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A Autonomia da Vontade nos Contratos Internacionais do Comércio 199

A Autonomia da Vontade nos defendem a total autonomia contratual das par-


tes, não é ilimitada, e os contraentes não gozam
gais de juristas daquele país, que são os mais
habilitados a atestarem o caráter imperativo de
Contratos Internacionais do Comércio de ampla liberdade na determinação e estipula-
ção da natureza e características de suas obri-
suas normas e os seus princípios de ordem pú-
blica.
gações. As limitações à liberdade contratual de- Devemos ter presente, contudo, que o pro-
MARISTELA BASSO correm justamente deste misterioso fenômeno blema da ordem pública somente se levantará
que é a ordem pública, do qual não nos interes- mais tarde, quando o contrato estiver concluído
Advogada e Professora de Direito Internacional sa a definição, mas sim a função e o conteúdo4. e em fase de execução, pois é neste estágio que
Observa Irineu Strenger que "é tarefa com- pode surgir a questão do direito aplicado ao con-
plexa, se não impossível, identificar e conhecer trato: se as partes tinham o direito (liberdade)
o exato conteúdo da ordem pública interna e de escolhê-lo e se, escolhendo-o, respeitaram
SUMÁRIO internacional, de cada Estado, concernente ao suas regras e princípios de ordem pública.
1. Considerações Iniciais; 2. A Autonomia da Vontade no Contrato Internacional; 3. A Autonomia da Vontade e a
contrato". A ordem pública, segundo este autor, Impõe-se, portanto, no decurso das tratati-
Lei Aplicável ao Contrato: 3.1. A Regra de Direito Internacional Privado que Faculta as Partes a Escolha da Lei "não é determinável por meio de elencos, e nem vas, que os negociadores tomem o cuidado de
Aplicável ao Contrato nos Países da Civil Law; 3.2. O Artigo 9 da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro; 3.3. é possível adotar métodos analógicos e critérios não elaborarem um contrato que pode perder
A Regra da Autonomia da Vontade nos Países da Common Law; 3.4. A Autonomia da Vontade da Jurisprudência aproximativos", pois "cada Estado estabelece sua sua eficácia em caso de choque com os princípi-
Arbitral e nas Convenções Internacionais; 4. O Momento em que Pode Intervir a Liberdade da Escolha das Partes ordem pública, e os tratados internacionais, os basilares do edifício jurídico do país onde o
Quanto a Lei Aplicável ao Contrato e a Questão do Dépeçage; 5. Os Limites Estratégicos à Escolha das Partes
porventura existentes, não têm força jurídica, a contrato deva ser executado. Razão pela qual os
Quanto a Lei Aplicável ao Contrato; 6. O Contrato Sem Lei e os Limites da Vontade das Partes; 7. O Debate Acerca
da Substituição do Método Conflitual de Regulamentação do Contrato Internacional por Outro Mais Consentãneo não ser em virtude da adesão dos Estados"5, advogados-negociadores devem conhecer o di-
com as Particularidades do Comércio Internacional: 7.1. As Técnicas Alternativas ao Método Conflitual; 7.2. Nos contratos internacionais as limitações à reito do país do outro contratante, assim como
Crítica às Técnicas Alternativas e Observações Acerca de Uma Possível Solução aos Problemas da Aplicação do autonomia das partes decorrem tanto das no- os sistemas jurídicos que direta ou indiretamente
Método Conflitual aos Contratos Internacionais do Comércio; Notas. ções de ordem pública interna, como de ordem geram efeitos sobre o contrato pretendido, se-
pública internacional. Quanto a primeira, deve- gundo os seus elementos de estraneidade.
mos entender aquele complexo de normas e prin-
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS pelo concurso de vontades, de criar, modificar cípios imperativos determinados pelo legislador
e sobre o qual se assenta o edifício jurídico, com
3. A AUTONOMIA DA VONTADE E A LEI
ou extinguir relações jurídicas; vinculada a au- APLICÁVEL AO CONTRATO
Não obstante os inúmeros e palpitantes de- tonomia da vontade está a teoria normativa do o entendimento de que cabe basicamente ao jul-
bates travados pelos doutrinadores nacionais 1 negócio jurídico. Luigi Ferri, a propósito, prefe- gador a interpretação de seu conteúdo - do foro Todo contrato internacional, ainda que so-
e estrangeiros acerca da autonomia da vontade re a expressão "autonomia privada" 2, como fa- íntimo daquele que julga, alicerçado nos pilares bre ele incidam muitas ordens jurídicas distin-
em direito internacional privado, vale a pena re- culdade de criar, nos limites da lei, normas jurí- da construção jurídico-social. Vincent Heuzé traz tas, está necessariamente vinculado à lei de um
tomar alguns aspectos de uma temática delica- dicas3. alguns elementos novos à compreensão de or- Estado, ainda que alguns doutrinadores defen-
da e importante que se refere ao problema do dem pública afirmando que o "direito objetivo dam a possibilidade de um "contrato sem lei"
limite da vontade das partes no contrato inter- exerce um estreito controle sobre a utilidade, ou "autoregulamentado".
2. A AUTONOMIA DA VONTADE NO
nacional, mais especificamente na determina- não somente social, mas ainda particular das Existem sistemas jurídicos que estabelecem
CONTRATO INTERNACIONAL
ção, durante o período de tratativas, da lei apli- convenções, garantindo, paralelamente, sua restrições ao princípio da autonomia contratu-
cável ao contrato. Na elaboração do contrato internacional, a conformidade à justiça social" 6 • al, como é o caso do Brasil (art. 9 da Lei de In-
No direito contratual o princípio da autono- vontade das partes é amplamente admitida, mas No que se refere à ordem pública internacio- trodução ao Côdigo Civil brasileiro). Outros li-
mia da vontade se manifesta na liberdade pro- isso não significa uma liberdade de ação ilimi- nal, persiste a questão de em que medida esta mitam a escolha a uma lei que tenha relação
priamente dita de contratar, de estipular o con- tada, UIJ1 absolutismo, como defendem alguns pode exercer os mesmos efeitos moduladores de com as partes ou com o negócio, por exemplo, a
trato e seu conteúdo. Significa aquela esfera de autores. É verdade que o comércio internacio- cláusulas livremente estipuladas. Segundo lei do lugar da execução (lex loci execucionis),
liberdade de que gozam as partes, no âmbito do nal tem contribuído para fortalecer os alicerces Strenger, "na medida em que o direito interno ou a lei da nacionalidade ou domicílio das par-
direito privado, de auto-regência de seus pró- da lex voluntatis, que, entretanto, não pode afas- reconhece a sua validade" 7 • tes, 01,1 a lei da constituição da obrigação (locus
prios interesses, de discutir livremente as con- tar certos elementos limitadores, tais como: as A questão, portanto, permanece complexa e regit actum). Outros são totalmente liberais e
dições do contrato pretendido, bem como de es- leis imperativas e de ordem pública que vigo- difícil. Assim, os doutrinadores jus-internacio- reconhecem às partes a faculdade de escolha da
colher aquele mais conveniente. Por outras pa- ram no país onde o contrato será executado. nalistas têm procurado reduzir os efeitos da or- lei aplicável, que poderá ser o direito de um país
lavras, é a faculdade das partes de regerem-se Extremamente difícil é a definição de ordem dem pública e seu impacto sobre o contrato ne- considerado neutro, ou aquele que melhor se
por suas próprias leis, de praticar um ato jurí- pública e, certamente, não pretendemos abrir gociado. Da mesma forma a jurisprudência tem adapte às circunstâncias do contrato, mas evi-
dico determinando-lhe o conteúdo, a forma, as- aqui esta questão já amplamente debatida. Po- revelado que os juízes quando devem aplicar leis dentemente, esta liberdade sofre certas limita-
sim como os efeitos. rém, nos serve a reflexão de que a faculdade de estrangeiras o fazem com base nas opiniões le- ções.
Simplificadamente, é a aptitlão que possui auto-regulamentação dos contraentes, não obs-
toda pessoa capaz, pela vontade unilateral ou tante as teses consensualistas clássicas que

198 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996
200 Maristela Basso A Autonomia qa Vontade nos Contratos Internacionais do Comércio 201

3.1. A Regra de Direito Internacional "La loi applicable aux contrais, soit en ce tante é saber como se comportará o juiz nacio- custa de trabalho e competência por parte dos
Privado que Faculta as Partes a Escolha da qui concerne leur formation, soit quant à leurs nal diante de um contrato internacional onde negociadores" 19).
Lei Aplicável ao Contrato nos Países da "Civil effets et conditions, est celle que les parties há cláusula de escolha de lei: ele aceitará que a
Law" ont adoptée "II. vontade das partes derrogue a regra contida no
3.3. A Regra da Autonomia da Vontade nos
Recentemente, em 1980, novamente a Corte art. 9, caput, da Lei de Introdução ao Código
Países da "Common Law"
Partindo da premissa de que todo contrato de Cassação francesa, no caso "Sté Mercator Civil brasileiro? 17
internacional está necessariamente vinculado à Press", estabeleceu outra célebre fórmula que Essa é uma questão extremamente difícil e Continuando no estudo da lei de autonomia,
lei de um Estado, devem os negociadores obser- somada a anterior fixam o <iireito positivo fran- objeto de debate por parte de nossos doutrina- passamos agora ao sistema da Common Law,
var que a lei aplicável ao contrato, segundo a cês em matéria de contratos internacionais: dores, e que não encontra uma resposta precisa oportunidade em que constataremos que a lei
qual este deve fundamentalmente se conformar "Si la localisation du con.trat dépend de la na jurisprudência. Então, o melhor para um aplicável ao contrato, a proper law of a contract,
frente os seus princípios imperativos e de or- volonté des partie, .c'est aujuge qu'il appar- negociador é procurar, na medida do possível, é aquela determinada, a título principal, pela
dem pública, depende da escolha das partes. tient, aprés avoir interprété souverainement compatibilizar o contrato com as leis aplicáveis escolha das partes, conforme entendimento
Então, ainda que o contrato se vincule a muitas leur commune if1tention quant à cette locali- potencialmente. O que equivale a dizer que não consubstanciado no caso "Vita Food Products
ordens jurídicas autónomas e independentes sation, de déduire de celle-ci la loi applicable deve ferir os princípios de ordem pública de um Inc. v. Unus Shipping Co.", de 1939, quando
(segundo a nacionalidade das partes, domicílio, au contrat litigieux. "I2 ou outro ordenamento jurídico em questão, pro- Iord Wright sustentou: "it is now well settled that
lugar da constituição da obrigação, etc.) a liber- Da' mesma forma, na Alemanha, Bélgica, curando adequar as cláusulas e condições às by english_law the próper law of the contract is
dade das partes encontra como limites "a proi- Países Baixos e em Luxemburgo, a jurisprudên- peculiaridades dos direitos com os quais o con- the law which the parties intended to apply" 20 ,
bição de violar as regras de ordein pública do cia também consagrou as partes a lei de auto- trato se conecta, quer quando se trate de possí- princípio apoiado pela jurisprudência.
sistema jurídico com o qual o contrato pode en- nomia. Vale referir que nos países do BENELUX, vel disputa judicial, quer quando da homologa- Nos Estados Unidos, durante muitos anos,
trar em contado para produzir efeitos"8 . a questão vem expressamente colocada no "Tra- ção e eventual execução judicial de um laudo registrou-se certa confusão e incertezas quanto
Certamente, ao afirmarmos que a lei aplicá- tado Sobre a Lei Uniforme em Metéria de Direi- arbitral. Nesta linha de raciocínio, entendemos a determinação da lei aplicáVel aos contratos,
vel ao contrato depende da escolha das partes, .to Internacional Privado'', firmado em 1969, o que o art. 9, caput, da Lei de Introdução ao Có· mas finalmente a regra da autonomia das par-
estamos levando em consideração um estudo qual prevê que a designação da lei aplicável ao digo Civil brasileiro, como notma de ordem pú- tes acabou por se impor à prática e à doutrina.
comparativo entre diversos sistemas nacionais contrato' pode resultar de uma escolha expressa blica, não pode ser afastado pela vontade das Em 1953, a Suprema Corte, no caso "Lauritzen
de direito internacional privado, que evidencia ou implícita das partes (art. 13, 3)1 3 . partes 18). Assim, a regra de prudência que o v. Larsen" 21 , se pronunciou a favor da regra e,
uma quase uniformidade no que concerne à lei · Na Itália, o legisladOr deu um passo adiante negociador deve observar é procurar realizar o mais tarde, o Uniform Commercial Code ( 1962)
aplicável ao contrato e às obrigações dele resul- quando determinou expressamente, nas "Dispo- negócio no p~s cuja lei pretende que seja apli- previu também que as partes podem escolher a
tantes. Esta lei é a lei de autonomia, ou seja, a sições Preliminares do Código Civil de 1942", a cada ao contrato, razão pela qual, é irhportante lei aplicável aos contratos (Seções 1-105).
lei que as partes escolheram para submeter o autonomia da vontade das partes quanto à lei a escolha do local da negociação. Todavia, esta
seu contrato; outras regras podem governar cer- aplicável ao contrato 14 • O mesmo encontramos não é uma solução definitiva para os possíveis
3.4. A Autonomia da Vontade na
tos aspectos particulares, por exemplo 1 a regra no Código Civil português 15. problemas, porque pode âcontecer que o con-
Jurisprudência Arbitral e Nas Convenções
locus regit actum no que concerne à forma do Continuando com os países da Civil Law, vê- trato celebrado num determinado país, seja exe-
Internacionais
contrato. Atualmente, a regra de direito inter- se que o princípio da autonomia da vontade pa- cutado em outro, ensejando novos problemas
nacional privado que faculta as partes, de uma rece que ainda não conseguiu se impor na mai- quanto à lei aplicável. :Diz-nos Luiz Olavo Bap- A regra da autonomia está também consa-
maneira ou de outra, escolherem a lei de regên~ oria dos países da América Latinà, que insistem tista, com muita propriedade, que "as cláusulas grada na prática do comércio internacional e o
cia do contrato é encontrada em quase todos os em conceder a sua própria lei maior competên- de eleiçào.de lei e foro são, é claro, fórmulas que seu reconhecimento fica evidenciado na juris-
sistemas jurídicos nacionais. ·cia, com exceção do Peru e do Méxicó, depois de muitos pensam poder resolver de modo definiti- prudência arbitral, que parece nunca ter posto
A propósito da autonomia da vontade, a con- 1987. vo a questão da lei aplicável~o. Contudo, afirma em dúvida a ·faculdade das partes de escolhe-
trovérsia que se instaurou na doutrina entre a Dentre os países que compõem o MERCO- o autor, "quem quer que tenha uma certa expe- rem a lei apllcável ao contrato.
segunda metade do século XIX e início deste SUL, no Brasil e Paraguai, a autonomia da von- riência internacional sabe que elas não geram O Tribunal Arbitral de 23 de agosto de 1958,
nosso 9 , parece que hoje perdeu sua força, jus- tade ainda não conseguiu se impor, ao passo certezas absolutas. Daí a escolha, por muitos, composto para resolver o importante e debatido
tamente pelo fato de que a regra de autonomia que na Argentina a jurisprudência tem aceito e da cláusula arbitral como meio de evitar os con- caso "Saudi Arabia v. Arabian American Oil Com-
vem consagrada, como já se disse, na imensa o princípio começa a preponderar 16 ; quanto ao flitos de lei. Esta não é também uma solução pany" (caso Aranco), determinou:
maioria dos sistemas de direito internacional Uruguai, a questão resta em debate. perfeita". Para este autor, "a conclusão é que "Les príncipes de droit intemational privé
privado do mundo 10 • Na França, já em 1910, a todos esses recursos devem ser conjugados para à consulter pour déterminer laloi applicable
jurisprudência consagrou a regra que confere que se chegue a um grau maior de certeza jurí- sont ceux de l'autonomie de la volonté, en
3.2. O Artigo 9º da Lei de Introdução ao dica- que será relativa e não absoluta". Frente
as partes a faculdade de escolha da lei aplicável vertú desquels il Jaut dans une convention
Código Civil Brasileiro
ao contrato quando a Corte de Cassação, no caso a esta realidade, continua Luiz Olavo: "a verda- ayant un caractere international, appliquer
"American Trading Company v. Quebec Stea- No que se refere, especificamente, ao orde- de é a de que não há uma solução universal e en premier lieu la loi expressément choisie
mship Company Limíted", decidiu: namento jurídico brasileiro, uma questão impor- que cada contrato é um caso a ser resolvido, à parles parties, et en second lieu, à defaut

Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 19% Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996
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de choix, la loi présomptivement élue par el- Se poderia dizer que é o conjunto de circuns- Por "qualsiasi momento" se entende a todo A "Convenção de Roma", não obstante as dis-
les"22. tâncias e elementos do caso concreto, mas esta momento até a conclusão, e mesmo após, tanto cussões travadas entre os expertos encarrega-
Em 1977, a questão foi novamente debatida nos parece uma resposta vaga, razão pela qual que no mesmo preceito citado (parte final) en- dos da sua redação, tratou o tema do dépeçage
e a regra reàfirmada no caso "République Arabe reproduziremos algumas situações que, a nos- contramos: em dois momentos, no final do item 1, do art. 3:
de Libye v. California Asiatic Oil Company et so ver, autorizariam o juiz a fazer esta constata- "qualsiasi modUka relativa alla determi- "le parti possono designare la legge applicabile
Texaco Overseas Petroleum Company", ocasião ção: nazione della legge applicabile, intervenuta a tutto il contratto, ovvero a una parte soltanto
em que o único árbito, Dupuy, afirmou: a) quando as partes no contrato anterior- posteriormente alla conclusione del contrai- di esso", e mais adiante, no art. 4 ("legge appli-
"Tous les systemes juridiques, quel qu'ils mente feito entre elas fizeram uma escolha ex- to, non inficia la validitàformale del contrai- cabile in mancanza di scelta"), oportunidade em
soient, appliquent le príncipe de l'autonomie pressa da lei aplicável, e existem elementos que to e non pregiudica i diritti dei terzi". que a "Convenção" possibilita ao julgador, ex-
de la volonté aux contrats internationaux. nos fazem crer que não houve mudança de ati- Esse entendimento é compartilhado pelos cepcionalmente, atuar com vistas ao dépeçage:
Quant au fond, tous les systemes juridiques tude entre as mesmas; tribunais franceses, alemães, holandeses e in- "Art. 4 (1). Nella misura in cui la legge che
consacrent ce príncipe, qui apparait des lors b) quando as partes escolheram o forum de gleses. Todavia, a Corte de Cassação italiana, regala il contratto non sia stata scelta a nor-
comme universellement reçu, même s'il ne lui um determinado pqís como competente para em um julgamento ocorrido em 1966, caso "As- ma dell'articolo 3, il contratto e regolato dalla
est pas toujours donné exactement le même dirimir as possíveis controvérsias; se as leis deste sael Nissim v. Crespi", declarou que a escolha legge del paese col quale presenta il collega-
sens ou la même portée"23, não são incompatíveis com as disposições do das partes, quanto a lei aplicável, não é admiti- mento piu stretto. Tuttavia, qualora una par-
Essa mesma compreensão está nos textos contrato, se presume que estas tenham sido tam- da se efetuada posteriormente a estipulação do te del contratto sia separabile dal resto e pre-
internacionais. A "Convenção Sobre Lei Aplicá- bém escolhidas pelas partes para reger o con- contrato 25 • Certamente, essa é uma decisão an- senti un collegamento piu stretto con un altro
vel às Vendas Internacionais de Objetos Móveis trato; terior a referida "Convenção de Roma", mas acer- paese, a tale parte del contratto potrà appli-
Corpóreos", concluída em Haia (1955), entre c) quando no contrato as partes tenham fei- ca dela continua dividida a doutrina italiana26 • carsi, in via eccezionale, la legge di quest' altro
vários países europeus, e que entrou em vigor to, em alguma de suas cláusulas, referência ao Não obstante o disposto na citada Conven- paese".
em 1964, preceitua: direito de um determinado país, por exemplo, ção, entendemos que o melhor para um negoci-
"Art. 2. La venta est régie par la loi inter- ao Código Civil português, pode-se presumir que ador prudente é escolher a lei aplicável quando
ne du pays désigné par les parties contrac- S. OS LIMITES ESTRATÉGICOS À ESCOLHA
tenham escolhido este direito para reger o con- isso lhe é facultado: durante o período de nego-
tantes". DAS PARTES QUANTO À LEI APLICÁVEL AO
trato; ciação até a conclusão do contrato; escolha esta
No mesmo sentido está a "Convenção Euro- CONTRATO
d) quando estipularam a solução dos litígi- que deve ser criteriosa e atenta porque uma vez
péia sobre Arbitragem Comercial Internacional", os através da arbitragem, e determinaram o lu- efetuada, convém as partes não alterá-la mais. A autonomia da vontade, conforme dito an-
concluída em Genebra, em 1961 e que entrou gar onde esta deva se realizar, se presume que a Outra questão que se apresenta é se as par- teriormente, sofre limitações que decorrem das
em vigor em 1964: lei escolhida seja a deste mesmo lugar24. tes devem escolher um só sistema de direito para noções de ordem pública e das regras imperati-
"Art. 8. Les parties sont libres de déter- reger a totalidade do contrato, ou podem esco- vas (limites legais). Além destes, a escolha das
miner le droit que les arbitres devront appli- lher mais de um, isto é, podem realizar um dépe- partes sofre outras restrições as quais denomi-
quer aufond du litige". 4. O MOMENTO EM QUE PODE INTERVIR A
çage (divisão do contrato de forma que cada ses- namos limites estratégicos, que devem, da mes-
Finalmente, a "Convenção de Roma Sobre a LIBERDADE DE ESCOLHA DAS PARTES
são ou segmento seja submetido a sistemas na- ma forma, ser observados para que a cláusula
Lei Aplicável às Obrigações Contratuais", firma- QUANTO A LEI APLICÁVEL AO CONTRATO E
cionais diversos). de escolha da lei possa produzir os efeitos dese-
da em 1980, entre os países da Comunidade A QUESTÃO DO "DÉPEÇAGE"
A respeito dessa indagação, existem poucas jados, uma vez concluído o contrato.
Européia, estabelece: A questão que decorre quando se debate esta decisões na prática, mas a tendência é de consi- O primeiro limite estratégico, é o caráter in-
Art. 3,{1} Il contratto e regolato dalla le- temática é se as partes podem modificar, por derar o dépeçage possível, desde que o critério ternacional do contrato. Por outras palavras, a
gge scelta dalle parti. La scelta dev'essere novo acordo entre elas, a lei que tinham prece- adotado pelas partes seja coerente, o que equi- aplicação da regra de autonomia está subordi-
espressa, o risultare in modo ragionevolmen- dentemente escolhido para reger o contrato. vale a dizer que os diversos direitos que regem nada ao caráter internacional do contrato, não
te certo dalle disposizioni del contrattoo dal- Mesm9 frente às muitas discussões travadas os elementos do contrato não podem, quando sendo possível que entre em funcionamento esta
le circostanze. Le parti possono designare la a respeito, a questão parece não ter uma solu- analisados no seu conjunto, ensejar resultados regra em se tratando de um contrato puramen-
legge applicabile a tutto il contratto, ovvero a ção aparente. A "Convenção de Roma Sobre Lei contraditórios. te interno. A .este respeito, encontramos o se-
una parte soltanto di essa". Aplicável às Obrigações Contratuais" estabele- Do que se conclui que a opção pelo dépeçage guinte fragmento na "Exposição de Motivos da
Da prática do comércio internacional, e da ce: não é fácil, pois harmonizar sistemas de direito Lei Uniforme BENELUX em Matéria de Direito
análise dos textos mais importantes acerca da "Art. 3, (2) Le parti possono convenire, in com vistas a um determinado resultado não é, Internacional Privado":
matéria, decorre que a liberdade de escolha das qualsiasi momento, di sottoporre il contratto via de regra, uma tarefa simples. Em razão dis- "dans un contrat international, c'est-à-dire
partes é admitida, normalmente, mesmo que esta ad una legge diversa da quella che lo regala- so é que compartilhamos com aqueles autores un contrat qui comporte des éléments
resulte de uma manifestação implícita. va in precedenza, vuoi infunzione di una scel- que entendem que, a princípio, o contrato deve d 'extranéité donnat à plusieurs lois vocation
Diante disso, que elementos autorizariam o ta anteriore secando il presente articolo, vuoi ser regido por uma única lei, há não ser que se de s'y appliquer, les parties ont la faculté de
juiz a constatar que as partes fizeram uma ver- infunzione di altre disposizioni della presente . trate de um grande contrato que se decompõe choisir la loi qui le régira"27.
dadeira escolha da lei se esta não estiver ex- convenzione". em outros separáveis e independentes, para os Na escolha da lei aplicável ao contrato inter-
pressamente declarada no contrato? quais as partes podem escolher leis diferentes. nacional, as partes devem considerar também,

Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996 Revista da faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996
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como limite estratégico, os sistemas nacionais vas e os princípios de ordem pública que são direito nacional, como estrangeiro. A regra que "Para qualificar e reger as obrigações,
de direito que estejam em estreita relação com o inderrogáveis pela vontade das partes. determina a lei aplicável às diferentes relações aplicar-se-à a lei do país em que se constitu-
mesmo. Imaginemos, por exemplo, a possibili- A faculdade de autoregulamentação dos con- de direito privado que possuem elementos de írem";
dade de projetarmos o contrato no espaço, en- traentes, como é sabido, não é ilimitada, não estraneidade são tradicionalmente denominadas Art. 25 Disp. Prel. C.C. italiano:
tão perceberemos em que ordenamentos jurídi- encontra a sua fonte exclusivamente na vonta- de regras de direito internacional privado ou "Le obbligazioni che nascono da contrat-
cos ele irradia efeitos, consoante seus elemen- de das partes, mas pressupõe uma lei que a atri- regras de conflito de leis. to sono regolate dalla legge nazionale dei
tos de estraneidade (conexão). A escolha da lei bua e reconheça. Evidentemente, as regras sobre conflito de e
contraenti, se comune; altrimenti da quella
aplicável, conseqüentemente, deve recair sobre Então, não é possível um contrato sem lei, e leis em matéria de contratos não são necessari- e
del luogo nel quale il contratto stato con-
um destes sistemas nacionais de direito, espe- a este respeito a Corte de Cassação Francesa, amente iguais em todos os sistemas jurídicos chiuso. É salva in ogni caso la diversa volon-
cialmente sobre aquele com o qual o contrato no importante caso "Messageries Maritimes" nacionais, diferenciando-se quanto à determi- tà delle parti. "
esteja mais estreitamente vinculado - elemen- (1950), repudiou a tese do contrato sem lei e nação do critério (elemento de conexão) que in- Quanto a regra de conflito brasileira, se vê
1
to de conexão relevante. decidiu: "tout contrat international est néces- dicará a lei aplicável. Vejamos um exemplo con- que o legislador escolheu, dentre os possíveis
Não é razoável, portanto, escolher um siste- sairement rattaché à la loi d'un Etat" 29 • creto do que se está demonstrando, e para tan- elementos de estraneidade que podem porven-
ma de direito que não possua qualquer relação Um contrato sem lei, ou autoregulamentado, to utilizaremos o art. 9, caput, da "Lei de Intro- tura vincular-se a uma obrigação, como elemen-
com o contrato, sem que se levante, em princi- é, sem dúvida, uma prática perigosa na medida dução ao Côdigo Civil brasileiro" e o art. 25 das to de conexão o locus regit actum. A solução,
pio, o problema da fraude à lei. em que devemos ter presente que somente a lei "Disposições Preliminares do Código Civil itali- portanto, para o caso concreto envolvendo con-
As partes devem ter presente que a escolha pode, em principio, impedir, também nas rela- ano", ambas regras de conflito em matéria obri- trato internacional apreciado no Brasil, será
da lei do contrato somente produzirá efeitos se ções internacionais, que uma das partes, dita gacional: art. 9 L.I.C.C. brasileiro: extraído do direito substancial do lugar onde o
no pais onde ele for aberto a regra de direito economicamente mais forte, explore a mais frá- contrato foi celebrado - lex loci actum:
internacional privado faculte as partes esta es- gil. Um contrato sem lei facilitaria o desenvolvi-
colha; e se esta corresponder a um legítimo in- mento dessas relações contratuais patológicas
que se instauram, muitas vezes, no período ne- 1º Passo 2º Passo
teresse das partes.
Concluindo, para que a cláusula de escolha gocial. Em razão disso, o melhor é não recorrer-
Contrato Localização da Norma de Aplicação do Direito Substancial
da lei possa produzir efeitos é preciso respeitar mos a tal prática porque somente a lei pode ga- do lugar onde o Contrato foi celebrado:
Internacional Conflito: art. 9 da LICC
a máxima: rantir não só o equilíbrio da relação contratual,
aberto no Brasil lex loci actum
como também os interesses de terceiros e ou-
Escolha da Lei tros reconhecidos nos ordenamentos estatais,
(quando facultado Legitimo como as cláusulas económicas, etc. Na regra de conflito italiana, contrariamente do que acontece no Brasil, o legislador concede às
pela regra de Direito ---------------- interesse partes a faculdade de escolha da lei aplicável ao contrato. Porém, se os contraentes não gozarem
Internacional Privado das partes 7. O DEBATE ACERCA DA SUBSTITUIÇÃO DO desta liberdade, o elemento de conexão supletivo que o juiz deve observar é a lex patriae das
do pais onde for aberto MÉTODO CONFLITUAL DA partes, se comum: caso contrário, a lex loci actum:
o Contrato)
REGULAMENTAÇÃO DO CONTRATO
INTERNACIONAL POR OUTRO MAIS 1º Passo 2º Passo
6. O CONTRATO SEM LEI E OS LIMITES DA CONSENTÂNEO COM AS PARTICULARIDADES
VONTADE DAS PARTES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL Contrato Localização da Norma de Aplicação do Direito Substancial
Internacional Conflito: art. 25 das Disp. indicado pelas partes,
Muito difundida e contestada é a tese sus- A relação jurídica que possui um ou mais
aberto na Itália Prel. do C.C. ou supletivamente: a lex patriae ou
tentada por alguns autores28 de que o poder de elementos de estraneidade é submetida a uma
a lex loci actum
autoregulamentação reconhecido às partes lhes regulamentação especial -jus specialis. Esse
consente de disciplinar o contrato segundo às direito especial, diferentemente do jus commu-
suas necessidades e os interesses do comércio nis, é composto de regras que não regulam dire-
internacional. Desta forma, as partes gozariam tamente a relação (não fazem juizos lógicos hi- 7.1. As Técnicas Alternativas ao Método blemas dos contratos internacionais do comér-
da faculdade de submeter o contrato, não a um potéticos), porém indicam o sistema nacional de Conflitual cio. Sustentam, então, que tais contratos devem
sistema nacional de direito especifico, mas sim direito a ser aplicado ao caso sub judice, conso- ser apreciados através de decisões operadas na
aos princípios decorrentes da prática comercial ante o elemento de conexão (método indireto de Alguns doutrinadores, que denominamos prática, pois o que ocorre no setor do comércio
internacional, às decisões arbitrais, etc., elabo- solução). "autonomistas absolutos", ou seja, defensores internacional escapa à perspectiva dos sistemas
rando um contrato dito sem lei (estatal), ou au- Disso decorre que o juiz nacional quando se incondicionais da autonomia contratual das nacionais das normas de conflito3o.
toregulamentado. vê diante de um contrato internacional, deve partes, têm sugerido abandonar o método con- A esse respeito, em obra recente, Renê David
Os que repudiam essa tese, se baseiam na interpretar a regra especial e tirar dela a indica- flitual, analisado acima, porque ele não estaria nos traz importante contribuição na medida em
premissa básica de que no campo da autono- ção da regra material (direito substancial) a ser em condições de regular adequadamente os pro- que aprofunda o debate e faz um balanço da
mia contratual subsistem as normas imperati- aplicada ao caso concreto, que poderá ser tanto

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situação atual, apresentando um panorama do dere adequadamente as suas especificidades: O direito internacional privado material pode Philippe Kahn, subsistem acerca da natureza
que ele chama "direito internacional renovado". qual seria esta nova proposta e qual o seu valor encontrar suas fontes nos tratados internacio- deste direito e das instituições nascidas da prá-
Sustenta David: jurídico? nais e na função normativa do juiz35. tica37.
"La soumission du commerce internatio- Em resposta a essa indagação, procuraremos, Não intencionamos aqui abrir esta discus-
nal à des droits nationaux n'est pas en soi ainda que em largos traços, especificar que no- são, todavia algumas reflexões nos permitimos
7.1.3. O Contrato Sem Lei ou
une bonne solution; et surtout le commerce vas técnicas ou métodos poderiam ser seguidos apresentar para que possamos impostar a ma-
Autoregulame11tado
international est dominé en maints secteurs em substituição ao conflitual. téria em modo critico.
par des organisations professionnelles puis- Uma terceira possibilidade é a elaboração de A teoria da nova lex mercatoria se baseia fun-
santes, dont les entreprises reconnaissent um contrato sem lei, ou autoregulamentado (vis- damentalmente nos contratos internacionais, na
7.1.1. As Leis de Aplicação Imediata to anteriormente), no qual as partes submetem riqueza de figuras contratuais nascidas da prá-
l' autorité ... En dehors même de tout droit cor-
poratif on sait d'auire part que pour une sé- Comecemos por um método que na verdade o contrato às suas próprias necessidades e à tica, na inovação dos regimes jurídicos oriun-
rie de raisons de droit des juristes risque de retrocede no que se rMere às teses autonomis- realidade do comércio internacional. dos das cláusulas elaboradas pelas partes, como
demeurer théoriques: parce qu'il ne parait tas surgidas no âmbito do comércio internacio- também nas operações do comércio internacio-
pas juste ou parce que les intéressés le con- nal, mas que também merece seu espaço no nal que se realizam fora de referências precisas
7.1.4. A Opção Pela Nova "Lex Mercatoria"
naissent mal ou parce que sa mise en oeuvre debate que ora propomos. Referimo-nos à técni- aos direitos nacionais. Conseqüentemente, os
se heurte à des obstacles d'ordres divers. Ces ca que defende a não consideração do elemento Finalmente, a técnica que se apresenta, como práticos do comércio internacional constituíram
obstacles sont multipliés dans le cas du com- de estraneidade contido no caso que está sendo substituição ao método conflitual tradicional, é uma comunidade (societas mercatorum) que ela-
merce international. Le droit national que les analisado, e a aplicação imediata das regras a possibilidade de escolher para o contrato, como bora as suas próprias regras. Também as sen-
juristes peuvent considérer comme applica- substanciais do direito interno que lhe são rela- lei aplicável, a nova lex mercatoria. tenças arbitrais proferidas em controvérsias
cle risque dans ces conditions de ne pas re- tivas: leis de aplicação imediata. Esse procedi- É sabido que o comércio internacional está envolvendo contratos internacionais, têm papel
cevoir sa pleine application"31, mento se baseia fundamentalmente no princí- submetido às novas necessidades e às novas de destaque na teoria da nova lex mercatoria.
Das lições de David, se conclui que a nacio- pio do "exclusivismo da ordem jurídica", e na práticas, que vão surgindo sem que nos aperce- Finalmente, poder-se-ia citar os regulamentos
nalização do direito internacional privado cria mentalidade de que o direito do foro é o mais bamos sob a forma de cláusulas standard, de estabelecidos pelas organizações profissionais.
para o comércio internacional uma situação que adequado, não só porque seus tribunais o co- contratos-tipo, de condições gerais, de usos que Por conseguinte, como método alternativo ao
apresenta graves inconvenientes, tais como: l) nhecem melhor, como porque ele é o mais ade- vão se reiterando, consagrando e difundindo, até conflitual, a nova lex mercatoria oferece como
pluralidade de jurisdições nacionais que se con- quado que se pode utilizar33, se transformarem em princípios e institutos fontes: as condições gerais de compra e venda
sideram competentes para conhecer de um de- novos que resultam do influxo das relações in- internacional, os contratos-tipo, os usos codifi-
terminado litígio; 2) diversidade de regras de ternacionais. cados e, como jurisdição, a arbitragem interna-
7.1.2. O Direito Internacional Privado Os negócios internacionais são para os ju- cional.
conflitos de leis aplicáveis por estas jurisdições;
Material ristas um verdadeiro desafio, pois eles se vêem
3) diversidade de regras materiais consagradas
pelos direitos nacionais que podem aqui e lá ser O segundo método alternativo ao conflitual, obrigados a adaptar as necessidades de seus
7.2. Crítica às Técnicas Alternativas e
declaradas aplicáveis; 4) inadaptação das regras é a utilização, para a disciplina dos contratos clientes à sistemas jurídicos e legislações mui-
Observações Acerca de Uma Possível Solução
de direito nacional à especificidade das relações internacionais, do intitulado direito internacio- tas vezes divergentes, até mesmo quanto a prin-
aos Problemas da Aplicação do Método
de direito internacional; 5) dificuldade de esta- nal privado material, segundo o qual o legisla- cípios básicos.
Conflitual aos Contratos Internacionais do
belecer o conteúdo do direito estrangeiro decla- dor pode adotar uma solução diversa, isto é, criar O comércio internacional, por conseguinte,
Comércio
rado aplicável por uma jurisdição nacional; 6) um verdadeiro epróprio sistema de direito subs- exige negócios mais rápidos e seguros, impos-
dificuldades de execução de sentenças estran- tancial para as relações jurídicas que apresen- tos menores, lucros maiores, e desta realidade No que se refere ao método que prevê a apli-
geiras32. tam elementos de estraneidade. inexorável surge um conjunto de normas não cação imediata das regras substanciais do di-
Tais considerações não podem ser ignoradas Cassoni, que considera esse método a via a estatais, um direito transnacional do comércio, reito do foro,· "leis de aplicação imediata", sem
por mais consagrado que esteja, ·no âmbito dos ser seguida, recorda que esta técnica existia no ao qual se convencionou chamar nova lex mer- considerar os elementos de estraneidade, se pode
direitos nacionais, o método conflitual como so- direito romano quando, ao lado do jus civile, foi catoria: usos e costumes nos quais a prática dizer que parte de um fundamento equivocado e
lução dos problemas do contrato internacional. criado o jus gentium, cuja fonte estava na juris- internacional se conforma. que representaria, a nosso ver, um retrocesso
O debate que se abre é extremamente interes- dicio do praetor peregrinus, e se encontra no Sobre a nova lex mercatoria muito já se es- relativamente às conquistas já obtidas pelo di-
sante nos estimulando a aprofundar um pouco Código Civil tchecoslovaco, de 4 de dezembro de creveu desde que em 1960 começaram a surgir reito internacional privado, na medida em que
mais o discurso a ponto de questionarmos a afir- 1963, no qual o legislador disciplinou comple- os primeiros textos projetando a idéia de um se baseia no "exclusivismo da ordem jurídica",
mação de que a internacionalidade do contrato tamente as relações que nascem do comércio direito internacional específico para as relações num momento jurídico-político em que a unifi-
exige uma regulamentação especial que consi- internacionaJ34. econômicas 36 . A partir de então, se multiplica- cação de certos segmentos dos direitos nacio-
ram as discussões doutrinárias a respeito do nais se torna mais e mais freqüente. Há que se
chamado direito internacional econõmico, da questionar também o critério de justiça e eqüi-
nova lex mercatoria, do direito transnacional, dade dos possíveis julgamentos proferidos com
porém as interrogações fundamentais, observa base neste sistema, já que o juiz estaria adstrito

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a aplicar sempre o corpo de normas de seu ter- man, a propósito, no seu primeiro artigo sobre É preciso reconhecer, por um lado, que a nova Entendemos que a harmonização das regras
ritório, mesmo quando, consoante os elementos o tema, escrito em 1964, defendeu que "le ca- lex mercatoria ainda se encontra em estado di- de conflito em matéria contratual, resolveria, em
de estraneidade, deveria aplicar direito substan- ractére de regle ne peut pas être rejusé aux élé- fuso, mesmo que tenhamos as publicações das princípio, os inconvenientes que decorrem da
cial estrangeiro. Talvez, por estas razões, hoje, ments constitutifs de la lex mercatoria", e mais sentenças arbitrais da Câmara de Comércio In- diversidade dessas regras nos vários ordenamen-
praticamente nenhum país adota este método a tarde, em 1979, completou que "la lex mercato- ternacional de Paris, nas quais não se exaurem tos jurídicos. Nesse sentido, os esforços dos pa-
título principal. ria remplit bien la fonction d'un ensemble de as suas fontes 42 • Por outro lado, precisamos ter íses que compõem a União Européia revelam que
No que diz respeito ao "direito internacional regles de droit"40 • presente que os contratos internacionais ainda tal medida é possível.
privado material". nos parece que se foi possível Com muita objetividade Ugo Draetta coloca: encontram sua legitimação nos ordenamentos O mesmo poder-se-ia intentar nos países que
e útil aos romanos erguer um jus gentium ao "la lex mercatoria appare quindi in ques- internos, e, para uma melhor interpretação e integram o MERCOSUL45 , o que não impediria,
lado do jus civile, poderia ser também hoje uma ta ottica come um vero e proprio sistema nor- mais adequado julgamento, contam com a boa num segundo momento, a unificação da maté-
possibilidade. Entretanto, exigiria uma nova mativo che fonda la sua giuridicità sulla eifet- vontade dos juízes que, com base nos "princípi- ria num plano internacional mais vasto, onde o
reestruturação jurídica e novamente encontra- tività, sia nel senso di concreta attitudine a os gerais de direito" e nos "costumes". podem alicerce seria um "direito internacional renova-
ríamos países que o adotariam e outros não. regolare jattispecie contrattuali complesse reconhecer os usos do comércio internacional do". obra de juristas e não juristas, administra-
Conseqüentemente, as dificuldades no que con- relativamente alle quali gli ordinamenti inter- como fontes de direito, realidade corrente na dores e comerciantes preparados para compre-
cerne as divergências de tratamento quanto a ni si rivelano inadequati, sia nel senso di França. Os contratos internacionais contam ender os problemas transnacionais fora de suas
disciplina dos contratos internacionais persis- capacità di imporsi come giuridicamente vin- também com a perspicácia dos legisladores que próprias tradições nacionais. A elaboração de
tiria. São válidos os argumentos que sustentam colante per gli operatori economici, in virtú podem elaborar normas adequadas para a ma- um direito internacional melhor estaria vincu-
como fonte do direito internacional privado ma- della opinio necessitatis che essi nutrono nei téria envolvendo o comércio internacional, como lado, portanto, ao desenvolvimento dos estudos
terial a função normativa do juiz, que agindo suoi conjronti" 41 • aconteceu na Tchecoslováquia; e até mesmo com de direito comparado indispensáveis â forma-
com plena autonomia atua como se fosse um Sem levantar as controvérsias acerca da na- a ratificação dos tratados internacionais de ca- ção de juristas, juízes e árbitros imbuídos de
legislador. Isso já ocorre na França, onde o juiz, tureza da nova lex mercatoria, porque teríamos, ráter comercial que são ipso facto incorporados um espírito internacional 46 •
ainda que não autorizado expressamente pelo indubitavelmente, que enfrentar as teses oposi- ao direito interno.
Código Civil, opera criando uma jurisprudência cionistas, o que exigiria entrar num campo de Sem dúvida, faz-se imprescindível uma dis- NOTAS DE REFERÊNCIA
que poderia ser considerada como uma discipli- investigação que por si só ensejaria um traba- ciplina específica dos contratos internacionais.
1 No Brasil, dois extraordinários trabalhos abordam
na material autónoma dos contratos interna- lho específico, cumpre-nos reconhecer que, como Todas as técnicas aqui apresentadas de substi- esta matéria: o primeiro deles de Irineu Strenger,
cionais. sistema ordinário de normas, a nova lex merca- tuição do método conflitual são suscetíveis de "Da automonia da vontade em direito internacional
Acerca do "contrato sem lei", resta pouco a toria já encontra o seu reconhecimento em re- críticas. Somente um estudo mais profundo nos privado". São Paulo: RT, 1968; e o segundo de Ja-
acrescentar, uma vez que a vontade dos contra- gras específicas, como acontece no Código de permitirá avaliar até que ponto se pode reco- cob Dolinger, MEvolução da ordem pública no direi-
entes não é absoluta, nem toma seu ponto de Processo Civil francês, que sofreu modificações nhecer a autonomia negocial das partes: se é to internacional privado". Rio de Janeiro, 1979.
apoio em si mesma, encontrando seu sustentá- em 1981 (Dec. nº 81-500), cujo art. 1497 pre- aquela reconhecida segundo os vários ordena- 2 "L'autonomia privata". Milano: Giuffre, 1959, p. 5.
3 Ainda sobre este argumento: Francisco dos Santos
culo na lei, que lhe deu forma e sanciona: con- ceitua: mentos jurídicos internos, ou é mais ampla in- Amaral Neto, "A autonomia privada como princípio
forme bem demonstra Vincent Heuz ao criticar, "l'arbitre tranche le litige conformément serindo-se nos princípios da nova lex mercato- fundamental da ordem jurídica - perspectivas es-
em seu livro, o dogma da autonomia da vonta- aux rêgles de droit que .les parties ont choisi- ria43. trutural e funcional", in "Revista de Informação Le-
de3s. es; à defaut d'un tel choix, conformément à Enquanto resta em aberto o debate, a solu- gislativa", nº 102, ano 26, abr./jun., 1989, p. 207-
No que se refere a nova lex mercatoria, mui- ceUes qu'il estime appropriees. Il tient comp~. ção é. inicialmente, reconsiderar as normas de 30.
4 A este respeito interessantíssimo é o trabalho de P.
tas questões emergem, para as quais ainda não te dans tous les cas des usages de commer- conflito (método tradicional) em matéria de con- Lagarde: "Recherches sur l'ordre public en droit in-
temos uma resposta precisa. A primeira delas é ce." tratos, as quais podem se diferenciar uma das ternational privé". Paris: L.D.G.J., 1959, p. 175 e
determinar se a nova lex mercatoria constitui Da mesma forma, a nova lex mercatoria é outras em razão da pluralidade de ordens jurí- ss.
uma ordem jurídica nas mesmas condições que reconhecida nas sentenças arbitrais internacio- t dicas. Então, devemos compará-las entre si, pro- 5 "Contratos 'internacionais do comércio". São Paulo:
as ordens jurídicas estatais, ou a ordem inter- nais. ~4 curando identificar as semelhanças e diversida- RT, 1986, p. 98.
nacional. Conseqüentemente. se a lex mercato- Não obstante a irrefutável constatação de que des de solução com referência a prática, com 6 "La reglementation française des contrats internati-
onaux- étude critique des méthodes". Paris: Morei
ria constitui uma ordem jurídica, esta coexisti- a nova lex mercatoria é a lei mais adequada a vistas à adoção de regras de conflito uniforme 44 • et Corduant, 1990, p. 85.
ria com as ordens estatais e com a ordem inter- regular o contrato internacional (a racionalida- É preciso, portanto, conceder as partes a fa- 7 "Contratos.~·. p. 99.
nacional? Como se daria esta coexistência, com de das teses dos seus idealizadores isso revela), culdade de escolha da lei aplicável ao contrato. 8 Segundo Barthélemy Mercadal, citado por Strenger,
base na coordenação ou na exclusão? E, final- devemos precisar que até o presente momento Nesse sentido, desempenham papel importante "Contratos .. .", p. 97-8.
mente. como se comportam as ordens estatais e não é possível uma referência direta à nova lex as "Conferências Especializadas de Direito In- 9 Acerca das origens históricas da regra de autono-
também a internacional frente a nova lex mer- mercatoria como disciplina dos contratos inter- mia, destaca-se o trabalho de Edoardo Vitta, "Dirit-
ternacional Privado". da Academia de Direito
to internazionale privato". Torino: U.T.E.T, 1972-
catoria? nacionais, porque sozinha ela não tem condi- Internacional de Haia, bem como os estudos do 75, v.3, p. 218-33.
Esses são pontos inevitáveis que foram en- ções de regulá-lo. Todavia, está em condições UNIDROIT - Instituto Internacional Para a 10 Vide: Curti Gialdino, "La volonté des parties en droit
tusiasticamente enfrentados por Paul Lagard e de concorrer com um ou vários sistemas nacio- Unificação do Direito Privado. international privé", in "Recueil des Cours", v. 137,
Ph, Kahn em estudos recentes39. Berthold Gold- nais de direito.

Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198·211, 1996
210 Maristela Basso A Autonomia da Vontade nos Contratos Internacionais do Comércio 211

1972, II, p. 850 e ss; Mario Giuliano, "La loi appli- come metodo per la disciplina dei contratto inter- Cours", 1979, I, p. 126 e ss.; Pierre Lalive, "Ten- vizi dei volere, e molte altre, che dovranno continu-
cable aux contrats: problémes choisis", in "Recuei! nazionale e dell'arbitrato commerciale internazio- dances et méthodes en droit international privé", in are ad essere regolate da una legge statale. Ma pur
des Cours", v. 158, 1977, V, p. 195-270; Vicent nale", "Rivista di Diritto Comunitario e Degli Scam- "Recuei! des Cours", 1977, II, p. 90 e ss. nell'ambito commerciale, in alcuni casi e ii c.d. di-
Heuzé, "La réglementation .. .", p. 110 e ss.; e "The bi Internazionale", 1986, ano XXV, p. 289-310. Com 36 Philippe Kahn, "La vente commerciale internationa- ritto internazionale uniforme che si fa strada, ii
lnternational Encyclopedia of Comparative Law", base nessas teorias, é que se desenvolveram algu- le". Paris: Sirey, 1961; Berthold Goldman, "Le droit quale, immesso negli ordinamenti interni attraver-
1975, v. 3, cap. 4. mas teses que tentaram salvar, no Brasil, bem como des sociétés internationales", in "Journal du Droit so !e varie procedure di adattamento, potrà essere a
11 "Journal du Droit International" (Clunet), 1912, p. em outros países, a autonomia das partes na deter- International", 1963, p. 320 e ss. e, do mesmo au- volte inderogabile per !e parti... ln secondo luogo,
1156. minação da lei aplicável ao contrato. tor, "Frontiéres du droit et !ex mercatoria, in "Ar- sulla base dei noti principi di diritto internazionale
12 "Journal du Droit lnternational" (Clunet), 1980, p. 19 "Advocacia nas negociações internacionais", in "Re- chives de la Philosophie du Droit", tomo IX, 1964, privato, !e norme di applicazione necessaria della
650, com notas de Ph. Kahn. vista de Direito Público", nº 78, abr./jun., 1986, p. p. 177 e ss.; Prosper Weil, "Le droit international lex fori (e forse anche di altre leggi con le quali ii
13 "Bulletin BENELUX", 1969. 195. économique, mythe ou réalité", in "Aspects du Droit contratto presenti uno stretto legame) non potran-
14 Disposições Preliminares do Código Civil italiano de 20 AC.277 (P.C.) 289, e acerca da doutrina: Albert Venn International Economique: Actes du Vé. Colloque no non applicarsi al contratto sottoposto alla lex
1942, art. 25: "Le obbligazioni che nascono dai con- Dicey, "Dicey et Morris on the conflict of law". Lon- de la Société Française Pour !e Droit lnternational", mercatoria", in "II diritto dei contratti...", p. 21.
tratto sono regolate dalla legge nazionale dei con- dres: Stenvens & Sons/ 1973, p. 720 e ss. Paris:Pedone, 1972, p. 1 e ss.; M. Bonell, "Le regole 43 Vide G. Nori, "Normative applicabile ed autonomia
traenti, se é comune; altrimenti da quella dei luogo 21 Vide Mario Giuliano, "La loi applicable .. .", p. 203. oggetive dei commercio internazionale", Milano, p. nei contratti internazionali: spunti problematici", in
nel quale ii contratto é stato conchiuso. É salva in 22 "Rivista di Diritto Internazionale" (Roma), 1963, p. 182 e ss. "Rivista di Diritto Comunitario e Degli Scambi In-
ogni caso la diversa volontà delle parti". 230-49, citação p. 244. Tal regra já fora evocada, 37 Ph. Kahn, "Le contrat économique international - ternazionali", 1988, p. 569 e ss.; e Dino Rinoldi,
15 As disposições de Motivos do Decreto-Lei nº 446/ em 1929, pela Corte Permanente de Justiça Inter- stabilité et evolution". Bruxelles-Paris: Bruylant- "La problematica della codificazione degli usi dei
85, de 25 de outubro de 1985, regulador das "cláu- nacional, no caso dos empréstimos brasileiros, con- Pedone, 1975, p. 172. commercio internazionale", in "Rivista di Diritto
sulas contratuais gerais", e que alterou o Código forme se vê in C.P.J.I, série A, ns. 20 e 21, p. 122 e 38 Vincent Heuzé, "La rêglementation française .. .", p. Comunitario e Degli Scambi Internazionali", 1986,
Civil português, dispõe que "constitui a liberdade ss. 64 e ss. p. 311 e ss.
contratual um dos princípios básicos do direito pri- 23 "Rivista di Diritto Internazionale" (Roma), 1978, p. 39 P. Lagard, "Approche critique de la lex mercatoria; 44 Neste sentido, Mario Giuliano, "La loi applicable .. .",
vado. Na sua plena acepção, ela postula negocia- 514-71, citaçãop. 518. Ph. Kahn, "Droit international économique, droit du introdução e conclusão.
ções preliminares íntegras, ao fim das quais as par- 24 A respeito do comportamento do juiz, vide Mario dévéloppement, !ex mercatoria: concept unique ou 45 No processo de unificação das normas de conflito
tes, tendo ponderado os respectivos interesses e os Giuliano, "La loi applicable .. .", p. 217-18. pluralisme des ordres juridiques?, ambos in "Ce droit em matéria de contratos internacionais entre os
diversos meios de os prosseguir, assumem, com dis- 25 "Rivista di Diritto Internazionale Privato e Proces- des relations économiques internationales - étu- países do MERCOSUL, devemos partir dos Traba-
cernimento e liberdade, determinadas estipulações. suale", Padova, C.E.D.A.M, 1967, p. 126-38. des offertes à Berthold Goldman". Paris: LITEC, lhos das "Conferências Especializadas Interameri-
A essa luz, uma boa, medida de direito dos contra- 26 Vide Treves, "Sulla volontà delle parti e sul momen- 1982, p. 125-50 e p. 97-107, respectivamente. canas de Direito Internacional Privado - CIDIPs,
tos possui natureza supletiva: as normas legais ape- to dei suo sorgere", in "Rivista di Diritto Internazio- 40 "Frontiéres du droit et !ex mercatoria, p. 189; e "La realizadas pelo Comitê Jurídico lnteramericano da
nas se aplicam quando os intervenientes, no exercí- nale Privato e Processuale", Padova, C.E.D.A.M., !ex mercatoria dans les contrats et l'arbitrage inter- Organização dos Estados Americanos, especialmente
cio legítimo da sua autonomia privada, as não te- 1967, p. 315-35. nationaux: réalités et perspectives", in "Journal du a CIDIP IV, muitas já ratificadas pela Argentina,
nham afastado ..". 27 Bulletim BENELUX (1969), p. 50. Droit International" (Clunet). 1979, p. 475 e ss., Uruguai e Paraguai, e para as quais o Brasil perma-
16 Acerca do direito argentino, Antonio Boggiano, "De- 28 Dentre os quais M. Wolf, "Some observations on the respectivamente . nece silencioso. A respeito da CIDIP IV, se recomen-
recho internacional privado", 2ª ed. Buenos Aires: autonomy of the contracting parties in the conflict 41 "II diritto dei contratti internazionale". Padova: CE- da Antonio Boggiano, "Contratos internacionais".
Depalma, 1983, v. 2, p. 460 e ss. of law", in "The Grotius Society Transactionns", DAM, 1984, p. 14. Buenos Aires: Depalma, 1990. Vale considerar tam-
17 Art. 9, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil 1950, v. 35, p. 152 e ss.; Levei, "Le contrat dit sans 42 Neste sentido é importante a colocação de Ugo bém o Código de Bustamante que muito represen-
brasileiro: "Para qualificar e reger as obrigações, loi", in "Travaux du Comité Français de Droit Inter- Draetta:"anzitutto occorre tener presente che la !ex tou, neste sentido, para os países da América Lati-
aplicar-se-à a lei do país em que se constituírem". national Privé- 1964-66", Paris, 1967, p. 209 e ss. mercatoria si sta sviluppando in determinate aree na.
18 É importante registrar que Roberto Ago, acerca desta 29 "Revue Critique de Droit lnternational Privé", 1950, solamente, attinenti alia disciplina dei rapporti con- 46 R. David, "Le droit du commerce international...",
temática, defendeu: "in diritto internazionale priva- p. 609 e ss. trattuali tra !e parti, con esclusione di materie come, p. 142.
to non si puà parlare di leggi imperative e dispositi- 30 Vide Cerbone e Luzzatto, "I contratti de! commercio ad esempio, lo stato e la capacitá delle persone, i
ve perché !e norme di diritto internazionale privato internazionale", ln "Trattato di diritto privato", v. 1,
non sono norme di diritto sostanziale, ma norma di tomo 3, p. 117 e ss.; Giuseppe Cassoni, "Lo jus gen-
collegamento, ii cui compito é unicamente di deter- tium .. .", p. 290-31 O; Bruns et Motulsky, "Tendan-
minare la legge sostanziale entro i limite della qual- ces et perspectives de l'arbitrage international", in
le potrà sorgere effetivamente la questione delle nor- "Revue International de Droit Comparé", 1957, p.
me obbligatorie e dispositive", in "Studi di diritto 717 e ss.: Vincent Heuzé, "la rêglementation ... ", p.
internazionale privato". Padova: C.E.D.A.M., 1932, 95 e ss.
p. 135. Mais recentemente, Giuseppe Cassoni, se 31 "Le droit du commerce international - réflexions
referindo a Curti Gialdino, afima: "certo ii principio d'un comparatista sur !e droit international privé".
dell'autonomia dei contraenti (e cioê autonomia de- Paris: Économica, 1987, p. 131.
lle parti nella determinazione della legge applicabile 32 Obra citada nota 31, p. 11.
ai !oro contratto) include anche ii diritto cogente, 33 Vide Phocion Francescakis, "Quelques précisions sur
ma si tratta appunto dei diritto cogente proprio les lois d'application immédiate et leurs rapports
dell'ordinamento designato come competente dalla avec les régles des conflits de lois", in "Revues Criti-
norma di collegamento e non già di quello che appar- que de Droit International Privé", 1966, p. 1 e ss ..
tiene all'ordinamento di base, e cioé ii complesso 34 "Lo Jus gentium .. .", p. 292.
delle norme imperative sulla formazione dei con- 35 Acerca deste método, ainda: Edoardo Vitta, "Cours
tralto e gli effetti dei medesimo", in "Lo jus gentium général de droit international privé", in "Recuei! des

Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, v. 12, p. 198-211, 1996

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