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EMENTA
1. Conforme a Resolução n. 14/2011 da Adasa e precedentes deste Tribunal de Justiça, cabe ao usuário
cadastrado na CAESBsolicitar a extinção da relação contratual com a concessionária assim que extinta
sua relação obrigacional com o imóvel locado.
3. Aparte ré não pode ser compelida a providenciar a baixa dos protestos de títulos cuja credora e
autora dos protestos é a CAESB, terceiro não integrante da lide, incumbindo ao credor realizar a baixa
do registro desabonador no caso de dívida quitada, ou, tratando-se de protesto legítimo, caberá ao
devedor providenciar o seu cancelamento, conforme o art. 26, capute § 1º, da Lei n. 9.492/97.
RELATÓRIO
Trata-se de apelações interpostas por Marcelo de Barros Barreto, Marcia Regina Milanesio Cunha e
João Paulo Cunha contra a sentença (ID 50213231) proferida pela Juíza de Direito em exercício na 3ª
Vara Cível de Brasília, que, em ação de conhecimento, julgou parcialmente procedente o pedido
apresentado na petição inicial para condenar a parte ré a cancelar os protestos de dívidas relativos ao
autor no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a partir da intimação pessoal, sob pena de multa diária
correspondente a R$300,00 (trezentos reais), até o limite de R$10.000,00 (dez mil reais).
Por força da sucumbência recíproca, as partes foram condenadas a pagar, na proporção de 50%
(cinquenta por cento) para cada, as custas e os honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por
cento) do valor da causa.
Nas razões ao ID 50213233, Marcelo de Barros Barreto explica que, por meio da ação ajuizada na
origem, busca o cancelamento de protestos decorrentes do inadimplemento dos réus quanto aos
serviços de água e esgoto fornecidos pela Caesb, além do pagamento de indenização por danos morais.
Alega ter sido locatário de imóvel residencial situado no Lago Sul, Brasília/DF, de julho de 2004 a
abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas ao fornecimento dos serviços de água e
esgoto.
Informa que, após desocupar o imóvel, este foi alugado para os requeridos, que não realizaram a
transferência de titularidade das contas na Caesb.
Relata que, em novembro de 2022, foi surpreendido com a informação (prestada pelo Gerente do
Banco do Brasil em Brasília) da existência de protestos em seu nome e registro negativo na Serasa
relativos a dívidas com a Caesb vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os
locatários do imóvel.
Afirma ter sido impedido de contratar serviço com instituição financeira em razão dos mencionados
protestos e registros negativos na Serasa.
Destaca a tentativa de solucionar o problema de modo amigável. Nesse ponto, aduz que os requeridos
reconheceram que eram responsáveis pelo pagamento dos serviços de água e esgoto e quitaram os
débitos, sem oposição, mas se negaram a comparecer ao Cartório competente para solicitar o
cancelamento dos protestos.
Sustenta que a sentença deve ser reformada no ponto em que rejeitou o pedido de indenização por
danos morais.
Defende que, por se tratar de obrigação de natureza pessoal, os réus, ao celebrarem o contrato de
locação do imóvel, deveriam ter realizado a alteração cadastral na Caesb.
Assinala que os requeridos utilizaram indevidamente seu nome por quase 8 (oito) anos.
Assevera que não teria condições de alterar o cadastro da titularidade da conta na Caesb, pois, no seu
entendimento, “essa obrigação, legal e moral, competia apenas aos novos inquilinos”.
Sublinha que os apelados são pessoas instruídas e tinham plena ciência da obrigação de realizar a
alteração cadastral quanto aos serviços de água e esgoto.
Expõe que “o ato ilícito cometido pelos apelados consistiu em não transferir a titularidade da conta de
água para seus nomes e depois, cientes da cobrança em nome do apelante, prefeririam se omitir,
deixando que um terceiro (o apelante) sofresse as consequências da inadimplência”.
Aponta que “a ilicitude do ato consiste no conjunto de ações e omissões dos apelados, que resultaram
no protesto de dívida em nome do apelante, causando-lhes danos à sua imagem e honra”.
Acrescenta que, mesmo após receberem os avisos de protestos e mesmo cientes de que eram os únicos
responsáveis pela obrigação de pagar os débitos, os requeridos se mantiveram omissos e nada fizeram
para evitar o dano.
Ressalta que nunca teve qualquer outra anotação ou protesto lançado em seu nome.
Frisa que a simples existência de protestos e registros na Serasa implica automática restrição de crédito
no mercado e impede/dificulta a obtenção de serviços financeiros.
Entende que o dano moral oriundo de inscrição indevida em cadastro de inadimplentes ou protesto
indevido prescinde de prova, por ser presumido.
Requer antecipação dos efeitos da tutela recursal para determinar que os requeridos providenciem o
cancelamento dos protestos no prazo de 72h (setenta e duas horas) contados da intimação de seus
advogados, sob pena de multa diária.
Pede ainda que o recurso seja conhecido e provido para reformar em parte a sentença, de modo que o
pedido de condenação por danos morais seja acolhido e os ônus de sucumbência sejam imputados
exclusivamente aos réus.
Nas contrarrazões (ID 50213237), os requeridos pugnam pelo desprovimento do recurso interposto
pelo autor.
Nas razões ao ID 50213238, Marcia Regina Milanesio Cunha e João Paulo Cunha sustentam que a
baixa da restrição no Cartório em que o título foi protestado é medida que cabe ao próprio interessado
ou ao credor que realizou o protesto (Caesb).
Defendem não existir relação jurídica que vincule as partes, pois não há mais débito pendente com a
Caesb.
Consideram inviável a imposição de obrigação de fazer consistente em retirar registros que não
mandaram lavrar.
Apontam que a sentença está equivocada ao concluir pela existência de vínculo jurídico entre as partes
no tocante ao protesto realizado por terceiro e ao impor obrigação de fazer sem previsão legal que a
ampare.
Afirmam não ter descumprido ajuste firmado com o autor e não ter apresentado títulos para protesto.
Ressaltam que o autor firmou contrato de fornecimento de água na residência em que morava e, ao se
mudar de endereço, não tomou as providências devidas para romper a relação jurídica com a Caesb.
Assinalam que a dívida e a respectiva cobrança eram legítimas, de modo que não haveria como ordenar
à credora (Caesb) que realizasse o levantamento dos títulos licitamente protestados.
Concluem pela inexistência de amparo jurídico para a obrigação de fazer estabelecida na sentença.
Requer que o recurso seja conhecido e provido para reformar a sentença e julgar improcedentes os
pedidos apresentados na petição inicial.
Nas contrarrazões (ID 51508889), o autor pugna pelo desprovimento do recurso interposto pela parte
requerida.
O pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal apresentado no apelo interposto pelo autor foi
indeferido (ID 51552843).
É o relatório.
VOTOS
VOTOS
A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora
Cuida-se, na origem, de ação de conhecimento ajuizada por Marcelo de Barros Barreto contra Marcia
Regina Milanesio Cunha e João Paulo Cunha, por meio da qual o autor busca o cancelamento de
protestos decorrentes do inadimplemento dos réus quanto aos serviços de água e esgoto fornecidos pela
Caesb, além do pagamento de indenização por danos morais.
[...]
Em suas considerações iniciais, o autor aduz, em síntese, que “foi locatário do imóvel
situado no SHIS QL 14, CONJUNTO 6, CASA 13, CEP 71.640-065, no período
compreendido entre julho de 2004 a abril de 2015”; que “passados mais de oito anos da
entrega do imóvel pelo autor, foi ele surpreendido quando da recontratação de créditos
junto ao Banco do Brasil, ag. 4882-8, no Lago Sul, da existência impeditiva de três
protestos de títulos” e que “diligenciou junto ao Cartório Único de Protestos de Brasília,
em 20/12/2022, em cuja certidão positiva constou como credor dos mencionados protestos
como sendo a CAESB, o primeiro deles de título emitido em 30/05/2022, com vencimento
em 15/07/2022, no valor de R$5.671,51; o segundo título emitido em 01/07/2022, com
vencimento em 15/07/2022, no valor de R$1.806,32; e o último título emitido em
01/08/2022, com vencimento em 15/08/2022, no valor de R$1.714,08”; e que “diligenciou
junto à CAESB quando foi surpreendido pela DECLARAÇÃO DE SITUAÇÃO de débitos
junto à companhia referente ao autor, MARCELO DE BARROS BARRETO, no valor
atualizado de R$9.320,51, em documento do dia 21/12/2022, relativo à inscrição n.
312258, exatamente no endereço do SHIS QL 14, CONJUNTO 6, CASA 13, LAGO SUL”.
Tece arrazoado jurídico e pleiteia para que “seja concedida tutela liminar de urgência
para obrigar os réus aos cancelamentos dos mencionados protestos”.
No mérito, pede:
1) “Seja determinado aos réus que façam a juntada aos autos do termo de vistoria do
início da locação do mencionado imóvel, bem como do contrato de locação realizado com
a intermediação da imobiliária MA BROKERS DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO
EIRELI ME”;
2) “Caso se mostre necessário, seja intimada a mesma imobiliária acima, com sede no
SRTVS QUADRA 701 BLOCO “O” SALAS 162 e 163 ED. MULTIEMPRESARIAL ASA
SUL BRASÍLIA/DF – CEP: 70.340-000, para que exiba o termo de entrega do mesmo
imóvel realizada pelo autor em abril de 2015, bem como o primeiro contrato realizado
com os réus para a locação do referido bem e relativo termo de vistoria;
Réplica ao ID 160456734.
Esse é o breve relato do que reputo ser necessário para o deslinde da causa.
Passo a decidir.
[...]
Na parte dispositiva, o pedido apresentado na petição inicial foi julgado parcialmente procedente para
condenar a parte ré a cancelar os protestos no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a partir da intimação
pessoal, sob pena de multa diária.
Em análise dos autos, verifica-se que o autor foi locatário de imóvel residencial situado no Lago Sul,
Brasília/DF, de julho de 2004 a abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas aos
serviços de água e esgoto prestados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb).
Não houve, à época, pedido de cancelamento ou transferência de titularidade das contas na Caesb.
Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a Caesb realizou protestos contra o autor em
relação a dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os locatários do
imóvel.
Os requeridos quitaram os débitos com a Caesb em dezembro de 2022, mas não houve exclusão dos
registros acima referidos.
Os fatos relatados não foram objeto de controvérsia entre as partes.
Esclarecido o contexto, passa-se a analisar o cabimento da compensação pecuniária por danos morais
pleiteada pelo autor.
A obrigação de pagar os serviços de água e esgoto fornecidos pela Caesb é de natureza pessoal, ou
seja, recai sobre o usuário, aquele que efetivamente obteve a prestação dos serviços.
No mesmo sentido, há acórdãos deste TJDFT que se aplicam, mutatis mutadis, ao caso, ressaltando o
caráter propter personam da obrigação e a possibilidade de direito de regresso:
Cumpre registrar que os arestos acima mencionados tratavam de ações declaratórias de inexistência de
débito ajuizadas contra a Caesb, situação que se difere do caso em tela, que trata apenas dos atos
praticados por particulares, ou seja, da responsabilidade dos antigos locatários e usuários dos serviços
prestados pela aludida companhia.
Art. 14. O usuário é responsável pelo pagamento da fatura, pela observância da data do
vencimento e pelo adimplemento de todas as obrigações pertinentes ao uso dos serviços.
[...]
I – a pedido do usuário ou quando houver pedido de novo contrato formulado por novo
interessado referente à mesma unidade usuária; (Redação dada pela Resolução nº 12, de
29 de Novembro de 2019)
III – quando expirar o prazo de vigência de contrato específico sem que haja renovação.
§3º O não pagamento das contas constitui descumprimento contratual e sujeita o usuário,
inicialmente, à suspensão do serviço, mediante notificação prévia. (Redação dada pela
Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).
§4º A rescisão contratual somente será efetivada após a suspensão definitiva dos serviços
de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário. (Redação dada pela Resolução nº
12, de 29 de Novembro de 2019).
Art. 83. O prestador de serviços poderá realizar a novação com substituição do usuário
contratante pelo proprietário, pelo cessionário por ato da administração pública, pelo
locador ou pelo locatário da unidade usuária, a pedido destes, quando:
Da leitura dos dispositivos acima citados, percebe-se que o usuário é responsável pelo adimplemento
de todas as obrigações pertinentes ao uso dos serviços e por manter os dados cadastrais atualizados.
A extinção do contrato de prestação de serviços pode ocorrer por solicitação do usuário ou quando
houver pedido de novo contrato formulado por novo interessado referente à mesma unidade.
Além disso, segundo o art. 83 da Resolução, o prestador de serviços pode realizar novação com
substituição do usuário contratante pelo proprietário, pelo cessionário por ato da administração pública,
pelo locador ou pelo locatário da unidade, a pedido destes, por meio da apresentação dos documentos
pertinentes.
Nesse contexto, incumbia tanto ao autor, na condição de usuário cadastrado até então, quanto aos réus,
na condição de novos locatários, solicitar a extinção da relação contratual com a Caesb e/ou a troca de
titularidade, conforme os arts. 14, 82 e 83 da Resolução n. 14/2011 da Adasa.
Destaca-se, nesse ponto, que a notificação extrajudicial enviada pelos representantes da imobiliária aos
requeridos apontou a existência de disposição contratual sobre a obrigatoriedade de os locatários
alterarem a titularidade de todas as contas relativas ao imóvel locado. Tal documento ainda indicou os
prejuízos que o inquilino anterior (ora demandante) estaria sofrendo em razão das pendências com a
Caesb (ID 50212833).
A parte ré, por sua vez, na condição de nova inquilina do imóvel, também não providenciou a
solicitação de alteração da titularidade ou atualização cadastral.
Desse modo, não houve encerramento formal da relação contratual entre a Caesb e o autor, o qual
ainda figurava indevidamente como responsável financeiro pelo adimplemento das faturas.
Como visto, oautor demonstrou que não residia na unidade consumidora no período relativo aos
débitos indicados na lide e, portanto, não se beneficiou do consumo que deu origem a tal dívida.
Ainda que o autor pudesse ter diligenciado para encerrar seu vínculo com a companhia prestadora dos
serviços e mesmo que o protesto e a anotação em cadastro restritivo de crédito não tenham sido
realizados pela parte ré, sua conduta omissiva e o incontroverso inadimplemento das faturas de água e
esgoto contribuíram para a realização de tais registros desabonadores, concorrendo, assim, para os
transtornos sofridos pelo antigo inquilino para tentar solucionar a questão e regularizar sua situação
(IDs 50212832, 50212833 e 50213220 - 50213223).
Os extratos de anotações cadastrais emitidos pelo sistema do Banco do Brasil reforçam a alegação de
que o autor foi surpreendido com os protestos de dívidas e registros na Serasa ao tentar realizar
operações de crédito com a instituição financeira (ID 50212829).
Em síntese, os réus descumpriram sua obrigação de pagar o consumo dos serviços de água e esgoto dos
quais utilizaram, mas as consequências de tal inadimplemento recaíram única e exclusivamente contra
o autor, que sequer residia na unidade consumidora à época.
Vale ressaltar o tempo significativo em que os réus usufruíram dos serviços de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário utilizando-se irregularmente do cadastro do autor na concessionária (de 2015
a 2022), além do considerável valor da dívida imputada contra o demandante, contraída no período em
que este não era mais o locatário do imóvel (R$9.320,51 – nove mil três mil e vinte reais e cinquenta e
um centavos, conforme última atualização).
O ato ilícito praticado pelos réus ocasionou transtornos e contribuiu para a exposição da imagem e da
honra do autor, violando, portanto, atributos de sua personalidade, o que atrai o direito à indenização
prevista no art. 5º, X, da Constituição Federal[1] e no art. 12 do Código Civil[2] .
É válido repetir que, embora o protesto e a anotação em cadastro de proteção ao crédito não tenham
sido realizados pela parte ré, sua conduta foi determinante para a realização de tais registros contra o
autor.
Identificados os pressupostos da responsabilidade civil por ato ilícito causador de danos morais,
passa-se, por conseguinte, a fixar o valor da condenação.
Embora seja impossível mensurar e reparar efetivamente os danos morais relatados, revela-se adequado
impor obrigação capaz de reprimir a conduta praticada e de compensar, ainda que indiretamente, tais
prejuízos.
À luz dos arts. 944 e 945 do Código Civil[3] , a quantificação do dano moral deve atender aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, observando principalmente a natureza da ofensa, a
gravidade do ilícito e demais peculiaridades do caso, de modo a conferir valor suficiente para
compensar o dano à vítima e para desestimular o ofensor, sem representar, por outro lado,
enriquecimento ilícito.
A fim de evitar adoção de critérios unicamente subjetivos pelo julgador, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça considera válido utilizar o critério bifásico para arbitramento equitativo do valor da
condenação.
Na primeira fase, estabelece-se valor básico, levando-se em conta o interesse jurídico lesado e os
precedentes acerca de casos semelhantes. Na segunda fase, ponderam-se as circunstâncias do caso
concreto (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição
econômica das partes) e fixa-se o valor definitivo (AgInt no REsp 1608573/RJ, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 20/8/2019, DJe 23/8/2019).
Como já exposto, a conduta omissiva dos réus contribuiu para os danos à imagem e à honra do autor,
causando-lhe transtornos para buscar a solução do problema e regularizar os registros realizados em
seu nome.
Há recente precedente da 8ª Turma Cível deste TJDFT que manteve indenização por danos morais
arbitrada em R$5.000,00 (cinco mil reais) no julgamento de caso que se assemelha, mutatis mutandis,
ao processo em epígrafe. Segue a ementa do julgado:
Por essas razões, a sentença deve ser reformada para que o pedido de condenação ao pagamento de
indenização por danos morais seja julgado procedente.
Como já relatado nos tópicos anteriores, o autor foi locatário de imóvel residencial situado no Lago
Sul, Brasília/DF, de julho de 2004 a abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas aos
serviços de água e esgoto prestados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb).
Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a Caesb realizou protestos contra o autor em
relação a dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os locatários do
imóvel.
Os requeridos quitaram os débitos com a Caesb em dezembro de 2022, mas não houve exclusão dos
registros acima referidos.
Nesse quadro, deve-se analisar a possibilidade de impor contra os réus a obrigação de providenciar o
cancelamento dos protestos.
A imposição de obrigação de fazer pressupõe a existência de disposição legal ou contratual que ampare
o dever de cumprir certa prestação.
No caso em tela, os protestos das dívidas foram realizados pela Caesb contra o autor, antigo locatário,
já que a concessionária, que sequer integra esta relação processual, não foi comunicada a respeito da
mudança do usuário dos serviços.
Assim, as anotações impugnadas na presente demanda não foram lançadas pelos réus, mas sim pela
própria concessionária. Vale assinalar que a parte ré já realizou o pagamento dos débitos relativos ao
período em que utilizou dos serviços de água e esgoto, fato confirmado pelo autor.
Por esses motivos, é inviável imputar à parte requerida a obrigação de providenciar a baixa dos
protestos de títulos cuja credora é a Caesb, ou seja, terceiro não integrante da lide.
Nessa linha, aplica-se, mutatis mutandis, o entendimento consolidado no enunciado da súmula n. 548
da Corte Superior: “Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no
cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do
débito”.
Caso se trate de protesto legítimo, cabe, em regra, ao devedor providenciar o seu cancelamento,
devendo o credor fornecer os documentos necessários para tal finalidade, conforme o art. 26, caput e §
1º, da Lei n. 9.492/97 e o art. 2º da Lei n. 6.690/1979.
Aliás, o STJ, no julgamento do Tema Repetitivo n. 725, fixou a seguinte tese: “No regime próprio da
Lei n. 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de dívida, salvo
inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação da dívida,
providenciar o cancelamento do protesto” (REsp 1339436/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
Segunda Seção, julgado em 10/9/2014, DJe 24/9/2014).
Assim, a justa causa dos protestos mantidos após a alegada quitação das dívidas e a responsabilidade
pelo seu cancelamento, conforme as Leis n. 9.492/1997 e 6.690/1979, devem ser analisados por meio
da ação cabível, ajuizada contra a credora (a concessionária) que lançou os registros.
Ante o exposto, a sentença deve ser reformada nesse ponto, a fim de afastar a obrigação de fazer
estabelecida contra os réus.
Diante da sucumbência recíproca e proporcional (art. 86, caput, do CPC), o autor e os réus devem
pagar, na proporção de 25% (vinte e cinco por cento) e 75% (setenta e cinco por cento),
respectivamente, as custas processuais e os honorários advocatícios sucumbenciais.
O art. 85, § 2º, do CPC estabelece os seguintes critérios gerais para arbitramento da verba honorária:
Art. 85 [...] § 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte
por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
Nota-se que o Código de Processo Civil apresenta ordem preferencial (excludente e sucessiva) quanto
ao parâmetro a ser utilizado para fixação dos honorários: 1) em primeiro lugar, deve ser aplicado o
valor da condenação; 2) caso a decisão não tenha natureza condenatória, o critério será o proveito
econômico alcançado com a demanda; 3) quando não for possível mensurar o proveito econômico,
deve ser considerado o valor atualizado da causa.
A jurisprudência da Segunda Seção do STJ segue o mesmo raciocínio (REsp 1746072/PR, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 13/2/2019, DJe 29/3/2019).
§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por
apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º.
A respeito do assunto, a Corte Especial do STJ concluiu julgamento de recursos especiais repetitivos
referentes ao Tema n. 1.076. Destaca-se a tese fixada naquele precedente vinculante:
i) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é permitida quando os valores
da condenação, da causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados. É
obrigatória nesses casos a observância dos percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do artigo
85 do CPC - a depender da presença da Fazenda Pública na lide -, os quais serão
subsequentemente calculados sobre o valor: (a) da condenação; ou (b) do proveito
econômico obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.
ii) Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não
condenação: (a) o proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório;
ou (b) o valor da causa for muito baixo.
Posteriormente, a Lei 14.365/2022, na linha da tese em referência, introduziu o § 6º-A ao art. 85 do
CPC. O novo dispositivo legal estabelece o seguinte:
Art. 85. [...] § 6º-A. Quando o valor da condenação ou do proveito econômico obtido ou o
valor atualizado da causa for líquido ou liquidável, para fins de fixação dos honorários
advocatícios, nos termos dos §§ 2º e 3º, é proibida a apreciação equitativa, salvo nas
hipóteses expressamente previstas no § 8º deste artigo.
Logo, a utilização do critério da apreciação equitativa para fixação dos honorários se limita às
hipóteses previstas no § 8º do art. 85, ou seja, nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito
econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo.
No caso, em razão do provimento do apelo do autor, os réus deverão pagar R$5.000,00 (cinco mil
reais) como compensação pecuniária por danos morais.
Dito isso, em uma primeira análise, os honorários advocatícios de sucumbência deveriam ser
estabelecidos com base em tal quantum condenatório.
Porém, o valor da condenação por danos morais, se utilizado como base para verba sucumbencial,
resultaria quantia incompatível com o trabalho advocatício desenvolvido no processo.
Nesse quadro, deve-se adotar o critério da apreciação equitativa previsto nos arts. 85, §§ 8º e 8º-A do
CPC, à luz da tese firmada pelo STJ no julgamento do Tema Repetitivo n. 1.076.
Segundo a tabela de honorários do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito
Federal, o valor da Unidade Referencial de Honorários em janeiro de 2024 corresponde a R$356,77
(trezentos e cinquenta e seis reais e setenta e sete centavos)[4] .
Para as ações jurisdição contenciosa ou que assumam esse caráter, o Conselho Seccional da OAB/DF
estabelece valor mínimo de 25 URH (vinte e cinco unidades referenciais de honorários)[5] .
Desse modo, caso fosse aplicada a tabela da OAB, os honorários advocatícios seriam fixados em
R$8.919,25 (oito mil novecentos e dezenove reais e vinte e cinco centavos), correspondentes a 25
(vinte e cinto) URH multiplicados por R$356,77 (trezentos e cinquenta e seis reais e setenta e sete
centavos).
A referida quantia, contudo, não seria condizente com as peculiaridades do caso concreto e com os
parâmetros previstos no § 2º do art. 85 do CPC, quais sejam: I - o grau de zelo do profissional; II - o
lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo
advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Importante esclarecer que os valores previstos na tabela do Conselho Seccional da OAB/DF são
recomendados para a hipótese de contratação de serviços advocatícios, ou seja, para o ajuste de
honorários advocatícios contratuais, de natureza diversa dos honorários advocatícios sucumbenciais.
Por esse motivo, a utilização do valor referencial previsto na tabela do Conselho Seccional da OAB/DF
sem observar as particularidades do caso poderia ensejar a fixação de honorários excessivos,
incompatíveis com a equidade a que se refere o art. 85, § 8º, do CPC, entendida, segundo Maria Helena
Diniz[6] , como a “autorização, explícita ou implícita, de apreciar, equitativamente, um caso,
estabelecendo uma norma individual para o caso concreto e tendo por base as valorações positivas do
ordenamento jurídico”.
Na situação dos autos, o valor recomendado pelo Conselho Seccional da OAB/DF para o caso,
R$8.919,25 (oito mil novecentos e dezenove reais e vinte e cinco centavos), não atende aos princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade e poderia ocasionar enriquecimento sem causa.
Isso porque, no particular, o tempo decorrido entre o ajuizamento da ação e a prolação da sentença foi
relativamente curto (aproximadamente quatro meses), não houve dilação probatória e não se trata de
processo de alta complexidade capaz de exigir excessivo labor aos advogados.
Nesse cenário, para fixação dos honorários advocatícios por apreciação equitativa, reputa-se razoável
aplicar o parâmetro de 60% (sessenta por cento) do valor recomendado pelo Conselho Seccional da
OAB.
Ante o exposto, conforme o art. 85, §§ 8º e 8º-A, do CPC e a tese vinculante consolidada no Tema
Repetitivo n. 1.076/STJ, a verba honorária deve ser arbitrada em R$5.351,55 (cinco mil trezentos e
cinquenta e um reais e cinquenta e cinco centavos), correspondentes a 60% (sessenta por cento) do
valor sugerido na tabela da OAB/DF, considerando também o grau de zelo profissional, o lugar de
prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado e o tempo exigido para o
serviço advocatício.
Nesse sentido, há recente decisão monocrática proferida pela Exma. Ministra Maria Isabel Gallotti nos
autos do REsp n. 2.106.286 (DJe de 19/12/2023):
Locação - Ação de despejo c. c. reparação por danos materiais - Sentença que julgou a
ação parcialmente procedente - Apelação - Revelia - Ocorrência - Presunção de
veracidade que decorre da revelia que também não é absoluta e pode ceder a outros
elementos de convicção e postulados valorativos, não se aplicando, ainda, a matéria de
direito, cuja análise deve ser realizada livremente pelo juiz da causa - Multa contratual
devida. Porém, de forma proporcional, tendo em vista a execução parcial do contrato.
Nas razões do especial, aponta a recorrente violação do artigo 85, § 8º-A, do Código de
Processo Civil, argumentando, em síntese, que o valor fixado na Tabela da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) seria determinante para o arbitramento de honorários
sucumbenciais.
Ressalta que os honorários sucumbenciais não poderiam ser fixados abaixo do patamar
estabelecido na Tabela da OAB, mesmo que usado o critério da equidade.
No caso, observo que o Tribunal de origem concluiu que os honorários arbitrados seriam
suficientes para remunerar o trabalho do advogado, não sendo determinante o valor
indicado na Tabela da OAB, por se tratar de mera recomendação (e-STJ, fl. 192):
Por fim, de rigor consignar que ainda que sob a exegese do §8-A, do art.85, do CPC, e
com a máxima vênia a entendimento em sentido contrário, não há que se cogitar da
incidência de honorários no patamar veiculado pela Tabela da OAB no caso concreto,
mesmo porque iterativa jurisprudência já se encontra consolidada no sentido de que
referida tabela representa mera recomendação para fins de arbitramento equitativo em se
tratando de honorários entre cliente e advogado.
Desse modo, como a orientação adotada no acórdão recorrido está em conformidade com
a jurisprudência desta Corte Superior, o recurso especial não deve ser conhecido, em
razão da Súmula 83/STJ.
Nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil de 2015, majoro em 10% (dez
por cento) a quantia já arbitrada a título de honorários em favor da parte recorrida,
devida pela parte recorrente, observando-se os limites dos §§ 2º e 3º do mesmo artigo.
Intimem-se.
[...]
Convém acrescentar, nesse ponto, julgados deste TJDFT sobre o assunto, inclusive acórdão redigido
por esta Relatoria:
Ante o exposto, a distribuição e a fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais devem ser
alteradas.
Conclusão
Com esses fundamentos, conheço das apelações, dou provimento ao recurso dos réus para excluir a
condenação relativa à obrigação de fazer e dou provimento ao apelo do autor para julgar parcialmente
procedente o pedido apresentado na inicial, a fim de condenar a parte requerida a pagar R$5.000,00
(cinco mil reais), de forma solidária, como compensação pecuniária de danos morais, acrescidos de
correção monetária pelo INPC desde o arbitramento (súmula n. 362 do STJ) e juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês a contar do evento danoso (súmula n. 54STJ).
Diante da sucumbência recíproca e proporcional (art. 86, caput, do CPC), o autor e os réus devem
pagar, na proporção de 25% (vinte e cinco por cento) e 75% (setenta e cinco por cento),
respectivamente, as custas processuais e os honorários advocatícios sucumbenciais, estes fixados em
R$5.351,55 (cinco mil trezentos e cinquenta e um reais e cinquenta e cinco centavos), conforme o art.
85, §§ 8º e 8º-A, do CPC e a tese vinculante consolidada no Tema Repetitivo n. 1.076/STJ.
É como voto.
[1] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
[2] Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, equitativamente, a indenização.
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
[6] DINIZ, Maria H. Dicionário jurídico universitário. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição).
Editora Saraiva, 2022.
O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal
Senhor Presidente,
Ouso divergir parcialmente da eminente Relatora, e o faço pelas singelas razões abaixo transcritas.
Verifica-se que ambas as partes litigantes foram locatários, em períodos distintos, do mesmo imóvel
mencionado na inicial.
Após o autor desocupar o imóvel em abril de 2015, este foi alugado em maio do mesmo ano para os
requeridos.
Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a CAESB realizou protestos relativos a
dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período este em que os réus eram os locatários do
imóvel.
O autor ingressa com a ação na origem contendo pedido cominatório direcionado aos requeridos
(obrigação de fazer) consubstanciado em “obrigar os réus aos cancelamentos dos mencionados
protestos”, bem como pedido indenizatório, visando “a condenação solidária dos réus a título de
compensação de danos morais.”
Esclarecida a questão fática e jurídico-processual, a CAESB não poderia negar aos novos locatários
(requeridos) a transferência da titularidade da unidade consumidora, transferência essa realizada pelos
réus anos após ingressarem no imóvel locado. A concessionária também não poderia exigir do autor,
em tese, o pagamento de débito relativo a período em que a unidade consumidora não estava de fato
sob sua responsabilidade.
Ocorre que nenhuma das partes litigantes providenciou a solicitação de alteração da titularidade
ou atualização cadastral perante a CAESB, a tempo e modo, vindo os requeridos a fazê-lo a
destempo e quando já efetivado o protesto das faturas relativas aos meses de julho e agosto de 2022.
Ora, se houve mudança de titularidade da unidade consumidora, não informada formalmente à CAESB
pelo usuário então cadastrado, no caso o autor, tendo ocorrido o protesto em seu nome por ato de
terceiros (CAESB), não há que se falar, na hipótese vertente,em danos morais ocasionados pelos
requeridos.
Do mesmo modo, a parte ré não pode ser compelida a providenciar a baixa dos protestos de títulos cuja
credora e autora dos protestos é a CAESB, terceiro não integrante da lide, incumbindo ao credor
realizar a baixa do registro desabonador no caso de dívida quitada, ou, tratando-se de protesto legítimo,
caberá ao devedor providenciar o seu cancelamento, conforme o art. 26, caput e § 1º, da Lei n.
9.492/97.
Com essas singelas considerações, renovando o pedido de "vênia", divirjo parcialmente da eminente
Relatora para negar provimento ao recurso do autor e dar provimento ao apelo dos requeridos,
julgando improcedentes os pedidos formulados na inicial.
Condeno o autor apelante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados
em 11% (onze por cento) do valor dado à causa, já computados a majoração prevista no art. 85, §11,
do CPC.
É como voto.
Senhora Presidente, peço vênia aos demais Pares e até ajuda para que me corrijam se eu
estiver errado. Mas, encerramos uma pauta virtual de 300 processos e temos uma presencial de 36, das
quais não vejo o nome das partes. Perdoe a minha ignorância. Somos advertidos, quando informamos
que temos parentes, etc., de que estamos impedidos. Acho que aqui foi feita uma afirmação que foge
do nosso dia a dia e não leva a nada, a nenhuma discussão, mas é bom deixar registrado que não se
analisa vida pregressa de nenhuma das partes, salvante se tiver relacionado com o fato em si objeto da
discussão.
Não temos aqui nenhum prejulgamento em relação às pessoas envolvidas. Ainda cito
que há um processo pautado envolvendo um presidente da República contra um ex-presidente ou
vice-versa. Então, são situações em que, se fosse entrar nessa análise, a Justiça ficaria totalmente
inviável, não teria como aplicar a lei analisando as partes envolvidas. Então, perdoe-me fazer essa
observação e retardar um pouco esse julgamento.
Só queria deixar registrado isso porque sou o mais novo aqui, aprendendo com o nosso
Decano. Se eu estiver errado, por favor, corrijam-me, mas confesso que me senti um pouco violado
quando se fala que estamos julgando ou temos de analisar que uma pessoa tenha ou teve um tipo de
comportamento. Confesso que desconheço qualquer coisa em relação a qualquer das partes. Acho que
não tenho nenhum vínculo com nenhum deles.
Por isso, voto com total segurança e confiança, Senhora Presidente, acompanhando o
voto de V. Ex.a
O Código é muito enfático ao exigir que todos tratem todos os agentes processuais, os
sujeitos processuais, com urbanidade e respeito. Um ministro do STF dizia que não olhava a capa dos
autos. Hoje não temos capa, mas ufano-me de dizer que não olho cabeçalho ou índice dos processos
eletrônicos. Então, incorporo a este voto as observações feitas pelo Desembargador Fabrício Fontoura
Bezerra.
Com relação ao caso, embora vindo a integrar o quórum em razão da divergência
apresentada, ouvi atentamente os detalhes do caso e eventualmente posso ser auxiliado com alguma
intervenção de V. Ex. as , que
estudaram minuciosamente essa lide. Mas parece-me que a sentença deve ser confirmada integralmente
e explico por quê.
Na medida em que há uma locação, o locatário — como a obrigação de pagar a taxa de
água e luz são de natureza pessoal, ou seja, aquele que consome é quem paga — deveria comunicar à
CAESB dessa sua
figuração como locatário e usuário do serviço. Ele que consumiu a água, não outro. E esta atribuição,
como disseram tanto a eminente Relatora quanto
oDesembargador Fabrício Fontoura Bezerra, era cabente também ao locatário que saíra do imóvel no
qual colocara o seu nome como usuário do serviço. Como disse
oDesembargador Maurício Silva Miranda, era meramente uma informação de l0, 15 minutos feita pelo
site.
Há o concurso da inércia de ambos: um deixando de comunicar — não sei por que razão
queria manter, ou por inércia ou por desídia, não interessa — e o outro que poderia ter também se
livrado desse problema
comunicando, e não o fez, e foi isso que a juíza fez ao negar os danos morais. Mas a juíza determinou
que o réu providenciasse a baixa do protesto. Pode um terceiro pagar um protesto? Claro que sim.
Protesto pode ser pago por qualquer pessoa. Ao credor interessa receber o dinheiro. Portanto, qualquer
cidadão que chegar ao cartório de protesto e dizer que quer pagar um protesto e pedir o cancelamento
tem o direito de fazê-lo ou pelo menos provar que o protesto foi cancelado. Aqui não se fez isso.
Apesar de acionado judicialmente, o réu continua insistindo na tese de que ele não pode
cancelar o protesto, só a CAESB é que poderia fazê-lo. No caso aqui, o autor poderia ter duas
alternativas, a meu ver: ou pagar
o protesto cancelando-o e usar o direito de regresso, ou, alternativamente, proceder-se como a MM
juíza determinou: o causador do protesto indevido deve pagá-lo no prazo em que o juiz estipulou.
Acredito que o eminente juiz acabou encontrando a solução definitiva para esse caso.
Ou seja, nem se julga improcedente, como é o voto doDesembargador Maurício Silva Miranda, nem se
deixa esse protesto ainda surtindo seus efeitos, como consta no voto da eminente Relatora.
Creio que a sentença resolveu toda a questão determinando que o réu cancele esse
protesto sob pena de multa diária, e ele vai ter de pagar essa multa. Parece-me que foi estipulada em
R$ 300,00 até o limite de R$ 10.000,00. Poderá fazê-lo amanhã, ou sujeitar-se à multa.
Então, Senhora Presidente, embora seja um voto diferente dos dados pelos eminentes
desembargadores que me precederam, coloco essa reflexão para exame de V. Ex. as . Parece-me que
essa sentença soluciona a lide de modo mais justo e definitivo.
Por isso, meu voto é no sentido de negar provimento, sem embargo de que o
julgamento, ao continuar, possa receber novos adminículos, novos acréscimos dos senhores
desembargadores, e eu possa alterar esse entendimento inicial.
Mas, pelo acórdão, parece que a doutora está fixando os danos morais.
O seu voto é mais ou menos parecido com o meu, porque V.Exª. nega provimento ao
recurso do autor.
Eu dei provimento.
DECISÃO