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22 de Fevereiro de 2023

O Decreto n.° 9.412/18 e as hipóteses de licitação


dispensável em razão do valor

aplicação dos montantes em regime proporcional ou integral para o


exercício de 2018?

Publicado por Guilherme Ap. da Rocha há 5 anos  1.544 visualizações

INTRODUÇÃO

A Lei de Licitações e Contratos Administrativos sofre críticas


das mais variadas esferas. Uma delas atingia especificamente os
valores atinentes à licitação dispensável, haja vista a
desatualização dos limites previstos, que por mais de duas
décadas não receberam atenção da Administração Pública
Federal.

Com a publicação do Decreto n.º 9.412/18, fundamentado no


artigo 120 da Lei n.º 8.666/93, foram atualizados os montantes
que balizam a utilização das modalidades licitatórias e,
consequentemente, vários dispositivos que lhes são diretamente
relacionados.

A presente pesquisa foi desenvolvida ao cabo de três capítulos.


O primeiro aborda a possibilidade jurídica de atualização dos
valores do artigo 23 da Lei n.º 8.666/93 por meio de Decreto,
medida que foi adota de modo inédito em relação à lei em
referência.
O segundo capítulo indica as consequências das mudanças
promovidas nos incisos I e II do artigo 23 da Lei n.º 8.666/93,
mediante análise dos dispositivos que lhe são consectários.

No terceiro capítulo a abordagem recai sobre os casos de


licitação dispensável em razão do valor. Como a mudança
ocorreu no curso do exercício financeiro de 2018, há que se
indagar sobre o modo de aplicação dos novos limites.
Precisamente, o problema de pesquisa indaga acerca da
aplicação integral ou proporcional dos novos montantes.

O objetivo da pesquisa é apontar caminhos à aplicação dos


novos montantes impostos para a licitação dispensável em razão
do valor, notadamente os previstos nos incisos I e II do artigo
24 da Lei n.º 8.666/93, abordagem que se justifica para evitar o
uso inadequado das hipóteses de aquisição direta.

O método de abordagem utilizado na pesquisa foi o dialético


jurídico, notadamente para o confronto entre as possíveis
aplicações dos novos limites de licitação dispensável para o
exercício financeiro de 2018, paralelamente aos métodos de
pesquisa bibliográfico e documental.

1. DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DE ATUALIZAÇÃO


DOS VALORES DO ARTIGO 23 (E CONSECTÁRIOS) DA
LEI N.º 8.666/93 POR MEIO DE DECRETO

A Administração Pública brasileira é carregada de práticas


ortodoxas que se repetem sem que se avalie periodicamente a
manutenção do respectivo fundamento de validade – se
remanesce perante o ordenamento jurídico, verbi gratia. Por
outro lado, o desuso de possibilidades legais conduz, em não
raras oportunidades, à conclusão acerca da sua impossibilidade,
como se o tempo pudesse suprimir a vigência de normas
cunhadas de permanência.
No caso da Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, um dos seus
artigos permaneceu figurativo até junho de 2018. Precisamente,
o artigo 120, que viabilizava instrumento vital ao referido
conjunto normativo, somente foi utilizado após décadas. No
período – de desuso –, não é ousadia supor incontáveis
prejuízos à Administração, como a execução de procedimentos
licitatórios morosos e dispendiosos ao invés da aquisição direta,
em razão da desatualização monetária do texto estável –
constante dos incisos I e II do artigo 23 da referida lei.

A desatualização dos valores utilizados como parâmetro à


adoção das modalidades licitatórias (e consectários) previstos
na Lei n.º 8.666/93 sofria crítica constante. O enfrentamento
cotidiano da perda de eficiência em decorrência da estagnação
do texto legal foi diretamente suportado pelos departamentos
de licitação das esferas públicas nacionais, e atingiu, em última
análise, o grupo social destinatário dos serviços públicos.

A redação que previa os valores que deveriam ser utilizados


como balizas à utilização das modalidades licitatórias – e,
consequemente, às hipóteses de licitação dispensável – foram
alterados, por meio de lei, em 1998, oportunidade na qual foram
convertidos para reais os montantes ainda previstos em
cruzeiros.

Diante disso, pode causar estranheza a modificação atual,


promovida por meio de Decreto, haja vista o objeto deste, que
não pode inovar em relação ao texto legal. Regulamento, nesse
contexto, é o
ato geral e (de regra) abstrato de competência
privativa do Chefe do Poder Executivo, expedido com a
estrita finalidade de produzir as disposições
operacionais uniformizadoras necessárias à execução
de lei cuja aplicação demande atuação da
Administração Pública[1]. (grifo do autor)

Ao analisar a finalidade dos regulamentos, Marcelo de Carvalho


bem afirma que “só há que se falar em regulamento quando
existir espaço para a atuação da Administração”[2]. Para ele,
quando não há espaço de atuação, consequentemente também
não há que cogitar da necessidade do regulamento[3].

No caso da Lei n.º 8.666/93, o espaço de atuação para


Administração foi explicitamente inserido no artigo 120, que
prevê:

Art. 120. Os valores fixados por esta Lei poderão ser


anualmente revistos pelo Poder Executivo Federal, que
os fará publicar no Diário Oficial da União,
observando como limite superior a variação geral dos
preços do mercado, no período.

Trata-se de faculdade, conforme menciona Marçal Justen


Filho[4], que finalmente foi exercida pelo Presidente da
República. Não obstante a possibilidade legal e a hialina
necessidade, nenhum Presidente havia utilizado esse caminho
para operar a atualização de valores, realidade modificada por
meio do Decreto n.º 9.412, de 18 de junho de 2018.

A necessidade, aliás, foi evidenciada por meio da Nota Técnica


n.º 1.081/2017, editada no âmbito do Ministério da
Transparência e Controladoria-Geral da União, que constatou,
entre junho de 1998 – data da promoção da última modificação
nos valores do artigo 23 da Lei n.º 8.666/93 – e maio de 2017 –
data de elaboração da Nota Técnica –, uma variação superior a
230% (duzentos e trinta por cento)[5].

A Nota Técnica n.º 1.081/2017 demonstra a relevância de


elevação das balizas licitatórias para viabilizar a economia de
recursos públicos, haja vista a necessidade execução de
procedimentos para aquisição de obras, produtos e serviços ao
invés da contratação de modo célere e módico, isto é, mediante
dispensa de licitação[6].

O Decreto em comento possui somente 2 dispositivos. O


primeiro atualiza os valores previstos nos incisos I e II do artigo
23 da Lei n.º 8.666/93 e o segundo é a cláusula de vigência,
marcada para 30 (trinta) dias após a publicação. Ou seja,
precisamente, em 19 de julho de 2018[7].

Com as atualizações a comparação entre os valores novos e


antigos (previstos para os incisos I e II do artigo 23 da Lei n.º
8.666/93) fica estabelecido nos seguintes termos:

a) para obras e serviços de engenharia:

a.1) o convite, que antes poderia ser utilizado até R$


150.000,00, passa a poder ser utilizado até R$ 330.000,00;

a.2) a tomada de preços, que antes poderia ser utilizada até R$


1.500.000,00, passa a poder ser utilizada até R$ 3.300.000,00;

a.3) concorrência, que antes deveria ser utilizada acima de R$


1.500.000,00, passa a ser obrigatória acima de R$
3.300.000,00;

b) para outras compras e serviços:


a.1) o convite, que antes poderia ser utilizado até R$ 80.000,00,
passa a poder ser utilizado até R$ 176.000,00;

a.2) a tomada de preços, que antes poderia ser utilizada até R$


650.000,00, passa a poder ser utilizada até R$ 1.430.000,00;

a.3) concorrência, que antes deveria ser utilizada acima de R$


650.000,00, passa a ser obrigatória acima de R$ 1.430.000,00.

Com a atualização dos valores previstos no artigo 23 da Lei de


Licitações e Contratos Administrativos vários dispositivos
consectários sofrem alterações, conforme análise indicada a
seguir.

2. DISPOSITIVOS CONSECTÁRIOS DOS INCISOS I E II


DO ARTIGO 23 DA LEI N.º 8.666/93

As mudanças operacionalizadas em decorrência do conteúdo


normativo do Decreto n.º 9.412/18 extrapolam os limites do
artigo 23 da Lei n.º 8.666/93, haja vista que há uma série de
dispositivos que são dependentes dos valores nele previstos.

O primeiro dispositivo que sofre modificação em virtude da


alteração promovida pelo Decreto Presidencial é o inciso V, do
artigo 6º, da Lei n.º 8.666/93.

Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se:

[...]

V - Obras, serviços e compras de grande vulto - aquelas


cujo valor estimado seja superior a 25 (vinte e cinco)
vezes o limite estabelecido na alínea c do inciso I do art.
23 desta Lei.
Com a mudança, o que se considera obra, serviço e compra de
grande vulto passa a ser aquele que supera o patamar de R$
82.500.000,00 (oitenta e dois milhões e quinhentos mil reais)
[8].

O limite para a adoção do leilão para venda de bens móveis


passa a ser de R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e
trinta mil reais)[9], haja vista a previsão do § 6º do artigo 17 da
Lei de Licitações:

Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública,


subordinada à existência de interesse público
devidamente justificado, será precedida de avaliação e
obedecerá às seguintes normas:

[...]

§ 6º Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou


globalmente, em quantia não superior ao limite
previsto no art. 23, inciso II, alínea b desta Lei, a
Administração poderá permitir o leilão.

Nos casos de licitação dispensável, previstos no artigo 24 da Lei


n.º 8.666/93, três incisos são atingidos pela mudança no
dispositivo antecedente (precisamente, os incisos I, II e XXI).

A principal mudança, fruto, inclusive, da provocação do


Ministério da Transparência e da Controladoria Geral da União,
é a decorrente da licitação dispensável em razão do valor, nos
termos dos incisos I e II do artigo 24 da Lei de Licitações, que
prevê:

Art. 24. É dispensável a licitação:


I - para obras e serviços de engenharia de valor até
10% (dez por cento) do limite previsto na alínea a, do
inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a
parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para
obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local
que possam ser realizadas conjunta e
concomitantemente;

II - para outros serviços e compras de valor até 10%


(dez por cento) do limite previsto na alínea a, do inciso
II do artigo anterior e para alienações, nos casos
previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas
de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior
vulto que possa ser realizada de uma só vez.

A partir de agora, os novos valores para as referidas hipóteses


de licitação dispensável são os seguintes:

a) R$ 33.000,00 (trinta e três mil reais), para obras e serviços


de engenharia[10];

b) R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais), para outras


compras e serviços[11].

No caso de dispensa de licitação de produtos para pesquisa e


desenvolvimento, o novo limite é de R$ 660.000,00 (seiscentos
e sessenta mil reais)[12], em consequência do que prevê o inciso
XXI, do artigo 24, da Lei n.º 8.666/93:

Art. 24. É dispensável a licitação:

[...]
XXI - para a aquisição ou contratação de produto para
pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras
e serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do
valor de que trata a alínea b do inciso I do caput do art.
23.

Outro dispositivo que utiliza a base modificada pelo Decreto


9.412/18 é o artigo 39 da Lei de Licitações, que prevê:

Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma


licitação ou para um conjunto de licitações simultâneas
ou sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o limite
previsto no art. 23, inciso I, alínea c desta Lei, o
processo licitatório será iniciado, obrigatoriamente,
com uma audiência pública concedida pela autoridade
responsável com antecedência mínima de 15 (quinze)
dias úteis da data prevista para a publicação do edital,
e divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez)
dias úteis de sua realização, pelos mesmos meios
previstos para a publicidade da licitação, à qual terão
acesso e direito a todas as informações pertinentes e a
se manifestar todos os interessados.

Portanto, consideram-se licitações de grande vulto as que


superem R$ 330.000.000,00 (trezentos e trinta milhões de
reais)[13], para as quais continua necessária a realização de
audiência pública.

No caso das contratações verbais, o limite sobe a R$ 8.800,00


(oito mil e oitocentos reais)[14], nos termos do parágrafo único,
do artigo 60 da Lei n.º 8.666/93:

Art. 60. [...]


Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato
verbal com a Administração, salvo o de pequenas
compras de pronto pagamento, assim entendidas
aquelas de valor não superior a 5% (cinco por cento) do
limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea a desta
Lei, feitas em regime de adiantamento.

O limite para dispensa do recebimento provisório de obras e


serviços também foi alterado. Ele passa a ser de R$ 176.000,00
(cento e setenta e seis mil reais)[15], por consequência do que
prevê o inciso III, do artigo 74, da Lei de Licitações:

Art. 74. Poderá ser dispensado o recebimento


provisório nos seguintes casos:

[...]

III - obras e serviços de valor até o previsto no art. 23,


inciso II, alínea a, desta Lei, desde que não se
componham de aparelhos, equipamentos e instalações
sujeitos à verificação de funcionamento e
produtividade.

Não obstante todas as alterações decorrentes da atualização dos


valores previstos no artigo 23 da Lei n.º 8.666/93, as que
demandam maior atenção decorrem do artigo 24, que
disciplinam casos de licitação dispensável em razão do valor,
assunto que será abordado na sequência.

3. NOVOS VALORES PARA A LICITAÇÃO


DISPENSADA: APLICAÇÃO PROPORCIONAL OU
INTEGRAL (DOS NOVOS VALORES) PARA O
EXERCÍCIO DE 2018?
Não há dúvida quanto à possibilidade jurídica de atualização
dos valores constantes do artigo 23 da Lei n.º 8.666/93, nem da
automática atualização dos limites à licitação dispensada. No
último caso, Diogenes Gasparini há muito já informava:

O valor de R$ 150.000,00, instituído, na hipótese, como


teto, nos termos do art. 120 do Estatuto, pode ser
revisto pelo Executivo federal, observada como limite
superior a variação geral dos preços do mercado, no
período, acarretando, se isso acontecer, a alteração do
limite de dispensabilidade. Esses e os valores
decorrentes da revisão são obrigatórios para Estados-
Membros, Distrito Federal e Municípios, que, no
entanto, podem fixar limites menores.[16]

Também não há dúvida quanto aos certames iniciados após a


vigência do Decreto, que devem ser executados em observância
aos novos valores. Mas questão interessante atine às hipóteses
de dispensa de licitação pelo valor, que decorrem dos incisos I e
II do artigo 24 da Lei n.º 8.666/93, a partir da qual duas
possíveis interpretações podem ser extraídas em decorrência da
mudança operacionalizada pelo Decreto n.º 9.412/18.

A primeira, de que suas normas se aplicam integralmente a


partir da vigência. Em outras palavras, significa que a
Administração Pública terá os novos limites integralmente
aplicáveis já para o exercício em curso. Desse modo, o ente
público que, até 18 de julho de 2018, já havia gasto valores
correspondentes à totalidade da licitação dispensada ganhará
um saldo de mais R$ 18.000,00 (dezoito ml reais) – no caso de
obras e serviços de engenharia[17] – ou de mais R$ 9.600,00
(nove mil e seiscentos reais) – no caso de outras compras ou
serviços[18].
A segunda, de modo diverso, pondera para a necessidade de
aplicação proporcional de valores, considerada a data de início
de vigência do instrumento normativo que atualizou os valores
em análise. Desse modo, deveria haver aplicação proporcional
dos valores em relação ao número de meses remanescentes em
2018, caso em que a incidência integral ocorreria apenas para o
exercício de 2019.

Pesa a favor da primeira interpretação a desatualização


demonstrada pelo Ministério da Transparência e Controladoria-
Geral da União e a imperiosa e imediata necessidade de
correção do impasse. Por essa ótica não haveria razão para
postergar (apenas) para 2019 a incidência completa dos novos
valores.

Por outro lado, estender de modo singelo o limite estabelecido


pode livrar do ilícito o agente público que já tenha extrapolado
esse patamar quando do início da vigência do Decreto em
análise, ou acudir o planejamento inadequado, inclusive o que
já estava na iminência de romper as zonas limítrofes da licitação
dispensável.

Para estabelecer o valor proporcional aplicável ao exercício de


2018, caso se conclua pela adequação da segunda linha de
interpretação do Decreto n.º 9.412/18, é necessário realizar
algumas operações matemáticas simples.

Se o montante de R$ 33.000,00 (ou R$ 17.600,00) é o limite


para licitações dispensáveis durante um exercício financeiro,
primeiro deve-se dividir este valor por 365 dias. O total da
operação é R$ 90,41 para obras e serviços de engenharia, e de
R$ 48,21 para outras compras e serviços[19].
Contados a partir de 19 de julho – data de início da vigência do
Decreto n.º 9.412/18 –, restam 166 (cento e sessenta e seis dias)
dias para o término do exercício financeiro de 2018[20]. Essa
quantidade multiplicada pelo valor diário obtido nas operações
anteriores, gera o resultado de R$ 15.008,06 (quinze mil, oito
reais e seis centavos) em relação às obras e serviços de
engenharia, e de R$ 8.002,86 (oito mil, dois reais e oitenta e
seis centavos) em relação às outras compras e serviços.

Em análise superficial pode parecer que basta a somatória


desses valores ao montante previsto pela legislação anterior, o
que geraria os valores de R$ 30.008,06 (trinta mil, oito reais e
seis centavos) para obras e serviços de engenharia e R$
16.002,86 (dezesseis mil, dois reais e oitenta e seis centavos)
para outras compras e serviços. Mas essa premissa é
equivocada, porque o montante anterior também deve ser
calculado proporcionalmente em relação ao período
remanescente do exercício de 2018, haja vista o decurso parcial
do exercício[21].

Nesse contexto, devem ser realizadas as operações feitas


anteriormente em relação aos novos valores, ou seja, deve-se
calcular o valor diário em relação aos valores da legislação
anterior e, na sequência, subtraí-los dos valores proporcionais
fixados pela nova legislação. É somente dessa forma que a
diferença real poderá ser obtida.

Ao dividir R$ 15.000,00 (quinze mil reais) por 365 dias, obtém-


se o total de R$ 41,09 (quarenta e um reais e nove centavos). Já
a divisão de R$ 8.000,00 (oito mil reais) por 365 dias gera o
resultado de R$ 21,91 (vinte e um reais e noventa e um
centavos). Esses valores diários, multiplicados pelos dias
remanescentes do exercício de 2018 – 166 dias, como
mencionado – resultam, para obras e serviços de engenharia, no
montante de R$ 6.820,94 (seis mil, oitocentos e vinte reais e
noventa e quatro centavos), e para outras compras e serviços, no
importe de R$ 3.637,06 (três mil, seiscentos e trinta e sete reais
e seis centavos).

Os montantes proporcionais fixados pela legislação anterior,


subtraídos dos montantes proporcionais estabelecidos pelo
Decreto n.º 9.412/18 geram os seguintes resultados: R$
8.187,12 (oito mil, cento e oitenta e sete reais e doze centavos)
para obras e serviços de engenharia, e R$ 4.365,80 (quatro mil,
trezentos e sessenta e cinco reais e oitenta centavos) para outras
compras e serviços.

Esses valores devem ser somados aos limites (totais)


estabelecidos pela legislação anterior, de modo objetivo, haja
vista a necessidade de salvaguarda do princípio da isonomia,
bem como a impossibilidade de previsão da mudança no
período anterior à publicação do Decreto n.º 9.412/18. Com
efeito, não se pode calcular de modo diverso os montantes
proporcionais em decorrência de ter o ente público já
consumido, ou não, o total permitido para licitações
dispensáveis.

Por isso, em termos proporcionais, os valores para o exercício


de 2018 são de:

a) R$ 23.195,18 (vinte e três mil, cento e noventa e cinco reais e


dezoito centavos), para obras e serviços de engenharia;

b) R$ 12.368,66 (doze mil, trezentos e sessenta e oito reais e


sessenta e seis centavos), para outras compras e serviços.

A Administração Pública deve estar atenta à possibilidade


aventada, notadamente em vista das implicações decorrentes da
aplicação inadequada da licitação dispensada. Por isso muitos
devem optar pela precaução e ainda resistirem ao uso da
integralidade dos novos valores admitidos para as aquisições
diretas em 2018.

O Decreto n.º 9.412/18 poderia ter explicitado a aplicação,


retroagindo efeitos da norma para janeiro de 2018 (caso em que
se evidenciaria a incidência integral para este exercício), ou
postergando-os para janeiro do exercício subsequente, ainda
que especificamente em relação às hipóteses de licitação
dispensável. Como não o fez, cabe aos intérpretes do Direito
fixar o modo mais adequado à utilização das novas balizas.

É possível cogitar se a vacatio de 30 (trinta) dias não é um sinal


acerca da aplicação proporcional para o exercício de 2018. Mas
a resposta negativa é a mais provável, pois a vacatio destina-se
mais à programação das licitações, que agora observam novas
balizas valorativas, e menos aos consectários das mudanças
promovidas nos incisos I e II do artigo 23 da Lei n.º 8.666/93.

CONCLUSÕES

Ao final da presente pesquisa conclui-se pela clara possibilidade


de utilização do Decreto como instrumento de atualização dos
valores previstos na Lei de Licitações e Contratos
Administrativos, seja em decorrência da natureza do instituto,
bem como em virtude de expressa autorização constante do
texto legal.

Os novos valores dos incisos I e II do artigo 23 da Lei n.º


8.666/93, fixados após mais de duas décadas de estagnação,
superam o dobro dos montantes anteriores, o que se mostra
razoável e tem o condão de evitar a realização de procedimentos
licitatórios que muitas vezes superam o custo da economia
obtida, como bem indicou o Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União, por meio da Nota Técnica n.º
1.081/2017.

Em razão das mudanças promovidas pelo Decreto n.º 9.412/18,


vários dispositivos consectários tiveram suas balizas
modificadas, como:

o artigo 6º, V; artigo 17, § 6º; artigo 24, I, II e XXI; artigo 39;
artigo 60; e artigo 74. Destes, o que chama maior atenção é o
artigo 24, em relação às hipóteses de licitação dispensável em
razão do valor.

Com o início da vigência do Decreto n.º 9.412/18, duas


interpretações podem ser extraídas em relação aos novos
patamares aplicáveis às hipóteses de licitação dispensável. O
primeiro indica a incidência integral no novo montante para o
exercício financeiro em curso (R$ 33.000,00 para obras e
serviços de engenharia, e R$ 17.600,00 para outras compras e
serviços). Já o segundo pondera a necessidade de uma aplicação
proporcional para o exercício de 2018 (R$ 23.195,18 para obras
e serviços de engenharia, e R$ 12.368,66 para outras compras e
serviços), e integral a partir de 2019.

A prudência recomenda a aplicação proporcional, não obstante


o texto vigente do Decreto n.º 9.412/18 não tenha estipulado
aludida necessidade. A hipótese aventada considera a
programação orçamentária continuada, que receberia um alento
proporcional em 2018 para, em 2019, ser integralmente
balizada pelos novos parâmetros.

Não obstante, a presente pesquisa não tem o condão de lançar


uma inclinação definitiva ao problema, mas sim de provocar
possíveis leituras que permearão a análise da gestão pública em
sede de controle interno e externo, bem como de buscar a
melhor maneira de tutelar o erário.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto n.º 9.412, de 18 de junho de 2018. Atualiza os


valores das modalidades de licitação de que trata o art. 23 da
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito


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[1] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito


Administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 339.

[2] Carvalho, Marcelo de. O decreto regulamentar como


atividade legislativa do poder executivo. Revista Jurídica "9 de
Julho", n.1, São Paulo, 2002, pp. 117-128. Disponível em:
<https://www.al.sp.gov.br/alesp/biblioteca-digital/obra/?
id=358>. Acesso em 12 jul. 2018, p. 120.

[3] Idem, ibidem.

[4] JUSTEN FILHO, Marçal Justen. Comentários à lei de


licitações e contratos administrativos. 13. ed. São Paulo:
Dialética, 2009, P. 914.

[5] BRASIL. Ministério da Transparência e Controladoria-Geral


da União. Nota Técnica n.º 1.081/2017/CGPLAG/DG/SFC.
Processo n.º 00190.106218/2017-33. Disponível em:
<http://www.cgu.gov.br/noticias/2017/07/cgu-divulga-estudo-
sobre-eficiência-dos-pregoes-realizados-pe.... Acesso em:
12/07/2018.

[6] Idem, ibidem.

[7]Nos termos do § 1º do art. 8º da Lei Complementar n.º


95/98, a “contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data
da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no
dia subsequente à sua consumação integral”. Com efeito,
constata-se que a publicação do Decreto n.º 9.412/18 foi
realizada em 19 de junho de 2018, no Diário Oficial da União.

[8] Em substituição ao valor anterior, que era de R$


37.500.000,00 (trinta e sete milhões e quinhentos mil reais).

[9] E não mais de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil


reais).

[10] Em substituição ao montante anterior, de R$ 15.000,00


(quinze mil reais).

[11] Em substituição ao montante anterior, de R$ 8.000,00


(oito mil reais).

[12] Em substituição ao montante anterior, de R$ 300.000,00


(trezentos mil reais).

[13] Em substituição ao montante anterior, de R$


150.000.000,00 (cento e cinquenta milhões de reais).

[14] Em substituição ao montante anterior, de R$ 4.000,00


(quatro mil reais).

[15] Em substituição ao montante anterior, de R$ 80.000,00


(oitenta mil reais).

[16] GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 14 ed. São


Paulo: Saraiva, 2009, p. 527.

[17] Valor obtido mediante a subtração de R$ 15.000,00 do


novo limite de dispensa (R$ 33.000,00).
[18] Valor obtido mediante a subtração de R$ 8.000,00 do novo
limite de dispensa (R$ 17.600,00).

[19] As operações consideram até a segunda casa após a vírgula,


exclusivamente, para evitar qualquer cálculo que possa ensejar,
ainda que minimamente, a extrapolação dos valores
estabelecidos pela legislação.

[20] Valor obtido mediante a somatória de 13 dias do mês de


julho, mais 31 dias do mês de agosto; 30 dias do mês de
setembro; 31 dias do mês de outubro; 30 dias do mês de
novembro; e 31 dias do mês de dezembro.

[21] O cálculo não considera o período já decorrido, pois


qualquer aplicação dessa natureza geraria um elemento de
surpresa (e possível prejuízo imprevisível) ao gestor, o que não
se pode admitir.

Disponível em: https://guilhermerocha.jusbrasil.com.br/artigos/603293295/o-decreto-n-9412-


18-e-as-hipoteses-de-licitacao-dispensavel-em-razao-do-valor

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