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Senhor
General Chefe do
Estado-Maior do Exército
I – Dos Factos:
1. O ingresso do Recorrente nas forças armadas ocorreu no âmbito da arma
de Infantaria do Ramo das Forças Armadas do Exército,
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9. Da qual consta em súmula: a) que o Recorrente se encontra vinculado à
condição militar, fazendo escalas de serviço na Unidade onde se encontra
inserido; b) que vigora em relação a este o dever de disponibilidade e a não
aplicação do regime geral de horário de trabalho dos demais trabalhadores
em funções públicas; c) que é garantido o descanso semanal mínimo;
12. Não considerou, nem se refere, aos períodos de descanso mínimos diários
previstos.
II – Do Direito:
14. O Recorrente, não obstante o seu estatuto militar, nos termos do art. 2º do
EMFA, está sujeito a uma situação de emprego público, nos moldes
definidos pelo TCA Sul,
17. Sendo que tal relação de emprego tem que ser desenvolvida com carácter
de duração contínua e mediante o pagamento da respectiva retribuição
periódica (Ana Fernanda Neves, “O Direito da Função Pública”, Tratado de
Direito Administrativo Especial, Vol. IV, pág. 438-439).
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18. Tal consideração jurídica determina que, não obstante a existência do
EMFA como normativo legal,
19. A relação de emprego dos militares não pode ser afastada do regime geral
laboral em vigor para os demais trabalhadores em funções públicas.
20. Efectivamente, tal como tem vindo a ser reiterado pelo Conselho Consultivo
da PGR, o dever de disponibilidade permanente no âmbito da relação de
emprego público traduz-se na possibilidade de prestação de trabalho a
qualquer hora e em qualquer dia, sempre que solicitada pela entidade
empregadora pública,
22. Pois entende tal Conselho que apenas deve “ser de recusar a concessão
simultânea de dois suplementos remuneratórios, a título de compensação
pela disponibilidade permanente e de pagamento pela efetiva prestação de
trabalho suplementar, se e quando visem a mesma finalidade” (Parecer do
Conselho Consultivo da PGR N.º 18/2020 CPE).
24. Bem pelo contrário, tal situação de disponibilidade implica sempre o direito
a receber trabalho suplementar quando não existir legalmente uma rúbrica
remuneratória específica denominada como «suplemento de
disponibilidade».
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26. Falecendo também a demais considerações complementares respeitantes
a período de descanso semanal e não aplicação do regime geral dos
trabalhadores em funções públicas.
27. Tanto mais que, e tal como determinou o Tribunal de Justiça da União
Europeia (Grande Secção), no seu Acórdão de 15 de Julho de 2021,
emitido no Proc C-742/19, os militares das forças armadas tem o direito a
ser ressarcidos pelos períodos de disponibilidade que prestam,
30. Reitere-se que a República Eslovaca, referido em tal Acórdão, tem previsão
legal de subsídio de disponibilidade com carácter remuneratório,
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sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, adotado pela
Organização das Nações Unidas, ratificado pela Lei n.º 45/78, de 11 de
Julho; e o art. 31º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia;
36. Com consagração dos mesmos direitos e deveres por parte das entidades
públicas e
41. Sendo que decorre do art. 1º da Lei n.º 18/2016, de 20 de Junho, que foi
estabelecido para qualquer entidade pública um horário máximo de 35
horas de trabalho,
42. Com o subsequente direito fundamental dos militares receberem por todo o
trabalho suplementar realizado para além dessas 35 horas,
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Recorrente,
47. Por tal motivo, muito menos pode impedir o dever de pagamento de
trabalho suplementar.
50. Acto administrativo esse final que é imposto nos termos dos arts. 2º e 266º
nº 2 da CRP e do art. 3º CPA,
58. Considerando para o efeito todo o trabalho prestado para além das 35
horas semanais,
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Pelo exposto, requer a V. Exa., Exmo. Senhor General Chefe do Estado-Maior
do Exército que sejam atendidos as considerações de direito e de facto
apresentadas pelo Recorrente e, em consequência, que se determine o
reconhecimento do seu direito a receber o trabalho suplementar prestado
desde 01 de Agosto de 2020, procedendo-se ao seu pagamento, com a
revogação do acto recorrido
Para tanto,
O Advogado
Francisco Brardo