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Apelação Cível - Turma Espec.

III - Administrativo e Cível


Nº CNJ : 0136811-02.2017.4.02.5101 (2017.51.01.136811-0)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
APELADO : ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO E OUTRO
ADVOGADO : RJ091326 - ENEVALDO GUILHERME DA SILVA FILHO E OUTROS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01368110220174025101)
EMENTA

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PENSÃO MILITAR. ACUMULAÇÃO


COM DUAS APOSENTADORIAS DE PROFESSORA. POSSIBILIDADE.
INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 29 DA LEI Nº 3.765/60 CONFORME ART. 37, XVI, E
§ 10, DA CONSTITUIÇÃO. TERMO INICIAL DO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO.
1. Trata-se de apelação interposta pela União Federal contra sentença que julgou
procedente pedido de acumulação de duas aposentadorias de professora com pensão
militar.
2. É cabível a percepção cumulativa do benefício da pensão militar com os proventos de
duas aposentadorias derivadas de cargos de professora. A peculiaridade com que é tratada
constitucionalmente a cumulação de cargos públicos remunerados pelo artigo 37, inciso
XVI, alínea “c”, deve nortear a interpretação do artigo 29 da Lei nº 3.765/60, de molde a
permitir a percepção simultânea de pensão militar com os proventos decorrentes de duas
aposentadorias do cargo de professor.
3. O termo inicial para o pagamento da pensão militar a qual a autora faz jus é a data do
requerimento administrativo, conforme jurisprudência deste Tribunal. Precedentes.
4. Os honorários advocatícios devem ser majorados em 1% sobre o valor atualizado da
causa, nos termos do artigo 85, §11, do CPC/2015.
5. Apelação conhecida e desprovida.

1
ACÓRDÃO

Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2a Região, por unanimidade,
negar provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo parte do
presente julgado.

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2019.

(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator

2
Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0136811-02.2017.4.02.5101 (2017.51.01.136811-0)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
APELADO : ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO E OUTRO
ADVOGADO : RJ091326 - ENEVALDO GUILHERME DA SILVA FILHO E OUTROS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01368110220174025101)

RELATÓRIO

Trata-se de apelação (fls. 200/211) interposta pela UNIÃO FEDERAL, contra a r.


sentença de fls. 189/197, proferida nos presentes autos da ação, pelo rito ordinário, ajuizada
por ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO em face da Apelante, objetivando a
condenação da ré a lhe pagar pensão militar, cumulativamente com duas pensões de
professora.

A sentença tem o seguinte dispositivo (fls. 189/197):

“Ante o exposto, MANTENHO A TUTELA DEFERIDA e JULGO PROCEDENTE O


PEDIDO, com fulcro no artigo 487, I, do CPC, para determinar que a implantação de
benefício de pensão em favor da parte autora, tendo como instituidor o Sr. Helcio Paulo de
Azevedo Pinto, de forma cumulativa ao recebimento das aposentadorias relativas às matrículas
00-0195182-1 e 00-0242480-2, concedidas pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, e a
aposentadoria NB 1350890550, concedida através do RGPS.

Condeno ao pagamento dos valores atrasados desde o óbito de sua mãe (22/08/2016), tendo em
vista que houve requerimento administrativo e o mesmo foi indeferido pela União (fls. 21/22),
que deverão ser acrescidos de atualização monetária pelo Índice de Preços ao Consumidor
Amplo - Série Especial (IPCAE) e de juros moratórios conforme os Índices da Poupança,
conforme modulação dos efeitos das ADI's 4357 e 4425 pelo STF.

Condeno a parte ré em custas.

Condeno a União em honorários advocatícios, que fixo em 10 % (dez por cento) do valor
atribuído à causa, nos termos do artigo 85, § 2º c/c § 3º, do Código de Processo Civil de 2015”.

Requer a reforma da sentença sustentando, em síntese (fls. 200/211), que “(...) a r.


Sentença julga o pedido procedente para, confirmando a tutela deferida, determinar a
implantação da pensão militar, cumulativamente com os outros 3 benefícios que já recebe.

1
A decisão estabeleceu, ainda, ao pagamento dos valores retroativamente ao óbito da mãe
da apelada, acrescidos de correção monetária, pelo índice IPCA-e e juros moratórios de
poupança. De notar-se, ainda, que não há direito adquirido em face de norma
constitucional, que tem vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados,
salvo disposição expressa em contrário. Em outras palavras: uma nova regra
constitucional tem aplicabilidade imediata. Também, o art. 29 da Lei nr. 3765/60, admite a
cumulação de uma pensão militar, com proventos de disponibilidade, reforma,
vencimentos, aposentadoria ou pensão proveniente de um único cargo civil. Como a
própria sentença esclarece, a apelada já recebe 3 (três) benefícios (dois magistérios
públicos e um magistério privado). Portanto, necessária se faz a opção e o cancelamento
de um deles, para fazer jus à pensão militar, cumulativamente com os outros 3 benefícios
que já recebe. Assim, há NECESSIDADE URGENTE DE SE SUSPENDER/REFORMAR A
TUTELA DE URGÊNCIA DEFERIDA NOS AUTOS, confirmada na sentença, e,
posteriormente, REFORMAR INTEGRALMENTE A SENTENÇA, PARA JULGAR O
PEDIDO IMPROCEDENTE, para reconhecer a impossibilidade de cumulação de 3
aposentadorias civis com uma pensão militar. Com relação à correção monetária, a r.
sentença objeto do presente recurso, entendeu que deve ser utilizado o IPCA-e, como
índice de correção, a par de os juros serem aplicados conforme os índices da Poupança
(...)”.

A Apelada apresentou contrarrazões pleiteando o desprovimento do recurso (fls.


226/231).

É o relatório. Peço dia para julgamento.

Rio de Janeiro, 03 de maio de 2019.

(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator

T215960 - orb

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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0136811-02.2017.4.02.5101 (2017.51.01.136811-0)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
APELADO : ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO E OUTRO
ADVOGADO : RJ091326 - ENEVALDO GUILHERME DA SILVA FILHO E OUTROS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01368110220174025101)
VOTO

Conheço do apelo, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.

No mérito, nego-lhe provimento.

Objetiva a autora ser habilitada à cota-parte de pensão militar assegurada pela Lei nº
3.765/60, na condição de filha de militar, sem prejuízo do recebimento dos proventos de
aposentadoria decorrentes de duas matrículas no cargo de professora, uma vinculada ao
Governo do Estado do Rio de Janeiro e outra ao INSS.

A apelante entende que a possibilidade de acumular a pensão militar pretendida com


as suas aposentadorias está respaldada no art. 37, XVI, a, da Constituição da República.

Quanto à pretensão em se acumular duas aposentadorias e uma pensão militar, deve-se


ressaltar que o fundamento no qual a Administração Militar indeferiu o pedido da apelante
seria a previsão constante no artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que em sua redação originária,
dispunha:

“Art. 29. É permitida a acumulação:

a) de duas pensões militares;

b) de uma pensão militar com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos,


aposentadoria ou pensão proveniente de um único cargo civil.” (G.N.)

Por sua vez, a Constituição Federal de 1988 é explícita em admitir a cumulação


remunerada de dois cargos públicos de profissionais de saúde, desde que haja
compatibilidade de horários, a teor do disposto no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, in verbis:
“(...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver

1
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
...
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; ;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)

(...)”

Cumpre observar que diante deste permissivo constitucional, mesmo quando ainda
vigia a redação originária da Lei nº 3.765/60, a jurisprudência já havia firmado o
entendimento de ser plenamente cabível a cumulação de pensão militar com duas
aposentadorias decorrentes de cargo de professor, conforme se depreende do seguinte
aresto do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

“ADMINISTRATIVO. VIÚVA DE MILITAR. PENSÃO MILITAR. CONCESSÃO.


CUMULAÇÃO. PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE DOIS CARGOS DE
PROFESSOR. ARTIGO 72, DO DECRETO Nº 49.096/60. POSSIBILIDADE.
- O ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação de
cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre elas a
de dois cargos de professores (art. 37, XVI, ("a"), desde que haja compatibilidade de horários.
- O artigo 72, do Decreto nº 49.096/60, deve ser interpretado à luz do preceito constitucional
que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito necessariamente pela
admissibilidade da acumulação da Pensão Militar com os proventos de aposentadoria de dois
cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
- Recurso especial não conhecido.”
(REsp 170536/RJ, Sexta Turma, Relator Ministro Vicente Leal, DJ 28/09/1998)”.

Para consolidar a orientação adotada, trago decisão do Superior Tribunal de Justiça


proferida pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima nos autos do Recurso Especial nº 1.089.113
(DJe 03/03/2010):

“Trata-se de recurso especial manifestado pela UNIÃO com base no art. 105, III, "a", da
Constituição Federal.
Insurge-se a recorrente contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que manteve
incólume sentença que, por sua vez, julgara procedente o pedido formulado na inicial a fim de
reconhecer o direito de a recorrida acumular suas duas aposentadorias de Professora (a
primeira paga pelo Município do Rio de Janeiro e a segunda pelo Estado do Rio de Janeiro),
com a pensão instituída por seu falecido pai, ex-militar do Exército.

2
(...)
É o relatório.
O presente recurso especial não pode ser conhecido.
Com efeito, verifica-se, da leitura do acórdão recorrido, que o Tribunal de origem decidiu a
controvérsia com base em fundamento eminentemente constitucional, senão vejamos (fl. 144):
Em síntese, o ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação
de cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre
elas a de dois cargos de professores (art. 37, XVI, "a"), desde que haja compatibilidade de
horários.
O artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que autoriza apenas a cumulação da pensão militar com
proventos oriundos de um único cargo civil, deve ser interpretado à luz do preceito
constitucional que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito
necessariamente pela admissibilidade da acumulação da pensão militar com os proventos de
aposentadoria de dois cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
(...)
Ante o exposto, nos termos do art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso especial.
Intimem-se.” (G.N).

Confira-se neste mesmo sentido: REsp nº 1.171.664, Relator Ministro Felix Fischer,
DJe 02/09/2010.

Assim, mesmo havendo na redação originária do artigo 29 da Lei nº 3.765/60 vedação


expressa à acumulação da pensão militar com aposentadorias provenientes de mais de um
cargo civil, não se poderia ter por legítima tal proibição, porquanto aqueles que se
aposentaram nos moldes do artigo 37, inciso XVI, alínea “c”, da Carta Maior, acabariam
por ser obrigados por lei ordinária a optarem por uma de suas aposentadorias para que
pudessem receber o benefício da pensão militar.

Caso se concebesse tal possibilidade, se estaria convalidando o sobrepujamento de


norma constitucional por norma infraconstitucional, ao se admitir haver na lei ordinária
uma limitação à permissão constitucional.

Com o advento da Medida Provisória nº 2215-10/2001, o referido dispositivo legal


passou a ter a seguinte redação:

“Art. 29. É permitida a acumulação:

3
I - de uma pensão militar com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos ou
aposentadoria;

II - de uma pensão militar com a de outro regime, observado o disposto no art. 37, inciso XI,
da Constituição Federal.” (G.N)

Com efeito, a peculiaridade com que é tratada constitucionalmente a cumulação de


cargos públicos remunerados deve nortear a interpretação do aludido dispositivo, de forma
a se concluir que a alteração do artigo 29 da Lei nº 3.765/60, introduzida pela Medida
Provisória nº 2215-10/2001, ao suprimir a referência a “um único cargo civil”, teve por fim
amoldá-lo ao texto constitucional hodierno, que permite a aposentadoria em dois cargos nas
profissões lá abrangidas, taxativamente.

Ademais, caso o Constituinte pretendesse obstar a percepção de pensão por morte


concomitantemente com remuneração de cargos públicos acumuláveis, o teria feito
expressamente.

Por conseguinte, é de se reconhecer plenamente cabível a percepção cumulativa pela


autora do benefício da pensão militar com os proventos de suas duas aposentadorias
derivadas de cargos de professora, sendo esse o entendimento deste Tribunal e do STF
sobre a matéria, in verbis:

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


ADMINISTRATIVO. ACUMULAÇÃO DE DOIS CARGOS PÚBLICOS DE MÉDICO
COM PENSÃO MILITAR. ARTIGO 37, INCISO XVI, ALÍNEA C, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. AGRAVO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE
DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE
SUCUMBÊNCIA. ARTIGO 85, § 11, DO CPC/2015. REITERADA REJEIÇÃO DOS
ARGUMENTOS EXPENDIDOS PELA PARTE NAS SEDES RECURSAIS ANTERIORES.
MANIFESTO INTUITO PROTELATÓRIO. MULTA DO ARTIGO 1.021, § 4º, DO
CPC/2015. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
(STF, ARE 1117555 AgR, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, 04/06/2018).

ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACUMULAÇÃO DE PENSÃO MILITAR COM DUAS


APOSENTADORIAS PROVENIENTES DO EXERCÍCIO DO CARGO DE MÉDICA.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 29 DA LEI N° 3.765/60 CONFORME O
ART. 37, XVI E § 10, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Apelação contra sentença que julgou improcedente o pedido de
acumulação da pensão militar, que a demandante faz jus em razão do óbito de seu pai, que era

4
militar das Forças Armadas, com duas aposentadorias provenientes de cargos de médica.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum (STF, 1ª Turma, ARE 773.690, Rel. Min. ROSA WEBER, DJE 18.12.2014; STJ,
5ª Turma, AgRg no REsp 1.179.897, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJE 18.11.2014). Em razão
da data do óbito do militar (16.6.2000), aplica-se ao caso a Lei n° 3.765/60, em sua redação
original.
3.O art. 29, "b", da Lei n° 3.765/60 dispõe que é permitida a acumulação da pensão militar
com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos, aposentadoria ou pensão
proveniente de um único cargo civil.
4. No entanto, a Constituição Federal, apesar de vedar a acumulação remunerada de cargos
públicos e aposentadorias, excepciona essa regra para alguns casos, como o de acumulação de
dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde (art. 37, XVI e § 10, da
Constituição Federal). Precedentes: TRF2, 8ª Turma, ApelReex 201351010445382, Rel. Des.
Fed. MARCELO PEREIRA DA SILVA, E- DJF2R 11.9.2015; TRF2, 5ª Turma, ApelReex
201151010132486, Rel. Des. Fed. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, E-
DJF2R 6.2.2014.
5. Desta forma, é possível a tríplice acumulação pretendida, uma vez que a presente hipótese
versa sobre duas remunerações relativas ao cargo de médica e uma pensão militar, razão pela
qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas de
inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária (art. 29, "b", da
Lei nº 3.765/60).
6. Os atrasados devem ser pagos desde a data do requerimento administrativo (3.8.2015),
ressalvados eventuais montantes pagos administrativamente.
7. Com relação à correção monetária, a partir de 30.6.2009, aplicam-se os percentuais dos
índices oficiais de remuneração básica da caderneta de poupança, em virtude da recente
decisão do E. STF, no RE 870.947, Rel. Min. LUIZ FUX, DJE 27.4.2015, que, ao reconhecer
a existência de repercussão geral sobre o tema, embora pendente de julgamento final,
consignou em seus fundamentos que, na parte em que rege a atualização monetária das
condenações imposta à Fazenda Pública, o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/2009, continua em pleno vigor. No período anterior devem ser observados
os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução nº 267, de
2.12.2013, do E.CJF). 1
8. Os juros de mora devem ser fixados, desde a citação, no mesmo percentual dos juros
aplicados à caderneta de poupança, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, que alterou o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 (STJ, Corte Especial, REsp Representativo de
Controvérsia 1.205.946, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJE 2.2.2012; AgRg no REsp
1.086.740, Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, DJE 10.2.2014; AgRg no REsp 1.382.625,

5
Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJE 7.3.2014; TRF2, ApelReex 200051010111096, Rel.
Des. Fed. MARCUS ABRAHAM, E-DJF2R 26.6.2014; AC 200551010246662, Rel. Des.
Fed. ALUISIO MENDES, E-DJF2R 24.6.2014), com a ressalva da Súmula 56 do TRF2.
9. Inversão dos ônus sucumbenciais. Causa de pouca complexidade e que não apresenta
singularidade em relação aos fatos e direitos alegados, sopesando o tempo transcorrido (1
ano), a instrução dos autos e a existência de apelação, razoável a fixação dos honorários em
R$ 5.000,00. 5. Apelação provida
(TRF2, 0022996-61.2016.4.02.5101, rel. Des. Federal Ricardo Perlingeiro, 5ª Turma
Especializada, 12/05/2017).

APELAÇÃO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. MANDADO DE SEGURANÇA. PENSÃO


POR MORTE. CUMULAÇÃO COM OUTRAS DUAS APOSENTADORIAS DO CARGO
DE MÉDICO. POSSIBILIDADE. EXCEÇÃO CONSTITUCIONAL. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO DA UNIÃO.
1. A impetrante, ora apelada, é viúva de ex-militar da Marinha do Brasil, falecido no ano de
1981, e era beneficiária da pensão instituída pelo de cujus, através do Título de Pensão Militar
nº 41.280/81. A apelada já usufrui de dois proventos de aposentadoria, pagas pelo Ministério
da Saúde pelo exercício da função de médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado do
Rio de Janeiro, matrícula SIAPE nº 6555162, e no Hospital São Lourenço - SUS/SMS,
matrícula SIAPE nº 0555162.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum. Tendo em vista que o óbito do militar ocorreu no ano de 1981, o direito à pensão
é regulado pela Lei nº 3.765/60, sem as alterações introduzidas pela Medida Provisória nº
2.215- 10/2001. Segundo a redação original do artigo 29, alínea 'b', da Lei nº 3.765/60,
somente é possível a acumulação de uma pensão militar com proventos de aposentadoria de
um único cargo civil.
3. Ocorre que a Constituição Federal de 1967, em seu artigo 99, inciso IV, vigente à data do
óbito do ex-militar instituidor do benefício, muito embora proibisse a acumulação remunerada
de cargos e funções públicas, permitia a acumulação de remuneração e de aposentadoria de
dois cargos privativos de médico. Esta exceção também foi prevista pela Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 37, inciso XVI, alínea 'c', e § 10, que, malgrado vede a acumulação
remunerada de cargos públicos e a percepção simultânea de aposentadorias decorrentes de
cargos públicos, excepciona essa regra para autorizar a acumulação de remuneração e de
aposentadoria de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
4. Desta forma, a impetrante faz jus à cumulação da pensão militar com os proventos das duas
aposentadorias do cargo de médico, por tratar-se de hipótese excepcionada pela Carta Magna,

6
razão pela qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais
normas de inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária
(artigo 29, alínea ‘b’, da Lei nº 3.765/60) sobre as exceções constitucionalmente previstas.
(Precedentes do TRF2: AC 201051100004390. Relatora: Desembargadora Federal Vera Lúcia
Lima. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe 23/09/2014; APELRE
201151010132486. Relator: Desembargador Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. 1
Órgão julgador: Quinta Turma Especializada. DJe 06/02/2014; APELRE 201151010179600.
Relator: Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama. Órgão julgador:
Sexta Turma Especializada. DJe 15/04/2013; AC 200451010218420. Relatora: Juíza Federal
Convocada Maria Alice Paim Lyard. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe
09/06/2008).
5. Negado provimento à apelação da União Federal.
(TRF2, 0022612-06.2013.4.02.5101, rel. Des. Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes,
5ª Turma Especializada, 13/03/2015)”.

Com relação aos valores atrasados, adota-se o entendimento firmado pelo Eg. Superior
Tribunal de Justiça, de que a concessão de pensão por morte deve retroagir à data do
requerimento administrativo, momento em que o ente público toma ciência da existência de
pretensos beneficiários, sendo que, nos casos de inexistência de prova de requerimento
administrativo, o benefício deve ser pago a partir da citação no processo que reconheceu o
direito.

Vejam-se os arestos adiante transcritos:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E


PROCESSO CIVIL. ARTS. 458 E 535 DO CPC. VIOLAÇÃO NÃO CONFIGURADA. EX-
COMBATENTE. PENSÃO POR MORTE. TERMO INICIAL. AJUIZAMENTO DA AÇÃO
OU REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. PARCELAS PRETÉRITAS.
INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADA. 1. Não há violação aos arts. 458, II, e 535, II, do CPC, quando o acórdão
recorrido utiliza fundamentação suficiente para solucionar a controvérsia, sem incorrer em
omissão, contradição ou obscuridade. Não há que se confundir decisão contrária ao interesse
da parte com falta de pronunciamento do julgador. 2. A pensão especial de ex-combatente
somente é devida a partir do requerimento administrativo do interessado ou, no caso de ação
judicial, a partir da citação, não sendo devido qualquer valor antes dessas datas, uma vez que
não há nenhuma relação jurídica anterior entre o autor e a Administração, tampouco qualquer
falha ou atraso que possam ser a esta atribuído. Assim, não há como se admitir que o ex-
combatente ou seus dependentes se beneficiem de sua própria inércia, fazendo jus à percepção
de parcelas anteriores à data do requerimento administrativo. 3. Não basta, para o
conhecimento do especial pela alínea "c" do permissivo constitucional, a simples transcrição
de trechos de julgados ou ementas que a parte entende amparar a tese recursal; deve ser

7
procedido o devido confronto analítico entre o acórdão atacado e o aresto apresentado como
paradigma, formalidade insculpida nos arts. 541, parágrafo único, do CPC, e 255, §§ 1º e 2º,
do RISTJ, e que não foi observada na espécie. 4. Agravo regimental improvido.”
(STJ. AGRESP 1187501, Segunda Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura. DJE
DATA: 29/11/2010).

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PENSÃO DE EX-COMBATENTE.


TERMO INICIAL. DATA DA CITAÇÃO. AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PRESTAÇÃO DE TRATO
SUCESSIVO. FIXAÇÃO. ART. 260 DO CPC. AGRAVO DESPROVIDO. I. Consoante
entendimento desta Corte, tendo em vista a imprescritibilidade da pretensão, a melhor
interpretação da norma do art. 11 da Lei nº 8.059/90 é no sentido de que a pensão de ex-
combatente só é devida a partir do requerimento na via administrativa ou, no caso de ação
judicial, a partir da citação. Precedentes. II. Esta Corte firmou o entendimento de que, nas
condenações impostas à Fazenda Pública ao pagamento de prestações de trato sucessivo e por
prazo indeterminado, aplica-se o disposto no artigo 260 do Código de Processo Civil, segundo
o qual a verba advocatícia deve ser fixada sobre as parcelas vencidas, acrescidas de uma
anualidade (12 prestações) das parcelas vincendas. III. Agravo interno desprovido.”
(STJ. AGRESP 1077009, Quinta Turma. Rel. Ministro Gilson Dipp. DJE DATA:
22/11/2010)”.

Desta forma, a sentença não merece reforma.

Nas circunstâncias, inexistindo nos presentes autos elementos capazes de infirmar a


conclusão esposada pelo Juízo a quo, resta infrutífero o apelo das partes autoras que, por
isso, devem suportar o ônus dos honorários advocatícios recursais (artigo 85, §11, do
CPC/2015), considerando-se que a sentença foi publicada na vigência da nova lei
processual (fl.198).

Relativamente à fixação dos honorários advocatícios recursais previstos no artigo 85,


§11, do CPC/2015, decidiu o STJ:

"AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. DIREITO INTERTEMPORAL. COMPENSAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DETERMINADA NA SENTENÇA. PEDIDO DE
AFASTAMENTO DIANTE DA NOVA DETERMINAÇÃO DO CPC DE 2015.
RETROATIVIDADE DA NORMA. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO TEMPUS REGIT
ACTUM. [...] HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS RECURSAIS. NÃO CABIMENTO.
PEDIDO FORMULADO PELA PARTE AGRAVADA NÃO ACOLHIDO.
[...]
3. Para fins de arbitramento de honorários advocatícios recursais, previstos no § 11 do art. 85

8
do CPC de 2015, é necessário o preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos: Direito
Intertemporal: deve haver incidência imediata, ao processo em curso, da norma do art. 85, §
11, do CPC de 2015, observada a data em que o ato processual de recorrer tem seu
nascedouro, ou seja, a publicação da decisão recorrida, nos termos do Enunciado 7 do Plenário
do STJ: "Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março
de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art.
85, § 11, do novo CPC"; o não conhecimento integral ou o improvimento do recurso pelo
Relator, monocraticamente, ou pelo órgão colegiado competente; a verba honorária
sucumbencial deve ser devida desde a origem no feito em que interposto o recurso; não haverá
majoração de honorários no julgamento de agravo interno e de embargos de declaração
oferecidos pela parte que teve seu recurso não conhecido integralmente ou não provido; não
terem sido atingidos na origem os limites previstos nos §§ 2º e 3º do art. 85 do Código de
Processo Civil de 2015, para cada fase do processo; não é exigível a comprovação de trabalho
adicional do advogado do recorrido no grau recursal, tratando-se apenas de critério de
quantificação da verba [...]".
(STJ, AgInt nos EDcl no REsp 1.357.561 / MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, DJe 19/04/2017)”.

Dessa forma, com apoio na orientação do STJ supracitada, os honorários advocatícios


devem ser majorados em 1% sobre o valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85,
§11, do CPC/2015, os quais ficam suspensos com base no art. 98. § 3º, do CPC.

Isto posto,

Conheço da apelação e nego-lhe provimento, majorando os honorários advocatícios


em 1% sobre o valor atualizado da causa (artigo 85, §11, do CPC/2015).

É como voto.

(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator

T215960 - orb

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