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PARECERES S. T. F.

1
DO ! PATRJMÓNIO
i N.o/.S~-so r-/ -g /f
Consultor- Geral da Repúb!ica

1924

Tomo 16
N.o• 1402 a 1466

' Brasília - Distrito Federal


DEPARTAMENTO DE IMPRENSA NACIONAL

1965

'

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._,
LEVI CARNEIRO
PARECERES DO CONSULTOR GERAL DA REPÚBLICA
1924

MCDII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de !aneiro, 2 de janeiro de 1924 - N9 1.

Ex.m" Sr. Ministro de Estado dos Negócios d.:;


Guerra -- Com o Aviso n 9 29, de J 1 de dezembro próximo
passado, submeteu V. Ex." a meu estudo o processo
relativo ao pedido feito· pelo Major graduado de cavalaria
J0ão Tôrres Cruz de pagamento do sôldo de capitão do
Exército durante o tempo em que esteve à disposição do
Presidente do Estado do Ceará e comandou o Regimen~o
Militar do mesmo Estado.
Indeferido já o pedido, pelo honrado antecessor ele
V. Ex.", o requerente pede reconsideração dêsse de"-
pacho. Ê meu parecer, Sr. Ministro, que o requerimento
não tem fundamento legal.
De fato, o requerente aceitou e exerceu uma função
pública, estranha ao seu cargo e pôsto: sendo capitão
-:lo Exército Nacional foi comandar uma milícia estadual.
E as leis que regulam êste caso, em relação à remu-
neração e baseadas no princpio constitucional do art. 7.3,
ciispõem terminantemente que sejam privados de todos
cs seus vencimentos do emprêgo ou pôsto os funcionários
civis ou militares
·r'

que exercerem cargo, emprêgo, ou função pú-


blica de qualquer natureza. estranha ao seu
cargo ou pôs to (art. 104. § 1'', do Decreto Le-
gislativo n'' 2.924, de 1915);
ou
que aceitarem c·omissão do Govêrno da União
ou dos Estados, com licença do Govêrno Fe-
deral (art. 1'32, · § · 2'!, -do Decreto Legislativo
nQ 3.089, de 1916).

E sendo essa a lei, é certo que a ju~isprudÇnc~a do


s·uprerno: fribun~l_ ·Federal a encontra perfeitament~ 4e
acôrdo com ·a sentido do referido dispositivb .cons-tÚu~
donal .
. De fato, aquêle egrégio Tribunal, d'epois de urnd
série de julgados, firmou o princípio de que

redigido de modo tão claro e positivo, o art. 73


da Constituição não comporta as distinções com
q.ue· o legislador ordinário e o Poder. Executivo
tentaram modificar a rigidez da proibição,· delá
excluindo as acumulações remuneradas de cargo
federal com estadual ou municipal. de subsídio
com vencimentos, das pensões de aposentado~ià
ç outras .(Acórdão de 14 de maio de 1919, Re-:
vista do Supremo Tr.ibunàl Federàl, vol. XIX~
pag·. 589)·

E~ 'face destas considerações, é meu parecer que o


despacho deve ser mantido.
:Oevolvo os papéis e tenho a honra de . renovar a
V: ..'Ex.'~ meus protestos de elevada estima e
distinta
consideracão.
MCDIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro,
~ ~ ~
2 ...de janeiro de 192'4 - N9 2 o
... ' -... .......,.

Exomo Sr o Ministro de Estado dos Negócios da


Marinha -- Com o Aviso n 9 5o 400, de 20 de dezembro
próximo findo. submeteu V o Ex'! a meu parecer o reque-
rimento no qual o Capitão-de-Corveta reformado, João
C&rlos Pereira Pinto._ aposentado em 3 de janeiro de
1920 como Cônsul-Geral de 1'·' classe, com 50 anos, 9
r;1eses e 3 dias de serviço, dos quais 23 de serviço fuilitar,
pede «se lhe mande pagar c sôldo de sua patente corr~s­
pondente aos 15 anos e 9 meses que lhe sobram dos 35
anos de serviço, exigidos pelo art. 121 da Lei n9 2 o924,
de 5 de janeiro de 1915. e que deixou de receber desàe
a data do decreto de sua aposentadoria» o
Não me parece que o pedido tenha fundamento legal.
Reformadc. como oficial de marinha, em 12 de junho éle
1889, cessou aí a vida militar ativa do requerente, cabe)l~
do-lhe os vencimentos que, no momento da aposentadoria,
lhe cabiam por le: o Admitido, posteriormente, na carreira
consular, aposentou-se após 27 anos de serviço, nessa
cr.rreira. indc buscar no seu tempo de serviço militar o que
lhe faltava para completar os 35 anos precisos para
percepção de vencimentos integrais o
h

Êsses vencimentos integrais a que tem o requerente


direito são os de Cônsul~ Geral de 1'·' classe; e êsse êle
os percebe.
Não me parece, pois. que ao requerente caiba direito
é: outra qualquer percepção.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex'\
àevolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex~
meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDIV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de janeiro de 1924 - N9 3 o

Exo 1110 Sr o Ministro de Estado dos Negócios da


Fazenda ~ Com o Aviso n9 247, de 22 de dezembro
próximo findo, submeteu V o Ex'! a meu estudo o processo
relativo à incidência da firma Caldeira, Ferreira <& Cia o,
de Uberaba, nos disposi~ivos do Regulamento do impôsto
dE> renda aprovado pelo Decreto n'.> 14 o729, de 16 de
março de 1921 o .
O processo se originou da consulta do Coletor d<~s
Rendas Federa's naquele Município que não encontrou
!lO referido Regulamento dispositivo que se enquadrasse à

sociedade a que se refere a dita firma o


Pelo contrato social. junto por cópia à consulta lo
Coletor, se vê que se trata de uma sociedade em comandita
simples, e em nome coletivo por isso que há nela mais
de um sócio solidário o

E basta a leitura das primeiras cláusulas dêsse con·


trato para se evidenc:ar que se trata de uma sociedad-e
de;ssa natureza. como o define o art. 311 do Código
Comercial.
De fato, a sociedade em questão é constituída por
dois sócios solidários (de responsabilidade ilimitada) ~
8

de vários sóc·os comanditários (de responsabilidade limi-


t.:~da
a suas respectivas cotas de capital) .
Parece-me, porém, que para ~aber se a firma incide
ot< não na obrigação do pagamento do impôsto sôbre a
n·nda, independia entrar no conhecimento da natureza da
sociedade. A êsse impôsto estão sujeitas tôdas as s.ocie ..
dades comerciais, de qualquer natureza que sejam.
O .art. 1'-' do Regulamento faz referência· ·a tôdas
essas soc'edade_s e, se .em os números a. b. c e d, especifil:.a
sociedades de certa natureza, na generalidade dos números
j e k abrange tôdas as demais.
· Realmente as expressões lucro líquido da indústrl.'!-
fabril e lucro líquido da indústria ccmercial, de que usaran1
~.sses números do art. 1o do Regulamento não podem
cieixar de ser compreendidas senão como

lucros líquidos das sociedades de qualquer .la-


tureza ( exc!uídas aquelas de que já fêz o artiJÔ'
menção especial) que explorem
a) a indústr·a fabrJ,
b) a indústria comercial.

A não se entender assim, a conclusão seria, por ura


l<tdo, que êsses do •s dispositivos não tinham significaçã.J
nem alcance algum _::>or já es' ar a matéria prevista nos
itens anter:ores, e por outro lado que estavam excluídas
do :mpôsto de renda as sociedades comerciais em geral
(em com~ndit·a· simples, em nome coletivo ou com firma,
d~ ~apitai e indústria e -em conta de participação), porq:1e
<.l elas nãb fa-z expressa menção o art. 19 do RegularilentÓ
em seus diversos itens, o que é evidentemente. absurdJ:l.:
Em face de tais considerações, parecendo-me fora
de :dúvida que· a· firma em questão está sujeita ao reg-ti ..
(j

l;:tmento do impôsto sôbre a renda, como representativa


àl. uma sociedade comercial, penso que é nesta confor~
midade que se deve dar resposta à consulta.
Devolvo os papéis e tenho a hcnra de renovar a
V. Ex'' meus protestos de elevada estima e distinta
consideração .

Rodrigo Octavio.
MCDV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de janeiro de 1924 - N? 4.

Ex. 111 " Sr. Ministro de Estado dos Negóc:os da


Guerra - Com o Aviso n~ 30, de 26 de dezembro pró-
ximo findo, submeteu V. Ex" a meu estudo o processo
decorrente do requerimento em que o Bacharel Mário
Tibúrcio Gemes Carneiro. Auditor de Guerra, em dispo-
nibilidade, pede a restituição de quantias que em 1909,
1911, 1914 e 1919 lhe foram descontadas a título de sêlo
e impostos.
Estudada a questão nesse Ministério foi o pedido
julgado procedente e a dívida reconhecida na importância
à e 2: 158$200. Solicitado c pagamento do Ministério da
Fazenda foi por êle considerada prescrita a parte dc.
dívida anter:or a 5 anos da data do pedido. e nesse sentido
se manifestou o respectivo Ministro no despacho de 1
à e setembro último e A viso de 21 do mesmo mês.
Tomando conhecimento da matéria devo dizer, Senhor
Ministro, q.ue estou de pleno acôrdo com o parecer do
Sr. 1'! Oficial da Contabilidade dêste Ministér:o, Bachard
Pereira de Carvalho, enunciado depois que o proceil:>o
foi devolvido ·pelo Ministério da Fazenda.
É bem certo que as leis citadas no parecer do Senhor
O r. Auxiliar do Consultor da Fazenda e ainda o art. 173,
12

~ I O, n'' VI, do Código Civ:l, proclamam o pnnCiplO c'.a


prescrição qüinqüenal a favor da Fazenda Nacional. Não
é menos certo, porém, que nos precisos têrmos dêsse mesmo
2rtigo do Código Civil

o prazo da prescrição corre da data do ato ou


fato do qual se originar a ação.

Ora, se, como se vê das informações, é certo que era


interpretação P,acífica que os auditores não tinham isen~o
de descontos em seus vencimentos e se só por despacho
do Ministério da Fazenda de 8 de novembro de 1922 e
conseqüente circular da Diretoria da Despesa, é que se
reconheceu que deviam aquêles funcionários gozar de3~~
i;.enção, é claro que é êsse despacho que origina o ped:do
do requerente e dêle se deve contar o prazo para a
prescrição do direito de haver o pagamento.
Não há dúvida que os fundamentos em que se basei'l
êsse reconhecimento são um artigo da Co:q.stituição r;
diversas decisões do SuJremo Tribunal Federal. Nenhum
dêsses fundamentos, porém, visava o caso concreto da
irredutib:lidade dos vencimentos dos auditores. O recn-
r.:hecimento dess3 irredutibilidade de vencimentos decorreu
por aplicação indireta daqueles fundamentos e assim não
podem êles, no rigor do direito, ser considerados
o· ato ou fato de onde se origina a ação.
Trata-se, no caso, de uma apLcação interpretativa e
e claro que é a fixação dessa interpretação o ato de 'onde
decorre o direito de pedir a restituição. Neste mesmo
sentido .me tenho manifestado já em diversos parecere&..
1~otadamente· no já- publicado à pág. 46 d~ vol.· 8 'cl~
Parec'eres. do Consultor-Gera/ e referido na infórmação
do Sr... I:~ oficial .citado .
13

Nesta conformidade é meu parecer que não incorr~


em prescr:ção parte alguma do pedido de restituição feito
pelo requerente e nesse sentido se deve responder ao
Ministério da Fazenda.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex~ meus protestos de elevada estima e distinta consi~
der ação.

Rodrigo Octavio.
MCDVI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 14 de janeiro de 1924 - N0 5.

Ex. 111 " Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indú ;-


tria e Comércio - Com o O fi cio n9 6. 7 46, de 31 de
dezembro próximo findo, da Diretoria-Geral de Conta-
bilidade dêsse Ministério, submeteu V. Ex'.t a meu estudo
o processo relativo ao pedido de pagamento de diferença
àe vencimentos fe:to pelo atual Diretor da Escola de
Aprendizes Artífices da cidade de Campos, Engenhei..o
Crisanto Sã de Miranda Pinto.
Do estudo do processo, aliás decorrente de petição
pouco clara e deficientemente informado, depreendo que
o requerente, adido como agrônomo do Serviço de Proteção
àe índios e LocalizAção de emigrantes nac:onais, conti-
nuou percebendo os vencimentos de seu cargo, isto é:,
800$000 mensais.
Alega êle. porém. em seu requerimento, que, de 1 ~e
janeiro a 28 de julho de 1916, foram-lhe apenas pagc-s
os vencimentos de 600$000 mensais; e. por isso, pede o
pagamento da diferença entre os dois vencimentos, durante
aquêle tempo.
A razão' pela qual foi o seu vencimento reduzido _''11
1'' de janeiro e restabelecido em 28 de julho, não :'e
encontra nas informações. Diz o requerimento que a r~-
Ih

dução dos vencimentos na,ceu de uma «aplicação sem


cabimento do § 7'> do art. 136 do Decreto Legislativo
n9 3. 089, de 8 de janeiro de 1916».

Ora, êsse dispositivo estabelece que


em caso algum serão pagos a adidos vencimentos
maiores do que. os percebidos pelos funcionár:cs
efetivos de iÇJual categoria.

Mas, se os. vencimentos do cargo efetivo do reql1~


r

rente eram 800$0.00: ~ão. vejo como, por apli~~ção dê~s~


.Princípio, seus vencimentos foram reduzidos. nem isso é
dito na's · informações.
Na ignorância destas c:rcunstâncias, de conhecimento
necessário para solução do caso concreto, quer me parecer
qt!e o caso deve ser resolvido por aplicação das seguintes
regras gerais:
a) o adido tem direito aos vencimentos do seu cargo,
enquanto não é a;::Jroveitado;
b) aproveitado e aceitando a nova designação, teria
direito, daí em d~ante, aos vencimentos do nôvo cargo;
c) se êsses vencimentos forem inferiores aos seus
próprios vencimentos, o adido não é obr.·gado a aceitar
a designação.
No caso em estudo, a partir de 28 de julho de 1916,
data em que começou o requerente a exercer o cargo de
Diretor da Escola de Aprendizes Artífices: cabem~lhe os
venc:mentos dêsse cargo. Desde o momento em que foi
declarado adido até aquela data, cabem~lhe os vencimentos
do cargo que exercia antes de sua adição.
E assim, se de 1 de janeiro a 28· de julho de 1916.
foram~lhe pagos vencimentos inferiores aos que percebia
como adido, recebeu menos daquilo a que tinha direito,
17

salvo se, durante êsse tempo, foi designado para o exe::~


cício de cargo de vencimentos inferiores e aceitou a
designação.
Submetendo ao critério de V. Ex'·' estas conside~
rações, devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' meus protestos de elevada estima e distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDVII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 15 de janeiro de 1924 N"' 6.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da ·


Fazenda - Com o Aviso n 9 255, de 31 de dezembro
próximo findo, submeteu V. Ex'! a meu exame o processo
da ~ransferênci aa Bazílio Pimenta Filho do domínio útil
do terreno de marinha sito à Rua Jerônimo Montei.r:o
n 9 20, na Cidade de Vitória, no Estado do Espírito
Santo.
O prédio em questão se incorporou integralmente no
domínio do referido Bazílio Pimenta Filho, não por compra,
troca ou dação em pagamento, mas por partilha conse-
qüente ao distrato social da firma Cabral & Pimenta, rle
que er<~, aquêle, sócio.

A controvérsia consiste em saber se a transferência


está sujeita a laudêmio.
Penso, Sr. Ministro, que não está.
O art. 686 do Código Civil sujeita a transferência
da propriedade ao consentimento do senhorio direto, e
conseqüerttemente ao pagamento de laudêmio, se êste não
quiser usar do jus protimeseos, tão-somente no caso de
transferênc:a por venda ou dação em pagamento.
20

Ora, no caso não houve venda nem dação por isso que
não houve alienação da propriedade.
O bem era possuído pela firma social de que Pimenta
era sócio. Na liquidação da sociedade conseqüente ao
distrato social os bens são partilhados pelos sócios, na
proporção da parte ideal que cada um já tem sôhre êles.
O Código Comercial estatui expressamente, em o
nq 3 do art. 345, que, se os sóc:os não acordarem e.m
receber dividendos à proporção que os bens se forem li~
quidando

proceder~se-á imediatamente à partilha dos bens


sociais
e, no atual direito brasileiro (art. 631 do Código Civil),
a partilha, a divisão dos bens comuns entre os consóc:os
é ate
não atributivo de pro?riedade, mas meramente
declaratório dela.

Assim, na divisão dos bens sooms não há transf.e-


J:ência de propriedade de um para outro, da sociedade
para o sócio, mas, simples declaração dos bens que ficam
pertencendo a cada sócio, como representação da cota
ideal que já lhe pertencia no acêrvo comum.
É por êssefundamento que de tal operação não
decorre igualmente a obrigação de pagar impôsto de trans-
missão de propriedade, impôsto que, no caso em estudo,
como se verifica da escritura de dissolução da sociedade
Cabral & Pimenta, junta a êste processo, muito jurídica
e legalmente deixou de ser pago.
Bem certo 'laudêmio não é impôsto; mas a razão pela
qual êsse impôsto não era devido no caso, é porque aí
21

não há alienação, nem transferência de propriedade, a tal


razão procede igualmente para se reconhecer que tal ope~
ração não está sujeita ao pagamento de laudêmio.
É êste, Sr. Ministro, meu parecer.
Devolvo o processo e aproveito o ensejo para renovar
a V. Ex'~ meus protestos de subida estima e distinta
consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDVIII

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


<ie Janeiro, 17 de janeiro de 1924- N<:> 7.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Fazenda - Com o Aviso n 9 448, de 25 de novembro
.de 1922, recebi de V. Ex'! para dar parecer o processo
relativo à cobrança executiva contra a Companhia Na-
-cional de Navegação Costeira de $ 108.706.50 prove-
nientes de saldo de sua responsabilidade para com o Lóidc
Brasileiro (Patrimônio N acionai) .
Como do processo remetido constassem apenas di-
versas reclamações da Companh:a Costeira contra a pro-
.cedência da dívida e tendo minha audiência sido deter-
minada em vista de Memorial pela Companhia endereçado
ao Sr. Presidente da República contra o despacho do
Sr. Ministro da Fazenda, solicitei, para me poder pronun-
·ciar sôbre o fundamento da decisão ministerial. o processo
.em que se houvesse feito a verificação daquela responsa-
bilidade.
Meu ofício de 30 daquele mês de novembro de 1922
só teve solução com o Aviso de V. Ex~. n" 196, de 29
.de setembro último, que capeou os papéis requisitados e
que me encontrou com grande acúmulo de serviço, o que
.explica o retardamento dêste parecer.
24

Do estudo a que procedi da matéria verifica-se, Senhor


Ministro, que, para atender à necessidade de suprir-se
de carvão, a direção do Lóíde, quando a cargo do Senhor
Frederico Burlamáqui, entreteve negociações com a Com-
panhia Costeira, que se comprometeu a fornecer-lhe êsse
combustível adquirido na América do Norte.
E assim, sem que, entretanto, contrato formal hou-
vesse celebrado, obr:gou-se a Companhia Costeira a en-
tregar ao Lóide 100 mil· toneladas de carvão, cujas remessas
seriam pagas no ato do embarque. Por seu lado o Lóide
se comprometeu a fazer o pagamento adiantado de
$ 150.000 que lhe seriam reembolsados à razão de $ 1 . 50
por desconto do preço em cada tonelada. Dêsse modo,
fornecidas as 100 mil toneladas, estar:am restituídos os
$ 150.000.
Dos papéis consta, entretanto, que tal fornecimento.
foi rescindido, por proposta do Lóide, com a qual aquiesceu
a Costeira.
De fato, da informação pelo Engenheiro Burlamáqui,
prestada em 17 de outubro de 1921 à Comissão de Liqui-
dação, depois de se haver reconstituído o Lóide como
soc:edade anônima, se lê que

estando o carvão em baixa, fato contrário a tôdas


as previsões, e não querendo a Companhia de
Navegação Lóide Brasileiro aceitar o aludido
contrato, a Diretoria do Lóide solicitou da Com-
panhia Costeira a sua anulação, o que foi por
ela aceito, com ressalva de seus prejuízos.

O inteiro teor das cartas trocadas por essa ocasião·


se acha transcrito no ofício que aquête mesmo engenheiro
endereçou ao Ministério da Viação, em 21 de fevereiro·
25

do mesmo ano, e está junto por cópia à pág. 81 do


processo.
No momento da rescisão o total do fornecimento
havia apenas chegado a 27. 529 toneladas, pelo que res-
tava ainda para ser restituído, dos 150 dollars recebidos,
c saldo de. $ 108. 706. 50; e essa importância, conforme
informação da Com:ssão Auxiliar da Liquidação do Lóide
Brasileiro (Patrimônio Nacional), de 24 de outubro de
1921, foi mandada levar à conta de Lucros e Perdas pela
administração do Lóide.
É sôbre a natureza dêsse adiantamento e conseqüen-
cias da rescisão do con~rato, que não h:í acôrdo entre n
administração do Lóide, que o reabou, e a Comissão
liquidante de suas responsabilidades depois da reorgani-
zação dessa emprêsa como sociedade anônima.
No presente processo a Companhia Costeira pretende
que ês~e pagamento foi feito a título de caução ou ga-
rantia da execução do fornecimento, pelo que, rescindido
o contrato, a pedido do Lóide, não tem êste direito de
haver o respectivo saldo; e assim também entendeu a
antiga admin:stração do Lóid~. que fizera a negociação,
pois, como vimos, mandou levar o saldo à conta de lucros
e perdas.
A Comissão liquidante do Lóide, Patrimônio Na-
cional, entretanto, foi de parecer que essa quantia foi paga
pura .e simplesmente a título de adiantamento do preço·
que, assim, pela restituição do saldo, está obr:gada a
Costeira. Com êsse modo de ver concordou o honrado
antecessor de V. Ex~ que mandou proceder à cobrança
da quantia correspondente. E eu, tendo estudado a ma-
téria, passo a dar meu parecer.
26

É evidente que, tratando~se de uma negociação comer-


cial, a natureza dêsse adiantamento devia ser buscada
nos têrmos do acôrdo, e, na ausência de qualquer estipu-
lação a respeito, devia o acôrdo ser interpretado nos
têrmos do nç 3 do art. 131 do Código Comercial, segundo
·O qual

o fato dos contratantes, posterior ao contrato,


que tiver relação com o objeto principal, será
a melhor explicação da vontade que as partes
tiveram no ato da celebração do mesmo contrato.

Por aplicação dêste preceito legal é claro que como


boa devia ser tida a liquidação que do negócio fizeram
as partes pactuantes, se bem que, em sua carta de aquies~
cência à rescisão do acôrdo, a Companh:a Costeira não
houvesse claramente expressado as conseqüências dêle,
mas simplesmente ressalvado, de um modo vago, os seus
prejuízos.
Ocorre, entretanto, que, se bem que o § 34 do art. 99
da Lei n'' 3.674, de 7 de janeiro de 1919, que autor~zou
o Govêrno a reorganizar os serviços do Lóide, depois do
desbarato da Companhia que o explorava, houvesse esta~
tuído que se devia «manter o caráter de autonomia admi~
nistrativa e comerc:al daqueles serviços», contudo, o art. 70,
n° 5, do Regulamento, expedido para execução daqueles
dispositivos legais, aprovado pelo Decreto n'! 13. 549, de
16 de abril de 1919, dispôs que

O Diretor-Presidente é o chefe superior do


Lóide Brasileiro, a quem especialmente ihcumbe:
celebrar contratos, que serão também assinados
pelos respectivos superintendentes, para forneci-
mento de materiais, víveres, combustíveis e lubri-
ficantes, obras e serviços autorizados, ficando
dependentes da aprovação do Ministro os con-
tratos que excederem de dez contos de réis.

É claro que em face dêsses princípios, a cuja obser-


vância o Govêrno está adstr:to, não pode ser reconhecida
a legalidade da transação, de soma tão el~vada realizada
pela direção do Lóide durante o regime do referido Re-
gulamento.
Penso, pois, que muito louvàvelmente andou a Co-
missão liquidante não aprovando aquêle modo de liqui-
.dação de tais transações e procurando fazer entrar para
·OS cofres públicos aquêle avultado saldo.

Deve-se, todavia, reconhecer que, dadas as circuns-


tâncias expostas, e especialmente a existência de liqui-
.dação de contas entre a Companhia Costeira e o Lóide
(Patrimônio Nacional), já posteriormente à restauração
.da Companhia anônima, a solução do caso não pode ser
tomada por uma sim?les dec:são unilateral e muito menos
o saldo, que se pretenda pertencer à Fazenda, não pode
ter a natureza fiscal que autoriza o procedimento executivo
para sua cobrança.
Não me parece, pois, acertado o modo por que se
·começou a agir para obter aquêle reembôlso.
A Companhia, cuja razão e argumentos não foram
.atendidos, teve ordem de pagar em certo número de dias
sob pe.na de cobrança executiva. Não se tratava, a meu
ver, de dívida, que pudesse ser pedida por via executiva.
Além disso a credora era uma companh:a notoriamente
solvável e que, além disso, tem o Govêrno contratos e
transações de alta monta, pelo que, certamente, haverá
muitos meios de se liquidar uma sua responsabilidade para
28

com o Govêrno, sem se precisar lançar mão de medidas


vexatórias e prejudiciais ao seu crédito.
Também não me parece justificada a pretensão de
se haver o pagamento em dollars ao câmbio do d:a do
pagamento. Se se tratasse de um pagamento a fazer nessa
moeda, que houvesse deixado de ser feito e que agora
o devesse ser, bem se compreende que assim fôsse.
Trata-se, porém, de uma negociação desfeita a pedido
do próprio Lóide e. assim, o que é justo que se lhe res-
titua é o equivalente aos dollars entregues para o negócio.
Outra solução, a exigência do pagamento da impor~
tância correspondente aos dollars ao câmbio do d:a, dada
a grande depressão cambial, manifestada posteriormente
à entrega daquela quantia, duplicando a quantia empre~
gada pelo Lóide no negócio, desfeito a seu pedido, se
traduziria num avultado lucro com que o Govêrno se
locupletaria em detrimento da Companhia Costeira, que
ter:a de restituir mais do dôbro do que recebera.
Em face destas considerações e resumindo, sou de
parecer
1•.> que se deve procurar acôrdo com a Companhia
de Navegação Costeira para a restituição do saldo do
adiantamento de $ 150 mil feito pelo Lóide Brasileiro para
fornecimento de carvão, e que não foi integralmente res~
tituído, na proporção de $ 150 por tonelada conforme o
ajuste, por ter sido rescindido o contrato, saldo verificado
ser de $ 108.706.50;
que essa restituição deve ser feita no equiva~
29
lente à quantia empregada pelo Lóide para obter aquêle
número de dollars, por isso que não se trata de um paga~
menta a fazer em dollars, mas de restituição pura e
29

simples de uma soma entregue para um negócio que 3e


anu1ou;
3° que, não se chegando a acôrdo com a Companhia
para reconhecimento dessa responsab:lidade, mande o
Govêrno propor contra a mesma ComDanhia a açao com~
petente para que seja reconhecida sua responsabilidade e
paga a respectiva importância.
Submetendo êste meu modo de ver ao critério de
V. Ex'-', devolvo todos os papéis e tenho a honra de
renovar a V. Ex'.l, meus protestos de elevada estima e
distinta consideração .

Rodrigo Octavio.
MCDIX

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 18 de janeiro de 1924 - N;> 8.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha -- Com o Aviso n? 173, de 9 do corrente, submeteu
V. Ex~ a meu parecer o processo relativo ao requerimento·
em que o Capitão-de-Mar-e-Guerra graduado, médico
reformado Dr. José Raulino de Oliveira, solicita melhoria
de reforma.
O requerente foi reformado, a pedido, por decreto de
I de junho do ano passado, contando 30 anos, 5 meses e
11 d:as de serviço.
Como, porém, reformado, não se lhe deu substituto
no serviço a seu cargo senão a 20 de julho seguinte, e
êle esteve, assim, ainda em serviço ativo at~ essa última
data, pretende que, de acôrdo com o Decreto n 9 9. 874,
de 13 de novembro de 1913, se lhe conte mais uma cota
de 2% em seus vencimentos de r~formado.
De fato, Sr. Ministro, o citado decreto manda contar,
como ano completo, para os efeitos pedidos pelo reque-
rente, a fração de ano excedente de 6 meses, e, em vista
das circunstâncias expostas, está averiguado que o reque-
rente estêve em serv:ço ativo por período excedente da-
quele prazo, durante o ano passado.
32

Parece-me, pois, procedente o pedido. É bem certo


que parte dêsse período ( l mês e 20 dias) , é posterior
à d_ata da reforma do requerente; a meu ver, porém, tal
circunstância não modifica a situação. É preciso distinguir,
quanto aos efeitos, a data de um ato oficial do tempo em
que se lhe dá execução. Não era por certo pelo fato de
ser expedido o decreto de sua reforma que o requerente
podia abandonar o serviço; era m:ster que, após a publi-
cação daquele decreto, a autoridade competente lhe desse
execução.
Bem certo o requerente podia ter tomado providên-
cias para que se desse imediata execução ao ato que o
reformou. Isso, porém, não se fêz, e das informações
consta que ê!e estêve ainda em serviço ativo, até a data
indicada, posteriormente à concessão da reforma.
Em face destas considerações é meu parecer, Senhor
Ministro, de acôrdo com o parecer do Almirantado, que o
requer:mento é de ser deferido.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' os meus protestos de elevada estima e distinta
-consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDX

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


·de Janeiro, 18 de janeiro de 1924 - Nç 9.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Justiça e Negócios


Interiores - Com o Aviso n9 93. de 14 do c:orrente,
solicitou V. Ex'·' meu parecer sôbre o requerimento em
·que o Dr. Augusto Bernacchi, preparador vitalício da
Escola Politécnica, desta Cidade, pede que as gratificações
.adicionais que já lhe foram concedidas comecem a ser
-contadas, não da vigência da Lei n'' 3. 674, de 7 de janeiro
-de 1919, mas do momento em que foram completados os
respectivos períodos de serv:ço do magistério.
Quer me parecer, Sr. Ministro, de acôrdo com os
pareceres e a interpretação dada nesse Ministério ao refe~
rido texto de lei, que o pedido não tem procedência.
A legislação anterior, que concedera gratificações
adicionais, por tempo de serviço, aos membros do magis-
tério, não estendeu êsse favor aos preparadores. Foi a
citada Lei de 1919 que lhes deu o direito de percebet
tais gratificações; é claro que êsse direito só pode ser
entendido a partir da vigência da lei que o concedeu, desde
que ela não dispôs que seus efeitos deviam alcançar pe~
ríodos anteriores, o que, aliás, seria dar à lei efeito re~
troativo, contrário ao princípio do art. 11, § 3 9, da Cons~
tituição Federal.
34

Aliás, o próprio dispositivo legal exclui, por seus.


têrmos, a inteqretação de que êle visou reconhecer que
os preparadores deviam ter sido tratados como os demais
professôres vitalícios e, ass:m, com os mesmos direitos que
a êstes tinham sido reconhecidos.
A conseqüência dessa interpretação, que o requerente
defende, seria necessàriamente a equiparação dos direitos
entre professôres e preparadores; a lei, entretanto, não
permite essa equiparação, por isso que não outorgou aos
preparadores os favores das leis vigentes sôbre gratifi~
cações adicionais, mas deu~lhes as vantagens do art. 295·
do Código de Ensino de 1892, Código já substituído pelo·
de 1901 e pelos Decretos de 1911 e 1915.
Ora, por fôrça dêstes últimos atos, os favores do.
art. 295 do Código de 1892 foram modificados: e se os
favores de que gozam os preparadores são os dêsse artigo,
favores de que já não gozam os demais professôres vita~
lícios, é claro que a Lei de 1919 criou para os preparadores
não só direito nôvo, como direito excepcional, que os
coloca em situação mais vantajosa que a dos demais pro~
fessôres.
Por êstes fundamentos, Sr. Ministro, é meu parecer
que a interpretação dada nesse Ministério à Lei de 1919,
relativa às gratificações devidas aos preparadores, deve
ser mantida.
Devolvo os papets e tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' os meus protestos de elevada estima e distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 2'2 de janeiro de 1924 - N'·' 10.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús-


tria e Comércio - De ordem de V. Ex~. com o Ofício
da Diretoria-Geral de Contabilidade, n9 54, de 14 do
corrente, recebi para dar parecer o processo relativo à
reintegração pedida por Júlio Cândido de Deus, antigo
Ecônomo do Aprendizado Agrícola de S. Luís de Missões,
no Estado do Rio Grande do Sul.
Do estudo do processo se evidencia, Sr. Ministro,
uma grande irregularidade, da qual tem decorrido irrepa-
rável prejuízo para o requerente.
Exonerado daquele cargo em 4 de maio de 1916, em
vista de vagas acusações constantes de um telegrama do
Diretor do Aprendizado, em que servia, sem processo
administrativo, sem ser ouvido sôbre as acusações, o re-
querente, depois de ver indeferido pelo mesmo Ministro,
que o exonerou, um primeiro pedido da reintegração,
renovou êsse pedido, pelo requerimento de 29 de agôsto
de 1918 que, tendo alcançado parecer favorável do
Dr. Consultor J uríd:co dêsse Ministério, foi deferido pelo
Sr. Ministro Dr. Pereira Lima, em 22 de novembro d.o
mesmo ano.
Levantada uma dúvida sôbre o meio prático de tornar
efetiva a reintegração determinada por êsse despacho,
escoaram-se meses e de nôvo foi ouvido o Dr. Consultor-
Jurídico que, em 20 de julho de 1920, dá um parecer em
que nota que «a seção não tinha o direito de embaraçar
36

de qualquer forma a execução do ato do Ministro», depois


do que, entretanto, o processo fica ainda sem andamento,
até que, em dezembro de 1922, tem novas informações da
Diretoria de Contabilidade.
Cumpre ainda observar que essas informações são
pouco verdadeiras, pois, nelas, se diz que o Ministro
Pereira Lima despachara «mandando o requerente aguardar
oportunidade» e se aconselha a V. Ex'·' como «eqüitativo
o deferimento do pedido», quando é certo que o pedido
já está deferido, desde 22 de novembro de 1918, por des-
pacho que foi conservado até agora. isto é, por 5 anos
e 2 meses, sem execução.
Em vista dessas últimas informações solicitou V. Ex"
meu parecer, e como V. Ex'! verá não se trata neste
processo de mais do que dar execução a um despacho
de um dos honrados antecessores de V. Ex'·', que declarou
sem efeito a exoneração de um funcionário.
Em face destas circunstâncias, é meu parecer que
o funcionário em questão deve ser mandado voltar ao
exercício do cargo que exercia, sem prejuízo de sua
antigüidade e de seus vencimentos desde a data do des-
pacho ministerial que «desfez» a sua exoneração.
Se estiver servindo ainda como Diretor do Apren-
dizado, o mesmo funcionário que com o requerente se
malquistou e se V. Ex'·' entender que pode não convir
ao serviço público a volta do requerente para seu antigo
empregado, deve-se-lhe dar colocação correspondente em
outra repartição dêsse Ministério.
É êste, Sr. Ministro, o parecer que submeto ao
critério de V. Ex'\ a quem, devolvendo os papéis, tenho
a honra de renovar meus protestos de elevada estima e
distinta consideração.
Rodrigo Octavio.
MCDXII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 25 de janeiro de 1924 - NQ 11 .

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negóc:os da Fa-


zenda - Com o Aviso n9 253, de 31 de dezembro pró-
ximo findo, remeteu-me V. Ex'·', para dar parecer, o
processo de transferência do domínio útil elo terreno de
marinha n 9 7 da Rua Visconde do Rio Branco, em Niterói,
onde está edificado o prédio n'! 403, antigo 103.
Ê o caso que por morte de José de Seixas Riodades.
passou por inventário e partilha o prédio a seus cinco
filhos. Dêsses, dois venderam, pela escritura de 12 de
junho de 1922, passada em notas do tabelião do J9 Ofício
daquela Cidade, as duas partes que lhes haviam cabido
no prédio aos outros três, Alberto, José e Leandro de
Seixas Riodades, que ficaram assim senhores e possuidores
de todo o prédio e do domínio útil de todo o prazo.
Requereram então êles à Diretoria do Patrimônio a
expedição de carta de aforamento. Regularizada nessa
repartição a situação do prazo pela averbação das trans-
ferências conseqüente às partilhas do finado proprietário
José de .Seixas Riodades, surgiu dúvida sôbre a questão
de saber se havia no caso um desmembramento de prazo,
sujeitando a novos contratos que, nos têrmos da Circular
38

n° 34, de 8 de setembro de 1921, autorizasse a modificação


das condições da concessão originária do aforamento.
Não me parece, Sr. Ministro, que se possa ver na
hipótese desmembramento do prazo.
O Código Civil. mantendo os princípios de nosso
direito anterior sôbre a indivisibilidade dos prazos enfi~
têuticos, dispôs, positivamente, no art. 681, que

os bens enfitêuticos transmitem-se por herança ... ;


mas, não podem ser divididos em glebas sem
consentimento do senhorio.
Como complemento dêsse dispos:tivo dispõe o art. 690
quando prédio emprazado vier a pertencer a
várias pessoas, estas, dentro em seis meses, ele~
gerão um cabecel. sob pena de se devolver ao
senhorio o direito da escolha.
§ 1Q) Feita a escolha, tôdas as ações do
senhorio contra os foreiros serão propostas contra
o cabecel. salvo a êste o direito regressivo contra
os outros pelas respectivas cotas.
§ 2(') Se, porém, o senhorio direto convier
na divisão do prazo, cada uma das glebas em
que fôr dividido constituirá prazo distinto.

O que se deduz dêsses princípios legais é que, vindo


por qualquer circunstância o prazo a pertencer a diversos
donos, têm êstes a faculdade de pedir o desmembramento
do fôro, no que pode o senhorio aquiescer. Se êsse
pedido não fôr feito, o prazo continuará indiviso, tendo
cada condômino uma parte ideal correspondente ao seu
direito, e elegendo todos um cabecel que represente, para
todos os efeitos, a comunhão.
39

Havendo, porém, a transferência de algumas das


partes ideais do prazo, se operado em favor dos atuais
titulares por ato de compra e venda, parece~me também
fora de dúvida que é devido o laudêmio, nos têrmos ex~
pressos do art. 686 do mesmo Código. Não vejo porque
no caso em estudo, mesmo tratando~se de venda de partes
de um prazo enfitêutico, de irmãos para irmãos (sendo
.que um dos quinhões foi vendido em praça por se tratar
de bem de menor), não vejo porque, no caso em estudo,
a Fazenda Nacional não pudesse usar do seu direito
de opção desde que a transferência se operou por venda.
A conseqüência seria que a Fazenda Nacional entraria
na comunhão dos proprietários do prédio, de que, por
~onsolidação de domínio, na parte ideal que lhe tocasse,
teria plena propriedade, e se a Fazenda pode usar do
;us protimeseus é claro que lhe cabe o laudêmio, desde
.que ·não use do qireito.
De acôrdo com essas ponderações é meu parecer,
Sr. Ministro,

19) que não há no caso fragmentação do


prazo que continua uno; mas
29) que, tendo parte do prazo sido adquiri~
do a título de compra e venda, é devido o lau~
dêmio; e, finalmente
39) que, expedida a carta de traspasse e
aforamento aos três requerentes, sejam êles con-
vidados a eleger cabecel.

Com êste parecer devolvo os papéis a V. Ex~, a quem


tenho a honra de renovar meus protestos de elevada estima
e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio·


de Janeiro, 28 de janeiro de 1924- N<~ 12.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n9 254, de 31 de dezembro
próximo findo, submeteu V. Ex'·' a meu estudo o processo
relativo ao pagamento de f, 17. 500 pretendido por F. de
Siqueira ô Cia. Limitada, desta praça, como liquidação
de contratos de fornecimento de carvão celebrado com
o Lóide Brasileiro, ao tempo em que essa emprêsa estava
a cargo da Fazenda Nacional e era seu Presidente o
Engenheiro Frederico Burlamáqui.
O pedido já foi duas vêzes indeferido, tendo mesmo
o honrado antecessor de V. Ex'.t, em vista da negociação,
a que se refere o processo, dedarado a firma requerente
inidônea para novos negócios com a Fazenda Pública,
despacho que foi confirmado por ordem do Sr. Presidente
da República .
Em tal situação, a referida firma apresentou nova-
mente um longo requerimento em que pede reconsideração
dêsses despachos .
A questão, Sr. Ministro, já minuciosamente exposta
em informações e pareceres existentes no processo, é, em.
resumo a seguinte:
O Lóide Brasileiro e a firma requerente celebraram,
no ano de 1920, sem instrumento formal, contrato para
42

fornecimento de carvão adquirido por esta na Inglaterra,


.devendo
a) o preço ser pôs to pelo Lôide à disposição
da sociedade vencedora mediante crédito aberto
em Banco;
b) o transporte será feito em navios do
Lóide.
Para mais caracterizar ainda a existê~cia do contrato,
exigiu o Ló:de Brasileiro, em carta de 2 de julho de
1920, que
para garantia das obrigações contratuais
fizessem, os compradores um depósito de 5 contos de réis,
o que foi efetivamente realizado no dia seguinte conforme
o talão junto em original a fls. 17 do processo, não
deixando de merecer reparo o que para negócio de tal
monta se exig'sse tão diminuta caução.
Em seu pedido de reconsideração pretendem os reque-
rentes que seu contrato, como procuram demonstrar com
a correspondência que juntam, fôsse para fornecimento
de 18 mil toneladas, sendo:
- 5 mil toneladas pedidas pela carta ori-
ginal do Presidente do Lóide, de 8 de junho
(fls. 13);
- 5 mil toneladas pedidas pela carta ori-
ginal do Presidente do Lóide, de 12 de junho
(fls. 14);
- 8 mil toneladas pedidas pela carta ori-
ginal do Presidente do Lóide, de 24 de junho
(fls. 15) .
:E:stes pedidos realmente se acham expressos nas
mencionada cartas e é nelas que, segundo o requerimento
de reconsideração de 17 de julho últ:mo, com que se abre
o processo, fundam os requerentes o seu contrato.
Entretanto, todo o processo anexo, de onde decorreram
os despachos cuja reconsideração pedem os requerentes,
baseou o contrato na carta dos requerentes de 17 de
junho de 1920, em que fazem ao Lóide a oferta de 10
mil toneladas de carvão Cardiff.
De fato, é nessa carta que o Secretário da Comissão
Liquidante do Lóide ( Patr:mônio Nacional), Sr. Josino
Sant-Anna, baseou seu relatório de 2"8 de dezembro de
1921 ( fls, 49 do processo anexo), como fundamentou
seu parecer o Dr. Jacob Cavalcante, Consultor da mesma
Comissão, e foi nesses trabalhos que o Dr. Morais
Júnior, Chefe da mesma Comissão, assentou suas infor-
mações a êste Ministério.
Há nestas circunstâncias, pelo menos, uma confusão
que precisa ser esclarec:da, por isso que é um fato que
no processo anexo, onde foram proferidos os despachos
cuja reconsideração se pede, não se encontram os documen-
tos em que os requerentes baseiam o seu direito e que
ora ofereceram em original com o seu nôvc requerimento.
1;:sses documentos seriam desconhecidos dos funcionários
que informaram o processo, pois a êles não se referem
e o caso é certamente estranhável, parecendo, dada a com-
petência e circunspeção dêsses funcionários e a notória
.desordem que sempre reinou no expediente do Lóide, que
·de tais documentos não se encontrasse cópia nos arquivos
dessa emprêsa, arquivos que foram conscienciosamente
.estudados por êsses mesmos funcionários.
Por outro lado a carta de 17 de junho de 1920, em
que se basearam as informações do processo anexo, não
·é apócrifa, por isso que uma cópia dela, em papel dos
·H

próprios requerentes, se encontra como primeiro documento


de seu pedido de reconsideração. Registre~se, entretanto,
que a essa carta não se refere êsse mesmo requerimento,
o que também não deixa de ser digno de nota, não se
sabendo porquê, nem para que êsse documento foi junto
a essa petição .
Do exposto se conclui que a situação é a seguinte:
quando no processo os informantes oficiais se referem ac..
fornecimento de 1O mil toneladas de carvão, visam a
carta~oferta de 17 de junho, e desconhecem as cartas~
pedidos de 8, 12 e 28 do mesmo mês, do Pres:dente do
Lóide Brasileiro; e quando os requerentes se refer~m a
êsse fornecimento sem se referir à carta~oferta de 17 de
junho visam os pedidos do Presidente do Lóide de 8, 12 e
28 de junho, pelos quais contrataram fornecer 18 miJ
toneladas das quais, tendo feito entrega de 8 mil, ficaram
ainda obriga dos a entregar 1O mJ.
E é certo que em diversas cartas dos requerentes,
juntas ao processo anexo, de 17 e 28 de janeiro (fls. 5
e 7), de 12 de fevereiro (fls. 1O), de 7 de junho (fls. 20),
de 8 e 1O de outubro (fls. 35 e 39), tôdas de 1921,
sempre se fêz referência às 1O mil toneladas como sendo
resto de um contrato de fornecimento de 18 mil, ou, pelo
menos, resto de maior porção .
Assim, dos próprios processos sujeitos a meu exame
não se poderia encontrar a explicação da existência e
significação dessa carta de 17 de junho de 1920, a que
jamais os requerentes se referem.
Devo, porém, informar que num memorial que êsses
requerentes me fizeram entrega por mão de seu advogado,
Sr. Dr. Antônio Leme da Fonseca, que também o subs~
creve, e que ofereço à consideração de V. Ex'·' junto com
45

·êste meu parecer, se explica que essa carta foi sim-


plesmente
uma oferta de fornecimento que não teve se-
guimento.

Como quer que seja, Sr. Ministro, salientada a ano-


malia que tudo isso representa, e que mostra a incerteza
do contrato, o nenhum formalismo dêle, po:s nem se pode
saber com segurança que documentos constituem seu ins-
trumento, devo dizer a V. Ex'! que, para mim, baseado o
fornecimento das 10 mil toneladas de carvão na proposta
de 17 de junho de 1920, ou representando saldo restante
de pedidos de 18 mil toneladas constantes das cartas de
8, 12 e 28 dêsse mesmo mês, a situação legal do caso é a
mesma.
Trata-se numa e noutra hipótese de um contrato de
fornecime11(:; de carvão, celebrado pelo Presidente do
Lóide Bras;leiro em 1920 e, ass:m, no regime do Regula-
'Tleíltc a~rcvado pelo Decreto n'' 13.549, de 16 de abril
.de 1919.
No m01nento da restauração do Lóide como sociedade
~mônima, autorizada pelo Decreto n'' 14.577, de 28 de
dezembro de 1920, a posição dêsse contrato era a seguinte:
Na hipótese apresentada pelos requerentes o contrato
l1avia tido princípio de execução e faltava fornecer ainda
1O mil toneiadas; na hipótese encontrada pelos funcioná-
rios que estudaram o caso à vista dos arquivos do Lóide,
faltava fazer o fornecimento total das 1O mil toneladas
contratadas. Num e noutro caso, porém, tratava-se de
um fornecimento certo de 1O mil toneladas de carvão
Cardiff e foi a respeito dêsse fornecimento que se
46

ocupou a Comissão Liquidante do Lóide (Patrimônio


Nacional).
Outros fornecimentos anteriores porventura realizados,
em virtude de contratos autônomos ou como princípio de
execução do contrato existente. estariam liquidados e
saldados; dêles não se ocupou a Comissão.
É de um fornecimento de 1O mil toneladas que ela
tratou e é dêle que ora também ainda aqui se trata.

E veja-se o que ocorreu com êsse negocio posterior-


mente à vigência do referido decreto de 28 de dezembro
de 1920. que

reorganiza o Ló:de Brasileiro. constituindo-o sob


a forma de companhia anônima para a exploração
dos serviços de navegação e outros atualmente a
cargo daquela emprêsa.

e quando. como informa o parecer do Sr. Dr. Consultor


da Fazenda. já se estavam realizando as assembléias pre-
paratórias para a organização da sociedade anônima que
devia tomar a seu cargo o Lóide Brasileiro.
O Presidente do Lóide (Patrimônio Nacional.) recebe,
com data de I 7 de janeiro de 1921. uma carta da firma
requerente na qual

«respondendo a uma interpelação do mesmo


Presidente sôbre a entrega de 1O mil toneladas
de carvão Cardiff.
reitera as informações anteriores sôbre o assunto, infor-
mando mais
que havia conseguido modificar o preço estabe-
lecido de f. 7-3-0 por tonelada de carvão, fob;
-17

para E 6-15-0, cif, por tonelada,


e ainda
que havia também conseguido modificar a forma
de pagamento, que era contra crédito confirmado,
para pagamento aqui, à chegada da mercadoria.
Com essas modificações, que alteraram as condições.
do contrato a que se referia a carta,
a) no preço,
b) no modo do transporte porque contrato cif im-
porta também no transporte e seguro,
c) no modo de pagamento,
conclui a firma requerente pedindo
resposta com a designação das épocas de em-
barque e portos de descarga.

Dadas as circunstâncias expostas, é evidente que a


autoridade do então ainda Presidente do Lóide era precária
pois à emprêsa que êle presidia havia por um ato oficial
sido dada outra organização; e nesse mesmo dia, 17 de
j anei-to de 1921, e no dia 19 do mesmo mês, segundo
informa à pág . 25 de seu parecer o Sr. Dr. Consultor
da Fazenda (que, como é notório, tomou parte, como
Procurador-Geral da Fazenda Pública, na organização do
Lóide, como companhia anõnima e presidiu às duas assem-
bléias constitutivas), nos dias 17 e 19 de janeiro se reali-
zaram essas assembléias constituLvas da sociedade que
começava, assim, com diretoria própria, sua vida autô-
noma. Entretanto, o Presidente do Lóide, na organização
cuja existência se estava extinguindo, escreveu nessas
cartas o seguinte despacho com a mesma data de 17 de
janeiro de 1921:
à vista do exposto, diante da responsabilidade
que cabe a êste Lóide e da diferença de preço.
48

feita pelos signatários que atendem assim às


ponderações desta diretoria, responda~se
confirmando a encomenda
e o nôvo preço. Quanto ao destino dêste carvão
será oportunamente comunicado de acôrdo com
o que sôbre o caso resolver
a nova diretoria.

Respondida essa carta por outra de F. de Siqueira


& Cia., de 28 de janeiro, quando já estava em plena
atividade a sociedade, ficou confirmada a negociação nos
novos têrmos propostos. Posteriormente, havendo o Pre~
si dente do Ló:de (Patrimônio N aciona]) se dirigido sôbre
o assunto ao Presidente da Companhia de Navegação
Lóide Brasileiro, então o Sr. Buarque de Macedo, êste,
em carta de 11 de fevereiro, comunicou-lhe

que aceitava o fornecimento parcelado do carvão


em questão, porém, pelo preço do mercado na
ocasião da ordem de cada embarque, devendo,
portanto, a diferença de preço correr por conta
da liquidação do Lóide ( P. N. ) o que se deveria
dar igualmente com outros contratos de carvão
feitos pelo Lóide ( P. N.), por preços que
acarretar:am então para a Companhia prejuízo
de cêrca de 2. 500 contos de réis.

E êsses têrmos em que a Companhia de Navegação


Lóide Brasileiro receberia o carvão em questão, modif:cado
quanto ao transporte, foram afinal aceitos, após corres-
pondência trocada entre os fornecedores e a Comissão
Liquidante do Lóide (Patrimônio Nacional), já então no~
meada; o que tudo à Companh:a de Navegação foi, pela
mesma comissão, comunicado, em carta de 13 de junho,
49

por copia a fls. 24 do processo anexo, na qual se lê a


nota de punho e assinatura do Sr. F. Burlamáqui de que
essa carta

havia sido copiada no copiador da Diretoria do


Lóide.

Feito isso e mesmo antes que a entrega do carvão


llouvesse sido feita, a firma contratante «como estivesse
.a Comissão Liquidante prestes a terminar sua função»,
em carta de 8 de outubro de 1921, endereçada a essa
·Comissão, recordando que

pela correspondência anterior tinha ficado esti-


pulado a redução do preço para ~ 6. 15. O, CIF,
Rio, e mais tarde a entrega do carvão à Compa-
nhia Lóide Brasileiro, FOB, com a obrigação
desta pagar o preço que vigorar no ato da en-
trega, cabendo ao Lóide antigo o pagamento da
diferença do preço estipulado,
remeteu-lhe a conta dessa diferença.

Essa conta de diferença importava em ~ 42.000, a


·60 dias, com o que a Comissão Liquidante não concordou,
propondo sôbre certa base a importância de f, 17 .'500, o
que foi pela firma requerente aceito em carta de dois dias
depois. Nessa conformidade a mesma conta apresentada,
com a carta de 8 de outubro, na importância de E 42 mil,
foi emendada, no total, para E 17.500, e recebera ordem
de pagamento que foi assinada pelos três membros da
Comissão Liquidante, em 31 de outubro.
Nessa ordem de pagamento se vê, entretanto, a assi-
natura do Sr. J. Morais Júnior inutilizada e nela se apôs
um carimbo declarando-a sem efeito.
50

E de fato, no verso dessa conta se lê uma nota escrita


e assinada pelo mesmo Sr. J. F. de Morais Júnior, já
então chefe da nova Comissão Liquidante, nomeada pelo
Ministério da Fazenda, determinando que

ficava sustado o pagamento a:é nôvo estudo a


ser feito no processo .

Dêsse estudo foi encarregado o Sr. Josias Sant'Anna,


Secretário da Comissão, que a;:mrou os fatos como são
expostos neste parecer, tomando como instrumento do
contrato, como aqui foi dito a princípio, as cartas do
Presidente do Lóide em que se funda o .ped:do de recon-
sideração, a que o relatório não se refere, mas à carta da
firma requerente, de 17 de junho de 1920, em que ofereceu
ao Lóide um fornecimento de 1O mil toneladas de carvão
Cardiff.
Ouvido ainda o Consultor da Comissão, Sr. Jacob
Cavalcanti e mediante clara exposição do Chefe da Co-
m:ssão, Sr. Morais Jún.or, o Sr. Ministro não autorizou
o pagamento da conta, sendo que. ao tempo dêsse des-
pacho, 22 de junho de 1922, o carvão de cuja diferença
de preço se tratava,
ainda não havia sido entregue.
Êsse despacho é de 22 de junho; posteriormente, em
seguida a nôvo ofício do mesmo Sr. Chefe da Comissão
Liquidante, e quando já o carvão havia sido entregue à
Companhia de Navegação Lóide Brasile:ro, seis meses
depois, aos 17 de outubro, êsse despacho foi mantido de
ordem do Sr. Presidente da República.

Cumpre observar que nessa parte o processo anexo·


não está completo, pois os memoriais, a que êsse ofício.
51

se refere e o provocaram, não estão juntos. Nessa parte


do processo há apenas êsse ofício de 29 de setembro do
Sr. Morais Júnior e o despacho ministerial de 17 de
outubro, lavrado na sua última fôlha.
Decorr:dos oito meses completos, apresentou então
a firma F. de Siqueira & Cia. o requerimento de 17 de
julho de 1923, que abre o primeiro processo, que me
foi remetido por V. Ex'\ requerimento em que, baseando
seu contrato nas cartas do Presidente do Lóide Brasileiro,
de 8, 12 e 28 de junho de 1920, pede a firma reconsi-
deração daquele despacho.
Ssse requerimento é instruído com algumas cartas
em original e em cópia e com uma consulta acompanhada
dos pareceres dos provectos Doutores Clóvis Beviláqua,
Alfredo Bernardes e Prudente de Morais.

Sste é o caso, Sr. Ministro, e o havendo estudado


ponderadamente em tôdas as suas partes, passo a, sôbre
êle, dar o meu parecer.
Para mim todos os pactos entabulados pelo Presi-
dente do Lóide Brasileiro com os requerentes, mesmo que
constassem de um instrumento formal e certo, são radi.-
calmente nulos.
É. certo que o art. 99, § 34, da Lei n 9 3. 674, de 7
de janeiro de 1919, dispondo sôbre a subordinação dos
serviços do Lóide Brasileiro à Fazenda Nacional, prescre-
veu em a letra d

que a tais serviços seria mantida a autonomia


comercial e administrativa:
52

E foi baseado nesse dispositivo que foi feita a con-


sulta respondida por aquêles eminentes juristas já aqui
referidos.
Nessa consulta se omitiu. porém, que a êsse dispo-
sitivo o Poder Executivo dera Regulamento, aprovado
pelo Decreto n'' 13.549, de 16 de abril de 1919, em cujo
art. 7Q, definindo as atribuições do Presidente, que criou
para o Lóide. dispôs expressamente no nQ 5 que lhe
incumbia
celebrar contratos, que seriam também assinados
pelos respectivos superintendentes de forneci-
mentos de materiais, víveres. ,combustíveis e lu-
brificantes, obras e serviços autorizados, ficando
dependentes da aprovação do Ministro os con-
tratos que excedessem de dez contos de ré:s.

É claro, pois, que, se na pergunta àqueles juristas


nao se houvesse calado êsse decreto regulamentar, outra
teria sido a resposta. Os pareceres. pois, não podem ser
tomados na consideração que merece a autoridade científica
e moral de seus signatários, porque a resposta foi dada
nos estritos têrmos da pergunta e esta omitiu circunstância
essencial para a caracterização legal da hipótese em
estudo.
E é claro, disse eu, que se a pergunta fôsse completa
a resposta daqueles eminentes juristas seria outra porque,
ainda que se entendesse que o Regulamento haja exorbi-
tado da autorização legislativa, restringindo os seus têrmos,
ainda assim, .pelo menos, o caso teria s:do elucidado e não
deixado passar no mais completo silêncio. E quero crer
que qualquer daqueles ilustres juristas não poderia afirmar
que êsse dispositivo podia, pura e simplesmente, ser pôsto
à margem pelos Ministros de Estado e pelo Presidente
53

do Lóide. nomeado pot fôrça dêsse mesmo Regulamento,


para exercer suas funções nos têrmos nêle especificados.
Editado pelo Poder Executivo um ato regulamentar
de sua competência, é êsse ato obrigatório, enquanto não
fôr regularmente revogado, e só o Poder Judiciário tem
competência legal para lhe reconhecer os efeitos se êle
fôr contrário à lei. O reconhecimento de que o próprio.
Poder Executivo e os seus delegados, para qualquer ser-
viço púbtco, possam, a seu critério, deixar de cumprir um
dispositivo regulamentar, sob o fundamento de que lhes
parece contrário à lei, seria simplesmente proclamar a
anarquia administrativa.
Acresce, Sr. Ministro, que na hipótese o mais ligeiro.
exame da matéria convence que não há a menor antinomia
entre a lei e o regulamento.
A lei determinou que

ao serviço se mantivesse o caráter de autonomia


comercial e administrativa;

não dispôs que essa autonomia fôsse mantida na pessoq.


do Presidente do Lóide.
Administrada a emprêsa pelo Govêrno da República,.
em coisa alguma infringia a lei que ao próprio Ministro
de Estado, por cuja repartição corresse O· serviço, neste
caso o Ministro da Viação e Obras Públicas, se dessem
atribuições diretas na administração do Lóide. E foi o que
o Regulamento fêz, determinando, aliás, que se nomeasse
para a emprêsa um Presidente, cujas atribuições podia,
competentemente, o Poder Executivo fixar, por isso que
podia mes'mo deixar de nomear êsse Presidente.
Ora, o que dispõe o inquinado dispositivo regula-
mentar?
54

- Tão-sàmente que os contratos de fornecimento de


combustível e outros que o Presidente houvesse de celebrar
fôssem também assinados pelo superintendente e ficassem
dependentes de aprovação do Ministro os que excedessem
de 1O contos de réis.
Trata-se s·mplesmente de uma medida de f:scaLzação,
que limitava consideràvelmente a liberdade de ação do
Presidente do Lóide em matéria de fornecimentos, mas
que em coisa ~lguma cerceava a autonomia comercial e
administrativa da Emprêsa, diretamente administrada pelo
Govêrno. E já aqu: se fêz sentir que a autonomia comer-
cial e administrativa que a lei mandou manter foi da em-
prêsa e não de seu Presidente. mero delegado do Govêrno,
com autoridade definida.
Nestas condições é evidente que êsse delegado do
Govêrno, nomeado em virtude dêsse decreto Regulamentar
e para exercer as funções nêle especificadas, não podia
praticar atos contrariando dispos:tivos que definiram suas
atribuições e se êle fêz por si só contratos, que excedem
de 1O contos de réis, tais contratos são insanàvelmente
nulos e dêles não pode decorrer nenhum efeito útil.
É o caso dos contratos em estudo. Pretendem os
requerentes que o contrato foi para 18 mil toneladas. Ora,
se só a diferença de preço por êles reclamada por uma
parte de pouco mais de metade do fornecimento, 1O mil
toleladas, mesmo reduzidas como êles concordaram em
reduzir de f 42 mil para f 17.500, importaria, tomando-se
a f a uma média de 40$000, em 700 con~os, é claro que
a importância do contrato excedeu de 1O contos de réis,
e não podia ter sido celebrado pelo Presidente do Lóide
por si só pois não tinha comJetência para tanto, depen-
dendo a validade dêsse contrato da aprovação do Ministro.
55

Chegado a esta conclusão êste parecer podia parar


.aqui. Nulo o contrato em sua origem, e pela nul:dade mais
característica que pode haver qual a que decorre do
defectus potestatis, efeito algum se lhe pode reconhecer e
pois dêle não pode decorrer direito algum a fazer valer
por quem quer que seja_ Nem podem os requerentes se
queixar senão de si, se, porventura, pagos como se acham,
pela Companhia de Navegação Lóidc Brasileiro, do preço
do carvão que forneceram, ainda estão no desembôlso de
quàlquer quantia_ A ninguém é lícito :gnorar a lei e não
é mesmo admissível que comerciantes se aventurassem a
negociações de tanto vulto com o Lóide, na situação espe-
dal em que êle se achava em 1920. sem se informar da lei
especial reguladora de sua existência a atividade comercial.
Podia, po:s. como disse. dar _:Jor terminado aqui êste
parecer; acho. entretanto, conveniente, Sr. Ministro, para
·evitar tôda a dúvida, prosseguir no exame do que poste-
riormente ocorreu com a Comissão Liquidante das respon-
sabilidades do Lóide (Patrimônio Nacional), quando a
admin:stração da emprêsa passou à nova Companhia anô-
nima que se organizou nos têrmos do Decreto n'1 -14.577,
-de 28 de dezembro de 1920 .

Já foi aqui assinalada a nova intervenção do Pre-


sidente do Lóide, Delegado do Govêrno, para, nos últimos
momentos de vida do regime do Regulamento de 1920,
-confirmar negociações sem execução desde muitos meses
e lhes alterar as condições.
É claro que. se em pleno exerCICJO de suas funções,
·o Presidente não tinha competência para celebrar, p'or si
só, contratos que tivessem qualquer validade, dependendo
56

ainda de aprovação do Ministro a validade dos que ex-


cedessem de 1O contos de réis, não era aos últimos lampejos
de sua autoridade e quando outra organização já havia
sido dada à emprêsa, que atos por êle praticados, violadores
do Regulamento, podiam ter fôrça e validade ou dar fôrça
e validade a atos anteriores.
Não podem, pois, de qualquer forma melhorar a situa-
ção dos requerentes os atos de última hora praticados pelo
Presidente do Lõide ( P. N. ) .
E do mesmo modo penso em relação aos atos prati-
cados pela Comissão Liquidante nomeada pelo Ministério
da Viação, e de que ainda fazia parte o antigo Pres:dente
do Lõide ( P . N, ) .
Essa Comissão foi nomeada para, de acôrdo com as
instruções de 9 de março de 1921, publicadas no Diário
Oficial do dia seguinte,

encarregar-se de promover e executar todos os


atos referentes à liquidação do ativo e passivo-
do Lõide Brasileiro, no período em que estêve
incorporado ao Patrimônio Nacional, cabendo-lhe
a direção de todos os serviços necessários para
êsse fim.

Não tinha, pois, essa Comissão qualidade para, por


qualquer forma, ratificar atos anteriores, revalidar nego-
ciações feitas. Cabia-lhe, apenas, tomar a situação do
Lõide como ela se encontrasse e liquidar seu ativo e
passivo e, assim, qualquer ato que praticasse, qualquer
ordem que desse não emprestava ao ato respectivo validade-
maior, situação melhor do que aquela que ela já tivesse.
57

Nestas condições não vejo em que as cartas que a


Comissão Lquidante escreveu, o acôrdo que realizou com
a Companhia de Navegação Lóide Brasileiro para pagar
ela a diferença do preço do carvão com que aquela Com-
panhia quis ficar, o visto no pagamento da conta apre-
sentada por F. de Siqueira & Cia. para receber ~ 17. 500,
ou sejam 58% da importância da conta apresentada que
era de ~ 42.000, não vejo, repito, como qualquer dêstE.s
atos possa ter, sob qualquer ponto-de-vista, modificado a
situação de absoluta nulidade dos contratos e combinações
cujo pagamento os requerentes pretendem haver, com
juros de mora.

Em face de tôdas estas circunstâncias e considera-·


ções é meu parecer, Sr. Ministro, que os despachos ante-
riores, do honrado antecessor de V. Ex~. devem ser
mantidos.
Junto a êste parecer um memorial que, como já tive
ocasião de dizer, me foi entregue pelo advogado dos re-
querentes, e no qual se procura rebater os argumentos do
digno Chefe da Comissão Liquidante nomeada por êste:-
Ministério e com os quais se conformaram os despachos
cuja reconsideração se pede.
A êsse memorial acompanha cópia de um relatório
do Presidente do Lóide ( P. N. ) sôbre essas negociações,
enviado ao Ministério da Viação em 21 de fevereiro de
1922, no qual se lê a nota lançada e subscrita pelo advo~
gado dos, requerentes de que junta cópia e não certidão-

visto que o original do relatório foi remetido à


Comissão Liquidante do Lóide.
58

Submetendo estas considerações e conclusões ao cri-


tério superior de V. Ex~. devolvo todos os papéis e tenho
a honra de renovar a V. Ex'·' meus protestos de subida
estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXIV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


-de Janeiro, 14 de fevereiro ne 1924 - N'? 13.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n° 1, de 21 de janeiro próximo
findo, su,bmeteu V. Ex'1 a meu estudo os papéis relativos
ao provimento da cadeira de português do Colég:o Militar
do Ceará.
Concorrem a essa cadeira os dois professôres adjuntos
da respectiva seção, Majores Guilherme Moreira da Rocha
e Dr. Benedicto Augusto Carvalho dos Santos. e como
os dois tenham os mesmos predicados legais, por isso que
foram nomeados por ato da mesma data e tomaram posse
no mesmo dia, dúvidas surgiram quanto ao critério a
.adotar para o provimento da cadeira.
O Professor Dr. Benedicto dos Santos, em longos
requerimentos, defende o princípio do merecimento intelec-
tual apurado na classificação do concurso. Não me parece
que seja êsse o critério legal desde que texto de lei ou
de ato oficial tenha estendido o critério adotado para a
·escolha entre 03 concorrentes a adjunto para o provimento
-da cade:ra entre os adjuntos.
Nem mesmo se pode dizer r[Ue não haja disposição
prevendo a hipótese. É certo que o art. 52 das instruções
.aprovadas pela Portaria de 29 de junho de 1919 estatui
60

sôbre a promoção a catedrático dos adjuntos nomeados


de acôrdo com elas. Tais· instruções foram baixadas
em conseqüência do Decreto n'' 13. 451, de 29 de janeiro
de 1919, que deu bases para a reforma do ensino mil:tar
na República.
Reza êsse artigo:

Nas cadeiras ou seções que tiverem adjuntos


vitalícios ou nomeados por concursos feitos de
conformidade com as presentes instruções, as
vagas de professor serão providas por promoção,.
obedecendo-se a ordem de antigüidade contada
da data na posse do cargo de adjunto, em pri-
meiro lugar, no magistério, em segundo, recorren~
do-se, f:nalmente, à sorte.

Não havendo outro texto regulando a matéria e


êsse transcrito não contrariando dispositivo algum legaL
é meu parecer que êle deve ser observado; e assim, para
o provimento da cadeira de português vaga na Escola do-
Ceará,

entre adjuntos que foram nomeados por concurso


feitos de conformidade com aquelas instruções,
deve ser escolhido:
1'-') o adjunto mais antigo no cargo, ou
2'.>) o mais antigo no magistér:o, ou, em
igualdade de condições,
3'-') o que a sorte designar.

É êste, Sr. Ministro, meu parecer. Devolvo os papéis.


e tenho a honra de renovar a V. Ex~ meus protestos de.
elevada estima e distinta consideração.

Rodrígo Octavío.
MCDXV

Gabinete do Consultor~Geral da República - Ric


de Janeiro, 18 de fevereiro de 1924 -- N9 14.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, lndús~


tria e Comércio - Com o A viso n 9 11, de I do corrente,
sol.icitou V. Ex'! meu parecer sôbre três pedidos diversos
de patente de invenção, a ·saber:
19 ) pedido de Manoel Augusto da Fonseca, para
«um condimento denominado «Colinário» (!);
29) pedido de Amorim Costa & C ia., para um «nôvo
condimento à base de tomate»;
39) pedido de Henrique Vieira Rezende, para «um
nôvo môlho, aroma ou tempêro denominado «Môlho Ma~
lagueta».
Sendo de produtos alimentares o objeto de cada um
dêsses pedidos de privilégio em questão, tiveram os mesmos
de ser submetidos a exame prévio, nos têrmos do § 2'! do
art. 3 9 da Lei n'! 3. 129, de 14 de outubro de 1882. Ouvido
o Departamep.to Nacional de Saúde Pública, nada teve
êle a objetar. reputando inócuo qualquer dos preparados
.descritos nos respectivos memoriais.
Solicita agora V. Ex'! meu parecer a respeito da
legalidade, dos pedidos e, havendo ponderado a matéria,
quer me parecer, Sr. Ministro, que nenhum dêsses pe-
didos está nos casos de ser deferido.
62

Para que se conceda patente de invenção, exige a


citada lei sôbre cuja vigência foram feitos os pedidos,
que se trate ou de um invento nôvo, ou de aplicação nova
de meios conhecidos para se obter um produto ou resultado·
industrial). (art. 1'', ~ 1'', n."' 1 e 2).
Ora, dos memoriais descritivos das patentes cujo
pedido é submetido a meu exame, se ver:fica que os ca~
racte6sticos que nêles são reivindicados como invento são
os seguintes:

quanto à primeira de Manoel Augusto da Fonseca:


«Um condimento. clcí10minado - Colinário - ,
destinado ao tempêro, bem como para dar côr
aos alimentos, que servem para a nutrição do
homem, caracterizado pelo fato de cons:stir na
mistura de farinha de milho 40%; urucu 20%;
azeite de oliva 10%; sal comum 10% e tomate
sêco 20%, cujas substâncias são levadas a um
triturador, reduzindo-se a pó, o qual é depoiG
peneirado a fim de retirar as impurezas e limpá-lo
dos pedaços maiores, que por ventura não tenham
sido bem triturados e ass:m estará pronto o con~
dimento para ser usado. »
quanto à segunda de Amorim Costa & Cia.:
1\') Um nôvo condimento à base de tomate
consistindo em um pó, obtido pela trituração da
casca e polpa do tomate, previamente secas e
separadas das sementes, ao qual se junta um
pouco de sal fino e uma pequena quantidade de
azeite;
2 9 ) Um nôvo produto culinário extraído do
tomate pelo processo descrito no memorial e
reivindicado em 1, caracterizado por se apre-
63

sentar sob a forma de um pó mais ou menos


fino, com aplicação na arte culinária, como condi-
mento dos alimentos; tendo por fim estimular o
apetite, além de servir como alimento, devido às
qualidades nutritivas que possui.»
quanto à terceira, de Henrique Vieira Rezende:
1o) Um nôvo môlho, aroma ou tempêro
culinário denominado «Môlho Malagueta» o qual
consi•ste no emprêgo de pimentas em completo
estado de maturação, tendo como ti;Jo a pimenta
denominada vulgarmente «malagueta», gengibre,
alho, sal isento de impurezas e vinagre, como
veículo, podendo ser adicionado qualquer outro
produto igualmente natural e de constituição
semelhante, cada um nas quantidades determi-
nadas pela sua natureza e constituição.
2 9 ) Um nôvo môlho, aroma ou tempêro
culinário, denominado «Môlho Malagueta», o
qual consiste no emprêgo dos produtos reivindi-
cados no n9 1 e enumerados sob as letras A e E,
reduzidos a massa cu pasta, mais ou menos
densa, misturados uniforme e homogêneamente,
com vinagre, branco ou tinto, da melhor qua-
lidade, nas proporções determinadas pela consti-
tu:ção de cada um dos outros produtos, para
realizarem um môlho, aroma ou tempêro culiná-
rio, de densidade e composição indicadas subs-
tancialmente como descritas nas reivindicações
anteriores, em líquido de densidade variável
destinado a qualquer uso comum aos molhos,
aromas e temperos culinários, de coloração va-
riável, oscilando entre o vermelho vivo e o cas-
tanho escuro, quase prêto.»
64

- Basta a simples leitura dêstes enunciados para se


apurar que se trata de tudo o que há de mais comum em
arte de cozinha e não pode ser a mistura arbitrária de
pimenta malagueta, com sal fino, ou de tomate com farinha
de milho, numa proporção qualquer que pode constituir
um invento suscetível de privilégio.
Sste é o meu parecer, Sr. Ministro.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex" meus protestos de elevada estima e mui distinta
·consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXVI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


-de Janeiro, 19 de fevereiro de 1924 - N9 15.

Ex. 111 " Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda- Com o Aviso nç 62-B, de 31 de janeiro próximo
findo, submeteu V. Ex'! a meu estudo o processo relativo
ao aforamento de um terreno de acresc;dos de marinha
entre os prédios 84 e 96 da Rua Coronel Pedro Alves,
pretendido pela Emprêsa Industrial de Melhoramentos no
Brasil.
Quanto à questão propriamente do aforamento, o
-caso está perfeitamente elucidado. havendo apenas a se
decidir quanto à questão puramente técnica sôbre uma
faixa de terreno e a que referem os pareceres do Sr. Sub-
diretor Engenheiro Seixas.
No processo, porém, se levantou a questão de saber
~e subsistem os direitos da Municipalidade quanto aos
terrenos . de marinha e acrescidos, nos casos em que a
União, que à Municipalidade delegou tais direitos, tenha
beneficiado tais terrenos.
Já tive ensejo, Sr. Ministro, de aventar essa questão
(e penso qu~ fui o primeiro que a levantou), no parecer
que, em Ofício sob n 9 80, de 13 de novembro de 1922 .
.dei a êsse Ministério em resposta à consulta constante
66

do Aviso n 9 221, de 8 de agôsto anterior, em relação à


restituição de laudêmios pagos por ocas:ão da venda de
um terreno de acrescidos de marinha no cais do pôrto,
feita pela Companhia Brasileira de Imóveis e Construções
ao Dr. Raymundo de Castro Maya.
Nesse parecer, de;:>ois de opinar sôbre as questões
suscitadas no processo, assim me exprim::

Há para mim, no caso, porém, uma questão pre~


judicial que deve ser ventilada. Não me parece
que caiba à Municipalidade o direito de aforar
os terrenos de marinha e acrescidos compreen~
didos nas obras realizadas pela Fazenda Nacional
para construção do ca:s do pôrto.
O direito que as leis referidas transferiram
às Municipalidades foi o de dar de aforamento·
os terrenos de marinha e acrescidos .

Ora, a Fazenda Nacional era a proprietária dêsses.


terrenos; ocupou-os; fê-los objeto de grandes
obras, em que despendeu somas avultadas; deu~
lhes destino. É evidente, em tais condições, que
usou para s:. em relação a êsses terrenos, do·
direito que havia anteriormente, de um modo
geral. tranferido à Municipalidade desta Cidade.
Nem se diga que há nesse ato uma usurpação
ou um procedimento indevido. Não, porque a Lei
de 1834 é ex;:>ressa, concedendo às Municipali~
dades o dire:to de aforar tais terrenos, no·
ressalvar
os pelo Govêrno reservados para estabele-
cimentos públicos,
acrescendo ainda, o que é de todo o ponto perti-
67

nente à hipótese, que o Aviso n" 230, de 9 de


julho de 1874, estabeleceu o princípio de que
concessões não podem ser feitas em .prejuízo do
plano geral do cais da Cidade do Rio de Janeiro
e aformoseamento do litoral.
Em todo o caso, é fora de dúv:da que o
terreno em questão, de que os adquirentes ante-
riores ao atual proprietário foram primeiros adqui-
rentes por escritura de 13 de outubro de 1916
outorgada pela Fa-:enda Nacional, como consta
do título de aquisição do atual proprietário, não
era um simples acrescido de marinha, ordinària-
mente ainda ocupado pelo mar, quando é dado de
aforamento e, em qualquer h:pótese, baldio e em
estado natural. Não, tal terreno havia sido bene-
ficiado pela Fazenda Nacional, preparado para
receber construção e valorizado pela contigüidade
de pôrto comercial desta grande Cidade.
O terreno acre.c:cido de marinha, correspon-
dente ao local do préd:o ali construído, não
pod:a mais a Mun:cipalidade dar de aforamento
porque tal terreno havia, como era de d'reito
dela, sido ocupado pela Fazenda Nacional que o
transformou em terreno apto para construção, e,
pois. só a ela cabendo dispor dêle com todos os
proventos para si.

É esta, Sr. Ministro, minha opm1ao sôbre o caso.


Não sei qual foi a solução tomada em conseqüência do
meu referido parecer. Penso, porém, que é indispensável
tomar a respeito uma resolução de ordem geral.
68

Com êste parecer, que submeto à consideração su~


perior de V. Ex~. devolvo os papéis e tenho a honra de
renovar a V. Ex~ meus protestos de subida estima e mui
distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXVII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 26 de fevereiro de 1924- N 9 16.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado da Viação e Obras


Públicas- Com o Aviso n 9 147, de 8 de novembro do
ano passado, dignou-se V. Ex'1 solicitar meu parecer a
respeito da controvérsia suscitada entre o Ministério a
cargo de V. Ex'·' e o Sr. Presidente do Estado do Rio
Grande do Sul a propósito das obras do pôrto da Cidade
de Pôrto Alegre.
Houve demora de minha parte na solução da consulta
por isso que, além da importância da matéria, que de-
mandou séria ponderação, eu solicitei da Secretaria do
Supremo Tribunal Federal remessa dos autos do processo
em tempos, instaurado, a propósito das mesmas obras,
pela Compagnie Française du Port de Rio Grande do
Sul contra a União FederaL o Estado do Rio Grande
do Sul e a Société d'Entreprises de Dragages et de
Travaux Publics, e essa remessa foi muito demorada.
A· questão, Sr. Ministro, deflu: do fato de haver,
por ofício de 17 de novembro de 1920, o Govêrno do
Estado do Rio Grande do Sul solicitado do Sr. Ministro
da Fazenda

as necessanas ordens à Alfândega da Capital


daquele Estado no sentido de serem, na época
íO

oportuna transferidos ao Estado os serviços de


descarga de mercadorias importadas e respectivos
armazenamentos.
E isso porque
em princíp ·os de 1921 achar-se-iam naquele pôrto
em condições de tráfego o primeiro trecho de cais
e os armazéns necessários aos serviços de impor-
tação e exportação de longo curso,
tudo construído pelo Govêrno do Estado de conformidade
com a Lei Federal n'! 2.544, de 4 de janeiro de 1912,
art. 60.
Submetida pelo Ministério da Fazenda a questão à
consideração dêsse Ministér:o, o antecessor de V. Ex'-'.
por Aviso de 4 de fevereiro de 1921, informou que

o Ministério a seu cargo nada tinha a opor ao


deferimento do pedido por aquêle Govêrno.

A essa informação o Ministério da Fazenda, em


nôvo Aviso, de 12 do mesmo mês, respondeu pela seguinte
forma:

Pelo art. 60, § I'', da Lei n'' 2. 544, de 4


de janeiro de 1912, foi determinado que os ar-
mazéns construídos, em Pôrto Alegre, pelo Go-
vêrno do Estado do Rio Grande do Sul. gozariam
das vantagens e favores de alfandegados e, no
§ 3'! do mesmo artigo, que, além das taxas que
fôssem da sua competência, poderia o Estado
perceber outras, incidindo sôbre descargas de
mercadorias, observando nesta parte o regime
adotado para os portos da União.
Não determina o parágrafo citado, de
forma expressa, que se transfiram ao Estado do
71

Rio Grandt: us serviços de descarga de merca-


dorias importadas e respectivo armazenamento,
mas como V. Ex'·', em seu Aviso n9 256, de 4
do corrente, declara nada ter a opor ao deferi-
mento do pedido do Govêrno daquele Estado e,
como em casos semelhantes, essas transferências
ou a exploração de portos têm sido reguladas
em contratos, elaborados pelo Ministério a cartyo
de V. Ex'·', tenho a honra de transmitir os inclu-
sos papéis para que V. Ex'·' se sirva de, se assim
o entender, dar forma legal à concessão preten-
dida pelo Govêrno do Estado do Rio Grande
do Sul.
Apresento a V. Ex'! os protestos de elevad.:1
est:ma e distinta consideração. - Homero
Baptista.

Em virtude dêste Aviso, estudada a matéria e ela-


~boradas, pela inspetoria de Portos, Rios e Canais as bases
para o contrato a que se referia o Sr. Ministro Homero
Baptista, foram essas bases comunicadas ao Sr. Presidente
daquele Estado em Aviso dêsse Min:s:ério de 30 de no-
vembro de 1921 .
Tendo êsse Aviso ficado sem resposta, V. Ex'-', por
Aviso de 21 de junho de 1923, pediu ao Sr. Presidente
do Estado do Rio Grande do Sul. resposta àquela anterior
comunicação. O Sr. O r. Borges de Medeiros respondeu
então,. com o ofício de 1O de agôsto seguinte, no qual.
-explicando que havia dado resposta verbal ao funcionário
federal que lhe havia levado a referida comunicação, de-
-clarou categoricamente
não lhe ser possível anuir àquelas bases, por-
quanto a concessã'J outorgada pela Lei n\' 2. 544,
72

de 4 de janeiro de d 12, art. 60, a que se refere


o ofício dêsse Ministério, independe de tôda e
qualquer condição. contrato e regulamentação.

E prosseguindo no desenvolvimen'.o da demonstração


dessa tese, o Sr. Presidente do Estado. considera os
têrmos da referida disposição de le: como
«uma concessão legislativa» constituída por «um
ato perfeito e acabado», como o reconheceu o
Supremo Tribunal Federal «nos dois últimos con-
sideranda do Acórdão n'' 2. 898, de 25 de janeiro
de 1919».

Êsse acórdãJ (publicado no Diário Olicial de 30 de


maio dêsse mesmo ano), foi profer:do na causa a que me
referi no princípio dêste parecer.
Da leitura dêsse ofício e de documentos impressos
que o acompanham se evidenc:a que, em execução da-
quele ato legislativo, o Estado do R:o Grande d~ Sul,
a) abrira concorrência para as obras do
referido pôrto;
b) fizera contrato e inic:ará a construção
dessas obras;
c) inaugurara em 1'.< de agôsto de 1921 o
serviço do tráfego portuário, nas partes cons-
truídas e
d) por decretos, respectivamente, n.o' 2.804,
de 31 de maio, e 2.834, de 15 de julho de 1921,
mandara executar a tabela de taxas e aprovara o
regulamento do pôrto.

Recebido êsse ofício, entrou a matéria novamente em.


estudo nesse Ministério, tendo V. Ex'1 solicitado minha
audiência.
13

Do exposto, .:.r. M:nistro, verifica-se que, se para


a construção do pôrto em questão e sua exploração era
mister contrato e fiscalização federaL como a mim me
parece indispensáveL é evidente que a administração pú-
blica despertou muito tarde, po:s a obra foi construída e
está em plena exploração a inteira revelia da administra-
ção federal.
Como não pode escapar à luc:dez d~ espírito d:!
V. Ex'', o caso é de suma importância.
Embora esteja geogràficamente colocado às margens
do rio Guaíba, que faz parte do território do Estado, por
isso que tem todo o seu percurso desenvolvido dentro
dêsse território, o que, aliás, foi objeto de um julgado
do Supremo Tribunal Federal transcrito, na íntegra, a
págs. 47 do meu livro Domínio da União e dos Estados,
o pôrto de Pôrto Alegre não pode deixar de ser consi-
derado, como se verá ma:s tarde, um pôrto federal.
Nem o Govêrno do Estado nega hoje essa natureza
federal do pôrto de Pôrto Alegre e conseqüentemente das
suas obras corresponden~es, por is~c que do referido ofício
do seu ilustre chefe, assenta o direito do Estado à cons-
trução dessas obras em uma
concessão federal.
E cabe aqui assinalar que nem sempre foi essa a
opinião do Govêrno do Estado a respeito, sendo muito
diversa a interpretação que êle dava à disposição legisla-
tiva em que se base:a tôda esta questão e que, diga-se
em bem da verdade, não está redigida com a clareza que
seria para desejar.
Para completa informação do caso aqui transcrevo
êsse dispositivo do art. 60 da Lei Orçamentária nç 2. 544~
de 4 de janeiro de 1912:
7-l

É concedido ao Govêrno do Estado do Rio


Grande do Sul. para as obras do pôrto da Cidade
de Pôrto Alegre, o domínio útil dos terrenos
acrescidos ao longo do cais a constru1r em tôda
largura da rua do mesmo cais.
§ 1Q Gozarão das vantagens e favores de
alfandegados os armazéns que forem construídos
para o cais do pôrto.
§ 2q Fica isenta de todos os impostos alfan-
degários a importação do material destinado às
obras do cais, armazéns e demais instalações do
mesmo pôrto.
§ 3'! Além das taxas que forem da sua
competência, poderá o Estado perceber outras
incidindo sôbre descargas de mercadorias, obser-
vando, nesta parte, o regime adotado para os
portos da União.

A princípio. como disse, o Govêrno do Estado não


entendia êsse texto como lhe outorgando uma concessão.
Sustentava, ao contrário, que tratando-se de um pôrto pu-
ramente estadual. por sua posição geográfica, ao Estado
cabia livremente fazer ou deixar de fazer as obras de seu
aparelhamento comercial. Nestas condições, a referida
disposição legislativa apenas viera conceder-lhe os favores
indispensáveis para as obras que ao Estado seria lícito
empreender.
Essa anterior opinião do Govêrno do Estado está
desenvolvidamente exposta em correspondência telegrá-
fica com o Govêrno Federal. trocada por ocasião do pro-
testo que a Compagnie Française du Port de Rio Grande
do Sul fêz contra a concorrência que o Govêrno do Estado,
em seguimento daquele dispositivo legal, abriu para as
75

obras do pôrto de Pôrto Alegre, para as quais essa Com~


pagnie se julgava com direito de preferência, em virtude
de contrato anterior com o Govêrno Federal.
Dessa concorrência nasceu o pleito, já aqui vanas
vêzes referido, e em cujas páginas encontrei a correspon~
ciência em questão, que, em anexo a êsse parecer, ofereço
na íntegra não só porque ela esclarece perfeitamente a
situação, como porque vejo das informações do processo
que nos arquivos dessa Secretaria de Estado não há cópia
dela.
Nos autos mencionados êsses telegramas se encontram
impressos numa publicação sob o título Extrato da Men-
sagem apresentada ao Congresso do Estado do Rio Grande
do Sul pelo· Ex. 111 " Sr. Presidente do Estado em 20 de
setembro de 1913, e sua antenticidade não pode ser posta
em dúvida por isso que tendo sido essa .publicação junta
aos autos como documento pela autora no início da causa,
não sofreu im::mgnação quer por parte do Govêrno do
Estado, quer por parte da União que falaram depois no
processo e a êsses telegramas se refere o acórdão julgador
do Supremo Tr:bunal Federal.
A res;Jeito dêsses telegramas é interessante registrar
que era então titular da pasta da Viação e Obras Pú~
blicas, o Sr. Barboza Gonçalves, personalidade da política
rio~grandense e, desde então até agora, representante do
Estado· na Câmara dos Deputados.
Da leitura dêsses telegramas, vê~se bem que se, por
um lado, o Govêrno Federa!. retoma presentemente o seu
ponto de vista então defendido, por outro lado é radical~
mente diversa a opinião do Govêrno do Estado manifes~
tada no atual incidente.
76

Mu:to de lamentar é. certa,11ente, que o Govêrno


Federal deixasse o caso sem andamento, após o último
despacho do Presidente do Estado, de 3 de abril de 1913.
Durante êsse longo período de dez anos as obras
foram feitas e um pôrto federal. onde há alfândega e
mtenso comércio internacional. foi construído, aparelhado
e regulamentado à inteira revelia do Govêrno da União
com preterição expressa dos dispositivos constituc:onais e
regulamentadores que regem a matéria.

Devo dizer que, apesar da interpretação dada ao


art. 60 da Lei de 1912, não só pela decisão do Supremo
TribunaL Federal como pelo Parecer do saudoso Dr. Sá
Vianna, quando em ausência minha exerceu as funções
de Co113ultor~Geral da República (Parecer, vol. V,
pág. 109), não me parece que, por seu texto, êsse artigo
de lei houvesse feito ao Govêrno do Estado concessão
para a construção do pôrto de Pôrto Alegre. Êsse dispo~
sitivo legal outorga~lhe favores
para a construção dêsse pôrto,
mas não há no texto expressão de onde se possa de~
preender a outorga da concessão.
O que se me afigura é que êsse artigo contém medida
preliminar para a referida concessão que estava na alçada
do Poder Executivo fazer, independentemente de con~
corrência pública nos têrmos do n9 XII do art. 22, da
Lei n'! 652, de 23 de novembro de 1899 (Orçamento para
1900), autorização mantida pelo art. 20 da Lei n9 746,
de 29 de dezembro de 1900 (Orçamento para 1901), que
encerra uma disposição permanente.
Depois de outorgados os favores da competência do
Poder Legislat:vo, cabia ao Poder Executivo fazer ao
Estado a concessão do pôrto, de acôrdo com a legislação
geral a respeito.
Isso não se fêz e parece-me que teria sido indispensá-
vel fazer-se para que as obras daquele pôrto pudessem
ter sido regularmente levados a efe:to.
É da exclusiva competência da União:

a) decretar impostos sôbre a importação de


procedência estrangeira ( Const .. art. 7, n 9 1);
b) decretar direitos de entrada, saída e
estada de navios (mesmo art:go, n'.> 2);
c) criar e manter alfândegas, (mesmo ar-
tigo, § 1''. n'! 2);
d) .regular por lei o comércio internacional.
bem como o dos Estados entre si e com o Dis-
trito Federal; alfandegar portos, criar ou supri-
mir entrepostos (art. 34, n'' 5);

-e parece-me indispensável concluir, do conjunto dêsses


dispositivos constitucionais, que é da competência federal
o aparelhamento e a jurisdição dos portos em que haja
alfândega e tráfego de navegação internacional e in-
terestadual.
Como quer que me pareça, porém, quanto a outorga
·OU não da concessão do pôrto pelo citado dispositivo, essa
é uma questão que está fora de causa uma vez que no
mencionado acórdão, proferido em pleito em que foram
parte.s a União e o Estado e que assim obriga à União
e ao Estado, foi julgado que aquêle dispositivo de lei
-contém a concessão da construção do pôrto ao Estado.
78

Do mesmo modo está tura de causa, em face do mesmo


acórdão, a natureza federal do pôrto de Pôrto Alegre.
De fato, êsses dois pontos foram elucidados e resol~
vidas pelo julgado unânime de 25 de janeiro de 1919,
que, depois da exposição da causa, enuncia o seguinte:

Considerando, em primeiro lugar, que não


podem coexistir, como pretende o Estado do Rio
Grande do Sul, a competência federal e o reco~
nhecimento da estadual, firmado na Lei n'1 2. 544,
emanada do Congresso, porque, ou a competênc:a
federal e as obras podem ser incluídas na zona
preferencial, ou é estadual, e dela são excluídas,
por não dependerem de concessão do Govêrno
da União;
Considerando que o que se depreende da
alegação do Estado é que êle visa a reivindica-
ção de sua competência para construir o pôrto
de Pôrto Alegre com o fim de subtraí-lo à zona
preferencial estabelecida na cláusula 64;
Considerando que a invocação pelo Estado
da Lei n'.' 2. 544 é contraproducente, porque o
Congresso nessa le: outorgou, ao contrário, dire-
tamen~e ao Estado a concessão das obras do
pôrto de Pôrto Alegre, de acôrdo com a Lei
n 9 652, de 23 de novembro de 1899, mas nãC'
reconheceu, como alega errôneamente o Estado,
o seu direito ou competência para executar as
referidas obras, quando lhe concedeu os favores
constantes do art. 60 da citada Lei nq 2. 544;
Considerando que a Lei n'' 652, de 23 de
novembro de 1899, no art. 22, autoriza com
efeito a administração federal a conceder ao
/9

Govêrno dos Estados, que o pretenderem, a


execução de obras de melhoramentos de portos,
independente de concorrência;
Considerando que o próprio Presidente do
Estado reconhece que êsses favores concedidos
aos Estados são privativos dos portos federais
(telegrama de 3 de abril de 1913);
Considerando que não procedem igualmente
as razões do Estado qwmdo alega que o pôrto
de Pôrto Alegre se acha em águas de jurisdição
estadual. .porque a Lagoa dos Patos e o Rio
Guaíba, a cuja margem oriental está situada a
Cidade de Pôrto Alegre, não pertencem ao número
das águas reservadas pelo art. 34, nQ 6, da
Constituição Federal à competência do Con-
gresso Nacional, e que sã.J as que banham mais
de um· Estado ou ~e estendem a territórios estran-
geiros;
Considerando que é verdade que as referidas
águas correm exclusivamente no território esta-
dual, mas a Lagoa dos Patos é o caminho geral
do comércio interestadual e internacional. não
importando que seja interna e banhe somente
terras do Estado, assim como o estuário que se
chama comumente Rio Guaíba; o pôrto de Pôrto
Alegre, afirma o Presidente do Estado, está
franqueado à navegação interestadual e interna-
cional;
Considerando que interessando estas águas
interiores do Estado ao comércio internacional e
interestadual. as obras de melhoramentos feitas
nas mesmas águas são da competência privativa
do Congresso Nacional ( FELISBELLO FREIRE, A
80

Constituição do Brasli interpretada pelo Supremo


Tribunal (1913), nota 2, pág. 149; Veazey
Moore, New, 568);
Considerando que JoÃo BARBALHO, comen-
tando o art. 34, n'' 5, da Constituição, estende
sua disposição por compreensão e inferência aos
serviços de melhoramentos de portos nos rios,
lagos, baías e nas águas territoriais;
Considerando que a regra americana tira
também o poder de construir portos daqueles que
é concedido ao Congresso Nacional para regular
o comércio internac:onal e interestadual e que
após a sentença proferida em 1824 nos Estados
Unidos, com referência à navegação do Rio
Hudson ficou firmada a competência federal
sõbre a navegação e comércio com o estrangeiro
e o direito para conceder os respectivos melhora-
mentos, que desde então, afirma VITELLARD-
Navegation aux Etats Unis, «todo trabalho de
melhoramento dos portos de comércio figura entre
as atribuições do Congresso Nac:onal, desde que
um interêsse comercial suficiente justifique a
intervenção dos podêres públicos» (Revista do
Clube de Engenharia, dezembro de 1900, pá-
ginas 100 e I 04) ;
Considerando que o pôrto de Põrto Alegre,
situado à margem do rio Guaíba, tem uma esta-
ção aduaneira, dá acesso, é verdade, à navegação
e ao comércio internac:onal e estadual, está, por
conseguinte, dentro dos limites da jurisdição fe-
deral. por compreensão e inferência do art. 34,
81

n'' 5, da Constituição;
concluindo o acórdão pela seguinte forma:
Considerando que o ato a que se refere a
sentença é a concessão do _;Jôrto de Pôrto Alegre
feita com competência constitucional ao Estado
pelo Congresso Nacional em v:rtude do art. 60,
da Lei n•.> 2.544, de 4 de janeiro de 1912, e
contrato violado são as cláuJulas 64 e II inse-
ridas nos contratos de setembro de 1906 c junho
de 1908, repelidas pela autor;zação legislativa;
Considerando que nos têrmos expostos a União
não está adstrita às cláusulas 64 e II de prefe-
rência e privilégio dos contratos de setembro de
1906 e junho de 1908, poiJ a tanto não alcança
a autorização leg:slativa. e que ass:m nenhum
vínculo contratual a sujeita ao ato do Poder
Executivo, e que a concessão outorgada por ela
ao Estado do Rio Grande do Sul é um contrato
administrativo absolutamente válido, porque o
Poder Legislativo Federal também é em certos
casos um dos órgãos da administração (RIBAS,
Dto. Adm .. pág. 77). e que se assim é a União
não incorreu em nenhuma cul::>a contratual;
Acordam dar provimento às apelações para,
reformando a decisão apelada, julgar a autora
carecedora de direito e ação, pagas as custas pela
mesma autora.
E ass'm, à vista
a) da nova interpretação que o Govêrno do
Estadd ora dá ao dispositivo legislativo de 1912.
vendo nêle uma concessão para obras do pôrto; e
b) do julgado do Supremo Tribunal Fe-
deral que apreciou precisamente o mesmo texto
82

e a natureza federal da concessão que nêle reco-


nheceu existir,
é evidente que o caso está consideràvelmente simplificado.

Ora, julgado que o art. 60 da Lei de 1912 outorgou


ao Estado do Rio Grande do Sul a concessão para a
construção do pôrto de Pôrto Alegre, aceito pelo Govêrno
do Estado êsse modo de ver, como é expresso no ofíc:o
de seu ilustre Chefe, de 1O de agôsto de 1923, junto ao·
processo, e no qual reconheceu que as obras dêsse pôrto
foram pelo Estado realizadas em virtude de concessão
federal., parece indisputável concluir que tais obras, e
posteriormente o tráfego de tal pôrto, estão sob a jurisdição
federal na conformidade das leis qúe, de um modo geraL
regem a matéria.
A pretensão de que a concessão foi feita ao Estado
independente de tôda e qualquer condição, con-
trato ou regulamentação,
não se pode defender.
Há lei federal regulando a concessão de portos; há
uma repartição encarregada da fiscalização dos respectivos
serviços; é claro que qualquer concessão dessa natureza
feita, mesmo pelo Poder Legislativo, salvo expressas dis-
posições em contrário, é para ser executada e explorada
sob o regime legal criado para tal serviço.
Ora, não se encontra no texto do art. 60 da Lei de
1912 qualquer disposição que subtraia o pôrto de Pôrto·
Alegre às prescrições legais gerais sôbre a matéria, se
bem que a redação do § }<? possa dar lugar a dúvidas.
Acresce, porém, que dom:nando tôda esta matéria
existe o texto do art. 8'-' da Constituição por fôrça do qual
83

é vedado ao Govêrno Federal criar, de qualquer


modo, distinções e preferências em favor dos
portos de uns contra os de outros Estados

e é claro que, se, .por acaso, a Lei de 1912 tivesse criado


para o pôrto em questão um registro, de qualquer modo.
distinto do regime legal dos portos da República, o dispo-
sitivo não poder:a prevalecer por inconstitucional.
E é justamente sôbre o modo fiscal e administrativo
de tratar os portos dos Estados, uns em relação aos outros.
que o texto constitucional tem sido entendido (JoÃo
BARBALHO, Comentários, págs. 33) .

Em face destas considerações, parece-me evidente,


Sr. Ministro, que é indispensável que se faça agora o que
desde o princípio se devia ter feito, a regulamentação das
relações do Estado e do Govêrno Federal em relação ao
pôrto organizado de Pôrto Alegre.
Trata-se, aliás, como foi visto, de caso que já deu
ensejo a uma decisão soberana do Supremo Tribunal Fe-
deral em pleito em que o próprio Estado foi parte e que
assim é obrigatória para êle.
Nesse pleito o Estado defendeu sua liberdade de ação
em relação ao pôrto de Pôrto Alegre, mesmo contra ante-
riore·S compromissos do Govêrno Federal. Desconhecido
de modo completo êsse direito do Estado, no julgado de
primei~a instância, foi a causa julgada em segunda e defi-
nitiva instância sem que êste ponto princ:pal fôsse resol-
vido, pois que a decisão foi que a autora (que reclamava
contra os atos do Govêrno do Estado) não tinha ação
porque o Executivo Federal, fazendo-lhe a concessão, em
que ela baseava seu direito, praticou ato exorbitante da
autorização legislativa e assim incapaz de gerar direito.
8-l

Mas se é certo que assim foi julgado, o que se deu


foi que o Estado, como dos autos da referida ação consta.
depois dessa decisão do Su_>Jremo Tribunal Federal (que
não dera ganho de causa à Companhia autora), adqu.riu
por compra os direitos dessa Companhia.
Em todo o caso se, como se acaba de ver. a questão
principal não fo: resolvida pelo menc'onado acórdão, é
positivamente certo que. em seus co-nsideranda, elementos
conducentes à decisão final, as questões em jôgo para
solução da presente controvérsia, foram ex_>Jressa e direta-
mente apresentadas e resolvidas. E não é circunstância
de se desprezar a de ter sido pelo Sr. Homero Baptista,
<:orno Ministro, julgado necessário

dar forma legal à concessão pretendida pelo Es-


tado do Rio Grande do Sul.

para tanto sotcitando dêsse Ministério as providências que


deram lugar a êste incidente. quando foi êsse íntegro
cidadão o advogado do Estado do Rio Grande do Sul no
mencionado pleito.

Com estas considerações, que submeto ao critério su-


perior de V. Ex' devolvo os papéis, tendo a honra ele
1
,

renovar a V. Ex'.I meus protestos de elevada estima e mui


distinta consideração.

Rodrigo Octavio.

CóPIA - Anexo ao parecer do Consultor~Geral da


Repúbl"ca, dado ao Ministério da Fazenda, em Ofício
n9 25, de 26 de fevereiro de 1924. (Extraída de um fo-
t5

lheto im?resso sob o título «Extrato da Mensagem apre~


sentada ao Congresso do Estado do Rio Grande do Sui
pelo Ex.""' Sr. Presidente do Estado, em 20 de setembro
de 1913, junto a fls. 88 e seguintes dos autos de Ape~
!ação n" 2. 898, entre partes, o Estado do Rio Grande
do Sul, a Un . ão Federal. a Société Française d'Entreprises
de Dragages et de Travaux Publics, apelantes, e os mesmos
e a Compagnie Française du Port de Rio Grande du Sud,
apelados, existentes no arquivo do Supremo Tribunal
Federal).

A «Compagnie Française du Port de Rlo Grande do


Sul» apre!:entou em 18 de janeiro do corrente ano uma
reclamação contra a concorrência encerrada dois dias
depois, por julgar~se com dire . to à concessão de privilégio
para os portos de Pôrto Alegre e Pelotas, assim como à
adjudicação da dragagem da Sei tia.
Ma:s tarde o Sr. Ministro da Viação do Govêrno
Federal transmitiu~me o mesmo protesto am~l.iado, no te~
legrama seguinte:
«Em princípios do ano passado foi dirigida ao Go~
vêrno pela Compagnie Française du Port de Rio Grande
do Sul uma representação sôbre os favores feitos ao Esta~
do para o estabelecimento de um pôrto em Pôrto Alegre,
conforme art. 60 da Lei Orçamentária do ano de 1912. A
Companhia nesse ~rotesto reputa lesiva aos seus direitos
a referida concessão legislativa e declara que, não pre~
tendendo embaraçar a ação do Govêrno nos melhoramen~
tos que deseja realizar aí no Estado, está pronta a entrar
em acõrdo com a União para realização do pôrto dessa
Capital. o qual pelos seus contratos acha~se incluído na
86

zona em que ela tem o direito de preferência para trabalhos


daquela natureza.
Êste Ministério ouviu sôbre o assunto pareceres de
competentes autoridades técnicas e juríd:cas. A Inspe-
toria Federal de Portos diz que as obras a que se refere
o art. 60 são congêneres das contratadas em 12 de setem-
bro de 1906 para o pôrto do Rio Grande e conclui dizendo
caber à Companhia o direito de preferência em igualdade
de condições para a sua execução, isto é, o direito de
executá-las de acôrdo com as condições que forem esta-
belecidas para o Estado do Rio Grande de Sul. O
Consultor T écn:co emite também seu parecer e considera
a publicação de editais da Secretaria de Obras Públicas
do Estado como uma usurpação do poder federal, que,
~-e;ldo o único com.::>etente para executar os melhoramentos
de pôrto de mar ou de rios navegáveis por conta própria
ot: concessão, é conseqüentemente o que deve preparar
os respectivos planos e entregá-los a quem mais vantagens
oferecer para a sua execução. O Consultor-Geral da
República, por solicitação minha, dando parecer sôbre o
protesto, diz que tôda a questão gira em tôrno de uma
cláusula contratual LXIV do contrato de 12 de setembro
de 1906 e de um disposiLvo de lei (art. 60 da Lei número
2.544, de 4 de janeiro de 1912). Em seguida, depois de
citar os textos da cláusula e do artigo, diz que a Com-
panhia ataca a concessão constante do art. 60 sob dois
pontos de vista: 1'') inconstitucionalidade; 2'•) o fato de
ferir direitos no gôzo dos quais ela se acha presentemente.
O Consultor-Geral anaha cada um de per si, provando,
com as citações que faz, que a concessão nada tem de
inconstitucional e que a mesma concessão fere efetiva-
mente os direitos da Companhia e que sob êste .ponto-de-
vista procede o protesto. Termina dizendo: penso que
87

antes de tornar efetivo o dispositivo legal do art. 60, o


Govêrno da União deve exigir que a Companhia de modo
inequívoco declare se nos têrmos da concessão legislativa
aceita a preferência que o contrato aludido lhe assegura.
Além dessas opiniões tenho conhecimento de outros
pareceres de alguns jurisconsultos conceituados. Entre
outros CLÓVIS BEVILÁQUA diz que Pôrto Alegre é um
pôrto federal por estar habilitado para a navegação inter-
estadual e internacional dentro de águas estaduais. O
acesso a êsse pôrto deve ficar sob a jurisdição da União;
do contrár:o teríamos o direito sem o meio de exercê-lo.
Não consta da consulta feita que houvesse a União con-
cedido ao Estado do Rio Grande a construção do pôrto
de Pôrto Alegre. Podia em princípio ser concedido; mas
·Como havia um contrato anterior da União com a Com-
panhia Francesa concedendo a esta durante certo tempo
o direito de preferência em igualdade de condições para
a construção, uso e gôzo de obras congêneres em qualquer
ponto da bacia hidrográLca da Lagoa dos Patos, forçoso
seria ouvir previamente a Companhia concessionária para
não lhe ofender um direito baseado em contrato e aprovado
por decreto federal.
- Assim, se concessão houve, não foi regular por
ofender direito da Companhia. - Se houve, o Estado
não podia contratar a construção do pôrto porque os
portos abertos ao comércio interestadual e externo são
do domínio públ.:co da União. O direito de preferência
dado consiste na obrigação por parte do Govêrno Federal
de não conceder a construção, uso e gôzo de um pôrto
na bacia .hidrográfica da Lagoa dos Patos sem previa-
mente ouvi-la para saber se ela aceita fazer as obras nas
condições da proposta preferida. - A Lei n~ 2. 544, de
88

1912, art. 60, não concedeu ao Estado do Rio Grande


do Sul a construção e exploração do pôrto de Pôrto
Alegre; concedeu sim o domínio de certos terrenos e
atribui os favores de alfandegados aos armazéns que forem
construídos para serviço do cais do pôrto . - Acrescenta
que se faz a concessão dos terreno:; de que trata «para
as obras do pôrto de Pôrto Alegre». Mas como o Estado
do R:o Grande do Sul não pode por si construir, melhorar
ou transformar um pôrto federal, sendo por isso necessário
que entre êle e a União intervenha um contrato com fun-
damento na Lei n'! 1 . 746, de 17 de outubro de 1869, no
qual se estabeleçam os direitos e obrigações recíprocas,
se fixe o prazo da concessão. se autorize o Estado a per-
ceber taxas de caráter não estadual destinadas à indeni-
zação das despesas feitas com as obras. - A lei de 1912
alude, no art. 60. ~ 3'', a essas taxas, mas não as discri-
mina e manda observar nesta parte o regime adotado para
os portos da União. - Das palavras usadas neste pará-
grafo se infere que a União afirma neste caso o seu
direito em relação ao pôrto de Pôrto Alegre, assim como
aí mesmo se faz alusão a um contrato a celebrar para
haver concessão. - Respondo, pois, ao quesito dizendo
que a Lei n'' 2. 544, de I 9 I 2, não fêz concessão do pôrto
de Pôrto Alegre ao Estado do Rio Grande do Sul. Supõe
sàmente uma concessão ser feita, determinando que nela
se observe um certo regime. Tal concessão é, que uma
vez realizada sem a audiência da Companhia, lhe ofenderá
o dire:to de preferência para construção, uso e gôzo do
pôrto. E sem essa concessão o Estado não pode executar
as obras, seja por empreitada ou por outro modo qualquer.
Quanto a êste Ministério, devo dizer que não pretende
ferir direitos de quem quer que seja em caso ocorrente.
deseja que se realize com brevidade sucesso, construção-
de obras tendentes ao desenvolvimento e prosperidade
de um importante Estado brasileiro. O Marechal Pre-
sidente da República pensa também que a obra é de
caráter federal e deve ser executada. a expensas da União,
conforme os planos que forem organizados, ouvidos os
órgãos competentes para representarem os importantes
interêsses estadistas em jôgo. Convinha preliminarmente
não ser tomada em consideração, ficando sem efeito o
edital de concorrência aí aberto no ano passado. Em se-
guida seriam tomadas as providências julgadas convenien-·
tes, com audiência de vosso Govêrno, na parte que afe-
tasse diretamente os altos interêsses do Estado.
Aguardo vossa resposta antes de dar solução à reclamação
apresentada pelos interessados. - Saudações cordiais.
Barbosa, Ministro da Viação».
Em resposta, dirigi três dias dqois ao Sr. Presidente
da República e ao Sr. Ministro o telegrama que segue:

Sr. Marechal Presidente da República - Rio:


Recebi dia 11 corrente telegrama Ministro Viação,
transmitindo-me súmula do protesto da «Compagnie Fran-
çaise du Port do Rio Grande do Sul», dirigido ao Govêrno
Federal. em princípios do ano passado, contra os favores
concedidos pela Lei Federal n'' 2. 544, de 4 de janeiro
de 1912, art. 60, para as obras do pôrto desta cidade,
projetadas pelo Govêrno do Estado. Acrescentou que a
Companhia, reputando lesiva aos seus interêsses essa
concessão legislativa, propõe-se a entrar em acôrdo com
a União para realização do pôrto desta Capital. o qual
pelos seus· contratos acha-se incluído na zona em que
ela tem o direito de preferência para trabalhos daquela
natureza.
90

Resumindo em seguida vanos pareceres de compe~


tentes autoridades técnicas e jurídicas, termina por decla~
rar-me que pensais também ser a obra de caráter federal
e dever ser executada a expensas da União, conforme os
planos que forem organizados, ouvidos os órgãos compe-
tentes para representarem os importantes interêsses es-
taduais em jôgo.
Data venia, exporei sumàriamente as razões de minha
radicada convicção quanto à competência do Estado para
executar a questionada obra, começando por apreciar os
doutos pareceres em contrário.
Concordo com a Inspetoria Federal de Portos que as
obras a que se refere o art. 60 da Lei n9 2. 544, são
congêneres das contratadas em 12 de setembro de 1906
para o pôrto do Rio Grande.
São, entretanto. bem diferentes os respectivos planos,
porquanto, ao passo que estas custarão 28.155:769$000,
aqudas não excederão de 11 . 660:000$000.
Conclui a Inspetoria que à Companhia assiste o di-
reito de preferência, em igualdade de condições, para
execução da obra.
Desconhecendo, porém, os fundamentos dessa asser-
ção, nada direi em contradita.
Quanto ao parecer do Consultor Técnico, sua errônea
parcialidade, vai até ao ponto de negar absolutamente
ao Estado competência para executar melhoramentos de
portos de quaisquer rios navegáveis, o que importa negar
explícitas disposições constitucionais e outras correlatas.
Lúcido e jurídico em parte o parecer do Consultor-
Geral da República, exige, todavia,, reparos em suas
conclusões baseadas na interpretação da cláusula LXIV do
contrato de 12 de setembro de 1906.
91

Em seus têrmos literais e claros, essa cláusula asse~


gura somente um direito de preferência para cuja efetivi~
dade é essencial o evento de condições incertas como
estas: 1'-', que a concessão seja da competência da União;
2'!, que ela resolva fazer a concessão; 3'', que a proposta
da Companhia seja igual à outra; 4'', que haja concorrên~
cia pública ou não, mas em todo o e<Jso real. Ora, não
tendo a União prometido a concessão, para a qual o Estado
contesta~lhe a competência agora alegada, e não se realiza
igualmente as outras condições, a reclamação da Com~
panhia é de tôda descab:da.
Passando ao parecer do eminente jurisconsulto CLÓVIS
BEVILÁQUA, seria certamente outro, se seu autor melhor
conhecesse as condições especiais do lugar.
É certo que êste pôrto está franqueado à navegação
interestadual e internacional, como poderá sê~lo amanhã
outro qualquer .pôrto interno no Jacuí, Taquari, etc.
Isso, porém, envolve simplesmente uma franquia ou
concessão permitida pelo art. 4'' do Decreto n'! 123, de
11 de novembro de 1892, e que tanto se pode aplicar aos
portos federais como aos estaduais.
No tríplice aspecto geográfico, político e comercial,
Pôrto Alegre é um verdadeiro entreposto, situado entre
o pôrto marítimo e o interior do Estado, estando daquele
afastado cêrca de 300 quilômetros.
O acesso marítimo a êste pôrto só é possível pelas
águas de jurisdição federal do pôrto do Rio Grande,
cuja zona é banhada pelo canal do Norte desde o baixio
da Seitia; inclusive, até a entrada do mesmo canal no
Oceano, compreendendo tôdas as suas enseadas e o atual
pôrto da Cidade do Rio Grande, bem como 20 quilômetros
92

de costa marít:ma ao suJ. e ao norte da embocadura do


referido canal do Norte (cláusula LXIV do contrato de
12 de setembro de 1906) .
Destarte. Porto Alegre fica indiretamente sujeita à
fiscalização federal.
Consultando~se as origens históricas do art. 60 da
Lei n'' 2. 544. de 4 de janeiro de 1912. verifica-se que o
Congres~o Nacional reconheceu formalmente a competência
do Estado para as obras de melhoramento dêste pôrto.
tanto que concedeu-lhe os favores consignados naquela
lei.
O Congresso não cogitou de uma concessão ao Estado
para construção, uso e gôzo do pôrto.
E, não o fazendo. também não ofendeu direito algum
da companhia francesa. cujo contrato apenas garantiu-lhe
a preferência em igualdade de condições para obras que
a União possa ou queira executar na bacia hidrográfica
da Lagoa dos Patos.
Não sendo Pôrto Alegre pôrto federal.. independe de
acôrdo com a União a execução das obras projetadas pelo
Estado e muito menos da audiência da Companhia.
O Estado. por intermédio dos seus representantes ao
Congresso NacionaL solicitou os auxílios constantes da
Lei de 1912. porque sem essa autorização não poderia
perceber taxas incidindo sôbre a importação.
E. como estas devem ser uniformizadas para todos os
portos da República, como determina a Constituição,
arts. 7Q, § 2''. e 8°, por isso a Lei de 1912, autorizando
o Estado a arrecadar taxas sôbre descarga de mercadorias,
recomendou que. nesta parte. fôsse observado o regime
adotado para os portos da Un·ão.
9 ')

Portanto, nesse dis_'Jositivo nada há que afirme o


direito da União ao pôrto de Pôrto Alegre, como não se
alude também a contrato a celebrar para haver concessão.
Refutados assim os ilustrados pareceres, transcritos
em telegrama do Ministro, resumirei os motivos que me
impõem o penoso e indeclinável dever de afirmar perante
os altos podêres da Repúbl:ca a competência do Estado
para a construção, uso e gôzo das obras questionadas.
De direito, resolvem a dúvida a Constituição e a Lei
nç 109, de 14 de outubro de 1892.
Na discriminação da competência da União e dos
Estados para legislarem sôbre navegação interior, o critério
dominante é do art. 34, n'-' 6, da ConsUuição.
Daí se infere que, não .se tratando de rios e lagos
que banhem mais de um Estado ou se estendem a terri~
tórios estrangeiros; a competência ou é exclusiva do Estado
ou cumulativa entre êste e a União.
Cumprindo a promessa do art. 13 da Constituição,
a Lei de 1892 considerou de exclusiva competência da
União sàmente:
19) as vias de comunicação fluviais ou terrestres,
constantes do plano geral de viação adotado pelo Con~
gresso;
2'~) tôdas as outras que futuramente ferem, por de~
·ereto emanado do Poder Legislativo, consideradas de uti~
lidade nacional.
Em todos os mais casos a competência é dos podêres
estaduais.
Assim, em face da Constituição, ficam sujeitas 3.
jurisdição do Estado as águas interiores da bacia hidro-
94

gráfica da Lagoa dos Patos, separada do Oceano pelo


Rio Grande ou canal do Norte e formada principalmente
pelo Rio Guaíba .
Em face da Lei de 1892, não havendo ainda um plano
geral de viação aprovado pelo Congresso e nem tendo
êste decretado o melhoramento do pôrto desta Cidade,
pode o Estado fazê~ lo no legítimo uso de um direito.
De fato, considero sem fomento de justiça o protesto
cia Companhia Francesa, porque a União apenas garantiu~
lhe uma expectativa de direito, dependente da eventua~
!idade de condições incertas, como demonstramos. e que
de modo algum podiam excluir a competência dos podêres
locais, estranhos inteiramente aos contratos celebrados.
Conseguintemente, não há lesão alguma de interêsses
nem por parte da União, nem por parte do Estado.
Isto pôsto, espero confiante do vosso alto patriotismo
e serena justiça uma decisão compatível com a autonomia
e supremos interêsses do Estado.
Saudações afetuosas. - Borges de M edeíros.
Pôrto Alegre, 14 de março de 1913.
Replicou o Sr. Ministro em 27 de março com êste
telegrama:
«Cumpro dever respondendo ao vosso telegrama de
14 do corrente tratando do protesto feito pela Compagnie
Française du Port de Rio Grande do Sul contra os
favores concedidos pela Lei Federal n'' 2. 544, de 4 de
janeiro de 1912, art. 60, para as obras do pôrto de Pôrto
Alegre. - É meu dever cumprir e fazer cumprir os con-
tratos feitos por êste Ministério, quando assinados de
conformidade com as disposições legais. Por maior consi-
95

deração e acatamento que tenha pela vossa competente e


abalizada opinião, não posso, entretanto, aceitar a de
que cabe ao Govêrno estadual executar as obras do pôrto
de Pôrto Alegre.
A Constituição, no art. 60, letra g. dá aos tribunais
federais competência para processar e julgar as questões
de direito marítimo. Pode, pois, o Govêrno estadual ter
competência para fazer portos quando a sua justiça não
pode ter ação sôbre a navegação para quem são feitos os
portos? A Constituição concede ainda à União exclusiva
competência para decretar direitos de entrada, saída e
estada de navios (art. 7, n~ 2) . A circunstância de ser
Pôrto Alegre um pôrto interno, não o exclui da compe-
tência da União por servir ao comércio interestadual e
internacionaL E assim já decidiu o Decreto n9 3. 725, de
1 de agôsto de 1900, que anulou o contrato feito pelo
Govêrno do Estado do Amazonas para as obras do
pôrto de Manaus, que é interno, por não ter êle compe-
tência para isso e sim a União. Como sabeis perfeita-
mente, todos os constituc:onalistas brasileiros e comen-
tadores da nossa Constituição dão à União competência .
para agir e organizar os portos desde que sirvam ao
comércio interestadual e internacional. O grande publi-
cista e constitucionalista americano, acatada autoridade no
assunto, d:z o seguinte nos princípios gerais de direito
constitucional: «Ü Congresso não pode ditar leis para
regulamentar o comércio de um rio cujas águas navegáveis
estão exclusivamente dentro dos lim:tes de um Estado
e que não forma por sua união com outras águas uma via
contínua sôbre a qual se efetui o comércio com outro
ou outros Estados ou com países estrangeiros. É da com-
petência do Congresso quando um rio, que corre por
completo dentro de um Estado, forma com o lago no qual
96

.desagua um caminho para o comércio entre Estados (seção


2'', tradução do Dr. Corre:a, pág. 59)».
- É o que se dá na hipótese. A Lagoa dos Patos é o
caminho geral do comércio entre o Es~ado e as nações
estrangeiras não importando que seja interno e que banhe
somente terras do Estado, assim como o estuário que vul-
garmente se chama o rio Guaíba. Vosso telegrama diz que
Pôrto Alegre no tríplice aspecto geográfico, político e
comercial é um verdadeiro entrepo3to, situado entre o
pôrto marítimo e o interior.
Ass:m sendo, o pôrto acha-se ainda sob a competência
àa União, a quem, per fôrça do art. 34, § 3'', da Consti-
tuição, cabe criar ou suprimir entrepostos. Ainda na Lei
n'' 652. de 23 de novembro de 1899, art. 22. é reconheJ
cida a ação e jurisdição da União sôbre os portos quando
autoriza o poder executivo conceder aos Estados as obras
de melhoramentos dos mesmos portos. Se os Estados
tivessem competência para fazer obras e construir portos
não precisariam dessas concessões de poder execut:vo da
União. Nunca foi contestada a competência federal para
.construir e melhorar portos que servem ao comércio in-
terestadual ou internacional. Estes. de acôrdo com a Ins-
petoria Federal de Portos. que afirma serem as obras a
que se refere o art. 60 da Lei n'! 2. 544, congênere, às
contratadas em 12 de setembro de 1906 para o pôrto do
Rio Grande. Os fundamentos, porém, que tem a Inspe-
toria para afirmar a competência da Compagnie Fran-
çaise em igualdade de condições, são as cláusulas ex-
pressas do seu contrato celebrado em tempo neste Minis-
tério. O fato de custar uma obra mais ou menos que
outra, não altera sua natureza para conhecer se são
-congêneres, como se depreende do vosso recado. Dese-
97

jando tornar bem claro o meu pensamento, e cônscio das


responsabilidades do cargo que exerço, devo claramente
dizer que considero sem fundamento legal a competência
do Estado para realizar obras no pôrto de Pôrto Alegre.
Não posso desprezar a circunstância de existir acôrdo
assinado com uma companhia, que já apresentou o seu
protesto, podendo protfir da violação do contrato uma ação
judicial onerosa e de difícil defesa para a União, admi-
tindo-se mesmo uma possível intervenção diplomática junto
à nossa chancelaria, que tem atualmente à sua frente o
ex-titular da Viação que assinou em 1906 o contrato pri-
mitivo. Não devo também esquecer que uma questão dessa
ordem, tendo em jôgo importantes interêsses, traria como
conseqüência imed:ata, por não merecerem confiança os
contratos, o retraimento de capitais para os melhoramentos
·que tão necessários se tornam ao país. O Ex. 1110 Marechal
Hermes, que torriou conhecimento dêste telegrama, vos
manifestará diretamente o modo que considera eficaz para
resolver defin:tivamente êste importante assunto, ao qual
·se prendem altos interêsses da República, conjugados com
os do próspero Estado do Rio Grande do Sul. Abraços
afetuosos. - Barboza. Ministro da Viação.»
Por fim encerrou-se o incidente após a minha formal
contestação em telegrama expedido a 3 de abril e nestes
têrmos:
«Dr. Barbosa Gonçalves, Ministro Viação. - Rio.
Passo responder vosso telegrama 27 março último,
referente prote·sto feito Compagn:e Française du Port Rio
·Grande du Sud, contra favores concedidos Lei Federal
nQ 2.344, 'de 4 de janeiro de 1912, art. 60, para obras
pôrto desta Capital.
Examinei detidamente razões vossa impugnação.
98

Nenhuma entretanto tem eficácia legal e persuasiva,


como demonstrarei em seguida.
A Constituição, art. 60, letra g, dá aos tribunais
federais competência para processar e julgar as questões
de direito marítimo e navegação, assim no oceano como
nos rios e lagos do país .
Êste artigo não pode ser interpretado isoladamente; é
necessário subordiná-lo ao art. 36, nQ 6, e desde então
evidencia-se que aquela competência é restrita às questões
de navegação nos rios e lagos que banhem mais de um
Estado, ou se estendam a territór:os estrangeiros.
Ninguém melhor que J . BARBALHO elucida êsse ponto,
qui:indo explica que o art. 60, letra g, refere-se à navegação
de rios e lagos dependentes de regulamentação federal e
cumpreendidos na disposição do art. 34, n'' 6, sendo
essa inteligência confirmada também pela Lei de 14 de
outubro de 1892 e acórdão do Supremo Tribunal Federal
de 28 de maio de 1892. (V. Com. à Const., pág. 254).
A navegação entre Pôrto Alegre, Pelotas e Rio
Grande não depende de regulamentação federal e a nave-
gação interestadual e internacional até Põrto Alegre é
apenas ato de franquia ou tolerância dos podêres federais
e estaduais, originado de consenso tácito e ampl.iativo das
leis reguladoras dos privilégios da cabotagem nacional.
Convém não esquecer ainda que êsse pôrto abriu-se
a esta navegação depo:s dos trabalhos de dragagem em-
preendidos sistemàticamente pelo Govêrno do Estado desde
1896, em tôda a extensão do canal.
Não se compreende o rio Guaíba e Lagoa dos Patos
na disposição do art. 34, n'-' 6, da Constituição, é óbvio que
não tem relação com o caso o art. 60, letra g.
99

A invocação do art. 7(', n'' 8, da Constituição serve


unicamente para demonstrar que o Estado não pode de~
cretar direitos de entrada, saída e estada de navios em-
pregados no comércio de cabotagem e estrangeiro.
Isso nunca se contestou. E precisamente, por ser assim,
o Govêrno do Estado, pelos seus representantes, solicitou
do Congresso Nacional os favores constantes da Lei número
2 . 544, de 4 de janeiro de 1912 .
Não é a circunstância de ser Pôrto Alegre um pôrto
interno o que o exclui da competência da União, é, sim,
a de estar no estuário do Rio Guaíba, da exclusiva juris~
dição do Estado.
Não há analogia com o pôrto de Manaus, cuja com1~
trução foi objeto do Decreto n'' 3. 725, de 1 de agôsto
de 1900.
Manaus está situada em um rio federal que nasce
em território estrangeiro e, confluindo com o Solimões,
forma o Amazonas, que lança-se no mar depois de banhar
dois Estados brasileiros.
Está, pois, compreendido na disposição do art. 34,
n 9 6, da Constituição.
É certo que constitucionalistas brasileiros e comen~
tadores da Constituição dão à União competência para
construir 'portos que sirvam ao comércio interestadual e
internacional.
Mas nenhum dêles esquece a condição primordial que
tais portos estejam situados em águas da jurisdição fe~
dera], e como tais só cons:deram as do mar e dos rios e
lagos que banham mais de um Estado ou se estendam a
território · estrangeiro.
E acrescenta o acórdão do Supremo Tribunal Federal
n 9 898, de 28 de dezembro de 1900. «0 poder conferido
!00

à União foi o de legislar, não sôbre todos os usos a que


se possam prestar as águas dos rios que banham mais de
um Estado ou se estendam a territórios estrangeiros, mas
tão-somente sôbre um dêsses usos - a navegação -
criando assim uma única restr:ção ao domínio dos Estados
sôbre as águas.
Baseado na opinião de um grande publicista ame-
ricano cujo nome e obra não foram citados, dizeis que
a Lagoa dos Patos é o caminho geral do comércio entre
o Estado e as nações estrangeiras, não import<tndo que
seja interna e banhe somente terras do Estado, assim como
o estuário que se chama vulgarmente Rio Guaíba. Há ma-
nifesto equívoco.
Sob o aspesto geográfico, a Lagoa dos Patos está
separada do Oceano pelo canal do No r te ou Rio Grande.
O acesso ao pôrto de Pôrto Alegre só é possível
pelas águas da zona federal do pôrto do Rio Grande
que, na forma do contrato de I 2 de setembro de I 908.
compreende o mesmo canal do Norte desde o baixio d-:J
Saitiá até a sua entrada no oceano.
Não há navegação direta entre êste pôrto e o estran-
geiro, salvo poucos vapôres argentinos com escala pelo
Rio Grande.
Não vêm a Pôrto Alegre os vapôres da Companhia
Hamburguesa, única que mantém navegação reguJ.ar entre
o Estado e a Europa.
Também sob o aspecto comercial, não é menos exato
que a Lagoa dos Patos seja o caminho geral do comércio
estrangeiro e mesmo interestadual.
Ê sabido que a :mportação pela Barra se reparte entre
as Alfândegas do Rio Grande, Pelotas e Pôrto Alegre.
101

Não contestais que Pôrto Alegre seja um entreposto,


mas conclui que por isso mesmo está êle sob a jurisdição
federal, ex-vi do art. 31, nr' 5, da Constituição. Isto é
certo, mas só quanto ao comércio exterior e ao direito de
tributá-lo.
Mas êsse direito não se confunde com o domínio do
pôrto, das águas, etc.
O direito fiscal da União estende-se por todo o
território nacional através das alfândegas, entrepostos,
mesas de rendas, coletorias.
Mas daí não se segue que a União tenha domínio
sôbre o território. No sentido constitucional, fiscal e co-
mercial, denominam-se entre_:Jostos ou armazéns, trapiches.
ou edifícios especiais, destinados para depósitos de mer-
cadorias, importadas com destino ao pôrto ou a território
estrangeiro. (V. Reg. n" 2. 464, de setembro de 1860.
e disposições correlatas) .
A Lei n'! 852, de 23 de novembro de 1899, art. 22.
assim como as Leis n."' 1. 144 e 1. 145, de 30 e 31 de
dezembro de 1903, arts. 2'.>, XI, e 17, XXVIII e outras
posteriores, prometeram aos Estados, independente de
concorrência, os favores constantes das leis de 13 de
outubro de 1899 e 16 de outubro de 1886. Mas como
êstes favores são privativos dos portos federa:s, claro é
que o Congresso cogitou unicamente dos que fôssem da
competência da União, concedendo aos Estados aquilo que
as emprêsas particulares podiam obter, mas em concorrên-
cia pública .
Não conheço cláusula constitucional ou contratual.
explícita ou implícita, que vede ao Estado realizar obras
congêneres às da União.
Acresce que no caso decorrente nenhuma dúvida pode
suscitàr-se ante a Lei Federal n 9 2. 544, de 4 de janeiro
102

de 1912. que, reconhecendo a competência do Estado e


a utilidade das obras por êste projetadas, concedeu-lhe
a percepção de taxas privativas da União.
Já anteriormente demonstrei e não contestastes, que a
«Compagnie Française du Port du Rio Grande du Sud»
não tem direito adquirido à execução de obras hidráulicas
na bacia da Lagoa dos Patos.
Repito que a União apenas fêz uma promessa cuja
efetividade não garantiu, antes a tornou dependente de
condições incertas .
Assim não posso compartilhar de vossos receios quanto
ao êxito de uma ação judicial e mu:to menos admitir a
possibilidade de uma intervenção diplomática em questão
dessa natureza, que só os tribunais nacionais poderão
dirimir, consoante cláusula expressa dos contratos entre
a União e a companhia.
Esta encaminhou os seus capitais para o Brasil, con-
tando tão-sàmente com os favores e recompensas que hão
de proporcionar-lhe a exploração do pôrto do Rio Grande
e a empreitada das obras da Barra.
São assáz generosos êsses benefícios para excluírem
também a idéia de retraimento de capitais por motivo de
malõgro das pretensões da companhia à exploração do
pôrtc desta Capital.
Fundado na Constituição, leis federais de 14 de outu-
bro de 1892 e 4 de janeiro de 1912, na jurisprudência
federal e na própria lógica do sistema Federativo, sustenta
os direitos do Estado à construção, uso e gôzo do cais de
Põrto Alegre.
Oferecendo-vos esta formal contestação ao supõsto
domínio da União sõbre o põrto desta Cidade, rogo seja
submetida à reta apreciação do Sr. Presidente da Repú-
blica. Saudações cordiais. - Borges Medeiros.»
MCDXVIII

Gé!pinete do Consultor-Geral da República - Rio


<le Janeiro, 28 de fevereiro de 1924 - N9 17.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús-


tria e Comércio - Com o Aviso n 9 1, de 4 de janeiro
passado, transmitiu-me V. Ex'·' para dar parecer dois
processos de pedidos de patente de invenção sendo

- .o 19 de Antônio Lasheras, para «um


nôvo tempêro-conserva para mesa, cozinha, pas-
telaria, salsicharia e confeitaria, denominado tem-
pêra em conserva Barão do Rio Branco», e
- o 2 9 do Dr. Aristides Guaraná Filho e
Arthur Herrero Montes, de «um nôvo sistema de
propaganda comercial e industrial empregando a
telefonia alto-falante com ou sem fio».

Tendo de:xado de acompanhar os processos os memo-


riais descritivos de ambos os pedidos de privilégio e sendo
êsse o documento essencial para o exame, requisitei de
V. Ex~ a remessa dêsses documentos, por Ofício n 9 8, de
14 daquele mês, pedido que acaba de ser atendido com
Q Ofício de V. Ex'-' n9 14, de 19 do corrente.
Havendo estudado convenientemente a matéria em
Íace da lei passo, Sr. Ministro, a dar meu parecer.
104

Pedido de Antônio Lasheras

Como se vê da descrição do invento acima transcrito,


trata-se de um produto alimentício pelo que já foi ouvido
o Departamento Nacional da Saúde Pública que o julgou
inócuo. Quanto à questão de saber se se trata de matéria
que, nos têrmos da lei, possa ser objeto de patente, eu,
de acôrdo com o parecer que, sôbre idênticos pedidos, já
t:ve a honra de dar a V. Ex'' por Ofício n 9 22, de 18
do corrente mês, não me posso manifestar de modo fa-
vorável.
Como se vê do memorial descritivo e das respectivas
reivindicações, o chamado invento consiste simplesmente
numa mistura sem nada de especial. de fécula de arroz.
fécula de banana, urucu. banha, sal e pimenta.
Não vejo em que com êstes ingredientes triviais de
coz:nha se possa constituir «um nôvo meio ou uma nova
aplicação» que, dentro do sentido da lei, seja suscetível
de ser privilegiado.
Bem sei que no gênero do presente pedido, muitos
outros têm sido feitos que alcançaram a concessão da pa-
tente. Neste mesmo processo se encontra um requeri-
mento da Companhia Colorau juntando cópias dos memo-
riais de dois de seus privilég :os e protestando contra a
concessão de patente para os pedidos ora em estudo, sob
o fundamento de infringir essas patentes já concedidas.
Um dêsses privilégios concedidos a essa companhia
consiste no emprêgo do urucu com qualquer farináceo, o
que é realmente extraordinário que tenha s:do concedido:
e nesses têrmos vagos, sendo notório que o urucu é ingre--
diente culinário de uso comum.
105

Para mim tudo isso constitui um excesso que deve


ser coibido, pelo que não me parece que o que se chama
invento no memorial descritivo apresentado por Antônio
Lasheras seja objeto suscetível de ser _;Jriv:legíado.

Quanto ao pedido do Dr. Aristides Guaraná Filho e


outro, sou impedido de funcionar por isso que se trata
de uma aplicação de radiotelefonia e meu filho, o Dr. Ro~
drigo Octávio Filho, acaba de ser eleito Diretor da Com~·
panhia Rad:otelegrãfica Brasileira, em cujos estatutos se
menciona como um de seus objetivos o Broadcastíng em
tôdas as suas aplicações.

Devolvendo os papéis que me foram transmitidos,


tenho a honra de reiterar a V. Ex') meus protestos de
elevada estima e mui distinta consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDXIX

Gabinete do Consultor-Geral da República . - Rio


<le Janeiro, 28 de fevereiro de 1924- N9 18.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús-


tria e Comércio - Com o Ofício da Contabilidade do
Ministério a cargo de V. Ex'' no 756, de 21 do corrente,
recebi, para dar parecer, o processo relativo à proposta do
Sr. Diretor-Geral de Estatística de uma gratificação de
I :000$000 a João de Macedo Ribeiro, e 800$000 a Antôn:o
Albino Pinto, respectivamente Porteiro e Ajudante de
Porteiro da Diretoria-Geral de Estatística, por serviços
-extraordinários prestados durante o último recenseamento.
Baseia o Sr. Diretor sua proposta em o n9 20 do
art. 17 do Regulamento aprovado pelo Decreto no 14.026,
de 21 de janeiro de 1920, e alega que funcionários que,
como os interessados, tiveram aumentado o número regu-
lamentar de horas de trabalho, receberam uma gratificação
-extraordinária.
Ouvido por V. Ex'' o Dr. Consultor Jurídico dêsse
Ministério, não logrou a proposta ·parecer favorável, sob
·O fundamento de que, o art. 26 do referido Regulamento
já estabelecia para os funcionários do recenseamento uma
·gratificação extraordinária, que era, para os interessados
no presente processo, respectivamente de 250$000 e
200$000 mensais.
1 )8

Quer me parecer, entretanto, Sr. Ministro, que esta


gratificação regulamentar visava remunerar os serviços
extraordinários previstos no regulamento; isto é, o serviço
entre as horas 11 e 19, estabelecida em o art. 25. o que
já importava na prorrogação de 2 horas sôbre o tempo
normal do serviço.
Dizem, porém. os interessados em seu requerimento-
de 9 de junho de 1923. que de janeiro a outubro de 1922
o serv:ço regulamentar foi prorrogado de mais quatro
horas, a saber das 9 às 11, e das 19 às 21.
Se essa afirmação é verdadeira (o que dos papéis.
não consta porque sôbre êsse requerimento nenhum pa~
recer ou informação foi dado), se essa afirmação é verda~
cleira, parece evidente que a gratificação regulamentar a
que se refere o parecer do Sr. O r. Consultor Jurídico
não cobre êsse serviço extraordinário, não previsto no
Regulamento.
Nestes têrmos, é meu parecer que à proposta do
Sr. Oiretor~Geral de Estatística se pode dar favorável
solução, amparada como se acha pelos têrmos genéricos
da parte final do nQ 20 do art. 17 do Regulamento, que
faculta conceder, aos que tenham prestado serviços reco~
mendáveis em relação ao recenseamento, uma medalha ou
outra espécie de recompensa.
Com êste parecer devolvo os papéis a V. Ex'l- a quem
tenho a honra de renovar meus protestos de elevada esti-
ma e distinta consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDXX

Gabinete do Consultor-Geral da República -- Rio


de Janeiro, 29 de fevereiro de 1924 - N<:> 19.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n 9 59, de 26 de janeiro próximo
findo, transmitiu-me V. Ex'.!, para dar parecer, o processo
relativo ao requerimen:o em que a Companhia de Loterias
Nacionais do Brasil pede seja considerada, bem como
suas agências, isenta do impôsto sôbre vendas mercantis.
Em resposta cabe-me dizer, Sr. Ministro, que estou
inteiramente de acôrdo com o parecer que no processo
deu o Sr. Dr. Jayme Severiano, Auxiliar do Consultor ·da
Fazenda.
E nesta conformidade penso que o requerimento não
é de se deferir.
Com êste parecer devolvo os papéis a V. Ex'! a quem
tenho a honra de renovar meus protestos de elevada estima
e distinta consideração.

Rodrigo Octavio·.

CÓPIA - A Companhia de Loterias Nacionais, jul-


.gando-se isenta, pelo seu contrato, do impôsto sôbre vendas
110

mercantis, pede, no requerimento de fls. seja recomendado


à Recebedoria do Distrito Federal e às Delegacias Fiscais,
que o Regulamento n'' 16.041. de 22 de maio dêste ano, não
se lhe aplica.
O impôsto cuja cobrança se acha regulamentada pelo
decreto atrás referido recai sôbre vendas mercantis a
prazo ou à vista.
O que sejam vendas mercantis se acha definido no·
art. 191, 2'-' parte do Cód:go Comercial.
Por êsse artigo se vê que a compra e venda de efeitos
móveis ou semoventes, para revender por grôsso ou a
retalho, constitui venda mercantil.
O bilhete de loteria é um efeito móvel. Título de
crédito condicional, é êle objeto de transações mercantis,
de compra e venda, com o fim lucrativo.
Diz CARVALHO DE MENDONÇA:
«Os bilhetes de loterias autorizadas não são coisas
extra-commercium, mas, repetimos, títulos de crédit.o, que
no tráfico mercantil circulam como mercadoria ( Cohuin
Endemann) . É isso que caracteriza o negócio de loteria
como ato de comércio» (Di r. Com , vol. I. nota 5,
pág. 158) .
Não há excluir, portanto, da incidência do impôsto
sôbre vendas mercantis as transações feitas com os bi-
lhetes.
Comprar bilhetes de loterias para revender constitui
ato de comércio e quem o pratica é comerciante. ( CARV.
DE MENDONÇA: vol. III, pág. 491).
Não vejo, pois, como subtrair a Companhia consu-
lente ao pagamento do impôsto em questão.
111

A cláusula do seu contrato, invocada no seu reque-


rimento, não aproveita ao caso.
O impôsto recai sôbre a operação mercantil da venda
dos bilhetes e não sôbre os bilhetes prôpriamente.
O que a cláusula proíbe é a taxação direta ou indireta
sôbre as loterias contratadas, seus bilhetes e respectivos
planos.
Ora o impôsto não atinge nem direta nem indireta-
mente os bilhetes. Recai diretamente sôbre a transação
comercial e indistintamente sôbre o comprador ou consu-
midor pela translação do impôsto, fenômeno comum no
mecanismo da sua incidência .
Caso diferente seria se o fenômeno tivesse criado
qualquer taxa suplementar recaindo sôbre os bilhetes, ou
sôbre os prêmios,. ou sôbre os planos da extração, de
forma a modificar, agravando, os ônus estabelecidos na
cláusula Y.
Não se tendo dado isso e incidindo o impôsto em
objeto diverso dos mencionados na cláusula 3'\ sou de
parecer que seja cobrado o impôsto criado pela Lei número
4.625, de 31 de dezembro de 1922, e regulamentado pelo
Decreto nry 16.041, dêste ano, das vendas de bilhetes de
loteria explorada pela suplicante. - Gabinete do Consul-
tor, 22-11-23.- Jaime Severiano, Aux. int.
MCDXXI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 2'9 de fevereiro de 1924 -- N9 20.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha - Com o Aviso n° 709. de 2 de fevereiro corrente,
submeteu V. Ex'·' a meu parecer o processo decorrente
do requerimento em que o Capitão-de-Fragata Rogério
Augusto de Siqueira solicitou fôsse contado, para todos
os efeitos, como de embarque, na função que exercia no
encouraçado «Floriano», o período de 3 de dezembro de
1921, data em que, em virtude de queixa do seu Coman-
dante, constante de um telegrama ao Chefe do Estado-
Maior, foi mandado desembarcar, até 9 de dezembro de
1922, data em que foi mandado novamente embarcar no
«Deodoro».
Justifica o requerente o pedido na circunstância de
ter sido mandado arquivar o inquérito policial-militar
aberto em conseqüência daquele telegrama, o que, impor-
tando reconhecimento da improcedência da queixa, devia
conseqüentemente corresponder à sua reintegração.
Ouvido c Conselho do Almirantado foi êste, por
grande maioria, favorável à pretensão do requerente.
V. Ex'\ porém, indeferiu o pedido, de acôrdo com o voto
do Sr. Dr·. Consultor Jurídico que assinou «vencido, em
face do qu'e dispõe o art. 11 da Lei n'' 4. 018, de 9 de
janeiro de 1920».
11-l

Êsse dispositivo invocado diz o seguinte:

O tempo de embarque, que é o de efetivo


exercício a bordo do navio de guerra propriamente
dito, não poderá ser suprido, em hipótese alguma,
por outro de qualquer natureza.

Bem ponderada a matéria, não me parece, Sr. Mi-


nistro, que a invocada disposição possa ser aplicada ao
caso em estudo. De fato; aqui não se trata propriamente
de suprir o tempo de embarque por outro, de qualquer
natureza; trata-se, positivamente, de desfazer as conse-
qüências prejudiciais acs interêsses do requerente de um
ato praticado contra êle e que se provou ter sido in-
justificado.
Não me parece, entretanto, que isso baste para o defe-
rimento integral do pedido como foi opinião da grande
maioria do Conselho do Almirantado; para mim, ad instar
do que ocorreu em outras situações em que o oficial é
isento da acusação que contra êle pesa, a opinião que me
parece defensável é a do Sr. Contra-Almirante Alfredo
Pinto de Vasconcellos. expressa em voto separado, e com
a qual concordaram dois dos ilustres membros do Con-
selho.
Nesta conformidade é meu parecer, Sr. Ministro,
que por eqüidade, visto como não há lei expressa ampa-
rando a pretensão do requerente, pode o pedido ser defe-
rido para o efeito de se mandar contar como de embarque
na função em que se achava o requerente a bordo do
«Floriano», o tempo em que esteve desembarcado em con-
seqüência da queixa do seu Comandante, isto é, desde o
desembarque até o momento em que se apurou que a
queixa era improcedente, mandando-se arquivar o inquérito
115

aberto em conseqüência dela. De então em diante, o re-


querente teve novas comissões e poderia ter sido mandado
embarcar, cabendo-lhe mesmo requerer êsse embarque, se
o tivesse querido. Não vejo, pois, razão para se considerar
de embarque o tempo em que, já livre da acusação que
lhe foi feita, desempenhou o requerente, em terra, as
comissões que lhe foram designadas.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex~
devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex'·'
meus protestos de subida estima e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 5 de março de 1924 - NQ 21.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, In-


dústria e Comércio - Com o Ofício da Diretoria-Geral
de Agricultura n'' 238, de 12 de fevereiro próximo findo,
recebi, para dar parecer, o processo relativo ao requeri-
mento do Dr. Sizenando Figueira de Freitas, veterinário
interino do Serviço de Indústria Pastoril, pedindo sua
nomeação efetiva por efeito do disposto no art. 227 do
Regulamento aprovado pelo Decreto no 14. 711, de 1921 .
Penso, de acôrdo com o parecer do Sr. Dr. Consultor
Jurídico dêsse Ministério, em face dos têrmos genéricos
em que está redigido o dispositivo citado, que ao reque-
rente aproveita o mesmo dispositivo, desde que êle, antes
da reforma do serviço, exercia funções nesse mesmo
serviço.
Com êste parecer devolvo os papéis e tenho a honra
de reiterar a V. Ex'! meus protestos de elevada estima e
distinta consideração.

Rodriao Octavio.
MCDXXIII

Gabinete do Consultor-Geral da República -- Rio


de Janeiro, 5 de março de 1924 - N<~ 22.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n9 69, de 13 de fevereiro próximo
findo, transmitiu-me V. Ex'', para dar parecer, o pro-
cesso relativo ao aforamento de um terreno de acrescido
de marinha em S. Geraldo, Estado do Rio de Janeiro,
pretendido por Júlio de Souza.
Motivou a audiência solicitada por V. Ex'1 um nôvo
requerimento do mesmo Júlio de Souza, de 30 de junho
de 1921.
O caso, porém, Sr. Ministro, está resolvido pelo
despacho ministerial de 3 de fevereiro de 1921, dado sob
parecer do Consultor-Geral da República, então Sr. Doutor
James Darcy, e com o qual estou de inteiro acôrdo.
Êsse despacho mandou pôr o terreno em hasta pú-
blica, nos têrmos expressos do parágrafo único do art. 5•!
do Decreto nQ 4 . 105, de 22 de fevereiro de 1868, em
vista de haverem diversos concorrentes ao aforamento.
A êsse despacho apresentou o interessado uma ré-
plica havendo o antecessor de V. Ex'!, em nôvo despacho
de 18 de ontubro do mesmo ano, mandado que fõsse
cumprido o despacho anterior.
12(1

O que é estranhável é que, depois dêsse despacho,


só dois anos depois, em 6 de outubro de 1923, fôssem
dados os elementos para a hasta pública, tendo em seguida
continuado até agora sem prosseguimento de execução o
despacho ministerial .
Não há, pois, a meu ver, o que deferir quanto ao
nôvo requerimento de Júlio de Souza.
O caso está resolvido e, no seu entender, de acôrdo
com a lei, o que há a fazer é ordenar que se; dê execução
ao despacho de 3 de fevereiro de 1921 .
Com êste parecer, devolvo o processo e tenho a honra
de renovar a V. Ex'·' meus protestos de elevada estima e
distinta consideração.

Rodrigo Octavio·.
MCDXXIV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 6 de março de 1924 - N? 23.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n? 70, de 14 de fevereiro próximo
findo, transmitiu-me V. Ex0. para dar parecer, o processo
referente à renovação de fiança do Pagador da Delegacia
Fiscal do Tesouro no Estado do Amazonas Sebastião da
Silva, cujo fiador. faliu.
É evidente que a falência do fiador resolve a fiança.
Apuradas as responsabilidades cobertas pela fiança os
bens que a constituíam pertencem à massa falida e devem
ser arrecadados.
E dado êste caso deve o afiançado prestar nova
fiança. O prazo geral para prestação da fiança é de 60
dias, que poderá ser pelo respectivo Ministro prorrogado
por igual tempo (art. 834 do Regulamento n9 15. 763, de
8 de novembro de 1922) .
Na hipótese em estudo, suspenso o funcionário pelo
Delegado Fiscal, logo que teve conhecimento da ocorrência
que o forçava a substituir sua fiança, e aprovado êsse ato
por V. Ex'!, decorreu o prazo de 60 dias sem que nova
fiança houvesse sido prestada.
Sendo um caso que deve ser tratado com benevolên-
cia, porque ocorreu sem culpa do funcionário, é meu pa-
122

recer que se lhe deve notificar a concessão de nôvo prazo


de 60 dias para prestar fiança. sob pena de destituição.
Não me parece que a circunstância de ter o funcio-
nário mais de I O anos de serviço seja impedimento legal
à sua dispensa. Trata-se de uma função cujo exercício
depende necessàriamente da prestação da fiança e, por-
tanto, desde que o funcionário não consegue realizar essa
fiança não pode ser mantido no cargo.
É êste, Sr. Ministro, meu parecer.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'! meus protestos de elevada estima e mui distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXV

Gabinete do Consultor~Geral da República -- Rio


de Janeiro, 6 de março de 1924 - N9 2'4.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-·


rinha- Com o Aviso n 9 944, de 15 de fevereiro próximo
findo, recebi de V. Ex'!, para dar parecer, o requerimento
em que D. Izabel Umbelina Cabral, viúva do Fiel de
}'J. classe do Corpo de Suboficiais, reformado, Pedro Alves
Cabral. pede pagamento de diferença de vencimentos de
seu finado marido, a que se julga com direito em virtude
do Decreto de 11 de maio de 1921 .
Sõbre o caso foi ouvido o Conselho do Almirantado
que deu parecer favorável à pretensão, havendo o Senhor
Dr. Consultor Jurídico dêsse Ministério divergido e apre-
sentado voto em separado.
Meu modo de ver, Sr. Ministro, concorda com o voto
vencido do Sr. Dr. Consultor Jurídico.
Ê possível que, tendo havido êrro na contagem do
tempo com que foi reformado o referido suboficial. sua
reforma possa ser modificada. Ê manifesto que não o foi,
porém, pelo decreto citado, por isso que êsse decreto res-
tringe seus efeitos à cota do montepio. Assim, em exe~
cução dêsse decreto, não se pode reconhecer na reque-
12-J

rente senão o direito de ver melhorada a pensão do mon-


tepio.
Com êste parecer devolvo os papéis e renovo a V. Ex'!
meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

Rodtigo Octavio.
MCDXXVJ

Gabinete do Consultor~Geral da República -- Rio


de Janeiro, 7 de março de 1924 - NQ 25.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha - Com o Aviso n9 1. 016, de 20 de fevereiro
próximo findo, solicitou V. Ex'! meu parecer sôbre a
questão de saber se o dispositivo do art. 19 da Lei número
4. 626, de 3 de janeiro de 1923, que fixa a Fôrça Naval
para o exercício de 1923, deve ser considerado uma dispo~
sição permanente.
Penso, Sr. Ministro, de acôrdo com a parte final do
parecer do Sr. Dr. Consultor Jurídico dêsse Ministério,
que tal artigo contém uma disposição permanente.
É bem certo que as leis de fixação de fôrças são
anuais. Mas também o são as leis orçament-árias e é de
uso comum, entre nós, introduzirem-se nelas disposições de
natureza permanente. Ao tempo do Império era essa
prática usada com grande parcimônia e a natureza per-
manente do dispositivo era assinalada, ou em parágrafo
único ao dispositivo, ou, simplesmente, pela menção, entre
parênteses, no fim do dispositivo, de que a disposição
era permanente.
Em nossos dias o uso das disposições permanentes
nos orçamentos se generalizou de tal forma que se pode
126

dizer sem exagêro que é aí que se encontra quase tôda


a obra legislativa das sessões parlamentares.
Segundo a jurisprudência a respeito firmada pelo
Supremo Tribunal Federal. o critério para se verificar a
natureza permanente das disposições nas leis orçamentá-
rias é o objete do dispositivo. Se êle não se refere à ma-
téria propriamente orçamentária, se não consiste numa
autorização ao Executivo, mas se contém um princípio de
ordem geral que, por seus têrmos, firma uma norma legis-
lativa, deve ser considerado como disposição permanente.
Ora, o dispositivo sob que versa a consulta de V. Ex'!
é o do seguinte teor:

Art. 19. As vagas de 1'' tenente do Corpo


de Comissários da Armada serão preenchidas
pelos segundos-tenentes que tenham dois anos
de pôsto e de embarque dos quais 60 dias pelo
menos de viagem no oceano.
Parágrafo único. A promoção de 29 para
1'-' tenente dêsse Corpo será feita na proporção
de dois terços por antigüidade e um têrço por
merecimento.

Parece-me evidente que, de acôrdo com aquêle cri-


tério, êsse artigo de lei, por seus têrmos, contém uma
disposição permanente.
Com êste parecer devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'! meus protestos de subida estima e
distinta consideração .

Rodrigo Octavio.
MCDXXVII

Gabinete do Consultor--Geral da República - R.io


de Janeiro, 7 de março de 1924 ~ NQ 26.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma~


rinha - Com o A viso n 9 1 . 065, de 23 de fevereiro
próximo findo, submeteu V. Ex'' a meu estudo os papéis
relativos ao pedido do Mestre adido do Arsenal de Ma~
rinha de Mato Grosso Joaquim da Silva, para ser de~
signado para ocupar o lugar de mestre~geral a que se
julga com direito.
Ao requerimento acompanha o parecer do Conselho
do Almirantado, de 14 de fevereiro, favorável ao pedido
e a justificação de um voto vencido do Sr. Contra~
Almirante Octávio Jardim. a quem acompanhou o Sr. Pedro
Frontin.
É o caso, Sr. Ministro, que com a reforma dos Ar-
senais, constante do Regulamento aprovado pelo Decreto
n9 6. 7&2, de 19 de dezembro de 1907, foram suprimidos
os lugares de mestres, que existiam em cada oficina e
criado-s dois lugares de mestres~gerais, depois reduzidos a
um só.
Os mestres desaproveitados, entre os quais o reque~
rente, na forma do par-ágrafo único do art. 282 das Ois~
posições Transitórias daquele Regulamento,
128

ficaram adidos, com as vantagens de que goza-


vam, até serem aproveitados em outras repar-
tições da Marinha ou de outros Ministérios.
De acôrdo com o art. 41 dêsse mesmo Regulamento
a vaga de mestre-geral seria sempre preenchida
por um dos contramestres, mediante concurso.

Em face dêstes princípios não me parece que ao


requerente assista razão, principalmente porque o lugar
de mestre, do antigo regime, não corresponde ao de
mestre-geral do Regulamento de 1907. Pelo antigo regime
cada oficina tinha um mestre e um contramestre.
Era assim que o requerente era mestre da oficina
de cravadores e calafates. Pelo nôvo Regulamento cada
oficina ficou com um contramestre e se criou um lugar
de mestre-geral, que superintende o serviço de tôdas as
oficinas.
Se o lugar do requerente correspondesse ao de mestre-
geral o seu direito a ser aproveitado nesse lugar poderia
ser amparado pela citada disposição transitória do Regu"
lamento, a despeito do outro dispositivo que mandou prover
o lugar por concurso entre os contramestres. Não corres-
pondendo, porém, os dois lugares, não me parece que
a lei ampare a pretensão do requerente.
Ê êste, Sr. Ministro, meu parecer.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' meus protestos de subida estima e distinta consi-·
der ação.

Rodrigo Octavio.
MCDXXVIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de .Janeiro, 8 de março de 1924 - N~' 27.

Ex. 010 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha - Com o A viso n~' 1 . 086, de 25 de fevereiro
próximo findo, transmitiu-me V. Ex'!, para dar parecer,
·OS papéis relativos à data de que se deve contar a pro-
moção do }<.>-tenente Comissário Octávio Pinto da Luz,
efetuada por Decreto de 13 de julho de 1923.
Sendo certo, como consta das informações do Contra-
Almirante Inspetor da Fazenda e Fiscalização, que, já ao
tempo em que foi promovido o Comissário Octávio Santos,
ao requerente cabia a promoção por antigüidade, por ser
o n? 1 da escala e nêle se encontrarem todos os requisitos
para a promoção; sendo certo, como se apura dessas
mesmas informações, que, mesmo contando pela metade,
na forma da lei, o tempo em que o requerente estêve na
reserva, êle não perde a precedência na antigüidade sôbre
aquêle seu colega, penso que, conforme opinou a maioria
do Conselho do Almirantado, o requerimento merece de-
feriménto.
Com êste parecer devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'·' meus protestos de elevada estima
~ distinta consideração.

Rodrigo Octavi.o.
MCDXXIX

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 8 de março de 1924 - N9 28.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa~


zenda - Com o Aviso n 9 57, de 26 de janeiro próximo
findo, submeteu V. Ex'\ novamente, ao parecer do Con~
sultor~Geral da República a questão relativa ao pagamento
das percentagens de cobrança de dívida ativa aos funcio~
nários da extinta Procuradoria~Geral da Fazenda Pública,
em relação a uma avultada quantia exigida da Companhia
Leopoldina Railway e que o Supremo Tribunal Federal.
em decisão que transitou em julgado, mandou restituir
por ter sido exigida ilegalmente.

A matéria, de modo geral. está, a meu ver, perfei~


tamente elucidada no processo pelo parecer que já tive
a honra de dar a êsse Ministério em 28 de fevereiro de
192'3 e que mereceu o apõio e confirmação de outro pa~
recer do eminente jurista Sr. Dr. Astolpho Rezende.
quando, em minha ausência, exerceu, com notável superio~
ridade, as árduas funções do meu cargo.
Devo, entretanto, observar que o nôvo requer:mento,
ora apresentado e que motivou esta quarta consulta sôbre
o caso, traz um elemento nôvo, fundado nos dispositivos
do art. 69 do Orçamento da Receita para o corrente
132

exerCICIO, esclarecidos pelo parecer da Comissão de Fi-


nanças do Senado, que acompanhou o nôvo requerimento
que V. Ex1.1 me transmitiu com o Aviso n'.> 87, de 6 do
corrente.
Diz êsse art. 69, referido:

Fica revogado o art. 99 do Decreto número


15.210, de 28 de dezembro de 1921. Uma vez
proferida a decisão final pelo Ministro em matéria
de receita, o recurso porventura interposto pela
parte para o Poder Judiciário não impede que
as quotas ou percentagens, devidas pelo fato da
arrecadação da renda, sejam abonadas a quem
de direito.
O disposto no art. 133 da Lei n? 4. 555,
de 10 de agôsto de 1922, aplica~se unicamente
às multas, quotas~partes e percentagens a que
os funcionários ou particulares têm direito em
razão do ato ou fato que determinou a decisão
recorrida e não das que resultam do trabalho
da arrecadação .
Em sua primeira parte êsse dispositivo revoga o prin~
cípio altamente moralizador do art. 99 do Regulamento
dos Serviços da Fazenda Nacional e por fôrça do qual
só depois das decisões finais se pode adjudicar
aos funcionários a parte das multas e porcenta-
gens a que tenham direito.
O prinCipiO constante dêste dispositivo regulamentar
fôra, aliás, reproduzido no art. 133 da Lei n? 4. 555, de
10 de agôsto de 1922, que assim se exprime:

A quota~parte que, por multas ou dívidas


fiscais, couber a funcionários da União bem
133

assim a pessoas estranhas ao serviço público, só


será entregue aos interessados depois de reco~
lhida às repartições arrecadadoras respectivas e
uma vez esgotados os prazos para a interposição
dos recursos administrativos ou de passarem em
julgado na instância superior, as decisões re~
corridas, ficando responsáveis os chefes daquelas
repartições pela observância dês te dispositivo.

Nos têrmos expostos aquêle dispositivo do Regula~


menta de 1911 ficou substituído pela seguinte parte já
acima transcrita do art. 69 do Orçamento da Receita
vigente:

Uma vez proferida a decisão final pelo Mi~


nistro em matéria de receita, o recurso porven~
tura interposto pela parte para o Poder Judiciário
não impede que as quotas ou percentagens de~
vidas, pelo fato da arrecadação da renda, sejam
abonadas a quem de direito.
De modo que, a interpretar~se ao pé da letra êste
dispositivo, teremos que a lei considera como
arrecadação da renda

a entrada de contribuições exigidas pelo Tesouro mesmo


que penda recurso judicial e que, afinal, em virtude da
decisão dêsse recurso, a importância de tais contribuições
tenha de ser pelo T escuro restituída.
Não pára aí, porém, o nôvo dispositivo agora intro~
duzido em nossa legislação fiscal. Se é certo que foi
por êle revogado o art. 99 do Regulamento de 1921, não
é menos certo que em sua última parte o nôvo dispositivo
revigora o art. 133 da Lei n'' 4. 555, de 1922, que contém,
134

aliás, o mesmo prinCipiO do artigo revogado do Regula-


mento de 1921.
Distingue o nôvo dispositivo em relação à matéria do
referido art. 133, de 1922, e o revigora para nêle fazer
uma distinção, estabelecendo que tal artigo se aplica, isto
é, que as porcentagens só são devidas depois de resolvida
a questão judicial, porventura intentada, quanto

aos funcionários ou particulares em razão do ato


ou fato que determinou a decisão recorrida; isto
é, quanto àqueles que tenham dado uma denúncia
de desvio de impôsto ou levantado uma questão
sôbre a obrigação de um pagamento qualquer,
e que tal dispositivo não se aplica, isto é, que as percen~
tagens são devidas desde logo, uma vez entradas as im~
portâncias cobradas nos cofres públicos, quanto
aos funcionários incumbidos simplesmente do tra-
balho da arrecadação.

De acôrdo com êste nôvo dispositivo as percentagens


não serão devidas a uma categoria de funcionários e serão
devidas a funcionários de outra categoria, saindo, para
êstes, evidentemente, dos cofres públicos a respectiva
quota, por isso que, na hipótese, a quantia arrecadada
indevidamente deveria ser restituída.

Como se vê do já mencionado parecer da Comissão


de Finanças do Senado, que por V. Ex'-' me foi transmi-
tido, como o nôvo requerimento dos interessados, por
Aviso de 6 do corrente, o dispos;tivo do orçamento vigente
foi editado com o intuito declarado de interpretar o citado
art. 133, de 1922.
135

Diz textualmente êsse parecer, fundamentando a


emenda que se converteu no art. 69 do orçamento vigente,
que

a emenda, que é interpretativa, objetiva esclarecer


de modo preciso a aplicação dos dispositivos alu-
didos, dando~ lhes a verdade:ra inteligência.

Nesta conformidade, em face do intuito expresso com


·que foi o dispositivo editado, a despeito de sua redação,
que podia dar lugar a dúvidas quanto à natureza de dis-
posição interpretativa do texto, parece que os casos pen-
dentes, que devem ser solvidos por aplicação do mencio-
nado art. 133 do orçamento para 1922, o sejam dentro
do sentido que expressamente deu o nôvo dispositivo.
Fica bem entendido que, qualquer que seja a decisão
de V. Ex~. ela de forma alguma afeta o direito· da Com~
panhia Leopoldina de receber integralmente as quantias que
recolheu aos cofres públicos e que o Estado lhe deve
restituir, tem obediência ao julgado do Supremo Tribunal
Federal.
Devolvo os papeis e tenho a honra de renovar a
V. · ExtJ. os protestos de minha elevada estima e dist:nta
<onsideração .

Rodrigo Octavío .
MCDXXX

Gabinete do Consultor-Geral da República - Ri<>


de Janeiro, 10 de março de 1924 - N9 29.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Marinha - Com o Aviso n9 971. de 16 de fevereiro pró-
ximo findo, transmitiu-me V. Ex'·l para dar parecer o
requerimento em que o operário de 1~ classe da oficina
de carapinas e torneiros da Diretoria de Construção Naval
do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, já dispensado
do ponto, em vista de inspeção de saúde, pede as vantagens
da aposentadoria.
Fundamenta o requerente seu pedido no dispositivo
do art. 73 da Lei nQ 4. 632. de 6 de janeiro de 1923,
que assim se exprime:

Os mensalistas, os operários, serventes, jor-


leiros, diaristas e trabalhadores dos Arsenais de
Guerra e Marinha do Rio de Janeiro, da Inten-
dência da Guerra da Capital Federal, da Fábrica
de Cartuchos e Artefatos de Guerra e das ofi-
cinas e dependências dos Ministér:os da Guerra e
da Marinha, passam a ter vencimentos anuais
divididos em dois-terços de ordenado e um-têrço·
de gratificação, expedindo-se-lhes os respectivos
títulos de nomeação, e sendo assim extensivo em
tudo que lhes fôr a'Jlicável, os dire:tos, as ga-
138

rantias, e as vantagens concedidas no art. 121,


da Lei n'! 4. 242, de 5 de janeiro de 1921.

Ouvido a respeito o Sr. Dr. Consultor Jurídico dêsse


Ministério, não logrou o pedido parecer favorável pelo
fato de se referir o art. 121 da Lei n9 4. 242, de 1921,
mencionado no dispositivo, a uma autorização para reforma
da Imprensa Nacional, de que o Executivo ainda não se
utilizou.
Havendo ponderado sôbre o caso. sou levado, Senhor
l'vlinistco, a dissentir do meu distinto colega.
:Ê certo que o art. 121 referido contém a autorização
a que alude o Sr. Dr. Consultor Jurídico; não é menos
Lt:r te>, porém, que a primeira parte do artigo contém claras

e positivas disposições que se não podem deixar de consi-


derar vigentes e assim obrigatórias, independentemente da
referência ao art. 121 da Lei de 1921, a que aquelas
disposições não estão subordinadas.
Por essas disposições os operários do Arsenal de
Marinha desta Cidade
a) passaram a ter vencimentos anuais, divididos em
dois~terços de ordenado e um-têrço de gratificação;
b) expedindo~se-lhes título de nomeação.
Deixaram assim êsses servidores do Estado de ser,
no ponto~de-vista administrat:vo - operários, diaristas -
para serem conceituados como - empregados públicos - ,
e, nessas condições, não se lhes pode desconhecer o direito
de beneficiarem das vantagens que as leis criaram, de
modo geral. para os empregados públicos.
Entre essa·s vantagens está a da aposentadoria, insti-
tuída pelo art. 75 da Constituição para os funcionários
públicos que se invalidarem no serviço da Nação e a que
139

deu Regulamento à Lei n'' 117, de 4 de novembro de


1892, ora modificada parcialmente pelo art. 121 da Lei
n9 2. 924, de 5 de janeiro de 1915.
Êstes princípios foram por mim mais longamente ex-
postos no parecer que em 11 de outubro de 1923 dei ao
Ministério da Fazenda, sôbre aposentadoria de certos em-
pregados da Imprensa Nacional, e de que faço acompanhar
cópia a êste parecer; e de acôrdo com êles é minha opinião
que o requerimento merece deferimento.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' meus protestos de subida estima e mui distinta
~onsideração .

Rodrigo Octavio~.
MCDXXXI

Gabinete do Consultor-Geral da Repúblir.a - Rio


,de Janeiro, 11 de março de 1924 - Nº 30.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús-


tria e Comércio - Com c ofício da Diretoria de Conta-
bilidade dêsse Ministério n 9 185, de 22 de fevereiro pró-
ximo findo, a 7 do corrente entregue neste Gabinete, recebi
para dar parecer os papéis relativos à situação do Sr. João
Horácio de Campos Cartier, J9 Oficial adido da Diretoria-
Geral de Estatística.
Sôbre o caso já emitiu parecer o Sr. Dr. Consultor
Jurídico dêsse Ministério com cujas conclusões estou de
acôrdo.
De fato; dos papé:s se apura que o funcionário em
questão, nomeado por concurso e tendo mais de 10 anos
de serviço público nesse Ministério e, anteriormente, no
de Obras Públicas, fôra dispensado por ato do Diretor
da Estrada de F erro Noroeste do Brasil, sob o funda-
mento de que, designado para ter exercício nessa estrada,
ali não apareceu.
Ora, tratando-se de funcionário cuja exoneração era
da competência do Mini'Stro de Estado e que não lhe
podia ser dada, sem processo administrativo, basta essas
circunstâncias para demonstrar que a situação é anômala.
142

Nestas condições, não havendo sido tomado nesse-


Ministério qualquer ato contra o requerente, que, assim,
não pode deixar de ser considerado ainda funcionário, é
meu parecer que V. Ex~ pode mandar normalizar a
situação designando serviço para o requerente na categoria
de seu pôsto .
Com êste parecer, devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'-' meus protestos de subida estima e
distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXXII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio,


de Janeiro, 12 de março· de 1924 - Nq 31 .

Ex.mo Sr . Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso nQ 210, de 23 de outubro do
ano passado, submeteu V, Ex'! a meu estudo as repre-
sentações feitas contra as companhias estrangeiras de
navegação Norddeutscher Lloyd Bremen, Lloyd Sabaudo,
Triestina de Navegação Consulich e Lloyd Real Holandês,
pelo fato de não terem requerido a matrícula a que se
refere o art. 13 do Decreto n'.> 14.729, de 16 de março
de 1921, para o efeito do impôsto de renda.
A razão dada pelas Companhias em questão em sua
defesa é que, não tendo elas no Brasil agência, sucursal
ou filial. nem qualquer espécie de bens, agindo aqui por
intermédio de meros representantes, negociantes aqui esta-
belecidos para seus próprios negócios, não estão obrigadas
a pedir autorização para funcionar no Brasil e não estão
sujeitas à referida matrícula.
De fato, Sr. Ministro, em relação às companhias es-
trangeiras a matrícula pressupõe, pelos têrmos precisos
do citado artigo,
a) que a companhia tenha obtido autorização para
func:onar no Brasil. pois deve nela mencionar a data do
respectivo decreto;
144

b) que tenha capital declarado para operar no Brasil


ou bens de qualquer natureza ou, pelo menos, fundos de
movimento, pois essa é a base para o cálculo do impôs to.
E, nestes têrmos, desde que tais exigências indispen-
sáveis não possam ser satisfeitas parece claro que a ma-
trícula não pode ser efetuada.
A questão, entretanto. consiste em saber se tais com-
panhias estão ou não obrigadas a requerer autorização
para funcionar no BrasiL satisfazendo assim aquêles re-
quisitos legais.
Dispõe a lei que as companhias estrangeiras, para
funcionar no Brasil por si mesmas ou por fil.iais, agências
(Decreto n'! 434, de 1891. art. 47), por meio de esta-
belecimentos que as representem (Código Civil. art. 20,
parágrafo único, da Introdução·), devem obter autorização
do Govêrno.
A Diretoria da Receita e o Sr. Dr. Consultor da
Fazenda entendem que, no rigor da expressão, não deve
ser considerada como - funcionando no Brasil - uma
companhia de navegação que se Lmite a mandar aos
nossos portos os seus navios, consignados a uma terceira
pessoa, autônoma e independente dela. trazer e buscar
passageiros e cargas.
Em relação às companhias que mandam navios irre-
gularmente, sem tempo certo, ao impulso de seus interêsses,
não há dúvida em se reconhecer que tais companhias não
devem ser consideradas como - funcionando no Brasil.
E, assim, será, porventura, o fato da vinda dos navios
obedecer a uma norma, assegurando ao comércio e aos
viajantes· um serviço regular de transporte, que resulta na
conseqüência de que tais companhias funcionam no
Brasil?
145

A questão é sutil.
Desde que a companhia não tem no Brasil agência,
sucursai ou filial, a vinda dos seus navios aos nossos
portos, consignados a um representante, que se ocupa de
seus negócios, pode ser considerado como constituindo um
ato semelhante aos de uma companhia industrial ou fabril
que tem aqui representantes que lhe vendam e coloquem
seus produtos. Tais companhias não funcionam no Brasil;
não deixam, porém, de comerciar aqui por intermédio de
seus representantes. O mesmo se dará com as companhias
de navegação. Em vez de mandar para nossas praças seus
produtos manufaturados, como aquelas companhias, as de
navegação, cuja indústria é puramente o transporte,
mandam aos nossos portos seus navios que são o veículo
de sua indústria. E essas companhias tanto agem, exer-
cendo sua indústria, com um serviço normal, regularmente
estabelecido, como com o envio irregular de navios con-
forme seus interêsses próprios e as conveniências do mer-
cado internacional.
Assim pode se defender perfeitamente o princípio de
que as companhias em questão não estejam obrigadas, para
exercer sua indústria, do modo por que o fazem, de obter
autorização para funcionar no Brasil, como, aliás, por
muito tempo se entendeu, porque companhias regulares de
navegação, e das mais importantes, têm trazido por longos
anos seus navios aos nossos portos, contribuindo, do modo
mais eficaz, para nosso desenvolvimento econômico, sem
que, entretanto, se lhes houvesse exigido que obtivessem
licença para funcionar no Brasil. Ahás, a falta dessa
licença não implicava sanção alguma que tornasse precária
ou menos. segura a atividade da companhia.
No rigor do direito não me parece, entretanto, que
tal situação seja regular. Seja como fôr, é inegável que
146

as companhias de navegação trazendo para o Brasil cargas


e passageiros, levando do Brasil cargas e passageiros,
agenciam o seu serviço, exercem a sua indústria e, pois,.
operam no Brasil e nesses casos, para estar inteiramente
de acôrdo com nossas leis, devem obter a respectiva
autorização.
Nem se pretenda que o fato de não criar a companhia-
no Brasil, agência, sucursal ou filial modifique a situação.
O parágrafo único do art. 20 da Introdução do Código
Civil resolveu tôda dúvida estatuindo que

dependem de aprovação do Govêrno Federal os


estatutos ou compromissos das soc:edades estran~
geiras por ações e de intuitos não econômicos,
para poderem funcionar no Brasil, por si mesmas,
ou por filiais, agências, estabelecimentos que as
representem, ficando sujeitas às leis e aos tri~
bunais brasileiros.

Assim, basta que a sociedade estrangeira por ações


funcione no Brasil. isto é, exerça aqui sua atividade.
por meio de um estabelecimento que a represente
para que deva obter do Govêrno Federal a necessária
autorização.

Esta me parece, Sr. Ministro, a solução rigorosa.


Não me parece, entretanto, que se devam manter as inti··
mações feitas e as multas impostas nos processos em
estudo,

1Q) porque, como já foi visto, a matrícula


só será possível em relação às companhias auto-
rizadas a funcionar no Brasil;
147

2Q) porque nem sempre se entendeu que


essa autorização fõsse necessária para as com-
panhias de navegação, havendo bons argumentos
para se pensar de modo diverso, como neste
processo se manifestaram altos funcionários do
Tesouro;
39) porque, como depreendo do parecer,
junto ao processo por có;Jia, do Sr. Dr. Con-
sultor da Fazenda, já êste Ministério deu à
Embaixada Americana informação de que tal
autorização não ua necessária.

E nesta conformidade, segundo meu modo de ver, a


resposta à Recebedoria dêste Distrito deve ser dada no
sentido de que a matrícula, para o efeito do impôsto de
renda, não é obrigatória para as sociedades estrangeiras
que não têm autorização para funcionar no País, pelo que
não estão elas sujeitas às obrigações e sanções do res-
pectivo regulamento. Deve, porém, V. Ex'-' baixar uma
ordem marcando um prazo para que tais companhias
obtenham a necessária autorização e aprovação de seus
estatutos, ficando, após a realização dessa providência
legal, sujeitas aos regulamentos vigentes sôbre o impôsto
de renda.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex'-',
devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex~
meus protestos de subida estima e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXXIII

Gabínete do Consultor~Geral da Rep.ública - Rio


de Janeiro, 22 de março de 1924 - N9 32.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n 9 71, de 14 de fevereiro próximo·
findo, transmitiu~me V. Ex'·' para dar parecer, o pro-
cesso relativo à restituição de direitos alfandegários pre-
tendida pela firma Rodolfo M . Guimarães, de Santos.
Trata~se de um pagamento de direitos de consumo
sôbre mercadorias importadas da América do Norte, em
1918, sem que, por êrro ou engano, se houvesse no des·
pacho feito o desconto de 20 'lo relativo à procedência da
mercadoria .
E como tal mercadoria foi submetida a despacho em
5 de fevereiro e o pedido de restituição só houvesse sido
feito a 5 de junho do mesmo ano, o Tribunal de Contas,
discordando da resolução do Tesouro Nacional, recusou
registro sob o fundamento de estar o direito prescrito nos
têrmos do art. 666 da Nova Consolidação das Leis das
Alfândegas .

Êste dispositivo reza o seguinte:


O direito de reclamação por engano ou êrro
em despacho, prescreve no fim de dois meses,
depois do pagamento dos direitos, para a pessoa
ISO

que despachar as mercadorias; e para a Fazenda


Nacional no fim de um ano contado da data
do mesmo pagamento.

Aconteceu, porém, que o Supremo Tribunal Federal.


em Acórdão n'! 277, de 27 de março de 1897, fazendo
aplicação dêsse dispositivo interpretou~o no sentido de que

já pelo valor literal dos próprios têrmos dêsse


art. 666, já pela sua combinação com os do
art. 537, § 1'', da dita Consolidação, o engano
ou êrro em despacho de que fala aquêle artigo
é o que se dá no cálculo, isto é, nas operações
aritméticas para a determinação da quantia a
pagar pelos direitos devidos; sendo, portanto,
inaplicável ao caso de êrro na interpretação da
lei a prescrição extintiva estabelecida no citado
art. 666.

Já anter:ormente a mesma distinção havia sido feita


pelo Aviso dêste Ministério, n'' 25, de 19 de agôsto de
1895, distinção que, aliás, a meu ver, o dispositivo do
§ 1'' do art. 537 mencionado no acórdão não parece
legítima.
Êsse artigo, estabelecendo que não se admitirão re-
clamações das partes por engano ou êrro nos despachos
sôbre quantidade ou qualidade das mercadorias depois de
sua retirada dos armazéns, assim dispõe no § 1'~:

no caso de êrro ou engano proveniente do cálculo


dos direitos, taxa incompetente, redução de pesos
e medidas e outras semelhantes, cujas provas per~
maneçam nos despachos terá lugar a reclamação
a fim de ratificado o êrm ou engano, efetuar-se
a restituição do que fôr feito.
!Si

Parece~me evidente que êsse dispositivo não legitima


a distinção, por isso que êle autorizando a reclamação,
ficará subordinado ao do art. 666 que fixou os prazos
dentro dos quais tais reclamações podem ser feitas.
Como quer que seja, porém, o Supremo Tribunal
Federal firmou aquela distinção que, ainda um julgado
posterior tornou mais lata, pondo, em oposição ao êrro
aritmético de cálculo dos direitos a pagar, quaisquer outras
dife:renças de direitos encontradas na revisão dos despa-
chos. Foi o que decidiu o Acórdão n'! 557, de 6 de janeiro
de 1915 (Revista de Direito, vol. 37, pág. 317).
Tais decisões passaram em julgado e, se elas, de
modo absoluto, não obrigam à Fazenda Nacional, pois
que as dec:sões judiciais só obrigam em espécie, contudo
devem ser respeitadas como fixando a interpretação do
texto em questão.
Assim, sob o domínio dessa interpretação, devia a
administração da Fazenda Nacional considerar admissí~
veis, além do prazo de dois meses, as reclamações contra
pagamentos de despachos aduaneiros que se não fundassem
em êrro aritmético de cálculo do impôsto.
E o parecer de 18 de março de 1923, do Sr. Diretor
.da Receita neste processo, nos dá notícia de que assim
se procedeu até que novas decisões do mesmo Supremo
Tribunal, deixando de fazer a referida distinção, reco-
nheceram implicitamente, aliás, a inteira aplicação do
art. 666 para erros ou enganos de qualquer natureza
nos despachos aduaneiros.
Parece lógico, pois, que a reclamação contra o des-
pacho em questão devia ser resolvida à luz dêstes princí-
pios uma vez que o despacho foi efetuado durante o tempo
152

da vigência da interpretação do dispositivo da Nova Con-


solidação dada pelos acórdãos de 1897 e 1915.
E, nestes têrmos, desde que o engano ou êrro contra
que se reclama não é proveniente de êrro aritmético no
cálculo do impôsto a pagar, a reclamação deve ser aten-
dida uma vez que se verificou a sua procedência.

Outro aspecto sôbre o qual o caso deve ser encarado


é o relativo ao efeito que sôbre êsse dispos:tivo da Nova
Consolidação possa ter tido o Código Civil.
O Sr. Dr. Consultor da Fazenda, em seu parecer de 8
de janeiro último, entende que tal. dispositivo está revogado
pelo art. 1 . 807 do Código Civil, revogatório de tôdas as
leis, decretos e usos anteriores, concernentes às matérias
de direito civil pelo Código reguladas.
Realmente assim poderia ser, por isso que se trata
de prescrição de direitos contra a Fazenda Nacional e é
essa matéria de que o Código se ocupa, em o § 10, n? VL
do seu art. 178.
Não me parece, porém, que assim seja porque o refe-
rido dispositivo do Código não é nôvo, senão reprodução
de antigos textos. revigorados já pela Lei n'1 1. 4:39, de-
28 de agôsto de 1908 .
Ora, se o princípio especial consignado no art. 666
da Consolidação não se reputou revogado por essa lei
posterior à sua decretação (a Nova Consolidação foi
aprovada por Portaria do Ministro da Fazenda de 13
de abril de 1894 e o art . 666 já reproduz princíp:os do-
art. 775 do Regulamento aprovado pelo Decreto n9 2.647,
de 10 de setembro de 1860, e art. 26 do Decreto n 9 4:.510r
153

de 20 de abril de 1870), não se encontra razão para que,


sendo uma disposição especial, se o julgue revogado pelo
artigo citado do Código que apenas recolhera o mesmo
princípio geral. E, tanto assim parece que o Supremo
Tribunal Federal, em diversos julgados, posteriores à
vigência do Código Civil, tem reconhecido a aplicabilidade
do princípio do art. 666 da Nova Consolidação das Leis
das Alfândegass (notadamente acórdãos n. 0 ' 2. 056, de
17 de outubro de 1921, no Diário Oficial de 14 de fevereiro
de 1922, e 3. 846, de 21 de outubro de 1922, na Revista
do S.T.F., vol. 53, pág. 127; nesse acórdão, um dos
c.onsideranda reza textualmente: considerando que êsse
dispositivo legal (o do art. 666 da Consolidação) está
em pleno vigor, ao contrário do que afirma, por equívoco,
a sentença apelada) .
Não me parece, po:s, que se deva proclamar a revo~
gação de tal dispositivo.
Em face destas considerações, de acôrdo com as
observações constantes da primeira parte dêste parecer.
penso que infundada é a recusa do Tribunal de Contas.
Com êste parecer, que submeto ao critério superior
de V. Ex'\ devolvo os papéis e tenho a honra de reiterar
a V. Ex'·' meus protestos de elevada estima e mui distinta
consideração.
Rodrigo Octavío.
MCDXXXIV

Gabinete do Consultor~Geral da Repúbliéa - Rio


.de Janeiro, 24 de março de 1924 - Nq 33.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa~


zenda - Com o Aviso n9 89, de 15 de março corrente,
transmitiu~me V. Ex'-', para dar parecer, o processo de~
corrente de um ofício da Inspeção de Repartições da
Fazenda relativo ao fato de receberem vencimentos acumu~
lados os escriturários de diversas repartições Dr. Antônio
Máximo Nogueira Penido, Antônio Henrique Magalhães
de Almeida e América Joaquim Ferreira gnes.
Dêstes, os dois primeiros percebem também subsídios,
o primeiro como deputado federal e o segundo como
membro da Câmara Legislativa do Estado do Maranhão;
o terceiro é também professor de ginástica do Corpo de
Bombeiros desta Capital.
As informações são tôdas no sentido de reconhecer a
legalidade da dupla percepção de vencimentos; quanto aos
dois primeiros, ex vi do art. 44 da Lei n 9 4. 242, de 5 de
janeiró de 1921, que excluiu dos dispositivos anteriores,
regulando a proibição constitucional de acumulações remu~
neradas, as referências ao exercício dos cargos de eleição
federal, e.stadual ou municipal; quanto ao último, ex vi
do art. 105 da Lei n 9 3. 089, de 8 de janeiro de 1916,
qu:e exclui da proibição constitucional os funcionários com
156

mais de 10 anos de serviço nos cargos cujos vencimentos


percebem.
Os princípios legislativos invocados cobrem os casos
em questão, sendo certo, entretanto, que dos papéis não
consta, a não ser por simples declaração do próprio inte-
ressado, que o escriturário Énes tenha mais de 1O anos
de serviço, quer como empregado de Fazenda, quer como
professor de ginástica.
Devo, entretanto, assinalar, Sr. Ministro, como o
tenho feito já em diversos outros pareceres anteriores, que
o Supremo Tribunal Federal, dando o sentido do texto
constitucional sôbre acumulações remuneradas, assentou
que
redigido de modo tão claro e positivo, o art. 73
da Constituição não comporta as distinções com
que o legislador ordinário e o Poder Executivo
tentaram modificar a rigidez da proibição, dela
excluindo as acumulações remuneradas de cargo
federal com estadual ou municipal, de subsídio
com vencimento, das pensões de aposentados e
outros.
E, assim entendendo, o mesmo egrégio Supremo Tri-
bunal tem
aplicado nos seus últimos julgados com todo o
rigor a proibição do art. 73, declarando contrário
ao pensamento que o ditou as distinções feitas.
nas leis ordinárias e atos do Executivo (Acórdão
de 14 de maio de 1919, Revista do S.T.F.,
vol. XIX, pág. 589) .

Em vista desta jurisprudência, que, a meu ver, inter-


preta no verdadeiro sentido o texto constitucional, pare-
157

·ce-rne de todo o ponto fundada a comunicação inicial do


Sr. Inspetor de Fazenda.
É sempre com constrangimento que me pronuncio
acêrca de casos de acumulação remunerada, em face da
manifesta desigualdade com que, sob êste ponto de vista,
.são tratados os funcionários, nos diversos ministérios, e
mesmo dentro do mesmo ministério. Meu dever, porém,
é dar ao Ministro de Estado que me consulta meu parecer
conforme minha consciência.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex~ meus protestos de elevada estima e mui distinta
.consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDXXXV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio·


de Janeiro, 26 de março de 1924 - Nq 34.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n9 90. de 20 de março corrente, ·
transmitiu-me V. Ex'·', para dar parecer. o processo rela-
tivo ao pedido do Dr. Eduardo Barreto Montebello de
transferência para seu nome do domínio útil do terreno de
marinha desmembrado do de nQ 97, sito nos fundos do
prédio da Rua Benjamin Constant nQ 329, em Niterói.
Êsse terreno, no inventário a que se procedeu por
morte do Dr. Joaquim Cerqueira de Souza e sua mulher
D. Cândida Alves Cerqueira, sogros do requerente, foi
adjudicado a quatro de seus filhos, entre os quais a espôsa
do requerente. Êste, herdeiro, assim, de uma parte, adqui-
riu por diversas escrituras as demais partes do terreno,
sendo que uma já foi de terceira pessoa D. Olga Nazaré
Bueno, que a havia adquirido do herdeiro Dr. Antônio
Alves Cerqueira. Tudo se passou regularmente e dúvida
alguma foi levantada pelas repartições competentes contra
o pedido, havendo o Sr. Dr. Consultar da Fazenda obser-
vado que

·do têrmo deverá constar que o laudêmio a pagar


no caso de nova transferência será de 5% uma
vez que se trata de partes desmembradas, embora
160

depois reunidas de nõvo nas mãos de um só


foreiro.

Do estudo a que procedi dos papéis não me parece


·que se possa modificar a taxa do laudêmio para as futuras
transferências. Trata-se, pura e simplesmente, da transfe-
rência de um aforamento anteriormente contratado e não
me parece que seja lícito modificar agora os têrmos dêsse
primitivo contrato.
O desmembramento do terreno, cuja transferência
.de domínio útil. ora se pede, de outro, de que anteriormente
fazia parte, não é atuaL mas remoto, como se apura dos
processos de anteriores transferências dêsse terreno, ane-
xados ao presente processo. Entre êsses processos se
encontra aquêle em que se autorizou, em 1909, a transfe~
rência dêsse terreno ao finado sõgro do requerente e dêlP
já consta que êsse terreno
era desmembrado do de no 97.
O desmembramento, pois, a que se refere o parecer
do Sr. Dr. Consultor da Fazenda é a partilha do terreno
pelos herdeiros do último titular de seu domínio útil,
o finado sogro do requerente.
Tal partilha, porém, por si só não constitui desmem-
bramento do prazo.
O Código Civil, mantendo os princípios de nosso
·direito anterior sõbre a indivisibilidade dos prazos enfi..
.têut;cos, dispôs, positivamente, no art. 681 que

os bens enfitêuticos transmitem-se por herança ... ;


mas, não podem ser divididos em glebas sem
consentimento do senhorio.
Como complemento dêsse dispositivo dispõe o art. 690
quando o prédio emprazado vier a pertencer a
161

diversas pessoas, estas, dentro em seis meses,


elegerão um cabecel, scb pena de se devolver
ao senhorio o direito de escolha.
~ 19 Feita a escolha, tôdas as ações do se-
nhorio contra os foreiros serão propostas contra
o cabecel, salvo a êste o direito regressivo contra
os outros pelas respectivas cotas.
§ 2'' Se, porém, o senhorio direto convi~r
na divisão do prazo, cada uma das glebas eín
que fôr dividido constituirá prazo distinto.

O que se deduz dêsses princípios legais é que, vindo


por qualquer circunstância o prazo a pertencer a diversos
donos, têm êstes a faculdade de pedir o desmembramento
do fôro, no que pode o senhorio aquiescer. Se êsse pedido
não fôr feito, o prazo continuará indiviso, tendo cada
condômino uma parte ideal correspondente ao seu direito.
e elegendo todos um cabecel que represente, para todos os
efeitos, a comunhão.
Ora, na hipótese em estudo não só não houve pedido
dos diversos condôminos para o desmembramento do prazo,
como o domínio útil de todo o prazo se integrou de nôvo
nas mãos de um só titular, o requerente.
Não me parece, pois, que se possa impor qualquer
modificação aos têrmos sob os quais a concessão anterior
foi feita, de acôrdo com a lei então vigente.
De acôrdo com êstes princípios, sou de parecer que
o pedido é de ser deferido, nos têrmos em que foi feito.
Devolvo os papéis a V. Ex'·', a quem tenho a honra
de renovar meus protestos de subida estima e mui distinta
consideraÇão.
Rodrigo Octavio.
MCDXXXVI

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 2 de abril de 1924 - Nq 35.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n'-' 3, de 21 de março próximo ·
findo, submeteu V. Ex'·' a meu estudo o processo relativo
ao pedido que faz o alferes aluno reformado, Genosco
de Oliveira Castro, de anulação de sua reforma decretada
por invalidez em 1907.
Fundamenta o pedido a alegação de que houve êrro
no diagnóstico da inspeção ele saúde a que foi submetido,
pois que, posteriores exames e nova inspeção, realizada
com todo o rigor, no correr do ano passado, demonstraram
a não existência do mal declarado na primeira inspeção e
que motivou sua reforma.
Dos têrmos dessa nova inspeção parece evidente que
o requerente foi vítima de um equívoco por parte da pri-
meira junta médica e do qual lhe advieram graves prejuízos.
Contudo, nos têrmos expressos da lei o prazo para
a prescrição dos direitos a fazer valer contra o Estado, é
de cinco anos, e êsse princípio foi incorporado ao Código
Civil (art. 178, § 10, nq VI). Interpretando-o, tem o
Supremo Tribunal Federal, em diversas decisões, julgado
que êle não se refere só ao recebimento de dívidas da União
mas cobre igualmente
164

todo e qualquer direito que alguém tenha contra


a Fazenda Nacional, mesmo o de alegar a incons-
titucionalidade de uma lei (Acórdão n'! 1 . 707,
de 27 de julho de 1921, Diário Oficial de 25
de janeiro de 1922) .

E, justamente, uma das decisões em que tal prinCipiO


foi firmado, foi proferida no caso de anulação de reforma,
como o de que se trata neste processo, promovido pelo
Capitão Olegário Herculano da Silveira Pinto (Acórdão
n'' 1.675, de 27 de julho de 1921, mesmo Diário Oficial).
Ora, a reforma do requerente foi, como se disse, de-
cretada em 1907, e o pedido de anulação apresentado
muito depois de cinco anos.
É certo que nas circunstâncias especiais do caso em
estudo, a verificação do equívoco de que teria sido vítima
o requerente, poderia ter ocorrido mais tarde. E se o citado
artigo do Código Civil dispõe que o prazo dessa prescrição
contra a Fazenda
corre do· ato do qual se origina a ação,
é claro, a meu ver, que o escoamento dêsse prazo não
pode prejudicar a parte interessada se só posteriormente
é que ocorrem circunstâncias que podem legitimar a ação,
só de então em diante é que se pode imputar à negligência
do interessado qualquer demora nas providências para a
efetividade ou restauração de seu direito. Nesse sentido
me tenho manifestado em diversos pareceres, notadamente
nos já publicados no vol. 8'', pág. 46, e vol. 99, pág. 166.
Na hipótese ocorre, porém, que o requerente já se
dirigiu ao Poder Legislativo e êsse reconheceu e procla-
mou que o caso havia incorrido em prescrição.
Realmente, na resolução legislativa contendo o orça-
mento para 1922 e que foi vetada pelo Presidente Pessoa,
165

se encontrava, sob a designação do art. 129, o seguinte


dispositivo:

fica revogada a prescnçao em que incorreu o


direito do alferes aluno reformado Genesco de
Oliveira Castro a fim de que possa, perante o
Poder Judz'ciário, propor a ação de que trata o
art. 13 da Lei n'' 221, de 20 de novembro de
1894, e pleitear a anulação de sua reforma, com
as vantagens que lhe competem.

É claro que vetada a resolução e aceito o veto pelo


Legislativo, o dispositivo ficou inoperante como lei; não
deixa de conter, porém, a expressa manifestação do modo
de considerar o caso por parte de um dos Podêres do
Estado. E nestas condições não me parece lícito acon-
selhar o deferimento do pedido por parte do Poder
Executivo.
Com êste parecer, devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'! meus protestos de elevada estima
e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXXVII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 2 de abril de 1924 - NQ 36.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n 9 98, de 26 de março próximo
findo, recebi, para dar parecer, devidamente informado, o
memorial em que o Mestre de Oficina da Imprensa Na-
cional, Augusto Feltro de Oliveira, e outros empregados
técnicos do mesmo estabelecimento pedem a revogação de
uma decisão de V. Ex'' que
a) mandou suspender o abono de gratificações
adicionais de que estavam no gôzo;
b) mandou que fôssem restituídas tais gratificações
recebidas depois de certo tempo.

Deixou de acompanhar os papéis o processo em que


tal decisão foi proferida de modo que não me é possível
apreciar as razões pelas quais se revogou a anterior reso-
lução, de 1916, transcrita no memorial e, por fôrça da
qual ·havia sido restabelecido aos operários da Imprensa
Nacional o pagamento da gratificação adicional suspensa
como conseqüência do art. 137, n'' VII, do Decreto Le-
gislativo nq 3. 089, de 8 de janeiro de 1916.
Tratando-se, porém, de caso puramente jurídico, passo
a dar o meu parecer.
!61)

Tenho, Sr. Ministro, em diversos pareceres, notada-


mente nos que se acham publicados nos volumes de Pa-
receres 8 9 , pág. 267, e 10'!, pág. 107, manifestado meu
modo de ver radical nesta matéria. Para mim, um artigo
de lei que

suprime os dispos:tivos que permitem o abono de


gratificações adicionais por tempo de serviço.

como reza a citada disposição da lei de 1916, não deixa


vigente dispositivo algum daquela natureza.
A expressão - funcionários administrativos - , que
nêle se lê, como se evidencia da simples leitura do texto,
não foi aí posta para restringir a extensão da medida,
porém, para se referir a certos direitos de funcionários
daquela categoria.
A verdade, porém, é que tal artigo de lei tem positiva-
mente sido tratado como letra morta ou, o que é pior
ainda, tem sido cumprido com tantas exceções e exclusões
que sua execução redunda em clamorosa injustiça para
com algumas classes menos favorecidas em relação às
quais êle tem sido aplicado.
De fato, não só são expedidos, freqüentemente, atos
governamentais mandando contar gratificações adicionais
a funcionários de natureza vária, como o próprio Congresso
Nacional tem, por diversas resoluçõe~, concedido créditos
para tais pagamentos.
Em relação ao caso especial dos reclamantes ocorre
ponderar que, a gratificação adicional por tempo de serviço
tendo lhe sido outorgada pelo art. 13 do Regulamento
anexo ao Decreto n9 4. 680, de 14 de novembro de 1902,
ainda a lei orçamentária para 1922 (Decreto Legislativo
n0 4. 555, de 1O de agôsto de 1922) consigna na tabela
169

relativa à Imprensa Nacional e Diário Oficial, verba para


«adicionais - art. 13 do Regulamento».
É evidente que se não se considerasse em vigor êsse
dispositivo do Regulamento da Imprensa Nacional, a lei
não se referia a êle para o dotar com verba.
Acresce que o art. 3'' da Lei n~ 4. 556, de 17 de
agôsto de 1922,

considerou extensiva ao pessoal técnico da Casa


da Moeda o dispositivo do art. 13 do citado
Regulamento da Imprensa Nacional.

Não penso que, por si só, êsse dispositivo seja de


molde a revigorar para a Imprensa N acionai o art. 13
do seu Regulamento, se êle houvesse sido revogado.
Bem podia uma lei mandar aplicar para uma repar-
tição dispositivo já revogado para outra, sem o trabalho
de reproduzir o· texto, mas pela simples referência ao nú-
mero do artigo e do decreto em causa. O que para mim
tem importância no dispositivo da Lei n~ 4. 556 é que,
dando ao pessoal técnico de um estabelecimento industrial
subordinado ao Ministério da Fazenda, certos favores
pecuniários estabelecidos em regulamento de outro esta-
belecimento industrial subordinado ao mesmo Ministério,
a lei não podia deixar de considerar tais favores prevale-
cente para o pessoal técnico dêsse estabelecimento.
Outra interpretação seria encontrar na lei uma tal
desigualdade de tratamento em relação a pessoal da mesma
classe e categoria, que seria absurdo admitir.
Por estas razões tenho dúvidas em apoiar a doutrina
da decisão contra que se reclama.
Em qualquer caso. porém, se V. Ex'-' julgar dever
mantê-la, penso que ela não deverá prevalecer quanto
à restituição das gratificações percebidas.
170

O pessoal da Imprensa Nacional não se pagou dessas


gratificações, indevidamente. Elas lhe foram pagas pelos
funcionários competentes em virtude de ordem expressa
do Ministro da Fazenda em que se procurou justificar
a sua legitimidade.
Não vejo como, em tais condições, sujeitá-los a sofrer
as desastrosas conseqüências do cumprimento de uma
ordem da autoridade superior competente.

Devo, finalmente, para melhor elucidação da matéria,


dizer que, em relação às cotas de gratificação adicional
correspondentes aos períodos completados antes do artigo
revogatório, não pode haver dúvida quanto ao direito à
sua percepção. Nesse caso há direitos adquiridos, na
vigência da lei que autorizava, indiscutivelmente, o
aumento gradual dos vencimentos e, assim, êsse aumento
se incorporou aos vencimentos legais dos funcionários.
O único efeito útil que pode ter um dispositivo de
lei revogatório dos dispositivos que outorgam gratificações
adicionais, será o de interromper, de então em diante, a
terminação de novos períodos.
E a lei podia ter êsse efeito, sem ofender o princípio
àa não retroatividade das leis, porque nesse caso não havia
um direito adquirido, mas uma simples perspectiva de
direito.

Com êste parecer, que submeto à apreciação de


V. Ex'.t, devolvo os papéis e tenho a honra de renovar
a V. Ex" meus protestos de subida estima e mui distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXXVIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de abril de 1924 - N? 37.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda -- Com o Aviso n9 96, de 25 de março próximo
findo, transmitiu-me V. Ex'', para dar parecer, os pro-
cessos relativos à cobrança de taxas das mercadorias en-
tradas e saídas na barra do Estado do Rio Grande do
Sul e a que se refere o Decreto-lei n'! 12.500, de 31 de
maio de 191 7.
Duas são as questões que se discutem nesses pro-
cessos:
1? a de saber se as cargas embarcadas em portos
interiores do Estado e baldeadas na Alfândega do Rio
Grande devem aí pagar taxas da barra já as tendo pago
no pôrto de embarque; e
2•! quais as taxas que devem ser cobradas nessa
Alfândega. em face dos atos translativos dos direitos da
Compagnie Française du Port de Rio Grande do Sul ao
Estado do Rio Grande do Sul.
Parece-me, Sr. Ministro, que ambas as questões
estão suficientemente esclarecidas nos processos. Para
solução ·da primeira foram elaboradas na Diretoria da
Receita instruções que, apesar de aprovadas pelo digno
Sr. Diretor-Geral, não consta que hajam sido expedidas.
172

Pelo estudo que fiz da matéria, parece-me que tais


instruções resolvem o caso de modo satisfatório.
Quanto ao segundo ponto, estou de pleno acôrdo com
os pareceres do Auxiliar do Consultor da Fazenda, com
os quais concordou o mesmo Consultor.
A questão consiste em saber se podem continuar a
ser cobradas as taxas a que se refere o mencionado De-
creto n 9 12.500, de 1917.
Êste decreto aprovou as instruções para a arrecadação
das taxas pela utilização do cais da barra do Estado do
Rio Grande do Sul e de cuja importância o Govêrno
precisava, como se lê no preâmbulo do decreto,

para prover o Tesouro de recursos indispensáveis


para ocorrer às despesas com o pagamento a que
estava obrigado pela cláusula III do contrato
celebrado em 1908 e do qual é cessionária a
Compagnie Française du Port do Rio Grande
do Sul.

Autorizando, pelo Decreto n'' 3. 543, de 25 de setem-


bro de 1918, a transferência dêsse contrato ao Estado,
o Govêrno comprometeu-se a arrecadar e entregar ao
Estado as taxas, ouro, de 2% e O, 7 '/r . Posteriormente, pelo
art. 194 da Lei n'' 3.674, de 7 de janeiro de 1919, ficou
estabelecido que, além das condições do decreto de 1918,
tivessem aplicação as taxas a que se referem as cláusulas
XXIX e XXXIV, parágrafo único do Decreto n 9 5. 979,
de 18 de julho de 1906, que autorizou a contratar as obras
do referido pôrto.
Ora, no preâmbulo do referido Decreto n'-' 12.500,
de 1917, se menciona expressamente que êle é expedido
173

para dar instruções para arrecadação justamente dessas


taxas criadas pelas citadas cláusulas do decreto de 1906.
Logo, é claro que a transferência daquele contrato
para o Estado do Rio Grande do Sul não suspende a
percepção das taxas de ouro, 2% e O.7%, bem como a
dos que se referem as cláusulas mencionada ao decreto
de 1906, por isso que a percepção e aplicação de umas
e outras estão previstas nos atos federais que autorizaram
e regularam a transferência dês se contrato ao Estado.
Com êste parecer, que submeto à apreciação de
V. Ex~. devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex·~ meus protestos de elevada estima e mui distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXXXIX

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 4 de abril de 1924 - NQ 38.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n° 97. de 2'5 de março próximo.
findo, transmitiu~me V. Ex'· um processo em que interveio
1

a Companhia Nacional de Navegação Costeira pedindo


meu parecer sôbre a questão de saber se essa Companhia
goza de isenção de sêlo para seus requerimentos.
A questão já foi, Sr. Ministro, ventilada diversas
vêzes n~sse Ministério e a respeito dela tive ocasião de
dar os pareceres de 1 de maio e 16 de outubro de 1917,
publicados a págs. 87 e 247 do vol. 9 dos Pareceres do
Consultor-Geral. Nesses pareceres eu me manifestei con-
trário ao direito pretendido pela referida companhia.
A questão, porém. teve decisão judicial favorável à
Costeira, em vista da qual foi, por um dos antecessores
de V. Ex~. expedida a ordem que reconheceu aquêle direito
e consta do carimbo que a referida Companhia apõe a seus
requerimentos.
Isto pôsto não me parece que modifique a situação
a circunstância de serem os requerimentos em questão
feitos pela Costeira em negócio seu como emprêsa de
construção naval.
176

A Companhia Costeira é uma só entidade jurídica;


não se pode distinguir em relação a favores de que ela
goze ou sob qualquer ponto-de-vista, seus atos no interêsse
de qualquer uma das seções que a compõe; todos êsses
atos são da Companhia Costeira e devem ser tratados e
considerados do mesmo modo. :É êste, Sr. Ministro, meu
parecer. Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex" os meus protestos de elevada estima e mui distinta
consideração .

Rodrigo Octavio.
MCDXL

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro. 7 de abril de 1924 - NQ 39.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n~ 4, de 25 de março prÓximo
findo, transmitiu-me V. Ex'.t, para dar parecer, os papéis
relativos à situação do Dr. Laudelino de Oliveira Freire
como professor do Cclégio Militar.
É o caso que o referido docente era professor cate-
drático, e assim vitalício e inamovível, de Geometria do
Curso de Adaptação daquele colégio, quando se deu a
reforma instituída pelo Decreto n'.> 12.956, de 1O de abril
de 1918, "por fôrça da qual, por um lado se extinguiu
êsse curso de adaptaqão, por outro se criava uma cadeira
de espanhol.
Convidado para ocupar essa cade:ra pelo ofício de
11 de março daquele ano, do então Diretor do Colégio,
ainda quando o regulamento estava em elaboração, o
professor respondeu. por ofício de 13 de abril, aceitando
o convite

t~speitados, porém, os seus direitos de vitalicie-


dicle;

em vista do que, o Ministro da Guerra, em Aviso de 24


de abril do mesmo ano,
178

declarou ao Diretor do Colégio que o referido


docente que era professor de Geometria, havia
sido designado para a referida aula, conforme
declarou aceitar uma vez despeitados os seus
direitos de vitaliciedade.

No dia seguinte à expedição dêsse ato, o Dr. Lau~


delino tomava posse da cadeira de espanhol do Colégio
Militar.
Em face destas Clrc::uüsrâncias, o Sr. General Agrí~
cola Pinto, então lnspeto:· do Ensino Militar, informando
um primeiro requerimento do mencionado professor, assim
se exprimiu:

ao entrar em vigor o Regulamento do Colégio


Militar, suprimido o curso de adaptação ... ficou
o peticionário sem situação definida no magis~
tério daquele e:,tabelecimento de ensino,
e prossegue:
seria mais natural o seu aproveitamento no en-
sino da geometria, mas. talvez não sendo ne~
cessários os seus serviços nessa matéria e por
não querer o Govêrno fazer novas nomeações
para o magistério do Colégio, resolveu designá~lo
para reger a aula de espanhol do 6'~ ano, criada
pelo Regulamento de 1918, conforme consta do
A viso de 24 de abril do mesmo ano.

É incontestável. pois, que o Dr. Laudelino Freire,


professor vitalício do Colégio Militar, suprimida pela re~
forma sua cadeira, foi aproveitado na de Espanhol criada
pela mesma reforma e assim êle ficou sendo, para todos
os efeitos, professor vitalício de espanhol daquele Colégio.
Extinta pelo Decreto n'~ 14. 176, de 19 de maio de 1920,
179

essa cadeira de espanhol, o direito do professor a ser


declarado ext:nto, ou pôsto em disponibilidade, me parece
incontestável.
A alegação de que não houve decreto nomeando o
Dr. Laudelino Freire professor de espanhol, não tem pro-
cedência, a meu ver.
Professor vitalício já era êle.
A designação da cadeira, onde devia servir, de acôrdo
com o nôvo regulamento, era ato secundário que independia
daquela formalidade bastando que houvesse sido a ordem
ministerial apostilada no seu título e tanto que, recebido
o Aviso do Ministro no Colégio Militar, o professor tomou
posse da nova cadeira e entrou em exercício.
Em face destas considerações, é meu parecer, Senhor
Ministro, que, em conseqüência da consulta do General
Diretor do Co"légio Militar, de 4 de maio de 1923, deve
se mandar corrigir o Almanaque da Guerra onde se dá
o referido professor como de geometria do Curso de
Adaptação.
Não só êsse curso foi extinto, e suas cadeiras não
existindo mais não podem ter professôres, como, em
execução do regulamento de 1918 aquêle professor que
ficara sem cadeira, foi des:gnado para reger a de espanhol.
devendo ainda, a meu ver, ser o mesmo posto em dispo-
nibilidade, em vista da extinção dessa cadeira.
· Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex"
devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex~
meus protestos de elevada estima e mui distinta consi-
deraçã,o.

Rodrígo Octavio.
MCDXLI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 15 de abril de 1924 - Nt! 40.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n9 2, de 26 de janeiro próximo
findo, remeteu-me V. Ex•. , para dar parecer, o processo
referente ao pagamento de sôldo do 1'! tenente reformado
do Exército José Mamede de: Silva Rondon, que está
exercendo as funções de major em comissão da Fôrça
Pública do Estado de Mato Grosso e percebendo os res-
pectivos vencimentos.
O pedido já foi uma vez indeferido pelo honrado
antecessor de V. Ex'!; e é certo que, funcionário, remu-
nerado, se bem que reformado, da União, aceitando o
requerente estas funções remuneradas, não sendo estas
estritamente em razão do seu emprêgo originário, de um
modo geral, incide êle na sanção do preceito do art. 73
da Constituição Federal que veda, de modo peremptório
e geral, as acumulações remuneradas .
. Ê sabido que leis têm procurado fazer distinções e
abrir exceções nesta matéria; mas a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal tem desconhecido a eficácia
de tais leis em face do rigor do princípio constitucional,
quer se trate de empregos federais e estaduais, de funcio-
nários ativos ou inativos, de funções de nomeação ou
de eleição.
182

Entretanto, é igualmente certo, Sr. Ministro, que em


favor da pretensão do requerente militar a doutrina do
Aviso dêsse Ministério, n'.> 369, de 6 de maio de 1920,
publicado no Boletim do Exército n'.> 310, de 15 dêsse
mês, e as fôrças policiais do Estado de Mato Grosso
foram consideradas auxiliares do Exército de 1'·' Linha, de
acôrdo com o art. 12 da Lei n 9 3.216, de 3 de janeiro
de 1917 (Boletim do Exército n9 151, de 28 de fevereiro
de 1918).
Com êste parecer, devolvo os papéis a V. Ex'·' a
quem tenho a honra de renovar meus protestos de elevada
estima e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXLII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


<le Janeiro, 19 de maio de 1924 -- NQ 41 .

Ex.'""Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n? 6. de 25 de abril próximo
findo, submeteu V. Ex'·' a meu parecer o Ofício do Chefe
da 4'1 Divisão do Departamento do Pessoal da Guerra
sôbre a questão de saber se o Capitão Eurico Laranja
devia ser mandado passar para a segunda classe por isso
que há mais de um ano se acha em gôzo de licença.
Informa, entretanto, o referido Chefe que, para com-
plemento dêsse ano de licença se computam seis meses
que ao referido oficial foram concedidos nos têrmos do
art. 17 do Decreto n'! 14.663, de 1 de fevereiro de 1921.
Ora, sendo expresso no § 1'' dêsse mesmo artigo que a
duração de tais licenças especiais não influi na vida normal
do oficial, tendo um car8.ter acentuado de prêmio pela
.assiduidade funcional do licenciado, parece-me lógico que
ela não pode ser confundida com outra licença ordinária
para tratamento de saúde. ou para qualquer outro efeito.
Não me parece, pois, que o prazo dessa licença possa ser
<:amputado no prazo de um ano depois do qual, nos têrmos
.da Resolução de 1 de abril de 1871, deva ser o oficial
184

mandado passar para a 2'~ classe, ficando agregado à


sua arma.
Com êste parecer devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'·' meus protestos de elevada estima e:
distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXLIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 5 de maio de 1924 - Nç 42.

Ex.mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma~


rinha - Com o Aviso n 9 1. 965. de 23 de abril próximo·
findo, submeteu V. Ex'·' a meu estudo o requerimento em
que o Capitão-Tenente Oswaldo Álvares Penna pede que
se lhe conte como se estivesse no Quadro Suplementar e
não na Reserva, o tempo decorrido desde 19 de julho de
1919, em que foi pôsto à disposição do Ministério da
Viação e Obras Públicas.
Sôbre a matéria foi ouvido o Conselho do Almirantado
cuja maioria ass:nou parecer favorável à pretensão.
Bem ponderado o caso, entretanto, não me é possível
concordar inteiramente com êsse parecer da respeitável
corporação.
Dêle, como do parecer do digno Sr. Contra-Almirante
Diretor-Geral do Pessoal. consta que o referido oficial
foi pôsto à disposição daquele Ministério nas condições da
letra· h do art. 1'! do Decreto n 9 5.051, de 25 de novembro
de 1903, passando assim para a Reserva com perda de
antigüidade e contando o tempo pela metade.
Entretanto, se ao tempo em que o requerente passou
a desempenhar funções estranhas ao Ministério da Ma-
rinha, 19 de julho de 1919, já esta v~ em vigor na Marinha
13G

o art. 123 da Lei n'' 1. 860, de 4 de janeiro de 1908, ex vi


da Lei n'! 2. 473, de 3 de novembro de 1911, parece-me
evidente que sua situação deveria ter sido regulada por
êsse dispositivo (passando êle para o Quadro Suple-
mentar, instituído por êsse artigo), e não pela anterior dis-
posição da Lei de 1903, que o mandava pôr na Reserva.
E nesse ponto estou de acôrdo com o Parecer do
Conselho do Almirantado. Não penso, porém, que o re-
querente devesse ser mantido nesse Quadro Suplementar
até agora pois que o art. 3" da Lei n'' 4. 309, de 17 de
agôsto de 1921, deu nova organização a êsse quadro res-
tringindo as classes de oficiais que dêle podiam fazer
parte, e, nos têrmos dessa nova lei, não podendo mais o
requerente continuar nesse quadro deveria, por apl:cação
do art. 1°, letra h, da Lei de 1903, passar para a reserva.
De acôrdo com estas considerações é meu parecer
que a reclamação é procedente em parte, devendo se
mandar contar para o requerente o tempo de 19 de julho
de 1919 (em que deixou o serviço da Marinha) até 20
de agôsto de 1921 (em que entrou em vigor a Lei número
4. 309, de 17 do mesmo mês) , como se estivesse no Quadro
Suplementar, aplicando-se-lhe de então em diante os prin-
cípios do Decreto n 9 5. 051, de 1903.
Com êste parecer, que submeto à apreciação de V. Ex'\
devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex'~­
meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDXLIV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


<le Janeiro, 19 de maio de 1924 - N9 43.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n 9 9, de do corrente, subme- ·
teu V. Ex'·l a meu exame os papéis relativos ao pedido
de reintegração feito pelo ex-segundo tenente do extinto
quadro de picadores, Ananias Guerra de Albuquerque
Diniz.
Dos papéis consta que o requerente, como empregado
civil, foi dispensado daquele pôsto e do serviço do Exér-
cito, em 6 de dezembro de 191 O, sendo atualmente empre-
gado do Ministério da Agricultura, servindo de auxiliar
técnico do Pôsto Experimental de Veterinária em Pôrto
Alegre.
Dispensado daquele pôsto no referido quadro, o re-
querente e outros companheiros nas mesmas condições
propuseram ação perante a Justiça Federal para se furta-
rem aos efeitos do ato, ação que obteve ganho de causa
no Supremo Tribunal Federal. por acórdão a que o Pro-
curador-Geral da República opôs embargos, ainda não
julgados.
Por êsse tempo, o art. 69 do orçamento para 1919,
Decreto Legislativo n9 3. 674, de 7 de janeiro dêsse ano,
autorizou o Govêrno
188

a organizar o quadro dos oficiais picadores do


Exército de acôrdo com as necessidades do res~
pectivo serviço. admitindo os sargentos, ex~
segundos tenentes picadores e os picadores civis,
dispensados em 6 de dezembro de 1910, os que
ainda se acham no Exército sem direito à per~
cepção de vencimentos atrasados, desistindo os
mesmos da ação judiciária que se acha em anda~
menta no Supremo Tribunal Federal.

É evidente que êsse dispositivo legal visava os com~


panheiros de situação do requerente. mas tão~sàmente
aquêles que continuaram no serviço do Exército e fôssem
sargentos.
Nestas condições parece que ao requerente. que de:xou
o serviço do Exército e se empregou em repartição de
outro Ministério, não se aplica, em seus rigorosos têrmos,
o citado dispositivo. Entretanto, por equidade. como requer
o interessado, sua pretensão é digna de ser tomada em
consideração pela simiLtude de situação em relação a seus
companheiros, já reintegrados e pela muito considerável
circunstância de já ter êle visto seu direito à reintegração
reconhecido por um julgado do mais alto tribunal do Estado.
É claro que assim já o foi entendido pelo Govêrno,
como se depreende do despacho ministerial de 8 de no-
vembro de 1919. proferido em seu requerimento de 2 de
setembro dêsse ano.
De fato; mandar que o requerente prove que produziu
a desistência legal de acionar a Nação, é um compromisso
formal de deferir a pretensão, pois que a desistência refe~
rida é a condição para a reintegração, nos têrmos da lei,
e não se compreende que o Govêrno peça que o requerente
desista da ação para depois de o fazer perder uma situação
189

em que já obtivera um acórdão favorável do Supremo


Tribunal. Federal. indeferir-lhe o pedido.
Para satisfação dêsse despacho ministerial tem o re-
querente procurado produzir a prova de desistência por
meios, porém, que não são hábeis, conforme direito. Tôdas
essas declarações e documentos apresentados, se bem que
acentuem claramente a intenção do requerente de desistir do
pleito, não constituem a desistência em têrmos que produza
seu efeito legal.
Essa tem de ser requer:da ao relator do feito no
Supremo Tribunal Federal. tomada por têrmo nos próprios
autos da ação e julgada por sentença. Dêsse julgado se
extrai certidão que, apresentada a êste Ministério, cons-
tituirá a prova de que o requerente satisfez a exigência
'legal para a reintegração.
Em tais têrmos, penso que, se V. Ex'·l julgar de
justiça e equidade. como a mim me parece, o deferimento
.do pedido, dando o natural segu:mento ao despacho an-
terior, já aqui referido, o despacho a ser ora dado nestes
papéis deverá ser para que o interessado, querendo, apre-
sente certidão de haver sido julgada por sentença do
Supremo Tribunal Federal a desistência da ação por êle
proposta.
Com êste parecer, devolvo os papeiS a V. Ex'·'. a
·quem tenho a honra de renovar meus protestos de elevada
estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio .
MCDXLV

Gabinete do Consultor~Geral da República -· Rio


de Janeiro, 20 de maio de 1924 - N9 44.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o A viso n9 7, de 5 do corrente, dignou~se
V. Ex'.t consultar~me sôbre a interpretação a dar~se a um
considerando do Acórdão do Supremo Tribunal Federal
de 19 de julho de 1922, publicado no Diário Oficial de
28 de outubro dêsse mesmo ano, e do teor seguinte:

Considerando que, segundo a jurisprudência


do TribunaL é fora de dúvida que a colocação
dos oficiais do Exército no respectivo quadro,
não pode ser alterada, mesmo por lei, visto que
esta teria efeito retroativo.

Para satisfazer o pedido constante do aviso cumpre


desde logo observar que não se trata de um julgado, ou
seja de afirmação contida na parte dec:siva do acórdão;
mas de um considerando que vale apenas como- expressa
manifestação de modo de pensar dos juízes que subscre-
veram o acórdão sem restrições.
No caso em questão, porém, a doutrina do conside~
rando é pacífica e baseada em sãos e indisputáveis prin-
cípios de direito, no sentido de que, uma vez colocado,
pelo meio legaL o oficial na escala, não podem ma:s, quer
192

o Poder Executivo, por uma revisão da escala ou outro


motivo, quer o Poder Legislativo, por uma lei posterior,
modificar a situação dêsse oficial. E isso porque dêsse
ato, de classificar o oficial, ato perfeito e acabado, decorrem
direitos adquiridos que leis ou atos posteriores não podem
afetar.
Quanto à ação do legislativo, é óbvia a afirmação.
Em primeiro lugar porque se trata de ato puramente do
Executivo; e. em segundo lugar porque, devendo a classi~
ficação dos oficiais na respectiva escala ser feita de acôrdo
com a lei, qualquer ato do Legislativo não poderá deixar
de ser uma lei nova que assim não poderá afetar classi~
ficação já feita de acôrdo com lei anterior. Isso seria,
como observa o considerando do julgado em estudo, em~
prestar à nova lei efeito retroativo, o que a Constitu:ção
veda.
E quanto à ação do Executivo, do mesmo modo a
doutrina me parece inatacável. Sob êsse ponto~de~v·sta
a matéria já foi por mim estudada no parecer que dei a
êsse mesmo Ministério, por Ofício n'' 154, de 7 de dezem~
bro de 1918. e se acha publicado à pág . 461, do 6'' tomo
de meus Pareceres. Tratava~se da reclamação do capitão
de infantaria Luís Tetamanti que pedia a retificação da
classificação de certo quadro publicado no Almanaque da
Guerra. Nesse parecer assim me exprimi:

Tenho dúvida, porém, sôbre a competência


do Poder Executivo para tomar conhecimento do
pedido e por ato próprio deferi~lo, desde que isso
importa na modificação. do direito de terceiros
decorrentes de atos administrativos perfeitos e
acabados. Abolido implicitamente, no regime
atual o contencioso administrativo, desde que a
19.3

Constituição atribuiu ao Poder Judiciário a com-


petência para conhecer de tôdas as causas fun-
dadas em lesões de direito por atos da adminis-
tração, não me parece que tenha o Govêrno com-
petência para conhecer de reclamações contra atos
perfeitos e acabados, que, como se pretende,
tenham violado direitos, mas que podem por sua
vez ter dado origem a direitos novos em relação
a terceiros. Acresce que a classsificação não é
mais que uma conseqüência necessária da pro-
moção, e na hipótese em estudo, os 41 alferes,
a que se refere o reclamante, foram promovidos
ao pôsto de tenente. Se a promoção foi ilegal,
aos interessados cabia promover sua anulação
pela via judicial. Mas promovidos êsses oficiais
e mantida a promoção, cabe-lhes o lugar res-
pectivo . na escala, e essa colocação constitui um
direito adquirido baseado no ato da promoção.
Nessa conformidade e em caso semelhante
julgou o Supremo Tribunal Federal, por acórdão
de 22 de setembro de 1912, confirmando uma
sentença do então Juiz da 2'' Vara Federal, o
egrégio magistrado Dr. Pires e Albuquerque, na
ação proposta pelo então Capitão-de-Corveta
Athanagildo Lopes da Cruz contra seus colegas
Manoel Theodorico Machado e Pedro Max
Frontin (Revista de Direito, vol. 28, pág. 273).
~stes oficiais haviam conseguido· que, por ato
do Poder Executivo, sua colocação na escala
fôsse alterada, passando êles para cima do Ca-
·pitão-de-Corveta Lopes da Cruz, o mesmo que
hoje pede o requerente. E a decisão judicial
anulou êsse ato administrativo por falta de com-
194

petência do Poder Executivo para o praticar,


acentuando que,
se foi ilegal a promoção do autor e conse-
qüentemente sua classificação, cab:a aos pre~
judicados o recurso ao Poder Judiciário, único
competente no atual regime para decidir das
controvérsias que se suscitarem sôbre lesões
de direito por ato da pública administração.
Em face de tais considerações sou de parecer.
Sr. Ministro, que não pode V. Ex'·' tomar conhe~
cimento do pedido.

Pensando hoje do mesmo modo por que me manifestei


nesse parecer, submeto estas observações ao critério de
V. Ex'\ a quem tenho a honra de renovar meus protestos
de elevada estima e mui distinta consideração.

Rodrig.o Octavio.
MCDXLVI

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 28 de maio de 1924 - Nq 45 o

Exomo Sr o Ministro de Estado da Justiça e Negócios


Interiores - Com o Aviso n9 I oO19, de 16 do corrente,
transmitiu~me V o Ex'!, para que desse parecer a respeito,
cópia do A viso do Ministério das Relações Exteriores
sôbre a questão de saber se a legislação brasileira exige
o registro e arquivamento dos autos de cauções e, no
caso afirmativo, quais os resultados colhidos com essa
prática, a fim de o habilitar a responder a consulta em
nota feita pela Legação dos Países Baixos, acreditada
junto de nosso govêrno o
Em resposta cabe~me dizer, Sr o Ministro, que entre
nós não há legislação especial sôbre registro e arquiva~
mento de autos de caução o
As cauções de várias espécies e para garantir tôda
a sorte de obrigações são criadas pelo Código Civil, pelo
Código Comercial e outras leis, podendo os respectivos
termos, conforme o caso, ser lavrados em livros de repar~
tições públicas ou companhias, em autos de processo, ou
constar de instrumento notarial ou de próprio punho o
Neste último caso, para que valham contra terceiros devem
ser os respectivos instrumentos averbados no Registro de
Títulos, de acôrdo com a Lei n9 973, de 2 de janeiro de
196

1903, e seu Regulamento, aprovado pelo Decreto n9 4. 775,


de 16 de fevereiro do mesmo ano, com as modificações
introduzidas pelo Código Civil..
Ainda recentemente a Lei n'! 4. 827, de 7 de fevereiro
último, reorganizando os registros públicos, instituídos por
êsse Código, refere-se, em seu art. 4", ao registro de
títulos e documentos e entre os títulos e documentos cuja
transcrição aí se deve fazer além de se referir, em o n'-' 1
da letra a,
aos instrumentos particulares para prova das
obrigações convencionais de qualquer valor, para
valer contra terceiros,
o que abrange certamente as cauções, menciona em o nú-
mero III dessa mesma letra a
a caução de títulos de crédito pessoal. e da dívida
pública federal, estadual ou municipal, ou de
bôlsa ao portador.
As cauções de apólices e de títulos de bôlsa .nomina-
tivo-s se averbam no respectivo livro de transferência.
As que são lavradas por instrumento público têm no
próprio assento do ato o registro suficiente para sua publi-
cidade, data e autenticidade.
Visando especialmente o registro de cauções não
temos lei, como a princípio foi dito.
Com êstes elementos, que submeto ao critério de
V. Ex'\ penso que se pode habilitar o Ministério das
Relações Exteriores a responder a consulta que lhe foi
feita pela Real Legação Neerlandeza.
Aproveito o ensejo para ter a honra de renovar a
V. Ex'-' os protestos de minha el.evada estima e mui dis-
tinta consideração.
Rodrigo Octavio .
MCDXLVII

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 29 de maio de 1924 - N9 46.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra - Com o Aviso n9 10, de 16 do corrente, sub~
meteu V. Ex~ a meu estudo o processo relativo ao direito
do alferes Voluntário da Pátria Manoel Rodrigues Branco,
já falecido, ao .sõldo vitalício instituído pela Lei n9 1. 867,
de 13 de agôsto de 1907, a que deu Regulamento o De~
ereto n 9 6. 768 do mesmo ano.
Indeferido o requerimento feito pelo referido oficial
vem agora sua viúva, D. Sabina do Carmo Branco, pedir
reconsideração dês se despacho.
Motivou o indeferimento a circunstância de haver o
dito voluntário regressado do campo das operações, em
1866, por o haver solicitado .
. Não me parece procedente o fundamento e, nesse
sentido, já tive ocasião de me manifestar no parecer en~
viado a êsse Ministério com o Ofício n9 87, de 3 de setem-
bro do. ano passado, em relação ao caso do Voluntário
farmacêutico Ignácio Manoel de Almeida Chastinet.
De fato, Sr. Ministro, como em meu mencionado
parecer fiz ver, os citados decretos não cogitam, para
198

outorga do favor, do tempo em que o voluntário permaneceu


em campanha nem da causa por que regressou o

Nestas condições, constando dos assentamentos mi~


litares do requerente que êle seguiu para o campo das
operações como Voluntário e que lá esteve alguns meses,
cabe~ lhe, a meu ver, direito ao sôldo vitalícioo

As exigências dos últimos pareceres da Contabilidade


também não se me afiguram fundadas, por isso que para
o gôzo do favor basta a prova extraída dos assentamentos
militares e que do processo consta já o

Acresce que a Lei n'' 4 408,de 24 de dezembro de


o

1921, recomendou que o Executivo facilitasse, tanto quanto


possível, a prova em casos semelhantes E, assim, havendo
o

já no processo prova de que o oficial em questão estêve


como Voluntário da P.átria no terreno das operações da
Campanha do Paraguai, penso que mais não se pode
exigir o

Com êste parecer, que submeto ao critério de V Ex~.


o

devolvo os papéis e renovo a V Ex') meus protestos de


o

elevada estima e distinta consideração o

Rodrigo Octavio o
MCDXLVIII

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 2 de junho de 1924 - N9 47.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús~


tria e Comércio - Dêste Ministério recebi com o Ofício
da Diretoria-Geral de Contabilidade n'·' 2. 287, de 7 de
maio próx:mo findo, o processo referente ao pedido feito,
de uma indenização pelo servente da Escola Superior de
Agricultura e Medicina Veterinária, Luiz Jacy Angelim,
que no exercício de suas funções foi vítima de um grave
acidente de trabalho.
Do ofício Com que o Diretor da mencionada Escola
encaminhou o pedido se evidencia como grave foi o aci~
dente e como funestas foram suas conseqüências, defor~
mando o paciente e prejudicando~ lhe a saúde.
Do processo não consta a data em que o acidente
ocorreu. As informações da ContabJidade, porém, referem
que êle se deu em 1919; e assim
a) pelo fato de não ter sido instaurado o
processo de que trata a Lei n 9 3. 724, de 15 de
janeiro de 1919, e já se terem decorrido mais de
dois anos, o que importa na prescrição da ação,
nos têrmos do art. 22 do mesmo decreto; e,
b) por ou~ro lado, pelo fato de não permitir
o art. 139 do orçamento vigente o abono de
gratificações que não resultem de texto expresso
de lei,
200

opinam os funcionár:os dessa Diretoria que o requerente


não tem direito a perceber indenização quer a título de
acidente de trabalho, quer a título de gratificação.
Ouvido o Conselho Nacional do Trabalho opinou pelo
deferimento do pedido; tendo sido êsse também o parecer
do Dr. Consultor Jurídico dês se Ministério, ouvido no
início do processo .
Não há dúvida, Sr. Ministro, que, de um modo estri-
to, são procedentes as ponderações da Contabilidade.
Há, porém, a considerar-se que as ações, em geral,
são meios coercitivos de levar alguém ao cumprimento de
uma obrigação; e quando há acôrdo, quando voluntària-
mente a parte reconhece a just:ça do pedido, a ação não
é indispensável.
Bem compreendo que a aplicação dêste princípio de
ética não pode ser estendido à Fazenda Nacional, quando
suas obrigações são cobertas pela prescrição.
No caso em estudo, porém, à vista das circunstâncias
do acidente e de suas gravíssimas conseqüências, a justiça
aconselha que, mesmo quando qualquer indenização não
possa mais ser dada ao requerente, a título legal de
acidente de trabalho, êsse pequeno pagamento lhe seja
feito a qualquer título.
A proibição orçamentária a que se refere a Conta-
bilidade, visa às gratificações por serviços não especifi-
cados. Há ·sempre meios dentro das rubricas orçamentá-
rias e sem violência à lei, de atender a tão evidentes re-
clamos da justiça, como o de que se trata.
Com êste parecer, que submeto ao espírito esclarecido·
de V. Ex'-', devolvo os papéis e tenho a honra de renovar
a V. Ex'-' meus protestos de elevada estima e mui distinta:
consideração.
Rodrigo Octavio.
MCDXLIX

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio·


de Janeiro, 2 de junho de 1924- N9 48.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o A viso n 9 114:, de 5 de maio próximo
findo, submeteu V. Ex'! a meu estudo o processo relativo
ao pagamento de foros, em São Paulo, de terrenos do
domínio direto da União, à Rua General Carneiro, re-
querido por D. Júlia de Almeida Prado Penteado.
É o caso que estando os foros dos referidos terrenos
pagos até 31 de dezembro de 1920, havendo a requerente
pedido à Delegacia Fiscal de São Paulo, em 14 de setem-
bro de 1923, guia para pagamento dos foros em atraso,
se levantou dúvida quanto a saber se havia ou não in-
corrido em comisso o contrato enfitêutico.
Rege a matéria o art. 692, li, do Código Civil que
dispõe que

a enfiteuse se extingue
n pelo comisso, deixando o foreiro de
pagar as pensões devidas por três anos conse-
cutivos.

Ora, desde que o terceiro ano consecutivo não havia


ainda decorrido, é claro que não há ainda pensão devida
em relação a êle.
202

Penso, pois, que muito acertadamente andou o Dele~


gado Fiscal de São Paulo julgando improcedente a dúvida
levantada.
Com êste parecer, que submeto ao esclarecido espírito
de V. Ex'-', devolvo o processo e tenho a honra de renovar
a V. Exl) meus protestos de elevada estima e distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDL

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de junho de 1924 - N9 49 .

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma~ .


rinha - Com o Aviso n9 2. 088, de 2 de maio próximo
findo, consultou-me V. Ex'1 sôbre o requerimento em
que o Capitão~de~Corveta Renato Bayardino pede paga~
mento de diferença de vencimentos entre os do seu atual
e os do pôsto anterior desde 20 de novembro de 1923,
data em que seu decreto de promoção manda contar sua
antigüidade, até 1O de janeiro último, data dês se decreto
de promoção .
Ouvido o Sr. Consultor Jurídico dêsse Ministério,
foi seu parecer contrário à pretensão do requerente, por
isso que o art. 69 do Decreto n'1 1 . 4 73, de 9 de janeiro
de 1906, dispõe

que o sôldo integral é devido desde a data do


decreto de promoção, só se devendo pagar o
sôldo desde o dia da antigüidade que foi man~
dada contar no decreto de promoção, quando
. essa contagem de antigüidade anterior fôr por
motivo explicitamente declarado, de ressarcimento
de preterição .
204

É claro que improcederia o pedido, por aplicação pura


e simples dêste dispositivo, aliás fundamentalmente injus-
tificável, por isso que. declarado no decreto a data de
que se deve contar a antigüidade, desde êsse dia deve o
oficial ser .considerado como promovido para todos os
efeitos, inclusive para percepção do sôldo correspondente.
Parece-me, entretanto, que a aplicação do citado·
dispositivo está comprometida pelo que estatuem o art. 15
e seu parágrafo único do Regulamento aprovado pelo·
Decreto n9 14.250, de 7 de julho de 1920.

Êsses dispositivos prescrevem que


qualquer que seja a demora na promoção o oficial
não terá direito de contar antigüidade da data
da vaga;
entretanto,
a demora não poderá exceder de 30 dias a contar
do processo preparatório para a promoção;

e, pois, nos têrmos dêsses dispositivos, há um momento


em que o oficial, a quem cabe a promoção, adquire direito
às vantagens da promoção.
Êsse direito não é compatível com o anterior dispo-
sitivo por fôrça do qual (salvo o caso de ressarcimento-
de preterição), a antigüidade deve ser contada da data
do decreto de promoção.
No caso em estudo, desde que o decreto de promo--
ção fixou a data da qual se devia contar a antigüidade
do· oficial em seu nôvo pôsto, é certamente porque nessa
data se completaram os 30 dias dentro dos quais deve o
Govêrno fazer a promoção. E como, desde essa data,
adquiriu o oficial direito aos efeitos da promoção, é meu
205

parecer. Sr. Min'stro, que o pedido tem tôda a pro~


cedência.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex\
·devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex~,
meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de junho de 1924 - NQ 50.
Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da
Guerra - Com o Aviso n 9 8, de 6 de maio próximo
findo, transmitiu-me V. Ex'·', para dar parecer, o processo
conseqüente ao pedido que faz o 2'·' Tenente reformado
do Exército Alfredo Cândido Moreira para que se aposti-
lem em seu título as alterações relativas à percepção do
sôldo de reforma, de acôrdo com a Tabela A da Lei
n 9 2. 290, de 13 de dezembro de 191 O, por aplicação do
art. 29 da Lei n9 4. 691, de 19 de fevereiro de 1923.
~sse dispositivo legal estende c direito à percepção
do mencionado sôldo
aos oficiais que se tiverem reformado por ins-
peção de saúde e que tenham prestado serviços de
guerra em Canudos, no Território do Acre, em
Mato Grosso, nesta Capital, nos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
durante o movimento de 1893 e 1894, em defesa
da ordem e do Govêrno constituído.
O requerente está nestas condições por isso que,
como se evidencia da parte do combate de Canudos, cons-
tante da Ordem do Dia do Exército n9 892, de 3 de novem-
bro de 1897, foi êle, por atos de bravura que são ali
208

·expressamente mencionados, ferido, perdendo a perna


esquerda. Como conseqüência dêsse estado, que o im~
possibilitou para o serviço do Exército, foi reformado,
naturalmente, mediante inspeção de saúde, porque assim
dispõe a lei.
A dúvida que pode ser levantada contra o direito
do requerente se baseará numa interpretação restrita da
lei que se refere
aos oficiais que se tiverem reformado,
·e o requerente quando se reformou era sargento ajudante.
A lei, entretanto, não é clara ou expressa no men~
cionar que só visa aos miLtares que se tenham reformado
quando já eram oficiais. Referindo-se a oficiais que se
tiverem reformado por inspeção de saúde, a lei bem pode
cobrir aquêles militares que sejam oficiais, ao tempo em
que a lei entrou em vigor, e que se hajam reformado por
inspeção de saúde. Tal é o caso do requerente. E é bem
claro que nestes têrmos êle não pode deixar de ser
-considerado

oficial (por que êle o é) que se reformou por


inspeção de saúde (porque foi por êsse modo
que êle se reformou) .

Em tais condições, sendo essa interpretação da lei


perfeitamente aceitável e baseada no princípio de que
benigna amplianda, é meu parecer que o pedido pode ser
-deferido.
Submeto êste parecer ao critério de V. Ex'·' a quem,
devolvendo os papéis, tenho a honra de renovar meus
protestos de elevada estima e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLII

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 10 de junho de 1924- N•• 51.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da F a~


zenda - Com o Aviso n 9 140, de 4 de junho corrente;
submeteu V. Ex;! a meu estudo o processo referente ao
recurso interposto pelos funcionários da Secretaria do
Supremo Tribunal Federal da ·decisão da Diretoria da
Despesa do Tesouro Nacional que resolveu não os con-
templar com as vantagens provisórias criadas pelo art. 150
da Lei n'' 4.555, de 10 de agôsto de 1922.
Baseou-se essa resolução no dispositivo do § 2'.> do
referido artigo, por fôrça do qual. de tais vantagens são
excluídos os funcionários beneficiados por dispositivos
mais favoráveis dessa mesma lei ou por ato posterior, e
pela circunstância de haver sido no orçamento vigente e
assim posteriormente àquela lei consignada verba para
aumento de vencimentos dos reclamantes.
· Nas razões de seu recurso demonstram os recorrentes,
com uma certidão da Secretaria do Supremo Tribunal
Federal. que êsse aumento de vencimentos foi determi~
nado pelo Supremo Tribunal em sessão de 26 de abril
de 1922, e assim, em data anterior à referida concessão
de vantagens provisórias.
210

Tôda a questão, pois, consiste em saber se tem êsse


egrégio Tribunal competência para fixar vencimentos dos
empregados de sua Secretaria.
O caso não está, entre nós, explicitamente resolvido
por lei; a verdade, porém, é que, com fundamento no
dispositivo do art. 58 da Constituição Federal que dá
aos tribunais federais competência

para organizar suas respectivas secretarias,

o nosso mais alto Tribunal, intérprete supremo da Consti-


tuição, se arrogou o direito de, além de criar os lugares
de sua Secretaria, fixar os vencimentos dos funcionários
dela.
De acôrdo com êsse modo de entender, o Supremo
Tribunal resolveu, em sessão do mencionado dia 26 de
abril de 1922, fazer o aumento de vencimentos constante
da ata por certidão junta aos papéis.
Dessa resolução foi dada oficialmente, pelo Presidente
do Supremo Tribunal, conhecimento ao Senado, e o Poder
Legislativo, aceitando a resolução do Supremo Tribunal,
consignou verba para os aumentos estabelecidos por
aquêle Tribunal.
Dessa exposição se conclui que o Legislativo aceitou
como boa a resolução do Supremo Tribunal, pois para que
os orçamentos consignem pura e simplesmente verbas, é
mister que haja ato legal anterior ordenando despesa.
Ê dêsse ato que decorre o direito ao aumento de venci-
mentos. O orçamento apenas dá os meios para a efeti-
vidade dêsses atos. E assim o direito ao aumento não
pode ser contado da data da lei orçamentária que deu a
verba, mas da data do ato que o determinou.
211

Nesta conformidade parece-me procedentes as razões


do recurso que a meu ver merece ser provido.
V. Ex'·', a quem submeto êste parecer, resolverá como
lhe parecer acertado. Devolvo os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'!- meus protestos de elevada estima
e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLIII

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 13 de junho de 1924- N? 52.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Indús-


tria e Comércio - Com o Ofício da Diretoria-Geral de
Contabilidade dêsse Ministério, n 9 2. 633, de 30 de maio
próximo findo, recebi o processo decorrente do pedido
de gratificação adicional de 5o/c, feito pelo Dr. José
Felippe de Santa Cecília, por haver completado 10 anos d~
efetivo serviço como professor substituto da Escola de
Minas.
Estudada a matéria e ressalvada minha opinião sempre
manifestada em relação à revogação dos dispositivos de
lei que concederam gratificações adicionais, não penso
que o pedido seja de deferir. em face do art. 11 do Regu-
lamento da Escola de Minas, aprovado pelo Decreto
n 9 14.486, de 22 de novembro de 1920.

íl:sse artigo estatui que

os lentes, substitutos ou professôres nomeados


na vigência do Código de Ensino de 1901 que
Ja estiverem no gôzo de gratificações corres-
'pondentes a 15 anos, terão direito às de 20, 33
e 40% ao completarem 20, 25 ou 30 anos de
serviço.
21-!

Ora, o requerente, nomeado sob a vtgencia daquele


Código, não estava ainda no gôzo da gratificação no
artigo referido, e assim tem aplicação a êle o dispositivo
citado do Regulamento a cujo texto o Poder Executivo
não tem autoridade para se furtar.
Com êste parecer devolvo os papéis e tenho· a honra
de renovar a V. Ex" meus protestos de elevada estima e
consideração.

Rodrigo Octavio .
MCDLIV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 14 de junho de 1924 - Nq 53.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n9 139, de 31 de maio próximo
findo, submeteu V. Ex'' a meu estudo o processo decorrente
do pedido de D. Izabel Mendes Padilha para que lhe
seja paga a parte da pensão de montepio de seu finado
marido, Capitão- do Exército Antônio Gomes Padilha,
que havia sido adjudicada a um filho adulterino dêste.
O direito ao referido montepio foi reconhecido e a
expedição dos respectivos títulos foi feita em 1906, sem
que a requerente de agora houvesse jamais feito reclama-
ção alguma; e o filho adulterino percebeu a pensão até
completar a maioridade. que foi atingida em 13 de agôsto
de 1921.
Indeferido o pedido, uma primeira vez, por despacho
de ·V. Ex'\ fundado nas circunstâncias de ter sido a
resolução tomada de acôrdo com a jurisprudência assen ·
tada naquele tempo e de serem posteriores as decisões e
julgamentos que favorecem a pretensão, a interessada apre-
sentou nôvo requerimento pedindo reconsideração dêsse
despacho.
216

Bem ponderadas tôdas as circunstâncias de fato e


de direito, invocadas no caso, é meu parecer, Sr. Ministro,
que o pedido merece deferimento.
Certamente o despacho de V. Ex'·' se funda num
sao princípio jurídico. qual o de que a modificação de
jurisprudência por si só não legitima a reforma dos jul-
gados proferidos de acôrdo com a jurisprudência mo-
dificada.
O princípio, porém, só se oode referir às decisões
judiciais que hajam constituído coisa julgada.
Na hipótese trata-se de uma decisão administrativa do
Ministério da Fazenda, em que interveio o Tribunal de
Contas em sua função meramente fiscalizadora das ordens
relativas à despesa pública e notadamente sôbre concessões
de montepio, nos têrmos expressos do art. 2'', § 2'', n'' 2.
e, da Lei n'' 392, de 8 de outubro de 1896, instituidora
daquele Tribunal.
E não vejo porque uma decisão dessa natureza não
possa ser modificada, verificado que era errôneo o modo
de entender a lei ao tempo em que ela foi proferida.
Também não me parece inatacável o fundamento da
decisão quando diz são decisões e julgados posteriores
que favorecem a pretensão da requerente.
Não é, certamente, nessas decisões e julgados poste~
riores que se baseia o direito da reclamante, mas na lei
vigente ao tempo em que foi tomada a decisão sôbre a
atribuição do montepio de seu marido.
A êsse tempo a lei vigente sôbre montepio militar
dispunha que a pensão só cabia

aos filhos legítimos ou naturais legitimados (De-


creto n9 695, de 28 de agôsto de 1890, art. 19,
n9 3).
217

Ora a legitimação, então como atualmente, só podia


legalmente decorrer do casamento dcs pais (TEIXEIRA DE
FREITAS, Consolidação, arts. 215 e 216; CARLOS DE CAR-
VALHO, Noua Consolidação, arts. 127, 1. 554 e 1. 557,
§ 1''; Código Civil, art. 353) e por mais liberal que pu-
desse ser o entendimento a se dar aos efeitos do casa-
mento, em relação aos Llhcs, de qualquer natureza, ante-
riormente havidos, jamais o caso em questão poderia ficar
coberto, sendo juridicamente impossível o casamento do
contribuinte com a mãe natural de seu filho, pela existência
do casam ente anterior.
Acresce que as leis instituidoras do montepio jamais
visaram criar direitos para os filhos adulterinos, como
procurei demonstrar em resposta à consulta que em 9
de dezembro de 1911 dei a êsse Ministério e se acha
publicada a págs. 45 e seguintes do vol. IV dos Pareceres
do Consultor-Geral.
Em face destas considerações, parece-me evidente
que a requerente sofreu esbulho quando se mandou re-
partir entre ela e o filho adulterino de seu finado marido
a pensão do montepio. E, assim sendo, desde que a ju-
risprudência firmou o princípio de que a prescrição qüin-
qüenal de que beneficia a Fazenda Nacional apenas afeta
o recebimento das pensões não reclamadas correspondentes
a período anterior a cinco anos da data da reclamação,
mas não o direito ao montepio, isto é, a faculdade de
alguém se habilitar à percepção do montepio, é meu pa-
recer que o pedido é procedente, cabendo à reclamante
perceber a parte não prescrita das pensões reclamadas.
Sôbre êsse modo de entender a aplicação da prescrição
qüinqüenal, veja-se o que já tive ocasião de dizer em
parecer dado a êsse Ministério em data de 29 de dezembro
218

de 1911 e publicado a págs. 28 e seguintes do citado


volume de Pareceres.
Devolvo os papéis a V. Ex'1, a quem tenho a honra
de renovar meus protestos de elevada estima e distinta
consideração .

R.odt:igo Octavio.
MCDLV

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 17 de junho de 1924 NQ 54.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha - Com o Aviso n9 2. 554, de 3 do corrente, recebi
para dar parecer os papéis relativos ao requerimento do
capitão de corveta honorário Luiz Cláudio de Castilho,
lente substituto da Escola Naval, pedindo pagamento dos
vencimentos integrais do catedrático que ora está substi-
tuindo ou sua nomeação para o lugar de lente catedrático.
Quanto à segunda alternativa do pedido, como bem
pondera o Sr. Dr. Consultor-Jurídico dêsse Ministério,
não pode ser tomada em consideração porque o lugar não
está vago.
Quanto à primeira parte, também estou de acôrdo
com a conclusão do parecer do digno Sr. Dr. Consultor,
que opina pela improcedência do pedido.
O requerente é substituto da 1'·' cadeira do 2'' ano
da Escola Naval e está substituindo o respectivo pro-
fessor catedrático; não está, po-is, acumulando funções,
senão simplesmente desempenhando a função normal do
seu emprêgo: substituir o catedrático (art. 182 do De-
creto n'! 16.022, de 25 de abril de 1923) .
Cabem-lhe evidentemente os vencimentos marcados
nos Regulamentos da Escola que são constituídos pelos
220

seus próprios vencimentos de substituto e um acréscimo


igual à gratificação que deixar de receber o substituído.
Pretende, porém, o requerente ter direito aos venci-
mentos integrais do substituído por isso que êle está licen-
ciado sem perceber vencimentos, e funda seu pedido no
~ 1'-' do art. 28 do Regulamento de concessão de licenças
aprovado pelo Decreto n'' 14.663, de 1 de fevereiro de
1921, que dispõe taxativamente

os substitutos dos funcion.3rios que estiverem li-


cenciados sem vencimentos pereceberão todos os
vencimentos dos respectivos cargos.

E de fato, Sr. Ministro, pelo texto dêsse dispositivo


parecia evidente a procedência do pedido.
Tal conclusão, porém, obriga o intérprete da lei a
meditar pcrque êsse dispositivo, referindo-se a qualquer
substituto de funcionário licenciado, está em flagrante con-
tradição com o que dispõe o art. 29 e seus ~ ~ dêsse
mesmo Regulamento, fixando, de modo iniludível a ma-
neira de retribuir as substituições - nos têrmos da lei -
como a de que se trata.
Pelo sistema dêsses dispositivos gerais o funcionário
a que, nos têrmos da lei, cabe substituir outro que está
licenciado, percebe, além de seus próprios vencimentos,

os que perderem os substituídos,

até completar os vencimentos dêstes.


Dos têrmos dêsses dispositivos se conclui que êle,
referindo-se, de um mod:J geraL aos que ,perderem os
substituídos, tanto se referem aos que perdem só a gra-
tificação como aos que perderem todos os vencimentos.
E, assim, teríamos na mesma lei dois textos regulando
o mesmo caso de modo diverso, o que é absurdo.
Em vista da inadmissibilidade desta conclusão, um
estudo aprofundado da matéria me levou à convicção de
que o que existe é um êrro material na colocação do
art. 28 do Regulamento.
Parece~me evidente que êsse artigo foi colocado logo
abaixo do art. 27, por equívoco, intercalando~se indevi~
damente entre êsse artigo e os seus ~ § .
Os § § 19 e 2'!, que figuram no Regulamento, como
sendo do art. 28 devem ser do art. 27, como convencem
não só o estudo de suas respectivas matérias, como o
confronto dêsse Regulamento com o Regulamento ante~
rior, aprovado pelo Decreto n'' 14. 150 de 24 de abril de
1920, e de que o nôvo é a reproduçào, com as modificações
determinadas peJ.a Lei n'' 4. 265 de 11 de janeiro de 1921.
De fato; quanto às disposições dos textos indicados,
verifica-se que a matéria do art. 28 não comporta a ma~
téria dos dois §§ que se lhe seguem; pelo contrário, a
matéria do artigo e a dos ~ § se repelem.

O artigo refere~se
aos funcionários que se acharem em gôzo de
férias;
O § 1' refere~se a outra hipótese, visa
aos substitutos dos funcionários que estiverem
licenciados.
O artigo. dispõe que
nenhuma vantagem se abonar·á ao substituto

o que quer dizer que nenhuma despesa extraordinária im-


porta a aplicação do artigo; entretanto, o § 2 9 provê a
222

respeito da verba para pagamento do que o funcionário


perder, e na hipótese do artigo. c funcionário não perde
coisa alguma .
É. pois, evidente que, dispondo sôbre matéria intei~
ramente estranha e inaplicável à do art. 28, os dois pa~
rágrafos que se lhe adicionaram não podem pertencer a
êsse artigo.
E corrobora essa conclusão o confronto dessas dis~
posições do Regulamento vigente com as disposições
correspondentes do Regulamento de 1920.
O art. 28 do Regulamento vigente é textualmente o
art. 27 do Regulamento de 1920, que está aí desacom~
panhado de qualquer parágrafo. O ~ 2'! dado como do
art. 28 do Regulamento vigente é textualmente o pará-
grafo único do art. 28 do Regulamento de 1920 que é,
por sua vez, o texto ipis t'erbis do art. 27 do Regulamento
vigente.
Assim, não só por êsse confronto dos mesmos textos
nos dois Regulamentos, como por sua matéria, se evidencia
que o ~ 2'! do art. 28 do Regulamento vigente pertence
ao art. 27 dêsse Regulamento, artigo ao qual o nôvo
Regulamento deu um parágrafo nôvo, o n'! 1 publicado
como pertencendo ao art. 28 e cuja matéria, sendo inade~
quada a êsse artigo, como já se viu, se harmoniza perfei~
ta mente com a matéria do art. 27.
E se harmoniza perfeitamente porque o art. 27 ( 28
do Regulamento de 1920) visa à nomeação de pessoas
estranhas para substituir interinamente funcionários licen-
ciados e nesse caso, não só não há contradição com os
princípios gerais do Regulamento, como o princípio é intei~
ramente justificado pois é de inteira razão que, quando
o funcionário licenciado
223

perca todos os vencimentos,


a pessoa estranha nomeada para o substituir os perceba
todos.
Ê o caso do Consultor-Gera] da República que, não
tendo substituto legal, quando entra em gôzo de licença
sem vencimentos, a pessoa estranha nomeada para o
substituir percebe todos os vencimentos do cargo.
Quando, porém, a substituição se opera, nos têrmos
da lei, como no caso do professor substituto que exerce
as funções do respectivo catedrático, percebe êle, como
dispõe o art. 26 do Regulamento das Licenças, do que
perder o substituído (parte dos vencimentos ou todos os
vencimentos) tanto quanto baste para completar os ven-
cimentos dês te.
Essa conclusão me parece irrefutàvelmente lógica e
como se trata de. um êrro material na publicação de um
Regulamento do Poder Executivo vou levar o caso ao
conhecimento do Sr. Ministro da Justiça e Negócios Inte-
riores a fim de que seja convenientemente apurado pela
re·partição competente.
De acôrdo com êste parecer, devendo, entretanto,
prevalecer para a Escola Naval os dispositivos especiais
dos seus regulamentos de acôrdo com o princípio do art. 4'.'
da Introdução do Código Civil por fôrça do qual

a disposição especial não revoga a geral, nem a


geral revoga a especial, senão quando a ela ou
ao seu assunto se referir, alterando-a explícita
ou implicitamente,

estou de pleno acôrdo com a conclusão do parecer do


Sr. Dr. Consultor-Jurídico do Ministério favorável à
22-l

aplicação, no caso em estudo, dos dispositivos correspon~


dentes dos Regulamentos da Escola Naval.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex'\
devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex::t
meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLVI

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


·de Janeiro, 17 de junho de 1924- NQ 55.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Justiça e Negócios


Interiores - Cabe~me levar ao conhecimento de V. Ex~
que, estudando consulta que me foi feita pelo Ministér:o .
da Marinha, penso haver verificado um equívoco na colo~
cação dos artigos e parágrafos na publicação oficial do
Regulamento de concessão de licenças aprovado pelo
Decreto no 14.663, de 1 de fevereiro de 1921.
A consulta versava sôbre o caso de um professor
substituto da Escola Naval. no exercício pleno da cadeira,
por licença, sem vencimentos, do respectivo catedrático,
·que pediu o abono dos vencimentos integrais dêste, por
aplicação do & 29 do art. 28 do Regulamento citado.
De fato, êsse par.ágrafo dispõe textualmen~e que
os substitutos dos funcionários que estiverem li-
cenciados sem vencimentos perceberão todos os
vencimentos , dos respectivos cargos.

E, realmente, pelos têrmos literais dêsse dispositivo


parecia procedente o pedido.
Tal conclusão, porém. obrigou~me a ponderar atenta~
mente sôbre o caso, por isso que tal disposição, referin.do~se
.a qualquer substituto de funcionário licenciado, está em
226

flagrante contradição com o que dispõe o art. 29 e seus


parágrafos dêsse mesmo Regulamento, fixando, de modo
iniludível. a man(!ira de retribuir as substituições e nos
têrmos da lei .
Pelo sistema dêsses dispositivos gerais o func:onário
a que, nos têrmos da lei, cabe substituir outro que está
licenciado, percebe, além de seus próprios vencimentos,
os que perderem os substituídos,
até completar os vencimentos dêstes.
Dos têrmos dêsses dispositivos se conclui que êles,
referindo~se, de um modo geral. ao que perderem os subs~
tituídos, tanto se referem aos que perdem só a gratificação·
como aos que perderem todos os vencimentos.
E, assim, teríamos na mesma lei dois textos regulando·
o mesmo caso de modo diverso, o que é absurdo.
Em vista da inadmissibilidade desta conclusão, um
estudo aprofundado da matéria me levou à convicção de
que o que existe é um êrro material na colocação do
art. 28 no regulamento.
Parece~me evidente que êsse artigo foi colocado logo.
abaixo do art. 27 por equívoco, intercalando-se indevi~
damente entre êsse artigo e os seus parágrafos.
Os §§ 19 e 29, que figuram no Regulamento, como
sendo do art. 28 devem ser do art. 27, como convencem
não só o estudo de suas respectivas matérias, como o
confronto dêsse Regulamento com o Regulamento ante~
rior, aprovado pelo Decreto n'' 14. 150, de 24 de abril de
1920, e de que o nôvo é a reprodução, com as modificações
determinadas pela Lei n~ 4.255, de 11 de janeiro de 1921.
De fato; quanto às disposições dos textos indicados
verifica~ se
que a matéria do art. 28 não comporta a matéria:
227

dos dois parágrafos que se lhe seguem; pelo contrário,


a matéria do artigo e a dos par.ágrafos se repelem.

O artigo refere-se
aos funcionários que se acharem em gôzo de
férias;
O § 19 refere~se à outra hipótese, visa
aos substitutos dos funcionários que estiverem
licenciados.
O art:go dispõe que
nenhuma vantagem se abonará ao substituto,

o que quer dizer que nenhuma despesa extraordinária


importa a aplicação do artigo; entretanto, o § 29 provê a
respeito da verba para pagamento do que o funcionário
perder, e na hipótese do artigo, o funcionário não perde
coisa alguma:
É, pois, evidente que, dispondo sôbre matéria intei~
ramente estranha e inaplicável à do art. 28, os dois pa~
rágrafos que se lhe adicionaram não podem pertencer a
êsse artigo.
E corrobora essa conclusão o confronto dessas dis~
posições do Regulamento vigente com as disposições
correspondentes do Regulamento de 1920.
O art. 28 do Regulamento vigente é textualmente
o art. 27 do Regulamento de 1920, que está aí desacom~
panhado de qualquer paràgrafo. O § 29 , dado como do
ai:t. 28 do Regulamento vigente, é textualmente o pará~
grafo único do art. 28 do Regulamento de 1920, que é,
por sua vez, o texto ipsis v-er bis do art. 27 do Regulamento
vigente.
Assim, não só por êsse confronto dos mesmos textos
nos dois Regulamentos, como por sua matéria, se evidencia
228

que o § 2'1 do art. 28 do Regulamento vigente pertence


ao art. 27 dêsse Regulamento, artigo a que o nôvo Re~
gulamento deu um parágrafo nôvo, o nQ 1, publicado
como pertencendo ao art. 28 e cuja matéria, sendo inade~
quada a êsse artigo, como já se viu, harmoniza perfeita~
mente com a matéria do art. 27.
E se harmoniza perfeitamente porque o art. 27 ( 28
do Regulamento de 1920) visa à nomeação de pessoas
estranhas para substituir interinamente funcionários liceu~
ciados e nesse caso, não só há contradição com os prin~
cípios gerais do Regulamento, como o princípio é inteira-
mente justificado, pois é de inteira razão que, quando o
funcionário licenciado
perca todos os vencimentos,
a pessoa estranha nomeada para o substituir os perceba
todos.
É o caso do Consultor~Geral da República que, não
tendo substituto legal, quando entra em gôzo de licença
sem vencimentos, a pess.oa estranha nomeada para o subs~
tituir percebe todos os vencimentos do cargo.
Quando, porém, a substituição se opera, nos têrmos
da lei, como no caso do professor substituto que exerce
as funções do respectivo catedrático, percebe êle, como
dispõe o art. 26 do Regulamento das licenças, do que
perde o substituído (parte dos vencimentos ou todos os
vencimentos) tanto quanto baste para completar os venci~
mentos dêste.
Essa conclusão me parece irrefutàvelmente lógica e,
como se trata de um êrro material na publicação de um
Regulamento, expedido pelo Poder Executivo, e êrro que
se encontra não só na publicação avulsa do Regulamento
como no respectivo volume da coleção das leis da Repú~
229

blica, julguei de meu dever trazer o caso ao conhecimento


de V. Ex'-', a cujo Ministério compete a respectiva matéria,
a fim de que, estudado convenientemente, se dê as provi-
dências que forem reconhecidas necessárias.
Aproveitando o ensejo, tenho a honra de renovar a
V. Ex'-' os protestos de minha subida estima e mui distinta
consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLVII

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


àe Janeiro, 23 de junho de 1924 - N'~ 56.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da


Guerra- Com o Aviso nQ 5, de 25 de abril findo, solicitou
V. Ex~ meu parecer sôbre o requerimento em que o
Dr. Djalma Regis Bitencourt, professor adjunto do Colé-
gio Militar, pede· a gratificação adicional de 5% sob o
fundamento de haver completado 1O anos de serviço do
magistério.
No caso ocorreu que, depois de deferido o pedido, de
.acôrdo com as informações e precedentes neste Ministério,
e assinado pelo Sr. Pres:dente da República o respectivo
decreto, foi levantada dúvida sõbre a questão de saber
se podia ser computado no período legal, como tempo
útil para o dire:to à gratificação adicional, o tempo em
·que o requerente havia servido como preparador-conser~
vador ·do mesmo colégio e, entendido que tal tempo não
.devia ser contado, foi a pretensão indeferida.
O requerente solicitou reconsideração dêsse despacho
.e, tendo havido entre os funcionários informantes diver~
gência rad:cal no modo de resolver o caso, pediu V. Ex~
minha audiência.
232

Bem ponderadas as razões apresentadas em favor e-


contra a procedência do pedido, é meu parecer, Sr. Mi-
nistro, que êle deve ser atendido.
O requerente foi nomeado professor adjunto ( adqui~
rindo assim vitaliciedade e entrando para o corpo do~
c ente) , em setembro de 1921, sob o regime do Decreto
n9 11.530, de 18 de março de 1915, pois que o art. 11
da Lei n9 2.290, de 13 de dezembro de 1910, estendeu
aos adjuntos e ma:s docentes dos institutos de ensino
militar

os mesmos direitos, garantias e vantagens que-


têm ou vierem a ter respectivamente os docentes.
dos institutos civis de ensino superior.
É certo que, pelo regime dêste decreto,
os assistentes, preparadores e demais auxiliares
do ensino

não se consideravam como fazendo parte do corpo do~·


cente. É expresso nesse sentido o art. 36 combinado com.
o disposto nos arts. 65 e 66.
O mesmo princípio havia sido adotado pelo regula~
mento anterior, a chamada Lei Orgânica do Ensino, apro~
vada pelo Decreto n'' 8. 659, de 5 de abril de 1911, como
se evidencia de seus arts. 31 e 39.
Êsse Regulamento, implicitamente aprovado pelo ar~
tigo 64 da Lei da Receita para 1913, Decreto Legislativo
n9 2. 738, de 4 de janeiro de 1913, aboliu, no art. 128,
as gratificações adicionais; gratificações que o art. 64
do nôvo Regulamento de 1915 restabeleceu (PARANHOS
DA SILVA, Consolidação das Leis do Ensino, pág. 91.
Comentário ao art. 182) .
Mas, como foi visto, o requerente foi nomeado pre~
parador sob a vigência do Código de Ensino de 1901, e~
233

ainda sob o regime dêsse Código, os preparadores eram


auxiliares do ensino, mantidos enquanto bem servir, e não
faziam parte do corp.o docente (arts. 25 e 108) .
Entretanto, o Decreto Legislativo n'! 230, de 7 de
dezembro de 1894, aprovando com modificações o Código
de Ensino de 1892 (Decreto n'' I. 159, de 3 de dezembro),
dispôs com uma dessas modificações a matéria do § 2?
de seu artigo único, que mandava cons:derar como útil
para a percepção da gratificação adicional qualquer tempo
de exercício do magistério, o que se entendeu abranger
os auxiilares de ensino.
Todos êsses dispositivos, porém, foTam substituídos
pelas posteriores leis e regulamentos, acima indicados e
que, segundo as boas normas, não podem ter deixado
subsistentes certas disposições das leis e regulamentos
substituídos.
É preciso, entretanto, observar que essa expressão
- corpo docente - de que usam os regulamentos, está
empregada num sentido restrito, de corpo de funcioná~
rios a que se referem os direitos e garantias outorgados
pelo decreto, pois que, de um modo geral, não se pode
deixar de considerar como - docente - quem exerce
funções de ensino sob qualquer denominação, seja de
catedrático, seja de preparador ou assistente.
E de que assim se deve considerar convencem
a) o fato de ter sido sem contestação entendido
c_omo cobrindo os preparadores e assistentes a expressão
- serviço do magistério - de que usou o § 2 9 do artigo
único do. Decreto Legislativo n" 230, de 1894, que aprovou
com modificações o Código de Ensino de 1892;
·b) o fato de haver o art. 8'! da Lei n 9 3. 674, de
7 de janeiro de 1919, estendido aos preparadores e assis~
tentes vitalícios das Escolas PoLtécnicas e de Medicina as
234

vantagens das gratificações adicionais, que são por tempo


de serviço no magistério, e não é a vitaliciedade senão a
função que caracteriza a natureza do serviço.
Ora, se, em nossa terminologia legal, essa expressão
- serviço do magistério - cobre a função dos prepara-
dores e assistentes e se o próprio Código de 1901, sob
cuja vigência foi o requerente nomeado, em o § 2'-' do
art. 31, dispõe que para o tempo útil para o acréscimo
de gratificação só se conta
o serviço efetivo do magistério,
parece que o recurso deve ser provido, contando-se para
a outorga da gratificação adicional pedida pelo requerente
o tempo que serviu como preparador.
Aliás essa é a interpretação mais liberal e outra não
deve ser a interpretação a ser dada a êste caso na confusão
gerada pelas incertezas e vacilações a que conduz o estudo
dos sucessivos regulamentos de ensino, confusão aumen-
tada pela interpretação que tem sido dada ao acórdão
do Supremo Tribunal Federal de 16 de janeiro de 1910,
na causa do Dr. João Vieira de Araújo, interpretação
extensiva que, a meu ver. os têrmos do julgado não auto-
rizam, como já procurei demonstrar em pareceres ante-
riores, notadamente no de 16 de janeiro de 1916, enviado
a êsse mesmo Ministério e ora publicado à pág. 25 do
vol. 8 dos Pareceres do Consult.or-Geral da República.
Nesta conformidade e ressalvada minha opinião,
sempre manifestada no sentido de considerar revogadas
as dis;Josições que concedem gratif:cações por tempo de
serviço, submeto êste parecer ao critério de V. Ex"
a quem, devolvendo os papéis, tenho a honra de renovar
meus protestos de subida estima e mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLVIU

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 25 de junho de 1924 - N9 57.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n~ 106, de 11 de .abril último.
que acompanhou o processo provocado pelo Ofício do
Sr. Delegado do Tesouro, em Londres, n9 31. de 16 de
agôsto do ano passado, solicitou V. Ex'!- meu parecer
sôbre a questão de saber se o dispositivo do art. 29 e
seus parágrafos da Lei n 9 4. 569. de 25 de agôsto de
1922, se aplica a todo o funcionalismo ou sõmente aos
magistrados federais.
O caso é. Sr. Ministro, que a referida lei. que provê
especialmente sôbre aumento de vencimentos à magistra-
tura federal. contém os seguintes dispositivos:

Art. 29 O aumento de vencimentos con-


cedido por esta ou por qualquer outra lei, a
contar de 1922, inclusive, não será computado
para a elevação da pensão, nem da contribuição
do montepio referente ao contribuinte inscrito
até 31 de dezembro de 1913.
§ 1Q Na disposição dêste artigo não se
, compreende a pensão de montepio que com o
mesmo aumento não vier a exceder a 300$000
mensais.
236

§ 29 Continua em inteiro vigor a dispo-


sição do art. 83 da Lei n 9 2. 842', de 3 de janeiro
de 1914.

Se bem que êsses dispositivos estejam intercalados


numa lei que visa a determinada categoria de funcioná~
rios, é fora de dúvida, a meu ver, que por sua redação e
matéria não são êles restritamente aplicáveis aos magis~
trados visados na lei, mas a todo o funcionalismo em geral.
Basta considerar que o artigo se refere ao aumento,
de vencimentos

concedido por essa ou outra qualquer lei. a


contar de 1922,

o que, já de si, generaliza o dispositivo. Há mais, porém~


a circunstância de não ter havido, depois de 1922, lei
aumentando os vencimentos dos magistrados, convence
que o dispositivo não se podia referir só aos magistrados.
Há ainda a atender que o dispositivo do § 2'!, que
mantendo em vigor um dispositivo, que se refere à gene~
ralidade do funcionalismo, deve, como é lógico, se referir
a todo o funcionalismo a que se referia a lei revigorada.
Há evidentemente, neste caso, um vício de técnica,
porque se introduziu em uma lei especial um dispositivo
de ordem geral; mas nossa legislação está tão impregnada
de vícios dessa natureza que nem é lícito estranhar.
No caso, porém, ocorre que, tendo sido essa, por
mim dada como boa, a interpretação administrativa a
princípio assentada, foi, entretanto, ela modificada por um
respe:tável despacho de V. Ex'1 de 12 de dezembro do
ano próximo findo.
237

Publicado êsse despacho, o .Sr. Deputado Colares


More:ra, que fôra o autor da eraenda que se converteu
no dispositivo em questão, endereçou a V. Ex~ uma carta,
expondo qual fôra sua intenção, propondo a emenda, in~
tenção que concnrda inteiramente com a interpretação que
a mim parece a acertada, e carta que motivou minha
audiência.
Posteriormente o mesmo Sr. Deputado apresentou
à Câmara, de que é digno membro, em sessão de 20 de
maio próximo findo, um projeto

declarando que os referidos dispositivos se en-


tendem com todos os contribuintes quer civis
quer militares.

Devo ainda acrescentar, Sr. Ministro, que no sentido


da proposição do Sr. Dep·utado Colares Moreira, eu iria
ainda mais longe:
Desde que, a partir de 1 de j ane:ro de 1914, ficaram
suspensas as admissões df: novos contribuintes ao mon-
tepio, o que equivale à suspensão do funcionamento do
instituto, respeitados os direitos adquiridos, parece lógico
que também não fôsse, de então em diante, suscetível de
aumenta. a pensão dos antigos contribuintes pelo aumento
posterior de seus vencimentos.
O direito adquirido dêsses antigos contribuintes não
vai além das pensões correspondentes aos ordenados que
percebem num momento dado.
E meu parecer não é que essa deva ser, indepen~
cientemente de qualquer outro dispositivo, a conseqüência
natural dos artigos de lei em estudo, por isso que o art. 83
da Lei nQ 2. 842, de 3 de janeiro de 1914, se refere
taxativamente
238

à suspensão de admissão de novos contríbuintes,


expressões que deixaram inteiramente fora de seus efeitos
os antigos contribuintes.

Em face de tais circunstâncias pode V. Ex'! ou re~


vogar desde já o despacho anterior, se se convencer da
procedência dêste parecer, ou aguardar que a proposição
interpretativa, ora apresentada à consideração do Con~
gresso, seja convertida em lei, para então dar aos dispo~
si ti vos a aplicação assim interpretada. Devolvo os papéis
e tenho a honra de renovar a V. Ex~ meus protestos de
elevada estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavi.o.
MCDLIX

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


de Janeiro, 3 de julho de 1924- N~ 58.

Ex. 1110 Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o A viso n' 134, de 28 de maio próximo
findo, me remeteu V. Ex'! para dar parecer o processo
relativo à aposentadoria do Chefe de Seção da Alfândega
de Recife Francisco Eugênio Gonçalves de Medeiros,
mandada proceder ex officio nos têrmos do art. 69, letra
j. do Decreto n9 15.210, de 28 de dezembro de 1921.
Dos papéis se evidencia que sendo patente o estado
de invalidez do funcionário em questão, o chefe da repar-
tição em que o mesmo foi mandado servir representou a
V. Ex~ sôbre a necessidade de o fazer submeter à inspe-
ção de saúde. Atendida a representação por V. Ex~. fo·i o
funcionário sujeito às duas inspeções a que se refere
o Decreto n9 11.447, de 20 de janeiro de 1915, mandado
observar pelo art. 132, n? VI. do Decreto Legislativo
n 9 3.089, de 1916.
Em ambos êsses exames foi verificado achar-se o
funcionário afetado de graves moléstias pelo que concluiu
o primeiro laudo

achar-se o examinado em estado de invalidez para


o serviço público,
240

confirmando o segundo laudo essa conclusão com a decla-


ração de que o mesmo funcionário
estava incapaz para o serviço por ser portador
das moléstias que menciona.

Dúvida, entretanto, foi levantada na Diretoria-Geral


do Tesouro à expedição do título de aposentadoria por
isso que o segundo laudo, em vez de concluir pela -
invalidez - conclui pela incapacidade - do funcionário.
Não me parece, entretanto, Sr. Ministro que, a dú-
vida seja procedente; e isso porque, mesmo quando na
linguagem corrente - invalidez para o serviço público e
incapaz para o serviço público - não devessem ser consi-
deradas expressões equivalentes, é certo que assim as
considera o já c!tado decreto que regula o processo dos
exames de invalidez .
É assim que, nesse Regulamento, por duas vêzes,
nos arts. 5'! e 79, se encontram as expressões

incapacidade ou invalidez

como sinônimos para o efeito da concessão da aposenta-


doria. E cumpre ainda assinalar que a Circular dêsse
Ministério n'! 89, de 29 de novembro de 1917, a respeito
dos requisitos a serem observados nos laudos, tem por
muito recomendada a observância do art. 79 do Decreto
n9 11.447, de 1915, onde, como d:to ficou, as expressões

incapacidade e invalide;;::

são dadas como equivalentes.


Acresce ponderar que essa equivalência já foi pro-
clamada pelo Supremo Tribunal Federal, no Acórdão
2-!1

n 9 1 . 41 O, de 2 de dezembro de 1907, nos seguintes têrmos


positivos:

A invalidez quer dizer incapacidade, impossibi~


lidade de exercer como convém os deveres do
cargo (A. BIOLCHINI, Manual de Legislação,
tomo }9, pág. 90).

Em face destas circunstâncias e à vista do respeci:ivo


processo, é meu parecer que o título de inatividade pode
ser expedido.
Devolvo os papéis e tenho a honra de renovar a
V. Ex'~- meus protestos de elevada estima e mui distinta
cone: i der ação.

Rodrigo Octavio.
MCDLX

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de; Janeiro, 4 de julho de 1924 - N9 59.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Fa-


zenda - Com o Aviso n 9 129, de 26 de maio próximo
findo, transmitiu~me V. Ex'·', para dar parecer, o processo
relativo ao requerimento de Gustavo Olyntho de Aquino
pedindo o levantamento de seqüestro de uma cautela de
mil apólices ao portador, sob n 9 11, emitida de acôrdo
com o Decreto· n 9 15.676, de 7 de setembro de 1922.
Êsse decreto abre, pelo Ministério da Marinha, um
crédito de 30 mil contos em apólices, de juro de 5%,
«para atender às despesas com a Reorganização da Ma~
rinha, e cujo produto seria distribuído à Contabilidade
da Marinha, pela forma legal, a fim de atender a tôdas
as despesas com os serviços atinentes à defesa naval do
país».
E como do estudo do processo se evidencia, notada-
mente do ofício do Banco do Brasil ao Sr. Ministro da
Marinha, em 22 de dezembro de 1922, por certidão junto
a êstes papéis (fls. 50) , por fôrça dessa autorização
foram emitidas 16 mil apólices de um conto de réis, que
foram entregues àquele Banco para ocorrer às despesas
com a construção do nôvo edifício para sede do Ministério
da Marinha, orçadas em 1O mil contos, papel, como se
244

vê da cláusula 7·) do contrato cuja copia acompanhou o


Aviso da Marinha n 9 445, de 18 de janeiro último, e que
se acha na parte inicial dêstes papéis, sem numeração.
Para administrar essa construção foram, por ato de
26 de outubro de 1922, contratados os serviços do Enge~
nheiro Dr. Augusto de Toledo, de São Paulo, o qual já
havia sido encarregado pelo Ministro da Marinha, sob
o Govêrno passado, de fazer o projeto do edifício e res~
pectivas especificações, projeto que foi aprovado e aceito.
E a êsse engenheiro, em virtude de ordem do mesmo
Ministro, em Aviso ao Banco do Brasil, de 13 de novembro
de 1922, se mandou entregar mJ das referidas apólices,
o que foi executado com a entrega da cautela manuscrita
n 9 11, a que se referem os presentes papéis, como tudo se
evidencia do mencionado ofício do Banco do Brasil,
havendo a expedição ·dessa ordem ao Banco do Brasil sido,
pelo próprio Ministro, comunicada ao Engenheiro Toledo
pelo A viso reservado do mesmo dia 13 de novembro de
1922 cujo teor se encontra nestes papéis por certidão
.a fls. 71 v.
A entrega dessas mil apólices foi feita a título de
adiantamento, de acôrdo com a cláusula 7'1 das Instru~
ções e Especificações expedidas nos têrmos da cláusula
2'! do mencionado contrato de 26 de outubro de 1922.
Dessas Instruções e Especificações que têm a data
de 11 de novembro de 1922, há nos papéis cópia que
juntamente com a do contrato acompanhou o mencionado
Aviso do Ministério da Marinha de 18 de janeiro último.
E a cláusula referida declara que

para custeio das obras contratadas foi constituído


pelo Ministério da Marinha no Banco do Brasil
245

um fundo especial, garantido por apólices depo-


sitadas em nome do contratante (Engenheiro
Toledo), que poderá levantar diretamente apó-
lices ou dinheiro, produto da venda dessas apó-
lices, nessa conta desde que apresente atestados
dos engenheiros fiscais, declarando que já foram
visadas faturas dos administradores de valor
equivalente ao numerário pedido
ou então
mediante A viso do Ministério da Marinha.

As mil apólices em questão foram entregues ao


contratante em virtude desta segunda alternativa. Aviso
do Ministro ao Banco do Brasil de 13 de novembro de
1922, dois dias depois de assinadas essas Instruções.
Com essas mil apólices o contratante abriu no mesmo
Banco uma conta garantida de 500 contos de réis de
cujo contrato se encontra certidão nestes pape1s a
fls. 72, conta onde, aliás, fôra debitada a importância de
73: 100$000 correspondente a comissão e juros das ope-
rações realizadas pelo Ministério da Marinha no Banco do
Brasil, importância que ao contratante caberia saldar, como
tudo se evidencia do ofício reservado do mesmo Ministério.
por certidão, sem data, a fls. 75 in fine, dêstes papéis.
Essa conta garantida tendo sido saldada pelo Enge-
nheiro Toledo, que a havia aberto, levantou êsse enge-
nheiro as mil apólices que para sua garantia havia dado
em caução.
Do exposto e que está inteiramente corroborado por
certidões extraídas de autos judiciais, se conclui que, por
mais irregulares que possam parecer êstes atos, mormente
o de se destinar a construção de um edifício para o Mi-
nistério mais de metade de um crédito exclusivamente
246

aberto para - defesa naval do país - , do exposto, repito,


se conclui que não se pode de modo algum considerar o
Sr. Engenheiro Augusto Toledo como se tendo apro~
priado indebitamente dessas apólices.
Rescindido pelo atual Sr. Ministro da Marinha o
contrato, a que negou registro o Tribunal de Contas, está,
certamente, o Engenheiro Toledo sujeito à prestação de
contas dos adiantamentos que recebeu; mas essas apólices
êle as recebeu de modo perfeitamente claro, em virtude
de têrmos expressos de atos do Poder Público. Aliás,
êsse engenheiro já propôs ação judicial, como consta da
certidão junta nestes papé:s, a fls. 157 e seguintes, de
onde resultará a prestação de suas contas.
E assim sendo, Sr. Ministro, é meu parecer que não
podiam tais apólices ser seqüestradas mesmo quando ainda
em poder do Engenheiro Toledo. E não podiam
1'1 porque do procedimento dês te engenheiro, de
acôrdo com êstes papéis, ato algum justificava essa medida
violenta;
2 9 , porque, para restituição do que a êsse engenheiro,
por ordens autênticas do Ministér:o da Marinha, se
houvesse entregue além do que êle teria direito de receber,
a medida judicial seria a prestação de contas;
3 9 , porque o seqüestro é med:da que a lei autoriza
em casos taxativos, e como preparatório da ação, que
seria a hipótese, a lei admite apenas nos executivos fiscais
e nos executivos hipotecários, que no caso ocorrente não
podiam ser intentados (Decreto n9 3. 084, de 5 de novem~
bro de 1898, 3~ Parte, art. 133);
4'.> finalmente, e decisivamente, porque se trata de
apólices da dívida pública e, de acôrdo com o art. 36 da
247

Lei de 15 de novembro de 1827, que ainda hoje regula


as garantias inerentes a êsses títulos,

não se admitirá opos1çao nem ao


pagamento dos juros e capital. nem à trans-
ferência destas apólices, senão no caso de
ser feita pelo próprio possuidor,
princípio de lei reproduzido e regulamentado nos
arts. 172 e seguintes do Regulamento vigente da
Caixa de Amortização aprovado pelo Decreto
nq 6. 711, de 7 de" novembro de 1907.

E se ainda considerarmos que essas apólices eram ao


portador, e já se achavam em poder de terceiro adquirente,
cuja boa-fé não foi ·posta em dúvida, parece-me, Sr. Mi-
nistro, que a ilegalidade da medida obtida do Juízo Fe-
deral dêste Distrito sobe de ponto. Tratava-se, repito,
de títulos ao portador e a respeito deles dispõe o Código
Civil em seu art. I . 506 que

a obrigação do emissor subsiste ainda que o


título tenha entrado em circulação contra sua
vontade.
Ora, na hipótese, não pode ser pôsto em dúvida, os
títulos ao portador foram postos em circulação com inteira
vontade do emissor.
Tratava-se
a) de uma cautela manuscrita;
b) confiada ao Banco do Brasil por um dos Mi-
nistros de Estado, para um determinado fim, em nome de
terceira pessoa (o Engenheiro Toledo);
248

c) entregue por sua vez a êsse engenheiro pelo·


Banco do Brasil, por ordem daquele Ministro, nos têrmos
de um contrato por êsse Ministro celebrado;
d) caucionado pelo portador dela para levantamento
de dinheiro dêsse mesmo Banco do Brasil, que não daria
sôbre ela qualquer soma se pusesse em dúvida a legalidade
com que a possuía seu portador;
e) levantado do Banco do Brasil de'Jois de solução
da conta que estava garantindo.
E se é certo, como dispõe o citado artigo do Código
Civil, que, mesmo em relação ao título pôsto em circulação
contra sua vontade

subsiste a obrigação do emissor,

é claro que não pode ser posta em dúvida a subsistência


dessa obrigação quando o título é pôsto em circulação
por plena e inteira vontade do emissor.
E para terminar, Sr. Ministro, com a autoridade que
em mim falece, transcreverei aqui. dos Comentári.os de
CLÓVIS BEVILÁQUA os têrmos em que êle expõe a signifi~
cação dêsse artigo do Código.
Parece~me claro, como ponderadamente observa
PoNTES DE MIRANDA (Manual do Código Civil, vol. XVI,
pág. 286, n 9 78) que o entendimento dêsse dispositivo
deve ser completado pelo disposto no artigo subseqüente
do Código, que restringe a sua aplicação ao portador de
boa~fé.

Tal. circunstância, porém, não afeta o caso em estudo,


pois, como já se disse, não está em dúvida a boa~fé do·
portador do título.
2-Jl)

E, sôbre a significação dêsse artigo, assim se exprime


o eminente jurisconsulto à pág. 264, vol. V dos seus
Comentários:

Êste artigo imprime ao título, que deve ser


pago ao portador, a máxima segurança em bene~
fício de sua função de circular, e oferece a maior
garantia ao créd:to, que êle se destina a servir.
Essa função e o crédito exigem, realmente, que
o adquirente do título ao portador esteja certo de
que receberá a prestação no dia do vencimento,
sem que se lhe conteste a legitimidade da posse,
e o direito de exigir o pagamento. O título ao
portador equipara~se à moeda: vale por si, porque
em si mesmo contém a obrigação em sua pleni~
tude. Não foi escrito para provar a obrigação,
mas para dar~lhe corpo, e identificá~la com o
objeto móvel que a encarna.

De acôrdo com êstes prinCip!Os, é meu parecer que


o seqüestro requerido e concedido pelo Juízo Federal dêste
Distrito, foi uma medida de todo o ponto injurídica e que
não deve ser mantida. Tendo sido quebrada a unidade
da ação defensiva dos interêsses da Fazenda Nac:onal
pela supressão no Tesouro Nacional da antiga Diretoria
do .Contencioso, de sábia organização, depois convertida
na Procuradoria~Geral da Fazenda, penso que, se V. Ex~
se convencer da procedência das minhas conclusões, deve
solicitar do Sr. Ministro da Marinha as necessárias pro~
vidêncÚts para que se promova a revogação do seqüestro
por êle solicitado, solução necessária não só para evitar
que o Estado seja condenado ao pagamento do ressarci~
25J

menta das perdas e danos que a medida ilegal possa ter


causado ao portador dos títulos, como para segurança
do crédito público consistente em apólices, títulos que a
lei visou cercar de tôdas as garantias, inclusive da de
pô~las a salvo de oposição de pagamento, a não ser pedido
pelo seu próprio possuidor.
Com êste parecer, que submeto à esclarecida apre~
·ciação de V. Ex'.t, devolvo os ·papéis e tenho a honra de
renovar a V. Ex'·' meus protestos de elevada estima e
-distinta consideração.

R.odrigo Octavio.
MCDLXI

Gabinete do Consultor-Geral da República - Rio


-de Janeiro, 10 de julho de 1924 - N9 60.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-


rinha - Com o Aviso n<? 2. 746, de 18 de junho próximo
findo, transmitiu-me V. Ex~. para dar parecer, os papéis
referentes ao requerimento no qual a Sociedade Anônima
Indústrias Matarazzo de Mato Grosso, tendo se organi-
zado com o principal objetivo de explorar a indústria da
pesca e extração de óleos e graxas de produtos aquáticos,
pede os favores do Decreto n'' 16. 184, de 25 de outubro
-de 1923.
Depo:s de parecer favorável do digno Sr. O r. Con-
sultor-Jurídico dêsse Ministério, ao qual havia V. Ex"
-dado seu assentimento, foi pelo Sr. Vice-Almirante, Di-
retor-Geral de Portos e Costas, levantado dúvida, quanto
à nacional.idade da requerente.
Tendo tomado conhecimento da questão, Sr. Minis-
tro .. é meu parecer que a dúvida é de todo o ponto im~
proc_edente. Não se trata, no caso, de uma sociedade
·estrangeira.
Em nossa legislação, a não ser transitõriamente, du~
rante ~ período da guerra mundial. de que o Brasil par-
ticipou, por fôrça do art. 69 da Lei n'' 3.365, de 16 de
novembro de 1917, a nacionalidade de uma sociedade,
252

pessoa jurídica, não depende de nacionalidade dos soc1os.


Ê:sse princípio, que é pacífico, foi por mim desenvolvido
em parecer de 16 de agôsto de 1918, com que se confor~
mou o Ministério da Fazenda (Pareceres, vol. X, pá~
gina 289) e foi pelo egrégio CARLOS DE CARVALHO, re~
gistrada no art. 16 de sua notável Nova Consolidação das
Leis Civis, nestes têrmos precisos:

a nacionalidade das pessoas jurídicas. . . não


depende da nac:onalidade das pessoas naturais
que as compõem ou vierem a compor.

(Ver também NuNo PINHEIRO, Da Nacionalidade das


Sociedades Anônimas, na Revista de Direito Público,
vol. 4°, pág. 325) .
Na doutrina gerai é matéria de muita controvérsia a
da fixação do critério para determinar a nacionalidade das
sociedades anônimas. Entre nós, como foi por mim indi-
cado no mencionado parecer, a nacionalidade das pessoas
jurídicas de_;:>ende, como ensina CARLOS DE CARVALHO,

do lugar onde foi celebrado o ato de sua consti~


tuição, resulta da soberania que originàriamente
lhes reconheceu a personalidade (Nova Canso~
lidação, art. 160) .
De onde, como conseqüência, se deduz
considera~se nacional
a) tôda a sociedade constituída no terri~
tório da República e autorizada por lei (idem,
art. 161).

Bsses princípios são também expostos por CLÓVIS


BEVILÁQUA (Direito Internacional PriVladoo, págs. 160 e-
161) .
253

Ora, na hipótese trata-se de uma sociedade anomma,


organizada no Brasil, de acôrdo com a lei brasileira, auto-
rizada a funcionar por decreto do Govêrno Federal, com
sede no Brasil, com seu campo de atividade no Brasil.
Não pode haver dúvida que se trata de uma sociedade
brasileira, e assim não se pode negar que o pedido é
feito por pessoa brasileira·.
É certo que se trata de uma associação e o Regula-
mento de Pesca, aprovado pelo Decreto n? 16. 184, de
25 de outubro de 1923. em seu art. 125, subordina a con-
cessão dos favores à condição de serem os requerentes

brasileiros sós ou associados em forma de colônia


de pescadores ou de outra qualquer.

É claro que essas expressões não compreendem formas


de associações. regularmente estabelecidas e definidas na
lei; tais ex·pressões visam grupos de indivíduos que se
associam para pescar sem constituição definida. Desde
que a associação revista uma form:l legal. ela adquire
uma personalidade própria, diversã da dos seus compo-
nentes; e é, certamente, a nacionalidade dela que se in-
quire, sendo ela a pretendente aos favores da lei. Sendo
a associação brasileira, nos têrmos legais, aquêles favores
indubitàvelmente podem lhe ser concedidos; solução con-
trária seria distinguir onde a lei não distinguiu.
Mesmo em relação à navegação de cabotagem, cuja
nacionalidade :n~o decorre de simples dispositivo de lei,
mas da própria Constituição, assim é. No Regulamento
.aprovado pelo Decreto n 9 2. 304, de 2 de julho de 1896.
dispõe .0 art. 5° que

pan um navio ser considerado nacional é preciso


Ci't~ sttja propriedade de cidadão brasileiro ou
254

de sociedade ou emprêsa considerada nacional


nos têrmos do § 2? .

E i!sses princípios foram reproduzidos no art. 16 do


nôvo Regulamento de Cabotagem aprovado pelo Decreto
n9 10.524, de 23 de outubro de 1913, e art. 326 do
Decreto n 9 J 1.505, de 4 de março de 1915.
E assim, sociedade brasileira, à requerente não vejo
como se lh~ negar os favores que a lei permite conceder
aos brasiletros que se entregam à indústria da pesca.

Quanto à interpretação a dar às expressões


companhias ou emprêsas que estiverem funcio~
nando na indústria da pesca,

de que usa o art. 126 do Decreto nç 16. 184, de 1923,


estou de pleno acôrdo com o parecer do Sr. Dr. Consultor-
Jurídico. Tais expressões não visam tão~sõmente as com~
panhias que já estavam funcionando ao tempo em que o·
Regulamento entrou em vigor. A interpretação contrária,
importando na proibição de conceder os favores da lei às
companhias ou emprêsas que se organizem depois da
regulamentação da indústria da pesca, não tem explicação
possível. Não me parece duvidoso, pois, que o dispositivo
visa tôdas as companhias ou emprêsas que já existissem
funcionando ao tempo da promulgação do Regulamento,
bem como aquêles que posteriormente se tenham organi~
zado ou se venham a organizar, desde que, umas e outras~
satisfaçam as exigências I.egais. Tais exigências consistem
em só ter nacionais ou estrangeiros naturalizados, em sua
direção administrativa.
A administração das sociedades anommas é definida
no art. 97 e seguintes do Decreto n9 434, de 4 de junho
255

de 1891. nela não se compreendendo, como pretende o


digno Sr. Vice~ Almirante, Diretor dos Portos e Costas,
nem o Conselho Fiscal, nem os acionistas que constituem
as assembléias gerais .
Nestes têrmos, é meu parecer, Sr. Ministro, que não
encontro embaraço legal ao deferimento do pedido, desde
que a requerente se sujeite às prescrições do art. 127 do
Regulamento. Devolvo os -papéis e tenho a honra de
renovar a V. Ex'-' meus protestos de elevada estima e
mui distinta consideração.

Rodrigo Octavio .
MCDLXII

Gabinete do Consultor-Geral da República --- Rio


de Janeiro, 17 de julho de 1924 - N? 61.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado da Viação e Obras


Públicas - Com o Aviso n9 78, de 24 de junho próximo·
findo, acompanhado do ofício do Sr. Presidente do
Esrado do Rio Grande do Sul. n'' 6, de 19 de maio do
corrente ano, que ora devolvo, solicitou V. Ex~ meu
parecer sôbre a questão de saber se estão sujeites a sêlo
estadual os req.uerimentos e conhecimentos concernentes
ao movimento de mercadorias no pôrto do Rio Grande.
A construção e exploração dêsse pôrto, originária-
mente concedidas à «Compagnie Française du Port de
Rio Grande do Sul», estão hoje a cargo do próprio
Estado do Rio Grande do Sul. a quem foram transferidas
pelo Decreto n'' 13.691. de 9 de julho de 1919, e, por
fôrça de cuja cláusula I

o Estado se obrigou a executar os serviços con-


tratados com aquela Compagnie.

Desacompanhado como veio a consulta do respectivo


processo, bem como do Aviso de que o referido ofício do
Sr. PresidE:nte do Rio Grande é resposta, presumo da
leitura dêsse ofício que motivasse a dúvida a cláusula
XXV do Decreto n'' 4. 228, de 6 de novembro de 190 I.
258

estendida às companhias concessionárias de obras de pôrto


pelo art. I9 do Decreto Legislativo n'' I . I44, de 30 de
dezembro de I903 .
Essa cláusula, reconhecendo que os serviços relativos
à concessão são federais, declara~os isentos de impostos.
Não me parece, entretanto, que o dispositivo dessa
cláusula, baseado no art. I O da Constituição, que veda
aos Estados tributar serviços a cargo da União, como
bens e rendas federais, possa cobrir os serviços de que
se trata.
Como bem lembrou o eminente Presidente do Rio
Grande em seu ofício, caso semelhante já foi objeto de
parecer meu, publicado a págs. 241 e seguintes do volume
6 dos Pareceres do Consultor-Geral. E aí, tratando de
apurar se estava coberto pela isenção constitucional, no
Estado de Santa Catarina, o transporte de dormentes para
a Estrada de Ferro do Paraná, próprio nacional, e cujos
serviços, a seu cargo, foram, no contrato, considerados
federais procurei dar a definição do que se deve entender
por serviço federal para o efeito da isenção de taxação
por parte dos Estados. E. de acôrdo com o critério ra~
cional, firmado pelo acórdão do Supremo Tribunal Fe~
dera!, de 11 de outubro de 1912, cheguei à conclusão de
que para aplicação do princípio constitucional será mister
que, além de ser próprio nacional bem explorado, seja a
exploração feita por agentes da União.
Assim, no caso de uma obra pública, o que goza de
isenção é essa obra em si, como bem, propriedade da
União, referindo~se a isenção a tôda a sorte de taxas ou
contribuições estaduais que nela pudessem incidir. Quanto
à exploração dessa obra, porém, se ela é feita por terceiros
259

e em seu benefício, não me parece que possa ser consi-


derado como serviço a cargo da União.
E na hi·pótese em estudo há uma circunstância que,
a meu ver, esclarece a situação.
A cláusula XLIII do Decreto relativo ao Estado do
Rio Grande ( nQ 13. 691, de 1919), que trata da isenção
constitucional de impostos, visa tão-sõmente os impostos
federais, nem podia se referir aos impostos estaduais por
isso que concessionário era o próprio Estado.
Acresce que a isenção é dada em benefício do Estado.
Tal isenção não pode, pois, cobrir, de maneira alguma,
impostos estaduais.
Ê êste, Sr. Ministro o parecer que submeto ao critério
superior de V. Ex~ a quem tenho a honra de renovar
meus protestos .de subida estima e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLXILI

Gabinete do Consultor-Geral da República -- Rio


de Janeiro, 19 de julho de 1924 - N 9 62.

Ex. mo Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Ma-:


rinha - Com o Aviso n? 2. 743, de 18 de junho próximo
findo, submeteu V. Ex" a meu estudo os papéis refe-
rentes ao requerimento do Capitão-de-Mar-e-Guerra gra-
duado Engenheiro Maquinista, reformado, João Antônio
da Costa Bastos, pedindo melhoria de sua reforma, de
acôrdo com o Decreto n'! 4. 740, de 24 de setembro
de 1923.
Sôbre o pedido foi ouvido o Conselho do Almiran-
tado, cujo parecer foi favorável à pretensão e com cujas
conclusões estou inteiramente de acôrdo.
De fato, das informações prestadas nos papéis se
evidencia que o requerente ,oficial reformado, de classe
anexa à Marinha, tem serviços na guerra do Paraguai e
prestou ainda serviços depois de sua reforma, satisfazendo
assim a exigência da referida lei.
Com êste parecer devolvo. os papéis e tenho a honra
de renovar a V. Ex'-' os meus protestos de ellfvada estima
e distinta consideração.

Rodrigo Octavio.
MCDLXIV

Gabinete do Consultor~Geral da República -- Rio


de Janeiro, 22 de julho de 1924 - N9 63.

Ex. me Sr. Minibtro de Estado dos Negócios da F a~


zenda - Com o Aviso n0 192, de 2'9 de setembro do
ano passado, cuja solução ficou retardada por diversas
circunstâncias, transmitiu~me V. Ex'! o processo relativo
à consulta do Ministério da Viação e Obras Públicas sôbre
a questão de saber se poderá ser extensiva a Ali America
Cables lncorporated, a isenção de pagamento do sêlo de
recibo de que goza a Western Telegraph Company, pelos
telegramas que taxa em seus balcões.
A questão, Sr. Ministro, não é fácil porque, apesar
do gôzo da referida isenção, em que está a Western, não
me parece que essa isenção seja legal.
De todos os contratos celebrados pelo Govêrno com
essa Companhia, que durante muitos anos teve entre nós
o monopólio da exploração telegráfica internacional. apenas
encontro a cláusula XX das que foram aprovadas pelo
Decreto n'! 5. 270, de 26 de abril de 1873, mantida pelo
Decreto n'-' 3.307, de 6 de junho de 1899, que, em sua
parte final. referindo~se a exploração dos cabos telegrá~
fic.os a fios terrestres - dá aparência de justificativa à
isenção do sêlo .
26-l

Entretanto, o estudo das concessões anteriores, como


da mesma cláusula, convence de que a isenção de contri~
buições que se visava era tão~somente a relativa aos cabos
e: materiais, bem como aos navios a serviço da companhia,
mas, de modo algum, taxas referentes propriamente ao
::;erviço telegráfico.
Tanto assim que, em requerimento de 23 de dezembro
de 1914, de que decorreu um dos processos anexos, a
W estern, para defender a isenção do impôs to do sêlo,
argumenta com a circunstância de que declararam as
cláusulas dos contratos que as instalações (cabos, esta~
ções, etc. ) fazem parte da propriedade do Estado
(mesmas cláusulas) e, como é sabido, o art. 1O da Cons~
tituição isenta de contribuições os bens federais e os ser-
viços a cargo da União .
O argumento, porén,, a meu ver, não prevalece
porque, muito embora se trate de bens do Estado, o
serviço não está a cargo da União e o dispositivo só cobri~
ria o serviço, como tenho procurado demonstrar em di~
versos pareceres (v oi. VI, dos Pareceres, pág. 241 ) ,
se êle fôsse executado por funcionários da União.
Não vejo, pois, fundamento indiscutível para o reco~
nhecimento da isenção do sêlo dos recibos; e a decisão
dêsse Ministério, tomada em sessão do Conselho de Fa~
zenda, de 9 de novembro de 1906 (processo anexo), foi
tomada contra o voto de todos os membros do Conselho
menos um.
A ser mantida, entretanto, essa decisão, em que se
tem baseado o gôzo da isenção que f rui a W estern, penso
que o mesmo favor deve ser concedido a Ali America, por
isso que a cláusula XXIII, das aprovadas pelo Decreto
n° 12. 599, de 11 de agôsto de 1917, concedeu a Central
265

& South American Telegraph Company, de que a Ali


America é cessionária

o gôzo de todos os favores concedidos às com~


panhias congêneres que funcionam no país.

Para mim, entretanto, a questão pode ser encarada,


sob outro aspecto que a resolve de modo mais fácil.
As taxas dos telegramas são pagas, geralmente, no
balcão, no momento de expedir o telegrama. É, pois,
operação que não está sujeita a sêlo e caso em que, salvo
se o interessado quiser um recibo, o recibo é desnecessário.
Aliás, pràticamente, o papel que as companhias en~
tregam ao expedidor não é propriamente um recibo (se
bem tenham essa forma), mas um documento com proba~
tório da expedição do telegrama a fim de que se reclame,
em caso de não entrega.
Nestas condições, quer me parecer que, com melhor
fundamento, ao menos de mais evidente procedência, se
pode reconhecer a isenção do sêlo, pelo reconhecimento
de que, no caso, não há recibo, modificando~se, se fôr
conveniente, a fórmula do papel que as companhias en~
tregam no balcão.
Com êste parecer, que submeto ao critério de V. Ex~,
dev.olvo os papéis e tenho a honra de renovar a V. Ex'.'
meus protestos de subida estima e mui distinta conside~
ração.

Rodrigo Octavio-.
APÊNDICE

MCDLXV

Gabinete do Consultor~Geral da República -- Rio


de Janeiro, 1O de abril de 1924 - Nq 64.

Sr Dulphe Pinheiro Machado - Digno Superinten~


o

dente do Abastecimento -- Respondendo à consulta que


me fêz, ·cabe~me dizer que, a meu ver, «o valor da merca~
doria» a que se refere o art. 2 C. do Decreto Legislativo
n~' 4 034, de 12 de janeiro de 1920, deve ser «o do preço
o

da venda, conforme o registro na Junta dos Corretores».


Êsse é o preço oficial da mercadoria e, pois, o valor
que deve servir de base para a desapropriação que dela
tenha o Govêrno de fazer o

A Constituição Federal assegura em tôda a sua pleni~


tu de o direito de propriedade ( art 72, § 17) ; a indeniza~
o

ção prévia devida pela desapropriação, com que êsse


mesmo dispositivo limita êsse direito, não pode deixar de
set o justo valor das coisas e, quando a coisa tem um
valor legai, êsse é o seu justo valor.
A hipótese de se encontrar a mercadoria - «à ordem»
ou ---- «em consignação», não modifica a situação. Tal
mercadoria não deixa de estar no mercado e assim também
sujeita às respectivas cotações oficiaiso
268

O art. 3'-', e, do Regulamento aprovado pelo Decreto


n'' 14.027, de 21 de janeiro de 1920, dispondo que a
Superintendência do Abastecimento pode «fixar os preços
máximos de venda» de certos gêneros é, a meu ver, incons~
titucional, pois fere o direito de propriedade e viola o
citado princípio constitucional que, salvo a desapropriação,
assegura êsse direito em tôda a sua plenitude. A questão,
po·rém, presta~se a muita controvérsia, cabendo ao Poder
Judiciário dizer a última palavra.

Sou com estima


de V.S.

Rodrigo Octávio
MCDLXVI

Gabinete do Consultor~Geral da República - Rio


de Janeiro, 1 de julho de 1924 - NQ 65.

Ex. 1110 Sr. Dr. R. Sampaio Vidal- M. D. Ministro


da Fazenda - Com a carta de V. Ex~ de 17 do corrente,
que acompanhou os dois pareceres, um por cópia, do
Sr. Dr. Clóvis Beviláqua, e outro em original. do Senhor
Dr. Dídimo da Veiga, Consultor da Fazenda, pareceres
que ora devolvo, solicitou V. Ex'·' minha opinião sôbre
a legalidade do dispositivo do art. 412 do Código de
Contabilidade.

Reza êsse artigo


os juros da dívida pública não prescrevem, se~
gundo expressa disposição da lei de 15 de novem~
bro de 1827.

Há na redação do artigo um evidente equívoco, na


referência que faz à lei de 1827, pois, ao contrário do
que no artigo se lê, essa lei dispositivo algum contém
deClarando, mesmo de modo implícito, que os juros dos
títulos da dívida pública sejam imprescritíveis.
É no Plano do Regimento Interno da Caixa de
I
~· . Amortização da Dívida N acionai. criada por aquela lei
de 1827, plano apresentado pela Junta de Administração
da mesma Caixa e com fôrça de lei, porque foi aprovado
270

pelo Decreto Legislativo de 8 de outubro de 1828, que


se encontram as disposições em virtude das quais se torna~
ram imprescritíveis os juros das apólices.

De fato; êsse regulamento dispôs no art. 2~> de .:;eu


Capítulo 4 que
como pode acontecer, e a experiência o tem de-
monstrado, que alguns possuidores de apólices
não venham ao tempo prefixo pela lei cobrar os
seus juros. . . se depositarão as quantias que
ficarão em ser em um cofre com o título de cofre
de juros em depósito

cuja escrituração vem em seguida no mesmo artigo espe~


cificada.
Ora, o depósito, por sua natureza, desde que o de·po~
sitário é obrigado à restituição de coisa depositada, em
qualquer tempo. é um instituto jurídico que exclui a
possibilidade de prescrição em favor do depositário. É
êste um princípio que sufragava o antigo direito ( Ord.
L. 4, Tít. 49, ~ 1''; Tít. 76, ~ 5''; T. DE FREITAS, Con~
solidação, art. 434; CARLOS DE CARVALHO, Nova Canso~
lidação, art. 1 . 186) e é mantido pelo direito atual ( Cód.
ComercíaL art. 450, Código CiviL art. 168, n'·' IV).
Aliás, no Código Civil há, da parte de todos os
comentadores (MERÉA, CLÓVIS, JoÃo Luís ALVES, EDUARDO
EsPÍNOLA, SPENCER VAMPRÉ, CARPENTER) restrições
quanto à inclusão dêsse dispositivo na parte relativa à
prescrição extintiva, quando êle deveria figurar na parte
referente à prescrição aquisitiva, ou usucapião. Já o pre~
claro Conselheiro, CARLOS DE CARVALHO, na sua Nova
Consolidação das Leis Civis, havia recolhido o princípio
correspondente, do art. 450 do Código Comercial a parte
referente à prescrição adquisitiva onde figura no art. 438.
271

Entretanto, a meu ver, salvo a questão do método,


a colocação do artigo importa pouco, uma vez que são
necessàriamente correlatos os direitos do devedor e do
credor no ponto-de-vista da prescrição, extintiva em rela-
ção a êste, aquisitiva em relação àquele. E não com-
preendo bem o sentido de algumas das observações da-
queles comentadores, porque é evidente que, se o dispo-
sitivo visa o devedor para o efeito de impedir a usucapião,
em todo o tempo, favorece também o credor, pois que,
enquanto não se opera a usucapião, tem êle ação para
pedir a entrega da coisa.
Em todo o caso, CLóVIS BEVILÁQUA, a cuja autori-
dade, vão geralmente se amparar êsses comentadores para
tratar, aliás, de modo obscuro, dos efeitos dêsse artigo,
ocupando-se dêle, quando ainda em projeto de Código
Civil, esclarece de modo categórico sua oposição à acei-
tação do artigo· ao ser apresentado pelo Conselheiro AN-
DRADE FIGUEIRA à Comissão de Estudos na Câmara dos
Deputados.
Na sua Te.oria Geral do Direito ( § 80, pág. 392),
o ilustre jurisconsulto pátrio explica a sua divergência e
acentua que

subsistindo o depósito, o depositante se acha na


dupla obrigação de guardar o objeto depositado
e entregá-lo, desde que fôr pedido,

razão pela qual não pode, em relação a êle, começar a


correr qualquer prazo de prescrição.
Por essas razões, em seus Comentários, o mesmo
erudito ,autor enuncia que a inclusão do dispositivo do
n9 IV do art. 168, lhe parece ociosa (vol. 1°, pág. 434,
da 2" edição) .
272

De tudo, porém, o que se deduz é que não podem


ser considerados prescritíveis os direitos do credor em
relação a coisas em depósito, e assim que não podem
prescrever os juros das apólices que fiquem em depósito
no respectivo cofre.

Resta, entretanto, apreciar ainda outro aspecto da


questão: a de saber se aquêle dispositivo do regulamento
de 1828 foi revogado pelo art. 20 do Decreto Legislativo
nQ 243, de 30 de novembro de 1841. que, depois de sus ..
pender, de 1 de janeiro de 1843 em seguinte, a inscrição
da dívida flutuante como dívida fundada, nos têrmos da
lei de 1827, declarando-as

inteiramente prescritas e perdido o direito de


requererem a liquidação e pagamento delas, es~
tatui que, da mesma data em diante, fiquem em
vigor os capítulos 209 e 240 do Regimento de
Fazenda, assim pelo que respeita à dívida pas-
siva posterior <tO ano de 1826, existente até
então, e à dívida futura. como pelo que respeita
a tôda a dívida ativa da Nação.

l!sses antigos Regimentos estabeleciam a prescnçao


qüinqüenal das dívidas passivas do Estado e explicando
o dispositivo da lei de 1841. o Decreto n'.> 857, de 12 de
novembro- de 1851, (depois revigorado pela Lei n9 1. 939,
.de 28 de agôsto de 1908, e art. 178, § 10, n'.> VI, do Código
Civil), estabeleceu em seu art. 2'.> que a prescrição de
5 anos, então posta em vigor, compreende
273

19 o direito que alguém pretenda ter a ser


declarado credor do Estado, sob qualquer título
que seja;
2 9 o direito que alguém tenha a haver
pagamento de uma dívida já reconhecida.

Por seus têrmos genéricos êsse dispositivo teria sem


dúvida revogado qualquer outro que houvesse disposto
acêrca da prescritibilidade dos juros de apólices, que,
fora de dúvida, constituem uma dívida do Estado.
Ocorre, porém, que tal dispositivo, como já ficou
acima exposto, não existe. A imprescritibilidade dêsses
juros decorre não de um texto direto mas como conse-
qüência de deverem os juros não pagos ser levados a um
cofre de depósito. E é fora de dúvida que êsse dispositivo
de lei que criou êsse cofre e mandou que . nêle fôssem
depositados os· juros não reclamados das apólices, não
podia ter sido afetado pelo dispositivo da lei de 1841 que
restabeleceu os princípios da prescrição qüinqüenal para
as dívidas do Estado, de qualquer natureza.
Em face destas considerações, é meu parecer que
não se pode cogitar da prescrição de juros não recebidos
de apóJ.ices enquanto não fôr revogada a disposição de
lei que os manda guardar em depósito, disposição que,
reproduzida nos diversos regulamentos da Caixa de Amor-
tização, foi ainda mantida no art. 150 do atual regulamento,
já aqui mencionado.

Devo, entretanto, Sr. Ministro, dizer que, jure cons..


títuendo, não vejo razão para a perpetuação dêsse dispo-
sitivo, que se traduz em tal privilégio. Para dar ao possui-
274

dor de apólices tôdas as garantias e tranqilidade no gôzo


de seus direitos, em relação a êsses títulos do Estado,
parece-me que bastaria estender aos juros das apólices a
aplicação do princípio do art. 32 da Lei nQ 628, de 17 de
setembro de 1851, que estabeleceu a prescrição de 30 anos
para os dinheiros de ausentes contados do dia em que
tiverem entrada nos cofres do Tesouro, princípio que
recebeu consagração no art. 1 . 594 do Código Civil.
Respondida por êste modo a consulta que V. Ex"
se dignou fazer-me, aproveito o ensejo para apresentar
a V. Ex 0 meus protestos de subida estima e consideração,
subscrevo-me de V. Ex'!

Rodrigo Octavio.
íNDICE
Pilgs.
MCDII -· GUERRA - Acumulação de vencimentos do
major graduado João Tôrres Cruz . . . . . . . . . . . . . 3
MCDIII - MARINHA - Sôldo do capitão-de-corveta re-
formado João Carlos Pereira Filho . . . . . . . . . . . . . . 5
MCDIV - FAZENDA - Incidência da firma Caldeira
& Cia.. de Uberaba, Minas Gerais. nos dispositivos
do impôsto sôbre a renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
MCDV - GUERRA - Restituição de quantias descontadas
dos vencimentos do Auditor-de-Guerra. Dr. Mario
Tibúrcio Gomes Carneiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
MCDVI - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMBRCIO
- Diferença de vencimentos pretendida pelo Di-
retor da Escola de Aprendizes Artífices de Campos,
engenheiro Crisanto Sá de Miranda Pinto . . . . . . 15
MCDVII - FAZENDA - Transferência a Basílio Pimenta
Filho do domínio útil de um terreno de marinha na
cidade de Vitória, Espírito Santo . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
MCDVIII - FAZENDA - Cobrança executiva à Com-
panhia Nacional de Navegação Costeira. do saldo de
sua responsabilidade para com o Lloyd Brasileiro
(Patrimônio Nacional) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
MCDIX - MARINHA - Melhoria de reforma do Capitão-
-de-mar-e-Guerra (J!'élduado, Dr. José Raulino de
Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
MCDX - JUSTIÇA E NEGóCIOS INTERIORES ~
Gratificação adicional pretendida pelo preparador
da Escola Politécnica. Dr. Augusto Bernacchi . 33
MCDXI --- AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMBRCIO
- Reintegração de Júlio Cãndido de Deus, antigo
ecônomo do Aprendizado Agrícola de S. Luís da
Missões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
MCDXII - FAZENDA - Transferência do domínio útil
de um terreno de marinha da rua Visconde do Rio
Branco, em Niterói. onde está edificado o prédio
n'' 403, antigo 103 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
276

P'ág::;.
MCDXIII - FAZENDA - Pagamento de E 17.500, pre-
tendido pela firma Figueirôa á Cia. Ltd., como li-
quidação de contratos de fornecimento de carvão
celebrados com o Lloyd Brasileiro ............. . 41
MCDXIV - GUERRA - Provimento da cadeira de por-
tuguês do Colégio Militar do Ceará ............ . 59
MCDXV - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMÉR-
CIO - Patentes de invenção requeriàas por Ma-
noel Augusto da Fonseca. Amorim Costa & Cia.
e Henrique Vieira Rezende ..................... . 61
MCDXVI - FAZENDA - Aforamento de acrescidos de
marinhr1 na rua Coronel Pedro Alves, pretendido
pela Emprêsa Industrial de Melhor~mentos no Brasil 65
MCDXVII - VIAÇAO E OBRAS PUBLICAS - Contro-
vérsia entre o Ministério c Presiàmte do Estado do
Rio Grande do Sul. a propósito das obras ao pôrto
de Pôrto Alegre ............................. . 69
MCDXVIII -- AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMÉR-
CIO - Patentes de im·en~ão pretendidas por An-
tônio Lahera e Dr. Aristides Guaraná ......... . 103
MCDXIX - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMÉR-
CIO - Gratificações pretendidas oelo porteiro e aju-
dante de porteiro da Diretoria Geral de Estatistica 107
MCDXX - FAZENDA - Isenção do impôs to sôbre
vendas mercantis pretendida pela Companhia de
Loterias Nacionais do Brasil .................. . 103
MCDXXI - MARINHA .. - Tempo de embarque do Ca-
pitão-de-F.agata Rogério Augusto de Siqueira .... 113
MCDXXII - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMÉR-
CIO - Nomeação efetiva pretendida pelo Dr. Si-
zenando Figueira de Freitas - Veterinário, interino,
do Serviço de Indl:stria Pastoril ....... o • • • • • • • • • • 117
MCDXXIII - FAZENDA - Aforamento de um tr:rreno de
marinha em São Gonçalo. Estado do Rio de Janeiro.
pretendido por Júlio de Freitas o • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 119
MCDXXIV - FAZENDA - Renovação da fiança do
p2gador da Delegacia Fiscal no Pará, Sebastião da
Silva . . ..... o. o....... o.... o. o.. o............ 121
MCDXXV - MARINHA - Pagamento de diferença de
vencimentos pretendida por D. Isabel Umbelina Ca-
bral, viúva do fiel da Armada Pedro Alves Cabral 123
MCDXXVI - MARINHA -- Caráter da disposição do ar-
tigo 13 dtl lei de fixação de fôrças navais para 1923 125
277

PiJ.gs.
MCDXXVII - MARINHA -- Requerimento do mestre adido
do Arsenal de Marinha de Mato Grosso Joaquim da
Silva pedindo para ser nomeado Mestre-Geral . . . . 127
MCDXXVIII - MARINHA - Contagem de tempo de pro-
moção do I'' Tenente comissário Octavio Pinto da
Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
MCDXXIX - FAZENDA - Percentagens a que se julgam
com direito o Dr. Didimo Agapito Fernandes da
Veiga e outros funcionários da extinta Procuradoria
da Fazenda Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
MCDXXX - MARINHA - Aposentadoria do op2rário
do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, já dis-
pensado do ponto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
MCDXXXI - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMER-
CIO - Requerimento de João Horácio de Campos
Cartier ....................................... . 141
MCDXXXII - FAZENDA -- Matrícula das Companhias de
Navegação Norddentscher Lloyd Bremen Lloycl Sa-
caude, Triestien. de Navegação Cosulisch e Lloyd
Real Hollandez, para o deito do impôsto sôbre a
renda . . ..................................... . 143
MCDXXXIII - 'FAZENDA - Restituição de direitos alfan-
degár;os pretendida pela firma Rodolpho M. Gui-
marães, de Santos ............................ . 119
MCDXXXIV - FAZENDA - Acumulação remunerada dos
funcionários de fazenda Dr. Antônio Maximo No-
gueira Penido, Antônio Henrique Magalhães de Al-
meida e América Joaquim Ferreira Ennes ....... . 155
MCDXXXV - FAZENDA - Transferência para o nome
do Dr. Eduardo Barretto Montebello do domínio útil
de um terreno de marinha em Niterói ........... . 159
MCDXXXVI - GUERRA - Anulação da reforma do AI-
feres-Aluno Genesco de Castro ................. . ló3
MCDXXXVII - FAZENDA -- Gratificações adicionais
dos empregados técnicos da Imprensa Nacional .. 167
MCÓXXXVIII- FAZENDA- Cobrança de taxa de mer-
cadorias entradas e saídas na barra do Rio Grande
do Sul ............. · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 171
MCDXXXIX - FAZENDA ~- Isenção de sêlo em reque-
·rimentos ela Companhia Nacional de Navegação Cos-
teira . . ................. · . · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 175
MCDXL - GUERRA - Situação do professor do Colégio
Militar, Dr. Laudelino de Oliveira Freire ....... . 177
278

Págs.
MCDXLI - GUERRA - Pagamento de sôldo ao !•-Tenente
reformado José Mamede da Silva Rondon. major
em comissão da Fôrça Pública de Mato Grosso . . 181
MCDXLII - GUERRA - Transferência do Capitão Eurico
Laranja para a 2' classe do Exército . . . . . . . . . . . . 183
MCDXLIII - MARINHA - Contagem de tempo do Ca-
pitão-Tenente Oswaldo Álvares Penna . . . . . . . . . . . . 185
MCDXLIV - GUERRA - Reintegração do ex-2°-Tenente
do extinto Corpo de Pie adores Annanias Gue ·r a de
Albuquerque Diniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
MCDXL V -- GUERRA -- Alteração da colocação de ofi-
ciais do Exército na respectiva escala . . . . . . . . . . . . 191
MCDXL VI - JUSTIÇA E NEGóCIOS INTERIORES
- Consulta da Legação dos Países Baixos sôbre a
legislação brasileira relativa <1 registro c arquiva-
mento de autos de caução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
MCDXL VII - GUERRA - Sôldo vitalício do alferes vo-
luntário da Pátria Manoel Rodrigues Branco . . . . . . 197
MCDXL VIII - AGRICULTURA. INDúSTRIA E CO-
MÉRCIO - Indenização por acidente no trabalho,
reclamada por Luiz Jacy Angelim, servente da Es-
cola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária 199
MCDXLIX- FAZENDA - Expedição de guia para paga-
mento de foros de terrenos, na cidade de São Paulo.
requerida por D. J úlia de Almeida Prado Penteado 20 l
MCDL - MARINHA - Diferença de vencimentos do Ca-
pitão de Corveta Renato Baymdino . . . . . . . . . . . . . 203
MCDLI - GUERRA - Sôldo de reforma do 2''-Tenente do
Exército Alfredo Cândido Moreira . . . . . . . . . . . . . . 207
MCDLII - FAZENDA - Aumedo provisório de venci-
mentos pretendido pelos e!llpregados da Secretaria
do Supremo Tribunal Federal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
MCDLIII - AGRICULTURA. INDúSTRIA E COMÉR-
CIO -- Gratificação adicional pretendida pelo
Dr. José Felippe de Santa Cecília, professor substi-
tuto da Escola de Minas de Ouro Prêto . . . . . . . . 213
MCDLIV - FAZENDA - Incorporação à pensão de mon-
tepio de D. Isabel Mendes Padilha da parte que
foi adjudicada a um filho espuno de seu falecido
marido capitão Antônio G. Padilhn . . . . . . . . . . . . . . 215
Págs.
MCDL V - MARINHA -- Requerimento do capitão de
corveta honorário Luiz Cláudio de Castilho, lente
substituto da Escola Naval. pedindo pagamento dos
vencimentos integrais de catedrático ou nomeação
para êssc cargo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2'19
MCDL VI - JUSTIÇA E NEGóCIOS INTERIORES -
Equívoco na colocação de ;,rts. e §§ na publicação
oficial do regulamento sõbrc concessão de licenças 225
MCDLVII - GUERRA -- Gratificação adicional preten-
dida pelo Dr. Djalma Rcgis Bittencourt. adjunto
do Colégio Militar do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . 231
MCDLVIII - FAZENDA -- Aplicação do dispositivo do
art. 2'' e §§ da LC?i n'' 1. 569. de 25 de agôsto de
1922. a todo o funcionalismo público . . . . . . . . . . . . . 235
MCDLIX - FAZENDA -- Aposentacloria do Chefe de Se-
ção da Alfândega de? Pernambuco Francisco Eugênio
Gonçalves de Medeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
MCDLX - FAZENDA -- Lcvant<tlllé'Jüo do seqüestro de
uma cautela requerido por Gustavo Olyntho de Aquino 243
MCDLXI - MARINHA Favcrcs especiais requeridos
pela Sodedade Anõnim<1 Indústria Matarazzo, de
Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
MCDLXII - VIAÇAO E OBRAS PúBLICAS - Cobrança
de sêlo estadual em requerimentos e conhecimentos
concernentes ao embarque de mercadorias no pôsto
do Rio Grande . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
MCDLXIII - MARINHA -- Melhoria de reforma do Ca-
pitão-de-Mar-e-Gu<'rr<~ graduado João Antônio da
Costa Bastos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
MCDLXIV - FAZENDA - Extensão à Ali America
Cables lncorp. da isenção de pagamento de sêlo
de recibo de que goza a Western Telagraph
Company . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263

AP~NDICE

MCDLXV - Fixação de preços de gêneros alimentícioo . . 267


MCDLX:VI - lmprescritibilidade de juros de apólices da di-
vicia pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
.
S UPR E MO TRIBUHAL FEDERAL

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