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Como visto, o direito à férias é adquirido após o interregno correspondente


a doze meses, o qual se denomina 'período aquisitivo', ou seja, por força do
disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há que se falar em concessão ou
indenização de férias sem que o primeiro período aquisitivo esteja completo.
No caso do licenciamento ocorrer antes de completado o primeiro período
aquisitivo não haverá que se falar em pagamento de férias proporcionais,
apesar do que estabelece, isoladamente, o § 1º do art. 80 do Decreto nº
4.307/2002. Na verdade, tal dispositivo disciplina o pagamento de férias
proporcionais àqueles que já lograram completar o período aquisitivo inicial. O
pedido de indenização por danos morais resta prejudicado, pois não
reconhecida a existência de ato ilícito que ampare a pretensão. Assim, o
recurso da União merece ser provido para reformar a sentença e julgar
improcedentes os pedidos iniciais. Conclusão Dessa forma, o voto é pornegar
provimento ao recurso da parte autora e dar provimento ao recurso da União,
nos termos da fundamentação...”.
EMENTA: (5003364-59.2019.4.04.7119, QUINTA TURMA RECURSAL DO
RS, Relatora JOANE UNFER CALDERARO, julgado em 31/08/2020)

“...No que tange ao mérito recursal, verifico que a sentença recorrida espelha
o entendimento deste Colegiado acerca do direito à indenização de férias não
gozadas para aquele que prestou o serviço militar inicial e foi licenciado antes
de completar 12 meses, citando, inclusive, precedente desta Turma Recursal,
o qual sintetiza os fundamentos para a rejeição da tese da parte autora
(evento 19, SENT1): II - Fundamentação. A parte autora busca a condenação
da União ao pagamento de indenização pecuniária em razão de férias
proporcionais não usufruídas nem utilizadas na passagem para a inatividade
como militar. O autor narrou ter prestado serviço militar obrigatório como
aluno durante o período de 09/02/2009 a 28/11/2009, consoante Certidão de
Situação Militar expedida pelo 3ª Batalhão de Polícia do Exército e que foi
convocado para servir após o curso e ficou incorporado como oficial
temporário até o dia 25/06/2017. O demandante alegou que não recebeu as
férias devidas durante o período de 11 meses de prestação do serviço militar
obrigatório no NPOR, tendo em vista que a União entende que o direito a
férias somente é devido ao militar que obtiver 12 meses de serviços
prestados. Assim, a controvérsia cinge-se à existência (ou não) do direito a
indenização de férias não gozadas para aquele que prestou o serviço militar
inicial e foi licenciado antes de completar 12 meses. A pretensão autoral é
improcedente. Com razão a União.
É entendimento da 5ª Turma Recursal que o tempo de serviço militar
obrigatório, com licenciamento em período inferior a 12 meses, não enseja
direito a férias. Neste sentido, são os Recursos Cíveis Nº 5000082-
71.2019.4.04.7132 (Rel. Andrei Pitten Velloso, j. 17.12.2019), 5000081-
86.2019.4.04.7132 (Rel. Rodrigo Koehler Ribeiro, j. 28.11.2019) e 5003364-
59.2019.4.04.7119/RS, este último de relatoria da E. Juíza Federal Joane
Unfer Calderaro, cujos fundamentos adoto como razões de decidir: (...) O
inciso XVII do art. 7º c/c com o inciso VIII, do art. 142, ambos da Constituição
Federal, asseguram ao militar o direito a férias, além do adicional de 1/3 sobre
a remuneração: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XVII - gozo de
férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal; (...) Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e
regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem. (...) VIII - aplica-se aos militares o disposto no art.
7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e
XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art.
37, inciso XVI, alínea "c"; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77,
de 2014) (...) Assim, a Constituição Federal recepcionou os preceitos relativos
às férias, estabelecidos nos Estatutos Militares: Art. 50. São direitos dos
militares: (...) IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e
regulamentação específicas: (...) o) as férias, os afastamentos temporários do
serviço e as licenças; (...)
Art. 63. Férias são afastamentos totais do serviço, anual e obrigatoriamente
concedidos aos militares para descanso, a partir do último mês do ano a que
se referem e durante todo o ano seguinte. (...) Desse modo, o primeiro
período aquisitivo de férias somente se incorpora ao direito do militar após
doze meses de atividade. Não é possível, portanto, o gozo (concessão para
descanso) de férias antes desse prazo mínimo inicial. Nesse passo, a MP
2.215-10, de 2001, assim dispôs: Art. 2 o Além da remuneração prevista no
art. 1 o desta Medida Provisória, os militares têm os seguintes direitos
remuneratórios: (...) II - observada a legislação específica: (...) d) adicional de
férias; e (...) Por sua vez, regulamentando o adicional de férias, o art. 80 do
Decreto 4.307, de 2002: Art. 80. O adicional de férias será pago,
antecipadamente, no valor correspondente a um terço da remuneração do
mês de início das férias. § 1 o O militar excluído do serviço ativo, por
transferência para a reserva remunerada, reforma, demissão, licenciamento,
no retorno à inatividade após a convocação ou na designação para o serviço
ativo, perceberá o valor relativo ao período de férias a que tiver direito e ao
incompleto, na proporção de um doze avos por mês de efetivo serviço, ou
fração superior a quinze dias. Como visto, o direito à férias é adquirido após o
interregno correspondente a doze meses, o qual se denomina 'período
aquisitivo', ou seja, por força do disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há
que se falar em concessão ou indenização de férias sem que o primeiro
período aquisitivo esteja completo. No caso do licenciamento ocorrer antes de
completado o primeiro período aquisitivo não haverá que se falar em
pagamento de férias proporcionais, apesar do que estabelece, isoladamente,
o § 1º do art. 80 do Decreto nº 4.307/2002. Na verdade, tal dispositivo
disciplina o pagamento de férias proporcionais àqueles que já lograram
completar o período aquisitivo inicial. O pedido de indenização por danos
morais resta prejudicado, pois não reconhecida a existência de ato ilícito que
ampare a pretensão. Assim, tendo em vista que a parte autora tinha menos de
12 (doze) meses de serviço militar obrigatório, não faz jus à concessão de
férias proporcionais.
III - DISPOSITIVO. Ante o exposto, julgo improcedente o pedido.
Posteriormente, em sede de embargos de declaração, complementou o
Julgador a quo (evento 31, SENT1): Trata-se de embargos de declaração
opostos por BRUNO TRUJILLO MARTINS em razão da sentença prolatada
no evento 19, SENT1. A parte embargante alega que a sentença contém
omissão e contrariedade, pois a despeito de a fundamentação ter mencionado
que o tempo de serviço militar era inferior a 12 meses, a parte autora prestou
serviço militar por mais de 12 meses, totalizando o período de 8 anos.
Asseverou que há contradição entre a sentença prolatada e o entendimento
da 5ª turma recursal do Rio Grande do Sul. Requereu o julgamento de
procedência do recurso interposto.. (...) Recurso de Embargos de Declaração
da parte autora - evento 25, EMBDECL1 Analisando os autos, verifico que,
com efeito, deixou de constar na fundamentação da sentença objeto de
recurso de embargos de declaração, o fato de que a parte autora, após deixar
o serviço militar obrigatório, em 27/11/2009, foi novamente admitida nas
Forças Armadas em 01/03/2010, permanecendo vinculada até 25/06/2017
(evento 1, OUT8). De fato, o período de tempo militar total ultrapassou o
período de 12 meses, o que deve ser objeto de adequação na fundamentação
da sentença proferida. Todavia, a peculiaridade do caso concreto é a de que a
parte autora, após servir por 11 meses em serviço militar obrigatório
(09/02/2009 a 27/11/2009), desvinculou-se das Forças Armadas. Desse
modo, não atingiu o tempo necessário exigido por lei para, período de 12
meses, para ter direito a um período de férias. Hipótese em que não se aplica
o Tema 162 da Turma Nacional de Uniformização, no julgamento do PEDILEF
50030717220184025117, pois entre o licenciamento e o engajamento da
parte autora ocorreu um hiato de três meses sem qualquer vínculo com as
Forças Armadas. Somente após decorrido o período compreendido entre
dezembro/2009 a fevereiro/2010 sem qualquer vínculo com as Forças
Armadas é que a parte autora iniciou novo vínculo, em 01/03/2010. Todavia,
nessa circunstância não se faz possível computar o período anterior do
serviço militar obrigatório para fins de período aquisitivo de férias. Nesse
sentido, destaco o seguinte precedente: ADMINISTRATIVO. MILITAR.
INDENIZAÇÃO DE FÉRIAS NÃO GOZADAS. LICENCIAMENTO ANTES DE
COMPLETAR DOZE MESES DE SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. O direito à férias é adquirido após o interregno
correspondente a doze meses, o qual se denomina 'período aquisitivo', ou
seja, por força do disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há que se falar
em concessão ou indenização de férias sem que o primeiro período aquisitivo
esteja completo. 2. No caso do licencimento ocorrer antes de completado o
primeiro período aquisitivo não haverá que se falar em pagamento de férias
proporcionais, apesar do que estabelece, isoladamente, o § 1º do art. 80 do
Decreto nº 4.307/2002. Na verdade, tal dispositivo disciplina o pagamento de
férias proporcionais àqueles que já lograram completar o período aquisitivo
inicial. 3. Recurso da parte autora a que se nega provimento. (Recurso Cível
nº 5000084-41.2019.4.04.7132, Rel. Rodrigo Koehler Ribeiro, 5ª Turma
Recursal do RS, decisão proferida em 28/11/2019). Ante o exposto, dou
parcial provimento ao recurso de embargos de declaração opostos pela parte
autora para o fim tão-somente de integrar à fundamentação da sentença
proferida no evento 19, SENT1 a fundamentação acima, mantendo o
julgamento de improcedência proferido.
Dessarte, em que pese tenha sido reincorporado às fileiras do Exército em
01/03/2010 para a prestação de serviço militar voluntário, o fato é que o autor
teve dois períodos distintos com solução de continuidade na prestação do
serviço militar, não se aplicando o Tema 162 da TNU, conforme bem anotado
pelo Julgador a quo. Assim, a sentença recorrida solucionou adequadamente
a lide, em consonância com a legislação de regência, não merecendo
reparos. Conclusão O voto é por negar provimento ao recurso da parte autora,
nos termos da fundamentação...”.
EMENTA: (5027341-35.2022.4.04.7100, QUINTA TURMA RECURSAL DO
RS, Relatora JOANE UNFER CALDERARO, julgado em 31/03/2023)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. MILITAR. INDENIZAÇÃO DE FÉRIAS NÃO


GOZADAS. LICENCIAMENTO ANTES DE COMPLETAR DOZE MESES DE
SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. O direito à férias
é adquirido após o interregno correspondente a doze meses, o qual se
denomina 'período aquisitivo', ou seja, por força do disposto no art. 63 da Lei
nº 6.880/80, não há que se falar em concessão ou indenização de férias sem
que o primeiro período aquisitivo esteja completo. 2. No caso do licencimento
ocorrer antes de completado o primeiro período aquisitivo não haverá que se
falar em pagamento de férias proporcionais, apesar do que estabelece,
isoladamente, o § 1º do art. 80 do Decreto nº 4.307/2002. Na verdade, tal
dispositivo disciplina o pagamento de férias proporcionais àqueles que já
lograram completar o período aquisitivo inicial. 3. Recurso da parte autora a
que se nega provimento. (5001609-48.2019.4.04.7103, QUINTA TURMA
RECURSAL DO RS, Relator RODRIGO KOEHLER RIBEIRO, julgado em
28/11/2019)

Lei: 13.954/19
“Art. 63-A. Os convocados, durante o tempo em que estiverem incorporados
a organizações militares da ativa ou matriculados em órgãos de formação de
reserva, inclusive para a prestação do serviço militar obrigatório, terão direito
a férias.”
Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (Turma) Nº 5000793-
77.2016.4.04.7101/RS
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO
MILITAR – FÉRIAS – PERÍODO MILITAR INICIAL (SERVIÇO MILITAR
OBRIGATÓRIO) – AUSENCIA DE DISTINÇÃO NAS LEIS NºS 6.880/80,
4.375/64, 5.292/67 E 8.239/91 ENTRE MILITARES DE CARREIRA E OS
QUE PRESTAM SERVIÇO MILITAR INICIAL OBRIGATÓRIO -
DIFERENTEMENTE DA GARANTIA DO SALÁRIO MÍNIMO A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL PREVÊ O DIREITO A FÉRIAS AOS MILITARES
– É FATO NOTÓRIO QUE OS RECRUTAS EXERCEM TRABALHOS QUE
NÃO SE ENQUADRAM NA CATEGORIA DE ATIVIDADES MILITARES
ESPECÍFICAS A DESNATURAR A ESSÊNCIA DO CARÁTER DE DEVER
CÍVICO DO SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO - RECURSO DA UNIÃO
CONHECIDO E IMPROVIDO.

Diante da dúvida, restou emitido parecer pela Advocacia Geral da União, n.


00237/2019/CONJUR-MD/CGU/AGU, que:
Reconheceu que o período de prestação de serviço militar obrigatório gera
direito a férias tanto para o recruta que fora engajado às Forças Armadas,
quanto para o recruta que fora licenciado das Forças.
Esclareceu que o prazo prescricional de 05 (cinco) anos para o exercício da
pretensão do direito a férias terá por termo inicial a data de sua transferência
para a inatividade, e, para o ex-militar, a data de seu licenciamento da Força
Singular.

PORTARIA NORMATIVA Nº 28/GM-MD, DE 3 DE MAIO DE 2019 Dispõe


sobre a padronização do requerimento e dos procedimentos a serem
adotados pelos Comandos das Forças Armadas para análise e pagamento
aos militares inativos, aos ex-militares e aos seus sucessores de indenização
por férias não gozadas, inclusive aquelas não computadas em dobro para fins
de inatividade.

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