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2. DA ARGÜIÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART.

5 DA
MEDIDA PROVISÓRIA 1963-17/2000, REEDITADA SOB O N. 2.170/2001

a) Da Possibilidade do Controle Incidental

Antes de demonstrar as diversas violações que o atacado da Medida


Provisória 2.170-36/2001faz à Constituição Federal, cabe às proponentes suscitar,
preliminarmente, o exercício do poder-dever desse E. JUÍZO em declarar incidentalmente o
vício de constitucionalidade do diploma legal em comento frente à Carta Magna de 1988.

Estabelece o art. 97 da Constituição Federal que todos e quaisquer


Tribunais Pátrios, "por maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão
especial poderão (...) declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público".

Desta forma, consagrou nossa Constituição Federal, o controle difuso


de seus princípios e regras, atribuindo a órgãos outros que não o Supremo Tribunal Federal a
competência para apreciar e, se necessário, afirmar a inadequação de textos normativos ao
sistema constitucional vigente.

Assim, aos demais tribunais é dado (dir-se-ia mais, é dever) defender


a ordem constitucional, fazendo-o de modo incidental.

Na presente hipótese, pois, o que quer o autor é promover a declaração


incidente, por meio da presente preliminar, da inconstitucionalidade do artigo 5º da Medida
Provisória 2.170-36/2001 frente à Constituição Federal.

Precisa-se reforçar que a declaração no presente item requerida é


decorrente do controle difuso de constitucionalidade que a própria Carta Magna confere a todo e
qualquer órgão julgador.

Assim, não refoge a competência desse E. juízo apreciar a matéria ora


questionada, somente porque é ela analisada em relação à Lei Maior.

Demonstrada, assim, a inafastável competência desse E. juízo para


aplicar o controle difuso da ciotada medida provisória face à Carta Republicana de 1988, cabe
às proponentes abordar, desta feita, as violações que a mencionadas:

b) Da violação expressa

É sabido que o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a


capitalização mensal dos juros é legal, desde que expressamente pactuada, nos
contratos bancários ASSINADOS após o a edição do artigo 5º da Medida Provisória
2.170-36/2001. Todavia, a Súmula 121 do STF proíbe a capitalização de juros
mesmo que convencionada, sem falar que tal tema é peculiar ao Sistema Financeiro,
por disposição expressa do art. 62, §1º, III, da CF, ou seja, tal matéria somente pode ser
tratada por LEI COMPLEMENTAR E NÃO POR MEDIDA PROVISÓRIA.

Ressalta-se, ainda, o fato que o art. 5º da Medida Provisória


2.170-36/2001, É TOTALMENTE INCONSTITUCIONAL pelo fato da mesma ter
sido editada tratando tema de matéria antiga, ou seja, sem qualquer urgência, pois tal
fato há anos é debatido no Judiciário, não podendo esquecer que a matéria foi
encaixada na medida provisória que aborda tema totalmente diverso da questão de
juros.

Para por fim a questão deve-se frisar que a Medida Provisória


acima informada vem sendo discutida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal,
na ADIn 2.316, sendo o relator o Min. Sydney Sanches e acompanhado pelo Ministro
Carlos Velloso, no qual: votaram pela suspensão cautelar da eficácia do art. 5º,
caput e parágrafo único, "por aparente falta do requisito de urgência, objetivamente
considerada, para a edição de medida provisória e pela ocorrência do periculum in
mora inverso, sobretudo com a vigência indefinida da referida MP desde o advento da
EC 33/2001, com a possível demora do julgamento do mérito da ação", sendo que a
decisão final ainda encontra-se pendente de julgamento (1). Logo, a mesma não pode
ser aplicada.

Há que se dizer ainda, que fora proferido Voto (2) recente do


Ilustre Ministro Marco Aurélio acompanhando o voto do Ministro relator e esclarecendo
ainda:

"inicialmente, que a medida provisória sob análise teria sido apanhada com
várias outras pela nova regência da matéria decorrente da EC 32/2001, a qual
prevê, em seu art. 2º, que as medidas provisórias editadas em data anterior a
da sua publicação continuam em vigor até que medida provisória ulterior as
revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional.
Asseverou ser necessário interpretar teleologicamente esse dispositivo,
presente a regência pretérita - em que as medidas provisórias estavam sujeitas
à vigência de 30 dias - e a atual - em que as medidas provisórias vigem por
60 dias, podendo ser prorrogadas por igual período. Diante disso, entendeu,
além da problemática alusiva à falta de urgência, ante o tema tratado,
não ser possível haver uma interpretação que agasalhe a vigência
indeterminada de uma medida provisória, e conceber que um ato
precário e efêmero - que antes era editado para vigorar por apenas 30
dias, e, agora, por 60 dias, com prorrogação de prazo igual - persista no
cenário normativo, sem a suspensão pelo Supremo, passados 8 anos".

E não é outro o entendimento dos Tribunais Pátrios, senão


vejamos:

"Apelação cível. Negócios jurídicos bancários. Ação revisional. Contratos de


financiamento e de abertura de crédito em conta corrente (cheque especial).
Possibilidade de revisão do contrato. (...) Capitalização de juros. A legislação
vigente e a jurisprudência dominante permitem a capitalização apenas e,
periodicidade anual, salvo legislação específica, que não é o caso em tela. A
capitalização na forma disposta no art. 5º da Medida Provisória 2.170-
36, de 23 de agosto de 2001, não se aplica às operações financeiras
comuns, nas quais se enquadram os contratos bancários e de
administração de cartão de crédito, tendo em vista que a jurisprudência
do egrégio STJ fixou entendimento que o referido dispositivo legal
destinou-se, tão-somente, a fixar regras sobre administração dos
recursos do tesouro nacional. Vedada é, portanto, a capitalização diária
ou mensal dos juros." (TJ/RS, 10ª Câm. Cív., Ap. Cív. 70.021.995.790, rel.
Pedro Celso Dal Pra, j. 22.11.2007, DJ 30.11.2007).

"Civil e processual civil. Revisão de cláusula contratual. Código de Defesa


do Consumidor. Aplicabilidade. Tabela Price. Capitalização mensal de
juros. Capitalização mensal de juros deve ser afastada, eis que o art. 5º,
caput, da Medida Provisória 2.170-36/2001, o qual estaria a legitimar tal
prática, foi declarado inconstitucional, incidenter tantum, nos autos da
argüição de inconstitucionalidade 2006.00.2.001774-7, deste eg. Tribunal
de Justiça." (TJ/DF, 4ª T., Processo 20.050.110.482.023-APC, Rel. Sérgio
Bittencourt, j. 10.10.2007). (grifamos).

E assim já se manifestou o Egrégio Superior Tribunal de Justiça,


no Acórdão sob a lavra do Eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito no
julgamento do REsp n.º 811.456/RS:

"...a demora na apreciação de uma liminar em controle concentrado de


constitucionalidade não pode causar prejuízo às partes hipossuficientes
frente às instituições financeiras, quando já se mostra aquela Corte, pelo
menos em parte, favorável à suspensão da vigência da norma. Reforça
esse entendimento o julgamento da Reclamação n.º 2576, em 23.6.04,
onde o Plenário da Corte Excelsa entende não ser necessário aguardar o
trânsito em julgado de acórdão de ADin para que a decisão comece a
produzir efeitos, pois no sistema processual brasileiro se permite o
cumprimento de decisões judiciais em razão do poder geral de cautela
sem que tenha ocorrido o transito em julgado ou o julgamento final da
questão. Portanto, considero inaplicável a Medida Provisória 2.170/2001,
porque presente posicionamento do Supremo Tribunal Federal favorável
à sua inconstitucionalidade, evitando-se, assim, prejuízos aos
consumidores". (Grifamos).

Diz o acórdão da Reclamação (3) n.º 2576/04:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. CUMPRIMENTO DA DECISÃO. 1. Desnecessário o
trânsito em julgado para que a decisão proferida no julgamento do
mérito em ADI seja cumprida. Ao ser julgada improcedente a ação direta
de inconstitucionalidade - ADI nº 2.335 - a Corte, tacitamente, revogou a
decisão contrária, proferida em sede de medida cautelar. Por outro lado, a
lei goza da presunção de constitucionalidade. Além disso, é de ser
aplicado o critério adotado por esta Corte, quando do julgamento da
Questão de Ordem, na ADI 711 em que a decisão, em julgamento de
liminar, é válida a partir da data da publicação no Diário da Justiça da
ata da sessão de julgamento. 2. A interposição de embargos de declaração,
cuja conseqüência fundamental é a interrupção do prazo para interposição de
outros recursos (art. 538 do CPC), não impede a implementação da
decisão. Nosso sistema processual permite o cumprimento de decisões
judiciais, em razão do poder geral de cautela, antes do julgamento final
da lide. 3. Reclamação procedente. (Destacamos).
E ainda, esse diploma legal (MP) afronta o artigo 192 da
Constituição Federal, pois trata de questão que só poderia ser disciplinada por Lei
Complementar, e padece do vício da ilegalidade, pois ao tratar da questão da
administração dos recursos de Caixa do Tesouro Nacional, no artigo 5º fala sobre a
possibilidade da cobrança de juros capitalizados, texto este destinado a regular o
Sistema Financeiro em geral, o que é vedado pela Lei Complementar n.º 95/98, no
seu artigo 7º.

O Artigo 192 da Constituição Federal com a redação que lhe deu


a Emenda Constitucional n.º 40: "o sistema financeiro nacional, (...) será regulado por
leis complementares que disporão...". Portanto, percebesse que a medida provisória é
totalmente inconstitucional, PRIMEIRO, POR FALTA DO REQUISITO DA
RELEVÂNCIA E URGÊNCIA, SEGUNDO, POR AFRONTA DIRETA AO
ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E POR ÚLTIMO O ARTIGO 7º
DA LEI COMPLEMENTAR 95/98.

A inconstitucionalidade do artigo 5º da Medida Provisória n.º


2.170-36/2001, foi declarada por inúmeros Tribunais Pátrios senão vejamos:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL:

“(...) 1. É vedada a prática da capitalização mensal de juros em contratos


bancários não abrangidos pelas hipóteses legais que a admitem, sendo
inaplicável, por seu turno, o disposto no art. 5º da Medida Provisória nº
2.170-36/2001, cuja inconstitucionalidade foi declarada pelo egrégio
Conselho Especial do TJDFT (...)” (20080110554462APC, Relator CRUZ
MACEDO, 4ª Turma Cível, julgado em 18/11/2009, DJ 09/12/2009 p. 139).

"ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 5º DA MEDIDA


PROVISÓRIA N.º 2170-36. OPERAÇÕES REALIZADAS PELAS
INSTITUIÇÕES INTEGRANTES DO SISTEMA FINANCEIRO.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM
ANO.MATÉRIA PREVISTA EM LEI COMPLEMENTAR. ART. 192,
CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL COM A REDAÇÃO DADA
PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 40. A matéria inserida em
Medida Provisória que dispõe sobre "a administração dos recursos de caixa
do Tesouro Nacional", consolidando e atualizando a legislação
pertinente, não pode dispor sobre matéria completamente diversa, cuja
regulamentação prescinde de Lei Complementar. Declarada, incidenter
tantum, a inconstitucionalidade do art. 5º, da Medida Provisória 2170-
36." (Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Argüição de
inconstitucionalidade suscitada na Apelação Cível n.º 20060020011774-7).

"Civil e processual civil. Revisão de cláusula contratual. Código de Defesa


do Consumidor. Aplicabilidade. Tabela Price. Capitalização mensal de
juros. Capitalização mensal de juros deve ser afastada, eis que o art. 5º,
caput, da Medida Provisória 2.170-36/2001, o qual estaria a legitimar tal
prática, foi declarado inconstitucional, incidenter tantum, nos autos da
argüição de inconstitucionalidade 2006.00.2.001774-7, deste eg. Tribunal
de Justiça." (TJ/DF, 4ª T., Processo 20050.110.482.023-APC, Rel. Sérgio
Bittencourt, j. 10.10.2007).
“(...) 03. Demonstrada a diferença entre as taxas de juros mensais e anuais,
verifica-se a cobrança de juros compostos, em periodicidade inferior à anual,
que merece ser afastada por ausência de previsão legal, ante a declaração,
incidenter tantum, de inconstitucionalidade da MP nº 2.170-36/2001 (...)”
(20040111001299APC, Relator MARIA BEATRIZ PARRILHA, 4ª Turma
Cível, julgado em 14/05/2008, DJ 16/06/2008 p. 101).

Ainda, em outros Tribunais pelo país também encontramos


decisões idênticas:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO


SUL:ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO DE
REVISÃO CONTRATUAL DE CONTRATO BANCÁRIO. INCOMPATIBILIDADE DO ARTIGO 5º
DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 1963-17/2000, REEDITADA SOB N.2170-36/2001 COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS NOS CONTRATOS
BANCÁRIOS. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DE URGÊNCIA E
RELEVÂNCIA. MATÉRIA RESERVADA À LEI COMPLEMENTAR. AFRONTA AOS DIREITOS
DO CONSUMIDOR. PROCEDÊNCIA DO INCIDENTE. (Arguição deInconstitucionalidade n.°
2007.059574-4, Órgão Especial, Relator Des. Lédio Rosa de Andrade, julgado em 16-12-2011, publicado
no DJ n. 1112, em 10-3-2011).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO:Ação de


revisão de cláusula de contrato de alienação fiduciária de veículo, com pedidos cumulados de obrigação
de fazer, consignação em pagamento e declaração de nulidade de venda casada e de cláusula que prevê a
capitalização de juros. Prática de anatocismo demonstrada no laudo pericial contábil produzido. Embora
não se aplique às instituições financeiras a limitação dos juros no patamar de 12% ao ano, conforme
entendimento consolidado na jurisprudência pátria, a cobrança de juros capitalizados é vedada nos
termos da Súmula nº. 121, do Supremo Tribunal Federal. O verbete nº. 596, da Súmula do STF
refere-se, exclusivamente, às taxas de juros e aos encargos cobrados por instituições financeiras,
não se estendendo à capitalização de juros, que continua proibida, acorde à orientação da aludida
Súmula nº. 121, que não exclui as instituições financeiras de sua incidência. A constitucionalidade
da Medida Provisória nº. 2.170-36, de 23/08/01 encontra-se em discussão no STF, através a ADIn
nº. 2.316-DF, já havendo sido proferidos dois votos no sentido da suspensão de sua eficácia. Decisão
proferida pelo colendo Órgão Especial deste Tribunal de Justiça, na Arguição de
Inconstitucionalidade nº. 2003.017.00010, que concluiu, por unanimidade, pela
inconstitucionalidade do artigo 5º, da referida Medida Provisória. A cobrança de encargos abusivos
no período da normalidade do contrato enseja a descaracterização da mora, impondo a
improcedência da ação de busca e apreensão em apenso. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça. Negativa de seguimento do recurso da ré e provimento do apelo do autor. (TJRJ -
APELAÇÃO: APL 200900128719 RJ 2009.001.28719 - Relator(a): DES. DENISE LEVY TREDLER -
Julgamento: 31/08/2009 - Órgão Julgador: 19ª CÂMARA CIVEL).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO NORTE:


INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 5º DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº
2.170, DE 23 DE AGOSTO DE 2001. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE.
OBRIGATORIEDADE DE LEI COMPLEMENTAR PARA REGULAMENTAR O SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL. ARTIGOS 192 E 62, § 1º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO.
PROCEDÊNCIA DO INCIDENTE. ...Cabe ressaltar, em princípio, que vem emergindo o entendimento
no Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a capitalização mensal dos juros, desde que pactuada, é
legal a partir dos contratos de mútuo bancário, celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da
primitiva publicação do artigo 5º da medida provisória nº.1.963-17/2000, atualmente reeditada sob o nº.
2.170-36/2001. A perenização da sua vigência se deve ao artigo 2º da Emenda Constitucional n.º 32, de
12 de setembro de 2001. No entanto, data maxima venia, não comungo com o posicionamento
adotado pelo Superior Tribunal de Justiça e por alguns Tribunais pátrios, pelos motivos a seguir
expostos. Inicialmente, invoco a Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal, em plena vigência, que
assevera: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". Convém
explicitar que, em observância ao artigo 192 da Constituição Federal, alterado pela Emenda
Constitucional 40/2003, o Sistema Financeiro Nacional deve ser regulado por Lei Complementar,
devendo aqui ser destacado que o artigo 62, § 1º, também da Carta Magna, veda a edição de
Medidas Provisórias quando destinadas a regular matéria reservada à Lei Complementar, sob
pena de restar evidenciada sua flagrante inconstitucionalidade. De se destacar, ainda, que a norma
alvejada autoriza o credor a cobrar juros não apenas do valor principal, mas também sobre o que
não emprestou, obtendo, portanto, receita sem trabalho, sem contraprestação, agredindo
brutalmente o artigo 170 da nossa Lei Magna que assim estabelece: "A ordem econômica, fundada
na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna conforme os ditames da justiça social observados os seguintes princípios: V. defesa do
consumidor;". Vale lembrar, por oportuno, que a constitucionalidade desta Medida Provisória que
permite a capitalização mensal dos juros, vem sendo discutida pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, na ADIN n.º 2.316-1, cuja relatoria coube ao Ministro Sydney Sanches, que suspendeu a
eficácia do artigo 5º, caput, e parágrafo único e a decisão final encontra-se pendente de julgamento.
Embora não tenha sido concluído o julgamento da liminar da Medida Cautelar, aquele eminente
Relator deferiu a suspensão cautelar dos dispositivos impugnados com fundamentos na "aparente
falta de urgência", objetivamente considerada, para a edição de medida provisória, e pela
ocorrência do "periculum in mora inverso", sobretudo com a vigência indefinida da referida MP
desde o advento da EC 32/2001, com a possível demora do julgamento do mérito da ação. Portanto,
há de se reconhecer não só a inconstitucionalidade material, mas, também, a formal, na medida em
que, segundo o artigo 192 da Constituição da República, a norma combatida está reservada a lei
complementar, sendo, por conseguinte, insuscetível de ser disciplinada pela via da medida
provisória... (TJRN - Argüição de Inconstitucionalidade em Apelação Cível n° 2008.004025-9/0002.00 -
Relator: Desembargador Amaury Moura Sobrinho - Julgamento: 08/10/2008).

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO:


INCIDENTE DE ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADMINISTRATIVO.
CONTRATO DE CRÉDITO ROTATIVO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS EM
PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO. SUSCITADA A INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 5º DA MP Nº 2.170, DE 23/08/2001, PERANTE A CORTE ESPECIAL. 1. Até o advento da
indigitada MP nº 1.963-17, publicada em 31/03/2000 (MP nº 2.170, de 23/08/2001 - última edição), a
capitalização dos juros mês a mês, nos contratos de abertura de crédito rotativo em conta-corrente
- cheque especial - e nos contratos de renegociação, à míngua de legislação especial que a
autorizasse, estava expressamente vedada. 2. Estavam excluídos da proibição os contratos previsto
no Decreto lei nº 167, de 14/02/67, no Decreto-lei 413, de 09/01/69 e na Lei 6.840, de 03/11/80, que
dispõe sobre títulos de crédito rural, título de crédito industrial e títulos de crédito comercial,
respectivamente. 3. O Executivo, extrapolando o permissivo constitucional, tratou de matéria
antiga, onde evidentemente não havia pressa alguma, eis que a capitalização de juros é matéria que
remonta à época do Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura). A gravidade é ainda maior quando se tem
em conta que a capitalização de juros em contratos bancários e financeiros tem implicações numa
significativa gama de relações jurídicas. 4. Não verificado o requisito "urgência" no que se refere à
regulamentação da capitalização dos juros em período inferior a um ano. Especialmente quando se
trata de uma MP que, dispondo sobre a administração dos recursos de caixa do Tesouro Nacional,
dá providências sobre a capitalização de juros para as instituições financeiras. 5. Não se pode
reputar urgente uma disposição que trate de matéria há muito discutida, e que, ardilosamente foi
enxertada na Medida Provisória, já que trata de tema totalmente diverso do seu conteúdo. Além
disto, estatui preceito discriminatório, porque restringe a capitalização de juros questionada
unicamente às instituições financeiras. A urgência, portanto, só se verifica para os próprios
beneficiados pela regra, já que, para todos os demais, representa verdadeiro descompasso entre a
prestação e a contra-prestação, além de onerar um contrato que por natureza desiguala os
contratantes (de adesão). (TRF4, Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade 2001.71.00.004856-0,
Corte Especial, Relator Luiz Carlos de Castro Lugon, DJ 08/09/2004).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ: INCIDENTE DE


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - MEDIDA PROVISÓRIA -
PRESSUPOSTOS FORMAIS – URGÊNCIA E RELEVÂNCIA - VÍCIO MATERIAL - MATÉRIA
RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR. 1. São pressupostos formais das medidas provisórias a
urgência e a relevância da matéria. Há de estar configurada a situação que legitime a edição da
medida provisória, em que a demora na produção da norma possa acarretar dano de difícil ou
impossível reparação para o interesse público, notadamente o periculum in mora decorrente no
atraso na cogitação da prestação legislativa. 2. Os vícios materiais referem-se ao próprio conteúdo
do ato, originando-se de um conflito com regras estabelecidas na Constituição, inclusive com a
aferição do desvio do poder. 3. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria reservada a
lei complementar. 4. A Súmula Vinculante sob nº 07 da Corte Suprema, reproduzindo o teor da
Súmula nº 648, proclama que "a norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revogada pela Emenda
Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicabilidade
condicionada à edição de lei complementar". (TJPR - Órgão Especial - IDI 0579047-0/01 - Foro
Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Lauro Augusto Fabrício de Melo - Por maioria -
J. 05.02.2010). (grifei).

Parece bem claro que a Inconstitucionalidade da Medida


Provisória não é um ato isolado de um único Tribunal, mas da maioria deles inclusive o
Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo já se manifestou sobre o tema conforme
acórdãos abaixo transcritos:

"JUROS - Capitalização - Inadmissibilidade, em período inferior ao


anual, à míngua de previsão na legislação de regência da matéria -
Súmula 121 do E. STF - Inaplicabilidade do art 5o da Medida Provisória
1963-17/2000 (atualmente reeditada sob o n.° 2170-36/2001) – Embargos
à monitoria parcialmente procedentes – Recurso não provido - Voto
vencido. (.,.) Com efeito, não se pode olvidar que a Súmula 596, do
Supremo Tribunal Federal, consagrou o entendimento jurisprudencial,
de que são livres as instituições integrantes do Sistema Financeiro,
Nacional na fixação das taxas de juros, sendo inaplicável a espécie, o
disposto no Decreto n° 22.626/33. No entanto, a capitalização de juros,
consistente no cálculo de juros sobre os juros já adicionados ao capital,
em período inferior a um ano, só é admitida nos casos em que é
expressamente prevista em lei, inocorrente à espécie. Neste sentido, a
Súmula 121 do colendo Supremo Tribunal Federal: É vedada a
capitalização de juros, ainda que expressamente, convencionada". Nem
mesmo a edição da Medida Provisória 1.963-17/2000 (atualmente
reeditada sob o n° 2.170-36/2001), que permitia a capitalização mensal
dos juros nos contratos bancários, pode servir de aparato para tal
cobrança. (...) De mais a mais, o art. 591 do novo Código Civil, norma
hierarquicamente superior, apenas permite a capitalização anual de
juros."(Apelação n° 7.232.641-9; Mirassol; 14ª Câmara de Direito Privado;
Rei. Des.MELO COLOMBI, j. em 14.05.2008; v . u . ).

"JUROS - CAPITALIZAÇÃO - INADMISSIBILIDADE -


CONFIGURAÇÃO DE ANATOCISMO - NÃO INCIDÊNCIA DO ART.
5° DA MP N. 1.963-17, DE 31.03.00 (REEDITADA SOB O N. 2.170-
36/2001) - REGRA - POSTERIOR. À CONTRATAÇÃO - ART. 4° DO
DECRETO N> 22.626/33 - SÚMULA 121 DO SUPREMO TRTBUNAL
FEDERAL - SÚMULA N. 93 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA - NÃO INCIDÊNCIA. (...) Tem-se reconhecido inadmissível a
prática do anatocismo, salvo na forma anual, ante a vedação contida no
art. 4° do Decreto n. 22.626/33. Ainda que se trate de instituição
financeira, a capitalização dos juros somente é admitida nas hipóteses
reguladas em leis especiais, que a prevêem expressamente, como no caso
das cédulas de crédito rural, comercial e industrial (DL 167/67, 413/69 e
Lei 6.840/80). Nessa medida, aplica-se integralmente aos contratos
bancários a proibição do anatocismo, consubstanciada na Súmula 121 do
STF. E não se diga que prevalece sobre esta a Súmula 596 do STF, pois,
ambas têm áreas de abrangência diferentes, e portanto coexistem. A
Súmula 596 do STF refere-se unicamente ao valor das - taxas de juros.
Em suma, não se admite a capitalização, salvo em situações excepcionais
(STJ, Súmula n.° 93; STF, Súmula n.° 121; cfr. AgRg. no REsp. n.
646.475-RS, STJ, 3ªT. , Rel. Min. Castro Filho, j : 22.2.05, v.u, in DJU de
21.3.05, p. 376; AgRg. no REsp. n. ,416.336-SP, STJ, 4ª T., Rei. Min.
Fernando Gonçalves, j . 28.9.04, v.u:, in DJU de 48.10.04, pág. 281;
REsp. n. 298.369-RS, STJ, 3ªT., Rei. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, j . 26.6.03, m.v, in DJU de 25.8.03, p. 296; v. , tb: Apel. n.°
1.220.656-3, Santa Izabel; TJSP, 22ª Câm. Dir. Priv., j 7 3.10.06, v.u.;
Apel., n. 1.052.322-5, Ribeirão Preto/ v.u, TJSP, 22ª Câm. Dir. Priv., j .
26.9.06, v.u.; Apel. N.° 7.051.889-. 5, Jacareí, TJSP, 22ª Câm. Dir, Priv., j
.-11.4.06). MESMO SE ADMITIDA A CONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 5º DA MP N.° 1.963-17, DE 31.3.00,(REEDITADA SOB O N.°
2.170-36/2001), SERIA ELA INAPLICÁVEL AO CONTRATO SOB
EXAME, REALIZADO ANTERIORMENTE A 2000." (Apelação n°
7.127.381-3; Jaboticabal; 22a Câmara de Direito Privado; Rei. Des.
ROBERTO BEDAQUE; j . em 22.07.2008, v.u:).

Sendo assim, não se pode admitir a capitalização de juros em


termo inferior a um ano, sob pena de violação ao texto do artigo 192 da Constituição
Federal e ainda, ao artigo 591 do Código Civil, norma hierarquicamente superior a MP,
que apenas permite a capitalização anual.

Por outro lado, não há dúvidas que a mal fadada Medida


Provisória também AFRONTA O DISPOSTO NO ARTIGO 7º DA LEI
COMPLEMENTAR N.º 95/98, valendo-se dos ensinamentos do Ilustre
Desembargador Luís Fernando Lodi, no julgamento da Apelação n.º 7.358.896-6, do
Tribunal de Justiça de São Paulo, como abaixo transcrevemos:

"REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO – CÓDIGO DE DEFESA


DO CONSUMIDOR – CAPITALIZAÇÃO – Afirmação quanto à
possibilidade de aplicação das disposições contidas na Medida Provisória
2.170-36 – Afastamento ante a vedação legal, sendo somente admitida a
capitalização anual. (...) 2. Relativamente à capitalização, a instituição
financeira apelada nega sua existência, entretanto, defendendo a aplicação
das disposições contidas na Medida Provisória 2.170-36.

Tem-se, pois, como certo o anatocismo. Só que é ele


expressamente vedado, como regra; é o que dispõe as Súmulas 121 STF, que o proíbe
ainda que convencionado, e 93 STJ, que elenca as leis que o admite.

A única capitalização que é admitida é a anual (artigo 4º, parte


final, do Decreto 22.626/33), por certo aplicável já que a Súmula 596 STF se refere ao
percentual das taxas de juros e não ao cálculo de incidência.

Não se admite, portanto, capitalização mensal, ainda que a


Medida Provisória 2.170-36, que reeditou a Medida Provisória 1.963-17, disponha de
forma diversa. Primeiramente não se pode olvidar que as Medidas Provisórias são
editadas quando há urgência na regulamentação de determinadas matérias.

A Medida Provisória n.º 2.170-36 foi editada para dispor sobre


os recursos de caixa do Tesouro Nacional, matéria que cuidou em seus quatro primeiros
artigos; sendo esta a ementa da Medida, entendo que aí residia a urgência para a sua
edição.

No artigo 5º, houve radical mudança de assunto, passando a


Medida a cuidar de capitalização de juros.

À evidência, ao lado da mudança de assunto, passou a ser


tratada matéria que não ostentava qualquer urgência, gerando periculum in mora
inverso.

Dentro deste cenário, se faz necessário analisar o contido na


Lei Complementar de n.º 95, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das Leis, promulgada em atenção ao contido no artigo 59 da Constituição
Federal.

Em seu artigo 7º, seu "caput" é claro:

"Art. 7º. O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo


âmbito de aplicação, observados os seguintes princípios:".

E segue em seu inciso II:

II – A lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não


vinculada por afinidade, pertinência ou conexão;"

Ora, não há como deixar de constatar a visível discrepância


entre esta determinação e a elaboração da já citada Medida Provisória. No cotejo
entre os dois diplomas, fica visível que as disposições contidas no artigo 5º da
Medida Provisória violam aquilo que determina a Lei, o que não permite a sua
aplicação." (Tribunal de Justiça de São Paulo, 37ª Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/09/2010,
D.J.U 20/10/2010). (Grifamos).

Portanto, por todos os enfoques é proibida a


CAPITALIZAÇÃO DE JUROS e o artigo 5º da Medida Provisória 2.170-36/2001 não
autoriza a sua prática, pois padece de vício de constitucionalidade, logo, não pode ser
aplicada.

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