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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul
Gab. Juíza Federal JOANE UNFER CALDERARO (RS-5B)

RECURSO CÍVEL Nº 5001609-48.2019.4.04.7103/RS


RELATOR: JUIZ FEDERAL RODRIGO KOEHLER RIBEIRO
RECORRENTE: BRUNO EDUARDO DEL RIO VIGNETTES (AUTOR)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

VOTO

Trata-se de ação em que o autor, licenciado das Forças Armadas


após a prestação do serviço militar obrigatório, postula a condenação da
União a indenizar-lhe, proporcionalmente, as férias decorrentes da prestação do
serviço militar obrigatório, no período de 01/03/2015 a 08/01/2016, o qual,
quando do licenciamento, não lhe foi concedido ou indenizado.

A sentença julgou improcedente o pedido, nos seguintes termos:

Inexiste controvérsia acerca do fato de o demandante ter permanecido nas


fileiras militares no período compreendido entre março de 2015 e janeiro de
2016, quando foi licenciado.

A discussão reside no fato de que, enquanto a União defende que somente os


militares que permanecem em atividade regular durante o período de um ano
fazem jus ao pagamento da remuneração das férias, o demandante alega
possuir direito ao recebimento daquelas quantias mesmo tendo sido licenciado
antes do período de doze meses.

Acerca do direito às férias, assim dispõe a legislação militar, de acordo com a


previsão do art. 63 da Lei nº 6.880/80:

Art. 63. Férias são afastamentos totais do serviço, anual e


obrigatoriamente concedidos aos militares para descanso, a partir do
último mês do ano a que se referem e durante todo o ano seguinte.

Já o Regulamento Interno e dos Serviços Gerais (RISG) do Exército Brasileiro,


prevê no §1º do art. 441, a respeito do direito dos militares às férias:

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Diante da leitura da legislação acima referida se conclui que o militar terá


direito às férias após ter completado um ano de efetivo exercício e durante os
doze meses seguintes. Todavia, o autor confessadamente não completou um ano
de serviço, já que foi licenciado quando completou onze meses e vinte e sete
dias (evento 1 - OUT6).

Destaco que em se tratando de militar, a legislação especial que rege a


categoria prevalece sobre as normas gerais, devendo ser prestigiada.

Sinale-se que a decisão proferida pela Turma Nacional de Uniformização no


Processo nº 5000793-77.2016.404.7101/RS, por dizer respeito a militar
incorporado que passou à inatividade sem ter computado em dobro o período
de férias, não se aplica ao caso em apreço, que, como visto, diz respeito a
militar licenciado antes de completar o período aquisitivo de férias.

O autor recorre e nas razões recursais alega que a sentença foi


fundamentada no Regulamento Interno e dos Serviços Gerais do Exército
(RISG), o qual não pode ser qualificado como legislação especial, tampouco
suplantar as disposições da Constituição Federal, do Estatuto dos Militares (Lei
nº 6.880/80) ou da legislação que trata dos direitos remuneratórios dos militares
(MP 2215-10 e seu regulamento Decreto 4.307/02). Acrescenta, que mesmo que
se pudesse elevar o RISG ao status de 'legislação especial' nada há nas suas
disposições que impeça a indenização pleiteada na presente ação, visto que no
art. 441 a referência a doze meses refere-se a requisito a ser preenchido para
fruição/gozo das férias. Sustenta que a jurisprudência posiciona-se no sentido de
que inexiste distinção entre as diversas modalidade do serviço militar, no que se
refere ao direito de férias. Defende, ainda, que embora no PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI (TURMA) Nº
5000793-77.2016.4.04.7101/RS, a TNU tenha tratado de situação de militar que
seguiu na carreira militar após a conclusão do serviço militar inicial, há no
incidente afirmações esclarecedoras acerca do objeto desta ação. Destacamos
do voto vencedor: “ [...] Da análise da legislação de regência constata-se que o
recruta ou conscrito que presta serviço militar inicial obrigatório tem direitos e
deveres análogos aos dos demais militares de carreira haja vista inexistir
qualquer distinção entre as classes de membros da forças armadas, tanto no
Estatuto dos Militares (lei nº 6.880/80 – art. 3º, caput,§ 1º, al. a, inc. II c/c art.
50, caput, inc. IV, al. o, c/c 63, caput) quanto nas leis específicas que
regulamentam o serviço militar obrigatório (Lei nº 4.375/64; Lei nº 5.292/67 e

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Lei nº 8.239/91).

Requer a reforma da sentença, para que julgar procedente o pedido


inicial, reformando-se a sentença de 1ª instância, condenando a União a pagar
ao recorrente, a título de indenização, o valor de uma remuneração mensal,
tendo como referência o mês de janeiro/2017 (R$ 588,50), acrescido do
adicional de 1/3 (R$ 196,16), ambos valores atualizados monetariamente desde
1º/02/2016 e acrescidos dos juros legais desde a citação; livres de retenções
destinadas a recolhimento de Imposto Sobre a Renda, Contribuições à Pensão
Militar e ao Fundo de Saúde do Exército.

Em contrarrazões, a União adota como razões para defender a


manuteção da sentença, o Parecer n.º 003/AJ/SEF, de 10 de janeiro de 2006, que
fundamenta a posição da Administração Militar a respeito da matéria,
concluindo que "por força da incompletude do respectivo período aquisitivo,
não faz jus o autor à indenização pelas férias proporcionais alusivas ao ano de
2016."

Passo ao julgamento do recurso.

Este Colegiado já teve oportunidade de apreciar inúmeras demanda


deste jaez, porém ajuizadas por militares que após o serviço militar obrigatório
permaneceram no serviço militar e passaram à inatividade na condição de
servidor militar.

Na hipótese dos autos, o autor foi incorporado em 01/03/2015 e


licenciado em 08/01/2016, tendo prestado serviço militar obrigatório pelo
período de 10 meses e 14 dias. O caso dos autos, portanto, revela situação
distinta daquelas até então examinadas por este Colegiado, pois após o serviço
militar inicial, o autor foi licenciado passando à reserva não remunerada
(soldado da reserva - 1ª Categoria - 1-OUT6).

Assim, a controvérsia cinge-se à existência (ou não) do direito a


indenização de férias não gozadas para aquele que prestou o serviço militar
inicial e foi licenciado antes de completar 12 meses.

Pois bem.

O inciso XVII do art. 7º c/c com o inciso VIII, do art. 142, ambos
da Constituição Federal, asseguram ao militar o direito a férias, além do
adicional de 1/3 sobre a remuneração:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:

(...)

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XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do
que o salário normal;

(...)

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

(...)

VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII,
XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma
da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea
"c"; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)

(...)

Assim, a Constituição Federal recepcionou os preceitos relativos às


férias, estabelecidos nos Estatutos Militares:

Art. 50. São direitos dos militares:

(...)

IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e


regulamentação específicas:

(...)

o) as férias, os afastamentos temporários do serviço e as licenças;

(...)

Art. 63. Férias são afastamentos totais do serviço, anual e obrigatoriamente


concedidos aos militares para descanso, a partir do último mês do ano a que se
referem e durante todo o ano seguinte.

(...)

Desse modo, o primeiro período aquisitivo de férias somente se


incorpora ao direito do militar após doze meses de atividade. Não é possível,
portanto, o gozo (concessão para descanso) de férias antes desse prazo mínimo
inicial.

Nesse passo, a MP 2.215-10, de 2001, assim dispôs:

Art. 2o Além da remuneração prevista no art. 1o desta Medida Provisória, os


militares têm os seguintes direitos remuneratórios:

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(...)

II - observada a legislação específica:

(...)

d) adicional de férias; e

(...)

Por sua vez, regulamentando o adicional de férias, o art. 80 do


Decreto 4.307, de 2002:

Art. 80. O adicional de férias será pago, antecipadamente, no valor


correspondente a um terço da remuneração do mês de início das férias.

§ 1o O militar excluído do serviço ativo, por transferência para a reserva


remunerada, reforma, demissão, licenciamento, no retorno à inatividade após a
convocação ou na designação para o serviço ativo, perceberá o valor relativo
ao período de férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de um
doze avos por mês de efetivo serviço, ou fração superior a quinze dias.

Como visto, o direito à férias é adquirido após o interregno


correspondente a doze meses, o qual se denomina 'período aquisitivo', ou seja,
por força do disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há que se falar em
concessão ou indenização de férias sem que o primeiro período aquisitivo esteja
completo.

No caso do licencimento ocorrer antes de completado o primeiro


período aquisitivo não haverá que se falar em pagamento de férias
proporcionais, apesar do que estabelece, isoladamente, o § 1º do art. 80 do
Decreto nº 4.307/2002. Na verdade, tal dispositivo disciplina o pagamento de
férias proporcionais àqueles que já lograram completar o período aquisitivo
inicial.

Assim, a sentença recorrida solucionou adequadamente a lide, em


consonância com a legislação de regência, não merecendo reparos.

Conclusão

O voto é por negar provimento ao recurso da parte autora.

A decisão da Turma Recursal assim proferida, no âmbito dos


Juizados Especiais, é suficiente para interposição de quaisquer recursos
posteriores.

O prequestionamento é desnecessário no âmbito dos Juizados

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Especiais Federais. Isso porque o Artigo 46 da Lei 9.099/95 dispensa a


fundamentação do acórdão.

Com isso, nos pedidos de uniformização de jurisprudência não há


qualquer exigência de que a matéria tenha sido prequestionada. Para o
recebimento de Recurso Extraordinário, igualmente, não se há de exigir, tendo
em vista a expressa dispensa pela lei de regência dos Juizados Especiais, o que
diferencia do processo comum ordinário.

Todavia, dou expressamente por prequestionados todos os


dispositivos indicados pelas partes nos presentes autos, para fins do art. 102, III,
da Constituição Federal, respeitadas as disposições do art. 14, caput e parágrafos
e art. 15, caput, da Lei nº 10.259, de 12.07.2001. A repetição dos dispositivos é
desnecessária, para evitar tautologia.

Condeno a parte recorrente vencida (art. 55 da Lei 9.099/1995) ao


pagamento de honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da
condenação ou, não havendo condenação, 10% sobre o valor da causa
atualizado. Em qualquer das hipóteses o montante não deverá ser inferior ao
valor máximo previsto na tabela da Justiça Federal para a remuneração dos
Advogados Dativos nomeados como auxiliares no âmbito dos JEFs (Resolução-
CJF nº 305/2014, Tabela IV). Exigibilidade suspensa em caso de deferimento da
gratuidade da justiça. A verba honorária é excluída caso não tenha havido
participação de advogado na defesa da parte autora assim como na hipótese de
não ter havido citação. Custas devidas pelo(a) recorrente vencido(a), sendo
isentas na hipótese de enquadrar-se no artigo 4º, inciso I ou II, da Lei nº
9.289/96.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso.

Documento eletrônico assinado por RODRIGO KOEHLER RIBEIRO, Juiz Relator, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26
de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
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Signatário (a): RODRIGO KOEHLER RIBEIRO
Data e Hora: 6/11/2019, às 18:1:42

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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul
Gab. Juíza Federal JOANE UNFER CALDERARO (RS-5B)

RECURSO CÍVEL Nº 5001609-48.2019.4.04.7103/RS


RELATOR: JUIZ FEDERAL RODRIGO KOEHLER RIBEIRO
RECORRENTE: BRUNO EDUARDO DEL RIO VIGNETTES (AUTOR)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

ADMINISTRATIVO. MILITAR. INDENIZAÇÃO DE


FÉRIAS NÃO GOZADAS. LICENCIAMENTO ANTES DE
COMPLETAR DOZE MESES DE SERVIÇO MILITAR
OBRIGATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.

1. O direito à férias é adquirido após o interregno correspondente a


doze meses, o qual se denomina 'período aquisitivo', ou seja, por
força do disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há que se falar
em concessão ou indenização de férias sem que o primeiro período
aquisitivo esteja completo.

2. No caso do licencimento ocorrer antes de completado o primeiro


período aquisitivo não haverá que se falar em pagamento de férias
proporcionais, apesar do que estabelece, isoladamente, o § 1º do
art. 80 do Decreto nº 4.307/2002. Na verdade, tal dispositivo
disciplina o pagamento de férias proporcionais àqueles que já
lograram completar o período aquisitivo inicial.

3. Recurso da parte autora a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

A 5ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul decidiu, por


unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Relator(a).

Porto Alegre, 28 de novembro de 2019.

Documento eletrônico assinado por RODRIGO KOEHLER RIBEIRO, Juiz Relator, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26
de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
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Data e Hora: 29/11/2019, às 15:11:20

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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL DA 4ª REGIÃO
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DE


28/11/2019

RECURSO CÍVEL Nº 5001609-48.2019.4.04.7103/RS


RELATOR: JUIZ FEDERAL RODRIGO KOEHLER RIBEIRO
PRESIDENTE: JUIZ FEDERAL ANDREI PITTEN VELLOSO
RECORRENTE: BRUNO EDUARDO DEL RIO VIGNETTES (AUTOR)
ADVOGADO: OSMAR FONTES (OAB RS102106)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Ordinária do dia 28/11/2019,
às 14:00, na sequência 283, disponibilizada no DE de 11/11/2019.

Certifico que a 5ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul, ao apreciar os autos do


processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão:
A 5ª TURMA RECURSAL DO RIO GRANDE DO SUL DECIDIU, POR
UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

RELATOR DO ACÓRDÃO: JUIZ FEDERAL RODRIGO KOEHLER RIBEIRO


VOTANTE: JUIZ FEDERAL RODRIGO KOEHLER RIBEIRO
VOTANTE: JUIZ FEDERAL ANDREI PITTEN VELLOSO
VOTANTE: JUIZ FEDERAL GIOVANI BIGOLIN

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