Você está na página 1de 15

A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS

REFUGIADAS

A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS REFUGIADAS


Revista de Direito Educacional | vol. 4/2011 | p. 171 - 192 | Jul - Dez / 2011
DTR\2011\5286

Olívia Cerdoura Garjaka Baptista


Doutora em Direito do Estado pela PUC-SP. Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP.
Professora Universitária nas disciplinas Direitos Humanos, Direito Internacional, Direito
Constitucional, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Ambiental e Arte e Direito. Idealizadora e
Professora Responsável por Grupos de Estudos na área de Direitos Humanos. Idealizadora e
Professora Responsável pelo Projeto Ciranda Cultural. Coordenadora e Pesquisadora do Curso de
Direito da UW.

Área do Direito: Constitucional; Internacional


Resumo: Os refugiados representam um grupo vulnerável. As crianças refugiadas compõem um
subgrupo mais vulnerável, em virtude de seu peculiar estágio de desenvolvimento. Em virtude disso,
as crianças refugiadas podem ter os seus direitos fundamentais violados com maior facilidade, o que
justificou uma preocupação na esfera internacional da qual resultou a proteção específica dos
direitos das mesmas.

Palavras-chave: Crianças - Refúgio - Proteção - Direitos humanos


Abstract: Refugees are a vulnerable group. Refugee children constitute a vulnerable subgroup, by
virtue of their unique stage of development. As a result, refugee children may have violated their
fundamental rights more easily, which justified a concern in the international arena that resulted in
specific protection of their rights.

Keywords: Children - Shelter - Protection - Human rights


Sumário:

1. INTRODUÇÃO - 2. A CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE PESSOAS E O REFÚGIO - 3. A


PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS REFUGIADAS - 4. CONCLUSÃO

1. INTRODUÇÃO
1
Durante o século XX, o mundo foi palco de inaceitáveis violações aos direitos humanos, sendo que
a guerra tomou proporções mundiais e seus efeitos foram igualmente devastadores. 2

A eclosão de conflitos armados e a promoção de guerras baseadas em objetivos pura ou


predominantemente econômicos, guerras estas marcadas pela desconsideração da dignidade
humana, possibilitaram a intensa violação de direitos fundamentais, o deslocamento em massa de
pessoas bem como extermínio de milhões de pessoas inocentes.

Em diversos pontos do planeta, conflitos armados foram realizados de forma a afastar a ideia da paz
como uma realidade factível. 3

O século XXI também tem o seu início marcado por conflitos armados, internos e internacionais, que
provocaram, e provocam, a contínua violação de direitos humanos de milhares de pessoas ao redor
do mundo.

Neste artigo, nosso foco de estudo será delimitado pela questão dos refugiados, 4 que se
caracterizam como pessoas que, em razão de perseguições, precisam sair de seu território de
origem ou de residência em busca de proteção. 5 Assim, os refugiados apresentam um elevado grau
de vulnerabilidade.

Destaque especial será conferido à situação das crianças refugiadas, tendo em vista que se os
refugiados, de uma maneira geral, já se encontram em situação de vulnerabilidade, as crianças
refugiadas representam um subgrupo detentor de maior fragilidade.

Conforme informação divulgada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(doravante referido como Acnur), 6 normalmente mais da metade da população de refugiados é
composta por crianças. Este é um dado alarmante que merece análise mais detida.
Página 1
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

A proposta deste artigo é analisar a relevância da tutela internacional das crianças refugiadas, tendo
em vista o maior grau de vulnerabilidade a que estas estão sujeitas enquanto sujeitos que buscam o
refúgio.

Para tanto, apresentaremos a circulação internacional de pessoas como fenômeno humano que
merece uma análise mais detalhada. Em seguida, analisaremos a especial necessidade de proteção
que apresentam as crianças refugiadas à luz dos princípios da não discriminação, do superior
interesse da criança, da participação da criança e da unidade familiar. Por fim, serão abordados os
desafios e perspectivas atuais no tocante à tutela dos direitos das crianças refugiadas.

2. A CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE PESSOAS E O REFÚGIO

A circulação internacional é caracterizada pelo deslocamento de uma pessoa, ou de um grupo de


pessoas, entre países diversos, e tem como principal fator propulsor a busca por melhores condições
de vida.

Tendo em vista a relação de uma pessoa para com um determinado Estado, é possível traçar a
diferença entre o nacional o estrangeiro. Nacional é aquele ser humano que tem um vínculo
político-jurídico com um determinado Estado.

Assim, a nacionalidade pode ser conceituada como o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a
determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, em
razão disso, desfrute de direitos e se submeta a obrigações. 7 Em contrapartida, o estrangeiro é o
indivíduo não nacional, isto é, é aquele que não mantém tal vínculo com um determinado Estado. 8

Cumpre destacar que na Antiguidade o estrangeiro não era sujeito de direito. Como exemplos da
discriminação feita em relação ao estrangeiro citamos as lições de Irineu Strenger, 9 segundo o qual
a Índia antiga era considerada como “terra santa” e todos os que nascessem fora de seu território
eram tidos como impuros.

Já Almachio Diniz 10 esclareceu que em Roma o estrangeiro, denominado hostis (inimigo), era
subjugado, sendo que os prisioneiros de guerra eram tidos como propriedade dos vencedores.
11
A princípio a situação jurídica do estrangeiro foi marcada por uma intensa xenofobia, tendo sido
caracterizada, em geral, pela ausência de tutela jurídica do “não nacional”.

Com o passar dos séculos a situação do estrangeiro foi lentamente sofrendo relevantes alterações,
12
sendo certo afirmar que, na atualidade, o estrangeiro é sujeito de direto em diversas partes do
mundo.

Luis Varese, 13 lembra que até 1914 não existia passaporte e que não existia a exigência de intensa
documentação para as pessoas que desejassem circular entre os diferentes países. Este mesmo
autor indica que foi a partir da Primeira Guerra Mundial que o deslocamento internacional de pessoas
começou a ser burocratizado.

Atualmente uma pessoa, ao sair de seu país e ingressar em outro, deve observar as regras de
ingresso, de permanência e de saída elaboradas por este outro Estado, sob pena de ter a sua
deportação decretada. 14

Destacamos, ainda que os atentados terroristas realizados em 11 de setembro promoveram, em


diversos países, um recrudescimento das regras sobre o ingresso e a permanência de estrangeiro. 15

Importante destacar que o fato de uma pessoa ingressar em outro país sem portar a documentação
exigida ou entrar de maneira regular e, em virtude da inobservância de determinada regra, sua
permanência se tornar irregular, não justifica a prática de atos arbitrários.

Angel G. Checa Sancho 16 abordou este tema, criticando a visão, segundo a qual, contra a imigração
ilegal vale tudo. Referido autor defende que os direitos humanos do estrangeiro devem ser
preservados sempre, e as regras jurídicas referentes à deportação devem ser observadas.

A respeito das migrações, Luis Varese 17 esclarece que nos encontramos em um momento histórico
marcado pelo extremo da criminalização do migrante e daquele que o ajuda.

Página 2
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

Rosita Milesi 18 destaca que a pessoa que migra para um outro país é tão humana quanto qualquer
cidadão do país escolhido por ela para lutar por melhores condições de vida. Em virtude disso, é
preciso que se promova uma mudança na maneira de olhar o estrangeiro. Este não deve ser tratado
como uma ameaça ou como um fardo, mas como um ser humano dotado de dignidade e que deve
ser considerado e respeitado em sua singularidade. 19

Neste sentido, destacamos que todos os seres humanos são dotados de dignidade humana e são,
portanto, iguais em dignidade. Em virtude disso todos eles devem ter seus direitos fundamentais
assegurados. 20

Retomando as valiosas lições de Immanuel Kant, 21 defendemos que os seres humanos devem ser
tratados de acordo com base na hospitalidade universal.

Sendo membros da família humana, todos os homens devem ser reconhecidos como titulares da
denominada “cidadania universal” 22 que, segundo Rosita Milesi, 23 seria configurada como o
conjunto de direitos inalienáveis, intrínsecos a todo ser humano, cujo respeito e proteção não podem
divergir em virtude do local de nascimento ou da nacionalidade da pessoa. Ainda segundo a referida
autora, nenhum país tem o direito de violar ou desconsiderar a cidadania universal, pois esta é
composta por direitos fundamentais.

Lembramos que em diversos casos, as pessoas que se deslocam internacionalmente partem de seu
país de origem em virtude de perseguições que colocam em risco a sua vida, a sua saúde e a sua
segurança. Constata-se, pois, que um grande número de pessoas, que se deslocam
internacionalmente, o fazem em busca de refúgio.

Os refugiados são pessoas que se diferenciam dos deslocados internacionais classificados como
“migrantes tradicionais”. Em geral os migrantes tradicionais têm o seu deslocamento motivado por
questões econômicas, isto é, estes migrantes partem em busca de melhores condições de vida. Já
os refugiados fogem em virtude de fundado temor de perseguição em busca da preservação da sua
vida. 24

Para evitar o desgaste diplomático entre os países, o refúgio é classificado como um instituto
apolítico e humanitário. Há a preocupação com a satisfação das necessidades básicas dos
refugiados que incluem, mas não se restringem a alimentação, moradia, educação e saúde. 25

Reconhecendo a necessidade de proteção internacional dos refugiados, a Assembleia Geral das


Nações Unidas aprovou em 1951 a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados.

A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, em seu art. 1.º, definiu o alcance da palavra
refugiado, tendo expressamente apresentando duas espécies de limitação, quais sejam: (a) limitação
geográfica – o termo refugiados só se aplica para acontecimentos ocorridos na Europa ou alhures; e
(b) limitação temporal – a palavra refugiados só se aplica às pessoas que temendo ser perseguida
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontravam fora
do país de sua nacionalidade, 26 ou que, se não tinham uma nacionalidade, e se encontra fora do
país no qual tinha sua residência habitual, desde que este deslocamento entre países tivesse sido
motivado por fatos ocorridos antes de 01.01.1951.

Tais limitações deixaram claro que a elaboração da Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados
representou uma clara reação às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial e que
culminou com o assustador aumento no número de pessoas deslocadas.

Acerca do conceito de refugiados, cumpre destacar que em 1967 foi adotado o Protocolo Relativo ao
Estatuto dos Refugiados, retirando as reservas geográfica e temporal.

Cumpre destacar, ainda, que a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados estabelece que o
temor de perseguição que justifica a concessão de refúgio deve ser motivado pela raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. 27

Destacamos, entretanto, que a Declaração de Cartagena de 1984 abordou a necessidade de


ampliação das causas que justificam a concessão de refúgio, 28 para incluir, também, as pessoas
que tenham fugido dos seus países porque a sua vida, sua segurança ou sua liberdade tenham sido
ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira, por conflitos internos, pela violação
Página 3
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

maciça dos direitos humanos ou por outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a
ordem pública. 29

Como não há uma clara definição do que constitui a perseguição, 30 deve--se verificar, durante o
procedimento de análise do pedido de concessão de refúgio, 31 se a pessoa apresenta uma fala com
coerência e credibilidade. E também, na medida do possível, deve-se procurar obter provas de que
os fatos alegados são verdadeiros. 32

Destacamos, ainda, que a perseguição pode ser realizada pelo Estado ou por grupos da sociedade.
A perseguição pode, ainda, restar configurada em conflitos armados internacionais ou internos.

Um requisito indispensável na concessão de refúgio é a extraterritorialidade. Isto significa que a


pessoa solicitante de refúgio deve ter cruzado a fronteira de seu país de origem (ou de residência)
ingressando em um outro país em busca de proteção.

Vale destacar que muitas vezes as pessoas fogem de uma determinada perseguição, mas se
deslocam dentro do próprio país de origem (ou de residência). Estes são os denominados
“deslocados internos”. Nestes casos não há como pedir a concessão de reconhecimento de status
de refugiado, pois estas pessoas ainda se encontram sob a jurisdição do próprio país em que
ocorreram os fatos motivadores do seu deslocamento. Entretanto, não há como negar a necessidade
de reconhecimento e garantia de especial proteção a estas pessoas. 33

3. A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS REFUGIADAS

Esclarecemos que, neste trabalho, a palavra criança é empregada no sentido de todo ser humano
com menos de 18 anos, em consonância com a definição apresentada pelo art. 1.º da Convenção
sobre os Direitos da Criança, relevante instrumento internacional global, elaborado em 1989. 34

Cumpre destacar que as crianças não estão em situação de igualdade se comparadas com os
adultos. E elas, em razão do seu peculiar estágio de desenvolvimento físico, emocional e mental,
têm necessidades específicas e, portanto, precisam de uma proteção diferenciada. 35

Somados à fragilidade e à vulnerabilidade das crianças, indicamos as limitações de suas


capacidades física, cognitiva, emocional e social. Estudos realizados nas esferas psicológica, social,
genética e biológica mostram a importância das primeiras fases da vida correspondentes à infância e
juventude. São os denominados “anos formativos”. 36

Neste sentido, esclarecemos que as crianças, enquanto sujeitos de direito, são detentoras de todos
os direitos fundamentais titularizados pelos seres humanos. 37 E, em razão do seu peculiar estágio
de desenvolvimento, as crianças são destinatárias de um conjunto de direitos fundamentais
específicos como, por exemplo, o direito às medidas de proteção que a sua condição de “menor”
requer, o direito a um nome e o direito ao registro civil logo, após o nascimento.

Tais direitos específicos das crianças, o direito às medidas de proteção específica em razão da sua
idade, ao nome e ao registro civil logo após o nascimento estão ligados aos direitos da personalidade
38
e se encontram previstos no art. 24 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. E este
instrumento internacional, por sua vez, conjugado à Declaração Universal de Direitos Humanos e ao
Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais, é parte integrante de Carta
Internacional de Direitos Humanos. 39

Vale lembrar que a Carta Internacional de Direitos Humanos constitui o arcabouço jurídico do Direito
Internacional dos Direitos Humanos. E os três instrumentos internacionais que a compõem fixaram
parâmetros protetivos mínimos que devem ser observados pelos Estados. 40

Conforme já mencionado, 41 a Convenção Relativa ao Status de Refugiado se aplica, também, às


crianças refugiadas. Neste sentido destacamos que, cabe a elas, por exemplo, o dever de respeito
às leis e regulamentos do país em que se encontra, previsto no art. 2.º da referida Convenção.

O art. 3.º da Convenção Relativa ao status de Refugiado proíbe que os Estados-membros realizem
qualquer discriminação quanto à raça, à religião ou ao país de origem ao aplicarem as disposições
da Convenção dos refugiados.

Outro instrumento internacional absolutamente relevante no que concerne à tutela do direito das
Página 4
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

crianças é a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 20.11.1989. 42

Destaca-se que em regra, de acordo com o previsto no art. 2.º da Convenção sobre os Direitos da
Criança, os direitos previstos no referido documento devem ser garantidos a todas as crianças, sem
qualquer distinção. Este dispositivo apresenta o princípio da isonomia, proibindo a discriminação
entre as crianças, princípio este que deve ser observado pelos Estados-partes.

O outro princípio relevante estabelecido na da Convenção sobre os Direitos da Criança é o princípio


do superior interesse da criança, previsto no art. 3.º do referido instrumento internacional. 43

Conforme o art. 4.º da Convenção sobre os Direitos da Criança, determina que os Estados-partes
deverão tomar todas as medidas apropriadas para implementar os direitos ali reconhecidos.

Amplamente aceita na esfera internacional, 44 a Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece


direitos específicos das crianças, dentre os quais destacamos os seguintes: o direito à vida (art. 6.º);
o direito a ser registrada, a receber um nome e a adquirir uma nacionalidade (art. 7.º); o direito a
preservar a sua identidade (arts. 7.º e 8.º); o direito de viver com seus pais, salvo quando
incompatível com melhores interesses da criança (art. 9.º); o direito de expressar uma opinião e esta
opinião ser levada em consideração em qualquer assunto ou procedimento que a afete (art. 12); o
direito à liberdade de pensamento, de consciência e de crença (art. 14); o direito a não sofrer
interferências arbitrárias ou ilegais em sua vida particular, sua família, seu domicílio, ou sua
correspondência, nem de atentados ilegais a sua honra e a sua reputação (art. 16); o direito de ser
protegida contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente,
maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual (arts. 19, 34, 35, 36 e 37); o direito à proteção e à
assistência especiais do Estado quando privadas, temporária ou permanentemente, do seu meio
familiar, ou cujo interesse maior exija que não permaneçam nesse meio (art. 20); o direito das
crianças portadores de necessidades especiais (físicas ou mentais) de desfrutarem de uma vida
plena e em condições que garantam a sua dignidade (art. 23); o direito de gozar do melhor padrão
possível de saúde e dos serviços destinados ao tratamento das doenças e à recuperação da saúde
(art. 24); o direito a um nível de vida adequado ao seu desenvolvimento físico, mental, espiritual e
social (art. 27); o direito à educação (arts. 28 e 29), o direito à livre participação na vida cultural e
artística.

Com relação a crianças que abandonaram o seu país de origem em razão de uma perseguição, a
Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece regras específicas. Neste sentido destacamos o
art. 22 do mencionado instrumento internacional, que versa sobre as crianças que se buscam o
reconhecimento do status de refugiadas e sobre as crianças que já conseguiram este
reconhecimento.

Como as crianças refugiadas estão fora do seu país de nacionalidade ou de residência habitual, já
apresentam um grau maior de vulnerabilidade do que as crianças que não se encontram nesta
situação. Em virtude disso, as crianças refugiadas precisam contar com um aparato diferenciado
para a proteção dos seus direitos.

Sobre a necessidade de proteção das crianças, o Acnur 45 ressalta que estas, são seres humanos
em desenvolvimento que ainda não alcançaram um amadurecimento nas esferas física e emocional
e que, em razão de sua vulnerabilidade precisam do cuidado e da atenção de adultos. E, como
refugiadas, as crianças estão particularmente expostas às doenças, à desnutrição e ao dano físico.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 46 ao tratar das crianças refugiadas, especialmente das
crianças que se encontram separadas de seus pais, esclarece que elas compõem um dos grupos
mais vulneráveis.

O art. 22 da Convenção sobre os Direitos da Criança determina que os Estados-partes deverão


tomar todas as medidas necessárias para que, independentemente de estarem acompanhadas ou
não por seus pais ou responsáveis, 47 tanto as crianças que tentem obter a condição de refugiadas,
quanto as crianças que já sejam consideradas como refugiadas, recebam a proteção e a assistência
humanitária adequadas a fim de que possam usufruir dos direitos enunciados na referida Convenção
e em outros instrumentos internacionais de direitos humanos ou de caráter humanitário dos quais os
tais Estados sejam parte.
Página 5
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

O mesmo art. 22 determina, expressamente, que as crianças refugiadas têm assegurado o acesso
aos direitos previstos em todos os instrumentos de direito internacional (sejam de proteção de
direitos humanos ou de caráter humanitário). O referido artigo reconhece, ainda, que para que este
acesso seja efetivo, os Estados ficam obrigados a prestar a proteção e a assistência humanitária
adequadas às crianças refugiadas.

A efetiva garantia de direitos fundamentais das crianças refugiadas como, por exemplo, o direito à
vida, o direito à sobrevivência, do direito ao desenvolvimento, o direito a desfrutarem de uma vida
plena e em condições que garantam a sua dignidade, do direito à saúde e do direito á educação 48 é
indispensável para que estas crianças possam se desenvolver 49 plenamente e de maneira sadia e
harmoniosa.

As situações que motivaram a fuga das crianças refugiadas podem favorecer a violação do
bem-estar dos refugiados.

Em virtude disso, o Acnur 50 enumera diversas medidas que devem ser tomadas em busca do
restabelecimento do bem-estar das crianças refugiadas, dentre as quais destacamos as seguintes:
(a) possibilitar às crianças refugiadas o acesso ao jogo e às brincadeiras; (b) estimular os pais e
responsáveis a tomarem os cuidados necessários para com as crianças refugiadas; (c) fomentar a
formação de grupos de apoio, dos quais os refugiados (inclusive as crianças refugiadas) possam
participar.

As crianças refugiadas também devem ter acesso a serviços de saúde física e mental, tendo em
vista que as situações a que foram expostas enquanto refugiadas pode causar os transtornos físicos,
emocionais ou mentais. 51

Os Estados-partes também devem realizar todos os esforços necessários para que as crianças
refugiadas tenham acesso a condições adequadas de saúde e nutrição, 52 de modo que o seu
desenvolvimento não seja prejudicado. 53

Cumpre destacar que muitas vezes a comida é distribuída uma vez por dia dentro dos campos de
refugiados. E que há situações em que a dieta alimentar oferecida não é adequada às necessidades
das crianças, em plena fase de crescimento, o que acaba por comprometer o seu desenvolvimento
físico.

As crianças refugiadas devem ter o seu direito à identidade, previsto nos arts. 7.º e 8.º da Convenção
sobre os Direitos da Criança, assegurado.
54
Neste sentido, destacamos que todos os nascimentos ocorridos dentro de campos de refugiados
devem ser devidamente registrados. 55

Destacamos que o certificado de nascimento é um documento necessário para a prestação de uma


série de serviços. Entretanto, não obstante a relevância do referido documento, um terço dos
nascimentos não é devidamente registrado. 56

O direito das crianças refugiadas de adquirirem uma nacionalidade, também faz parte da sua
constituição de identidade e singularidade e demonstra a preocupação com a erradicação da
apatridia ao redor do mundo. 57

O respeito ao direito à identidade cultural, 58 assegurado nos arts. 29, 30 e 31 da Convenção sobre
os Direitos da Criança, é absolutamente relevante no tocante à constituição da identidade e da
singularidade das crianças refugiadas. Neste sentido, todos os esforços necessários devem ser
feitos para preservar a cultura, a religião e o idioma das crianças refugiadas. 59

A promoção da educação das crianças refugiadas é fundamental ao desenvolvimento das mesmas.


Assim como a educação das demais crianças da comunidade na qual os refugiados ficam inseridos.

Destacamos, também, que a educação de todas as crianças, permitindo o desenvolvimento da sua


personalidade, suas aptidões e sua capacidade mental e física, deve ser desenvolvida de forma a
imbuir nas mesmas o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais, conforme previsto
no art. 29 da Convenção sobre os Diretos da Criança.

Página 6
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

Assim, as crianças devem, desde cedo, ser preparadas para conviver com as demais pessoas, de
modo a reconhecer a diferença e respeitá-la. Isto porque crianças que não estejam preparadas para
conviver com a diferença, crianças que não estejam educadas para serem tolerantes podem, por
exemplo, zombar das crianças refugiadas, dificultando a integração destas no país de acolhida.

Como muitas vezes as crianças atuam como “pontes” entre a sua família e a comunidade que os
acolheu, pois são as primeiras a aprender o novo idioma (nas escolas que frequentam), se a sua
integração for prejudicada, isto pode se irradiar por sua família.

Em virtude disso, a proposta é transformar esta convivência com as crianças refugiadas em um


aprendizado para todas as pessoas envolvidas. 60

O ideal é que as crianças refugiadas permaneçam junto de seus pais ou responsáveis. Isto porque,
conforme reconhecido no Preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança, a família é o grupo
fundamental da sociedade e o ambiente natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus
membros, e em particular das crianças em razão disso, a família deve receber a proteção e
assistência necessárias a fim de poder assumir plenamente suas responsabilidades dentro da
comunidade.

Neste sentido, o Acnur 61 ressalta que o bem-estar das crianças, bem como a possibilidade de
desfrutar de seus direitos, dependem de sua família e de sua comunidade. Assim, uma das melhores
formas de se ajudar as crianças refugiadas é ajudar a sua família, e uma das melhores formas de
ajudar a sua família é ajudar a comunidade.

Caso as crianças refugiadas residam em um Estado diferente de seus pais ou responsáveis, em


razão do princípio da unidade familiar, elas têm o direito de manter, regularmente, relações pessoais
e contato direto com os seus pais, conforme previsto no art. 10.2 da Convenção sobre os Direitos da
Criança.

Vale destacar que o princípio da unidade familiar está ligado à ideia de que toda criança tem o direito
de ter uma família e que toda família tem, em regra, o direito de cuidar de seus filhos, 62 salvo
quando isto se mostrar incompatível com melhores interesses da criança, conforme previsto no art.
9.º da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Ainda em razão do princípio da unidade familiar, o art. 10.1 da referida Convenção determina que os
pedidos das crianças ou de seus pais para entrar ou sair de um Estado-parte objetivando a
reunificação familiar deverão ser analisados de maneira positiva, humanitária e rápida.

Em razão do princípio da unidade familiar, todas as medidas necessárias devem ser tomadas pela
família, pela comunidade e pelos Estados visando minimizar os riscos e prevenir a separação dos
entes de uma família, especialmente a separação entre crianças e adultos.

Vale destacar que as decisões com relação às crianças devem ser tomadas sendo sempre
observados os seguintes direitos que compõem um tripé: (a) o melhor interesse da criança, (b) a não
discriminação e (c) a participação da criança. 63

A não discriminação e o melhor interesse da criança (previstos respectivamente nos arts. 2.º e 3.º da
Convenção sobre os Direitos da Criança) já foram abordados neste estudo. Passamos, agora, a
analisar a questão referente à participação da participação da criança.

Conforme se depreende da leitura de inúmeros artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança, a


criança tem o direito de participação social na vida da família e na vida da comunidade. As crianças
devem participar das decisões tomadas ao longo do processo que as caracteriza como crianças
refugiadas, bem como devem ser cientificadas do planejamento que é feito e que as envolve. 64

A criança, à medida que cresce, se desenvolve e amadurece, vai adquirindo maior capacidade de
participação na tomada de decisões. 65 Neste sentido, destacamos os arts. 12 e 13, segundo os
quais as opiniões da criança de devem ser levadas em consideração, sendo sempre observadas a
idade bem como a maturidade da criança. 66

Deve-se assegurar às crianças refugiadas, como à todas as crianças, o direito de serem protegidas
em sua integridade física, mental e emocional contra todas as formas de violência física ou mental,
Página 7
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, conforme
previsto no art. 19 da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Neste sentido, destacamos que as crianças refugiadas estão mais sujeitas à violência sexual do que
os adultos. As violações de direitos fundamentais resultantes, por exemplo, da prática de violência
sexual devem ser evitadas no país de origem do deslocamento, durante todo o deslocamento e após
a chegada no país de destino. Há que se ter uma preocupação de proteção holística.

Outro problema largamente enfrentado pelas crianças refugiadas é referente ao tráfico humano. Esta
questão fica ainda mais delicada quando envolve crianças que não tem documentos comprobatórios
de grau de parentesco com o adulto que eventualmente se apresenta como parente. Nestes casos a
dúvida que fica é como ter certeza se este adulto é mesmo o pai ou tio, por exemplo.

Uma vez constatada a violação, conforme previsto no art. 39 da mencionada Convenção, os


Estados-partes deverão tomar todas as medidas apropriadas para estimular a recuperação física e
psicológica e a reintegração social de toda criança vítima de: (a) qualquer forma de abandono,
exploração ou abuso; (b) tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes;
ou (c) conflitos armados. 67 A recuperação e reintegração destas crianças serão efetuadas em
ambiente que estimule a saúde, o respeito próprio e a dignidade da criança.

Outra questão que merece destaque é a participação de crianças em conflitos armados como
soldados mirins. Trata-se da situação em que as crianças são recrutadas pelo próprio governo ou por
milícias armadas para que tomem parte no conflito armado, interno ou internacional.

As crianças que são recrutadas e transformadas em soldados mirins não se enquadram na hipótese
de exclusão da concessão de refúgio que se refere a graves delitos cometidos nos países de origem
em virtude de se considerar a inexistência do elemento volitivo. 68

Caso a separação entre as crianças refugiadas e seus pais, ou responsáveis, não seja evitada, todos
devem envidar seus maiores esforços para que a reunificação familiar ocorra de maneira segura e o
mais rápido possível. 69

Diante da iminência de ataques ou da necessidade de fuga, os pais ou responsáveis devem tomar


algumas medidas fundamentais para facilitar a singularização e a identificação das crianças,
medidas que visem facilitar o trabalho de buscas, caso haja uma separação. Neste sentido,
destacamos a importância de que as crianças conheçam o seu nome, o endereço e a localidade de
onde elas vêm. 70

Constatada a necessidade de evacuação 71 as crianças devem, sempre que possível, ser retiradas
juntamente com os demais membros adultos de sua família. Não sendo possível a retirada dos
adultos juntamente com as crianças, devem ser tomadas todas as medidas necessárias para (a)
facilitar a localização das crianças evacuadas, (b) estabelecer o contato entre as crianças e seus
familiares, e (c) providenciar uma reunificação familiar segura e com a maior brevidade possível. 72

Quando apartadas, temporária ou definitivamente, de sua família, as crianças refugiadas devem ter
asseguradas o direito à proteção e à assistência especial do Estado, conforme dispõe o art. 20 da
Convenção sobre os Direitos da Criança.

4. CONCLUSÃO

Atualmente, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados no que tange à tutela dos direitos
das crianças refugiadas espalhadas pelo planeta.

A proteção do direto: à vida digna, à saúde, à educação e à cultura são alguns deles. A tutela do
direito à convivência familiar, do direito de acesso à cultura e o direito à educação também se
destacam dentre os direitos que compõem o rol de direitos das crianças.

Reiteramos que todos os direitos titularizados pelas crianças devem ser garantidos, a fim de se
possibilitar a elas o pleno desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, partindo de um nível de
vida adequado para tanto.

As crianças refugiadas se encontram em situação de particular vulnerabilidade, se comparadas às


Página 8
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

demais crianças e, portanto, precisam de especial atenção e cuidado por parte dos pais ou
responsáveis, da comunidade e dos Estados.

Todas as decisões referentes às crianças refugiadas devem ser tomadas levando-se em conta os
princípios basilares que formam e informam seu tripé de proteção, quais sejam: (a) o princípio do
melhor interesse da criança, (b) o princípio da não discriminação, e (c) o princípio da participação da
criança. 73

Em vista de todo o exposto, percebe-se que um dos grandes desafios da atualidade, no tocante às
crianças refugiadas, é assegurar efetivamente os direitos que estão previstos nos diversos
instrumentos internacionais de proteção de direitos humanos.

Neste sentido, fazemos referência aos dizeres de Norberto Bobbio, 74 e lembramos que o grande
desvio da atualidade, quanto aos direitos humanos, está relacionado à efetiva proteção dos mesmos.
E, no tocante à proteção dos direitos fundamentais das crianças não é diferente.

Para que as crianças refugiadas tenham os seus direitos fundamentais tutelados, entendemos que o
conceito de cidadania universal (ou cidadania planetária) deve passar por um processo de
consolidação, revelando-se como uma cidadania inclusiva, que seja titularizada e exercida por
refugiados, migrantes, apátridas e nacionais, independentemente de qualquer discriminação que
negue direitos, inclusive a discriminação com relação à idade. 75

1 Esclarecemos que, adotando o posicionamento de Flávia Piovesan, utilizamos a expressão


“direitos humanos” como sinônimo de “direitos fundamentais” (Cf. Piovesan, Flávia. Direitos humanos
e o direito constitucional internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006). Lembramos, entretanto, que
este entendimento não é unânime na doutrina. Em sentido contrário citamos o posicionamento
adotado por Ingo W. Sarlet (Cf. Sarlet, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 33 e ss.).

2 Eric Hobsbawm, ao tratar do período compreendido entre o início da primeira Guerra Mundial e o
Fim da Segunda Guerra Mundial, faz referência à “guerra mundial de 31 anos” (Hobsbawm, Eric. A
era dos extremos: o breve século XX: 1914-1919. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 30).
Nesse mesmo sentido Adauto Novaes dispõe: “Como nomear aquilo que, apenas na Europa, entre
1914 e 1945, produziu, com guerras, deportações, limpezas étnicas, Auschwitz e Gulag, em torno de
100 milhões de mortes?” (Novaes, Adauto. Crepúsculo de uma civilização. In: ______ (org.).
Civilização e barbárie. São Paulo: Cia. das Letras, 2004. p. 7-8).

3 Cf. Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Direito de nacionalidade em face das restrições coletivas e
arbitrárias. Curitiba: Juruá, 2007. p. 23.

4 A proteção internacional dos direitos da pessoa humana foi tradicionalmente dividida em três
vertentes, quais sejam: direito humanitário, direitos humanos e direito dos refugiados. Não obstante o
fato de existirem estas três vertentes de proteção de direitos fundamentais, lembramos que se tratam
de normas que não se excluem, mas se “cruzam” e se complementam. A respeito deste assunto,
recomendamos a leitura do livro de Antonio Augusto Cançado Trindade, Gérard Peytrignet e Jaime
Ruiz de Santiago intitulado: As três vertentes da proteção internacional da pessoa humana: direitos
humanos, direito humanitário, direito dos refugiados. Genebra: CICV, 22.04.2004, que se encontra
disponibilizado no site do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Disponível em:
[www.icrc.org/por/resources/documents/misc/direitos-da-pessoa-humana.htm].

5 Cf. Jubilut, Liliana Lyra. O direito internacional dos refugiados e sua aplicação no ordenamento
jurídico brasileiro. São Paulo: Método, 2004. p. 23.

6 Acnur. Los niños refugiados: directrices sobre protección e y cuidado. Genebra: ONU, 1994. p. 3.

7 Cf. Lenza, Pedro. Direito constitucional esquematizado. São Paulo: Método, 2003. p. 349.

8 A pessoa considerada como estrangeira em relação a um determinado Estado pode manter um


Página 9
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

vínculo político-jurídico com outro(s) Estado(s), sendo que caso reste caracterizado o vínculo
político-jurídico com dois ou mais outros Estados ela será classificada como polipátrida. Pode ainda
não manter tal vínculo com nenhum outro Estado, sendo que nesta última hipótese ela seria
classificada como apátrida.

9 Cf. Strenger, Irineu. Direito internacional privado. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003. p.
212 e ss.

10 Cf. Diniz, Almachio. Direito internacional privado. São Paulo: Livraria Manuel Alves, 1923. p. 21.

11 A palavra xenofobia é formada pelo prefixo xen, que significa estrangeiro, estranho, insólito;
combinado com o sufixo fobia, que significa aversão, medo exagerado. De acordo com a definição
apresentada no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o significado da palavra xenofobia é:
“desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que
é incomum ou vem de fora do país” (Houaiss, Antônio; Villar, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, sem data).

12 Alguns sistemas como o “Sistema da Personalidade Absoluta do Direito” e o “Sistema da


Personalidade do Direito” se destacam na evolução histórica da tutela do estrangeiro.

13 Cf. Varese, Luis. Três elos da corrente dos direitos humanos. Refúgios, migrações e cidadania –
Caderno de Debates, n. 1, p. 16. Brasília: Acnur & IMDH, jun. 2006.

14 A deportação consiste na saída compulsória do estrangeiro para o país da nacionalidade, para o


país de procedência deste estrangeiro, ou ainda para outro país que concorde em recebê-lo. Para
que a deportação seja decretada é preciso que seja constatado o ingresso (ou a permanência), de
um estrangeiro com situação documental irregular no país de destino. Trata-se de uma questão
meramente documental, não tendo como pressuposto para a sua decretação o cometimento de um
crime.

15 Já nos manifestamos a este respeito: “Os atentados terroristas realizados em 11.09.2001 nos
Estados Unidos da América deram início a uma nova onda de instabilidade mundial, promovendo
relevantes alterações no cenário internacional e dando ensejo à adoção de medidas que
demonstram retrocesso quanto à tutela de direitos humanos” (Cf. Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka.
Op. cit., p. 143 e ss.).

16 Chueca Sancho, Ángel G. La inmigración hoy: entre los mitos y la esperanza del nuevo derecho
migratorio. Disponível em: [www.mundojuridico.adv.br]. Acesso em: 09.06.2004.

17 Cf. Varese, Luis. Op. cit., p. 8.

18 Milesi, Rosita. Por uma nova lei de migrações: a perspectiva dos direitos humanos. Refúgios,
Migrações e Cidadania — Caderno de Debates, n. 2, p. 78. Brasília: Acnur & IMDH, ago. 2007.

19 A este respeito, destacamos o binômio “direito à igualdade – direito à diferença”, cujo alicerce se
baseia na ideia do direito de todas as pessoas serem reconhecidas como seres humanos iguais aos
demais em dignidade e, ao mesmo tempo, no direito de reconhecimento de cada ser humano distinto
de todos os demais, peculiar, singular, único (Cf. Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Op. cit., p. 162).

20 Cf. Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Op. cit., p. 161.

21 Lembramos as proposições de Immanuel Kant, segundo as quais os homens têm o direito da


propriedade comum da superfície da terra, tendo em vista que não se podem dispersar infinitamente.
O referido autor defende, também, a ideia de hospitalidade universal, em contraposição à hostilidade,
segundo a qual o estrangeiro não deve ser tratado com hostilidade, mas deve ser tratado de maneira
hospitaleira (Kant, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Ed. 70, 2002. p. 137).

22 Ao abordar a temática da cidadania universal, Rosita Milesi ainda faz referência à Declaração
Universal dos Direitos Humanos, destacando o seguinte trecho: “Considerando que o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos
Página 10
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, (…)” (grifamos)


(Milesi, Rosita. Op. cit., p. 83).

23 Milesi, Rosita. Op. cit., p. 94.

24 A respeito da migração e do refúgio Luis Varese defende: “É preciso colocar o refúgio no marco
da migração forçada” (Varese, Luis. Op. cit., p. 7). O referido autor defende, ainda, que a cidadania,
a migração e o refúgio têm que estar inter-relacionados e que o pensamento do direito internacional
humanitário deve ser desenvolvido levando em conta os três (Cf. Idem, p. 10).

25 Retomamos a ideia de “saúde integral”, seguindo o conceito da Organização Mundial da Saúde,


que definiu saúde como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente
a ausência de doença ou enfermidade.

26 Pessoas estas que não podem ou, em virtude desse temor, não querem se valer da proteção
desse país.

27 Para um estudo mais detalhados dos “motivos clássicos” para o reconhecimento do status de
refugiado, recomendamos a leitura do livro de Liliana Lyra Jubilut intitulado O direito internacional
dos refugiados e sua aplicação no Ordenamento Jurídico Brasileiro. (Jubilut, Liliana Lyra. O direito
internacional dos refugiados e sua aplicação no Ordenamento Jurídico Brasileiro. São Paulo:
Método, 2004. p. 115-134).

28 Além da Declaração de Cartagena, de 1984, Liliana Lyra Jubilut destaca outro documento
internacional, de alcance regional, que apresenta esta relevante inovação de ampliação do conceito
de refugiados. Trata-se da Convenção Relativa aos Aspectos Específicos dos Refugiados Africanos,
de 1969.

29 Neste sentido, destacamos um trecho da Declaração de Cartagena:


“O Colóquio adotou, deste modo, as seguintes conclusões:

(…)

Terceira – Reiterar que, face à experiência adquirida pela afluência em massa de refugiados na
América Central, se toma necessário encarar a extensão do conceito de refugiado tendo em conta,
no que é pertinente, e de acordo com as características da situação existente na região, o previsto
na Convenção da OUA (artigo 1, parágrafo 2) e a doutrina utilizada nos relatórios da Comissão
Interamericana dos Direitos Humanos. Deste modo, a definição ou o conceito de refugiado
recomendável para sua utilização na região é o que, além de conter os elementos da Convenção de
1951 e do Protocolo de 1967, considere também como refugiados as pessoas que tenham fugido
dos seus países porque a sua vida, segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência
generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos
ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública.”

30 Jubilut, Liliana Lyra. Op. cit., p. 45.

31 Para que a concessão do refúgio seja feita, há que se identificar o merecimento de proteção, bem
como a necessidade de proteção, observadas as causas que motivaram a fuga do requerente. Com
isto, quer se enfatizar, por exemplo, que o refúgio não se destina a acobertar criminosos. Há,
portanto, as cláusulas de exclusão. Neste sentido, não podem receber o benefício do refúgio aqueles
que praticaram crime de tortura, de tráfico de drogas, de terrorismo ou aqueles que cometeram
graves delitos de direito comum dentro do país de origem.

32 Entretanto, vale lembrar que muitas pessoas que fogem, chegam ao país em que buscam refúgio
sem prova documental alguma do que alegam. E o princípio in dubio, pro refugio deve ser sempre
levado em consideração.

33 Neste sentido citamos a situação de milhares de pessoas que se deslocaram internamente do


território do Sudão, fugindo do sangrento conflito provocado pela milícia janjaweed na região de
Darfur. Para maiores informações sobre o conflito de Darfur, recomendamos o acesso ao site da
Página 11
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

Anistia Internacional [www.br.amnesty.org] e ao site da Human Rights Watch [www.hrw.org].

34 Nas diretrizes sobre proteção e cuidado das crianças refugiadas, o Acnur esclarece que a linha
divisória foi estabelecida aos 18 anos, na Convenção sobre os Direitos da Criança, tendo em vista
que esta é a idade mais amplamente aceita pela maioria dos Estados enquanto marca para a
maioridade legal, idade a partir da qual a pessoa passa a ser reconhecida como adulto, respondendo
juridicamente como tal. Até alcançar os 18 anos as pessoas estão desenvolvendo sua personalidade
e adquirindo capacidades essenciais para melhor tomar decisões (Acnur. Op. cit., p. 18).

35 José Augusto Lindgren Alves denomina as crianças como pessoas detentoras de uma
“vulnerabilidade particular”, particularidade esta que deu ensejo à criação de instrumentos
internacionais específicos de proteção de direitos, citando como exemplo a Declaração sobre os
Direitos da Criança criada em 1924 pela então existente Liga das Nações (Cf. Lindgren Alves, José
Augusto. A arquitetura internacional dos direitos humanos. São Paulo: FTD, 1997. p. 161).

36 Cf. Netto, Samuel Pfromm. In: Cury, Munir; Marçura, Jurandir Norberto; Paula, Paulo Afonso
Garrido de (orgs.). Estatuto da criança e do adolescente anotado. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Ed.
RT, 2002. p. 19.

37 Razão pela qual a Convenção Relativa ao Status de Refugiado, por exemplo, se aplica
integralmente às crianças refugiadas.

38 É importante que as crianças, logo após ao nascimento sejam identificadas e singularizadas. A


este respeito, Adriano de Cupis apresenta, como um dos direitos da personalidade, o “Direito à
Identidade Pessoal”, segundo o qual o indivíduo pode se diferenciar dos demais, e esclarece que o
direito à identidade pessoal se configura, de forma essencial, como o direito ao nome (Cf. De Cupis,
Adriano. Os direitos da personalidade. Trad. Afonso Celso Furtado Rezende. Campinas: Romana,
2004. p. 179 e ss.).

39 A respeito da Carta Internacional de Direitos Humanos explica José Augusto Lindgren Alves: “Os
três principais elementos que dão sustentação a toda arquitetura internacional de normas e
mecanismos de proteção aos direitos humanos são a Declaração Universal de 1948, o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e
Culturais. Pedra fundamental do sistema, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o
primeiro documento a estabelecer internacionalmente os direitos inerentes a todos os homens e
mulheres, independentemente das situações particulares de cada um, que devem ser observados
em todo o mundo. Os dois Pactos, por sua vez, complementam a Declaração de 1948, conferindo
aos direitos nela estabelecidos a força de obrigação jurídica que os respectivos Estados-partes se
comprometem, voluntária e solenemente, a implementar” (Lindgren Alves, José Augusto. Op. cit., p.
24).

40 Cf. Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Op. cit., p. 80.

41 Vide nota 37.

42 Segundo o Acnur, a Convenção dos Direitos da Criança não é só um tratado, mas uma
declaração, cujos princípios devem ser observados mesmo pelos países que não a tenham,
ratificado (Cf. Acnur. Op. cit., p. 13 e ss.).

43 Tanto o princípio da isonomia quanto o princípio do superior interesse da criança devem ser
sempre observados enquanto normas vetoriais de interpretação das demais normas jurídicas e como
guia dos aplicadores do direito e das políticas públicas.

44 Esclarecemos que este instrumento internacional foi objeto de análise mais detalhada na Tese de
Doutorado: Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Direito à educação e resgate da cidadania de crianças
e adolescentes em situação de risco social: um estudo da experiência da Cidade Escola Aprendiz.
Tese de Doutorado. São Paulo, Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC, 2011. p. 256 e
ss.).

45 Acnur. Op. cit., p. 3 e ss.


Página 12
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

46 Comité Internacional de la Cruz Roja. Directrices Generales Inter-Agenciales sobre niños e niñas
no acompañados y separados. Genebra: CICV, 2004. p. 2 e ss.

47 Destacamos que as crianças refugiadas desacompanhadas representam também uma


coletividade vulnerável, pois estão mais sujeitas às ingerências de exploradores. Neste sentido,
destacamos o documento canadense sobre crianças refugiadas que solicitam o reconhecimento de
refúgio, que confere tratamento diferenciado às Crianças refugiadas desacompanhadas (Canadá.
Child refugee claimants: procedural and evidential issues. Otawa: Immigration and Refugee Board,
30.09.1996).

48 Conforme já mencionado, estes direitos utilizados a título de exemplo estão previstos nos arts. 6.º,
23, 24, 28 e 29 da Convenção sobre os Direitos da Criança.

49 O desenvolvimento pleno abarca, por exemplo, as esferas física, mental, emocional, cultural e
espiritual.

50 Cf. Acnur. Op. cit., p. 25 e ss.

51 Cf. Idem, p. 30.

52 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 27 e 28.

53 A respeito da necessidade de preocupação coma a nutrição das crianças, Luis Varese apresenta
dados alarmantes: “As Torres Gêmeas desabaram três mil pessoas. Houve muita comoção. Todos
os dias desabam dez Torres Gêmeas cheias de crianças com menos de cinco anos de idade. São
oito milhões crianças que morrem de fome no planeta por ano. E ninguém chora, ninguém protesta”
(Cf. Varese, Luis. Op. cit., p. 20).

54 Além dos nascimentos, devem ser registrados também os casamentos e os óbitos ocorridos
dentro dos campos de refugiados. O registro permite um melhor controle das pessoas que vivem nos
campos de refugiados. E facilita a localização de pessoas desaparecidas em razão de conflitos
armados ou de violência interna. A este respeito, destacamos o Projeto Missing do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha.

55 Conforme já mencionado anteriormente, o direito ao nome e o direito ao registro do nascimento


das crianças refugiadas estão intimamente ligados ao direito à singularidade e à identidade.

56 Conforme informações prestadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, muitas crianças
refugiadas só são registradas muito depois do nascimento, quando, por exemplo, são matriculados
em escolas (Cf. Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 16).

57 Para maiores informações sobre a relevância da tutela do direito de nacionalidade,


recomendamos a leitura do livro Direito de nacionalidade em face das restrições coletivas e
arbitrárias (Baptista, Olívia Cerdoura Garjaka. Op. cit.).

58 Segundo o Acnur, a cultura proporciona uma identidade e uma estabilidade à criança (Cf. Acnur.
Op. cit., p. 19).

59 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 16 e ss. Ainda a este respeito, o Acnur esclarece
que muitas vezes as crianças sofrem um choque cultural muito grande, tendo em vista que a cultura
do país acolhedor é muito diferente da cultura do país de origem ou de residência habitual. Ainda
segundo o Acnur, as crianças têm uma tendência natural que permite uma adaptação mais rápida à
nova situação. Por um lado, isto é bom, pois favorece a integração. Entretanto, esta grande
capacidade de adaptação das crianças implica um maior risco de “perda” da sua cultura de origem.
Cf. Acnur. Op. cit., p. 20 e ss.

60 Instrumentos relevantes no processo de adaptação dos refugiados podem ser utilizados. Neste
sentido citamos a multiplicação de aulas de língua do local de acolhimento, para uma maior
integração das pessoas ali presentes, e a busca de parcerias para a realização de cursos
Página 13
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

profissionalizantes, criando novas chances de emprego para os pais ou responsáveis pelas crianças
refugiadas e, consequentemente, permitindo uma maior integração, recuperação da autoestima que
muitas vezes “se perde” em razão da desocupação profissional.

61 Cf. Acnur. Op. cit., p. 16 e ss.

62 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 11 e ss.

63 Segundo o Acnur, estes direitos são tão importantes que podem ser considerados a base da
Convenção sobre os direitos da criança (Acnur. Op. cit., p. 14 e ss.). Mais do que direitos,
entendemos que se tratam de princípios. E os princípios podem ser compreendidos como balizas
informadoras e norteadoras do jurista e do intérprete do direito que permitem a interpretação das
demais normas jurídicas. Dada a relevância do assunto, apresentamos a definição apresentada por
Martha de Toledo Machado “(…) Os princípios são ordenações que se irradiam e imantam os
sistemas de normas, ‘são – como observam Gomes Canotilho e Vital Moreira – ‘núcleos de
condensações que confluem valores e bens constitucionais’.” Cf. Machado, Martha de Toledo. A
proteção constitucional de crianças e adolescentes e os direitos humanos. Barueri/SP: Manole, 2003.
p. 93. Já Celso Spitzcovsky entende que: “(…) os princípios surgem como parâmetros para a
interpretação do conteúdo das demais regras jurídicas, apontando as diretrizes as quais devem ser
seguidas pelos aplicadores da lei”. Spitzcovsky, Celso. Direito administrativo. 7. ed. São Paulo: Ed.
Damásio de Jesus, 2005. p. 27.

64 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 31.

65 Cf. Acnur. Op. cit., p. 15.

66 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 11 e ss.

67 As crianças são vítimas constantes de armas de guerra como, por exemplo, das minas terrestres.
Nos casos em que as crianças venham a sofrer danos físicos ou emocionais, deve-se buscar
proporcionar a sua reabilitação. Neste sentido, destacamos uma das atividades promovidas pelo
Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

68 A respeito da transformação de crianças em soldados mirins, recomendamos a leitura do livro


intitulado Muito longe de casa: memórias de um menino soldado, escrito por Ishmael Beah. Este livro
versa sobre a eclosão do conflito armado em Serra Leoa na década de 90 e seus efeitos
devastadores. Aborda as violações de direitos humanos perpetradas por grupos armados, tudo isso
do ponto de vista de uma criança que viveu os horrores da guerra e foi transformada em
menino-soldado.
O autor escreveu este livro para contar a sua história. A história de um menino que viu a sua vida ser
totalmente transformada com em razão da guerra civil no seu país de origem. O texto é repleto de
relatos de perdas, fugas e desencontros, mas também é marcado por uma intensa luta pela vida e
pela esperança de dias melhores.

Deve-se prestar atenção na maneira pela qual os conflitos armados podem mudar a vida das
pessoas envolvidas, principalmente a vida das crianças. Estas, muitas vezes, perdem seus
familiares, sua vida cotidiana e seu referencial. Presenciam violações de direitos humanos e, por
vezes, são submetidas a tais violações. Infelizmente a transformação de crianças em soldados mirins
é uma arma de guerra largamente utilizada. Mas devemos lutar para que esta realidade seja
alterada, como nos inspira o autor, desta tocante obra.

69 A respeito da reunificação familiar, o Acnur esclarece que as preocupações com uma criança
desacompanhada não acaba quando ela cruza a fronteira e retorna ao seu país de origem. Cf.
Acnur. Op. cit., p. 11.

70 Por vezes as crianças são muito pequenas e, então, estas informações básicas devem ser
registradas por escrito em um documento que acompanhe estas crianças. Comité Internacional de la
Cruz Roja. Op. cit., p. 14.

Página 14
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DAS CRIANÇAS
REFUGIADAS

71 Há que se levar em consideração que a evacuação deve ser utilizada como o último recurso,
apenas quando absolutamente necessário e quando a proteção e a assistência às pessoas
ameaçadas não seja possível.

72 Comité Internacional de la Cruz Roja. Op. cit., p. 15.

73 Vide nota 63.

74 Cf. Bobbio, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 25.

75 Luis Varese defende esta ideia de cidadania inclusiva. Neste sentido, recomendamos a leitura do
texto Três elos da corrente dos direitos humanos (Cf. Varese, Luis. Op. cit., p. 7).

Página 15

Você também pode gostar