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ESTADO/CASO DE NECESSIDADE DOS EXPLORADORES

Os quatros exploradores estão em face de uma questão de vida ou morte, em 10 (dez)


dias morrerão de inanição ou têm que se alimentar da carne de um do outro. Essa é a
exemplificação clara do Estado de Necessidade em que a vida dos participantes está em risco.
Frente a isso, como podem ser punidos quando o instinto de sobrevivência fala mais alto?

Primeiramente, cabe entender a importância da punição na lei. Com a lei de morte do


universo distópico de Fuller quando aquele que mata é sujeito de punição, é possível de
entender que essa punição tem como objetivo claro de impedir a reincidência do crime por
terceiros. Contudo, ao trazer para a realidade dos exploradores, em que o instinto – inato ao
ser vivo – está presente para a manutenção da vida, é da práxis humana fazer tudo que lhes
têm em mão para sobreviver. Dessa forma, sujeitar os exploradores à forca não impedirá
crimes futuros, tornando ineficiente a punição.É possível perceber isso ao tomar como base a
palavra do filósofo prussiano Immanuel Kant de que

Uma lei penal deste tipo seria incapaz de produzir o efeito desejado uma vez que a
ameaça de um mal que ainda é incerto (morte determinada por uma sentença
judicial) não é capaz de superar o medo de um mal que é certo [...].
Conseqüentemente, o ato de salvar a própria vida por meio de violência não é para
ser julgado inculpável (inculpabile), mas apenas impunível (impunibile)[...] (KANT,
p. 81)

Nesse contexto, mesmo com a formalidade kantiana de a lei ser seguida estritamente, o
crime atuado pelos exploradores (de matar um semelhante) não deixa de ser um crime, mas se
torna impunível, impedindo dos homens de ler levados à forca.

SANTANA, Ana Lucia. Instinto Humano. Infoescola. Psicologia. Disponível em:


<http://www.infoescola.com/psicologia/instinto-humano>. Acesso em: 15 de jul. 2021.

KANT, I. A metafísica dos costumes. Trad. De Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2003.

MERLE, Jean-Christophe. Como os argumentos de Kant sobre o Estado de Necessidade são


refutados quando traduzidos em um experimento mental de duplo nível. Revista do Centro de
pesquisas e estudos Kantianos Valério Rohden, Marília, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 69-80,
Jan./Jun., 2013.
Os quatros exploradores estão em face de uma questão de vida ou morte: em 10 (dez)
dias morrerão de inanição ou terão que se alimentar da carne de um do outro. Essa é a
exemplificação clara do Estado de Necessidade em que a vida dos participantes está em risco.
Frente a isso, como podem ser punidos quando o instinto de sobrevivência fala mais alto?

Primeiramente, é válido ressaltar que os exploradores se encontravam à parte da


sociedade de Newgarth regida pelas leis do Direito Positivo. Portanto, eles estão submetidos a
um verdadeiro estado de natureza, regido tão somente pelo Direito Natural. Dessa maneira,
faz-se coerente julgá-los seguindo os mesmos princípios que nortearam as suas ações,
buscando uma interpretação teleológica dos fatos.

Nesse contexto, os exploradores sobreviventes configuravam-se em estado de


necessidade, visto que não havia nenhuma fonte de alimento animal ou vegetal dentro da
caverna que garantisse a manutenção de suas próprias vidas. Por conseguinte, torna-se
evidente que tal excludente de ilicitude corrobora a tese de que as graves condições físicas e
psicológicas que acometiam o grupo de exploradores arrogam sensibilidade e empatia dos
juízes, visando a uma justa decisão que considere o dramático e enternecedor panorama
outrora instaurado, como afirma a endocrinologista Rosana Radominski:

Ao ficar sem comida por um período prolongado, o corpo apresenta sintomas de


desnutrição, como emagrecimento, hipotensão e perda de eletrólitos, o que pode
causar arritmias cardíacas, redução das proteínas e diminuição do tamanho dos
órgãos - incluindo o cérebro -, torpor e, por fim, a morte. ‘Se a pessoa não tomar
pelo menos líquidos, a evolução é muito mais rápida: há desidratação, parada de
funcionamento dos rins, queda da pressão, arritmias cardíacas, falência dos órgãos e
a morte’, acrescenta.

O Estado de Necessidade consiste em uma situação não voluntária de perigo, na qual a


lesão ao bem jurídico de terceiro em detrimento da sua própria integridade física seja
imprescindível, não havendo outra opção. Em tais condições, para a teoria unitária do Estado
de Necessidade, se exclui a ilicitude do ato quando se sacrifica um bem jurídico de valor igual
ou inferior ao preservado. Desse modo, pode-se observar que as condições nas quais se
encontravam os exploradores são, precisamente, as descritas pelo conceito unitário do Estado
de Necessidade, isentando, portanto, os sujeitos envolvidos no acidente de qualquer tipo
sanção condenatória. 

Ademais, é pertinente pontuar, ainda, a definição do que é crime e como as práticas


humanas são analisadas para se enquadrarem em tal conceito. Dentre as várias definições da
palavra, uma das mais relevantes é “fato típico antijurídico e culpável”. Assim, o primeiro
passo na averiguação da existência e autoria de um crime, pelo devido Processo Penal, é a
análise da tipicidade da conduta, ou seja, se a conduta observada se encaixa à definição de um
crime, preenchendo todas as suas características, ela é típica. Apenas com a tipicidade já
categorizada, passa-se a averiguar a ilicitude, dessa forma, se uma conduta é considerada
atípica nunca será ilícita. 
Isso posto, pode-se concluir que, além de enquadrado no Estado de Necessidade, o
qual promove a exclusão de ilicitude, o caso dos exploradores da caverna é totalmente atípico,
tornando a conduta inválida de ser considerada crime. Portanto, faz-se mister uma reanálise
dos fatos, a fim de que se chegue à decisão mais coerente dentro do referido contexto, bem
como definir de forma mais justa o destino dos envolvidos no infeliz acidente.

Ademais, é importante entender a importância e o objetivo da punição na lei. Com a


lei no universo distópico de Fuller de que aquele que mata é sujeito de punição, é possível
compreender que essa punição tem como objetivo claro impedir a reincidência do crime por
terceiros. Contudo, ao trazer para a realidade dos exploradores em que o instinto – inato ao ser
vivo – está presente para a manutenção da vida, é da práxis humana fazer tudo que lhes têm
em mão para sobreviver. Dessa forma, sujeitar os exploradores à forca não impedirá crimes
futuros, tornando ineficiente a punição.  É possível perceber isso ao tomar como base a
palavra do filósofo prussiano Immanuel Kant de que

Uma lei penal deste tipo seria incapaz de produzir o efeito desejado uma vez que a
ameaça de um mal que ainda é incerto (morte determinada por uma sentença
judicial) não é capaz de superar o medo de um mal que é certo [...].
Conseqüentemente, o ato de salvar a própria vida por meio de violência não é para
ser julgado inculpável (inculpabile), mas apenas impunível (impunibile)[...] (KANT,
p. 81)

Nesse contexto, mesmo com a formalidade kantiana de a lei ser seguida estritamente,
o crime atuado pelos exploradores (de matar um semelhante) não deixa de ser um crime, mas
se torna impunível, tornando inconsequente o evento punitivo, isto é, morte pela forca.

De início, é relevante destacar que o Estado de Necessidade consiste em uma situação


não voluntária de perigo, na qual a lesão ao bem jurídico de terceiro em detrimento da sua
própria integridade física seja imprescindível, não havendo outra opção. Em tais condições,
para a teoria unitária do Estado de Necessidade, se exclui a ilicitude do ato quando se sacrifica
um bem jurídico de valor igual ou inferior ao preservado. Desse modo, pode-se observar que
as condições nas quais se encontravam os exploradores são, precisamente, as descritas pelo
conceito unitário do Estado de Necessidade, isentando, portanto, os sujeitos envolvidos no
acidente de qualquer tipo sanção condenatória. 
Ademais, é pertinente pontuar, ainda, a definição do que é crime e como as práticas
humanas são analisadas para se enquadrarem em tal conceito. Dentre as várias definições da
palavra, uma das mais relevantes é “fato típico antijurídico e culpável”. Assim, o primeiro
passo na averiguação da existência e autoria de um crime, pelo devido Processo Penal, é a
análise da tipicidade da conduta, ou seja, se a conduta observada se encaixa à definição de um
crime, preenchendo todas as suas características, ela é típica. Apenas com a tipicidade já
categorizada, passa-se a averiguar a ilicitude, dessa forma, se uma conduta é considerada
atípica nunca será ilícita. 
Isso posto, pode-se concluir que, além de enquadrado no Estado de Necessidade, o
qual promove a exclusão de ilicitude, o caso dos exploradores da caverna é totalmente atípico,
tornando a conduta inválida de ser considerada crime. Portanto, faz-se mister uma reanálise
dos fatos, a fim de que se chegue à decisão mais coerente dentro do referido contexto, bem
como definir de forma mais justa o destino dos envolvidos no infeliz acidente.

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