Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2a Região, por unanimidade,
negar provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo parte do
presente julgado.
(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator
2
Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0136811-02.2017.4.02.5101 (2017.51.01.136811-0)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
APELADO : ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO E OUTRO
ADVOGADO : RJ091326 - ENEVALDO GUILHERME DA SILVA FILHO E OUTROS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01368110220174025101)
RELATÓRIO
Condeno ao pagamento dos valores atrasados desde o óbito de sua mãe (22/08/2016), tendo em
vista que houve requerimento administrativo e o mesmo foi indeferido pela União (fls. 21/22),
que deverão ser acrescidos de atualização monetária pelo Índice de Preços ao Consumidor
Amplo - Série Especial (IPCAE) e de juros moratórios conforme os Índices da Poupança,
conforme modulação dos efeitos das ADI's 4357 e 4425 pelo STF.
Condeno a União em honorários advocatícios, que fixo em 10 % (dez por cento) do valor
atribuído à causa, nos termos do artigo 85, § 2º c/c § 3º, do Código de Processo Civil de 2015”.
1
A decisão estabeleceu, ainda, ao pagamento dos valores retroativamente ao óbito da mãe
da apelada, acrescidos de correção monetária, pelo índice IPCA-e e juros moratórios de
poupança. De notar-se, ainda, que não há direito adquirido em face de norma
constitucional, que tem vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados,
salvo disposição expressa em contrário. Em outras palavras: uma nova regra
constitucional tem aplicabilidade imediata. Também, o art. 29 da Lei nr. 3765/60, admite a
cumulação de uma pensão militar, com proventos de disponibilidade, reforma,
vencimentos, aposentadoria ou pensão proveniente de um único cargo civil. Como a
própria sentença esclarece, a apelada já recebe 3 (três) benefícios (dois magistérios
públicos e um magistério privado). Portanto, necessária se faz a opção e o cancelamento
de um deles, para fazer jus à pensão militar, cumulativamente com os outros 3 benefícios
que já recebe. Assim, há NECESSIDADE URGENTE DE SE SUSPENDER/REFORMAR A
TUTELA DE URGÊNCIA DEFERIDA NOS AUTOS, confirmada na sentença, e,
posteriormente, REFORMAR INTEGRALMENTE A SENTENÇA, PARA JULGAR O
PEDIDO IMPROCEDENTE, para reconhecer a impossibilidade de cumulação de 3
aposentadorias civis com uma pensão militar. Com relação à correção monetária, a r.
sentença objeto do presente recurso, entendeu que deve ser utilizado o IPCA-e, como
índice de correção, a par de os juros serem aplicados conforme os índices da Poupança
(...)”.
(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator
T215960 - orb
2
Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0136811-02.2017.4.02.5101 (2017.51.01.136811-0)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
APELADO : ANA CRISTINA DA VEIGA CABRAL PINTO E OUTRO
ADVOGADO : RJ091326 - ENEVALDO GUILHERME DA SILVA FILHO E OUTROS
ORIGEM : 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01368110220174025101)
VOTO
Objetiva a autora ser habilitada à cota-parte de pensão militar assegurada pela Lei nº
3.765/60, na condição de filha de militar, sem prejuízo do recebimento dos proventos de
aposentadoria decorrentes de duas matrículas no cargo de professora, uma vinculada ao
Governo do Estado do Rio de Janeiro e outra ao INSS.
1
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
...
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; ;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)
(...)”
Cumpre observar que diante deste permissivo constitucional, mesmo quando ainda
vigia a redação originária da Lei nº 3.765/60, a jurisprudência já havia firmado o
entendimento de ser plenamente cabível a cumulação de pensão militar com duas
aposentadorias decorrentes de cargo de professor, conforme se depreende do seguinte
aresto do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
“Trata-se de recurso especial manifestado pela UNIÃO com base no art. 105, III, "a", da
Constituição Federal.
Insurge-se a recorrente contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que manteve
incólume sentença que, por sua vez, julgara procedente o pedido formulado na inicial a fim de
reconhecer o direito de a recorrida acumular suas duas aposentadorias de Professora (a
primeira paga pelo Município do Rio de Janeiro e a segunda pelo Estado do Rio de Janeiro),
com a pensão instituída por seu falecido pai, ex-militar do Exército.
2
(...)
É o relatório.
O presente recurso especial não pode ser conhecido.
Com efeito, verifica-se, da leitura do acórdão recorrido, que o Tribunal de origem decidiu a
controvérsia com base em fundamento eminentemente constitucional, senão vejamos (fl. 144):
Em síntese, o ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação
de cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre
elas a de dois cargos de professores (art. 37, XVI, "a"), desde que haja compatibilidade de
horários.
O artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que autoriza apenas a cumulação da pensão militar com
proventos oriundos de um único cargo civil, deve ser interpretado à luz do preceito
constitucional que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito
necessariamente pela admissibilidade da acumulação da pensão militar com os proventos de
aposentadoria de dois cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
(...)
Ante o exposto, nos termos do art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso especial.
Intimem-se.” (G.N).
Confira-se neste mesmo sentido: REsp nº 1.171.664, Relator Ministro Felix Fischer,
DJe 02/09/2010.
3
I - de uma pensão militar com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos ou
aposentadoria;
II - de uma pensão militar com a de outro regime, observado o disposto no art. 37, inciso XI,
da Constituição Federal.” (G.N)
4
militar das Forças Armadas, com duas aposentadorias provenientes de cargos de médica.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum (STF, 1ª Turma, ARE 773.690, Rel. Min. ROSA WEBER, DJE 18.12.2014; STJ,
5ª Turma, AgRg no REsp 1.179.897, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJE 18.11.2014). Em razão
da data do óbito do militar (16.6.2000), aplica-se ao caso a Lei n° 3.765/60, em sua redação
original.
3.O art. 29, "b", da Lei n° 3.765/60 dispõe que é permitida a acumulação da pensão militar
com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos, aposentadoria ou pensão
proveniente de um único cargo civil.
4. No entanto, a Constituição Federal, apesar de vedar a acumulação remunerada de cargos
públicos e aposentadorias, excepciona essa regra para alguns casos, como o de acumulação de
dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde (art. 37, XVI e § 10, da
Constituição Federal). Precedentes: TRF2, 8ª Turma, ApelReex 201351010445382, Rel. Des.
Fed. MARCELO PEREIRA DA SILVA, E- DJF2R 11.9.2015; TRF2, 5ª Turma, ApelReex
201151010132486, Rel. Des. Fed. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, E-
DJF2R 6.2.2014.
5. Desta forma, é possível a tríplice acumulação pretendida, uma vez que a presente hipótese
versa sobre duas remunerações relativas ao cargo de médica e uma pensão militar, razão pela
qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas de
inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária (art. 29, "b", da
Lei nº 3.765/60).
6. Os atrasados devem ser pagos desde a data do requerimento administrativo (3.8.2015),
ressalvados eventuais montantes pagos administrativamente.
7. Com relação à correção monetária, a partir de 30.6.2009, aplicam-se os percentuais dos
índices oficiais de remuneração básica da caderneta de poupança, em virtude da recente
decisão do E. STF, no RE 870.947, Rel. Min. LUIZ FUX, DJE 27.4.2015, que, ao reconhecer
a existência de repercussão geral sobre o tema, embora pendente de julgamento final,
consignou em seus fundamentos que, na parte em que rege a atualização monetária das
condenações imposta à Fazenda Pública, o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/2009, continua em pleno vigor. No período anterior devem ser observados
os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução nº 267, de
2.12.2013, do E.CJF). 1
8. Os juros de mora devem ser fixados, desde a citação, no mesmo percentual dos juros
aplicados à caderneta de poupança, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, que alterou o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 (STJ, Corte Especial, REsp Representativo de
Controvérsia 1.205.946, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJE 2.2.2012; AgRg no REsp
1.086.740, Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, DJE 10.2.2014; AgRg no REsp 1.382.625,
5
Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJE 7.3.2014; TRF2, ApelReex 200051010111096, Rel.
Des. Fed. MARCUS ABRAHAM, E-DJF2R 26.6.2014; AC 200551010246662, Rel. Des.
Fed. ALUISIO MENDES, E-DJF2R 24.6.2014), com a ressalva da Súmula 56 do TRF2.
9. Inversão dos ônus sucumbenciais. Causa de pouca complexidade e que não apresenta
singularidade em relação aos fatos e direitos alegados, sopesando o tempo transcorrido (1
ano), a instrução dos autos e a existência de apelação, razoável a fixação dos honorários em
R$ 5.000,00. 5. Apelação provida
(TRF2, 0022996-61.2016.4.02.5101, rel. Des. Federal Ricardo Perlingeiro, 5ª Turma
Especializada, 12/05/2017).
6
razão pela qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais
normas de inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária
(artigo 29, alínea ‘b’, da Lei nº 3.765/60) sobre as exceções constitucionalmente previstas.
(Precedentes do TRF2: AC 201051100004390. Relatora: Desembargadora Federal Vera Lúcia
Lima. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe 23/09/2014; APELRE
201151010132486. Relator: Desembargador Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. 1
Órgão julgador: Quinta Turma Especializada. DJe 06/02/2014; APELRE 201151010179600.
Relator: Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama. Órgão julgador:
Sexta Turma Especializada. DJe 15/04/2013; AC 200451010218420. Relatora: Juíza Federal
Convocada Maria Alice Paim Lyard. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe
09/06/2008).
5. Negado provimento à apelação da União Federal.
(TRF2, 0022612-06.2013.4.02.5101, rel. Des. Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes,
5ª Turma Especializada, 13/03/2015)”.
Com relação aos valores atrasados, adota-se o entendimento firmado pelo Eg. Superior
Tribunal de Justiça, de que a concessão de pensão por morte deve retroagir à data do
requerimento administrativo, momento em que o ente público toma ciência da existência de
pretensos beneficiários, sendo que, nos casos de inexistência de prova de requerimento
administrativo, o benefício deve ser pago a partir da citação no processo que reconheceu o
direito.
7
procedido o devido confronto analítico entre o acórdão atacado e o aresto apresentado como
paradigma, formalidade insculpida nos arts. 541, parágrafo único, do CPC, e 255, §§ 1º e 2º,
do RISTJ, e que não foi observada na espécie. 4. Agravo regimental improvido.”
(STJ. AGRESP 1187501, Segunda Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura. DJE
DATA: 29/11/2010).
8
do CPC de 2015, é necessário o preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos: Direito
Intertemporal: deve haver incidência imediata, ao processo em curso, da norma do art. 85, §
11, do CPC de 2015, observada a data em que o ato processual de recorrer tem seu
nascedouro, ou seja, a publicação da decisão recorrida, nos termos do Enunciado 7 do Plenário
do STJ: "Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março
de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art.
85, § 11, do novo CPC"; o não conhecimento integral ou o improvimento do recurso pelo
Relator, monocraticamente, ou pelo órgão colegiado competente; a verba honorária
sucumbencial deve ser devida desde a origem no feito em que interposto o recurso; não haverá
majoração de honorários no julgamento de agravo interno e de embargos de declaração
oferecidos pela parte que teve seu recurso não conhecido integralmente ou não provido; não
terem sido atingidos na origem os limites previstos nos §§ 2º e 3º do art. 85 do Código de
Processo Civil de 2015, para cada fase do processo; não é exigível a comprovação de trabalho
adicional do advogado do recorrido no grau recursal, tratando-se apenas de critério de
quantificação da verba [...]".
(STJ, AgInt nos EDcl no REsp 1.357.561 / MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, DJe 19/04/2017)”.
Isto posto,
É como voto.
(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
JOSÉ ANTONIO LISBÔA NEIVA
Desembargador Federal
Relator
T215960 - orb