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Direito
AS LACUNAS EXISTENTES NO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR QUANTO ÀS
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE
ARREPENDIMENTO
Brasília
2009
Monografia de autoria de Juliana Maria Milanez, intitulada “AS LACUNAS
EXISTENTES NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR QUANTO ÀS
HIPÓTESES DE CABIMENTO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO”, apresentada
como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito da
Universidade Católica de Brasília, em (data de aprovação), defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:
______________________________________
Prof. Drª. Fabiana Teixeira de Albuquerque
Orientadora
Direito - UCB
_______________________________________
Prof. (titulação) (nome do membro da banca)
Direito - UCB
_______________________________________
Prof. (titulação) (Nome do membro da banca)
Direito - UCB
Brasília
2009
A lei tem por função proteger os fracos contra os fortes.
Jean Calais – Auloy
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus.
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10
1. O SURGIMENTO DO MOVIMENTO CONSUMERISTA E SUA EVOLUÇÃO NO
BRASIL .....................................................................................................................12
1.1 A ORIGEM DO MOVIMENTO CONSUMERISTA ...............................................12
1.2 A EVOLUÇÃO NO CENÁRIO MUNDIAL ............................................................14
1.2.1 O movimento consumerista no Brasil ..........................................................18
1.2.1.1 Das primeiras providências legislativas.........................................................21
1.2.1.2 A constituição e o código de defesa do consumidor .....................................25
2. O DIREITO DE ARREPENDIMENTO DO CONSUMIDOR ...................................28
2.1. HISTÓRICO DO DIREITO DE ARREPENDIMENTO .........................................28
2.2 O DIREITO DE ARREPENDIMENTO NO BRASIL .............................................29
2.2.1 Conceito ..........................................................................................................29
2.2.2 Finalidade........................................................................................................30
2.2.3 Requisitos .......................................................................................................33
2.2.4 Fundamentos..................................................................................................38
2.2.5 Hipóteses comuns de cabimento .................................................................39
2.2.5.1 Venda a domicílio ou venda porta a porta .....................................................39
2.2.5.2 Vendas por telefone e correspondência ........................................................41
2.6 OUTRAS HIPÓTESES: LACUNAS IMPOSTAS PELAS NOVAS FORMAS DE
VENDAS....................................................................................................................43
3. O DIREITO COMPARADO E O DIREITO DE ARREPENDIMENTO....................47
3.1 ASPECTOS COMPARATIVOS ...........................................................................47
3.1.1 Prazo para reflexão no direito comparado...................................................47
3.1.2 Vínculo jurídico ..............................................................................................49
3.1.2. Questões/Lacunas sobre o art. 49 do CDC e o direito comparado...........53
3.2. VENDAS EMOCIONAIS DE TIME SHARING ....................................................56
3.3 VENDAS POR TELEFONE, TELECOMUNICAÇÃO E INTERNET.....................61
3.4 ESTENDENDO O DIREITO DE ARREPENDIMENTO ÀS NOVAS FORMAS DE
VENDAS....................................................................................................................65
3.4.1 Vendas emocionais ou vendas de time-sharing..........................................66
3.4.2 Vendas pela internet e comércio eletrônico ................................................70
CONCLUSÃO ...........................................................................................................75
REFERÊNCIAS.........................................................................................................78
10
INTRODUÇÃO
1
ALMEIDA, João Batista de. Manual de direitos do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1.
11
BRASIL
2
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
p. 24.
3
O Código de Hamurabi é um dos mais antigos conjuntos de leis já encontrados, e um dos exemplos
mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi>. Acesso em 22 out 2009.
13
dentro do prazo de até um ano, dando uma pequena noção do que chamamos hoje
de “vícios redibitórios”. 4
Tal Código previa a regulamentação do comércio de modo que o
controle e a supervisão ficariam na responsabilidade do palácio. E ainda
demonstrava uma estrutura de controle de lucros abusivos, resultado da
preocupação de resguardar a defesa do consumidor nas relações de compra e
venda da época.
No Código de Massú, no século XIII a.C., na índia, previa multa e
punição, além de indenização dos danos, àqueles que adulterassem gêneros (Lei nº.
697), ou entregassem produtos de espécie inferior ao contratado, ou vendessem
5
bens de igual natureza por preços diferentes (Lei nº. 689).
Na Constituição de Atenas, na Grécia, existia uma preocupação com a
defesa do consumidor, estabelecendo métodos fixos para medidas das mercadorias,
métodos para impedir que estas se misturassem e, também, métodos para impedir a
sua adulteração.
Além disso, na Europa Medieval, em meados do século XV,
precisamente na Espanha e na França, havia previsão de penas rigorosas aos
fornecedores que adulterassem produtos de gêneros alimentícios, como, por
exemplo, o vinho e a manteiga. 6
No Direito Romano Clássico, aquele que vendia era responsável pelos
vícios da coisa, a não ser que esses fossem por ele desconhecidos. Todavia, no
Período Justiniano, mesmo que ignorado o defeito, era conferido à responsabilidade
ao vendedor. O consumidor de boa-fé, em caso de vício oculto na coisa vendida, era
ressarcido por meio da ação redibitória e quanti minoris. Se aquele que vendia
tivesse conhecimento do vício, deveria restituir o que recebeu em dobro. 7
A bibliografia assinala que desde os tempos mais remotos havia
normas de proteção ao consumidor, mesmo que rudimentares. Todavia, nessas
normas está o gênesis do direito do consumidor.
4
CCB - Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou
defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
5
FILOMENO, 2004, p. 25.
6
FILOMENO, loc. cit.
7
PEDRON, Flávio Barbosa Quinaud; CAFFARATE, Viviane Machado. Evolução histórica do Direito
do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 41, mai 2000. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=687>. Acesso em: 15 set. 2009.
14
8
BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicola, e PASQUINO, Gianfranco (orgs.) Dicionário de Política.
Brasília: Editora da UnB, 13ª, 2007, vol 2, p. 1211.
9
Primeira Grande Guerra (1914-1918) houve um incremento na produção, que se solidificou e
cresceu em níveis extraordinários. Segunda Grande Guerra (1939-1945) surgimento da tecnologia de
ponta, do fortalecimento da informática, do incremento das telecomunicações etc. (RIZZATTO, 2007,
p. 3.)
10
Ensina José Geraldo Brito Filomeno, (2007, p. 70) que o sucesso da luta por melhores salários e
condições de trabalho certamente propiciaria, como de resto propiciou, melhores condições de vida.
11
FILOMENO, José Geraldo Brito. Código de defesa do consumidor comentado pelos autores do
anteprojeto. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. p. 70.
12
João Batista de Almeida (2003, p. 40) entende ser fornecedor, não apenas quem produz ou fabrica,
industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também
15
quem vende, ou seja, comercializa produtos nos milhares e milhões de pontos- de- venda espalhados
por todo o território.
13
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto, Curso de direto do consumidor: com exercícios. 2. Ed. São
Paulo: Saraiva 2007, p. 4.
14
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: O novo regime das
relações contratuais. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 65.
16
15
MARQUES, 2006, p. 69.
16
Ibid, p. 71.
17
ROSA, Josimar Santos. Relações de consumo: a defesa dos interesses de consumidores e
fornecedores . São Paulo: Atlas, 1995. p. 20.
18
MARQUES, op. cit., p. 51.
19
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 6.
17
Como lembra Maria Antonieta Donato, 20 a autonomia caiu por terra, eis
que, no fim do século XIX, sobrevieram novas transformações sociais gerando a
evolução do liberalismo. Manifestações dessa afirmação são os contratos entre
produtores a fim de limitar os efeitos da concorrência, criando situações
monopolísticas ou oligopolistas.
Ademais, tal processo gerou um sistema poderoso de marketing,
persuasivo e motivador, já que, com uma enorme concorrência entre os
fornecedores, faziam de tudo para aumentar as vendas por meio de novas técnicas
de vendas e demonstração de benefícios de produtos, capaz de induzir e controlar
os consumidores. A partir de então, o consumidor não só comprava objetivando a
atender suas necessidades básicas, mas ainda, com o desígnio de consumir o que
lhe foi imposto pelo marketing exacerbado.
Em face dessas transformações advindas, tanto no processo produtivo
como no processo mercadológico, o consumidor ficou em uma situação de extrema
fragilidade e vulnerabilidade 21 em relação ao fornecedor.
Outro fenômeno notado, além da vulnerabilidade do consumidor, foi o
aumento de riscos ao consumidor, em virtude da grande produção em massa
desses produtos. E não se tratava somente dos riscos intrínsecos do produto, mas
sim de riscos causados pela deficiência de técnica ou falha na elaboração, pois
esses existem e devem ser informados ao consumidor.
Por conta da concorrência desleal que fazia com que somente
buscasse a lucratividade, o fornecedor não transmitia segurança ao consumidor e
até não se preocupava com a segurança e qualidade dos produtos colocados no
comércio. “Multiplicaram-se as imperfeições do mercado e o consumidor se viu, de
22
uma hora pra outra, sujeito a toda uma série de abusos” . Essas e outros
descontentamentos acarretaram riscos até mesmo à vida do consumidor.
Deste modo, a preocupação resumia-se à relação interpessoal entre
consumidor e fornecedor, especialmente, até a década de 60. Acreditava-se de
20
DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. 2.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 17.
21
Cláudia Lima Marques distingue três tipos de vulnerabilidade: técnica, fática e jurídica. A primeira
diz a respeito à ignorância técnica quanto ao produto. A vulnerabilidade fática se refere à posição do
fornecedor (por ex. se monopolista, ou de grande poder econômico, ou se o produto ou serviço que
ele fornece é essencial). Por último, a vulnerabilidade jurídica é caracterizado pela ausência de
conhecimento legais ou de respaldo de competência profissional nesta área. (MARQUES apud
BLUM, 2002, p.33.)
22
BENJAMIN apud BLUM, 2002, p. 20.
18
modo errôneo que a proteção ao consumidor deveria ser meramente regrada pelas
relações de caráter privado e não na esfera pública, social, política e econômica.
Faz-se forçoso acrescer que a proteção do consumidor faz parte da
terceira geração, já que, o titular é a coletividade, motivo pela qual sua função
essencial é a proteção dos interesses difusos e coletivos.
O movimento consumerista, ao longo da história, por meio de lutas e
conquistas sociais, formou associações de proteção e defesa do consumidor, as
quais foram cruciais no surgimento de um direito que viesse garantir os direitos
básicos do consumidor.
Toda e qualquer legislação de proteção ao consumidor tem a mesma
ratio, vale dizer, reequilibrar a relação consumerista, seja tornando mais forte,
quando possível, a posição do consumidor, seja coibindo ou limitando certas
práticas de mercado. 23
23
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 7.
19
24
DONATO, 1994, p. 19.
25
ALMEIDA, 2003, p. 4.
26
FILOMENO, 2004, p. 24.
27
GRINOVER; BENJAMIN, 2007, p. 7.
20
28
FREITAS, Ricardo Ferreira. Desafios contemporâneos em comunicação: perspectivas de
relações públicas. São Paulo: Summus, 2002, p. 89
29
As relações jurídicas que se encontram sob o regime do CDC são denominadas relações jurídicas
de consumo, vale dizer, aquelas que se formam entre fornecedor e consumidor, tendo como objeto a
aquisição de produtos ou utilização de serviços pelo consumidor. Os elementos da relação de
consumo são três: a) os sujeitos; b) o objeto; c) o elemento teleológico. São sujeitos da relação de
consumo o fornecedor e o consumidor; são objeto da relação de consumo os produtos e serviço. O
elemento teleológico da relação de consumo é a finalidade com que o consumidor adquiriu o produto
ou se utiliza do serviço, isto é, como destinatário final. Se a aquisição for apenas meio para que o
adquirente possa exercer outra atividade, não terá adquirido como destinatário final e,
conseqüentemente, não terá havido a relação do consumo. (NERY JÚNIOR apud ROSA, 1995. p.
67).
30
FREITAS, op. cit., p. 90.
21
31
FREITAS, 2002, p. 90.
32
ALMEIDA, 2003, p. 9.
33
ALMEIDA, loc. cit.
22
34
ROSA, 1995, p. 32-33.
23
35
FILOMENO, 2004, p. 25.
36
Estatuto do IDEC - Art. 1º. – O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, é uma
associação civil de finalidade social, sem fins econômicos e lucrativos, apartidária, regida pela
legislação vigente e por este Estatuto, constituída por prazo indeterminado e situada à Rua
Desembargador Guimarães, 21, São Paulo, SP. Parágrafo Único - A missão do IDEC é a defesa dos
consumidores, na sua acepção mais ampla, representando-os nas relações jurídicas de qualquer
espécie, inclusive com as instituições financeiras e com o Poder Público .
37
CI (Consumers International) é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada na
Holanda, que reúne e harmoniza as atividades das organizações de consumidores em cerca de 115
países. A CI protege e promove os interesses dos consumidores em todo o mundo e por meio da
pesquisa, informação e educação, representa os interesses dos consumidores nos foro
internacionais.
24
38
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 26.
25
39
CF – Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor.
40
CF - Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: V - defesa do consumidor.
41
CF - Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: § 5º - A lei determinará medidas para que os
consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.
26
42
CF - Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão
ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei
disporá sobre: II - os direitos dos usuários.
43
ADCT - Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
44
FILOMENO, 2007, p. 23.
45
MARQUES, 2006, p. 34.
27
46
MARQUES, 2006, p. 35.
28
2.2.1 Conceito
47
Pacta sunt servanda (do latim os pactos devem ser observados) é a obrigatoriedade em que o
contrato deve ser cumprido. Essa obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O Ordenamento
deve conferir à parte instrumentos judiciários para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a
indenizar pelas perdas e danos. Não tivesse o contrato força obrigatória e estaria estabelecido o caos
(Venosa, 2002, p.376).
48
ALMEIDA, 2003, p. 115.
49
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo dicionário Aurélio. Versão Eletrônica 5.0.40.
Editora Positivo Informática, 2004.
30
2.2.2 Finalidade
50
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
51
MARQUES, 2006, p. 835.
31
52
NERY JÚNIOR, 2007, p. 561.
53
NERY JÚNIOR, loc. cit.
54
RIZZATTO, 2007, p. 611.
55
FILOMENO, 2006, p. 146.
32
2.2.3 Requisitos
58
RIZZATTO, 2007, p. 616.
59
NERY JÚNIOR, 2007, p. 563.
60
MARQUES, 2006, p. 835.
34
que é todo e qualquer contrato firmado pelo consumidor que lhe dá o direito de
arrepender-se. Pois, se assim fosse instalar-se-ia no mercado uma insegurança que
acabaria por levar muitos fornecedores a abandonar seu ofício. 61
“O alcance da norma é mais restrito”. 62 O art. 49 abrange somente os
contratos que se formam fora do estabelecimento comercial do fornecedor.
Fábio Ulhoa Coelho, assevera que “Distingue-se do estabelecimento
comercial físico, em razão dos meios de acessibilidade. (...) o estabelecimento físico
é o acessível pelo deslocamento do espaço.” 63 Logo, conclui-se que o consumidor
contrata serviços ou produtos quando existe um deslocamento por parte do
fornecedor, e não do próprio consumidor. Presumi-se aqui, que no caso do art. 49,
que sempre o fornecedor busca o consumidor de alguma forma.
O exercício do direito de arrependimento é incondicionado e irrestrito,
já que, independe da existência de qualquer ensejo que o motive. Para o
consumidor exercer o direito de arrependimento não é necessário justificar,
evidenciar ou tampouco explicitar o porquê da atitude, basta que o contrato tenha
sido fechado fora do estabelecimento comercial, pois o aludido direito de
arrependimento existe per se. 64 Porém, carece manifestar objetivamente a
desistência.
Além do mais, o CDC é de ordem pública e, deste modo, irrenunciável,
sendo considerada não escrita a cláusula contratual que o consumidor renúncia seu
direito de arrepender-se.
No início da redação do art. 49 está disposto que “o consumidor pode
desistir do contrato, no prazo de 07 (sete) dias...” É o chamado prazo de
arrependimento ou reflexão. Mas, de uma maneira ou de outra, o fato é que no
período de sete dias o consumidor que adquire produto ou serviço ou assina algum
contrato pode desistir do negócio.
Chama-se de prazo de reflexão pois se pressupõe que, como a
contratação não se deu de uma decisão ativa do consumidor, e como este ainda não
61
SAAD, Eduardo Gabriel. Código de defesa do consumidor: comentado: Lei n. 8.078, de
11.09.90. 6. ed., atual., rev. e ampl. São Paulo, 2006. p. 597-598
62
SAAD, loc. cit.
63
COELHO, 2001, p. 69.
64
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
35
teve o contato físico com o produto ou testou o serviço, pode requerer a desistência
do negócio depois tê-lo avaliado melhor. 65
Nesse sentindo a jurisprudência decidiu que:
65
RIZZATTO, 2007, p. 612.
36
66
NERY JÚNIOR, 2007, p. 560.
37
segurança, já que sem essas informações o consumidor não terá como exerce o seu
direito instituído no art. 49, pois se o consumidor resolve no prazo de reflexão,
exercer tal direito, ele não terá como devolver o produto e nem receber seu dinheiro
de volta, como versa o artigo em óbice.
O fornecedor não deve recusar a prestar estas informações solicitadas
pelo consumidor, pois no sistema do CDC assevera o dever geral de informação, até
mesmo, na embalagem do produto deve avisar a sua procedência, é o que trata o
art. 33 do CDC, in verbis:
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal
deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em
todos os impressos utilizados na transação comercial.
No caso de desobediência pelo fornecedor, haverá uma falha de
informação no que acarreta ao consumidor o direito de responsabilizar o fornecedor
pelo vício do produto ou serviço, conforme os arts. 18 a 20, além de se valer do
direito de arrependimento. Rizzatto Nunes 67 garante que:
67
RIZZATTO, 2007, p. 166.
38
2.2.4 Fundamentos
68
ALMEIDA, 2003, p. 15.
69
RIZZATO (2007, p. 124) explica que o CDC repete o princípio no art. 4º, caput, para assegurar
expressamente a sadia qualidade de vida com saúde do consumidor e sua segurança, no inciso I do
art. 6º.
70
CDC - Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: IV
- prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
39
74
MARQUES, loc. cit.
75
Ibid, p. 836.
76
MARQUES, 2006, p. 837.
41
77
ALMEIDA, 2003, p. 115.
78
MARQUES, 2006, p. 837.
42
virtual. 79 Mas, nem sempre essa atividade foi assim. Antes, as contratações fora do
estabelecimento comercial eram realizadas por meios instrumentais, tão antigos
como a correspondências, catálogos e reembolso postal.
No entanto, com a globalização, os meios de oferta também se
modernizaram, sobretudo pela prática do teleshopping e das vendas por telefone,
incluindo também o comércio eletrônico, como compras pela internet, e por e-mail,
conforme se evidenciará a seguir.
É contrário ao bom senso o que vem acontecendo na contratação de
produtos e serviços ligados ao merchandising. Segundo Rizzatto, 80 “merchandising é
a técnica usada para veicular produtos e serviços de forma indireta por meios de
inserções em programas é filmes”.
Empresas de televisão, incluem na sua programação propagandas
publicitárias em meio a programas voltados para o público feminino, jogos
esportivos, filmes, intervalos e torna disponível, mesmo sem informar o valor do
produto ou serviço, números de telefones para informações. Quando o consumidor
entra em contanto, acaba por adquirir o produto ou serviço, após grande insistência
dos atendentes, que são bem acostumados a persuadir o consumidor.
No momento em que o produto ou serviço contratado pelo consumidor
chega em sua residência, muitas vezes, não é compatível com o demonstrado na
propaganda ou não corresponde às expectativas. Pelo uso dessa técnica, o
fornecedor pode levar o consumidor a acreditar em situações que em princípio não
correspondem à realidade. A partir daí, o consumidor encontra com uma enorme
barreira a prática do direito de arrependimento previsto pelo art. 49.
O consumidor ao tentar cancelar a contratação, quase sempre, tem
que encarar vários obstáculos para exercer o direito de arrependimento. Em geral,
as empresas estruturam setores de retenção de clientes, com funcionários treinados
para tanto.
São ainda, muitas vezes, apresentadas pelas empresas para realizar o
cancelamento da contratação, outras exigências, como a apresentação de um laudo
médico assegurando que o produto acarretou efeitos nocivos à saúde, exigir o envio
de uma carta de próprio punho esclarecendo o porquê da devolução; reembolso de
cinco a dez dias úteis após o recebimento do produto, dentre outros.
79
Ibid, p. 856.
80
RIZZATTO, 2007, p. 461.
43
VENDAS
81
CDC - Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome
do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na
transação comercial. Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone,
quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina.
44
82
O instituto chamado ‘superendividamento’ não se refere ao simples excesso de dívidas
acumuladas, a analogia vocabular não dissimula o risco de errar, diante de tal afirmação, pela
evidência. O agravamento do problema enfrentado na atual sociedade de consumo é bem fiel aos
fatos que nos surpreendem, num mundo globalizado, decorrente nas décadas passadas. (PEREIRA,
Wellerson Miranda; MARQUES, Cláudia Lima. Direito do consumidor endividado. São Paulo: RT,
2006, p. 159.).
83
O inadimplemento é resultado do maior volume de crédito que é concedido a consumidores (por
meio dos bancos), grande parte é vulnerável com pouca capacidade de pagamento, elevando o risco
de empréstimo e conseqüentemente, elevando as taxas de juros, atrasando o pagamento de
parcelas. A perspectiva que se obtém desse processo, é que nos dias atuais, o consumidor
endividado, vive graças às conquistas de um segundo empréstimo, liquidando o primeiro, de um
terceiro para o segundo e assim em seqüência. (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. Disponível em:
<http://www.consumersinternational.org/Shared_ASP_Files/UploadedFiles/consint/7CA6B3FD-0135-
4D05-86A8-56EFF484D1A9_CREDITOYENDEUDAMIENTOINFORMEBRASIL.pdf>. Acesso em: 12
out. 2009.).
84
Filipeta é um termo atualmente usado no Brasil para designar pequenos folhetos publicitários, em
Portugal chamados panfletos também chamados de flyers, que têm a função de anunciar e promover
eventos, serviços ou instruções numa ampla gama de aplicações. Os flyers são impressos,
geralmente, em ambos os lados e visam a atingir um público determinado, visto que são distribuídos
com objetivo de incentivar o comparecimento de determinada camada da população ao evento,
produto ou serviço anunciado. As filipetas ou flyers diferem dos panfletos ou folhetos principalmente
pela sua gramatura especial. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipeta> Acesso em 23 out
2009.
85
COELHO, 2001, p. 47.
86
RIOS, Josué Oliveira. Código de Defesa do Consumidor ao alcance: anotado e exempilicado
pelo IDEC. São Paulo: IDEC, 1996, p. 62.
45
87
MARQUES, 2006, p. 858.
88
Ibid, p. 849.
46
89
MARQUES, 2006, p. 837.
90
CALAIS-AULOY apud LUCCA,1995, p. 71.
48
91
MARQUES, 2006, p. 850.
92
MARQUES, loc. cit.
93
Ibid, p. 839.
49
94
MARQUES, 2006, p. 838.
95
DE LUCCA, Newton. Direito do consumidor: aspectos práticos, perguntas e respostas . São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 72-73.
96
MARQUES, op. cit., p. 839.
50
97
CALAIS-AULOY apud DE LUCCA , 1995, p. 73.
98
CDC - Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por
telefone ou a domicílio. Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento
previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
99
TJRS - AC 599008299 - 1ª C. Cív. Fér. - Rel. Des. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino - J.
04.02.1999.
100
MARQUES, op. cit, p. 840.
51
101
DE LUCCA, 1995, p. 73.
102
MARQUES,2006, p. 841.
103
Ibid, p. 842.
52
104
MARQUES, 2006, p. 842 – 843.
53
105
CDC - Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: III
- enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer
serviço.
106
MARQUES, 2006, p. 843-847.
54
107
Code de La Consommation - arts. 121/18 e 125/23.
108
Código Alemão de 1986 - § 2.º.
109
BGB-Reformado - § 355.
110
CDC – Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de
seus prepostos ou representantes autônomos.
111
CDC - Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: II - a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
112
TJRS - Agravo de Instrumento Nº 70003736659, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 09/05/2002
55
113
Code de La Consommation - Art. 121-25.
114
BGB - § 357.
56
115
MARQUES, 2006, p. 849.
58
3 (três) meses caso algumas das informações previstas no anexo não constem do
contratos ou pré-contratos ou não tenham sido informadas aos consumidores. Caso
o fornecedor informe ao consumidor o que faltar no pré-contrato ou contrato, a
entrega das informações reabre o prazo de arrependimento para 10 (dez) dias.
O novo Código alemão vai mais além e assegura um direito de
arrependimento sem causa de duas semanas e, caso a língua usada no contrato
tenha sido outra, o prazo é de trinta dias, ou, caso os deveres de informação tenham
sido descumpridos de seis meses depois de concluído o contrato. 116
A lei alemã tem se preocupado, também, com as contratações feitas
internacionalmente, pois, nas vendas time sharing, em regra, o fornecedor ou
empreendedor que vende as multipropriedades é estrangeiro. Todavia, fica proibido
o uso da forma eletrônica para esta contratação. E, por essa razão, as informações
indispensáveis devem constar nos prospectos e nos contratos escritos com clareza,
incluído uma língua européia conhecida pelo consumidor.
Nota-se que tanto na modalidade de vendas porta a porta como na
modalidade de vendas emocionais de time sharing, os prazos de reflexão alemã são
similares.
Em 1995 foi editada na França a Lei n.º 95-96 que modificou alguns
artigos do Code de La Consommation, introduzindo o art. 123-1, cujo prevê que nos
contratos concluídos entre profissionais e não profissionais ou consumidores, são
abusivas as cláusulas que criem, em detrimento do não profissional ou consumidor,
um desequilíbrio significativo entre os direitos e obrigações das partes contratantes.
E recentemente foi inserido ao direito francês a figura do
superendividamento, caracterizado pela concessão desordenada de créditos a
consumidores já endividados. Nesse direito, é importante frisar que a boa-fé do
devedor é presumida. 117
No mesmo sentido, Cláudia Lima Marques 118 confere ao direito alemão
algumas assertivas no combate ao superendividamento, “uma responsabilidade
solidária da cadeia de fornecedores pelo bom cumprimento da obrigação contratual”.
pois, além de evitar o superendividamento diminui a eficácia negativa das práticas
116
MARQUES, 2006, p. 850.
117
GUGLINSKI, Vitor Vilela. Disponível em:
<http://estudandoodireito.blogspot.com/2007_08_01_archive.html>. Acesso em 30 set 2009.
118
MARQUES, op. cit., p. 855.
59
119
MARQUES, 2006, p. 851.
120
Nesses casos, mesmo sendo realizada no suposto estabelecimento comercial, entende a
jurisprudência ter o consumidor direito de arrependimento, em razão das circunstâncias que
envolvem a contratação. Como exemplo, podemos citar a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça
do Rio Grande de Sul, in verbis: "Contrato de compra e venda de título de uso de instalações
hoteleiras (time sharing) – Método abusivo de venda – Descumprimento do dever de informar –
Nulidade do contrato – Litigância de má-fé inexistente – É nulo o contrato resultante de método
agressivo de venda, pelo qual, o consumidor é atraído a um local preparado e submetido à pressão
psicológica para assiná-lo, sem que possa se inteirar do alcance de suas cláusulas – A litigância de
má-fé diz respeito a má-fé processual,não à utilizada quando da contratação." (APC 597095827, Des.
Antonio Guilherme Tanger Jardim, j. 26.06.1997).
121
NOGUEIRA, Bruno dos Santos Caruta. Direito de arrependimento à luz do Código de Defesa
do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 415, 26 ago. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5626>. Acesso em: 01 out. 2009.
60
122
MARQUES, 2006, p. 856
62
123
MARQUES, loc. cit.
124
MARQUES, 2006, p. 856.
125
FELLOUS, Beyla Esther. Proteção do consumidor no Mercosul e na União Européia. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 127.
126
ALVES, Fabrício da Mota. O direito de arrependimento do consumidor: exceções à regra e
necessidade de evolução legislativa no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1353, p. 2. 16
mar. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9605>. Acesso em: 6 out.
2009.
63
dias úteis. Logo, o prazo da Diretiva é mais condizente com a necessidade desse
instituto.
Em caso de exercício do direito de arrependimento deve o fornecedor
devolver todos os valores recebidos e o consumidor suportar somente os custos da
devolução física do produto ou serviço ao fornecedor. Mas, eventualmente, muitas
empresas suportam esse custo como técnica de marketing, objetivando ganhar a
simpatia do consumidor diante do seu produto.
Sabendo que nos contratos firmados pela internet e por e-mail a forma
de contratação se dá por cartão de crédito, os europeus regulamentaram através da
Diretiva em questão, o “financiamento conexo ou concluído em virtude de uma
contratação a distância também se dissolve, sem custos para o consumidor, quando
este exercer regularmente seu direito de arrependimento”. 130
Por conseguinte; diante de compra a prestação ou cartão de crédito,
todas as parcelas pagas como promessas futuras são extintas pelos Estados, sem
custos para o consumidor quando esse praticar seu direito de arrependimento.
A preocupação dos europeus foi tanta que a Diretiva prevê sanções
em caso de má ou errônea utilização do cartão de crédito, cobrança errada,
falsificação ou falsidade e s devolução da quantia paga ao consumidor, descontada
ou cobrada.
O Código alemão, igualmente, protege o consumidor nesse tipo de
contratação por cartão de crédito. A norma prevê um prazo de reflexão de duas
semanas, criando regra diferenciada em virtude da peculiaridade da forma de
contratação. Importante observar que a intenção do direito europeu é preservar a
proteção contratual através desse prazo de reflexão para vendas a domicílio e para
contratos em que é empregado o crédito parcelado ou financeiro.
Beyla E. Fellous 131 destaca que o direito de retratação do consumidor
dentre o sistema de informação, com desígnio principal de conceder ao consumidor
a possibilidade in concreto de ver o produto e de conhecer as características do
serviço. O aludido direito à retratação está para o direito consumidor brasileiro como
o direito de arrependimento.
Sobre a restituição decorrente do eventual arrependimento do
consumidor, a autora ressalta que deve ser feito pelo consumidor em até no máximo
130
MARQUES, 2006, p. 859-860.
131
FELLOUS, 2003, p. 128-129.
65
de 30 dias, sem impor-lhe algum ônus adicional, com exceção das taxas que
resultem do reenvio do produto, como, por exemplo, o frete. E entre as exceções
previstas para a retratação estão as revistas, os periódicos, os jornais e bens
suscetíveis de degradação em caso de reenvio.
Conseqüentemente, não restam dúvidas de que existe preocupação da
União Européia e outros países em instituir normas mínimas de proteção e defesa
dos consumidores, nos mais atuais modos de contratação. Até por isso a doutrina
tem dado relevância às práticas contratuais nas vendas pelo comércio eletrônico.
Como em nosso ordenamento jurídico a legislação consumerista não
possui normas específicas que versam sobre o assunto, deve o legislador analisar
as Diretivas da União Européia e dos demais órgãos internacionais para utilizá-las,
de acordo com as características próprias do nosso sistema, como molde numa
provável reforma do Código. No entanto, enquanto a reforma do Código não
acontecer, cabe ao aplicador do direito utilizar as normas do código juntamente com
os princípios, sempre em favor do consumidor, garantindo-lhe um direito de
arrependimento livre da persuasão do marketing agressivo.
VENDAS
idéias de lazer, conforto e descanso, ideais tão visados nos dias de hoje. Desse
modo, em qualquer dos casos, dentro ou fora do estabelecimento, tratando-se de
vendas de time-sharing, o consumidor tem direito a um tempo extra de reflexão.
Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
134
Apelação Cível Nº 70000195578, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
José Aquino Flores de Camargo, Julgado em 26/10/1999
135
Apelação Cível Nº 196233506, Nona Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Maria
Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 17/12/1996.
69
136
Apelação Cível Nº 196115299, Nona Câmara Cível, Tribunal De Alçada Do Rs, Relator: Maria
Isabel De Azevedo Souza, Julgado Em 10/09/1996.
137
TJRS – AC 599008299 – 1ª C. CÍV. FÉR. – REL. DES. PAULO DE TARSO VIEIRA
SANSEVERINO – J. 04.02.1999.
138
CDC - Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e
alcance.
70
139
Apelação Cível Nº 197267263, Nona Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Maria
Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 14/04/1998.
140
BLUM, 2002, p. 97.
71
141
BLUM, loc. cit.
142
COELHO, 2001, p. 32.
143
COELHO, op. cit., p. 42.
144
Ibid, p. 32.
145
BLUM, 2002, p. 97.
146
COELHO, op. cit., p. 49.
72
informações sobre a qualidade e preço dos produtos antes de escolher sua compra
em determinado site.
Além disso, se o website fosse desenhado de modo a estimular o
internauta a se precipitar nas compras, como, por exemplo, com a interposição de
chamativos ícones agitados, em que as promoções sujeitam-se a brevíssimos
prazos, assinalados com relógios de contagem regressiva, então é aplicável a
norma.
O Ministro Ruy Rosado de Aguiar do Superior Tribunal de Justiça –
STJ, alertou para a falta de força jurídica dos contratos celebrados pela internet.
147
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ministro do STJ alerta para a fragilidade jurídica dos
contratos pela Internet. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Brasília, DF, 26 set. 2000. Disponível em:
<http://ww2.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=368&tmp.texto=67059>. Acesso em
23 out 09.
148
Segundo Rita Blum (2002, p. 41) criptografia é o processo de disfarçar o conteúdo, um processo
de criação de uma escrita secreta. Para aproximar a criptografia dos aspectos jurídicos da internet,
GRECO Apud BLUM, criptografar é tornar incompreensível, com observância de normas especiais
consignadas numa cifra ou num código, o texto (uma mensagem escrita com clareza). Ou seja, uma
determinada mensagem é submetida a uma codificação (chave) que a torna incompreensível para um
leitor comum. Somente a pessoa que tiver o código adequado (chave) poderá submeter o
incompreensível à decodificação e tronar novamente compreensível a mensagem.
149
BRASIL, loc. cit.
73
Nessa linha, Rita Blum 151 assevera que no caso de contratações pela
internet deve-se aplicar o art. 49, quando, no caso concreto, o consumidor só tem a
oportunidade de avaliar o produto ou serviço, após sua entrega ou início da
prestação de serviço.
Nessa acepção, o TJRS entende que:
150
BRASIL, loc. cit.
151
BLUM, 2002, p. 103.
152
Recurso Cível Nº 71002280618, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Vivian Cristina Angonese Spengler, Julgado em 21/10/2009.
153
Recurso Cível Nº 71001388974, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Heleno Tregnago Saraiva, Julgado em 27/03/2008.
74
154
Recurso Cível Nº 71000955773, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Eugênio Facchini Neto, Julgado em 03/10/2006.
75
CONCLUSÃO
sobre os quais poderá ou não incidir, sob pena de promover injustiça social e, até
mesmo, converter o direito em prejuízo econômico para ambos os lados da relação
de consumo.
Os tribunais brasileiros vêm adotando o mesmo entendimento, que o
direito de arrependimento deve ser aplicado tanto no comércio eletrônico, quanto
nas vendas emocionais entre outras modalidades. Entendimento esse, graças à
interpretação em conformidade com os princípios de proteção ao consumidor.
Respeitados os posicionamentos em sentido contrário, estes não estão
em consonância com o espírito do Código de Defesa do Consumidor, com os
princípios que o informam e com os direitos básicos do consumidor.
Nas aludidas vendas o consumidor é submetido à intensa pressão
psicológica através de vendedores altamente treinados. Tendo em vista a situação
de vulnerabilidade e, sobretudo, a observância de outros princípios de proteção ao
consumidor, como o da livre manifestação da vontade, da boa-fé e da transparência,
deve ser estendido o direito de arrependimento previsto no art. 49 do Código de
Defesa do Consumidor a tais hipóteses.
78
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Batista de. a proteção jurídica do consumidor. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2001.