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Direitos Humanos e

migrações internacionais
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
ACNUR Brasil
Apesar de ser cada vez mais comum os termos “refugiado” e “migrante” serem utilizados como sinônimos na mídia e
em discussões públicas, há uma diferença legal crucial entre os dois.
Confundi-los pode levar a sérias consequências para a vida e a segurança de pessoas refugiadas e solicitantes de
refúgio, assim como gerar entendimentos parciais em discussões sobre refúgio e migração. As definições guardam
diferenças fundamentais entre si, pois cada uma corresponde a uma série de direitos e deveres próprios.

Refugiados são pessoas que estão fora do seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a
questões de raça, religião, nacionalidade, opinião política, ou pertencimento a um determinado grupo social e que não
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se
encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou,
devido ao referido temor, não quer voltar a ele. Ou ainda, pessoas que estão fora de seu país de origem devido a
conflitos, violência ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a ordem pública e que, como resultado,
necessitam de “proteção internacional”.

As situações enfrentadas são frequentemente tão perigosas e intoleráveis que estas pessoas decidem cruzar as
fronteiras nacionais para buscar segurança em outros países, sendo internacionalmente reconhecidos como
“refugiados”.

A proteção internacional dos refugiados é garantida a partir atos normativos específicos, entre eles cabe mencionar o
Art. 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma o direito de toda e qualquer pessoas de buscar e
receber asilo. Assim como a Declaração Americana de Direitos Humanos, de 1948, em seu artigo 27 e a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, em seu artigo 22(7), também fazendo alusão ao direito de buscar e de
receber asilo em caso de perseguição.
A Convenção de 1951 Relativa ao Estatuto dos Refugiados estabelece a estrutura mais amplamente aplicável para a
“Migração” é comumente compreendida implicando um processo voluntário; por exemplo, alguém que cruza uma
fronteira em busca de melhores oportunidades econômicas. Este não é o caso de refugiados, que não podem retornar
às suas casas em segurança e, consequentemente, têm direito a proteções específicas no escopo do direito
internacional. No Brasil, a Lei nº 13.445/2017 dispões sobre direitos e deveres do migrante em território nacional. No
entanto, não existe uma definição legal internacional aceita do termo migrante, sendo assim esse grupo tem direito à
proteção geral dos direitos humanos, sem importar o status migratório.

Nos termos do Pacto Global para Migração, “migrantes e refugiados são grupos distintos, regidos por estruturas legais
separadas. Apenas refugiados têm direito à proteção internacional específica, conforme definido pelo direito
internacional dos refugiados”[1]. Ao contrário dos refugiados, migrantes podem optar por voltar para casa e
continuarão recebendo a proteção de seu governo.
É importante que as pessoas diferenciem “refugiados” e “migrantes”, para manter a clareza sobre as causas e o caráter
dos movimentos, bem como destacar as obrigações devidas às pessoas refugiadas. Tratar as duas definições como
sinônimos, retira o foco de proteções legais e das necessidades específicas vivenciadas por pessoas refugiadas, como
proteção contra a devolução e contra ser penalizado por cruzar fronteiras para buscar segurança sem autorização.

Os fatores que levam indivíduos a migrar podem ser complexos. Muitas vezes as causas são multifacetadas. Migrantes
podem deslocar-se para melhorarem suas condições de vida por meio de melhores empregos ou, em alguns casos, por
educação, reuniões familiares, ou outras razões. Eles também podem migrar para aliviar dificuldades significativas
ocasionadas por desastres naturais. Pessoas que deixam seus países por esses motivos normalmente não são
consideradas refugiadas, de acordo com o direito internacional.
O termo “migração forçada” é por vezes utilizado por sociólogos e outros indivíduos como um termo generalista e
aberto que cobre diversos tipos de deslocamentos ou movimentos involuntários – tanto os que cruzam fronteiras
internacionais quanto os que se deslocam dentro do mesmo país. Por exemplo, o termo tem sido utilizado para se
referir às pessoas que têm sido deslocadas em decorrência de desastres ambientais, conflitos, fome, ou projetos de
desenvolvimento em larga escala.
“Migração forçada” não é um conceito legal, e similar ao conceito de “migração”, não existe uma definição
universalmente aceita. Ele abarca uma ampla gama de fenômenos. Refugiados, por outro lado, são claramente
definidos pelo direito internacional e regional dos refugiados, e os Estados concordaram com um específico e bem
definido conjunto de obrigações legais em relação a eles. Referir-se a refugiados como “migrantes forçados” tira
atenção das necessidades específicas dos refugiados e das obrigações legais que a comunidade internacional
concordou em direcionar a eles.

Um refugiado não deixa de ser refugiado ou torna-se “migrante” simplesmente por deixar um país de refúgio para
viajar a outro país. Um indivíduo é refugiado por conta da falta de proteção em seu país de origem. Mudar-se para um
novo país de refúgio não muda essa situação. Portanto, o status de refugiado do indivíduo não é afetado. Uma pessoa
que satisfaz os critérios para o status de refugiado permanece sendo refugiada, independentemente da rota realizada
na busca de proteção ou das oportunidades para reconstruir sua vida e mesmo das várias etapas envolvidas nessa
jornada.

Síria foi o país que mais gerou refugiados no mundo. Cerca de 824.400 pessoas foram forçadas a fugir dos conflitos
que assolam o país. As crises na África subsaariana também levaram a novos deslocamentos. Quase 737.400 pessoas
deixaram o Sudão do Sul para escapar de uma crise humanitária que cresceu consideravelmente em 2016. Burundi,
Iraque, Nigéria e Eritréia também geraram grande número de refugiados.
Os 5,5 milhões de sírios que foram forçados a fugir constituem o maior grupo de refugiados do mundo. Os
refugiados do Afeganistão aparecem em segundo lugar se considerado o país de origem.

A Turquia recebeu o maior número de refugiados – um total de 2,9 milhões, vindos principalmente da Síria. O país
também abriga cerca de 30.400 refugiados do Iraque. As crises na África subsaariana tendem a forçar as pessoas a
fugir para os países vizinhos e, como resultado, esta região continua a acolher um número cada vez maior de
refugiados do Sudão do Sul, Somália, Sudão, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Eritréia e
Burundi.
O Paquistão acolheu a segunda maior população de refugiados no final de 2016: 1,4 milhão de pessoas vindas
principalmente do Afeganistão. Esse número diminuiu ligeiramente devido aos refugiados que regressaram para
casa. Cerca de um milhão de refugiados buscaram segurança no Líbano e 979.400 no Irã.
Uganda vivenciou um aumento dramático da população de refugiados que saltou de 477.200 no final de 2015 para
940.800 no final de 2016. Esta população era constituída por pessoas vindas principalmente do Sudão do Sul
(68%), mas também contava com números significativos de pessoas vindas da República Democrática do Congo,
Burundi, Somália e Ruanda. Na verdade, Uganda registrou o maior número de novos refugiados em 2016.
O número de refugiados também aumentou na Etiópia, Jordânia e República Democrática do Congo. Na Alemanha,
a população de refugiados mais do que duplicou em 2016 e chegou a 669.500 pessoas. O principal motivo para
esse aumento foi o reconhecimento de solicitações de refúgio apresentadas em 2015 principalmente por sírios.
A maior população de solicitantes de refúgio vive na Alemanha (587.400 pedidos pendentes). Apesar da Alemanha ter
tomado mais decisões do que qualquer outro país, o processamento rápido do enorme volume de solicitações tem
sido incapaz de manter-se.
O número de solicitantes de refúgio nos Estados Unidos também aumentou. A Turquia também tem uma população
significativa de solicitantes de refúgio, mesmo desconsiderando os candidatos da Síria. Outros países com populações
significativas de solicitantes de refúgio incluem África do Sul, Suécia, Áustria, França e Malásia.

Deslocados internos são pessoas deslocadas dentro de seu próprio país, pelos mesmos motivos de um refugiado, mas
que não atravessaram uma fronteira internacional para buscar proteção.
Mesmo tendo sido forçadas a deixar seus lares por razões similares às dos refugiados (perseguições, conflito armado,
violência generalizada, grave e generalizada violação dos direitos humanos), os deslocados internos permanecem
legalmente sob proteção de seu próprio Estado – mesmo que esse Estado seja a causa de sua fuga.
Apátridas
Apátridas são pessoas que não têm sua nacionalidade reconhecida por nenhum país. A apatridia ocorre por várias
razões, como discriminação contra minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país
como cidadãos quando este país se torna independente (secessão de Estados) e conflitos de leis entre países.
A apatridia, às vezes, é considerada um problema invisível, porque as pessoas apátridas muitas vezes permanecem
invisíveis e desconhecidas. Elas podem não ser capazes de ir à escola, consultar um médico, conseguir um emprego,
abrir uma conta bancária, comprar uma casa ou até se casar.
Pessoas apátridas frequentemente vivem em situações precárias à margem da sociedade. Identificá-las é fundamental
para adereçar as dificuldades que enfrentam e para permitir que os governos, o ACNUR e outros possam prevenir e
reduzir a apatridia.
Retornados são pessoas que tiveram o status de refugiados e solicitantes de refúgio, e que retornam voluntariamente
O Brasil sempre teve um papel pioneiro e de liderança na proteção internacional dos refugiados. Foi o primeiro país
do Cone Sul a ratificar a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, no ano de 1960.

O refugiado dispõe da proteção do governo brasileiro e pode, portanto, obter documentos, trabalhar, estudar e
exercer os mesmos direitos que qualquer cidadão estrangeiro legalizado no país. O Brasil é internacionalmente
reconhecido como um país acolhedor. Entretanto, aqui, pessoas refugiadas também encontram dificuldades para se
integrar à sociedade brasileira.

Refúgio em Números
De acordo com dados divulgados na última edição do relatório “Refúgio em Números”, apenas em 2022, no Brasil,
foram feitas 50.355 solicitações da condição de refugiado, provenientes de 139 países. As principais nacionalidades
solicitantes em 2022 foram venezuelanas (67%), cubanas (10,9%) e angolanas (6,8%).
Em 2022, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) reconheceu 5.795 pessoas como refugiadas. Os homens
corresponderam a 56% desse total e as mulheres, a 44%. Além disso, 46,8% das pessoas reconhecidas como
refugiadas eram crianças, adolescentes e jovens com até 24 anos de idade.
Do total, 57,8% das solicitações apreciadas pelo Conare foram registradas nas Unidades da Federação (UFs) que
compõem a região norte do Brasil. O estado de Roraima concentrou o maior volume de solicitações de refúgio
apreciadas pelo CONARE em 2022 (41,6%), seguido por Amazonas (11,3%) e Acre (3,3%).
No ano de 2022, a categoria de fundamentação mais aplicada para o reconhecimento da condição de refugiado foi
“Grave e Generalizada Violação dos Direitos Humanos (GGVDH)”, responsável por 82,4% do total de
fundamentações, seguida por “Opinião Política”, que representou 10,9% desse total.
Mais de 6 milhões de venezuelanos fugiram de seu país em meio à deterioração das condições, igualando a Ucrânia no
número de pessoas deslocadas e superando a Síria, segundo as Nações Unidas.

A crise de refugiados na Venezuela é impressionante porque não há uma guerra no país como a Ucrânia, onde o conflito
em curso expulsou as pessoas do país.

Existem cerca de 6,8 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos espalhados pelo mundo, de acordo com a agência
de refugiados das Nações Unidas – semelhante aos 6,8 milhões de refugiados da Ucrânia. Há cerca de 6,6 milhões de
refugiados da Síria.

As pessoas continuam deixando a Venezuela para escapar da violência, da insegurança e das ameaças, assim como da falta
de alimentos, remédios e serviços essenciais. Com mais de 5 milhões de venezuelanos vivendo no exterior, a grande
maioria em países da América Latina e do Caribe, esta se tornou uma das maiores crises de deslocamento do mundo.
No passado, a Venezuela abrigou milhares de refugiados da região e de outras partes do mundo. Agora, a quantidade
de venezuelanos forçados a deixar suas casas continua a crescer, e um significante número deles precisa de proteção
internacional. Mais de 5,4 milhões de venezuelanos deixaram seu país até o momento, de acordo com dados dos
governos que estão acolhendo esse fluxo, fazendo com que essa seja uma das maiores crises de deslocamento no
mundo atualmente.
Houve um aumento de 8 mil por cento no número de venezuelanos buscando o reconhecimento do status de refúgio
no mundo desde 2014, principalmente nas Américas. Muitos venezuelanos que se encaixam no critério como
refugiado não estão se registrando para os procedimentos de refugiados, optando por outras formas legais de
estadia, que são mais fáceis e rápidas de se conseguir e que permitem acesso ao mercado de trabalho, educação e
serviços sociais.
No entanto, centenas de milhares de venezuelanos permanecem sem documentação ou permissão para residir
regularmente em países vizinhos, e, assim, não possuem a garantia de acesso a direitos básicos. Isso os faz
particularmente vulneráveis à exploração laboral e sexual, tráfico, violência, discriminação e xenofobia.
A maioria dos refugiados e migrantes da Venezuela chegando em países vizinhos são famílias com crianças, mulheres
grávidas, pessoas idosas e pessoas com deficiência. Muitas vezes obrigados a viajar por rotas irregulares em busca de
segurança, eles podem ser vítimas de contrabandistas, traficantes e grupos armadosclandestinos. À medida que mais
e mais famílias chegam com cada vez menos recursos, elas precisam imediatamente de documentação, proteção,
abrigo, alimentos e cuidados médicos.
Crise migratória venezuelana no Brasil - Situação em Roraima
Com o agravamento da crise econômica e social na Venezuela, o fluxo de cidadãos venezuelanos para o Brasil
cresceu maciçamente nos últimos anos. Entre 2015 e maio de 2019, o Brasil registrou mais de 178 mil
solicitações de refúgio e de residência temporária. A maioria dos migrantes entra no País pela fronteira norte
do Brasil, no Estado de Roraima, e se concentra nos municípios de Pacaraima e Boa Vista, capital do Estado.
Para acolher parte dessa população, 11 abrigos oficiais foram criados em Boa Vista e dois em Pacaraima. Eles
são administrados pelas Forças Armadas e pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Mais de 6,3 mil
pessoas, das quais 2,5 mil são crianças e adolescentes, vivem nos locais. Estima-se que quase 32 mil
venezuelanos morem em Boa Vista. Projeções das autoridades locais e agências humanitárias apontam que
1,5 mil venezuelanos estão em situação de rua na capital, entre eles, quase 500 têm menos de 18 anos de
idade.
Observações de campo realizadas durante missões e compartilhadas entre as agências apontam que o nível
de vulnerabilidade dos migrantes que entram no Brasil tem aumentado. Mais pessoas chegam ao País com
necessidades urgentes de assistência humanitária, sem acesso a comida, saúde e outros serviços básicos e
expostos a diversos tipos de violência. Estima-se que, até o final de 2019, o número de venezuelanos
migrantes no Brasil dobrará, chegando a 195 mil pessoas, das quais 175 mil em situação de vulnerabilidade.
O governo brasileiro adotou quatro áreas de atuação na resposta à migração venezuelana:
1.Fornecimento de acomodação e assistência humanitária básica nos abrigos para migrantes em Roraima;
2.Realocação de migrantes em outros Estados do País (interiorização);
3.Integração de migrantes na sociedade brasileira e no mercado de trabalho; e
4.Apoio aos migrantes dispostos a voltar para a Venezuela voluntariamente.
A Operação Acolhida atingiu a marca de 100 mil pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela interiorizadas pelo Brasil.
Nesta quinta-feira (30.03.2023), um voo saiu de Boa Vista levando 144 passageiros que desembarcaram por volta de
meio dia em Curitiba. Da capital paranaense, as pessoas são transportadas via terrestre para dez cidades nos estados do
Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro. São mais de 930 municípios brasileiros que receberam os cidadãos do país
vizinho em cinco anos.
Integrado com organismos internacionais, organizações da sociedade civil, Forças Armadas, estados e municípios nós
queremos tratar bem as pessoas refugiadas e migrantes que chegam ao nosso país”

Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome


A iniciativa é uma resposta humanitária do Governo Federal e parceiros às demandas dos migrantes que chegam ao país
pela fronteira com a Venezuela, com o intuito de diminuir a sobrecarga nos municípios que recebem os cidadãos da
nação vizinha, principalmente Pacaraima e Boa Vista. A Operação Acolhida apoia o deslocamento voluntário, seguro e
organizado de pessoas refugiadas e migrantes, buscando novas oportunidades de integração socioeconômica e cultural.

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