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A BOTIJA

TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA


ABRIL DE 2010®

A Botija
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA - ABRIL DE 2010

Personagens:

Veryrich
Guilherme
Rosa
Arthur
Morgana
Danilo
Zaia
Lineus

CENA 1

A CENA ABRE. GUILHERME ESTÁ COM VÁRIOS BOLETOS DE CONTAS ENQUANTO ROSA
PINTA AS UNHAS NO SOFÁ. ELE ESTÁ MUITO IMPACIENTE ENQUANTO ELA É MAIS
CONTIDA, NO ENTANTO TAMBÉM ESTÁ IRRITADA. O ANO É 1960.

Guilherme: (abre uma conta e reclama) contas! Contas e mais contas! Olha só o que temos!

Rosa: E ainda tem o aluguer deste cubículo! E olha que apesar de estar com cheiro de mofo e com ar de
pobreza o dono ainda continua a nos cobrar uma fortuna por mês!

Guilherme: E o velho ainda disse que ia aumentar o valor da renda!! Vê lá se pode! O Zaías só pode de
estar a gozar!

Rosa: No mínimo disse que é por causa da inflação! Eles inventam em aumentar o preço das coisas e logo
põe na crise!

Guilherme: A única coisa que vejo a aumentar é aquela barriga enorme que ele tem! Parece barriga de
mulher grávida!

Rosa: Do tamanho que é aquela pança ele vai mesmo é parir um boi!

NESSE MOMENTO ALGUÉM BATE A PORTA DO QUARTO. É O VELHO ZAÍAS

Zaías:(em off)ô de casa!!! Aluguer do mês!

Guilherme:(cochicho) é ele!
Rosa: Ele até parece que advinha!

Guilherme: Fica caladinha, assim ele pensa que não estamos aqui! É só ficarmos quietos!
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Zaías:(em off) E não adianta fingirem que não estão aí por que eu já ouvi a voz dos dois!!! E sei que estão
fingindo que não tem ninguém em casa!

Rosa:(dá um empurrão em Guilherme) estás a ver!!!

Guilherme: queres que eu faça o quê?

Rosa: nada! (arruma o decote e solta os cabelos)

Guilherme: Onde vais?

Rosa: Vou ter que por o meu charme à prova... É só falar com jeitinho...

ELA ABRE A PORTA E COM UM AR de boazona ATENDE O VELHO QUE AO VÊ-LA FICA DE
OLHOS ARREGALADOS E CHEIOS DE PALAVRAS BONITAS, ALÉM DE MUITOS
GALANTEIOS.

Rosa: (faz charme, enrolando uma mecha de cabelo) Olá seu Zaías... Nós não estavamos a fingir homem...
Estavamos entretidos numas coisas lá dentro!

Zaías: (tira o chapéu velho) bom dia dona Rosa! Que honra em vê-la em tão formosa pessoa!! Vamos
Edmundo, comprimenta a senhora.

Edmundo: Olá Rosinha estás tão boa!! Quero dizer … estás boa?

Rosa : Olá Edmundo! Vieste fazer companhia ao teu tio?

Edmundo : É … ainda bem que vim …

Rosa: (fazendo charme enquanto Guilherme olha-a de longe com ar de estranhamento) ora que bom eu vejo
dois homes tão bonitos e fortes ... Pois digam que bons ventos os trazem ao nosso quartinho?

Zaías: (um pouco encabulado) Bem... já faz tempo que fui bonito e o motivo não é dos mais românticos... É
por causa do... Aluguer... É que está atrasado há dois meses...

Edmundo: Ó tio será que ela não pode pagar de outra forma.

Zaias – Deixa de ser mal educado e respeita a senhora.

Edmundo – Pronto tio… Vá Rosa paga o que deves ao meu tio … já que o teu amorzinho não faz nada de
jeito.

Guilherme – Olha aí que vais ter problemas ó enfezado .

ROSA MUDA A FEIÇÃO DO ROSTO. OLHA-O COM DESPREZO E PÕE-SE A FALAR COM UM AR
MAIS ÁRIDO, VENDO QUE DALI NÃO CONSEGUIRIA NADA MAIS PROVEITOSO.

Zaías – têm que pagar… afinal são dois meses … A senhora entende... não é?
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Rosa: Entendo não senhor, olhe faça o favor de dar meia volta, pois hoje não temos o dinheiro, não tenho
ideia de quando o teremos! Quando tivermos dinheiro a gente avisa!!

Guilherme: É isso mesmo... (se aproxima dos dois) hoje o dinheiro tá pouco e só dá pra comprar o pão
para mim (abraça-a pela cintura) e para minha esposa... Agora vamos deixar de coversas e passar bem...
(ele vai fechando a porta enquanto o velho tenta impedir).

Zaías: Espere aí... E o meu aluguer?

Edmundo – Sim isto não pode ficar assim. Tio quere que use a força?

Zaias – Deixa sobrinho, eu arranjo uma solução.

Rosa: Vamos pagar... Já não disse!

Zaías: (com raiva) Vocês só têm mais uma semana, ou então vão pro olho da rua!!! Estão entendendo?
Olho da rua!!!!

Edmundo – Olho da Rua … Adeus rosinha … se o teu asno não te der o que mereces aparece lá em casa
para … pormos a conversa em dia …. Adeus ao parvalhão.

ELEs SAIEM. GUILHERME FECHA A PORTA DE VEZ. ROSA OLHA-O ESPERANDO UMA
SOLUÇÃO

Rosa: E então?

Guilherme: (aperreado) Desse jeito vamos parar debaixo da ponte!

Rosa: (revoltada) Eu? Nunca meu bem! Eu nasci em berço de ouro... Só eu mesmo!!! E mesmo que eu vá
para debaixo da ponte eu vou com classe porque eu sou uma Pereira Lira... De sangue nobre... Tenho
pedigree! Até minhas fraldas eram cravejadas de brilhantes! Há! Há! Há! (riso debochado)

Guilherme: Que eu saiba pedigree é coisa de cão! E olha que deve ser um pedigree muito fraquinho, talvez
de rafeiro? Que te adiantou essas tuas fraldas? Estamos tesos, falidos, em issolvência (goza) És de familia
nobre! Hum! Deixa de palermices! Precisamos mesmo é de conseguir algo de bom!

Rosa: (raiva) tu tens mesmo é que arrumar um emprego!

Guilherme: Eu? Eu não preciso dessas coisas! Faz mal aos ossos!Nunca ouviram dizer que trabalhar faz
calos? Trabalhar! Essa palavra só me lembra meus tempos de pobreza, vendendo pensos, arumar carros e,
debaixo de sol e chuva... Vai tu trabalhar, não sabes o significado dessa palavra!

Rosa: Ora essa! Eu fui secretaria da empresa de minha família! Cargo de alta confiança! Todas as finanças
passavam por minhas mãos... Todo dinheiro da empresa era eu quem prestava contas!

Guilherme: És mesmo muito espertalhona! Tanta confiança te deu, que ninguém imaginou que irias roubar
metade do dinheiro da empresa para a tua conta! Mas de tão burra que és nem isso fizeste de jeito... Eles
descobriram-te e foste deserdada pelo teu pai! E com razão!
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Rosa: (dando de ombros) Eu queria mesmo era só adiantar a minha parte da herança! Eles é que não
entenderam!

Guilherme: Pegando metade das ações da empresa e dos demais sócios!!! Nossa como tu és discreta!

Rosa: Ora! (com raiva, pega o jornal e foge do assunto) ao menos tentei.

GUILHERME DÁ UMA RISADA E CONTINUA A OLHAR AS SUAS CONTAS QUANDO OUVE


ROSA DAR UM PULO DA CADEIRA, COM O JORNAL NAS MÃOS

Rosa: É isto!!!

Guilherme: O que foi?

Rosa: Achei a solução para nossas dívidas! Vê este anúncio que eu achei: “O milionário professor Veryrich
está a procura do seu neto desaparecido há cerca de 25 anos.”

Guilherme: Sim e daí? O que tem de mais num velho milionário procurando o neto... Vão chover netos
atrás dele!

Rosa: Escuta que eu não terminei: “Pelo que consta o menino foi levado pela mãe, nora de Veryrich, logo
após a morte de John Castor, filho do professor. No entanto o que se sabe é que a nora de Veryrich morreu
e desde então não se sabe do paradeiro da criança que hoje já é adulta.” (olha fascinada para Guilherme)
esse podes ser tu!

Guilherme: Mas eu não sou neto desse velho! O nome de meu avô eu até lembro e...

Rosa (bate com o jornal na cabeça dele) Não seu debilmental! Eu estou a dizer que tu podes te fazer passar
pelo neto do velho e quem sabe até ganhar a herança dele!

Guilherme: Ah! Isso é bom... Mas, e se ele descobrir?

Rosa: Descobre nada! O velho é velho demais... E tu até tens cara de neto perdido! Carente do jeito que tu
és... Depois é só fazeres um pé de meia e guardar na poupança!

Guilherme: Rapariga! Como tu és inteligente! Agora diz-me como é que mesmo assim tu te deixaste
apanhar pela tua família quando tu estavas a tentar adiantar tua herança? (ri)

Rosa: ora! Vamos preparar as coisas! Pretendo que comecemos hoje mesmo!

OS DOIS SAEM

CENA 2

ENTRA LINEUS, O VELHO MORDOMO E DANILO QUE ERA MAIS JOVEM E MUITO
ATRAPALHADO.
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Veryrich: (em off) Lineus... Traga-me uma xícara de chá de funcho!

Lineus: (que estava de pé olhando o serviço de Danilo que espanava os moveis) Vá, pegue o chá para o
professor e traga até mim!

Danilo: Ei! E ele não pediu para você !????

Lineus: E eu estou a mandar você ir... Ande!

Danilo: Puxa! E eu que achava que na terra é que era ruim, aqui trabalho o dobro... Por mim e por um
monte de gente preguiçosa e rezingona!

Lineus: Aqui sou o teu chefe!!!!!

Danilo: É você que paga o meu salário?

Lineus: Mas sou eu que pode informar o patrão que não fazes nada e induzir a tua demissão! E então?

Danilo: (olha-o com raiva e murmura) Ai que raiva dos diabos... Maldito sejas! Condenado duma figa!
Burro anão !!!

Lineus: Disseste algo?

Danilo: não estou declamando a bíblia!

Lineus: e que parte?

Danilo: apocalipse! (entrega o chá) tome!!

Lineus: muito bem... Agora volte a espanar a casa!

NESSE MOMENTO VERYRICH DESCE AS ESCADAS (OU ENTRA EM CENA). APRESENTA UM


AR CANSADO E SOFRIDO.

Veryrich: Ó vida infeliz... Sozinho sem ninguém no mundo...

Lineus: Ora, senhor. Estou aqui senhor. Teu fiel servo... Aqui está o seu chá! Sente-se... Eu mesmo o
preparei!

DANILO OLHA-O COM RAIVA. LINEUS RI DE CANTO DE BOCA

Veryrich: Ô meu compadre de tanto tempo! Como poderei te recompensar!?

Lineus: Apenas sua amizade me chega... Faço tudo por amor ao trabalho... E mesmo, desde que seu filho se
foi... O seu neto também... O senhor ficou tão só com esta mansão... Esses bens... O senhor precisava de um
ombro amigo...
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NESSE MOMENTO ALGUÉM BATE A PORTA DA CASA

Veryrich: E agora quem há de ser?

Lineus: Danilo!!!

Danilo: (olha-o com ira) Até isso?

LINEUS OLHA-O COM AR DE IMPOSIÇÃO. DANILO VAI ABRIR E QUANDO SE DEPARA É


COM A FIGURA DE GUILHERME E ROSA. ELA ESTÁ MUITO BEM ARRUMADA E ELE COM
UMA LEGÍTIMA CARA DE PALERMA

Guilherme: (ao ver Danilo, faz uma festa) Parente!

Danilo: Hã?

Rosa: (cochicha) Esse é o empregado, criatura!

Guilherme: Ah, é? Ah, tá... Essa é a casa do professor Veryrich?

Danilo: É sim... Na verdade é a mansão, não é?!!(puxa assunto) olhe... Lá na minha terra onde eu fui criado
com minha madrinha, as casinhas são todas pequenitas e pobres, mas são tão lindas! (ri caipira) Mas essa
é....

Rosa: (interrompe) Ô pecorrucho... Desculpa atrapalhar o teu momento nostálgico, mas é que a coisa é
séria... (dentro de casa Lineus fica a ouvir a conversa com mais atenção) é que este é o herdeiro do
professor Veryrich!!!!

Veryrich: (ouve o nome dele) Alguém me chamou?

Lineus: (tapa os ouvidos do velho e começa a falar alto) lala! Lala! Ai que dia lindo o senhor deve
descansar lá no quintal!

Veryrich: Mas o que é isso? Lineus? O que deu em você?

Lineus: Espere um pouco senhor que eu vou atender a porta... É para mim!

ELE CORRE ATÉ A PORTA E ATENDE OS DOIS FARSANTES

Lineus: (empurra Danilo) Bom dia... O que querem?

Rosa: (estranha atitude do homem) Viemos falar com o avô dele (aponta para Guilherme)

Lineus: Acho que estão enganados, queridos! Aqui não mora nenhum parente de vocês... nem avó, nem
avô de ninguém. Passar bem... (vai fechar a porta)
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Guilherme: Ora! Espera aí! Eu sei que o meu avô está aí! O nome dele é Veryrich e eu vim lhe mostrar
que eu estou vivíssimo!

Lineus: (abre a porta e fala bem ameaçador) Olhem aqui... Vocês estão mais loucos do que o meu patrão!
Ele nem sabe as coisas que fala... Há anos acredita que tem um neto desaparecido! E se bem conheço um
vigarista vocês são uns desses caçadores de fortunas! Agora façam o favor de dar meia volta e procurar
outro velhinho rico para aplicar o golpe da herança!

Veryrich: (ao ouvir a movimentação, aproxima-se e fala) O que é que está acontecendo aqui, Lineus???

Lineus: (disfarça) nada senhor Veryrich!

Guilherme (aproveita que o velho esta perto, empurra os dois empregados e entra na casa estando
acompanhado por Rosa) Meu avô! Sou eu... Seu neto: Arthur Castor! (ele abre os braços para acolher o
velho que está pasmo).

NESSE INSTANTE VERYRICH QUE ESTÁ MUITO EMOCIONADO CAI NO CHÃO

Rosa: O quê? Já morreu? E agora?!!

Lineus: Que morreu o que seus dois larápios burros!! Ele desmaiou! Ponham-se no lugar dele! Ele
reencontrou o neto que não vê a anos! Imaginem só! Venham! Vamos coloca-lo no sofá! Seus malucos! Ele
não tem saúde para emoções assim!(para Danilo) Danilo! Vai pegar um pouco de água!

Rosa: (ao pegar o velho) ele é pesado mais que tudo!! Parece um boi morto!

DANILO CORRE E PEGA O COPO COM ÁGUA

Guilherme: (dá uma olhada na casa) que casarão!

Lineus: uma fortuna!(com ar arrogante) que não é para o seu bico!

Rosa: muito menos para o seu!

Danilo: (volta com a água) pronto! E agora?

Rosa: Deita-lhe a cara!

DANILO PEGA A ÁGUA E JOGA NO ROSTO DE LINEUS

Lineus: (quase se afogando e surpreso, tosse exageradamente) Mas... O que é isso?

Danilo: Foi ela!


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Lineus: Ela disse deitares na cara do velho e não em mim!

Danilo: Ah e você se acha um menino!

Rosa: é isso... Gostei do rapaz... estou a pensar até dar uma parte da herança para ele!!!

Guilherme: Cá nada! A herança é minha e se quer fazer caridade arrume arranje outro!

Lineus: Essa herança não há de ser de vocês! Essa herança tem que ser...

NESSE MOMENTO VERYRICH VAI ACORDANDO

Veryrich: Ai meu Jesus!(olha para Guilherme) Ó céus... Então não foi um sonho! É o meu neto Arthur!

Guilherme: Sim senhor! Sou eu mesmo...

Veryrich: E essa belezinha? Quem é essa flor?

Danilo: Ela é bela como um jardim inteiro!

Guilherme: (empurra Danilo) não abuses ó pestilento... (para o Veryrich) Ela é minha esposa, avô... O
nome dela é Susana... Susana Slicker! Ela é norueguesa!

Lineus: (desconfiado) Slicker em inglês quer dizer espertalhão!

Guilherme: Na Inglaterra... Na Noruega quer dizer pureza!

Lineus: (finge que acredita) Hum! Hum!

Rosa: (muda o assunto) Viemos o quanto antes pois o senhor poderia receber a visita de larápios e farsantes
da mais alta categoria só porque o senhor é rico !

Lineus: não diga! (zomba)

Veryrich: É verdade minha querida... Como é mesmo o seu nome?

Rosa: Susana... Susana Slicker!

Veryrich: oh, sim! Susana! Mas como vocês se deram conta de que o Artur era o meu netinho?

Rosa: Bem... O Artur sempre reclamou que não conhecia a família do pai... O coitadinho. Foi criado num
orfanato! Sozinho... a mãe dele morreu quando ele era ainda pequenino...

Lineus: E o resto da família dela? Quando a sua mãe Madeleine saiu daqui foi morar na casa dos pais!

Guilherme: Mamã morreu distante de nossa casa. Então os meus familiares tomaram o comboio e foram
velar seu corpo... Mas morreram todos num acidente ferroviario terrível ... Só eu sobrevivi! Daí, fui achado
por uma freira que me levou para o convento!
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Lineus: e porque ela não procurou saber dos outros parentes vivos?

Guilherme: não sobrou nenhum...

Lineus: como assim? Nenhum parente distante? Primo de terceiro grau? Nada?

Rosa: Ouve lá! Tanta perguta ? És investigador é?

Veryrich: (ri) Não se preocupem com o Lineus... Ele cuida muito de mim! (para Lineus) E você não
precisas de te preocupar não... Eu sinto que eles são sim os meus amados parentes... Mas venham... Hoje
são meus convidados... Oh Deus, que dia feliz... Encontrei o meu neto e até uma bela esposa tem! Deus seja
louvado...

OS DOIS SE ENTREOLHAM CONTENTES

Veryrich: Lineus, meu caro. Veja, há pouco eu reclamava de solidão e veja! (ri)

Danilo: É... E com todo respeito eu estou é morrendo de inveja!

Veryrich: E porque, menino?

Lineus: Não dê trela para esse saloio, patrão!

Danilo: É que ter família é uma coisa bonita demais! E eu não sei nem quem são meus pais! Assim como o
seu netinho! Fui criado por uma família adotiva e..

VERYRICH FICA MEIO CISMADO

Rosa: Mas vamos deixar de choro! (para o Professor) Vamos comemorar!

NESSE MOMENTO A CAMPAINHA TOCA OUTRA VEZ

Veryrich: Ora essa! Como essa campainha está hoje... Outra visita! E espero que seja coisa boa! Deixe que
eu mesmo abro a porta mordomo!

Lineus: (reclama para Danilo) vês? Até ainda pouco eu era o seu velho amigo. Agora sou tratado como um
mero mordomo!

Danilo:... E queria ser chamado de quê? De meu amor?

Lineus: (olha-o com ira) Ora, venha!(sai de cena)

VERYRICH VAI ABRIR A PORTA LENTAMENTE, POIS É VELHO. AO ABRIR DEPARA-SE COM
UM RAPAZ, COM AS MESMAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE GUILHERME. ELE ESTÁ DE
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MALAS NAS MÃOS E UM BELO SORRISO NO ROSTO. AO SEU LADO TAMBÉM HÁ UMA
MULHER BONITA E JOVEM. O RAPAZ JÁ SE PÕE A FALAR.

Arthur: avô Johan Von Veryrich... Pai de John Castor e sogro de Madeleine! Eu cheguei avô! Seu netinho
Arthur Castor!

VERYRICH FICA PASMO E DESMAIA NOVAMENTE

Arthur: (olha para rosa, Guilherme e Danilo) O que foi que eu fiz?

Danilo: Acudam o patrão!

Rosa: De novo?

Danilo: pare de reclamar que nem menino mimado! Ajude aqui!

Guilherme: ele é atrevido!!!

Morgana: e quem são vocês? Também são mordomos?

Rosa: repara! Chegou agora e já está a catar de galo! Que mordomo o quê! Nós somos gente importante!

Danilo: elá a senhora deu-lhe bem! Parece até que nasceu na minha terra! Ri! Ri! Ri!

Guilherme: é que ela só aprende o que não presta o minha besta!

Danilo: estava a demorar para ser ofendido!

Arthur: mas e então? Vamos leva-lo para cima do sofá!

OS CINCO PEGAM O VELHO E LEVAM-NO ATÉ O SOFÁ

Morgana: que peso, Arthur!

Rosa: foi o que eu disse!

Arthur: olha! Ele está a acordar!

Veryrich: ai, meu pai... (começa a rir do nada, assustando os cinco) mas a vida está por demais de generosa
comigo! Ha1 há! Há! É muita alegria para um velho como eu!

Guilherme: Avô! Que deu no senhor agora?

Veryrich: meu querido... Até há pouco eu não tinha ninguém... Agora tenho dois netos!

Todos: dois netos?


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ENTRA LINEUS

Lineus: dois netos?(desmaia também)

Danilo: ele eu não apanho ... Por mim vai morrer ali!

Guilherme: mas como assim, avô?Quem é esse rapaz?

Veryrich: apresente-se meu querido!

Arthur: (pigarreia) meu nome é Arthur castor! E esta é a minha esposa Morgana!

Rosa: (se exalta) não é não! Arthur castor é este Jovem de boa aparência que aqui está!

AO FUNDO LINEUS ACORDA. EXPREME OS OLHOS E TENTA ENTENDER O QUE ESTÁ


ACONTECENDO ENQUANTO OS OUTROS CONTINUAM FALANDO

Veryrich: calma meus primores. Para tudo há uma solução...

Morgana: um exame de DNA! É isso!

Rosa: claro que não!

Arthur: e porque não? Tens medo!

Guilherme: não! Tenho pouco dinheiro!

Veryrich: calma! Por hoje não quero saber de desavença! Hoje os quatro são meus convidados! Jantarão
comigo e receberão a minha estadia com muito apreço!

Danilo: ora para quem não tinha neto nenhum ter 2 netos já é lucro!

Veryrich: se não é, menino! Pois vamos! (aos berros) Lineus! Prepare a mesa para todos... Inclusive para
você e o menino Danilo! Hoje estou muito alegre!

Lineus: Até pra esse caçoilo? Assim vai torrar a herança toda!

VERYRICH OLHA PRA ELE COM UM AR DE ESTRANHAMENTO. ELE SE RETRATA

Lineus: Digo... Com licença (ele entra)

Danilo: Vou então me lavar... Jantar cheio de ricos era tudo que eu queria! (ele sai)

Veryrich: (para os quatro que ficaram) e a vocês levo-os aos seus quartos, pois quarto é o que não falta
por aqui! Vamos?
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OS QUATRO SEGUEM SEM SE FALAR. ARTHUR E MORGANA SAEM PRIMEIRO COM O


VELHO. GUILHERME VAI ATRAS, MAS É PUXADO POR ROSA

Rosa: e agora?

Guilherme: e agora a subimos ,tomamos banho, jantamos e descansamos. Foste tu que armaste tudo que...
Agora arranja-te para sair em paz!

ELE SAI DE CENA

Rosa: uff! Mas eu esto arranjada mesmo!

SAI.

CENA 3

LINEUS VEM ENTRANDO COM UMA BANDEJA DE COMIDA, QUANDO SE DEPARA COM
DANILO QUE VEM ENTRANDO E SENTA Á MESA, TODO CONTENTE

Lineus: (vai até ele) mas tu és muito do pobre de espírito mesmo ?! Parece até barata no lixo!

Danilo: e depois!! He! He! He! Olhe só! Por mim o patrão poderia receber um neto por dia! Eram todos os
dias um jantar e eua a modo de ser convidado!! He! He! E por falar nisso, dê-me essa caneca de vinho!

Lineus: (toma a taça de vinho da mão de Danilo) que caneca o que, rafeiro! Isso é uma taça! Da mais alta
qualidade! Isto é cristal irlandês! Veja! Percebe! Como ousa chamar isso de caneca!

Danilo: serve pra beber?

Lineus: claro que seve!

Danilo: então pra mim está de bom tamanho! (pega novamente a taça e toma o vinho num gole só) arre!
Esse sim é o gosto da riqueza!!!

LINEUS VAI DAR UMA BRONCA EM DANILO, MAS OS OUTROS CHEGAM À MESA

Veryrich: boa noite rapazes! Lineus... deixe de servir e sente-se também!


LINEUS SENTA-SE

Veryrich: bem, já que aqui estamos agora é a minha vez de falar... já estou velho... meus 80 anos corroem
esse corpo gasto.
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Arthur: Avô... O senhor parece até um menino!

TODOS OLHAM PARA ARTHUR

Arthur: digo... Ah! Vocês entenderam...

Veryrich: entendi sim, querido... Mas retornando ao que eu estava a falar, eu os reuni por algo muito
importante... Há anos que eu guardo 2 botijas... Uma delas eu deixo para vocês! É todo o meu tesouro... De
uma vida de trabalho! De luta e de muito esforço... Mas é claro, só após a minha morte … que eu espero
que vocês não estejam almejando!

Todos: claro que não!

Arthur: uma dessas botijas contém a sua herança?

Veryrich: parte dela... a outra parte eu doarei em vida para algumas instituições de caridade... sabes, quero
ir para o céu! No entanto vocês vão ter que procurar esse tesouro...

Á MESA, DANILO É O ÚNICO QUE COME SEM SE PREOCUPAR COM O QUE SE CONVERSA. É
CONVICTO DE QUE NÃO TEM HERANÇA, ENTÃO APROVEITA O HOJE

Morgana: como assim? É uma disputa? Uma caça ao tesouro?

Veryrich: quase isso... é que de tão velho que estou eu nem sei onde é que eu guardei as minhas botijas...

Lineus: como assim, patrão? E como é que vai se saber de quem é o tesouro...

Veryrich: a grosso modo é de quem achar primeiro, meu caro... Até pode ser seu...

Lineus: meu?

Veryrich: achado não é roubado!

Arthur: e como é que vai ser isso, avô?

Veryrich: Uma das botijas tem uma chave... Que leva até o banco onde eu tenho uma conta... Lá estão
parte de meus bens... É a maior parte de meus bens... A outra parte é mais mirrada e está na outra botija...
Essa sem duvida não há de vos interessar... É ninharia...

Danilo (pela primeira vez fala) é... Mas quem compra perfume pelo frasco pode estar comprando mijo de
rato...

VERYRICH OLHA PARA O RAPAZ E DÁ UM RISO DE CANTO DE BOCA, POIS PARECE


GOSTAR DO JEITO DO RAPAZ...
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Veryrich: mas como diria esse menino, não se preocupem não... que faz mal à digestão... (põe uma colher
da comida na boca e falando ainda de boca cheia) a comida está divina... comam...

ENQUANTO O VELHO E DANILO COMEM SEM LIGAR PRA NADA OS ARES ENTRE OS DOIS
CASAIS E LINEUS ESTÁ QUENTE. ENTREOLHAM-SE VORAZMENTE. DEPOIS DE UM BREVE
SILENCIO VERYRICH SE ERGUE. ERGUE UMA TAÇA DE VINHO E FALA:

Veryrich: agora a sorte está mais que lançada... mas espero que os tenha por perto por mais algum tempo...
Que nem eu morra... (faz um breve silencio) e que não me matem (ele faz uma breve olhada para todos e dá
uma bela gargalhada) saúde!!!!

TODOS DÃO SAÚDE UM POUCO DESCONFIADOS. O VELHO SE ERGUE

Veryrich: vou me recolher. Uma boa noite pra todos! Amanhã o dia promete!

ELE SAI. UM BREVE SILENCIO SE FAZ ATÉ QUE LINEUS FALA

Lineus: se pensam que o vão intrujar ... Enganam-se... Eu vou achar essa maldita botija!

Morgana: (ri) e vai dizer que é por direito de ter ficado centenas de anos com ele?

Lineus: e não é!!!! Não serão vocês 4 que irão me atrapalhar num plano de anos!!!!

Rosa: pois é o que vamos ver!

Guilherme: (para Arthur e Danilo que continua comendo) elas são mais ariscas que nós!

ARTHUR CONCORDA E PÕE-SE A COMER COMO DANILO. AS LUZES APAGAM. FIM DE CENA

CENA 4

A CENA ESTÁ VAZIA. AS LUZES SE ACENDEM. APENAS A MESA DE JANTAR VAZIA.


QUANDO DERREPENTE ENTRAM EM CENA ARTHUR E MORGANA EM SURDINA

Morgana: é preciso fazer silêncio...

Arthur: pior é eu nem sei por onde começar! Esta casa é imensa.

Morgana: (ouve um barulho) vem alguém aí... esconde-te!


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Arthur: deve de ser o avô!!!

OS DOIS SE ESCONDEM POR TRAS DA MESA. ENTRAM EM CENA ROSA E GUILHERME:

Guilherme: as luzes estão acesas?!!

Rosa: esquece isso, Guilherme... Por onde começamos?

Guilherme: procuras na sala e eu na biblioteca... De certo deve de existir um cofre por aqui! Toda casa de
gente rica tem um cofre escondido!

NESSE MOMENTO QUANDO ROSA VAI PARA UM DOS LADOS ENCONTRA COM MORGANA

Morgana: aha!!!! Quer dizer que o nome dele é Guilherme!!

Arthur: eu sabia!

Rosa: vocês?! Que estão a fazer aí?

Morgana: não é de tua conta!

Guilherme: de certo estão a fim de encontrar a botija do meu avô!

Morgana: (irônica) oh! Vovozinho, né?!!! Seu farsante! Agora que sabemos o teu nome vamos puxar a tua
ficha criminal e te lixar a vida!!!

Guilherme: ora! Meu apelido é Guilherme! Que é que tem? Vocês não têm prova de nada! Essa é que é a
verdade! São vocês os ladrões aqui!

Rosa: aproveitando-se da bondade do avô!!! Mas não se preocupem... Essa botija será nossa!

Arthur: ela será mesmo nossa!

ENTRA LINEUS COM UMA CHAVE NAS MÃOS E COM UM AR MALDOSO

Lineus: acho que não é não! Na verdade o tesouro será meu... Que dediquei minha vida pelo professor
Veryrich... 15 anos de dedicação!

Morgana: estavas mesmo era de olho na gorda herança que talvez ele te desse!!

Lineus: que seja sua melga! Mas sou tão ambicioso quanto vocês que até então nunca se interessariam por
um suposto avô se ele fosse pobre, poderia até morrer sozinho e na sarjeta que nenhum de vocês se
importaria de conhecê-lo!!! Estou mentindo ao acaso? Hum?!!! (ri exageradamente) Há! Há! Há! Mas não
se preocupem... Vou deixa-los a sós para refletir... Hi! Hi! Hi! E ainda os deixarei aqui bem seguros...
(mostra a chave e fechando a porta) e trancadinhos!!!(fecha aporta ) adeus!!!
A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

OS QUATRO TENTAM IMPEDÍ-LO, MAS EM VÃO.

Guilherme: e agora?

Morgana: agora teremos que trabalhar juntos para sair daqui?

Arthur: Isso é que é pior!

ROSA QUE ACHOU UMA OUTRA PASSAGEM CHAMA A ATENÇÃO DOS OUTROS TRES.

Rosa: olhem! Aqui tem uma passagem!

Arthur: que bom!

Guilherme: vamos!

OS QUATRO SAEM DE CENA. FIM DE CENA

CENA 5

ENTRA EM CENA LINEUS. ELE ESTÁ TODO ALEGRE. ENTRA MUITO EUFÓRICO E EEM SUAS
MÃOS ESCONDE UM VOLUME ENROLADO NUM LENÇOL

Lineus: não posso crer! (ri) meu dia de glória chegou!!!! (olha para o lado) ninguém me pode ver... tenho
que sair daqui!!!(ri) ai que não me aguento!!!

QUANDO ELE VAI SAINDO EIS QUE OS QUARTRO ENTRAM EM CENA, INTERCEPTANDO A
PASSAGEM DE LINEUS!
Arthur: aha!!!

Rosa: paradinho aí, baby!

Morgana: vais pra onde, seu crimioso!

Lineus: ora deixem-me (tenta passar mas Guilherme o segura)

Guilherme: para que a pressa, seu tontinho? Parece que estás a fugir da policia!

Morgana: (olha que Lineus carrega um volume) olhem! Ele carrega algo nos braços!

Lineus: (esconde) não! Isso é meu!!! Só meu!

Rosa: só pode ser a botija!


A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Morgana: agarra-o!!!!

OS QUATRO PEGAM LINEUS E GUILHERME PEGA O PACOTE

Guilherme: Já está!!!

Todos: Boa!!

Lineus: oh, não!!!

GUILHERME ABRE O MOLAMBO E ACHA A BOTIJA... TODOS COMEMORAM, MAS LOGO


BRIGAM A FIM DE QUERER A POSSE DA BOTIJA

Guilherme: é minha!!! Por direito!!

Arthur: direito de quê? Eu sou o neto de Veryrich!!! Essa botija deve ser minha!!!

Lineus: parem de reclamar... (chora) eu só queria um pouco de dinheiro para … na verdade somos todos
um bando de vigaristas... então já que é pra se dar bem que façamos de uma forma melhor!!!! Dividimos
em 3 partes iguais!!! Cada um com o seu quinhão e ponto! Não foi o velho mesmo que disse que o dinheiro
era de quem achasse?!!! Então!!!

TODOS SE OLHAM...

Morgana: (olha para Arthur) na verdade, ele não é tão neto assim do Professor Veryrich...

Rosa: eu disse!
Arthur: ora, nem tão pouco ele!!

Morgana: calem-se! Deixem-me terminar de falar... eu acho que a ideia do Lineus não é assim tão má...
mais cedo ou mais tarde seriamos descobertos...

Guilherme: ela tem razão!!!

UM BREVE SILENCIO

Todos: (para Lineus) certo!!!

TODOS COMEMORAM.. NEM SE DÃO CONTA DE QUE ESTAVAM FALANDO ALTO


A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Morgana: ... Vamos falar baixo!!!!

Rosa: o velho pode acordar...

Arthur: pois ouço ruídos!!!

NESSE MOMENTO ENTRA DANILO EM ALVOROÇO. LINEUS PEGA A BOTIJA E ESCONDE-A


POR TRAS DE UM MÓVEL

Danilo: (vê todos juntos e desconfiados) elá! Estão todos aqui?

Lineus: o que foi estrupício? Acordado a uma hora dessas!

Danilo:Olha quem fala!! Mas não foi para isso que eu vim aqui. Aconteceu uma coisa horrível!!!

Rosa: e o que foi?

Danilo: o Professor Veryrich sumiu... Nem um sinal de vida!!! Só esse bilhete.. (ar muito comovido pois
era o único que de verdade gostava do velho)

Arthur: (toma o papel das mãos de Danilo) deixa eu ver isso... (lê) “caríssimos netos, Senhoritas e Lineus
o Mordomo...

Lineus: ele ainda ousou me chamar por mordomo... (resmunga) velho sovina!!!

Guilherme: cala-te... Continue!

Arthur: “ ... venho aqui por meio desse bilhete para confessar-lhes que sinto-me cada vez mais fraco... e
como vocês apareceram para alegrar meus últimos momentos de vida, sinto que agora posso morrer em paz
e por isso decidi de ultima hora que quero morrer longe de tudo, numa ilha deserta... já deixo aqui a divisão
de meus bens: a casa doei para a igreja...

Guilherme: ah, como me arrependo de não ter sido padre...

Lineus: velho burro!

Arthur:”... as duas bicicletas que tenho deixo-as para as duas Senhoras...”

Rosa: bicicletas? Mas eu nem sei andar nessas coisas!

Arthur: “... e para os meus netos ,não vejo porque não doar a minha mobília. Para Lineus, deixo meus
chinelos que ele tanto amava e os jogos de cristais que ele cuidava com prazer...”

Danilo: aquelas canecas de vidro?

Lineus: cristais, energúmeno! Cristais!!!! Ao menos isso!!!! Há! há! Há!!

Arthur: “... no mais que a sorte os acompanhe e não se engane, pois nem tudo o que reluz é ouro...
assinado: Professor Johan Von Veryrich.”
A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Morgana: (enxuga as lágrimas) ai que bom coração!!

Arthur: que foi tesouro?

Morgana: é que eu nunca tive uma bicicleta na vida... Estou tão feliz!!!

Lineus: (ranzinza) idiota!!

Danilo: (triste) ele nem citou o meu nome!!!

Morgana: e o que tu eras afinal senão um reles ajudante!

Guilherme: um pobre saloio!

TODOS RIEM, EXCETO ROSA.

Rosa: não falem mal dele... Ele é muito bonitinho e um dia há de ter o que de melhor lhe cabe.(para Danilo)
se quiseres dou-te a minha bicicleta... Não me será útil!!!

Danilo: (muito humilde) muito agradecido, senhorinha bonita mas não...

Rosa: estou te dando algo bom. Não deverias negar... é só porque não me interessa.

Danilo: e ao acaso a senhorinha ia me dar essa bicicleta se ela fosse de seu interesse? Pois se assim o
fizesse aí seria por que destes de coração! Mas acho que de todos vós fui o único com pena do
desaparecimento do velhop patrão.

DANILO SAI DE CENA TRISTE. TODOS FICAM OLHANDO-O

Lineus: e então?... Vamos ao banco. Aqui dentro dessa botija tem a chave do cofre... Achamos a botija do
grande tesouro que o velho havia dito...

Rosa: então vamos lá!!

TODOS SAEM

A LUZ DO PALCO FICA UM POUCO FRACA. DANILO ENTRA COM UMA PEQUENA MALA NAS
MÃOS. ESTÁ MUITO TRISTE. ELE PARA NO MEIO DO PALCO. OLHA EM VOLTA E FALA
COMO UM MONÓLOGO:

Danilo: ó como infeliz sou... Perdi meu pai ainda menino... Minha mãe morreu faz um tempo, mas ela
sempre dizia que eu tinha parentes abastados... Cheios de dinheiro. Mas essas conversas ficaram só na
memória de um menino que cresceu e virou um saloio... Um rapaz até bonito... Vistoso... Meu único defeito
é ser pobre... Ou não... Assim vejo a vida de um outro jeito: da visão da presa e não da do caçador!!
A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Minha vida era viver andado como besouro desorientado em tempo de chuva. Atrás de sustento e de uma
viva pacata e sossegada. Aqui achei esse sossego apesar daquele velho frustrado ficar o tempo todo me
chamando de burro!Mas eu gosto deste sitio... Enfim quando penso que achei um lugar, um lar de verdade,
vem a morte e leva o meu patrão... Imaginem só se eu fosse neto de patrão? Eu não ia ser mais humilhado e
era capaz do Lineus até me bajular... he! He! He! sonho bonito... (olha ao seu redor) agora tenho um aperto
na alma... Uma dor profunda... (suspira) mas assim é a vida... E nela eu vou...

QUANDO DANILO VAI SAINDO EIS QUE ELE OUVE UMA VOZ CONHECIDA

Veryrich: Danilo!

DANILO PARA. FICA ESTAGNADO.

Danilo: sim?

NESSE MOMENTO O VELHO VERYRICH APARECE AO FUNDO DO PALCO. DANILO QUE


ESTÁ A FRENTE VOLTA-SE LENTAMENT PARA TRAS E QUANDO VÊ O VELHO ARREGALA
OS OLHOS SEM ENTENDER, MAS AO MESMO TEMPO TEM UMA VONTADE ENORME DE RIR
DE TÃO ALEGRE QUE FICA AO VER O PATRÃO

Danilo: Patrão?

Veryrich: e quem você pensou que fosse?O Pai Natal?

Danilo: santo Cristo! Deus seja Louvado! Estou até com as pernas bambas, patrão!!!

Veryrich: vejo que estás sozinho aqui!

Danilo: foram todos embora!

Veryrich: não perderam tempo não é?!

Danilo: pois é... mas o senhor ... o senhor não disse que estava muito fraco, e que ia para outro lugar
distante para morrer em paz!???

Veryrich: e acriditaste nisso, Danilo? Eu estou mais vivo do que nunca!!!(dá pulos) vê! Ainda vou matar
muita gente!!!

Danilo: senhor!! Mas... e os seus netos!!

Veryrich: aqueles terão o que merecem. Acharam que eu caía nessa... hum! Hum! Na verdade eles não vão
me esquecer nunca mais, para aprenderem a não enganar ninguém...

Danilo: até o velho Lineus!

Veryrich: uma cobra que criei!


A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Danilo: patrão, mas e o seu neto? Na verdade não apareceu?

Veryrich(muda afeição risonha e aproxima-se de Danilo) bem menino. Aí é que a história começa...na
verdade eu bem sei quem é meu neto... e esteve perto de mim por tanto tempo que eu nem imaginei...
chegou pequeno, um rapaz vindo do interior... Vinte e poucos anos, falante e ao mesmo tempo comedido,
genioso e ao mesmo tempo humilde, esperto e ao mesmo tempo verdadeiro...

DANILO COMEÇA A ACHAR A HISTÓRIA ESTRANHA

Veryrich: e a verdade é que a história do menino começou a ser contada com uma grande mentira, pois a
minha ex-nora fez o possível pra que eu não achasse o meu neto. Inventou em deixá-lo num sítio. Lá o
menino foi criado por uma família simples e que ele passou a achar que era a sua família de verdade... í o
menino cresceu, ganhou outro nome e quando já estava rapazinho conheceu um tal de um padrinho
ranzinza que trabalhava com um velho rico. O padrinho tratou de arrumar um emprego para afilhado na
mansão de seu próprio patrão. E o mordomo razinga e ambicioso não deu conta de que trazia o meu neto
para o meu aconchego...

DANILO DÁ UM SALTO

Danilo: Ei! Mas essa história é a minha história!!! Patrão!

Veryrich: não me chames de patrão, Danilo... Ou eu posso chamá-lo de Arthur?!

Danilo: avô?

Veryrich:sim! (estende os braços) dá-me um abraço!

OS DOIS SE ABRAÇAM.

Veryrich: quantos anos esperei por este abraço... Só Deus sabe porque é que a tua mãe fez isto... Mas eu
sentia tanto a sua falta! Tanto!

Danilo: agora estou aqui! Mas... E a casa! O senhor doou-a para igreja!

Veryrich: que isso menino! Pra que a igreja precisa de casa! Ela precisa é de mais humildade e menos
falsidades no coração de alguns que se dizem caridosos e são mesmo é maliciosos!!!!(ri) venha cá, meu
neto! Tenho algo para ti!(entrega a outra botija) essa é sua!

Danilo: a botija!

Veryrich:nela tem uma outra chave e uma senha... essa é a verdadeira botija!

Danilo: Mas, e os outros cinco? O queé que eles ganharam se a botija não possuía o tesouro?
A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Veryrich: um castigo merecido! (ri) vamos sair pra comemorar! Este é um dia de festa!!!
Danilo: sim senhor!!!

OS DOIS SAEM. FIM DE CENA

CENA FINAL

ENTRA EM CENA MORGANA, ROSA, ARTHUR E GUILHERME, JUNTAMENTE COMO LINEUS

Rosa: pronto... Chegamos em casa!

Morgana: que cubiculo!

Guilherme: ei! Respeite o meu lar!

Arthur: ora... Vamos logo abrir esse mini-cofre que trouxemos do banco!

Rosa: tanto mistério para uma herança...

Arthur: coisa de velho!

Lineus: só queria entender porque tivemos que assinar aquelas papeladas todas no banco!

Rosa: o gerente disse que era um termo de comprometimento!

Guilherme: não estou a gostar nada disto...

Lineus: deixa-me abrir! Estou com os dedos a coçar de ansiedade!

ELES ABREM O COFRE E SÓ ENCONTRAM ENVELOPES E MAIS ENVELOPES, ALÉM DE UM


BILHETE DIGITADO.

Arthur: mas que palhaçada é esta?

Guilherme: mas é do Professor Veryrich!

Morgana: (lê o papel) ”caríssimos... bem que eu disse que nem tudo o que reluz é ouro...! Aqui tenho uns
vários faturas de débitos em meu nome... contas e mais contas com o qual eu precisava ter um ou uns
fiadores... então porque não dar a César o que é de César!

Guilherme: Quem é esse César?

Arthur: Isso é um modo de dizer... Isso é bíblico,trouxa!


A BOTIJA
TEXTO DE LAIS LIMA SOBREIRA
ABRIL DE 2010®

Morgana: “logo, o que assinaram foi um termo de que vocês pagariam o meu débito enquanto o meu
verdadeiro neto ficará com todos os bens! Isso para que aprendam a nunca mais enganar, humilhar ou
tripudiar de alguém! Abraços: Professor V.”

Lineus: filho da mãe!

Rosa: vamos denunciá-lo!

Guilherme: de quê? Nós é que somos os bandidos... Ele não!!!

OS CINCO SENTAM NO SOFÁ, DESOLADOS.

Arthur: e agora? Estou sem casa... Sem dinheiro e com dividas!

Rosa: fiquem por aqui! Três a mais, três a menos não importa!

Morgana: ao menos ganhei minha bicicleta!

Lineus: e eu minha prataria!

Guilherme: então trata de inaugurá-las fazendo uma janta pra nós! Afinal uma vez mordomo...

Todos: sempre mordomo!


Lineus: (irritado) Bando de imprestáveis! (para a platéia) ao menos não fiquei sem teto!!

Guilherme (pega os boletos e vai até o primeiro plano do palco enquanto os demais ficam mais atrás)
contas! Contas e mais contas! Só o que temos!

Rosa(levanta-s e vai até ele) e ainda tem o aluguer deste cortiço que apesar de sujo e com ar de pobreza
ainda continua a custar uma fortuna por mês!

ROSA OLHA PARA GUILHERME. OS DOIS RIEM

Rosa: Estás a conhecer esta fala?

Guilherme: se estou!

OS DOIS OLHAM PARA A PLATEIA

Rosa e Guilherme: vai começar tudo de novo!

FECHAM AS CORTINAS. APAGAM-SE AS LUZES. MÚSICA CÔMICA.

FIM

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