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ENGENHEIRO COELHO
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
CURSO DE DIREITO
ENGENHEIRO COELHO
2020
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São
Paulo, do curso de direito apresentado e aprovado em 6/11/2020
______________________________________________________
________________________________________________________
Dedico este trabalho aos meus pais pelo
imensurável apoio que me ofertaram
durante todo o período de graduação e na
elaboração deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me mantido saudável durante a insanidade que foi fazer
esse trabalho em diversas noites viradas;
Ao meu pai, minha mãe e irmão, por toda a paciência e o apoio,
financeiro e emocional, sem os quais, chegar a este ponto não seria
possível;
Aos meus avós pelas noites de quarta-feira que eu deixei de ir para
assistir ao jogo do Corinthians e pelos hambúrgueres que deixei de fazer
para eles em função deste trabalho;
À minha namorada pela paciência e compreensão das inúmeras tardes
e noites em que me mantive distante para a elaboração deste trabalho;
À família Unasp Roosters por ser a única razão pela qual não desisti e
fui morar em outra cidade;
Aos meus chefes Ari Torres, Elza Torres, Juliane Lima e Cláudia Torres
pela compreensão após minhas noites viradas e por terem me
despertado o interesse pelo tema eleito.
Ao meu orientador pela orientação.
“O fim do Direito é a paz; o meio de
atingi-lo, a luta. O Direito não é uma
simples idéia, é força viva. Por isso a
justiça sustenta, em uma das mãos,
a balança, com que pesa o Direito,
enquanto na outra segura a espada,
por meio da qual se defende.”
Rudolph Von Ihering
RESUMO
The present work aims to analyze the current treatment of doctrine and the
courts on the chattel mortgage of credit rights in the context of judicial
reorganization, mainly due to its extra-bankruptcy nature conferred by §3 of Law
11.101 / 2005, popularly known as bank-locks, for that, it was necessary to
promote a deeper research on the chattel mortgage instutute and its variables,
so that, after defining which position is predominant on the subject today,
criticize it through the governing principle the law of judicial reorganization and
bankruptcy, which is the principle of preserving business activity in terms of the
social benefits it promotes (article 47 of the LREF) and in light of the theories of
overcoming pendular dualism and the balanced distribution of burdens in the
judicial reorganization process. Afterwards, a legal-economic analysis will be
carried out on the fundamentals that gave rise to the legal protection of
assignee-fiduciary creditors and how the statistics and economic models
demonstrate the effectiveness of Law 11.101 / 2005 in achieving its main
objective. In the end, based on Ovídio Baptista's theory of the material
autonomy of the precautionary claim, to propose a solution to be implemented
by the lawyers of the reorganizers and judges in order to balance the burden of
judicial recovery and promote the main principle of recovery of economic
activity.
INTRODUÇÃO....................................................................................................11
1. A CESSÃO FIDUCIÁRIA DE RECEBÍVEIS E SUA EXCLUSÃO DOS
EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.......................................................16
1.1 O INSTITUTO DA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA............................................16
1.2 HISTÓRICO DA CESSÃO FIDUCIÁRA NO DIREITO PRIVADO..............18
1.3 A CESSÃO FIDUCIÁRIA DE RECEBÍVEIS (CRÉDITOS A PERFORMAR)
E SUA RELEVÂNCIA NO ÂMBITO EMPRESARIAL.......................................20
2 O TRATAMENTO LEGAL, DOUTRINÁRIO E JURISPRIDENCIAL
CONFERIDO PARA A CESSÃO FIDUCIÁRIA DE DIREITOS CREDITÓRIOS
PERANTE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESAS............................24
2.1 TRATAMENTO DA DOUTRINA...........................................................24
2.2 DO TRATAMENTO JURISPRUDENCIAL...........................................32
3. DA ANÁLISE JURÍDICO-ECONÔMICA DA NÃO PARTICIPAÇÃO DO
CREDOR-CESSIONÁRIO-FIDUCIÁRIO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM
FACE DO PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA............................42
3.1 O PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA COMO REGENTE
DA LEI 11.101/2005...........................................................................................42
3.2 Das Razões Econômicas Para a Exclusão.......................................49
3.3 Da Efetividade da Recuperação Judicial..........................................54
4. DA MEDIDA CAUTELAR AUTÔNOMA DE LIBERAÇÃO DA TRAVA
BANCÁRIA.........................................................................................................57
4.1 DA AUTONOMIA DO DIREITO MATERIAL CAUTELAR EM
RELAÇÃO AO DIREITO “PRINCIPAL” PLEITEADO......................................58
4.2 DA APLICAÇÃO DA TUTELA CAUTELAR À TRAVA BANCÁRIA......59
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................65
11
INTRODUÇÃO
Costa (2016, p.63), por sua vez, leciona que o princípio da preservação da
empresa e de suas funções sociais (circulação de riquezas, geração de
empregos e recolhimento de tributos), deve conduzir toda a atuação do
Magistrado no processo de soerguimento.
Em se tratando de uma lei “adolescente”, pois está, hoje, em seu 14º ano
de vigência, Bezerra (2015, p. 155/156), acrescenta que a ponderação de fins e
princípios e a análise caso a caso é, na Lei de Insolvência, ainda mais
acentuada que em outros dispositivos, complementando, in verbis:
emprestado implica num altíssimo custo de oportunidade, que redunda, por sua
vez, em taxas de juros exorbitantes para uma empresa que está em processo
de soerguimento.
De plano, salta aos olhos que a exceção do art. 49, §3º da Lei
11.101/2005 é fruto do lobby bancário junto ao legislador para garantir a
proteção do crédito. Proteção essa que é sistemicamente incompatível com o
restante da lei, especialmente com o princípio da preservação da atividade
empresarial.
patrimônio do Cedente.
p.9) que “o negócio de natureza fiduciária é negócio bilateral composto por dois
acordos que criam uma situação sui generis”, onde, embora haja a transmissão
essa transmissão não encerra, por si só, a vontade das partes, mas serve a
verbis:
fiduciária proposta por Caio Mario da Silva PEREIRA (2010 , p. 363 apud
A fidúcia era gênero do qual fiducia cum amico e a fiducia pignoris causa
cum creditore eram espécies, a primeira tratava da transferência de bens a
Silva PEREIRA (1961, p. 362), como citado por CALÇAS e SILVA (2014 , p.
e “direito real em garantia”, como fez COELHO (2009, p.39 apud MAYER,
2015, p.32), onde esse representa a garantia que recai sobre o bem do
negócio fiduciário) e aquele, regido pelo rol taxativo do art. 1.225 do Código
376).
21
a seguinte redação:
encargos.
saldo restante.
p.68).
ensaio.
social dessa interessante figura jurídica ( ...), preciso não é, com efeito, usar
desse recurso para justificar a proteção jurídica a fins que não podem ser
alcançados mediante meios tradicionais”.
porte de operação.
eufemismos:
25
tribunais (...)
9.514/1997”.
26
1
PRATA, Ana.Dicionário Jurídico 5ª ed. Coimbra: Almedina, 2008
28
2
BUARQUE DE HOLANDA, A. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1986.
29
TEIXEIRA (2010, p.151), por sua vez, conclui que propriedade é espécie
do gênero titularidade, isso porque todo proprietário é titular de um direito, mas
nem todo titular de um direito é, também, proprietário em sua significação
jurídica.
Alertou, ainda, TEIXEIRA (2010, p.151), que não se pode perder de vista
o caráter dúplice do negócio fiduciário onde há uma obrigação principal e uma
relação satélite de cessão ou transmissão da propriedade resolúvel na
qualidade de garantidor do principal.
TEIXEIRA (2010, p.153) conclui que, por conta dessa estrutura é que a
interpretação do §3º do art. 49 da LREF, deve ser a mais ampla, incluindo,
assim, o titular dos créditos cedidos fiduciariamente.
Para TEIXEIRA (2010, p.142), o Senador Ramez Tabet jamais quis, com
seu parecer, reduzir a força da garantia fiduciária, no entanto, a Autora,
igualmente, entende que a retirada de bens de capital do estabelecimento da
recuperanda, por si só, já é capaz de inviabilizar a maior parte dos planos de
recuperação judicial, eis a razão de o parecer CAE nº 534, de 2004 ter
redundado na redação final do que viria a ser o art. 49 §3º da LREF, para
adicionar o final “não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a
32
Ementa:AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
CRÉDITO REFERENTE ÀS CÉDULAS DE CRÉDITO BANCÁRIO.
GARANTIA POR CESSÃO FIDICUÁRIA. NÃO SUJEIÇÃO AO
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. A Lei n. 11.101/05
estabelece os créditos sujeitos à recuperação judicial, excetuando
dessa relação os credores titulares da posição de proprietário
fiduciário, nos termos do art. 49, §3°. Hipótese dos autos em que
firmado contrato com a instituição financeira mediante a constituição
de garantia de cessão fiduciária de créditos representados por
duplicatas de venda mercantil, conjunto de recebíveis decorrente da
condição empresarial do agravante.
CESSÃO FIDUCIÁRIA. RECEBÍVEIS A TÍTULO DE DUPLICATAS
DE VENDA MERCANTIL. DIREITO CREDITÓRIO FUTURO.
INVIABILIDADE DE INDICAÇÃO PRÉVIA E INDIVIDUALIZADA. Não
há falar em descumprimento do art. 33 da Lei n. 10.931/04 pela falta
de individualização da garantia, tendo em vista que os créditos
cedidos pelo agravante, representados por duplicatas de venda
mercantil, foram objeto de especificação no instrumento contratual,
sendo identificáveis os recebíveis – ainda que não no exato momento
da contratação. Trata-se, pois, de conjunto de recebíveis, em relação
ao qual não é possível a indicação prévia e individualizada, tendo em
vista se tratarem de direitos creditórios futuros, a teor do art. 31 do
mesmo diploma legal. Manutenção da decisão agravada. RECURSO
DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70082871740, Sexta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Denise Oliveira
Cezar, Julgado em: 30-04-2020)
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
IMPUGNAÇÃO AO CRÉDITO. NÃO SUJEIÇÃO DE CRÉDITO
GARANTIDO POR CESSÃO FIDUCIÁRIA. 1. Tratando-se de
crédito bancário com garantia de cessão fiduciária,
independentemente de registro, não há submissão ao juízo
da recuperação judicial. Precedentes desta Corte e do e. STJ. 2.
Na espécie, os contratos foram firmados mediante a constituição de
garantia de cessão fiduciária de direitos creditórios futuros (recebíveis
de cartão de crédito), como tais não se sujeitando ao rito
da recuperação judicial. 3. Não há falar, na situação em liça, em falta
de individualização das garantias, em suposto desatendimento do
disposto no art. 18, IV, da Lei 9.514/97. Avenças pactuadas sob
garantia de cessão dos “recebíveis de cartão de crédito”, em relação
aos quais nem sempre se revela viável a indicação prévia e
pormenorizada da garantia, tendo em vista a possibilidade de os
recebíveis sobre os quais versa a cessão referirem-se a créditos já
constituídos por ocasião da firmatura do contrato e/ou a créditos
ainda não formados (futuros), consoante previsão do art. 31 da Lei
10.931/2004. Validade das garantias contratadas. Precedentes.
RECURSO DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70081899809,
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias
Almeida, Julgado em: 27-11-2019)
Por muitos anos, essa fórmula foi útil, pois resolvia problemas de fluxo de
caixa, no entanto, o mundo das empresas se tornou demasiadamente
complexo e, com isso o combo Prazo e Desconto se tornou obsoleto, pois os
problemas passaram a ser mais complexos do que apenas fluxo de caixa.
(COSTA, 2018)
COSTA (2016, p.63) arrola três tipos de empresas que enfrentam crises
econômico-financeiras: (i) a empresa com viabilidade econômica capaz de
encontrar soluções de mercado para a sua crise; (ii) a empresa inviável e
incapaz de manter os benefícios de sua atividade, e (iii) a empresa viável que,
no entanto, é incapaz de apresentar uma solução de mercado para sair do
estado de crise.
46
COSTA (2016, p.60) afirma que não é apenas a mudança legislativa que
tem o condão de resolver os problemas complexos trazidos pela sociedade em
constante modernização, mas há a necessidade de maior pragmatismo dos
operadores do direito, isso é, ao aplicar e interpretar o direito, é necessário que
jamais perca-se de vista o resultado e o objetivo do processo.
COSTA (2016, p.67) afirma que o único motivo pelo qual os credores,
que, normalmente, ocupam posição de ascendência sobre a devedora, é a
49
O art. 49, §3º, que, até então, não existia, apareceu no texto do projeto
de lei a partir deste momento, que BEZERRA FILHO (2016, p.68) denomina
como o momento em que a lei deixou de ser a “lei de recuperação de
empresas” para se tornar uma “lei de recuperação do crédito”.
necessita ser confrontada com dados para se confirmar. Para Araújo (2004,
p.2) a imposição da penalidade correta em caso de inadimplência é importante
para o bom funcionamento dos mercados de crédito.
Plano Não-Aprovado
33% Plano Aprovado
67%
É curioso analisar que o mesmo estudo foi realizado tendo por base de
dados os créditos quirografários, tendo sido obtidos números muito próximos, o
que é contraintuitivo, a priori, mas é explicado pela ABJ (2016, p.16) como uma
disfunção negocial derivada da possibilidade de credores titulares de créditos
inclusos e excluídos da Recuperação Judicial (como as instituições financeiras
cessionárias fiduciárias de recebíveis), possam sopesar, dentro e fora do
processo, as suas posições negociais, de acordo com seus próprios interesses.
De fato, depreende-se dos números que a lei criou um instituto que tem
por fundamento de regência a preservação da empresa, no entanto, permitiu
entraves práticos que a tornaram, de todo, ineficiente ao fim para que foi
criada, o que nos leva ao derradeiro tópico desse trabalho, que seria a busca
de uma solução não-legislativa para buscar a aproximação do ótimo de pareto
na distribuição dos recursos de capital no sistema recuperacional brasileiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No entanto, ficou nítida a posição do STJ contra cada uma dessas teses,
ou seja, basicamente qualquer tese arguida que reduzisse a proteção ao
crédito financeiro na recuperação judicial foi prontamente afastada pela Corte
da Cidadania, o que mostra a força da pressão do sistema financeiro, que
ameaça com o aumento das taxas de juros e a redução da oferta de crédito.
próprio sistema financeiro que financia toda a rede de contratos que se quebra
com a falência da recuperanda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/pedidos-de-recuperacao-
judicial-caem-15-em-2019-revela-serasa-experian > Acesso em 22/09/2020
TABET, Ramez. Parecer CAE nº534. In PLC 71/2003. Brasília: Senado
Federal, 2004.
TEIXEIRA, F. S. Cessão Fiduciária de Crédito e o Seu Tratamento nas
Hipóteses de Recuperação Judicial e Falência do Devedor-Fiduciante.
Dissertação (Mestrado), Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
São Paulo: 2010.
VIEGAS, C.M.A.R; CHAGAS N.A. As controvérsias relacionadas à trava
bancária no âmbito da recuperação judicial. São Paulo: Revista Brasileira
de Direito Comercial nº 8, 2016.
WAISBERG, I; FRANCO, J.R.F., Provisão Bancária e Recuperação Judicial.
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https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2016/06/24/provisao-bancaria-e-
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http://documents1.worldbank.org/curated/en/424141468762589301/pdf/
306470v-10DC200100008.pdf >. Acesso em 23/10/2020.