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PUC
DEPARTAMENTO DE DIREITO
por
2020.1
O CONFLITO DE INTERESSES À
LUZ DAS DECISÕES DA CVM
por
Monografia apresentada ao
Departamento de Direito da
Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio) como
requisito parcial para a obtenção
do Título de Bacharel em Direito.
2020.1
2
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Claudio Eduardo Aranha e Irene Nunes, por todos os
ensinamentos da vida e ao suporte financeiro e emocional que
proporcionaram a chance de expandir meus conhecimentos na área do
Direito.
RESUMO
ABSTRACT
This work aims to present in a broad and simplified way the main
arguments of the material and formal opinions of the conflict of interests
between shareholder and company, using as basis the decisions of the
Brazilian Securities and Exchange Commission (CVM) and the national
doctrine about the theme. In this way, the present work seeks to synthesize
and uncomplicate a debate of more than a decade that still raises questions
both by legal professors and by those applying the Law. Presenting the
main points defended by the two main opinions, a comparison with the
conflict of interests in American law, as well as the analysis of the CVM's
position in the main cases involving conflict of interest. Finally exposing
issues related to ethics, good faith and compliance in order to conclude
which opinion should be adopted in national territory in view of the current
context of Brazilian publicly held companies.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..... ..................................................................................... 8
LISTA DE ABREVIAÇÕES
MP Medida Provisória
INTRODUÇÃO
1
BRASIL. Medida Provisória nº 881, de 30 de abril de 2019. Institui a Declaração de Direitos de
Liberdade Econômica, estabelece garantias de livre mercado, análise de impacto regulatório, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 03 mai. 2019.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv881.htm>
Acesso em: 08 mar. 2019.
BRASIL. Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019. Institui a Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica; estabelece garantias de livre mercado e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 2019. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm> Acesso em: 08 mar.
2019.
10
2
Art. 156. É vedado ao administrador intervir em qualquer operação social em que tiver interesse
conflitante com o da companhia, bem como na deliberação que a respeito tomarem os demais
administradores, cumprindo-lhe cientificá-los do seu impedimento e fazer consignar, em ata de
reunião do conselho de administração ou da diretoria, a natureza e extensão do seu interesse. § 1º
Ainda que observado o disposto neste artigo, o administrador somente pode contratar com a
companhia em condições razoáveis ou eqüitativas, idênticas às que prevalecem no mercado ou em
que a companhia contrataria com terceiros. § 2º O negócio contratado com infração do disposto no
§ 1º é anulável, e o administrador interessado será obrigado a transferir para a companhia as
vantagens que dele tiver auferido.
3
Art. 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á
abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter,
para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo
para a companhia ou para outros acionistas.
§ 1º o acionista não poderá votar nas deliberações da assembléia-geral relativas ao laudo de
avaliação de bens com que concorrer para a formação do capital social e à aprovação de suas
contas como administrador, nem em quaisquer outras que puderem beneficiá-lo de modo
particular, ou em que tiver interesse conflitante com o da companhia.
§ 2º Se todos os subscritores forem condôminos de bem com que concorreram para a formação do
capital social, poderão aprovar o laudo, sem prejuízo da responsabilidade de que trata o § 6º do
artigo 8º.
§ 3º o acionista responde pelos danos causados pelo exercício abusivo do direito de voto, ainda
que seu voto não haja prevalecido.
§ 4º A deliberação tomada em decorrência do voto de acionista que tem interesse conflitante com
o da companhia é anulável; o acionista responderá pelos danos causados e será obrigado a
transferir para a companhia as vantagens que tiver auferido.
11
4
e.g. Art. 115§4º da Lei das S.A.
12
5
PARENTE, Norma Jonssen. Mercado de Capitais. Volume VI. In: CARVALHOSA, Modesto
(Coord.). Tratado de Direito empresarial. 2ª ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p.
394.
13
Sempre que o acionista auferir um ganho, além daquele que os seus pares obtêm,
estará caracterizado o benefício particular. Ou seja, todos os titulares dos mesmos
direitos estão em pé de igualdade na companhia. Na medida em que o acionista
angaria um proveito diferente dos demais receba um benefício particular.8
6
FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes. Conflito de interesses nas assembleias de S.A.
2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p.311-312.
7
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 658- 659 .
8
CVM, Inquérito Administrativo nº RJ2002/1153, Rel. Diretora Norma Jonssen Parente, Rio de
Janeiro, 06 nov. 2002.
9
Conforme voto de Norma Parente e Luiz Antônio no caso Previ.
14
10
Faz-se referência ao caso Previ.
11
LACERDA TEIXEIRA, Egberto; TAVARES GUERREIRO, José Alexandre. Das Sociedades
Anônimas no Direito Brasileiro. São Paulo: J. Bushatsky, 1979. p. 278.
15
12
Voto Diretor Antônio de Sampaio Campos nos Casos TIM.
13
LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz (coord.). Direito das Companhias.
2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.309 2017.
14
Nesse ponto, como veremos no item 1.3 abaixo, há confusão do conceito de abuso de voto e do
conflito de interesses, o qual é amplamente criticado no voto de Norma Parente no caso Previ e de
Maria Helena no caso Tractebel.
15
Art. 115 (...) §4º A deliberação tomada em decorrência do voto de acionista que tem interesse
conflitante com o da companhia é anulável; o acionista responderá pelos danos causados e será
obrigado a transferir para a companhia as vantagens que tiver auferido.
16
16
Voto Marcos Pinto – Caso Tractebel – “Em defesa da tese de que o conflito de interesses só
pode ser apreciado depois do voto, cita-se normalmente o §4º do art. 115, segundo o qual a
"decisão tomada em decorrência do voto de acionista que tem interesse conflitante com o da
companhia é anulável". Se estivéssemos diante de uma hipótese de impedimento de voto –
argumenta-se – a decisão assemblear deveria ser considerada nula e não meramente anulável.”
17
Concluem assim, que não haveria algum acionista mais qualificado e com
maior interesse de votar a favor da companhia que não o próprio
controlador.
Com efeito, na hipótese de conflito de interesses (art. 115, §§1º e 4º da Lei das
S.A.) o entendimento dominante com base no direito comparado, é que a lei não
está se reportando a um conflito meramente formal, mas a um conflito
substancial, que somente pode ser verificado mediante exame do conteúdo da
deliberação.18
Há proibição legal para o acionista que tem conflito formal de interesses com a
sociedade de votar em qualquer sentido, nem que seja conforme o interesse
social. A lei de 1976 é clara em proibir que o acionista vote, seja nas hipóteses
específicas de conflito de interesses que enuncia, seja residualmente, em qualquer
momento no qual, sob outras modalidades, configura-se essa situação.22
20
PARENTE, Norma Jonssen. Op. Cit., p. 391
21
“Nada pode ser mais claro que a seguinte passagem: o acionista não poderá votar. Dentro da
chamada interpretação gramatical, acatando seus limites próprios, não há qualquer margem para a
inclusão da distinção "divieto x conflito", pois o legislador deixou claro que a proibição ‘ex ante’
se estendia às hipóteses de interesse conflitante.” Voto Norma Parente – Caso Previ
22
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. Vol. II. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 465.
19
23
PARENTE, Norma Jonssen. Op. Cit., p. 401.
24
Voto contrário ao interesse da companhia.
25
Art. 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á
abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter,
para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo
para a companhia ou para outros acionistas.
20
26
CARVALHOSA, Modesto. Op. Cit., p. 560.
27
PARENTE, Norma. O acionista em Conflito de Interesse. Rio de Janeiro: Método, 2005. p. 330.
28
LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. A Lei das S.A: pareceres. Vol. II. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. p. 239.
29
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das melhores práticas
de governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015. p. 33.
22
30
MORSE, G. Charlesworth & Morse: Company Law. 16ª ed. London: Sweet & Maxwell, 1999.
p. 302.
31
BAINBRIDGE, Stephen M. Mergers and Acquisitions. 3ª ed. Foundation Press, 2012. p. 118.
23
A shareholder in voting his shares must act fairly and in good faith toward other
shareholders and may not legally enter into an agreement with other
shareholders to so vote his shares as to perpetrate a fraud upon another
shareholder. (...) If he happens to be the majority shareholder, he may not legally
use his voting power to advance his own interests at the expense of the minority,
nor may he create proxies to use this power for their own personal gain. He may,
however, vote his shares in support of the ratification of a voidable personal
contract or other transaction with his corporation where good faith and fairness
of deal are present, though there be a personal benefit to himself. And his good
faith will protect him if he happens to have voted into office a board of directors
who prove faithless or incompetent, or to have voted for resolutions which, when
set in motion, prove disastrous to his corporation.34
“To play this role effectively, the voter's interest and the common
good must be aligned.”36
32
KARMEL, Roberta S. Should a Duty to the Corporation Be Imposed on Institutional
Shareholders? The Business Lawyer, v. 60, nov. 2004.
33
EASTERBROOK, Frank; FISCHEL, Daniel. The Economic Structure of Law. Boston: Harvard
University Press, 1991.
34
Voto Luiz Antonio Caso TIM - (Lattin On Corporations, pág. 355
35
Regra geral que também é aplicada no direito brasileiro e caso não seja respeitada será
considerado abuso de voto.
36
THOMPSON, Robert B. EDELMAN, Paul H. Corporate Voting. Vanderbilt Law Review, v. 62,
n. 1, 2009.
24
Sabe-se que nos EUA, a grande maioria das empresas são sediadas
no Estado de Delaware, principalmente pelo Estado oferecer:
37
GATTI, Matteo. Policing shareholder conflicts in acquisitions: the Law of the land, if any. The
University of Memphis Law Review, v. 47, p. 218.
25
“(…) shareholder voting is not the fount from which all corporate
authority flows.”40
38
Delaware General Corporation Law §141.
39
HUTCHINSON, Harry G. Director Primacy and Corporate Governance: Shareholder Voting
Rights Captured by the Accountability/Authority Paradigm. Loyola University Chicago Law
Journal, v. 36, n. 4, 2005.
BAINBRIDGE, Stephen M. Director Primacy: The Means and Ends of Corporate Governance, U.
L. Rev., p. 547-569, 2003.
BAINBRIDGE, Stephen M. Unocal at 20: Director Primacy in Corporate Takeovers. Del. J. Corp.
L., v. 72, p. 769-812, 2006.
40
THOMPSON, Robert B. EDELMAN, Paul H. Op. Cit.
26
41
Ibid.
27
Celular - por infração ao art. 115, §1º da Lei 6.404/7642 (“Lei das S.A.”)
com o voto vencedor da Diretora Norma Jonssen Parente - Relatora,
acompanhada pelos Diretores José Luiz Osorio de Almeida Filho e
Wladimir Castelo Branco Castro, sendo voto vencido os Diretores Luiz
Antônio de Sampaio Campos e Marcelo F. Trindade.
42
Art. 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á
abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter,
para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo
para a companhia ou para outros acionistas. §1º o acionista não poderá votar nas deliberações da
assembléia-geral relativas ao laudo de avaliação de bens com que concorrer para a formação do
capital social e à aprovação de suas contas como administrador, nem em quaisquer outras que
puderem beneficiá-lo de modo particular, ou em que tiver interesse conflitante com o da
companhia.
43
CVM, Inquérito Administrativo CVM nº RJ2001/4977, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
19 dez. 2001.
29
44
Ibid.
45
Ibid.
30
análise, já que a Tele Celular não iria auferir nenhum benefício por conta do
contrato celebrado, mas sim sua controladora, a Telecom Itália, que
receberia a contrapartida direta da celebração do contrato.
50. A presunção a priori é algo, a meu ver, muito violento e assistemático dentro
do regime do anonimato, pois afasta a presunção de boa-fé, que me parece ser a
presunção geral e mais tolhe um direito fundamental do acionista ordinário que é
o direito de voto, no pressuposto de que ele não teria como resistir à tentação.
Dito de outra forma, estar-se-ia a expropriar o direito de voto do acionista no
pressuposto de que ele poderia vir a prejudicar a companhia mediante o seu
exercício, em virtude de um aparente conflito de interesse. Haveria a presunção
de que o acionista perpetraria uma ilegalidade acaso fosse lícito que proferisse o
seu voto, numa espécie de consagração da fraqueza humana. Prefiro, em
situações genéricas, entender que as pessoas cumprem a lei, que não se deixam
trair por seus sentimentos egoísticos, porque, como disse, a boa-fé é a regra
igualmente o cumprimento da lei e a inocência. Ora, se isto não fosse verdade,
talvez fosse melhor não haver sociedade, pois a confiança é algo fundamental nas
relações societárias, até mesmo nas companhias abertas, pois ninguém, em sã
consciência, gostaria de ser sócio de alguém em que não confia, principalmente
se este alguém for o acionista controlador. Parece-me, assim, evidente a
distorção, pois a presunção de hoje e sempre é que as pessoas cumprem a lei.
Esclarece ainda que o §1º do art. 115 da Lei das S.A. proibiu o
acionista de votar em qualquer deliberação em que puder ser beneficiado de
modo particular ou que esse tiver interesse conflitante com o da companhia,
destacando não haver qualquer margem para distinguir “vedação de direito
ao voto x conflito”46.
46
CVM, Inquérito Administrativo CVM nº RJ2002/1153, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
06 nov. 2002.
47
Art. 115 §1º Lei das S.A.
48
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. Vol. II. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 410.
33
O § 1º do artigo 115 dispõe ainda que acionista não poderá votar nas deliberações
da Assembléia Geral em que tiver interesse conflitante com o da companhia, mas
essa norma não pode ser interpretada isoladamente - com abstração do § 4º do
artigo 115 - no qual a lei acrescenta que a deliberação tomada em decorrência do
voto de acionista que tem interesse conflitante com o da companhia é anulável. 49
49
Ibid.
50
Ibid.
34
51
Deixo de tratar aqui o caso Ambev, pois, apesar de votos proferidos defendendo a corrente
formal ou material do conflito, a decisão acabou por se fixar com infração a outro dispositivo legal
que não o art. 115 º§1º da Lei das S.A.
35
O voto exercido com o fim de causar dano à companhia já é sancionado pela lei
em razão do seu caráter abusivo, seria totalmente supérflua a previsão, no § 1º
desse dispositivo, de um conflito de interesses que, do mesmo modo, só se
configuraria quando identificado o prejuízo ao interesse social. Se assim fosse, a
lei teria consagrado unicamente a proibição do abuso de direito de voto. 55
54
CVM, Processo Administrativo CVM nº RJ2009/13179, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
09 set. 2010.
55
Ibid.
37
(i) o §4º do art. 115 da Lei das S.A. ser aplicável às demais hipóteses do
§1º do referido artigo58 e ao sustentar tal argumento, não haveria
impedimento de voto em qualquer das hipóteses; e
(ii) a anulabilidade não levar ao controle a posteriori, já que a
anulabilidade é a solução normalmente utilizada em confronto às
deliberações viciadas.
56
Ibid.
57
Art. 115, § 4º A deliberação tomada em decorrência do voto de acionista que tem interesse
conflitante com o da companhia é anulável; o acionista responderá pelos danos causados e será
obrigado a transferir para a companhia as vantagens que tiver auferido.
58
Deliberações decorrentes de laudo de avaliação de bens com que concorrer para a formação do
capital social e à aprovação de suas contas como administrador
38
59
Ibid.
39
60
Ibid.
61
Ibid.
40
A proibição de voto referida no art. 115, § 1º, exceto nos casos em que a situação
de conflito entre o interesse pessoal do acionista e o da sociedade foi totalmente
descrita (deliberações relativas ao laudo de avaliação de bens com que concorrer
para a formação do capital social e à aprovação de suas contas como
administrador) não tem o condão de impedir o voto do acionista a priori, mas
indica que o voto contrário ao interesse social é passível de anulação. 62
62
Ibid.
41
Nesse momento a Diretora explica que o caput do art. 115 da Lei das
S.A. obriga o exercício do direito de voto pelo acionista sempre no interesse
da companhia e veda o seu exercício quando o acionista está diante de uma
situação em que pode “escolher privilegiar um interesse seu em detrimento
dos interesses da companhia”63.
Nesse sentido, a Relatora entende que o §1º do art. 115 da Lei das
S.A. adota diversos mecanismos para equilibrar os diversos interesses
existentes que permeiam o âmbito empresarial e as decisões a serem
tomadas do rumo da companhia.
63
CVM, Processo Administrativo CVM nº RJ2013/6635, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
26 mai. 2013.
64
Art. 238. A pessoa jurídica que controla a companhia de economia mista tem os deveres e
responsabilidades do acionista controlador (artigos 116 e 117), mas poderá orientar as atividades
da companhia de modo a atender ao interesse público que justificou a sua criação.
65
Faz-se referência aqui ao Caso Tractebel.
42
Assim, estabelece que o Capítulo XIX da Lei das S.A. não busca
terminar com o equilíbrio do art. 115, ou seja, o disposto no art. 238 da
referida lei, não autorizaria a exclusão do regime de equilíbrio previsto no
§1º do art. 115.
Por fim, o Diretor Leonardo Pereira também destaca que mesmo que
o Acordo entre a Sabesp e EMAE tenha sido negociado pelos
administradores – sujeitos aos deveres fiduciários – não afastaria o conflito
de interesses já que o impedimento do voto decorre de própria ordem legal
prevista na última hipótese do art. 115 §1º da Lei das S.A.
66
CVM, Processo CVM nº RJ 19957.005749/2017-29, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
2017.
44
67
Ibid.
O Diretor fez referência aos seguintes precedentes da CVM: (PAS nº RJ2006/6785, 25 set. 2006 e
PAS nº RJ2009/5811, 28 jul. 2009)
45
68
CVM, Processo CVM nº RJ 19957.005749/2017-29, Decisão do Colegiado, Rio de Janeiro,
2017.
46
pelos Diretores Luiz Antônio e Wladimir Castelo Branco nos casos TIM e
Previ e pelo Diretor Eli Loria no Caso Tractebel.69
Posicionamento Data da
Caso Ponto de Destaque
do Colegiado Decisão
Entendimento de que o
conflito de interesses
não tem como
pressuposto interesses
TIM opostos, mas sim a
Conflito Formal 19.12.2001
(RJ2001/4977) duplicidade de
interesses do acionista,
também não sendo
necessário a existência
de vantagem para uma
69
Ibid.
47
às sociedades de
economia mista.
Mesmo que a
companhia tenha um
único acionista,
detendo direta e/ou
indiretamente 100%
das ações com direito
de voto da sociedade,
se flagrante o conflito
de interesses, o
controlador estará
EMAE
impedido de votar.
(19957.005749/ Conflito Formal 26.09.2017
Contudo, a operação
2017-29)
poderia ser concluída
com a realização de
assembleia especial de
preferencialistas,
independentemente de
previsão estatutária.
(PAS nº RJ2006/6785,
25.9.2006 e PAS nº
RJ2009/5811,
28.7.2009.)
49
70
SCHREIBER, Anderson. A proibição de comportamento contraditório: tutela da Confiança e
venire contra factum proprium. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 93.
71
Ibid. p. 132.
51
(iv) Também resta claro que mesmo não existindo dano direto à
sociedade, não há dúvidas que o exercício de voto em contraposto ao
interesse da companhia tem um grande potencial de causar danos não
só à própria sociedade como aos demais acionistas.
72
Ibid. p. 218.
52
4.2 Compliance
73
Ibid. p. 163.
74
Giovanini, Wagner. Compliance: a excelência na prática. 1ª edição – São Paulo: 2014
53
75
ASHLEY, Patrícia Almeida (org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo:
Saraiva, 2005.
76
VIDOR, George. A história da CVM pelo olhar de seus ex-presidentes. Rio de Janeiro: CVM,
2016. p. 66-67.
77
Presidente da CVM no período de 29.03.1990 a 26.02.1992.
78
VIDOR, George. Op. Cit., p. 65.
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. São Paulo: Quartier Latin,
2011.
_______. A Lei das S.A: pareceres. Vol. II. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar,
1996.