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INTENSIVO I
Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 10
ROTEIRO DE AULA
Prescrição e decadência
*Observação: o STJ pacificou o entendimento de que a reparação civil do art. 206, §3º, V do CC1 se aplica à
responsabilidade extracontratual (ato ilícito).
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CC, art. 206, §3º, V: “§ 3º: Em três anos: (...). V - a pretensão de reparação civil”
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Em relação à responsabilidade civil contratual, o STJ, na sua Segunda Seção, entendeu que o prazo é de 10 anos (art.
205 do CC2) - ERESp 1.280.825/RJ de 2018.
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CC, art. 205: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
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regra restritiva de direitos, não podendo assim comportar interpretação ampliativa das balizas fixadas pelo legislador. III
- A unidade lógica do Código Civil permite extrair que a expressão "reparação civil" empregada pelo seu art. 206, § 3º, V,
refere-se unicamente à responsabilidade civil aquiliana, de modo a não atingir o presente caso, fundado na
responsabilidade civil contratual. IV - Corrobora com tal conclusão a bipartição existente entre a responsabilidade civil
contratual e extracontratual, advinda da distinção ontológica, estrutural e funcional entre ambas, que obsta o
tratamento isonômico. V - O caráter secundário assumido pelas perdas e danos advindas do inadimplemento contratual,
impõe seguir a sorte do principal (obrigação anteriormente assumida). Dessa forma, enquanto não prescrita a pretensão
central alusiva à execução da obrigação contratual, sujeita ao prazo de 10 anos (caso não exista previsão de prazo
diferenciado), não pode estar fulminado pela prescrição o provimento acessório relativo à responsabilidade civil
atrelada ao descumprimento do pactuado. VI - Versando o presente caso sobre responsabilidade civil decorrente de
possível descumprimento de contrato de compra e venda e prestação de serviço entre empresas, está sujeito à
prescrição decenal (art. 205, do Código Civil). Embargos de divergência providos.” (EREsp 1281594 /SP - EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES. Rel. para Acórdão Ministro FELIX FISCHER.
CE - CORTE ESPECIAL. Julgado em 15/05/2019. DJe 23/05/2019).
O artigo 496 do Código Civil prevê que é anulável a venda de ascendente para descendente se não houver autorização
dos demais descendentes e do cônjuge do alienante.
CC, art. 496: “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do
alienante expressamente houverem consentido”.
Conforme a Súmula n. 494 STF6, o prazo seria o prescricional de 20 anos. No entanto, toda a doutrina tem o enunciado
como cancelado, pois se aplicaria o art. 179 do Código Civil (2 anos). Nesse sentido, o Enunciado n. 368 – IV Jornada de
Direito Civil7.
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CC, art. 178: “É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de
coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou
o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade”.
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CC, art. 179: “Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este
de dois anos, a contar da data da conclusão do ato”.
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CC, art. 1.649: “A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado,
podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal”.
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S. 494 STF: “A ação para anular venda de ascendente a descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em vinte anos,
contados da data do ato, revogada a Súmula nº 152”.
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Observação: a ação de alimentos é essencialmente declaratória e, portanto, imprescritível. Porém, prescreve em dois
anos, a contar dos respectivos vencimentos, a pretensão para cobrança de alimentos fixados por acordo ou sentença
(CC, art. 206, § 2º8). Trata-se de prescrição parcial, pois não atinge toda a pretensão.
✓ Atenção: a pretensão que se diferencia da prescrição parcial é a prescrição nuclear, pois esta atinge toda a
pretensão.
Súmula 149 do STF9: é imprescritível a ação investigatória de paternidade (declaratória), mas não o é a ação de petição
de herança (condenatória).
O STJ tem entendido que a ação de petição de herança prescreve em 10 anos (CC, art. 20510).
CC, art. 189: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que
aludem os arts. 205 e 206”.
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Enunciado 368, IV JDC:“O prazo para anular venda de ascendente para descendente é decadencial de dois anos (art. 179 do Código
Civil)”.
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CC, art. 206, §2º: “ Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.”
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Súmula 149 STF: “É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança”.
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CC, art. 205: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
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• Cobrança: do inadimplemento.
• Reparação civil: do ato ilícito.
➢ Cresce na lei, na jurisprudência e na doutrina a adoção à teoria da “actio nata” subjetiva, segundo a qual o prazo
prescricional terá início da ciência ou conhecimento da lesão (Câmara Leal e José Fernando Simão).
Exemplos:
a) CDC, art. 2712: ação de reparação de danos por acidente de consumo, havendo fato do produto ou do serviço. Possui
prazo prescricional de cinco anos, contados do conhecimento da lesão e de sua autoria.
b) Súmula 278 do STJ13: o termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral (laudo médico).
c) Súmula 573 do STJ14 (indenização por seguro DPVAT): a ciência inequívoca do caráter permanente de invalidez
depende de laudo médico, em regra.
Questão: Qual é o prazo para pleitear o seguro DPVAT? Três anos (CC, art. 206, § 3º, IX15) (Súmula 405, STJ16)
d) Plágio de obra cultural (REsp 1.645.746/BA): o prazo é contado da ciência do plágio pelo autor e não da publicação da
obra.
“EMENTA: RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO DO AUTOR. PLÁGIO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRAZO TRIENAL. DATA DA
CIÊNCIA. UTILIZAÇÃO. IDEIAS. PARÁFRASES. INEXISTÊNCIA. REPRODUÇÃO. OBRA ORIGINÁRIA. DANOS MATERIAIS E
MORAIS. SÚMULA Nº 7/STJ. RESPONSABILIDADE DO EDITOR. SOLIDARIEDADE LEGAL. 1. Cuida-se de recursos especiais
interpostos pelo acusado do plágio e pelo editor da obra literária, em que se discutem as seguintes teses: i) termo inicial
do prazo prescricional de 3 (três) anos para demandas indenizatórias por plágio; ii) sentido e alcance da proteção
autoral a obra literária, prevista na Lei nº 9.610/1998; iii) redução do montante fixado a título de danos materiais e
morais; iv) ilegitimidade do editor para responder por plágio e v) cabimento da responsabilidade subjetiva na hipótese.
2. O surgimento da pretensão ressarcitória nos casos de plágio se dá quando o autor originário tem comprovada ciência
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Enunciado n. 14, I JDC: “1) O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do
direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou
da obrigação de não fazer”.
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CDC, art. 27: “Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista
na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”.
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Súmula 278, STJ: “O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral”.
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Súmula 573, STJ: “Nas ações de indenização decorrente de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter permanente da
invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez permanente
notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução”.
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CC, art. 206, §3º, IX: “§ 3º Em três anos: (...) IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.”
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Súmula 405, STJ: “A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos”.
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da lesão a seu direito subjetivo e de sua extensão. A data da publicação da obra não serve, por si só, como presunção de
conhecimento do dano. 3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em casos envolvendo o termo inicial da
prescrição das demandas indenizatórios por dano extracontratual, tem prestigiado o acesso à justiça em detrimento
da segurança jurídica, ao afastar a data do dano como marco temporal. Precedentes. 4. Segundo preveem os arts. 8º,
I, e 47 da Lei nº 9.610/1998, não são objeto de proteção como direito autoral as ideias, sendo livre a utilização das
paráfrases, desde que não configurem reprodução literal ou impliquem descrédito à obra originária. 5. Hipótese em que
ficou evidenciado o plágio, com propósito de dissimulação, ante as inúmeras reproduções literais da obra originária,
com apropriação de suas estruturas argumentativas. 6. A reparação dos danos materiais engloba os danos emergentes e
a diminuição potencial causada pelo plágio ao patrimônio do autor e do editor da obra originária. 7. Esta Corte tem
entendimento firmado no sentido de afastar a incidência da Súmula nº 7/STJ e reexaminar o montante fixado pelas
instâncias ordinárias a título de danos morais apenas quando irrisório ou abusivo, circunstâncias inexistentes no
presente caso. 8. A editora, nos termos do art. 104 da Lei nº 9.610/1998, pode ser considerada solidariamente
responsável pela prática de plágio, sendo desinfluente, pelo menos para aferição de sua legitimidade passiva, o exame
da real extensão de sua contribuição para a prática ofensiva aos direitos autorais. 9. No caso de reprodução de obra
com fraude, a Lei nº 9.610/1998, no seu art. 104, na esteira de outras leis especiais, estipula a responsabilidade solidária
de modo a privilegiar a reparação do dano. Estabelece que aquele que vender, expuser à venda, distribuir e/ou tiver em
depósito obra reproduzida com fraude, com finalidade de obter lucro, condutas nas quais se insere a do editor,
responderá solidariamente com o contrafator. 10. Recursos especiais não providos.” (REsp 1645746/BA, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cuevas, Terceira Turma, julgado em 06/06/17, DJe 10/08/2017).
✓ Não é só o “ataque” que prescreve; a exceção ou defesa também (CC, art. 19017).
Exemplo: compensação. “A” está cobrando 10 milhões de reais de “B”. Entretanto, “A” deve 5 milhões de reais para
“B”. “B” faz pedido contraposto alegando compensação. No entanto, os 5 milhões estão prescritos. Será reconhecida a
compensação? Não. O valor está prescrito.
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CC, art. 190: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão”.
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CC, art. 192: “Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes”.
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CC, art. 166: “É nulo o negócio jurídico quando: (...). VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar
sanção”.
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CC, art. 19320: a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem aproveita (não há
preclusão).
Exemplo 1: prescrição não alegada em contestação pode ser alegada em apelação (STJ - REsp n. 157.840/SP).
EMENTA: “DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO. ESPÉCIE EXTINTIVA. ALEGAÇÃO. APELAÇÃO.
POSSIBILIDADE. ART. 162, CC. SILÊNCIO EM CONTESTAÇÃO. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL.
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ. RECURSO DESACOLHIDO. I - A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer
fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa ou na inicial
dos embargos à execução. II - A pretensão recursal, que depende do reexame de documentos apresentados nas
instâncias ordinárias, não comporta análise nesta Corte, a teor do enunciado n. 7 de sua súmula”. (STJ - REsp n.
157.840/SP, Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, T4 - QUARTA TURMA, Julgado em 16/05/2000. DJ 07/08/2000 p.
109).
Exemplo 2: a prescrição pode ser reconhecida de ofício ou a requerimento da parte em qualquer grau de jurisdição -
AgInt nos EDcl no REsp 1250171 / SP.
EMENTA: “AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. PREPARO. LEI ESTADUAL 11.608/2003. SÚMULA N. 280/STF.
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. SÚMULA N. 283/STF. PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE.
AÇÃO MONITÓRIA. PRAZO QUINQUENAL. 1. "Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário" (Súmula n.
280/STF). 2. "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles" (Súmula n. 283/STF). 3. A prescrição, matéria de ordem
pública, pode ser reconhecida de ofício ou a requerimento das partes, a qualquer tempo e grau de jurisdição.
Precedentes. 4. Na linha da jurisprudência desta Corte, a ação monitória está subordinada ao prazo prescricional de
5 (cinco) anos. 5. Agravo interno a que se nega provimento.” (AgInt nos EDcl no REsp 1250171 / SP, Rel. Ministra Maria
Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 27/04/17, DJe 05/05/17).
Exemplo 3: A prescrição pode ser reconhecida, inclusive, na instância superior, desde que haja prequestionamento
(AgInt no AgRg no Ag 1.076.043/RS).
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CC, art. 193: “A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita”.
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art. 543-C do CPC/1973), destina-se aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça dos Estados, não se
aplicando aos processos já encaminhados ao STJ, por ausência de previsão legal. Precedentes. 3. Não configura violação
ao art. 535 do CPC/1973 a decisão que examina, de forma fundamentada, todas as questões submetidas à apreciação
judicial. 4. O pedido para afastar aplicação de percentuais distintos no cálculo dos proventos de aposentadoria
complementar para homens e mulheres não demanda a realização de perícia atuarial. 5. O exame no âmbito do recurso
especial de questões de ordem pública susceptíveis de serem conhecidas de ofício em qualquer tempo e grau de
jurisdição, como é o caso da prescrição, não prescinde seja atendido o requisito do prequestionamento. 6. O recurso
especial não é a via adequada para examinar suposta violação a dispositivo constitucional. 7. Agravo interno a que se
nega provimento.”(AgInt no AgRg no Ag 1.076.043/RS, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em
15/08/17, DJe 21/08/17).
Prescrição de ofício: tem origem inicial na revogação do artigo 194 do Código Civil de 200221 e na alteração do art. 219
do CPC de 1973. Isso ocorreu por força da Lei 11.280/2006.
✓ O sistema anterior vedava a prescrição de ofício, admitindo-a somente em benefício de absolutamente incapaz.
✓ O CPC de 2015 reproduziu a regra do CPC de 1973, tratando do conhecimento de ofício da prescrição e da
decadência (CPC, arts. 332, § 1º22 e 487, II23).
Questão: se há uma ação de cobrança e o juiz perceber que a dívida está prescrita, como ele deve proceder?
• Solução prática: improcedência liminar do pedido (CPC/2015, art. 332, § 1º). Julga extinta a ação sem ouvir as
partes.
• Solução técnica: antes de conhecer a matéria de ofício, o juiz deve ouvir as partes (CPC/2015, art. 10: 24vedação
das decisões surpresas).
A solução técnica já foi adotada pelo Enunciado n. 581 – VII Jornada de Direito Civil25, o qual complementa o Enunciado
295 da IV Jornada de Direito Civil26.
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CC, art. 194: “O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz”. (Revogado
pela Lei nº 11.280, de 2006).
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CPC, art. 332, § 1º: “Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará
liminarmente improcedente o pedido que contrariar: (...) §1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se
verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição”.
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CPC, art. 487: “Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...) II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de
decadência ou prescrição.”
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CPC, art. 10: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha
dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.”
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Enunciado 581, VII JDC: “Em complemento ao Enunciado 295, a decretação ex officio da prescrição ou da decadência deve ser
precedida de oitiva das partes”.
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Confirmando essa solução, há o julgamento no STJ do IAC – REsp 1.604.412/SC, o qual tratou de prescrição
intercorrente:
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Enunciado 295, IV JDC: “A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento
de ofício da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.”
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respeitado em todas as manifestações do Poder Judiciário, que deve zelar pela sua observância, inclusive nas hipóteses
de declaração de ofício da prescrição intercorrente, devendo o credor ser previamente intimado para opor algum fato
impeditivo à incidência da prescrição. 2. No caso concreto, a despeito de transcorrido mais de uma década após o
arquivamento administrativo do processo, não houve a intimação da recorrente a assegurar o exercício oportuno do
contraditório. 3. Recurso especial provido. REsp 1.604.412/SC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção,
julgado em 27/06/18, DJe 22/08/18).
“EMENTA - DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS.
MENSALIDADES ESCOLARES. PRAZO PRESCRICIONAL ÂNUO. APLICAÇÃO DO ART. 178, § 6º, VII, do CC/1916. ANÁLISE
SOBRE A OCORRÊNCIA DE RENÚNCIA TÁCITA. DECLARAÇÃO NO SENTIDO DE POSTERIOR APRESENTAÇÃO DE PROPOSTA
DE PAGAMENTO. ATO PRATICADO NO MOMENTO DE REQUERIMENTO DO DIPLOMA DE ENSINO SUPERIOR.
INEXISTÊNCIA DE RENÚNCIA. ACOLHIMENTO DA PRESCRIÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. Nos termos da jurisprudência
consolidada desta Corte Superior, o prazo prescricional da pretensão de cobrança de mensalidades escolares vencidas
até 11/1/2003 - entrada em vigor do novo Código Civil - é o estabelecido no art. 178, § 6º, VII, do CC/16. 2. A renúncia
tácita da prescrição somente se perfaz com a prática de ato inequívoco de reconhecimento do direito pelo prescribente.
Assim, não é qualquer postura do obrigado que enseja a renúncia tácita, mas aquela considerada manifesta, patente,
explícita, irrefutável e facilmente perceptível. 3. No caso concreto, a mera declaração feita pelo devedor, no sentido de
que posteriormente apresentaria proposta de pagamento do débito decorrente das mensalidades escolares, não
implicou renúncia à prescrição. 4. Dessa forma, afastada a tese da renúncia à prescrição, o processo deve ser extinto,
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CC, art. 191: “A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a
prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição”.
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Enunciado n. 295, IV JDC: “A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 11.280/2006, que determina ao juiz o
reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto
codificado”.
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CC. art. 114: “Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”.
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com resolução do mérito, nos termos do art. 269, IV, do Código de Processo Civil de 1973. 5. Recurso especial provido"
(STJ, REsp. 1.250.583/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 03/05/2016, DJe
27/05/2016).
➢ Na interrupção, o prazo para e volta ao início, o que somente pode ocorrer uma vez.
Observações:
• A interrupção envolve atos do credor ou do devedor.
• CC, art. 20231.
Esquema:
1 2 Suspensão 3 4 5
30
CC, arts. 197 a 199: “Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - entre
ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a
tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o 3º; II - contra os ausentes do País em serviço público
da União, dos Estados ou dos Municípios; III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III - pendendo ação
de evicção.”
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CC, art. 202: “A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo
incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas
condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que
extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr
da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.”
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1 2 Interrupção. 1 2 3 4 5
➢ CC, art. 197, II: entre ascendentes (pais) e descendentes (filhos), durante o poder familiar. Regra: cessa quando o
filho completa 18 anos.
➢ CC, art. 198, I: contra os absolutamente incapazes (art. 3º do CC: só os menores de 16 anos).
32
Enunciado n. 296, IV JDC: “Não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da união estável”.
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Questão: a regra se aplica ao ausente morto? Conforme o Enunciado n. 156 da III Jornada de Direito Civil33, sim.
➢ CC, art. 198, III: contra os que estiverem servindo nas Forças Armadas em tempos de guerra.
Observação: poderá ser aplicado no caso de Forças de Paz da ONU.
➢ CC, art. 199, II: não estando vencido o prazo (para pagamento da dívida).
➢ CC, art. 202, I: pelo despacho do juiz que, mesmo incompetente, ordenar a citação.
O dispositivo acima entrava em conflito com o art. 219, § 1º do CPC/73, o qual determinava que a interrupção
ocorreria com a citação válida e retroagiria à data da propositura da ação. O CPC de 2015 resolveu o problema no
art. 240, §1º36, o qual prevê que a interrupção ocorre com o despacho do juiz que ordena a citação, retroagindo à
data da propositura da ação.
33
Enunciado n. 156, III JDC: “Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em sentença, não corre a prescrição contra o
ausente”.
34
Súmula 229, STJ: “O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha
ciência da decisão”.
35
CC, art. 202: “A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:”.
36
CPC, art. 240, caput e §1º: “A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a
coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil)
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente,
retroagirá à data de propositura da ação”.
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➢ CC, art. 202, III: protesto cambial/cambiário (Cartório de Protesto). Está cancelada a Súmula 153 do STF,37 que
previa o contrário.
Problema que também ocorre nos incisos posteriores: o protesto cambial interrompe a prescrição.
Questão: E a ação posterior de cobrança? É de se reconhecer a dualidade das interrupções em alguns casos (Caio
Mário).
✓ O professor Flávio Tartuce entende que a ação posterior é uma condição suspensiva.
➢ CC, art. 202, IV: apresentação do título de crédito em concurso de credores (exemplo: processo de falência) ou em
juízo de inventário (habilitação de crédito).
➢ CC, art. 202, V: por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor. Cuidado: Notificação extrajudicial, não.
➢ CC, art. 202, VI: atos do devedor, judiciais ou extrajudiciais, que importem em reconhecimento da dívida (desde que
inequívocos). Exemplos: pagamento da dívida, pagamento dos juros e até uma mera troca de correspondência.
Observação final: prescrição intercorrente é aquela que se dá no curso do processo (Processo “morto” - arquivo). Há a
hipótese de suspensão da prescrição antes do seu reconhecimento (CPC, art. 92138).
✓ Direito potestativo é aquele que se contrapõe a um estado de sujeição, “encurralando” a outra parte.
A decadência, em regra, não pode ser impedida, suspensa ou interrompida (CC, art. 20739).
37
Súmula 153 do STF: “Simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”. CANCELADA.
38
CPC, art. 921: “Suspende-se a execução: I - nas hipóteses dos arts. 313 e 315, no que couber; II - no todo ou em parte, quando
recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução; III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;
IV - se a alienação dos bens penhorados não se realizar por falta de licitantes e o exequente, em 15 (quinze) dias, não requerer a
adjudicação nem indicar outros bens penhoráveis; V - quando concedido o parcelamento de que trata o art. 916. § 1º: Na hipótese
do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se suspenderá a prescrição. § 2º: Decorrido o
prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o
arquivamento dos autos. § 3º: Os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem
encontrados bens penhoráveis. § 4º: Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem manifestação do exequente, começa a correr o
prazo de prescrição intercorrente. § 5º: O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição de que trata o § 4o e extinguir o processo”.
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Exceção (CC, art. 20840): não corre a decadência contra os absolutamente incapazes.
Segundo Caio Mário, a decadência convencional/contratual equivaleria à prescrição. Esse entendimento foi adotado
pelo CC/2002 originalmente. Esse entendimento, entretanto, caiu em 2006. Se Caio Mário estivesse vivo, teria que rever
os seus conceitos.
CC, art. 20943: é nula a renúncia à decadência legal. A decadência convencional pode ser renunciada (similar à
prescrição).
CC, art. 21044: o juiz deve conhecer de ofício a decadência legal – CPC, art. 10 (ouvir as partes antes).
CC, art. 21145: a decadência convencional não pode ser conhecida de ofício (deve ser alegada pela parte).
39
CC, art. 207: “Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição”.
40
CC, art. 208: “Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I”.
41
CC, art. 178: “É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de
coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou
o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.”
42
CC, art. 446: “Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve
denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência”.
43
CC, art. 209: “É nula a renúncia à decadência fixada em lei”.
44
CC, art. 210: “Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei”.
45
CC, art. 211: “Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz
não pode suprir a alegação”.
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