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13 de Outubro de 2023

Tese de acusação do caso dos


exploradores de caverna no
contexto do ordenamento
jurídico e social brasileiro.
Tese de acusação dos 4(quatro) espeleólogos
sobreviventes do trágico desabamento da caverna de
condado, pela morte de Roger Whetmore no ano de
1499.
Publicado por Carlos Daniel Santos há 3 anos

DOS FATOS-

Trata-se de uma ficção ocorrida no início de maio do ano de


4299, no condado de Stowfield, onde o espeleólogo Roger
Whetmore, juntamente com outros 4 (quatro) estudiosos da
sociedade de espeleologia partem para uma exploração no inte-
rior de uma caverna de rocha calcária.

Após certo tempo de decurso no interior da caverna um desas-


tre acontece e blocos de pedras desabam, de forma a inviabili-
zar a saída dos exploradores do local. Como a empreitada foi
acometida por esse fato, os seus familiares notificaram a de-
mora a uma equipe de resgate, que pouco tempo depois chegou
ao local.
No contexto em que as rochas se encontravam, foi constatado
que o tempo de resgate seria um pouco extenso devido a opera-
ção onerosa e de grande vulto, ou seja, seriam necessários di-
versos trabalhadores e de grande verba pública para a realizar,
de forma segura, a libertação.

Ao passar do tempo, coma ajuda de comunicadores à bateria,


Whetmore entrou em contato com a equipe de resgate, a qual
informou que o tempo mínimo de resgate seria de 10
(dez) dias. Nesse ponto do ocorrido, whetmore, tendo em
vista alegar que os suprimentos levados não seriam suficientes
ao tempo de "cárcere" na caverna, pede para falar com um pro-
fissional da saúde e solicita uma opinião sobre eles utilizarem
carne humana para sobreviver até o resgate, no entanto,
tal profissional decidiu se abster e não lhe deu nenhuma opi-
nião, favorável ou desfavorável , e isso ocorreu com mais auto-
ridades que se encontravam no local, como padres, membros
do ministério público, do poder judiciário, isto é, todos deci-
diram se abster e não instruir os exploradores.

Diante da situação de escassez alimentar e resignação por parte


de todos os espeleólogos, Whetmore propôs para os compa-
nheiros que um deles fosse sacrificado para que os outros pu-
dessem sobreviver. Indagando-os se seria coerente tirar a sorte
nos dados. Todos aceitaram. Whetmore foi o sorteado. No en-
tanto, ele desistiu, e mesmo assim, seus colegas, o retiraram a
vida, de forma cruel, indevida, e em um verdadeiro ato de terro-
rismo o comeram, parte por parte.

E dessa forma, todos devem ser responsabilizados de acordo


com o nosso código penal, sob pena de abrir um precedente pe-
rigosíssimo no ordenamento jurídico do nosso país e resguar-
dar a impunidade, a conivência e a omissão no Brasil, que pos-
tulado por um estado democrático de direito jamais irá aquies-
cer a tese de defesa dessa atrocidade.
DOS FUNDAMENTOS PARA ACUSAÇÃO-

1- Da aplicabilidade do código penal aos fatos

Muito se discute pela parte contrária que o nosso ordenamento


jurídico é simplesmente INAPLICÁVEL ao referido ato de se-
vera repugnância, e que dessa forma os acusados devem ser ab-
solvidos pela atipicidade da conduta, ou seja, é defendida a tese
de que os 3 réus estariam sob a égide de um "direito natural",
que busca fundamento no DOGMATISMO e no NO SENSO CO-
MUM a fim de se chegar à equidade e à justiça.

Sob tal ótica naturalista, indago-me sempre que a leio neste


caso concreto, pois o processo penal busca, além de tudo, a ins-
trução quanto aos fatos e a autoria, sendo respeitado sempre o
princípio da territorialidade, que está sendo mitigado de forma
explícita pela parte contrária, ao afirmar que pelo fato de os ex-
ploradores estarem em um caverna fechada, sem acesso ao ex-
terior, teriam estes a prerrogativa de dispor de direitos e violar
as regras e a principiologia da República Federativa do Brasil, o
que se mostra incongruente e deveras absurdo. Isso pois:

Durante quase toda operação de resgate houve COMUNICA-


ÇÃO com autoridades do lado de fora da caverna, feita por meio
de aparelho eletrônico de radiodifusão;

Pois todos detinham condições normais para determinarem-se


de que o resgate estava sendo feito.

E por último e não menos importante, pois nossos costumes e


jurisprudências não se coadunam com a dita tese de atipicidade
da conduta, visto que, nas favelas cariocas, onde a prestação es-
tatal é mínima, em todos os requisitos básicos, onde a governa-
bilidade é instituto exercido pela criminalidade, por milícias,
grupos armados, comandos carcerários, seria possível que estes
citados inovem o ordenamento jurídico, imponham um outro,
que possam matar, estuprar, traficar e dessa forma, não serem
punidos pelo estado?

A resposta certamente é NÃO. E é isso que defende a parte con-


trária, é esse o conceito de justiça dogmática que querem lhes
impor.

2-Da imputabilidade e culpabilidade dos agentes

De acordo com a teoria geral do crime, e em sua forma tripar-


tite, postula-se que o crime é formado por FATO TÍPICO, ILÍ-
CITO E CULPÁVEL, e que a retirada de um destes pode excluir
o crime ou isentar de pena o (s) acusado (s).

A defesa postula que os três acusados agiram sob a excludente


de ilicitude de ESTADO DE NECESSIDADE, ou seja, como
já foi dito, que são abarcados pela atipicidade da con-
duta. No entanto, a aplicabilidade dessa discriminante não se
sustenta por motivos juridicamente concretos. Estes são:

"De acordo com o artigo 24 do Código Penal , consi-


dera-se em estado de necessidade quem pratica o
fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, di-
reito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circuns-
tâncias, não era razoável exigir-se".

Nesse sentido, observa-se que o perigo atual é requisito típico


da discriminante, e pergunto-lhes, o perigo atual que se encon-
travam os exploradores era o perigo de morte por inanição? pe-
rigo de alguma infecção letal? perigo de outro desabamento?
e como resposta, lhes trago outro fato, o fato de que na última
comunicação de Roger com autoridades responsáveis pelo res-
gate, ele afirma que os seus mantimentos e o dos demais esta-
vam ESCASSOS, e não acabados, e foi nesse momento que
houve a proposta de jogarem o sacrifício nos dados, repito, di-
ante da ESCASSEZ de alimento. Dessa forma não há o que se
falar em PERIGO ATUAL, não há o que se falar em exigên-
cia de sacrifício. Nessa perspectiva, retomo minha pergunta
inicial, qual seria o perigo atual plenamente justificante para a
retirada de uma vida naquelas circunstâncias?

Feita a exposição da inexistência de estado de necessi-


dade, outro ponto a ser destrinchado e que a conduta dos acu-
sados se amolda perfeitamente em todos os requisitos do
crime.

Atentemo-nos primeiramente ao primeiro requisito de fácil ex-


planação, o fato típico. Visto que a conduta dos réus foi eviden-
temente DOLOSA, dotada de NEXO CAUSAL, e de RESUL-
TADO NATURALÍSTICO MORTE.

Segundamente, ao principal requisito do caso, a CULPABILI-


DADE. No entanto , a vejo com olhos de evidente justiça, e evi-
dente aplicabilidade, tendo em linhas que a IMPUTABILI-
DADE, CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE E EXIGIBILIDADE DE
CONDUTA DIVERSA se fazem presentes de forma terrivel-
mente nua, visível. Pois, os agentes, com comida ESCASSA, sob
o domínio de forte emoção, de medo, resignação, ainda deti-
nham a potencial consciência sobre a ilicitude do fato, sobre o
que estavam fazendo ao matarem seu colega de forma bruta, de
forma cruel, e depois, em um ato horripilante, o comerem, e
degustarem o sabor da maldade, da repugnância, sabor este que
não vinha de Roger, e sim deles próprios.
De acordo com o endocrinologista e professor de medicina na
Universidade de Porto "A resistência à fome depende de uma
série de fatores, como o estado nutricional, mas em geral, e
“tendo em conta o que está descrito em vários estudos, no má-
ximo será possível aguentar entre 50 a 75 dias” ( clique para
ler mais). E tendo em vista os autos, os socorristas deram um
prazo de 10 dias, se não ocorressem outros imprevistos, a ne-
cessidade, a proporcionalidade se mostram indecorosas, e sem
fundamentação.

E mesmo que tenha sido meu cliente a propor o jogo, e serem


seus os dados que jogaram, e ter sido ele o escolhido para sacri-
ficar-se, ele desistiu, não permitiu dispor de sua vida, e se a
tese do contrato natural não vigora, ele detinha todo direito de
voltar atrás, cumprindo cláusulas, como em qualquer contrato,
como em qualquer acerto de vontades, que não justifica em
maneira alguma a invalidação da vida. Ou seja, a situação asse-
gurava conduta diversa, a situação assegurava que os réus to-
massem diversas medidas de rumos distintos a tomada.

Poderiam; esperar a ação da natureza, e resolverem se alimen-


tar do explorador que primeiro falecer em razão da situação,
poderiam até simplesmente guardarem seus suprimentos ES-
CASSOS para a situação de resistência final. Dessa forma fica
nítido que as ações empreendidas foram errôneas e que neces-
sitam de severa punição, a fim de resguardar a ordem social e o
estado democrático de direito.

3- Da inaplicabilidade do perdão judicial e a formação


de precedente
A aplicação do perdão judicial, pela comoção pública, pela re-
percussão do caso, pela situação dificultosa que se encontra-
vam os agentes, parece-me ato processual de natureza social
perigoso e obscuro nos fins do direito penal, tendo em vista
toda argumentação de autoria, materialidade e resultado cau-
sado. O perdão judicial, usado diversas vezes em nossos julga-
mentos, como súmula persuasiva permite uma eficácia jurídica
retilínea e uniforme aos nossos julgadores, no entanto, a aber-
tura de precedente desta magnitude não importa uma eficácia
jurídica em prol da verdade, em prol do justo, da situação deli-
tiva dos agentes, mas sim em uma atrocidade que será usada
para diversos crimes horrendos, trazendo mais aberrações jurí-
dicas ao nosso ordenamento. Portanto, o clamor público, a
massa leiga, que é inspecionada ideologicamente não pode to-
mar os poderes de um julgador ilibado, que além de assinar
uma decisão no caso concreto, também condiciona de forma di-
reta o futuro de uma nação.

DA APELAÇÃO-

Diante dos fatos constatados, acerca da autoria e da materiali-


dade, acerca da aplicabilidade penal aos acusados.

Requeiro a condenação dos três réus da ação penal


por; HOMICÍDIO QUALIFICADO por emprego de tor-
tura, meio insidioso e cruel pela morte de Roger Whet-
more, no ano de 1499, no condado de Stowfield. vistas
ao artigo 121,§ 2º,III, DO CÓDIGO PENAL.

Requeiro também a instrução para a averiguação da responsa-


bilidade das autoridades presentes ao lado externo da caverna,
pela omissão em vista á vontade e as indagações de whetmore
quanto ao sacrifício da vida em prol de outras.
Estudo sobre a inanição e morte pela fome:
https://www.público.pt/2015/10/18/mundo/noticia/em-greve-
de-fome-uma-pessoa-pode-resistir-no-maximo-....

Carlos Daniel Santos - 27/11/20

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/tese-de-acusacao-do-caso-dos-


exploradores-de-caverna-no-contexto-do-ordenamento-juridico-e-social-brasileiro/1132671208

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