mais restrito”. 62 O art. 49 abrange somente os
contratos que se formam fora do estabelecimento comercial do fornecedor.
Fábio Ulhoa Coelho, assevera que “Distingue-se do estabelecimento
comercial físico, em razão dos meios de acessibilidade. (...) o estabelecimento físico
é o acessível pelo deslocamento do espaço.” 63 Logo, conclui-se que o consumidor
contrata serviços ou produtos quando existe um deslocamento por parte do
fornecedor, e não do próprio consumidor. Presumi-se aqui, que no caso do art. 49,
que sempre o fornecedor busca o consumidor de alguma forma.
O exercício do direito de arrependimento é incondicionado e irrestrito,
já que, independe da existência de qualquer ensejo que o motive. Para o
consumidor exercer o direito de arrependimento não é necessário justificar,
evidenciar ou tampouco explicitar o porquê da atitude, basta que o contrato tenha
sido fechado fora do estabelecimento comercial, pois o aludido direito de
arrependimento existe per se. 64 Porém, carece manifestar objetivamente a
desistência.
Além do mais, o CDC é de ordem pública e, deste modo, irrenunciável,
sendo considerada não escrita a cláusula contratual que o consumidor renúncia seu
direito de arrepender-se.
No início da redação do art. 49 está disposto que “o consumidor pode
desistir do contrato, no prazo de 07 (sete) dias...” É o chamado prazo de
arrependimento ou reflexão. Mas, de uma maneira ou de outra, o fato é que no
período de sete dias o consumidor que adquire produto ou serviço ou assina algum
contrato pode desistir do negócio.
Chama-se de prazo de reflexão pois se pressupõe que, como a
contratação não se deu de uma decisão ativa do consumidor, e como este ainda não

61
SAAD, Eduardo Gabriel. Código de defesa do consumidor: comentado: Lei n. 8.078, de
11.09.90. 6. ed., atual., rev. e ampl. São Paulo, 2006. p. 597-598
62
SAAD, loc. cit.
63
COELHO, 2001, p. 69.
64
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
35

teve o contato físico com o produto ou testou o serviço, pode requerer a desistência
do negócio depois tê-lo avaliado melhor. 65
Nesse sentindo a jurisprudência decidiu que:

DIREITO CIVIL. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. DIREITO DE


ARREPENDIMENTO. CDC. PEDIDO CASSAÇÃO SENTENÇA.
PRODUÇÃO DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. O consumidor pode desistir
do contrato, no prazo de sete dias a contar de sua assinatura ou do ato de
recebimento do produto ou serviço (art. 49 do CDC). Tendo a autora
postulado julgamento antecipado, deixou de requerer, no momento
adequado, as provas com as quais demonstraria os fatos que alega. Não
restando comprovada qualquer conduta culposa por parte do réu, o pedido
de indenização deve ser julgado improcedente. Apelo não provido.
(20070111202977APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO,
6ª Turma Cível, julgado em 17/06/2009, DJ 01/07/2009 p. 101) Grifo nosso

DIREITO DO CONSUMIDOR. FALTA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA AO


CONSUMIDOR. INOCORRÊNCIA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR.
IMPOSSIBILIDADE EM FACE DAS CIRCUNSTÂNCIAS. COMPRA DE
PRODUTO EXPOSTO, DE FORMA LIVRE E CONSCIENTE. MÁ FÉ NÃO
CARACTERIZADA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO
RECONHECIDA. LESÃO A DIREITOS DO CONSUMIDOR NÃO
CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. UNÂNIME. 1. O CDC estabelece,
em seu artigo 49, as condições em que o direito de arrependimento poderá
ser exercido, quais sejam, aquisição de bens por telefone e dentro do prazo
de 07 (sete) dias. (...) Sentença reformada.(20060110557208ACJ, Relator
JOSÉ GUILHERME DE SOUZA, Primeira Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 10/06/2008, DJ 21/07/2008
p. 71) Grifo Nosso

CONSUMIDOR. SUBSTITUIÇÃO DE APARELHO. DANO MORAL. 1) O


consumidor tem direito à desistência do contrato firmado por telefone, no
prazo do artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, porém, se
pretender a manutenção do contrato e substituição do produto, há de existir
vício e o exercício do direito, nos termos do artigo 18 do Código de Defesa
do Consumidor, requer que o vício apontado no produto não seja reparado
no prazo de trinta dias. 2) O consumidor não tem direito à troca do produto
mediante simplória alegação de não-satisfação pessoal. 3) Não é qualquer
desconforto ou aborrecimento que conduz à reparação de danos, sob pena
de tornar insuportável o convívio social. 4) Recurso conhecido e provido.
Sentença reformada.(20060110676866ACJ, Relator FÁBIO EDUARDO
MARQUES, SEGUNDA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julgado em 24/04/2007, DJ 29/05/2007 p.
174) Grifo nosso

65
RIZZATTO, 2007, p. 612.
36

DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA. REPARAÇÃO DE


DANOS MORAIS. TELEFONIA. COMPRA E VENDA FORA DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL. EXERCÍCIO DO DIREITO DE
ARREPENDIMENTO. ART. 49 DO CDC. FORNECEDORA QUE,
IGNORANDO A SOLICITAÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL, SEGUE
INTENTANDO COBRANÇAS RELATIVAS A MENSALIDADE DO SERVIÇO
CANCELADO. SITUAÇÃO QUE CULMINA COM A INSCRIÇÃO INDEVIDA
DO NOME DO AUTOR EM ROL DE INADIMPLENTES. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS IN RE IPSA. Compra efetivada via contato telefônico.
Tendo sido legitimamente exercido o direito de desistência do negócio, em
razão de suas características (artigo 49 do CDC), revelou-se indevida a
cobrança intentada pela ré, relativa ao negócio já desfeito. Direito à
declaração de inexistência do débito. Danos morais configurados in re ipsa,
pelo cadastramento indevido do nome do autor em rol de inadimplentes.
RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71001616853, Terceira
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Eugênio Facchini Neto,
Julgado em 24/06/2008) Grifo nosso

O início do prazo de reflexão será contado a partir da conclusão do


contrato ou do momento em que recebeu o produto ou serviço. Nelson Nery Júnior 66
ensina que:

Aplica-se, na contagem do prazo, o art. 132 e parágrafos do Código Civil,


excluindo-se o dia do início e incluindo-se o do final. Não se inicia nenhum
prazo em feriado ou dia útil e, se o dia do vencimento cair em dia não útil ou
feriado, prorroga-se o prazo para o dia útil imediato (art. 132. § 1.º, do
Código Civil).

Portanto, inicia-se o prazo de reflexão no momento em que o produto


ou serviço for entregue ou prestado, mesmo quando o contrato seja assinado em
data diversa, ou seja, o prazo só inicia quando o consumidor passa a ter acesso
físico ao produto ou observar o serviço contratado.
O consumidor tem que se rodear de alguns cuidados importantes para
a manutenção dos seus direitos e garantias expressos no CDC, tomando certas
medidas antes de comprar um produto ou de contratar um serviço fora do
estabelecimento comercial, uma vez que, desta maneira, ele fica protegido
juridicamente para exercer tanto a direito de arrependimento, como o direito à
garantia do produto ou serviço entre outros.
Por conseguinte é adequado que o consumidor determine no ato da
contratação, sempre que possível, o nome, endereço e telefone do vendedor ou da
empresa para a qual trabalha, o CGC da empresa, a discriminação dos bens ou dos
serviços contratados, para que ele possa exerce seu direito de arrependimento com

66
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
37

segurança, já que sem essas informações o consumidor não terá como exerce o seu
direito instituído no art. 49, pois se o consumidor resolve no prazo de reflexão,
exercer tal direito, ele não terá como devolver o produto e nem receber seu dinheiro
de volta, como versa o artigo em óbice.
O fornecedor não deve recusar a prestar estas informações solicitadas
pelo consumidor, pois no sistema do CDC assevera o dever geral de informação, até
mesmo, na embalagem do produto deve avisar a sua procedência, é o que trata o
art. 33 do CDC, in verbis:
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal
deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em
todos os impressos utilizados na transação comercial.
No caso de desobediência pelo fornecedor, haverá uma falha de
informação no que acarreta ao consumidor o direito de responsabilizar o fornecedor
pelo vício do produto ou serviço, conforme os arts. 18 a 20, além de se valer do
direito de arrependimento. Rizzatto Nunes 67 garante que:

São considerados vícios as características de qualidade ou quantidade que


tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a
que se destinam e também que lhes diminuam o valor. Da mesma forma
são considerados vícios os decorrentes da disparidade havida em relação
às indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem, oferta ou
mensagem publicitária.

Porquanto, resta saber quais modalidades de vendas fora do


estabelecimento comercial se encaixam nas hipóteses de cabimento, idealizado pelo
legislador, no bojo do art. 49 do CDC. Observa-se que a expressão fora do
estabelecimento comercial, contido na lei consumerista, inclui outras espécies de
vendas, como, por exemplo, as vendas por catálogo, por telefone, a domicílio,
malote postal, fax, mala direta e outras, como se verá no assunto seguinte.
A polêmica trata em saber se o artigo já referido também se aplica a
diversas formas de vendas, como, por exemplo, as vendas emocionais ou time
sharing, e as vendas efetuadas por meio do comércio eletrônico ou e-commerce.
Entretanto, esses questionamentos serão enfrentados em seguida.
Em suma, os pressupostos para prática do direito de arrependimento
são temporal, ou seja, o instituto deve ser reclamado em até sete dias a partir do

67
RIZZATTO, 2007, p. 166.
38

recebimento do produto ou assinatura do contrato, e o objetivo, que essa


contratação seja feita fora do estabelecimento comercial.

2.2.4 Fundamentos

O fundamento do instituto do direito de arrependimento está previsto


tanto na Carta Social, como na legislação infraconstitucional, principalmente na
legislação consumerista do Brasil.
A Constituição garante no seu art. 5°, inciso XXXII que o Estado
protegerá os interesses do consumidor, “de um lado assumido a postura de
garantidor e, do outro, outorgando tutela legal a quem se reconhece carecedor de
proteção”. 68 Não pode esquecer a dignidade da pessoa humana, previsto no art.1º,
inciso III e ainda, a proteção à liberdade de escolha dos cidadãos, no art. 5º caput.
Por sua vez, o art. 5º, caput e inciso I, que determina a igualdade material, que deve
ser também aplicado ao mercado de consumo.
O direito de arrependimento encontra baseamento em vários outros
dispositivos, como o art. 4°, caput e inciso I, e art. 6º do CDC, que versam sobre os
titulados direitos básicos do consumidor. 69
A Lei nº. 8.078 tratou especificamente de regular as práticas abusivas
em três artigos: 39, 40 e 41. Mais apenas no art. 39 as práticas que se pretende
coibir são realmente práticas abusivas, algumas delas relacionadas com o direito de
arrependimento. Um claro exemplo é a descrita no inciso IV, onde o fornecedor se
aproveita da fraqueza ou ignorância do consumidor em razão de sua idade, saúde,
70
conhecimento ou condição social para impingir-lhe seus produtos.
O abuso, nesse caso, está no artifício de venda, que impede a reflexão
e a decisão racional e refletida de pessoas especialmente frágeis e ignorantes, com

68
ALMEIDA, 2003, p. 15.
69
RIZZATO (2007, p. 124) explica que o CDC repete o princípio no art. 4º, caput, para assegurar
expressamente a sadia qualidade de vida com saúde do consumidor e sua segurança, no inciso I do
art. 6º.
70
CDC - Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: IV
- prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
39

a capacidade de discernimento diminuída, configurando as chamadas vendas por


impulso.
No dia-a-dia é muito corriqueiro a prática de vendas abusivas aos
idosos, algumas até exorbitantes onde se descontam valores da aposentadoria por
cerca de 10 anos e, esse ocorrência e devido à vulnerabilidade a que reduzem o
consumidor.
Nesse fato, a proteção a ser atribuída aos consumidores idosos é
maior do que àquela dispensada aos demais consumidores. Isso porque o sistema
deve proteger aqueles “cuja vulnerabilidade é superior à média”. 71 A Constituição de
1988 estabelece, no seu art. 230, o dever de amparar as pessoas idosas 72 , e,
embora o CDC não faça referência expressamente a palavra idoso, o inciso IV do
art. 39 refere-se à fraqueza, o que em determinados casos está relacionada à
velhice.
O arrependimento ainda encontra amparo frente aos abusos a
liberdade de escolha e a igualdade de contratação, art. 6° inciso II do CDC,
reconhecendo-se as habilidosas modalidades de vendas e publicidade enganosa,
devendo ser o marketing e o contrato anuído de forma livre.
Com efeito, o instituto do direito de arrependimento é resguardado na
legislação infraconstitucional e na Constituição.

2.2.5 Hipóteses comuns de cabimento

2.2.5.1 Venda a domicílio ou venda porta a porta

A modalidade de venda porta a porta (door-to-door) ou venda em


domicílio (vente à domicile), como ensina Claudia Lima Marques, 73 é “uma técnica
comercial de vendas fora do estabelecimento comercial, amplamente difundida nas
71
BENJAMIN, 2007, p. 381.
72
CF – Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida.
73
MARQUES, 2006, p. 835.
40

sociedades de consumo”, sendo ela pioneira quanto ao direito de arrependimento no


Brasil.
Cada vez mais difundidas, a venda porta a porta, traz num primeiro
instante uma comodidade para o consumidor, pois que, não é compelido a sair da
sua residência para contratar produtos e serviços. Por outro lado, também, traz
benesses ao fornecedor que reduz gastos pela ausência de vínculo empregatício,
baixos riscos de reclamação ou devolução do produto, dentre outras óbices. 74
Entretanto, por trás dessa comodidade, o consumidor é colocado em
situação de evidente vulnerabilidade, pois conforme Claudia Lima Marques, 75 há
pouco tempo para decidir, impossibilitando o consumidor de fazer comparações do
produto almejado com outro, além de existir dependência total das informações
prestadas pelo vendedor ou pelo catálogo etc..
As vendas em residências, locais de trabalho (repartições, colégios,
escritórios), bem como o oferecimento de prestação de serviços nesses lugares são
as formas mais corriqueiras de venda dessa modalidade.
A venda em domicílio é considerada como prejudiciais à concorrência,
por não suportar os ônus fiscais e econômicos decorrentes dessa atividade e
também, prejudiciais ao respeito pelo consumidor, pois sem poder comparar a
qualidade e o preço, por várias ocasiões, para se livrar do importuno vendedor,
decide-se pelo produto exibido. E ainda, não há vínculo empregatício entre o
vendedor e o fornecedor, e seu pagamento se dará por meio de porcentagens ou
por prêmios das vendas realizadas. O resultado é que o vendedor, muita das vezes,
usa qualquer artifício para vender mais e receber uma importância maior.
Rotineiramente, o vendedor a domicílio vai de encontro ao consumidor,
e este sem poder suportar a abordagem e a grande pressão psicológica, muitas das
vezes acaba por contratar um produto sem refletir de maneira adequada e, pior, sem
saber a procedência do produto no mercado.
Nessa conjuntura Cláudia Lima Marques 76 assevera:

No Brasil, preocupações com essas práticas agressivas de vendas, também


chamadas de “vendas sob impulso” (vendas a domicílio, por telefone, por
meio de reembolso postal), que deixam clara a vulnerabilidade do
consumidor (aposentados, donas-de-casa, adolescentes, etc.), levaram o

74
MARQUES, loc. cit.
75
Ibid, p. 836.
76
MARQUES, 2006, p. 837.
41

legislador do CDC a editar norma específica para que fosse assegurado um


mínimo de boa-fé nestas relações entre fornecedores e consumidores, pois
os instrumentos tradicionais que o direito colocava à disposição dos
consumidores (o erro, dolo e a conseqüente anulação do contrato)
esbarravam em evidentes dificuldades práticas e de prova.

É evidente que ao ser abordado em casa ou no trabalho, o consumidor


quer se ver livre do inoportuno vendedor, e acaba por adquirir o que lhe é ofertado,
sem ter o tempo necessário para refletir sobre se deseja ou não se obrigar, se são
ou não favoráveis as condições.
Comumente, não são dadas as informações necessárias e completas
sobre o produto ao consumidor, que fica sem saber a quem recorrer quando não
consegue mais encontrar vendedor. Nesse sentido João Batista de Almeida 77 dispõe
que:

(...) presumindo que o consumidor não teve condições de examinar de visu


o produto ou serviço, ou que, pelas circunstâncias, não refletiu o bastante
sobre a aquisição que fazia, o legislador deferiu-lhe o direito de
arrependimento, ou seja, de desistir do contrato (art. 49).

Logo, nesses tipos de venda, o consumidor demonstra em situação de


inferioridade ao fornecedor e, em diversas vezes, tendo repelida sua manifestação
de vontade e tempo para reflexão. A lei criou tal instituto para proteção e defesa do
consumidor.
É mister frisar, que nos contratos concluídos no domicílio ou no local
de trabalho do consumidor, este terá o prazo de reflexão de sete dias, podendo
neste prazo manifestar a sua vontade no sentido de desistir, sem ônus, do contrato
já concluído. 78

2.2.5.2 Vendas por telefone e correspondência

Pode-se afirmar que, atualmente, a atividade contratual de oferta de


produtos e serviços no âmbito do consumo é exponencial, globalizada, tecnológica e

77
ALMEIDA, 2003, p. 115.
78
MARQUES, 2006, p. 837.
42

virtual. 79 Mas, nem sempre essa atividade foi assim. Antes, as contratações fora do
estabelecimento comercial eram realizadas por meios instrumentais, tão antigos
como a correspondências, catálogos e reembolso postal.
No entanto, com a globalização, os meios de oferta também se
modernizaram, sobretudo pela prática do teleshopping e das vendas por telefone,
incluindo também o comércio eletrônico, como compras pela internet, e por e-mail,
conforme se evidenciará a seguir.
É contrário ao bom senso o que vem acontecendo na contratação de
produtos e serviços ligados ao merchandising. Segundo Rizzatto, 80 “merchandising é
a técnica usada para veicular produtos e serviços de forma indireta por meios de
inserções em programas é filmes”.
Empresas de televisão, incluem na sua programação propagandas
publicitárias em meio a programas voltados para o público feminino, jogos
esportivos, filmes, intervalos e torna disponível, mesmo sem informar o valor do
produto ou serviço, números de telefones para informações. Quando o consumidor
entra em contanto, acaba por adquirir o produto ou serviço, após grande insistência
dos atendentes, que são bem acostumados a persuadir o consumidor.
No momento em que o produto ou serviço contratado pelo consumidor
chega em sua residência, muitas vezes, não é compatível com o demonstrado na
propaganda ou não corresponde às expectativas. Pelo uso dessa técnica, o
fornecedor pode levar o consumidor a acreditar em situações que em princípio não
correspondem à realidade. A partir daí, o consumidor encontra com uma enorme
barreira a prática do direito de arrependimento previsto pelo art. 49.
O consumidor ao tentar cancelar a contratação, quase sempre, tem
que encarar vários obstáculos para exercer o direito de arrependimento. Em geral,
as empresas estruturam setores de retenção de clientes, com funcionários treinados
para tanto.
São ainda, muitas vezes, apresentadas pelas empresas para realizar o
cancelamento da contratação, outras exigências, como a apresentação de um laudo
médico assegurando que o produto acarretou efeitos nocivos à saúde, exigir o envio
de uma carta de próprio punho esclarecendo o porquê da devolução; reembolso de
cinco a dez dias úteis após o recebimento do produto, dentre outros.

79
Ibid, p. 856.
80
RIZZATTO, 2007, p. 461.
43

Salienta-se que todas essas exigências feitas pelas empresas estão


em discrepância com o Código de defesa do Consumidor, seja pela coação
provocada, seja por exigir do consumidor explicações e atitudes não contempladas
pela lei.
Nesse óbice, é preciosa a supervisão atuante por parte de institutos de
defesa do consumidor, como o PROCON e o IDEC. A quantidade de órgãos e
pesquisas no âmbito da defesa do consumidor atuando neste campo, ainda, é,
relativamente baixo em comparação com outras esferas, o que talvez se explique
em razão de ser relativamente novo o direito do consumidor.
A modalidade de venda por telefone, abordada pelo legislador no art.
33 do CDC, 81 ao lado do reembolso postal, aplica-se incontestavelmente o instituto
do direito de arrependimento.
Resta saber, se no caso de novas formas de vendas fora do
estabelecimento comercial, advindas após a vigência do CDC, são amparados pelo
aludido dispositivo, como a venda por satélites, cabo, pelo comércio eletrônico e
outros que se sucederem.
A finalidade da presente reflexão é compreender se o art. 49 do CDC
se estende ou não as novas técnicas de vendas a distância, pois, como o artigo não
é taxativo, o caso concreto é que determinará quais vendas fora do estabelecimento
comercial que estarão sujeitas a este instituto. O fator fundamental para a aplicação
deste direito é o atitude de agressividade da venda que faz com que o consumidor
compre “sob impulso”.

2.6 OUTRAS HIPÓTESES: LACUNAS IMPOSTAS PELAS NOVAS FORMAS DE

VENDAS

A legislação consumerista do Brasil é bastante avançada, porém, é


incontestável que ainda existem lacunas.

81
CDC - Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome
do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na
transação comercial. Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone,
quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina.
44

São exemplos claros, as vendas de multipropriedade; o tratamento


indiscriminado dado ao crédito, o que na maioria das vezes acarreta o
superendividamento do consumidor, 82 83 sem falar do progresso tecnológico e da
ausência de normas no que tange às novas técnicas de venda baseadas no
comércio eletrônico e no marketing agressivo.
Freqüentemente, o consumidor é surpreendido por propagandas
apelativas pelo meio da televisão, rádio, jornal, internet ou pelos flyers 84 nas ruas,
com frases como “ligue já” ou “os primeiros que ligarem ganham inteiramente grátis
esse produto”. Completa Fábio Ulhoa Coelho, 85 que esses são os tipos
caracterizadores do gênero marketing.
Ensina Josué de Oliveira Rios 86 :

Tratando-se da venda disciplinada pelo Art. 33, é óbvio que a oferta na


venda por telefone, ou reembolso, pode dificultar a identificação do
fabricante. Por isso, para garantia do consumidor, o Código exige a
ostensiva identificação do fabricante ou do importador.

As recentes tecnologias de comunicação aliadas ao marketing


agressivo ocasionaram novas problemáticas ao consumidor, admitindo ainda mais a

82
O instituto chamado ‘superendividamento’ não se refere ao simples excesso de dívidas
acumuladas, a analogia vocabular não dissimula o risco de errar, diante de tal afirmação, pela
evidência. O agravamento do problema enfrentado na atual sociedade de consumo é bem fiel aos
fatos que nos surpreendem, num mundo globalizado, decorrente nas décadas passadas. (PEREIRA,
Wellerson Miranda; MARQUES, Cláudia Lima. Direito do consumidor endividado. São Paulo: RT,
2006, p. 159.).
83
O inadimplemento é resultado do maior volume de crédito que é concedido a consumidores (por
meio dos bancos), grande parte é vulnerável com pouca capacidade de pagamento, elevando o risco
de empréstimo e conseqüentemente, elevando as taxas de juros, atrasando o pagamento de
parcelas. A perspectiva que se obtém desse processo, é que nos dias atuais, o consumidor
endividado, vive graças às conquistas de um segundo empréstimo, liquidando o primeiro, de um
terceiro para o segundo e assim em seqüência. (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. Disponível em:
<http://www.consumersinternational.org/Shared_ASP_Files/UploadedFiles/consint/7CA6B3FD-0135-
4D05-86A8-56EFF484D1A9_CREDITOYENDEUDAMIENTOINFORMEBRASIL.pdf>. Acesso em: 12
out. 2009.).
84
Filipeta é um termo atualmente usado no Brasil para designar pequenos folhetos publicitários, em
Portugal chamados panfletos também chamados de flyers, que têm a função de anunciar e promover
eventos, serviços ou instruções numa ampla gama de aplicações. Os flyers são impressos,
geralmente, em ambos os lados e visam a atingir um público determinado, visto que são distribuídos
com objetivo de incentivar o comparecimento de determinada camada da população ao evento,
produto ou serviço anunciado. As filipetas ou flyers diferem dos panfletos ou folhetos principalmente
pela sua gramatura especial. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipeta> Acesso em 23 out
2009.
85
COELHO, 2001, p. 47.
86
RIOS, Josué Oliveira. Código de Defesa do Consumidor ao alcance: anotado e exempilicado
pelo IDEC. São Paulo: IDEC, 1996, p. 62.
45

sua condição de vulnerabilidade, técnica e jurídica, perante o fornecedor, causando


disparidade na relação de consumo.
Hoje em dia, no Brasil, a oferta e a procura de produtos alcançam o
mercando internacional. Os consumidores passivos, segundo Claudia Lima
Marques, 87 entende-se por:

(...) aqueles consumidores que se encontram em seu mercado nacional e


que, sem a necessidade de se deslocarem fisicamente de seus países,
recebem a oferta ou publicidade, oriunda de empresas e fornecedores de
outros países, nem sempre com filiais no mercado de comercialização,
atráves de novos meios de comunicação.

Essas novas técnicas de vendas permitem aos consumidores, sem sair


de casa, adquirir produtos e serviços no estrangeiro, com total liberdade de
movimentação de produtos e de crescente liberdade de estabelecimento e de
prestação de serviços. Entretanto, quando os fornecedores estrangeiros não
possuírem filiais no Brasil, dificulta ainda mais o exercício de eventual direito de
arrependimento.
Já no marketing direto, praticado pelo meio de telefonemas, ofertas de
produtos pela televisão e computadores, as vendas, comumente, acontecem por
anúncios de propagandas na televisão, os quais quase sempre atrelam um produto
ao ganho de outro, como espécie de bonificação.
É notável que estas práticas de vendas são abusivas, uma vez que o
consumidor contrata um produto sem ter tido contato direto com o mesmo, podendo
ser pego de surpresa quando receber o bem.
As vendas emocionais time-sharing ou multipropriedade representam
mais uma lacuna, e “ocorrem geralmente através de métodos agressivos de
marketing e contam com a decisão irrefletida, desinformada e emocional do
conumidor”. 88
Atualmente é a modalidade de venda que mais leva o consumidor ao
superendividamento, abusos contratuais e insolvência, eis que o consumidor é
movido a firmar futuras promessas de pagamento, que podem estender-se por 30 ou
até 80 anos. O pagamento em caso de contrato de multipropriedade se dará
principalmente por meio de boletos de cartões de crédito.

87
MARQUES, 2006, p. 858.
88
Ibid, p. 849.
46

Porquanto, é inegável que há várias lacunas no ordenamento jurídico


consumerista, que exigem resposta competente sob o risco de ofensa aos direitos
básicos do consumidor.
Todavia, antes do enfrentamento desses vazios na norma
consumerista, importante conhecer como tais problemas foram encarados no Direito
Comparado, elemento do próximo capítulo deste trabalho.
47

3. O DIREITO COMPARADO E O DIREITO DE ARREPENDIMENTO

3.1 ASPECTOS COMPARATIVOS

O direito de arrependimento possui previsão legal no ordenamento


jurídico em diversos países com algumas diferenças e semelhanças.
A seguir serão tratados alguns aspectos do direito de arrependimento
consagrado no Código de Defesa do Consumidor Brasileiro e no direito comparado,
bem como as lacunas existentes no art. 49 e seu parágrafo único. Várias questões
serão levantadas para aplicação da norma ao caso concreto. Neste sentido
passemos a analisar algumas delas.

3.1.1 Prazo para reflexão no direito comparado

Como já visto, um das condições para o exercício do instituto do direito


de arrependimento é a prática do prazo de reflexão de sete dias, contando da
assinatura de contrato ou aquisição do produto ou serviço, conforme dispõe de
forma definitiva o art. 49 do CDC.
“Direito de reflexão semelhante,(...), existe nos quinze países da União
Européia e já existia de forma pioneira na legislação da França, da Alemanha e dos
Estados Unidos”, segundo a professora Claudia Lima Marques. 89
O prazo de reflexão dado pelo art. 49 da legislação consumerista
brasileira, varia de país para país, sendo esse prazo maior em alguns países, e
semelhante ao nosso, como, por exemplo, a França.
“A idéia dos sete dias está relacionada com a necessária passagem de
90
um fim de semana, propício às reflexões, como assinala Calais-Auloy.”

89
MARQUES, 2006, p. 837.
90
CALAIS-AULOY apud LUCCA,1995, p. 71.
48

Na Alemanha, onde também vigora o instituto, a lei prevê que durante


uma semana, a aceitação da compra pelo consumidor fica suspensa. Se nesse
prazo estabelecido não existir alteração, a contratação de produto e serviços é
considerada válida. Todavia, se o consumidor utiliza o produto ou usa o serviço
contratado é compelido a ressarcir o fornecedor na proporção do que foi consumido,
vigorando o princípio do enriquecimento ilícito. Desse modo, o princípio estabelece o
status quo ante, para evitar o enriquecimento de qualquer das partes.
Com a reforma do Código Civil Alemão (BGB – Reform 2001),
assegura além do direito de arrependimento sem causa de duas semanas e, caso o
idioma usado tenha sido outro, que não seja alemão, o prazo é de 30 dias; de o
prazo de seis meses caso o direito de informação tenha sido descumprido. Direitos
esses, dispostos nos parágrafos, respectivamente, § 485 c/c § 335; §485,3; e
§485c/c § 355 do BCG. 91
Alem disso, devem constar nos prospectos as informações
obrigatórias, devendo existi clareza no prospecto e no contrato, e por último, a forma
escrita deve ser usado nos contratos, observando a inclusão de uma língua européia
conhecida do consumidor, ficando proibido o contrato de forma eletrônica. 92
A lei francesa prevê no seu artigo 121-25, da Lei n.º 93.949/93 que:
“nos sete dias a contar da proposta de compra assinada pelo cliente ou da sua
aceitação contratual, o cliente tem a faculdade de renunciar a estas mediante o
envio de carta recomendeé com o aviso de recebimento”.
Logo, o prazo é de sete dias, semelhante ao prazo de reflexão no
Brasil. O consumidor francês atua como depositário, não podendo de qualquer forma
utilizar o produto dentro do prazo de reflexão, 93 diverso do Brasil, pois o consumidor
é considerado o novo proprietário desde a entrega da coisa, que transfere o
domínio.
Outro ponto semelhante nas legislações dos países europeus é que,
assim como no Brasil, a desistência tomada no prazo de reflexão, funciona de
maneira direta, sem a obrigação de grandes informações do consumidor. Em vista
disso, o consumidor pode desistir sem precisar declinar a causa da devolução e do
cancelamento do mesmo.

91
MARQUES, 2006, p. 850.
92
MARQUES, loc. cit.
93
Ibid, p. 839.
49

3.1.2 Vínculo jurídico

No direito comparado, o vínculo contratual durante o prazo de reflexão


muda também de legislação para legislação.
Quanto ao regime legal da venda porta a porta, a lei alemã, datada de
1986, considera que a aceitação do consumidor permaneceria suspensa e só seria
eficaz, se o consumidor não a revogar, por escrito, durante o prazo de uma semana.
Logo, nas vendas em domicílio a oferta e a aceitação inicial do consumidor não
formam um contrato, o que caracteriza a eficácia normal de aceitação. 94
Compartilha desse mesmo pensamento, Newton de Lucca: 95

A lei de 16 de janeiro de 1986 considera que a aceitação do consumidor,


vale dizer, a manifestação concreta da sua vontade, fica suspensa, só se
tornando eficaz se não a revogar, por escrito, no prazo de uma semana.
Tratar-se-ia, no caso, de condição suspensiva.

Pode-se concluir então que o contrato só será eficaz após o prazo de


reflexão, ou seja, a oferta e a concordância inicial do consumidor não formam um
contrato, já que, submetidas a uma condição suspensiva.
Enquanto que a lei francesa, nos seus parágrafos 312 e 312a,
considera a assinatura do consumidor, somente como um sinal da vontade, não
haveria ainda, a existência de um contrato. Segundo a lei francesa, não existirá
qualquer tipo de execução instantânea do contrato durante o prazo de reflexão. 96
Portanto, a não existência do contrato coloca o consumidor na situação mero
possuidor do bem.
Dessa maneira, não existindo contrato entre consumidor e fornecedor,
o vínculo existente no prazo de reflexão seria de depósito, permanecendo o
consumidor responsável pelo produto adquirido, responsabilidade esta que existiria

94
MARQUES, 2006, p. 838.
95
DE LUCCA, Newton. Direito do consumidor: aspectos práticos, perguntas e respostas . São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 72-73.
96
MARQUES, op. cit., p. 839.
50

embora o consumidor manifestasse o seu direito de arrependimento e o fornecedor


não retirasse o bem.
Newton de Lucca, citando Calais Auloy, observa que: 97

Havendo a necessidade de o cliente amadurecer o seu consentimento, a


explicação mais próxima da “realidade psicológica” é aquela que considera
a sua assinatura apenas como um sinal da vontade definitiva, sendo apenas
uma etapa do processo de formação do consentimento. Não haveria, ainda,
a existência de um contrato. A conseqüência, para alguns é a de que o
consumidor ficaria, então, na situação (pouco confortável) de depositário de
produto recebido.”

Já no Brasil, o Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 49, 98 não


fornece elementos para uma definição segura, uma vez que no caput e no parágrafo
único, refere-se à desistência do contrato, supondo uma existência contratual,
restando somente a discussão sobre a eficácia ou validade.
Nesse sentindo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu
99
que:

CONSUMIDOR - Contrato de consumo. Direito de arrependimento. Período


de reflexão. 1) Caracteriza-se como contratação fora do estabelecimento
comercial a celebração de contrato de uso de imóvel em Punta del Leste
durante festa popular em município do interior do estado (festa do pêssego).
2) A demonstração do arrependimento, dentro do período de reflexão, pode
ser efetivada por qualquer meio de prova, inclusive com os documentos
comprobatórios da realização de ligações telefônicas pelo consumidor à
empresa fornecedora no dia seguinte à contratação. 3) Desfazimento do
contrato, liberando o consumidor das obrigações assumidas. 4) Aplicação
do artigo 49 do http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/código-
de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90CDC - Sentença mantida.
Apelação improvida. Grifo nosso

O legislador brasileiro deixou uma lacuna no texto do artigo 49 ao não


expressar sobre a validade ou eficácia do contrato. 100

97
CALAIS-AULOY apud DE LUCCA , 1995, p. 73.
98
CDC - Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por
telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento
previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
99
TJRS - AC 599008299 - 1ª C. Cív. Fér. - Rel. Des. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino - J.
04.02.1999.
100
MARQUES, op. cit, p. 840.
51

Para alguns doutrinadores o contrato permanece, durante o prazo de


reflexão, subordinado a uma condição resolutiva e para outros, trata-se de condição
suspensiva.
Para Newton de Lucca 101 , o dispositivo pode ser interpretado como
subordinado a eficácia do contrato a uma condição suspensiva. Também, seria
possível considerar o contrato eficaz desde o seu início, até que a eventual
ocorrência de evento futuro e incerto. Seria uma condição resolutiva tácita legal. E
poderia ser interpretado ainda, como nova cauda de resolução de contrato.
Claudia Lima Marques, 102 cita três hipóteses quanto à eficácia.
A primeira, seria o contrato ter sua eficácia suspensa durante o prazo
de reflexão, facultando o fornecedor exigir do consumidor o pagamento acabando o
prazo e não advindo o evento futuro e incerto da desistência do consumidor, sendo
análogo a uma condição suspensiva tácita.
Imaginando que o contrato concluído é imediatamente eficaz, surtindo
efeitos até a ocorrência de um evento futuro e incerto que resolve o vínculo
contratual: a desistência durante o prazo de reflexão, sendo análogo a uma condição
resolutiva tácita ou legal.
A terceira e última hipótese citada é que o art. 49 pode ser interpretado
como estabelecendo um novo ensejo de resolução de contrato, sendo uma
faculdade unilateral do consumidor de resolver o contrato no prazo legal de reflexão,
sem arcar com os ônus contratuais normais da resolução por inadimplemento. O
contrato nessa proposição seria um contrato resolúvel, por lei (cláusula resolutiva
tácita).
Das três proposições apresentadas acima, a última parece aproximar-
se mais do sistema criado pelo código de defesa do consumidor, pois resolveria o
contrato por “atuação desta cláusula resolutiva tácita, presente em todas as vendas
em domicílio, liberando os contraentes, sem apagar todos os efeitos produzidos com
o contrato, mas operando retroativamente para estabelecer status quo ante”. 103
Dessa forma, demonstrada a vontade do consumidor em resolver o
vínculo contratual, está este encerrado de pleno direito, sem necessidade de
manifestação do Poder Judiciário.

101
DE LUCCA, 1995, p. 73.
102
MARQUES,2006, p. 841.
103
Ibid, p. 842.
52

Portanto, levando em observação que o contrato só se faz eficaz se


não acontecer o evento futuro e incerto, isto é, o arrependimento do consumidor.
Passado este período o contrato torna-se perfeito o contrato para surtir efeitos
jurídicos.
O art.49, parágrafo único, dispõe que se o consumidor exercer o direito
de arrependimento não deverá haver enriquecimento ilícito do fornecedor, devido às
práticas de venda agressivas. Desconstituído o vínculo pela manifestação do
consumidor, retornaram ambos os contraentes ao status anterior, devendo o
fornecedor devolver os valores recebidos monetariamente atualizados, isto é, o
fornecedor devolve os valores eventualmente pagos e o consumidor devolve o
produto.
O artigo em fomento não aborda sobre o que acontece com o produto
eventualmente confiado ao consumidor, no prazo de reflexão, a título de proprietário.
Pontos importantes podem ser aqui levantados: E se ocorrer o caso do produto ser
danificado? E se o produto desaparecer sem culpa do consumidor, ou até mesmo,
se o produto for usado pelo consumidor, poderá ele exercitar tal direito e devolvê-lo
ao fornecedor? Assim, outra lacuna é percebida no art. 49 e seu parágrafo único.
Todavia, sob o aspecto legal, não há no artigo e nem no Código
soluções expressas para estas situações. Entretanto, qualquer possível solução só
poderá ser alcançada se observar os princípios que regem o contrato de consumo, o
princípio da boa-fé entre os contratantes que, ainda, é clausula geral constante em
todos os contratos. E também, a impossibilidade de locupletamento ilícito e o
princípio da vulnerabilidade, presente em qualquer vínculo contratual.
A solução apresentada pela jurista Claudia Lima Marques, é que o
consumidor que recebe o produto é mais do que mero possuidor do bem, ele é
provavelmente o novo proprietário do produto, pois a tradição transferiu o domínio.
Porém, se ele pretender usar o instituto do direito de arrependimento, no prazo de
reflexão, carece cuidar para que o bem não pereça e não sofra qualquer tipo de
desvalorização, devendo evitar o uso ou danificar o produto. Se o fizer poderá até
“desistir do vínculo obrigacional”. Porém, terá que indenizar o fornecedor pela perda
do produto ou pela desvalorização que o uso causou, tudo com base no princípio do
enriquecimento ilícito. 104

104
MARQUES, 2006, p. 842 – 843.
53

Nesse sentindo, o direito alemão, é a solução que parece ser mais


adequada ao sentido do CDC, pois pode ser interesse do consumidor desobrigar-se
do vínculo contratual e regula-se a volta da situação anterior, sem que ninguém
ganhe com isso.
A única hipótese admitida de locupletamento sem causa no Código de
Defesa do Consumidor é o art. 39, inciso III, c/c parágrafo único, que iguala a
amostra grátis os produtos e serviços enviados ao consumidor sem prévia
solicitação. 105 No caso de venda em domicílio, tal proposição está afastada se houve
manifestação de vontade do consumidor acolhendo a proposta do fornecedor, como
prevê o art. 49, norma específica para o caso.
Sendo o consumidor proprietário do bem, mais um ponto deve ser
analisado: Estando o produto em perfeito estado de conservação e manifestado o
direito de arrependimento, por quem corre o risco do bem a partir de então?
Entende-se que nesse caso, tendo o consumidor praticado seu direito de
arrependimento e o fornecedor se compromissado a retirar o bem de sua casa, a
partir da manifestação do consumidor, o risco da deterioração ou perecimento do
bem é de inteira responsabilidade do fornecedor, uma vez que, o consumidor não é
mais dono. Todavia, se não existir culpa do consumidor, pois, existindo, deverá
indenizar o fornecedor.

3.1.2. Questões/Lacunas sobre o art. 49 do CDC e o direito comparado

A jurista Claudia Lima Marques 106 aponta 04 (quatro) questões que


devem ser solucionadas, embasadas no direito comparado.
O primeiro ponto a ser abordado, foi destacada pela lei francesa. É o
direito de identificação do fornecedor, uma vez que sem a identificação não é
possível exercer o direito de arrependimento.

105
CDC - Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: III
- enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer
serviço.
106
MARQUES, 2006, p. 843-847.
54

Pela lei francesa, o fornecedor fica obrigado a fechar o contrato por


escrito sob pena de nulidade do vínculo, nas vendas em domicílio, mesmo que seja
no recibo. 107 O direito alemão foi mais longe, e instituiu o dever do fornecedor
entregar ou enviar um formulário padrão, que continha informações sobre o direito
de arrependimento. 108 Atualmente, exige a facilitação no exercício deste direito e
regula, detalhadamente, a informação do consumidor, aumentado o prazo de
reflexão de duas semanas para até seis meses, se a informação não obedecer
preceito da lei alemã. 109
No sistema do brasileiro, existe o dever geral de informação, inclusive
deve constar na embalagem do produto a informação pertinente a sua origem, art.
33 do CDC, in verbis:
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal,
deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em
todos os impressos utilizados na transação comercial.
O legislador institui no art. 33 um novo dever para o fornecedor que
quer se utilizar dessas técnicas agressivas de venda. Contudo, se a venda já
ocorreu, o artigo não prevê expressamente o caso de o exercício do direito de
arrependimento ficar ou não obstado se não houver identificação do vendedor. Se
este se torna identificável. Pois se o consumidor não poder identificar quem era o
vendedor ou quem era o seu patrão, 110 poderá reclamar mesmo do fabricante o
direito que lhe reserva o art. 18, § 1.º, II do CDC. 111
Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul reconheceu
o direito de conhecimento da origem de uma mensagem por e-mail: 112

107
Code de La Consommation - arts. 121/18 e 125/23.
108
Código Alemão de 1986 - § 2.º.
109
BGB-Reformado - § 355.
110
CDC – Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de
seus prepostos ou representantes autônomos.
111
CDC - Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: II - a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
112
TJRS - Agravo de Instrumento Nº 70003736659, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 09/05/2002
55

CAUTELAR. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA. INFORMAÇÃO.


INTERNET. ORIGEM DE MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL).
IDENTIFICAÇÃO DE USUÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA. Pretendendo os
autores, em cautelar preparatória, obter informações a respeito da origem
de mensagens eletrônicas recebidas – e-mails -, a direcionarem futura ação
indenizatória, não assume legitimidade a demandada que somente prestou
serviço de transporte de telecomunicações – SRTT -, servindo tão somente
de meio físico a interligar o usuário final ao provedor do serviço de conexão
à Internet. Agravo provido.

Porém, o direito de arrependimento se localiza na parte contratual da


lei, ficando em princípio, por uma interpretação sistemática, restrito ao fornecedor
efetivo. Torna-se inócuo o art. 49, se este não é identificável, cabendo ao
consumidor reclamar somente por vício do produto ou serviço.
A solução seria, então, acrescentar um parágrafo ao art. 49,
compelindo o fornecedor a se identificar “por escrito”, semelhante ao direito
comparado, uma vez que a jurisprudência pode considerar arriscado o emprego da
analogia ao art. 33 para cominar mais um dever legal ao fornecedor.
O segundo ponto identificado pela lei francesa é o método a ser
utilizado pelo consumidor para validamente praticar o seu direito de arrependimento.
O código francês estabelece que a carta de renúncia seja a
recomendeé. 113 Já a lei alemã de 1986 considerava que o formulário padrão de
desistência poderia ser remetido por carta normal, valendo o dia em que a carta foi
postada, se dentro do prazo de um mês. 114
No CDC, pode-se sugerir que o consumidor também utilizasse o
correio, enviando uma carta registrada durante o prazo de reflexão. No entanto, no
caso de contrato firmado pelo telefone ou pessoalmente, seria possível usar a
mesma forma de contrato para o distrato, restando somente o problema de prova.
A terceira questão é o campo de aplicações das leis estrangeiras.
Tanto a lei francesa como a lei alemã aplicam-se apenas aos contratos concluídos
fora do estabelecimento comercial, em virtude de vendas a domicílio, mas ainda
assim têm a sua aplicação restringida a determinada circunstâncias.
A lei alemã não se considerava aplicável a legislação estrangeira
quando o cliente fechava o contrato na condição de profissional liberal ou
comerciante e para contratar seguros. Ainda, especificou que o direito de revogação
da aceitação não existia quando o contrato versasse a cerca de objeto ou prestação

113
Code de La Consommation - Art. 121-25.
114
BGB - § 357.
56

equivalente a até 40 (quarenta) Euros e, também, quando a manifestação de


vontade do consumidor fosse feita em cartório, perante o tabelião, com fé pública e
por último quando o consumidor solicitava a visita do fornecedor ou o início das
tratativas contratuais.
A lei francesa excluía de sua esfera de aplicação os contratos que já
fossem objeto de lei específica, assim como a venda de automóveis novos e a
venda de produtos de fabricação caseira.
Diferente do direito comprado, o CDC não menciona nenhuma
restrição. Entretanto, a aplicação do art. 49 ficaria afastada no caso de o contrato ser
aqueles de conclusões obrigatoriamente fora do estabelecimento comercial, e
também, quando por aplicação do princípio da boa-fé, se o consumidor requereu a
visita do fornecedor em sua cada ou local de trabalho.
Último ponto relevante abordado pela professora, é a dificuldade no
tratamento dos contratos de serviços. No caso de serviços já executados, o
consumidor poderá exercer o direito de arrependimento? Como poderão ser eles
devolvidos? Ou a norma em questão apenas se aplica aos serviços ainda não
executados?
No sentido da norma seria possível sim ao consumidor praticar seu
direito de arrependimento, mas teria de indenizar o fornecedor pelo serviço já
prestado. Porém, o caso dos serviços merece um exame mais acurado da
jurisprudência, pois muitos dos serviços são executados, por sua própria natureza.
A norma alemã propõe a solução de afastamento do direito de
arrependimento no caso em que consumidor requerer a ida do fornecedor a sua
residência prestar serviços, como por exemplo, reforma do banheiro. Solução
semelhante não ofende os princípios do CDC, pois essa solução se adapta à idéia
de boa-fé obrigatória de ambas as partes no contrato
Concluindo essa análise, Claudia Lima Marques comenta que cabe
reconhecer que o art. 49 traz importante inovação prática ao direito, e se
fundamenta em razões de justiça ao dificultar e regular a venda porta a porta, com a
finalidade de proteger o consumidor vulnerável.

3.2. VENDAS EMOCIONAIS DE TIME SHARING


57

As técnicas legislativas de proteção e defesa dos consumidores em


matéria de contratos de time sharing ou multipropriedade, no direito comparado,
visam garantir uma nova proteção da vontade dos consumidores contra a prática
comercial agressiva.
Isto é, segundo Claudia Lima Marques, 115 visa garantir uma autonomia
real da vontade do contratante mais fraco, uma vontade resguardada pelo direito,
vontade liberta das pressões e dos desejos impostos pela publicidade e métodos
agressivos de venda, como, por exemplo os convites para festas e reuniões onde se
distribuem bebidas alcoólicas, inspeções organizadas e gratuitas aos locais de lazer,
oferecimento de jogos e prêmios, telefonemas e contatos reiterados para fazer
pressão.
A decisão irrefletida e emocional do consumidor está ligada de fato ao
superendividamento, insolvência, abusos contratuais, frustrações das expectativas
etc. As vendas time sharing, em regra, acontecem por meio de métodos agressivos
de marketing e contam com a decisão irrefletida, desinformada e emocional do
consumidor.
O avanço expressivo desse tipo de vendas fez com que doutrinadores
olhassem para esse novo tipo de contratação preocupando-se com a inovação no
setor jurídico, inserindo uma nova legislação.
Destarte, foram instituídas as chamadas “Diretivas Européias” que
beneficiaram, não só os países participantes da União Européia, como também toda
a América Latina. Os países da União Européia que optaram pela política do direito
de arrependimento aos contratos de multipropriedade, têm tido conseqüências muito
mais eficazes no que tange à resposta do Poder Judiciário.
A diretiva européia 94/97/CE de 26 de outubro de 1994, buscava
assegurar a vontade racional e refletida do consumidor através de três pilares: a)
prestação de informações e esclarecimentos que o contrato ou pré-contrato devem
conter, em idioma conhecido pelo consumidor; b) previsão de direito de
arrependimento imotivado no prazo de 10 dias a contar da assinatura do contrato ou
do pré-contrato; c) previsão da dilatação do prazo do direito de arrependimento para

115
MARQUES, 2006, p. 849.
58

3 (três) meses caso algumas das informações previstas no anexo não constem do
contratos ou pré-contratos ou não tenham sido informadas aos consumidores. Caso
o fornecedor informe ao consumidor o que faltar no pré-contrato ou contrato, a
entrega das informações reabre o prazo de arrependimento para 10 (dez) dias.
O novo Código alemão vai mais além e assegura um direito de
arrependimento sem causa de duas semanas e, caso a língua usada no contrato
tenha sido outra, o prazo é de trinta dias, ou, caso os deveres de informação tenham
sido descumpridos de seis meses depois de concluído o contrato. 116
A lei alemã tem se preocupado, também, com as contratações feitas
internacionalmente, pois, nas vendas time sharing, em regra, o fornecedor ou
empreendedor que vende as multipropriedades é estrangeiro. Todavia, fica proibido
o uso da forma eletrônica para esta contratação. E, por essa razão, as informações
indispensáveis devem constar nos prospectos e nos contratos escritos com clareza,
incluído uma língua européia conhecida pelo consumidor.
Nota-se que tanto na modalidade de vendas porta a porta como na
modalidade de vendas emocionais de time sharing, os prazos de reflexão alemã são
similares.
Em 1995 foi editada na França a Lei n.º 95-96 que modificou alguns
artigos do Code de La Consommation, introduzindo o art. 123-1, cujo prevê que nos
contratos concluídos entre profissionais e não profissionais ou consumidores, são
abusivas as cláusulas que criem, em detrimento do não profissional ou consumidor,
um desequilíbrio significativo entre os direitos e obrigações das partes contratantes.
E recentemente foi inserido ao direito francês a figura do
superendividamento, caracterizado pela concessão desordenada de créditos a
consumidores já endividados. Nesse direito, é importante frisar que a boa-fé do
devedor é presumida. 117
No mesmo sentido, Cláudia Lima Marques 118 confere ao direito alemão
algumas assertivas no combate ao superendividamento, “uma responsabilidade
solidária da cadeia de fornecedores pelo bom cumprimento da obrigação contratual”.
pois, além de evitar o superendividamento diminui a eficácia negativa das práticas

116
MARQUES, 2006, p. 850.
117
GUGLINSKI, Vitor Vilela. Disponível em:
<http://estudandoodireito.blogspot.com/2007_08_01_archive.html>. Acesso em 30 set 2009.
118
MARQUES, op. cit., p. 855.
59

abusivas de vendas emocionais time-sharing, nas quais o consumidor sofre alta


pressão psicológica, causando eficácia contratual desvantajosa.
Dessa maneira, é possível notar o quanto organizado e avançado está
o direito comparado no que tange à proteção do crédito continuado fornecido ao
consumidor em práticas de venda agressivas como as de multipropriedade.
Ao passo que o consumidor tem diversas alternativas de proteção
contra essas compras emocionais, no direito comprado, o judiciário brasileiro nem
sempre julga favorável ao consumidor, permitindo que as futuras parcelas de crédito
dadas em favor das vendas não sejam bloqueadas, tendo o consumidor que pagar
pela falta de uma normatização justa.
Embora o Brasil não tenha nenhuma legislação específica para as
vendas emocionais de time sharing ou multipropiedade, o instituto de direito de
arrependimento deve ser aplicado por analogia a essa nova modalidade de venda,
para garantir a defesa e proteção do consumidor.
Ensina a Professora Cláudia Lima Marques 119 que existem técnicas de
marketing direto que simulam estabelecimentos comerciais, como festas, coquetéis,
eventos e convidam o consumidor através de telefonemas, sorteios, promoções etc.
a participar de tal evento. 120 Nesse local são oferecidos produtos ou serviços, como
título de uso em parques, fração ideal de unidade em condomínio etc., através de
exposições sobre a qualidade dos produtos ou serviços oferecidos, distribuição de
prêmios gratuitos etc. O fornecedor cria um ambiente de lazer e descontração para
induzir o consumidor a adquirir o produto ou serviço. Nessa modalidade de venda
emocional, segundo Bruno Nogueira: 121

(...) os consumidores são convidados a comparecerem em um determinado


local escolhido pelo fornecedor ou então são abordados em locais diversos,

119
MARQUES, 2006, p. 851.
120
Nesses casos, mesmo sendo realizada no suposto estabelecimento comercial, entende a
jurisprudência ter o consumidor direito de arrependimento, em razão das circunstâncias que
envolvem a contratação. Como exemplo, podemos citar a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça
do Rio Grande de Sul, in verbis: "Contrato de compra e venda de título de uso de instalações
hoteleiras (time sharing) – Método abusivo de venda – Descumprimento do dever de informar –
Nulidade do contrato – Litigância de má-fé inexistente – É nulo o contrato resultante de método
agressivo de venda, pelo qual, o consumidor é atraído a um local preparado e submetido à pressão
psicológica para assiná-lo, sem que possa se inteirar do alcance de suas cláusulas – A litigância de
má-fé diz respeito a má-fé processual,não à utilizada quando da contratação." (APC 597095827, Des.
Antonio Guilherme Tanger Jardim, j. 26.06.1997).
121
NOGUEIRA, Bruno dos Santos Caruta. Direito de arrependimento à luz do Código de Defesa
do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 415, 26 ago. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5626>. Acesso em: 01 out. 2009.
60

onde se servem coquetéis, uma boa recepção, divertimentos e


entretenimentos em geral, onde se evidencia um clima de sucesso e
realizações, aproveitando do lado emocional dos consumidores para
oferecerem e venderem seus produtos e serviços.

Assim, a jurisprudência brasileira tem considerado que, se o fornecedor


se utilizou desses métodos emocionais de vendas, existe o direito de
arrependimento do consumidor, baseado no art. 49 do CDC, e nulas são as
cláusulas contratuais que tentem impedir o exercício deste direito. Nesse sentindo,
alguns entendimentos jurisprudenciais:

Contrato de compra e venda de titulo ("time sharing"). Método abusivo de


venda. Desequilíbrio contratual. O método de vendas utilizado pela apelante
gera desequilíbrio entre as partes, visto que, de um lado esta a empresa
estruturada com profissionais treinados para, num ambiente altamente
favorável, apenas destacar a excelência do empreendimento e as inúmeras
vantagens do negócio. De outro estão os clientes que, apos diversas horas
de explanações, vídeos e demonstrações não dispõem do tempo
necessário para refletir sobre o negócio oferecido, diminuindo suas
condições de avaliação. Aplicação do art.6, inc.iv, do CDC. Apelo
desprovido. (Apelação Cível Nº 598021970, Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: João Pedro Pires Freire, Julgado em 18/11/1998)
grifo nosso

CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. TIME-SHARING. O


DIREITO DE ARREPENDIMENTO - ART. 49 DO CDC - TEM POR
OBJETIVO PROTEGER O CONSUMIDOR DA PRATICA COMERCIAL
AGRESSIVA. HIPOTESE EM QUE O NEGOCIO E FEITO EM AMBIENTE
QUE INIBE A MANIFESTACAO DE VONTADE DO CONSUMIDOR,
CARREGADA DE APELO EMOCIONAL. O prazo de arrependimento, no
caso, deve ser aquele que mais favorece a parte hipossuficiente, ou seja, a
contar da efetiva data em que o serviço estaria a disposição do consumidor.
Ação de revisão de contrato procedente. deferimento da devolução das
parcelas pagas. honorários. Devem ser fixados em percentual sobre a
expressão econômica da causa, traduzida naquilo que deve ser devolvido a
parte. Apelo e recurso adesivo desprovido. (Apelação Cível Nº
70000195578, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
José Aquino Flores de Camargo, Julgado em 26/10/1999) grifo nosso

USO COMPARTILHADO DE PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA. NULIDADE.


DEVOLUÇÃO DE PARCELAS. Se o vendedor utilizou-se de técnicas de
cooptação do consumidor e de vendas, que retiraram deste a possibilidade
concreta de tomar conhecimento integral do negócio e de refletir sobre a
sua conveniência e oportunidade, máxime quando subscrita proposta em
língua espanhola, de natureza adesiva, nulas são as cláusulas impeditivas
do arrependimento e limitadoras da devolução integral das parcelas
eventualmente adimplidas, que seriam devidas, aliás, mesmo que tivesse
havido simples desistência do comprador, o que apenas possibilitaria o
desconto da fruição, aqui inexistente, e do valor relativo à cláusula penal,
que, no entanto, deveria amoldar-se aos termos do art. 924 do CC e não
61

poderia obstar o direito prevalente oriundo da legislação consumeirista.


Litigância de má-fé não caracterizada. Apelação improvida. (Apelação Cível
Nº 70001354034, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Luiz Ary Vessini de Lima, Julgado em 23/11/2000) grifo nosso

Contrato particular de promessa de compra e venda de fração ideal. Time-


sharing. Tempo compartilhado. Vício do consentimento. Clausulas abusivas.
Descumprimento do prometido. Direito de arrependimento. Devolução das
parcelas pagas. Artigos 6º, iv, 37, 46 e 53 do código de defesa do
consumidor. Demonstrado que o contrato particular de promessa de compra
e venda de fração ideal foi firmado diante do induzimento em erro do
comprador, diante de falsa promessa ou omissão sobre dificuldades,
agravada pela forte pressão exercida quando da assinatura da avenca por
propaganda exagerada e apelativa, tem direito o comprador a rescisão do
pacto com a devolução das parcelas pagas, a teor de dispositivos legais
previstos no código de defesa do consumidor. Apelação improvida.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 70001471523, DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL,
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: ELAINE HARZHEIM
MACEDO, JULGADO EM 03/10/2000)

Pensando em aplicar o modo legislativo europeu às vendas de time-


sharing, Cláudia Lima Marques 122 recomenda determinadas medidas, que serviriam
para proteger o consumidor quando o contrato for firmado com fornecedores ou
empreendedores de outros países. Para a jurista, as normas que trazem benefícios
aos consumidores desses países devem ser aplicadas cumulativamente com as do
Brasil. Logo, as normas correspondentes ao prazo de reflexão para o exercício do
direito de arrependimento, informações obrigatórias em contratos, idioma,
pagamento ou assinatura de boletos de cartões de crédito, entre outras disposições
seriam aplicadas em consonância com a legislação brasileira.

3.3 VENDAS POR TELEFONE, TELECOMUNICAÇÃO E INTERNET

Atenta ao desenvolvimento das vendas fora do estabelecimento


comercial, sobretudo no âmbito do comércio eletrônico, a União Européia tratou de
disciplinar, também por meio de diretivas, essa atividade negocial, objetivando o
bem comum. As vendas ou contratações de produtos ou serviços à distância hoje se
serve de ajuda de meios de telecomunicações.

122
MARQUES, 2006, p. 856
62

Cláudia Lima Marques chama a atenção para três Diretivas, a Diretiva


de 1977, que trata sobre contratação à distância; a Diretiva sobre assinaturas
eletrônicas, de 1999, e a Diretiva sobre comércio eletrônico, de 2000, todas
objetivando, principalmente, “garantir a segurança e a confiança nas comunicações
eletrônicas”. 123
A Diretiva 97/7/CE versa sobre matéria de contratos a distância com
marketing direto, regulando ainda, os contratos formalizados em domicílio e
semelhantes, as vendas automatizadas e as vendas especiais esporádicas,
instituindo modalidades proibidas de vendas de bens ou de prestação de serviços.
Tem como escopo “harmonizar internamente as condições e garantias da compra ou
fornecimento de serviços e produtos à distância através de técnicas de comunicação
para os consumidores no mercado europeu”. 124
Nesse mesmo sentido, assevera Beyla E. Fellous, faz a seguinte
denominação para o termo “contratação à distância”: 125

Todo contrato de bens e serviços celebrado entre o fornecedor e o


consumidor no âmbito de um sistema de vendas ou prestação de serviços à
distância organizada pelo fornecedor, por meio de diversas técnicas de
comunicação à distância até a conclusão do contrato, incluindo o contrato
em si mesmo.

Logo, a diretiva 97/7/CE trata de importante norma que privilegia,


especialmente, o princípio da lealdade e da isonomia nos acordos comerciais. Por
meio dela, os países-membros têm promovido adaptações normativas aos seus
respectivos ordenamentos jurídicos, com o intuito de viabilizar os negócios à
distância com garantias mínimas de proteção aos consumidores. 126
A Diretiva 97/7, ao contrário das históricas Diretivas sobre o fato do
produto e vendas fora do estabelecimento comercial e publicidade enganosa, possui
um reduzido campo de aplicação. Suas normas são aplicáveis apenas nos negócios
entre um profissional, fornecedores e um consumidor.
O art. 2º da Diretiva define contrato à distância como:

123
MARQUES, loc. cit.
124
MARQUES, 2006, p. 856.
125
FELLOUS, Beyla Esther. Proteção do consumidor no Mercosul e na União Européia. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 127.
126
ALVES, Fabrício da Mota. O direito de arrependimento do consumidor: exceções à regra e
necessidade de evolução legislativa no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1353, p. 2. 16
mar. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9605>. Acesso em: 6 out.
2009.
63

Qualquer contrato relativo a bens ou serviços, celebrado entre um


fornecedor e um consumidor, que se integre num sistema de venda ou
prestação de serviços à distância organizado pelo fornecedor, que, para
esse contrato, utilize exclusivamente uma ou mais técnicas de comunicação
à distância até à celebração do contrato, incluindo a própria celebração. 127

A Diretiva utiliza-se da expressão "à distância" evitando discussão


como as que se instauraram no Direito Consumidor brasileiro, em que a definição de
estabelecimento comercial provocou dúvidas a cerca do significado jurídico dessa
expressão.
O Anexo I traz uma lista de treze métodos de comercialização à
distância. Entre eles estão a antiga prática de envio de catálogos para compras,
assim como os novos métodos, como a venda por telefone, com ou sem pessoa de
contato, o envio de catálogos por meio de prospectos, com cartão-resposta, por
videotexto, televisão, computadores, telefax, e-mail, e teleshopping. 128
A Diretiva versa, além disso, um amplo direito à informação,
determinando que o consumidor saiba o endereço e a identidade do fornecedor, as
características fundamentais do produto ou serviço oferecido, do seu preço e dos
impostos que incidem sobre ele, bem como o custo de taxas de empacotamento,
embalagem e postagem entre outros.
O consumidor deverá ser avisado, aliás, sobre o custo da comunicação
ou da utilização do método de comunicação à distância, se difere da tarifa básica,
sobre o prazo de validade da oferta especial, caso ela exista, sobre o prazo de
entrega do bem ou execução do serviço, sobre o prazo de duração mínimo do
contrato e a forma de sua renovação, sobre seu direito de arrependimento e a
regularidade com que os serviços serão prestados. 129
A grande importância desse dever de informar imposto ao fornecedor,
é que o no caso de descumprimento, o prazo se dilata para três meses, podendo o
prazo de sete dias recomeçar no momento em que a informação da identidade do
fornecedor chegou ao consumidor. A regra é que o prazo sempre é de sete dias
úteis a contar da contratação dos serviços ou entrega da coisa.
O prazo é semelhante ao previsto no CDC. Entretanto, o prazo previsto
no código brasileiro é de sete dias corridos, sendo que, o prazo da Diretiva é de sete
127
ALVES, loc. cit.
128
MARQUES, 2006, p. 858.
129
MARQUES, 2006, p. 859.
64

dias úteis. Logo, o prazo da Diretiva é mais condizente com a necessidade desse
instituto.
Em caso de exercício do direito de arrependimento deve o fornecedor
devolver todos os valores recebidos e o consumidor suportar somente os custos da
devolução física do produto ou serviço ao fornecedor. Mas, eventualmente, muitas
empresas suportam esse custo como técnica de marketing, objetivando ganhar a
simpatia do consumidor diante do seu produto.
Sabendo que nos contratos firmados pela internet e por e-mail a forma
de contratação se dá por cartão de crédito, os europeus regulamentaram através da
Diretiva em questão, o “financiamento conexo ou concluído em virtude de uma
contratação a distância também se dissolve, sem custos para o consumidor, quando
este exercer regularmente seu direito de arrependimento”. 130
Por conseguinte; diante de compra a prestação ou cartão de crédito,
todas as parcelas pagas como promessas futuras são extintas pelos Estados, sem
custos para o consumidor quando esse praticar seu direito de arrependimento.
A preocupação dos europeus foi tanta que a Diretiva prevê sanções
em caso de má ou errônea utilização do cartão de crédito, cobrança errada,
falsificação ou falsidade e s devolução da quantia paga ao consumidor, descontada
ou cobrada.
O Código alemão, igualmente, protege o consumidor nesse tipo de
contratação por cartão de crédito. A norma prevê um prazo de reflexão de duas
semanas, criando regra diferenciada em virtude da peculiaridade da forma de
contratação. Importante observar que a intenção do direito europeu é preservar a
proteção contratual através desse prazo de reflexão para vendas a domicílio e para
contratos em que é empregado o crédito parcelado ou financeiro.
Beyla E. Fellous 131 destaca que o direito de retratação do consumidor
dentre o sistema de informação, com desígnio principal de conceder ao consumidor
a possibilidade in concreto de ver o produto e de conhecer as características do
serviço. O aludido direito à retratação está para o direito consumidor brasileiro como
o direito de arrependimento.
Sobre a restituição decorrente do eventual arrependimento do
consumidor, a autora ressalta que deve ser feito pelo consumidor em até no máximo

130
MARQUES, 2006, p. 859-860.
131
FELLOUS, 2003, p. 128-129.
65

de 30 dias, sem impor-lhe algum ônus adicional, com exceção das taxas que
resultem do reenvio do produto, como, por exemplo, o frete. E entre as exceções
previstas para a retratação estão as revistas, os periódicos, os jornais e bens
suscetíveis de degradação em caso de reenvio.
Conseqüentemente, não restam dúvidas de que existe preocupação da
União Européia e outros países em instituir normas mínimas de proteção e defesa
dos consumidores, nos mais atuais modos de contratação. Até por isso a doutrina
tem dado relevância às práticas contratuais nas vendas pelo comércio eletrônico.
Como em nosso ordenamento jurídico a legislação consumerista não
possui normas específicas que versam sobre o assunto, deve o legislador analisar
as Diretivas da União Européia e dos demais órgãos internacionais para utilizá-las,
de acordo com as características próprias do nosso sistema, como molde numa
provável reforma do Código. No entanto, enquanto a reforma do Código não
acontecer, cabe ao aplicador do direito utilizar as normas do código juntamente com
os princípios, sempre em favor do consumidor, garantindo-lhe um direito de
arrependimento livre da persuasão do marketing agressivo.

3.4 ESTENDENDO O DIREITO DE ARREPENDIMENTO ÀS NOVAS FORMAS DE

VENDAS

Como demonstrado nos itens anteriores deste trabalho, o


desenvolvimento tecnológico acarretou novas relações entre consumidor e
fornecedor, sem que o direito positivo tivesse tempo de regulá-las normativamente.
Ressalta-se a Lei nº. 8.078 de 11 de setembro de 1990.
O desenvolvimento tecnológico, econômico e social acarretou novas
relações entre consumidor e fornecedor, sem que o direito positivo tivesse tempo de
regulá-las normativamente. Ressalta-se a Lei nº. 8.078 de 11 de setembro de 1990.
Acontece que, muita das vezes, as alterações legislativas necessárias
se dão de maneira lenta, podendo perdurar por várias décadas. Enquanto não existir
normas específicas que disciplinem as lacunas do artigo competi ao aplicador do
66

direito, magistrado, estabelecer uma forma de não deixar o consumidor


desamparado.
Essas novas modalidades de vendas, não encontram resguardo no
CDC, principalmente no que se abordou nesse estudo, isto é, quanto à aplicação do
art. 49 do Código de Defesa do Consumidor, que versa sobre o direito de
arrependimento.
Mas, a interpretação do dispositivo deve ser feita à luz dos princípios
do CDC e, principalmente, com observância aos direitos básicos do consumidor. É
nesse sentido que a doutrina e a jurisprudência parecem começar a atuar,
estendendo o direito do art. 49 do CDC às novas técnicas de marketing agressivo,
ao comércio eletrônico, enfim, às vendas emocionais como um todo.

3.4.1 Vendas emocionais ou vendas de time-sharing

As vendas de time-sharing, expressão inglesa que significa tempo


compartilhado, dá origem aos chamados contratos de multipropriedade. Negócio
jurídico onde o consumidor comprador está vinculado à divisão da propriedade com
outros proprietários, durante certo período, inclusive em época de temporada.
Em regra, ocorre da seguinte maneira, em clima de festas e viagens de
férias, o consumidor é abordado por um vendedor que o convida a integrar um
negócio, no qual ele divide a compra de um grande imóvel. Deste modo, em meio a
bebidas alcoólicas, telões com propagandas ilusórias que mostram um ambiente
agradável com famílias gozando de muito espaço para lazer, o consumidor
acabando aceitando a proposta tentadora desse vendedor. Trata-se da modalidade
taxada pela doutrina como “venda emocional”.
A venda é feita por um preço parcelado em vários meses e que pode
até ser pago no cartão. Posteriormente, o que se verifica na assinatura do pacto é
que o consumidor fica insatisfeito com as regras e disposições do contrato, que,
geralmente, não lhes foram informadas no momento da venda, como, por exemplo,
obrigações que decorrem desse imóvel: dívidas trabalhistas, previdenciárias,
tributárias, etc..
67

Hoje em dia, é a modalidade de vendas que mais leva o consumidor ao


superendividamento, à insolvência e aos abusos contratuais, eis que ele é induzido
a firmar futuras promessas de pagamentos, que se estenderão por anos e anos.
O consumidor, para honrar o contrato assumido, se vê obrigado a
aceitar os descontos das parcelas diretamente de sua conta bancária, ou fazer
empréstimos para saldar a dívida ou financiar diversas vezes a mesma dívida.
Algumas empresas relatam que tais vendas são realizadas dentro do
próprio estabelecimento do vendedor, o que impediria o exercício do direito de
arrependimento do consumidor, pois tal instituto não se aplicaria. No entanto, esse
pensamento não está em consonância com o espírito do Código de Defesa do
Consumidor, com os princípios e com os direitos fundamentais do consumidor.
Preconiza Cláudio Bonatto que: 132

(...) o início da venda, nos termos dos artigos 30 e 31 do CDC, ocorre no


momento da oferta, a qual é formulada por telefone e também fora do
estabelecimento, eis que o consumidor é via de regra, cooptado em
semáforos e em entrevistas nas ruas, para participar de coquetéis ou
jantares, nos quais o produto é apresentado por vendedores altamente
qualificados e preparados, situação que enseja um constrangimento que
pode estender-se por várias horas.
Tal situação configura circunstância comprobatório de que o consumidor
está em flagrante desvantagem para contratar, pois contra si se movimenta
todo um aparato de convencimento, encantamento e imposição.

Destarte, haja vista os artifícios utilizados pelos fornecedores em tais


vendas, onde há a atração do consumidor por meio de telefonemas, premiações,
sorteios, entre outros atrativos, permite-se a extensão da proteção do art. 49 do
código de defesa do consumidor a essas hipóteses.
O desígnio da norma é sempre proteger o consumidor. Assim, a
referência que se faz ao telefone ou domicílio contido no seu final é puramente
exemplificativa, pois o texto faz uso do advérbio “especialmente”. Vê-se claramente
o objetivo da lei de enumerar exemplos de vendas fora do estabelecimento
comercial e “não hipóteses taxativas”. 133
Logo, a jurisprudência tem percebido que, mesmo havendo venda
emocional dentro do estabelecimento comercial, deve ser aplicado o direito de
arrependimento. Isso devido ao seu caráter de sedução, que vende ao consumidor
132
BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões controvertidas no código de
defesa do consumidor: principiologia, conceitos, contratos atuais. 2. ed Porto Alegre: Livraria do
Advogado de Brasília, 1999, p. 181
133
NERY JÚNIOR, 2007, p. 563.
68

idéias de lazer, conforto e descanso, ideais tão visados nos dias de hoje. Desse
modo, em qualquer dos casos, dentro ou fora do estabelecimento, tratando-se de
vendas de time-sharing, o consumidor tem direito a um tempo extra de reflexão.
Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. TIME-SHARING. O


DIREITO DE ARREPENDIMENTO - ART. 49 DO CDC - TEM POR
OBJETIVO PROTEGER O CONSUMIDOR DA PRATICA COMERCIAL
AGRESSIVA. HIPOTESE EM QUE O NEGOCIO E FEITO EM AMBIENTE
QUE INIBE A MANIFESTACAO DE VONTADE DO CONSUMIDOR,
CARREGADA DE APELO EMOCIONAL. O prazo de arrependimento, no
caso, deve ser aquele que mais favorece a parte hipossuficiente, ou seja, a
contar da efetiva data em que o serviço estaria a disposição do consumidor.
Ação de revisão de contrato procedente. Deferimento da devolução das
parcelas pagas. Honorários. Deve ser fixados em percentual sobre a
expressão econômica da causa, traduzida naquilo que deve ser devolvido a
parte. Apelo e recurso adesivo desprovido. 134 Grifo nosso

CONTRATO DE MULTIPROPRIEDADE. PROMESSA DE COMPRA E


VENDA DE FRACAO IDEAL - 1/52 DE UNIDADE A SER CONSTRUIDA EM
CONDOMINIO. UTILIZACAO POR PERIODOS ANUAIS. DIREITO DE
ARREPENDIMENTO. CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 49.
PRATICA COMERCIAL AGRESSIVA. 1. O direito de arrependimento
previsto no artigo 49 do código de defesa do consumidor tem por escopo
proteger o consumidor da pratica comercial agressiva que o impede de
refletir e manifestar livremente sua vontade. 2. Conquanto celebrado na
sede do fornecedor, e de se assegurar ao consumidor o direito de
arrependimento também aos contratos cuja formação foi antecedida de
pratica comercial agressiva que o coloca em situação de desequilíbrio que
não lhe permite refletir. Hipótese em que a oferta e feita em ambiente que
mais aparenta uma reunião social durante a qual o consumidor e submetido
a forte pressão psicológica que enfraquece seu poder de avaliação das
condições e conveniência do negocio. Recurso desprovido. 135 Grifo nosso

CONTRATO PARTICULAR DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE


FRAÇÃO IDEAL - 1/52 DE UNIDADE A SER CONSTRUÍDA EM
CONDOMÍNIO. UTILIZAÇÃO POR PERÍODOS ANUAIS. TEMPO
COMPARTILHADO. CLAUSULAS ABUSIVAS. DECRETAÇÃO DE
NULIDADE DE OFICIO. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 49. DESCONHECIMENTO DAS
CLAUSULAS RELATIVAS AO USO DO IMÓVEL. 1. O juiz pode decretar de
oficio a nulidade de clausulas estipuladas em contratos abrangidos pelo
código de defesa do consumidor. Hipótese em que houve pedido expresso
dos autores. 2. Para o efeito do exercício do direito de arrependimento
previsto no art. 49 do código de defesa do consumidor, equipara-se a
contratação realizada fora do estabelecimento comercial, aquela em que o

134
Apelação Cível Nº 70000195578, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
José Aquino Flores de Camargo, Julgado em 26/10/1999
135
Apelação Cível Nº 196233506, Nona Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Maria
Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 17/12/1996.
69

consumidor, comparecendo em local indicado pelo fornecedor, em razão da


estratégia adotada, e submetido à forte pressão psicológica que o coloca
em situação desvantajosa, que o impede de refletir e manifestar livremente
sua vontade. Hipótese em que o consumidor, atendendo convite por
telefone, assiste a apresentação do empreendimento mediante explanações
e exibição de vídeo durante aproximadamente três horas, sendo
obsequiado com coquetel, assina o contrato que somente La pode ser
examinado. 3. Não obriga o consumidor o contrato celebrado em que as
clausulas relativas ao uso do imóvel adquirido pelo sistema de tempo
compartilhado constam de regulamento que somente lhe foi entregue
depois da assinatura do contrato. Recurso desprovido. 136 Grifo nosso

Além disso, a jurisprudência tem acatado qualquer manifestação do


consumidor como tentativa de exercício do direito de retratação:

CONTRATO DE CONSUMO. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. PERÍODO


DE REFLEXÃO. 1) Caracteriza-se como contratação fora do
estabelecimento comercial a celebração de contrato de uso de imóvel em
Punta del Leste durante festa popular em município do interior do estado
(festa do pêssego). 2) A demonstração do arrependimento, dentro do
período de reflexão, pode ser efetivada por qualquer meio de prova,
inclusive com os documentos comprobatórios da realização de ligações
telefônicas pelo consumidor à empresa fornecedora no dia seguinte à
contratação. 3) Desfazimento do contrato, liberando o consumidor das
obrigações assumidas. 4) Aplicação do artigo 49 do CDC – Sentença
mantida. Apelação improvida. 137

Como observado, nos contratos de vendas de multipropriedade, quase


sempre não são respeitados os princípios da transparência e da boa-fé contratual,
sobretudo quando são feitos documentos em língua estrangeira. Como apreciou o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o uso de métodos agressivos ou abusivos
de venda deve ser combatido com o uso do art. 49 ou o art. 46 do CDC: 138

MULTIPROPRIEDADE – CONTRATO INTERNACIONAL- CONTRATAÇÃO


NO BRASIL – EMPREENDIMENTO LOCALIZADO NO URUGUAI –
LÍNGUA ESTRANGEIRA – PROMITENTE VENDEDOR –
INTERMEDIAÇÃO – TEORIA DA APARÊNCIA- EMPRESAS
INTEGRANTES DO MESMO GRUPO ECONÔMICO – ART. 46 DO CDC-
1.É parte legítima na ação de resolução do contrato de promessa de
compra e venda de ações relativa ao uso de imóvel pelo sistema de
multipropriedade hoteleira empresa que, no Brasil, promove, juntamente
com outra integrante do mesmo grupo econômico, a informação,

136
Apelação Cível Nº 196115299, Nona Câmara Cível, Tribunal De Alçada Do Rs, Relator: Maria
Isabel De Azevedo Souza, Julgado Em 10/09/1996.
137
TJRS – AC 599008299 – 1ª C. CÍV. FÉR. – REL. DES. PAULO DE TARSO VIEIRA
SANSEVERINO – J. 04.02.1999.
138
CDC - Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e
alcance.
70

publicidade e oferta do empreendimento a ser construído no exterior como


se fosse o titular. 2.Por violar o princípio da transparência que impera na
relação de consumo, o contrato firmado em língua estrangeira não obriga o
consumidor por não ter tomado prévia ciência do seu conteúdo.Apelação
desprovida. 139

A observância dos princípios da informação, boa-fé e o da lealdade


acaba por dar valor a relação pré-contratual e a fase de negociação, visando
proteger o consumidor de métodos de vendas agressivas e do marketing agressivo.
Indubitavelmente, a legislação consumerista deve estar preparada para
garantir a livre manifestação de vontade dos consumidores, garantindo autonomia
real à parte mais vulnerável.
A manifestação de vontade necessita estar resguardada pela
legislação para que o consumidor não resista à pressões da publicidade ou até
mesmo ao desejos impostos por meio de marketing agressivo. A decisão impensada
faz com que o consumidor ceda emocionalmente ao referido contrato, que vem
seguido de desdobramentos arriscados, como a insolvência, o endividamento e a
frustração.

3.4.2 Vendas pela internet e comércio eletrônico

A publicidade, oferta e comercialização de produtos e serviços por


meio do marketing direto é realizada atualmente em larga escala pela internet.
Essa relação de mercado vem se tornando sólida por meio do
desenvolvimento mundial da rede de computadores e sua universalização, bem
como devido o crescimento da oferta de mercadorias e serviços através de home
pages, e-mails e catálogos informatizados, tudo esboçar num mercado internacional
conhecido como comércio eletrônico.
O comércio eletrônico tem a “vantagem de não precisar da
simultaneidade física entre o fornecedor e o consumidor para a realização de
contratação”. 140 O consumidor pode entrar no site a qualquer hora, e efetuar a

139
Apelação Cível Nº 197267263, Nona Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Maria
Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 14/04/1998.
140
BLUM, 2002, p. 97.
71

compra de um livro, comunicando-se “exclusivamente com uma máquina, do


fornecedor, que lhe dará respostas automáticas”. 141
Fábio Ulhoa Coelho traça a seguinte definição de comércio
eletrônico: 142

Comércio eletrônico é a venda de produtos (virtuais ou físicos) ou a


prestação de serviços realizadas em estabelecimento virtual. A oferta e o
contrato são feitos por transmissão e recepção eletrônica de dados. O
comércio eletrônico pode realizar-se através da rede mundial de
computadores (comércio internáutico) ou fora dela.

O comércio eletrônico, sendo um assunto relativamente novo, ainda lhe


falta regulamentação:

O direito positivo brasileiro não contém nenhuma norma específica sobre o


comércio eletrônico, nem mesmo na legislação consumerista de 1990 (...).
Assim, o empresário brasileiro dedicado ao comércio eletrônico tem, em
relação ao consumidor, exatamente as mesmas obrigações que a lei atribui
aos fornecedores em geral. A circunstância de a venda ter-se realizado num
estabelecimento físico ou virtual em nada altera os direitos dos
consumidores e os correlatos deveres dos empresários. 143

Como lembra Fabio Ulhoa Coelho tratando-se de comércio eletrônico


não interessa a natureza do bem ou serviço negociado. Ou seja, o que vale é a
compra no interior do estabelecimento virtual, não importando se a compra é de um
livro ou CD ou de um pacote de jornal eletrônico. 144
Os contratos eletrônicos são, normalmente, “negociados à distancia”, 145
e por sua vez, são somente uma espécie dentre os documentos eletrônicos. São
celebrados por meio de transmissão eletrônica de dados e a manifestação de
vontade se dá por meio do registro virtual, ou seja, despapelizado.
Resta saber se o direito de arrependimento também se estende a
essas relações.
Para Fábio Ulhoa Coelho 146 o direito de arrependimento deveria ser
utilizado somente para casos em que o comércio eletrônico emprega o marketing
agressivo. É que o consumidor teria plena liberdade de pesquisar preços e buscar

141
BLUM, loc. cit.
142
COELHO, 2001, p. 32.
143
COELHO, op. cit., p. 42.
144
Ibid, p. 32.
145
BLUM, 2002, p. 97.
146
COELHO, op. cit., p. 49.
72

informações sobre a qualidade e preço dos produtos antes de escolher sua compra
em determinado site.
Além disso, se o website fosse desenhado de modo a estimular o
internauta a se precipitar nas compras, como, por exemplo, com a interposição de
chamativos ícones agitados, em que as promoções sujeitam-se a brevíssimos
prazos, assinalados com relógios de contagem regressiva, então é aplicável a
norma.
O Ministro Ruy Rosado de Aguiar do Superior Tribunal de Justiça –
STJ, alertou para a falta de força jurídica dos contratos celebrados pela internet.

Segundo ele, o comprovante da realização de um negócio virtual, que


costuma ser impresso e guardado pelo consumidor, não tem valor jurídico
como prova documental. (...) Só com ele é possível controlar a
autenticidade e a veracidade de informações contidas nas cláusulas do
documento eletrônico. (...) Sem o uso de assinatura criptográfica, não se
obtém documento eletrônico com força probante em juízo, afirmou. 147

Assim, não possui valor jurídico algum como prova documental, o


comprovante da realização de negócio virtual impresso e guardado pelo consumidor.
Ficando claro que sem o uso de assinatura criptográfica 148 não se obtém documento
eletrônico com força de prova em juízo.

Segundo o ministro Ruy Rosado de Aguiar, até que seja aprovada


legislação específica, o comércio eletrônico deve obedecer aos princípios
do Código de Defesa do Consumidor, de 1990, que pode ser adaptado à
nova realidade. Embora recente, o Código foi elaborado sem ter em vista o
contrato eletrônico, daí a necessidade de compatibilização de suas normas
com essa nova realidade, afirmou. 149

E ainda, o Ministro do STJ corrobora que:

147
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ministro do STJ alerta para a fragilidade jurídica dos
contratos pela Internet. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Brasília, DF, 26 set. 2000. Disponível em:
<http://ww2.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=368&tmp.texto=67059>. Acesso em
23 out 09.
148
Segundo Rita Blum (2002, p. 41) criptografia é o processo de disfarçar o conteúdo, um processo
de criação de uma escrita secreta. Para aproximar a criptografia dos aspectos jurídicos da internet,
GRECO Apud BLUM, criptografar é tornar incompreensível, com observância de normas especiais
consignadas numa cifra ou num código, o texto (uma mensagem escrita com clareza). Ou seja, uma
determinada mensagem é submetida a uma codificação (chave) que a torna incompreensível para um
leitor comum. Somente a pessoa que tiver o código adequado (chave) poderá submeter o
incompreensível à decodificação e tronar novamente compreensível a mensagem.
149
BRASIL, loc. cit.
73

Arrependimento é perfeitamente aplicável aos negócios realizados através


da rede mundial de computadores, a cláusula de arrependimento (art.49
CDC), em que o consumidor tem o direito de voltar atrás em sua decisão,
sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer
fora do estabelecimento comercial. O site da empresa ofertante não pode
ser considerado dependência do estabelecimento. O consumidor está em
casa, conectado ao computador, realizando um negócio à distância e pode
estar recebendo influências externas para fazer a compra, afirmou Ruy
Rosado. 150

Nessa linha, Rita Blum 151 assevera que no caso de contratações pela
internet deve-se aplicar o art. 49, quando, no caso concreto, o consumidor só tem a
oportunidade de avaliar o produto ou serviço, após sua entrega ou início da
prestação de serviço.
Nessa acepção, o TJRS entende que:

REPARAÇÃO DE DANOS. CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA DE


APARELHO CELULAR EFETUADA PELA INTERNET. DIREITO DE
ARREPENDIMENTO EXERCIDO CONFORME ART. 49 DO CDC.
TRANSTORNOS PARA CONFIRMAR O DISTRATO. MÁ COMUNICAÇÃO
ENTRE A LOJA E A OPERADORA DO CARTÃO DE CRÉDITO.
COBRANÇA DAS PARCELAS NA FATURA. DIREITO À RESTITUIÇÃO,
EM DOBRO, DOS VALORES PAGOS. INEXISTÊNCIA DE DANOS
MORAIS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 152 Grifo nosso

CONSUMIDOR. PRELIMINARES REJEITADAS. COMPRA DE APARELHO


DE AR CONDICIONADO VIA INTERNET. EXERCÍCIO DO DIREITO DE
ARREPENDIMENTO (ARTIGO 49 DO CDC). SOLICITAÇÃO DE
CANCELAMENTO DA COMPRA APÓS 15 MINUTOS DE SUA
CONCRETIZAÇÃO. PARCELAS CREDITADAS EM FATURA DE CARTÃO
DE CRÉDITO. PEDIDO DE ESTORNO DE VALORES NÃO ATENDIDO
PELA DEMANDADA. CONDENAÇÃO A RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO
MONTANTE COBRADO INDEVIDAMENTE. HIPÓTESE DE MÁ
EXECUÇÃO CONTRATUAL, QUE, REGRA GERAL, NÃO DÁ ENSEJO AO
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AFASTAMENTO
DE TAL PARCELA DA CONDENAÇÃO. DERAM PARCIAL PROVIMENTO
AO RECURSO. 153 Grifo nosso

CONSUMIDOR. COMPRA E VENDA FORA DO ESTABELECIMENTO


COMERCIAL. EXERCÍCIO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO.
PAGAMENTO MEDIANTE DÉBITO NO CARTÃO DE CRÉDITO.
CANCELAMENTO. PERSISTÊNCIA DAS COBRANÇAS. Legitimidade

150
BRASIL, loc. cit.
151
BLUM, 2002, p. 103.
152
Recurso Cível Nº 71002280618, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Vivian Cristina Angonese Spengler, Julgado em 21/10/2009.
153
Recurso Cível Nº 71001388974, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Heleno Tregnago Saraiva, Julgado em 27/03/2008.
74

passiva da vendedora, uma vez que impossível identificar o verdadeiro


causador do dano. Exegese do artigo 7º, parágrafo único, do CDC. Compra
efetivada via Internet. Tendo sido legitimamente exercido o direito de
desistência do negócio, em razão de suas características (artigo 49 do
CDC), revelou-se indevida a cobrança das parcelas relativas ao negócio
desfeito. Direito à declaração de extinção do contrato e inexigibilidade das
parcelas. Sentença confirmada pelos próprios fundamentos. RECURSO
DESPROVIDO. 154 Grifo nosso

Destarte, as vendas efetuadas por catálogo, telefone, malote postal ou


quaisquer outras realizadas fora do estabelecimento físico do fornecedor, como pela
Internet em geral, seriam abrangidas pelo art. 49 do CDC.
Com efeito, enquanto não houver norma específica acerca do comércio
eletrônico em nosso ordenamento, deve ser aplicado o art. 49 do CDC a tais vendas.
Quando e se o legislador brasileiro puder completar essa lacuna tecnológica, não
haverá discussões em relação à equiparação do estabelecimento virtual como meio
físico de comércio e vice-versa. É necessária, então, uma evolução legislativa no
que tange a esse instituto.

154
Recurso Cível Nº 71000955773, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Eugênio Facchini Neto, Julgado em 03/10/2006.
75

CONCLUSÃO

Fazendo–se uma síntese conclusiva das principais idéias expostas no


presente trabalho pode se dizer que:
A origem do direito do consumidor remonta a antiguidade, onde são
localizadas reminiscências de normas de proteção nos Códigos de Hamurabi e de
Massú. Portanto, nos tempos mais longínquos havia regras protetivas ao direito
consumerista, mesmo que indiretamente.
No Brasil, a evolução do direito do consumidor deu-se principalmente
no início da década de 70 e transcorrer dos anos 80, após o período pós-Revolução
Industrial, com a atuação de órgãos de proteção ao consumidor em virtude do
crescimento da economia e industrialização. Não há um consenso na doutrina sobre
o aparecimento do movimento de proteção e defesa do consumidor brasileiro. Mais
é possível afirmar que desde 1933 encontram-se alguns traços de proteção ao
consumidor.
Contudo, a estrutura fundamental de defesa dos direitos do
consumidor no ordenamento interno é inegavelmente a Constituição Federal de
1988. Além de ser encontrada na previsão expressa no art. 5º, inciso XXXII, também
vem disciplinada no art. 170, inciso V, destacando-se como princípio da ordem
econômica, sendo à base da economia de mercado.
O Código de Defesa do Consumidor, lei n.º 8.078 de 11 de setembro
de 1990, em cumprimento à previsão do art. 48 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, entrou em vigor em 23 de março de 1991, dotando a
população de nova perspectiva quanto à proteção e defesa dos direitos dos
consumidores.
O direito de arrependimento, no campo conceitual, é o direito à
desistência da relação contratual firmada, mediante devolução da quantia paga, seja
ela com o produto ou serviço que não se quer mais obter. Visa ainda, proteger a
declaração de vontade do consumidor, equilibrando a relação consumerista entre
consumidor e fornecedor.
76

Sua aplicação é condicionada a dois requisitos: a venda ocorrer fora do


estabelecimento comercial e a manifestação do arrependimento, que deve acontecer
no prazo de reflexão. Importante frisar que essa manifestação independe de
qualquer justificativa do consumidor
O código consumerista brasileiro, versa no seu art. 49, que o direito de
arrependimento é aplicado especialmente nas vendas por telefone ou a domicilio.
Isto é, nas chamadas venda porta a porta e por correspondência ou telefone.
Contudo, existem algumas modalidades de vendas que configuram
lacunas na legislação consumerista, sobretudo aqueles que são frutos do progresso
tecnológico e do aprimoramento das técnicas de marketing agressivo, como as
vendas time sharing e o comércio eletrônico, sendo que, os doutrinadores debatem
a sua aplicabilidade ou não, do tal instituto.
A título de cotejo, a União Européia estabeleceu Diretivas a serem
adotadas pelos países membros a fim de aferir maior segurança ao consumidor,
inclusive regularizando as questões mais atuais, como a Diretiva 94/47 que
disciplina as vendas time sharing; a Diretiva 99/93, que trata sobre assinaturas
eletrônicas e a Diretiva 98/7 que regulamenta o crédito concedido ao consumo.
Embora considerada uma lei extremamente avançada, a Lei n.º
8.078/90 necessita ser complementado por novas disposições normativas
especialmente desenhadas para fazer face às repercussões desse novo fenômeno.
Portanto, é sabido que as alterações legislativas nem sempre acompanham as
mudanças do mercado e da realidade fática, razão pela qual o art. 49 do CDC deve
ser aplicado com observância aos princípios que informam a legislação de proteção
ao consumidor.
A partir do direito comparado, pode concluir que o CDC necessita
passar por uma modificação, a fim de, primeiramente, habilitar-se à realidade sócio-
econômica não somente brasileira, mas mundial.
É esse espírito que serve de base do estudo: a necessidade de
evolução legislativa da norma protetiva do consumidor no Brasil, especificamente
quanto ao direito de arrependimento, uma vez que há várias lacunas no
ordenamento.
Em um segundo plano, enquanto a evolução legislativa não ocorrer, a
aplicação do direito de arrependimento contido no art. 49 deve ser estendido às
novas modalidades de vendas, observando as peculiaridades dos negócios jurídicos
77

sobre os quais poderá ou não incidir, sob pena de promover injustiça social e, até
mesmo, converter o direito em prejuízo econômico para ambos os lados da relação
de consumo.
Os tribunais brasileiros vêm adotando o mesmo entendimento, que o
direito de arrependimento deve ser aplicado tanto no comércio eletrônico, quanto
nas vendas emocionais entre outras modalidades. Entendimento esse, graças à
interpretação em conformidade com os princípios de proteção ao consumidor.
Respeitados os posicionamentos em sentido contrário, estes não estão
em consonância com o espírito do Código de Defesa do Consumidor, com os
princípios que o informam e com os direitos básicos do consumidor.
Nas aludidas vendas o consumidor é submetido à intensa pressão
psicológica através de vendedores altamente treinados. Tendo em vista a situação
de vulnerabilidade e, sobretudo, a observância de outros princípios de proteção ao
consumidor, como o da livre manifestação da vontade, da boa-fé e da transparência,
deve ser estendido o direito de arrependimento previsto no art. 49 do Código de
Defesa do Consumidor a tais hipóteses.
78

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