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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0707292-20.2023.8.07.0001

APELADO(S) JOAO PAULO CUNHA e MARCIA REGINA MILANESIO CUNHA


APELANTE(S) MARCELO DE BARROS BARRETO

APELADO(S) JOAO PAULO CUNHA e MARCIA REGINA MILANESIO CUNHA


APELANTE(S) MARCELO DE BARROS BARRETO
Relatora Desembargadora SANDRA REVES

Relator Designado Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA


Acórdão Nº 1809266

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. FATURAS DE ÁGUA E ESGOTO INADIMPLIDAS. LOCATÁRIO A


NTERIOR PROTESTADO PELA CAESB. ALTERAÇÃO DE TITULARIDADE CADASTRAL
NÃO PROVIDENCIADA. DANO MORAL E OBRIGAÇÃO DE FAZER NÃO IMPUTÁVEIS AO
ATUAL LOCATÁRIO.

1. Conforme a Resolução n. 14/2011 da Adasa e precedentes deste Tribunal de Justiça, cabe ao usuário
cadastrado na CAESBsolicitar a extinção da relação contratual com a concessionária assim que extinta
sua relação obrigacional com o imóvel locado.

2. Se houve mudança de titularidade da unidade consumidora, não informada formalmente à CAESB


pelo usuário então cadastrado, no caso o autor, tendo ocorrido o protesto em seu nome por ato de
terceiro estranho ao feito (CAESB), não há se falar, na hipótese vertente,em danos morais ocasionados
pelos requeridos.

3. Aparte ré não pode ser compelida a providenciar a baixa dos protestos de títulos cuja credora e
autora dos protestos é a CAESB, terceiro não integrante da lide, incumbindo ao credor realizar a baixa
do registro desabonador no caso de dívida quitada, ou, tratando-se de protesto legítimo, caberá ao
devedor providenciar o seu cancelamento, conforme o art. 26, capute § 1º, da Lei n. 9.492/97.

4. Recurso da parte autora não provido. Recurso dos réus provido.


ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, SANDRA REVES - Relatora, MAURICIO SILVA MIRANDA - Relator
Designado e 1º Vogal, FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - 2º Vogal, GETÚLIO MORAES
OLIVEIRA - 3º Vogal e ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 4º Vogal, sob a Presidência da
Senhora Desembargadora SANDRA REVES, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDOS.
RECURSO DA PARTE AUTORA DESPROVIDO. RECURSO DOS RÉUS PROVIDO. MAIORIA.
JULGAMENTO DE ACORDO COM O ART. 942 DO CPC. VENCIDA A RELATORA, REDIGIRÁ
O ACÓRDÃO O 1º VOGAL, DESEMBARGADOR MAURÍCIO SILVA MIRANDA, PROLATOR
DO VOTO MÉDIO., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 07 de Fevereiro de 2024

Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA


Relator Designado

RELATÓRIO

Trata-se de apelações interpostas por Marcelo de Barros Barreto, Marcia Regina Milanesio Cunha e
João Paulo Cunha contra a sentença (ID 50213231) proferida pela Juíza de Direito em exercício na 3ª
Vara Cível de Brasília, que, em ação de conhecimento, julgou parcialmente procedente o pedido
apresentado na petição inicial para condenar a parte ré a cancelar os protestos de dívidas relativos ao
autor no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a partir da intimação pessoal, sob pena de multa diária
correspondente a R$300,00 (trezentos reais), até o limite de R$10.000,00 (dez mil reais).

Por força da sucumbência recíproca, as partes foram condenadas a pagar, na proporção de 50%
(cinquenta por cento) para cada, as custas e os honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por
cento) do valor da causa.

Nas razões ao ID 50213233, Marcelo de Barros Barreto explica que, por meio da ação ajuizada na
origem, busca o cancelamento de protestos decorrentes do inadimplemento dos réus quanto aos
serviços de água e esgoto fornecidos pela Caesb, além do pagamento de indenização por danos morais.

Alega ter sido locatário de imóvel residencial situado no Lago Sul, Brasília/DF, de julho de 2004 a
abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas ao fornecimento dos serviços de água e
esgoto.

Informa que, após desocupar o imóvel, este foi alugado para os requeridos, que não realizaram a
transferência de titularidade das contas na Caesb.

Relata que, em novembro de 2022, foi surpreendido com a informação (prestada pelo Gerente do
Banco do Brasil em Brasília) da existência de protestos em seu nome e registro negativo na Serasa
relativos a dívidas com a Caesb vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os
locatários do imóvel.

Afirma ter sido impedido de contratar serviço com instituição financeira em razão dos mencionados
protestos e registros negativos na Serasa.

Destaca a tentativa de solucionar o problema de modo amigável. Nesse ponto, aduz que os requeridos
reconheceram que eram responsáveis pelo pagamento dos serviços de água e esgoto e quitaram os
débitos, sem oposição, mas se negaram a comparecer ao Cartório competente para solicitar o
cancelamento dos protestos.

Sustenta que a sentença deve ser reformada no ponto em que rejeitou o pedido de indenização por
danos morais.

Defende que, por se tratar de obrigação de natureza pessoal, os réus, ao celebrarem o contrato de
locação do imóvel, deveriam ter realizado a alteração cadastral na Caesb.

Assinala que os requeridos utilizaram indevidamente seu nome por quase 8 (oito) anos.

Assevera que não teria condições de alterar o cadastro da titularidade da conta na Caesb, pois, no seu
entendimento, “essa obrigação, legal e moral, competia apenas aos novos inquilinos”.

Sublinha que os apelados são pessoas instruídas e tinham plena ciência da obrigação de realizar a
alteração cadastral quanto aos serviços de água e esgoto.

Expõe que “o ato ilícito cometido pelos apelados consistiu em não transferir a titularidade da conta de
água para seus nomes e depois, cientes da cobrança em nome do apelante, prefeririam se omitir,
deixando que um terceiro (o apelante) sofresse as consequências da inadimplência”.

Aponta que “a ilicitude do ato consiste no conjunto de ações e omissões dos apelados, que resultaram
no protesto de dívida em nome do apelante, causando-lhes danos à sua imagem e honra”.

Acrescenta que, mesmo após receberem os avisos de protestos e mesmo cientes de que eram os únicos
responsáveis pela obrigação de pagar os débitos, os requeridos se mantiveram omissos e nada fizeram
para evitar o dano.

Diz ter comprovado os constrangimentos sofridos perante os representantes da imobiliária responsável


pelo imóvel em questão e os prepostos da agência do Banco do Brasil no qual mantém conta bancária.

Ressalta que nunca teve qualquer outra anotação ou protesto lançado em seu nome.

Frisa que a simples existência de protestos e registros na Serasa implica automática restrição de crédito
no mercado e impede/dificulta a obtenção de serviços financeiros.

Entende que o dano moral oriundo de inscrição indevida em cadastro de inadimplentes ou protesto
indevido prescinde de prova, por ser presumido.

Requer antecipação dos efeitos da tutela recursal para determinar que os requeridos providenciem o
cancelamento dos protestos no prazo de 72h (setenta e duas horas) contados da intimação de seus
advogados, sob pena de multa diária.

Pede ainda que o recurso seja conhecido e provido para reformar em parte a sentença, de modo que o
pedido de condenação por danos morais seja acolhido e os ônus de sucumbência sejam imputados
exclusivamente aos réus.

Preparo recolhido (ID 50213234).

Nas contrarrazões (ID 50213237), os requeridos pugnam pelo desprovimento do recurso interposto
pelo autor.

Nas razões ao ID 50213238, Marcia Regina Milanesio Cunha e João Paulo Cunha sustentam que a
baixa da restrição no Cartório em que o título foi protestado é medida que cabe ao próprio interessado
ou ao credor que realizou o protesto (Caesb).

Defendem não existir relação jurídica que vincule as partes, pois não há mais débito pendente com a
Caesb.

Consideram inviável a imposição de obrigação de fazer consistente em retirar registros que não
mandaram lavrar.

Apontam que a sentença está equivocada ao concluir pela existência de vínculo jurídico entre as partes
no tocante ao protesto realizado por terceiro e ao impor obrigação de fazer sem previsão legal que a
ampare.

Afirmam não ter descumprido ajuste firmado com o autor e não ter apresentado títulos para protesto.

Ressaltam que o autor firmou contrato de fornecimento de água na residência em que morava e, ao se
mudar de endereço, não tomou as providências devidas para romper a relação jurídica com a Caesb.

Assinalam que a dívida e a respectiva cobrança eram legítimas, de modo que não haveria como ordenar
à credora (Caesb) que realizasse o levantamento dos títulos licitamente protestados.

Concluem pela inexistência de amparo jurídico para a obrigação de fazer estabelecida na sentença.

Requer que o recurso seja conhecido e provido para reformar a sentença e julgar improcedentes os
pedidos apresentados na petição inicial.

Preparo recolhido (ID 50213240).

Nas contrarrazões (ID 51508889), o autor pugna pelo desprovimento do recurso interposto pela parte
requerida.

O pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal apresentado no apelo interposto pelo autor foi
indeferido (ID 51552843).

É o relatório.

VOTOS

VOTOS
A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço das apelações.

Cuida-se, na origem, de ação de conhecimento ajuizada por Marcelo de Barros Barreto contra Marcia
Regina Milanesio Cunha e João Paulo Cunha, por meio da qual o autor busca o cancelamento de
protestos decorrentes do inadimplemento dos réus quanto aos serviços de água e esgoto fornecidos pela
Caesb, além do pagamento de indenização por danos morais.

Para melhor compreender o caso em julgamento, é pertinente transcrever o minucioso relatório


processual apresentado na sentença:

[...]

Em suas considerações iniciais, o autor aduz, em síntese, que “foi locatário do imóvel
situado no SHIS QL 14, CONJUNTO 6, CASA 13, CEP 71.640-065, no período
compreendido entre julho de 2004 a abril de 2015”; que “passados mais de oito anos da
entrega do imóvel pelo autor, foi ele surpreendido quando da recontratação de créditos
junto ao Banco do Brasil, ag. 4882-8, no Lago Sul, da existência impeditiva de três
protestos de títulos” e que “diligenciou junto ao Cartório Único de Protestos de Brasília,
em 20/12/2022, em cuja certidão positiva constou como credor dos mencionados protestos
como sendo a CAESB, o primeiro deles de título emitido em 30/05/2022, com vencimento
em 15/07/2022, no valor de R$5.671,51; o segundo título emitido em 01/07/2022, com
vencimento em 15/07/2022, no valor de R$1.806,32; e o último título emitido em
01/08/2022, com vencimento em 15/08/2022, no valor de R$1.714,08”; e que “diligenciou
junto à CAESB quando foi surpreendido pela DECLARAÇÃO DE SITUAÇÃO de débitos
junto à companhia referente ao autor, MARCELO DE BARROS BARRETO, no valor
atualizado de R$9.320,51, em documento do dia 21/12/2022, relativo à inscrição n.
312258, exatamente no endereço do SHIS QL 14, CONJUNTO 6, CASA 13, LAGO SUL”.

Tece arrazoado jurídico e pleiteia para que “seja concedida tutela liminar de urgência
para obrigar os réus aos cancelamentos dos mencionados protestos”.

No mérito, pede:

1) “Seja determinado aos réus que façam a juntada aos autos do termo de vistoria do
início da locação do mencionado imóvel, bem como do contrato de locação realizado com
a intermediação da imobiliária MA BROKERS DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO
EIRELI ME”;

2) “Caso se mostre necessário, seja intimada a mesma imobiliária acima, com sede no
SRTVS QUADRA 701 BLOCO “O” SALAS 162 e 163 ED. MULTIEMPRESARIAL ASA
SUL BRASÍLIA/DF – CEP: 70.340-000, para que exiba o termo de entrega do mesmo
imóvel realizada pelo autor em abril de 2015, bem como o primeiro contrato realizado
com os réus para a locação do referido bem e relativo termo de vistoria;

3) “Ao final, no mérito, a condenação solidária dos réus a título de compensação de


danos morais, no valor de R$ 40.000,00”.

Com a inicial vieram os documentos do ID 150012726 ao ID 150079598.

A decisão de ID 150292583 indeferiu a liminar pleiteada.


Citada (ID 155423265 e ID 155423850), a parte requerida apresentou contestação ao ID
157541971. Preliminarmente, impugnou o valor da causa e suscitou ilegitimidade passiva.
No mérito, em síntese, afirmou que “no dia 23 de dezembro a Requerida Marcia
Milanesio foi até à CAESB e resolveu a pendência financeira e imediatamente transferiu a
titularidade da conta para o seu nome” e que “solucionada a pendência financeira, a
Requerida Marcia Milanesio comunicou ao Notificante sobre a necessidade de que o
inquilino anterior, in casu, o Requerente, comparecer ao cartório do Edifício Venâncio
3000 para regularizar sua situação, comprometendo-se, em clara demonstração de
boa-fé, a ressarci-lo desse custo. Contudo, o Autor prontamente recusou-se a tomar tais
providências, por entender que isso competiria aos Demandados”; que o autor não reside
em Goiânia; que “a obrigação de fazer é medida que decorre do descumprimento de
ajuste firmado entre as partes, não havendo, na hipótese sub examine, relação jurídica
que vincule Autor e Réus, até porque, não remanesce qualquer débito vencido junto à
CAESB”; que “o locatário, ao deixar o imóvel, possuía plenas condições de promover a
alteração da titularidade da conta junto à Companhia de fornecimento de água do
Distrito Federal”; que “não há nos autos qualquer prova desse fato [o autor que vem
sofrendo prejuízo junto a uma das instituições financeiras das quais é correntista para
liberação de crédito em conta corrente e de cartão de crédito], seja no tocante à
dificuldade de contratação de crédito junto a bancos, seja perante lojistas etc. Aliás, o
próprio Requerente noticia ter conta em 8 (oito) bancos, mas não justifica por que teria
encontrado dificuldade de contratação de crédito em apenas um deles (Banco do Brasil)”;
que não há danos morais passíveis de indenização.

Réplica ao ID 160456734.

Após, vieram os autos conclusos.

Esse é o breve relato do que reputo ser necessário para o deslinde da causa.

Passo a decidir.

[...]

Na parte dispositiva, o pedido apresentado na petição inicial foi julgado parcialmente procedente para
condenar a parte ré a cancelar os protestos no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a partir da intimação
pessoal, sob pena de multa diária.

Diante disso, ambas as partes recorreram.

Da apelação interposta pelo autor

Em análise dos autos, verifica-se que o autor foi locatário de imóvel residencial situado no Lago Sul,
Brasília/DF, de julho de 2004 a abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas aos
serviços de água e esgoto prestados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb).

Após desocupar o imóvel, este foi alugado para os requeridos.

Não houve, à época, pedido de cancelamento ou transferência de titularidade das contas na Caesb.

Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a Caesb realizou protestos contra o autor em
relação a dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os locatários do
imóvel.

Os requeridos quitaram os débitos com a Caesb em dezembro de 2022, mas não houve exclusão dos
registros acima referidos.
Os fatos relatados não foram objeto de controvérsia entre as partes.

Esclarecido o contexto, passa-se a analisar o cabimento da compensação pecuniária por danos morais
pleiteada pelo autor.

A obrigação de pagar os serviços de água e esgoto fornecidos pela Caesb é de natureza pessoal, ou
seja, recai sobre o usuário, aquele que efetivamente obteve a prestação dos serviços.

As jurisprudências do STJ e deste TJDFT assinalam que, se a mudança de titularidade da unidade


consumidora não foi informada e solicitada formalmente, o usuário cadastrado não pode se desonerar
da obrigação de realizar o pagamento à concessionária do serviço público, sem prejuízo de eventual
direito de regresso contra aquele que efetivamente realizou o consumo e gerou o débito.

A propósito, segue ementa de julgado da Primeira Turma do STJ sobre o assunto:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO.
PAGAMENTO DO DÉBITO DE CONSUMO. OBRIGAÇÃO PESSOAL. EXISTÊNCIA DE
CONTRATO DE LOCAÇÃO NÃO INFORMADO À CONCESSIONÁRIA.
RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL. 1. A jurisprudência desta
Corte é firme no sentido de que os débitos relativos aos serviços essenciais, tais como
água/esgoto e energia elétrica, são de natureza pessoal, ou seja, de quem efetivamente
obteve a prestação do serviço, não se caracterizando como obrigação de natureza propter
rem, pois não se vinculam à titularidade do imóvel. Precedentes: AgRg no AREsp
45.073/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 15/02/2017;
AgRg no AREsp 829.901/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe
11/05/2016AgRg no AREsp 592.870/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 21/11/2014; AgRg no REsp 1.320.974/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 18/08/2014; AgRg no REsp 1.444.530/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 16/05/2014. 2. Todavia, no caso dos autos, não obstante tenha havido
contrato de locação do imóvel, não houve a alteração da titularidade contratual perante a
concessionária do serviço. Assim, considerando que o proprietário do bem permaneceu
inscrito como titular do serviço nos cadastros da concessionária, que não foi informada
da existência do contrato de locação, não há como imputar a ela a obrigação de cobrar os
custos de terceiro (locatário), que com ela sequer manteve relação contratual. 3. Por
conseguinte, não há falar em ilegitimidade da recorrente, proprietária do imóvel, para
figurar na presente execução fiscal, não podendo se eximir de sua obrigação contratual
perante a concessionária de pagamento dos pelos serviços prestados, cujas faturas de
consumo estão regularmente em seu nome, sem prejuízo de eventual direito de regresso
em face do inquilino. 4. Esse mesmo raciocínio já foi adotado por esta Corte ao
reconhecer a ilegitimidade do locatário para discutir perante a concessionária questões
relativas a contrato de prestação de serviços, em relação ao qual não fez parte.
Precedentes: AgInt no AREsp 1.105.681/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
DJe 09/10/2018; AgRg no REsp 1.185.667/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 27/09/2010; REsp 1.074.412/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 11/05/2010). 5. Agravo conhecido para negar provimento ao recurso
especial. (AREsp: 1557116 MG 2019/0228088-1, Relator: Ministro BENEDITO
GONÇALVES, Data de Julgamento: 5/12/2019, PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 10/12/2019)

No mesmo sentido, há acórdãos deste TJDFT que se aplicam, mutatis mutadis, ao caso, ressaltando o
caráter propter personam da obrigação e a possibilidade de direito de regresso:

APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL, PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
CEB. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. RESPONSABILIDADE PELO
PAGAMENTO. REAL USUÁRIO DO SERVIÇO. OBRIGAÇÃO DE NATUREZA
PESSOAL. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Segundo
entendimento firmado no âmbito da jurisprudência do c. STJ, débitos decorrentes do
fornecimento de energia elétrica constituem obrigação pessoal (propter personam), e não
real (propter rem), pois não decorrem diretamente da existência em si do imóvel, não se
vinculando à titularidade do bem, mas à vontade de receber o serviço. 2. Não tem
legitimidade ativa em ação em que se discute débito e corte em razão do fornecimento de
energia elétrica o proprietário do imóvel, uma vez que a responsabilidade pela
contraprestação respectiva incumbe exclusivamente ao usuário/beneficiário dos serviços
contratados. 3. Sentença mantida. Recurso não provido. (Acórdão 1355434,
07169211720208070003, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 7ª Turma Cível,
data de julgamento: 14/7/2021, publicado no DJE: 29/7/2021. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA.


COISA JULGADA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. PAGAMENTO DE DÉBITO DE CONSUMO. OBRIGAÇÃO PESSOAL.
LOCAÇÃO DO IMÓVEL. NÃO COMPROVAÇÃO DE COMUNICAÇÃO À
PRESTADORA DO SERVIÇO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Análise de condições da
ação deve ocorrer in status assertionis, ou seja, segundo os fatos alegados pelo autor na
inicial. Hipótese em que a parte apontada para ocupar o polo passivo da demanda pode,
em tese, responder pelos efeitos da sentença. 2. "A coisa julgada verifica-se quando se
reproduz ação anteriormente ajuizada (art. 337, § 1º, do CPC/2015). Isto é, quando
presente a tríplice identidade: mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido.
Assim, sendo distintos a causa de pedir e os pedidos, inexiste em violação à coisa
julgada." (REsp n. 1.989.089/MT, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 26/4/2022, DJe de 28/4/2022.). 2.1. Na hipótese, não há tríplice identidade,
não há que se falar em violação à coisa julgada. 3. Embora a natureza pessoal de débitos
de água e de energia elétrica, para se eximir da responsabilidade o usuário do serviço de
energia elétrica deve comunicar à empresa prestadora do serviço a transferência da
titularidade da unidade consumidora, destacando-se que "disposição presente no contrato
de locação no sentido de imputar ao locatário a responsabilidade pelos débitos de energia
elétrica vale entre as partes, garantindo, assim, o direito de regresso do locador contra o
locatário". (Acórdão 1176666, 07080748320178070018, Relator: ROBERTO FREITAS,
1ª Turma Cível, data de julgamento: 5/6/2019, publicado no DJE: 13/6/2019. Pág.: Sem
Página Cadastrada.) 6. Recurso conhecido, preliminares rejeitadas e desprovido.
(Acórdão 1603115, 07014112720218070003, Relator: MARIA IVATÔNIA, 5ª Turma
Cível, data de julgamento: 9/8/2022, publicado no PJe: 19/8/2022. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. FATURA DE ÁGUA E ESGOTO.


RESPONSABILIDADE PELA CONTRAPRESTAÇÃO 1. A responsabilidade pelo
pagamento da contraprestação do serviço recai sobre quem o solicita. 2. Assim, apesar do
contrato de locação do imóvel, o fornecimento foi solicitado pelo seu proprietário, razão
pela qual é ele, e não o locatário, quem está vinculado à CAESB, sem prejuízo de eventual
direito de regresso em face do inquilino. (07136124520178070018 DF
0713612-45.2017.8.07.0018, Relator: FERNANDO HABIBE, Data de Julgamento:
15/5/2019, 4ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no PJe: 17/5/2019. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

Cumpre registrar que os arestos acima mencionados tratavam de ações declaratórias de inexistência de
débito ajuizadas contra a Caesb, situação que se difere do caso em tela, que trata apenas dos atos
praticados por particulares, ou seja, da responsabilidade dos antigos locatários e usuários dos serviços
prestados pela aludida companhia.

Em relação à responsabilidade de requerer o cancelamento da prestação dos serviços ou de informar à


concessionária a alteração de titularidade para se desonerar da obrigação de pagar as respectivas
faturas, destaca-se o disposto nos arts. 14, 82 e 83 da Resolução n. 14/2011 da Agência Reguladora de
Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal:

Art. 14. O usuário é responsável pelo pagamento da fatura, pela observância da data do
vencimento e pelo adimplemento de todas as obrigações pertinentes ao uso dos serviços.

§ 1º O usuário é responsável por manter os dados cadastrais atualizados junto ao


prestador de serviços, em especial os dados de contato como número de telefone móvel e
endereço eletrônico, arcando pelo pagamento das diferenças resultantes da aplicação de
tarifas no período em que a unidade usuária esteve incorretamente enquadrada, quando
da ocorrência dos seguintes fatos: (Redação dada pela Resolução nº 10, de 26 de
setembro de 2022).

I – declaração falsa de informação referente à natureza da atividade desenvolvida na


unidade usuária ou à finalidade real da utilização da água tratada; ou

II – omissão das alterações supervenientes que importarem em reenquadramento.

§ 2º Para os casos disciplinados no parágrafo anterior, o usuário não tem direito à


devolução de quaisquer diferenças eventualmente pagas a maior.

[...]

Art. 82. O contrato de prestação de serviços se extinguirá:

I – a pedido do usuário ou quando houver pedido de novo contrato formulado por novo
interessado referente à mesma unidade usuária; (Redação dada pela Resolução nº 12, de
29 de Novembro de 2019)

II – por iniciativa do prestador de serviços, no caso de descumprimento de cláusulas de


contrato específico pelo usuário;

III – quando expirar o prazo de vigência de contrato específico sem que haja renovação.

§ 1º A extinção do contrato a pedido do usuário não pode ser condicionada à quitação de


débitos, observado o art. 126. desta Resolução. (Redação dada pela Resolução nº 10, de
26 de setembro de 2022).

§2º A extinção do contrato a pedido do usuário ou por iniciativa do prestador de serviços


não exime o usuário da obrigação de adimplir com os débitos pendentes oriundos da
prestação de serviços e de outros encargos decorrentes de descumprimento de obrigações
acessórias que possam se converter em pecúnia. (Redação dada pela Resolução nº 10, de
26 de setembro de 2022).

§3º O não pagamento das contas constitui descumprimento contratual e sujeita o usuário,
inicialmente, à suspensão do serviço, mediante notificação prévia. (Redação dada pela
Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).

§4º A rescisão contratual somente será efetivada após a suspensão definitiva dos serviços
de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário. (Redação dada pela Resolução nº
12, de 29 de Novembro de 2019).

Art. 83. O prestador de serviços poderá realizar a novação com substituição do usuário
contratante pelo proprietário, pelo cessionário por ato da administração pública, pelo
locador ou pelo locatário da unidade usuária, a pedido destes, quando:

I – os requerentes da novação apresentarem comprovante do término da relação


contratual que autorizou a celebração de contrato do prestador de serviços com o usuário
a ser substituído; (Redação dada pela Resolução nº 16, de 23 de dezembro de 2019).

II – o usuário a ser substituído estiver com o serviço de abastecimento de água suspenso


por mais de 30 dias, por motivo de inadimplência; (Redação dada pela Resolução nº 16,
de 23 de dezembro de 2019).

III – houver sucessão da propriedade ou da posse do imóvel comprovada por instrumento


público; (Redação dada pela Resolução nº 16, de 23 de dezembro de 2019).

IV – o locatário comprovar o negócio jurídico com o proprietário ou cessionário por meio


de instrumento público ou particular com reconhecimento de firma. (Redação dada pela
Resolução nº 16, de 23 de dezembro de 2019).

§1º O prestador de serviços exigirá do requerente da novação a apresentação de


documentação prevista no Art. 32, §2º. (Redação dada pela Resolução nº 12, de 29 de
Novembro de 2019).

§2º (Revogado pela Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).

§3º (Revogado pela Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).

§4º (Revogado pela Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).

§5º É vedado ao prestador de serviços recusar nova contratação com o usuário


substituído, exceto quando houver outros débitos pendentes em seu nome. (Redação dada
pela Resolução nº 12, de 29 de Novembro de 2019).

§6º O prestador de serviços poderá proceder ao parcelamento de débitos remanescentes.

Da leitura dos dispositivos acima citados, percebe-se que o usuário é responsável pelo adimplemento
de todas as obrigações pertinentes ao uso dos serviços e por manter os dados cadastrais atualizados.

A extinção do contrato de prestação de serviços pode ocorrer por solicitação do usuário ou quando
houver pedido de novo contrato formulado por novo interessado referente à mesma unidade.

Além disso, segundo o art. 83 da Resolução, o prestador de serviços pode realizar novação com
substituição do usuário contratante pelo proprietário, pelo cessionário por ato da administração pública,
pelo locador ou pelo locatário da unidade, a pedido destes, por meio da apresentação dos documentos
pertinentes.

Nesse contexto, incumbia tanto ao autor, na condição de usuário cadastrado até então, quanto aos réus,
na condição de novos locatários, solicitar a extinção da relação contratual com a Caesb e/ou a troca de
titularidade, conforme os arts. 14, 82 e 83 da Resolução n. 14/2011 da Adasa.

Destaca-se, nesse ponto, que a notificação extrajudicial enviada pelos representantes da imobiliária aos
requeridos apontou a existência de disposição contratual sobre a obrigatoriedade de os locatários
alterarem a titularidade de todas as contas relativas ao imóvel locado. Tal documento ainda indicou os
prejuízos que o inquilino anterior (ora demandante) estaria sofrendo em razão das pendências com a
Caesb (ID 50212833).

O autor, ao desocupar o imóvel do qual foi locatário, não requereu administrativamente o


cancelamento dos serviços prestados pela Caesb, tampouco a troca de titularidade da conta de água e
esgoto, permanecendo, assim, como responsável financeiro no cadastro da concessionária.

A parte ré, por sua vez, na condição de nova inquilina do imóvel, também não providenciou a
solicitação de alteração da titularidade ou atualização cadastral.
Desse modo, não houve encerramento formal da relação contratual entre a Caesb e o autor, o qual
ainda figurava indevidamente como responsável financeiro pelo adimplemento das faturas.

Como visto, oautor demonstrou que não residia na unidade consumidora no período relativo aos
débitos indicados na lide e, portanto, não se beneficiou do consumo que deu origem a tal dívida.

Ainda que o autor pudesse ter diligenciado para encerrar seu vínculo com a companhia prestadora dos
serviços e mesmo que o protesto e a anotação em cadastro restritivo de crédito não tenham sido
realizados pela parte ré, sua conduta omissiva e o incontroverso inadimplemento das faturas de água e
esgoto contribuíram para a realização de tais registros desabonadores, concorrendo, assim, para os
transtornos sofridos pelo antigo inquilino para tentar solucionar a questão e regularizar sua situação
(IDs 50212832, 50212833 e 50213220 - 50213223).

Os extratos de anotações cadastrais emitidos pelo sistema do Banco do Brasil reforçam a alegação de
que o autor foi surpreendido com os protestos de dívidas e registros na Serasa ao tentar realizar
operações de crédito com a instituição financeira (ID 50212829).

Em síntese, os réus descumpriram sua obrigação de pagar o consumo dos serviços de água e esgoto dos
quais utilizaram, mas as consequências de tal inadimplemento recaíram única e exclusivamente contra
o autor, que sequer residia na unidade consumidora à época.

Vale ressaltar o tempo significativo em que os réus usufruíram dos serviços de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário utilizando-se irregularmente do cadastro do autor na concessionária (de 2015
a 2022), além do considerável valor da dívida imputada contra o demandante, contraída no período em
que este não era mais o locatário do imóvel (R$9.320,51 – nove mil três mil e vinte reais e cinquenta e
um centavos, conforme última atualização).

O ato ilícito praticado pelos réus ocasionou transtornos e contribuiu para a exposição da imagem e da
honra do autor, violando, portanto, atributos de sua personalidade, o que atrai o direito à indenização
prevista no art. 5º, X, da Constituição Federal[1] e no art. 12 do Código Civil[2] .

Aliás, a jurisprudência do STJ é no sentido de que, na hipótese de protesto indevido de título ou de


inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral se configura in re ipsa,
independentemente de prova (AgInt no AREsp 1679481/MS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,
Quarta Turma, julgado em 28/9/2020, DJe 1/10/2020).

É válido repetir que, embora o protesto e a anotação em cadastro de proteção ao crédito não tenham
sido realizados pela parte ré, sua conduta foi determinante para a realização de tais registros contra o
autor.

Identificados os pressupostos da responsabilidade civil por ato ilícito causador de danos morais,
passa-se, por conseguinte, a fixar o valor da condenação.

Embora seja impossível mensurar e reparar efetivamente os danos morais relatados, revela-se adequado
impor obrigação capaz de reprimir a conduta praticada e de compensar, ainda que indiretamente, tais
prejuízos.

À luz dos arts. 944 e 945 do Código Civil[3] , a quantificação do dano moral deve atender aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, observando principalmente a natureza da ofensa, a
gravidade do ilícito e demais peculiaridades do caso, de modo a conferir valor suficiente para
compensar o dano à vítima e para desestimular o ofensor, sem representar, por outro lado,
enriquecimento ilícito.

A fim de evitar adoção de critérios unicamente subjetivos pelo julgador, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça considera válido utilizar o critério bifásico para arbitramento equitativo do valor da
condenação.
Na primeira fase, estabelece-se valor básico, levando-se em conta o interesse jurídico lesado e os
precedentes acerca de casos semelhantes. Na segunda fase, ponderam-se as circunstâncias do caso
concreto (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição
econômica das partes) e fixa-se o valor definitivo (AgInt no REsp 1608573/RJ, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 20/8/2019, DJe 23/8/2019).

Como já exposto, a conduta omissiva dos réus contribuiu para os danos à imagem e à honra do autor,
causando-lhe transtornos para buscar a solução do problema e regularizar os registros realizados em
seu nome.

Há recente precedente da 8ª Turma Cível deste TJDFT que manteve indenização por danos morais
arbitrada em R$5.000,00 (cinco mil reais) no julgamento de caso que se assemelha, mutatis mutandis,
ao processo em epígrafe. Segue a ementa do julgado:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


E MATERIAIS. DÉBITOS DE IMÓVEL ALIENADO. CONTAS DE ÁGUA. NATUREZA
PESSOAL. PEDIDO DE TROCA DE TITULARIDADE. NÃO COMPROVADO. DANOS
MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
DANO MORAL CONFIGURADO.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1. Nos termos do art. 78 da Resolução nº 14/2011 da Agência
Reguladora de Águas - ADASA, o fornecimento de água caracteriza-se como uma relação
contratual, vinculando diretamente a empresa prestadora do serviço e o titular em nome
de quem foram feitos os registros. 2. Não existe qualquer lei definindo de quem é a
responsabilidade pela transferência de titularidade das contas junto às prestadoras de
serviço público de água, esgoto ou luz. Segundo a praxe comercial, essa responsabilidade
recai sobre o comprador. 3. Se o comprador se obrigou expressamente a arcar com todas
as despesas do imóvel a partir da data de transferência da posse, então as contas de
natureza pessoal devem ser quitadas pelo novo proprietário, obedecendo às regas
dispostas no contrato firmado. Vale dizer, as despesas com água se vinculam ao titular e
não ao bem. 4. Mesmo diante da venda do imóvel para terceiros, o caráter pessoal das
contas de água não permite isentar a recorrente do dever de pagar os débitos efetuados,
sem a efetiva comprovação da tentativa de alterar a titularidade do registro perante a
prestadora de serviço. 4.1 A eventual transação particular, para passar os bens a
terceiros, deve observar todas as formalidades e cautelas para não prejudicar ou atingir a
esfera de direitos de quem não integrou esse novo negócio jurídico. 5. Segundo
construção jurisprudencial pacífica, configura dano moral indenizável, em razão da
violação aos direitos da personalidade, em especial ao nome e à imagem, a inserção
indevida de consumidor nos órgãos de proteção ao crédito. 6. Recurso conhecido e não
provido. (Acórdão 1794497, 07006616420228070011, Relator: EUSTÁQUIO DE
CASTRO, 8ª Turma Cível, data de julgamento: 7/12/2023, publicado no DJE: 13/12/2023.
Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Ponderando-se as circunstâncias do caso concreto, especialmente as repercussões do ato ilícito, a culpa


concorrente do autor e a solidariedade entre os réus, o valor definitivo deve ser fixado em R$5.000,00
(cinco mil reais).

Por essas razões, a sentença deve ser reformada para que o pedido de condenação ao pagamento de
indenização por danos morais seja julgado procedente.

Da apelação interposta pela parte ré

Como já relatado nos tópicos anteriores, o autor foi locatário de imóvel residencial situado no Lago
Sul, Brasília/DF, de julho de 2004 a abril de 2015, período em que assumiu as obrigações relativas aos
serviços de água e esgoto prestados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb).

Após desocupar o imóvel, este foi alugado para os requeridos.


Não houve, à época, pedido de cancelamento ou transferência de titularidade das contas na Caesb.

Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a Caesb realizou protestos contra o autor em
relação a dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período em que os réus eram os locatários do
imóvel.

Os requeridos quitaram os débitos com a Caesb em dezembro de 2022, mas não houve exclusão dos
registros acima referidos.

Os fatos relatados não foram objeto de controvérsia entre as partes.

Nesse quadro, deve-se analisar a possibilidade de impor contra os réus a obrigação de providenciar o
cancelamento dos protestos.

A imposição de obrigação de fazer pressupõe a existência de disposição legal ou contratual que ampare
o dever de cumprir certa prestação.

No caso em tela, os protestos das dívidas foram realizados pela Caesb contra o autor, antigo locatário,
já que a concessionária, que sequer integra esta relação processual, não foi comunicada a respeito da
mudança do usuário dos serviços.

Assim, as anotações impugnadas na presente demanda não foram lançadas pelos réus, mas sim pela
própria concessionária. Vale assinalar que a parte ré já realizou o pagamento dos débitos relativos ao
período em que utilizou dos serviços de água e esgoto, fato confirmado pelo autor.

Por esses motivos, é inviável imputar à parte requerida a obrigação de providenciar a baixa dos
protestos de títulos cuja credora é a Caesb, ou seja, terceiro não integrante da lide.

O STJ tem entendimento no sentido de que, independentemente de se tratar de protesto indevido ou de


manutenção irregular de protesto, incumbe ao credor realizar a baixa do registro desabonador (AgInt
no AREsp 1275494/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 30/9/2019,
DJe 4/10/2019).

Nessa linha, aplica-se, mutatis mutandis, o entendimento consolidado no enunciado da súmula n. 548
da Corte Superior: “Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no
cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do
débito”.

Caso se trate de protesto legítimo, cabe, em regra, ao devedor providenciar o seu cancelamento,
devendo o credor fornecer os documentos necessários para tal finalidade, conforme o art. 26, caput e §
1º, da Lei n. 9.492/97 e o art. 2º da Lei n. 6.690/1979.

Aliás, o STJ, no julgamento do Tema Repetitivo n. 725, fixou a seguinte tese: “No regime próprio da
Lei n. 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de dívida, salvo
inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação da dívida,
providenciar o cancelamento do protesto” (REsp 1339436/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
Segunda Seção, julgado em 10/9/2014, DJe 24/9/2014).

Assim, a justa causa dos protestos mantidos após a alegada quitação das dívidas e a responsabilidade
pelo seu cancelamento, conforme as Leis n. 9.492/1997 e 6.690/1979, devem ser analisados por meio
da ação cabível, ajuizada contra a credora (a concessionária) que lançou os registros.

Ante o exposto, a sentença deve ser reformada nesse ponto, a fim de afastar a obrigação de fazer
estabelecida contra os réus.

Dos honorários advocatícios sucumbenciais


Por força do provimento dos recursos, a distribuição dos ônus sucumbenciais definida na sentença deve
modificada.

Diante da sucumbência recíproca e proporcional (art. 86, caput, do CPC), o autor e os réus devem
pagar, na proporção de 25% (vinte e cinco por cento) e 75% (setenta e cinco por cento),
respectivamente, as custas processuais e os honorários advocatícios sucumbenciais.

O art. 85, § 2º, do CPC estabelece os seguintes critérios gerais para arbitramento da verba honorária:

Art. 85 [...] § 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte
por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Nota-se que o Código de Processo Civil apresenta ordem preferencial (excludente e sucessiva) quanto
ao parâmetro a ser utilizado para fixação dos honorários: 1) em primeiro lugar, deve ser aplicado o
valor da condenação; 2) caso a decisão não tenha natureza condenatória, o critério será o proveito
econômico alcançado com a demanda; 3) quando não for possível mensurar o proveito econômico,
deve ser considerado o valor atualizado da causa.

A jurisprudência da Segunda Seção do STJ segue o mesmo raciocínio (REsp 1746072/PR, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 13/2/2019, DJe 29/3/2019).

Já os §§ 8º e 8º-A do mesmo artigo assim dispõem:

§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por
apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º.

§ 8º-A. Na hipótese do § 8º deste artigo, para fins de fixação equitativa de honorários


sucumbenciais, o juiz deverá observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional
da Ordem dos Advogados do Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo
de 10% (dez por cento) estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior.
(Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)

A respeito do assunto, a Corte Especial do STJ concluiu julgamento de recursos especiais repetitivos
referentes ao Tema n. 1.076. Destaca-se a tese fixada naquele precedente vinculante:

i) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é permitida quando os valores
da condenação, da causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados. É
obrigatória nesses casos a observância dos percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do artigo
85 do CPC - a depender da presença da Fazenda Pública na lide -, os quais serão
subsequentemente calculados sobre o valor: (a) da condenação; ou (b) do proveito
econômico obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.

ii) Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não
condenação: (a) o proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório;
ou (b) o valor da causa for muito baixo.
Posteriormente, a Lei 14.365/2022, na linha da tese em referência, introduziu o § 6º-A ao art. 85 do
CPC. O novo dispositivo legal estabelece o seguinte:

Art. 85. [...] § 6º-A. Quando o valor da condenação ou do proveito econômico obtido ou o
valor atualizado da causa for líquido ou liquidável, para fins de fixação dos honorários
advocatícios, nos termos dos §§ 2º e 3º, é proibida a apreciação equitativa, salvo nas
hipóteses expressamente previstas no § 8º deste artigo.

Logo, a utilização do critério da apreciação equitativa para fixação dos honorários se limita às
hipóteses previstas no § 8º do art. 85, ou seja, nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito
econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo.

No caso, em razão do provimento do apelo do autor, os réus deverão pagar R$5.000,00 (cinco mil
reais) como compensação pecuniária por danos morais.

Dito isso, em uma primeira análise, os honorários advocatícios de sucumbência deveriam ser
estabelecidos com base em tal quantum condenatório.

Porém, o valor da condenação por danos morais, se utilizado como base para verba sucumbencial,
resultaria quantia incompatível com o trabalho advocatício desenvolvido no processo.

Nesse quadro, deve-se adotar o critério da apreciação equitativa previsto nos arts. 85, §§ 8º e 8º-A do
CPC, à luz da tese firmada pelo STJ no julgamento do Tema Repetitivo n. 1.076.

Segundo a tabela de honorários do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito
Federal, o valor da Unidade Referencial de Honorários em janeiro de 2024 corresponde a R$356,77
(trezentos e cinquenta e seis reais e setenta e sete centavos)[4] .

Para as ações jurisdição contenciosa ou que assumam esse caráter, o Conselho Seccional da OAB/DF
estabelece valor mínimo de 25 URH (vinte e cinco unidades referenciais de honorários)[5] .

Desse modo, caso fosse aplicada a tabela da OAB, os honorários advocatícios seriam fixados em
R$8.919,25 (oito mil novecentos e dezenove reais e vinte e cinco centavos), correspondentes a 25
(vinte e cinto) URH multiplicados por R$356,77 (trezentos e cinquenta e seis reais e setenta e sete
centavos).

A referida quantia, contudo, não seria condizente com as peculiaridades do caso concreto e com os
parâmetros previstos no § 2º do art. 85 do CPC, quais sejam: I - o grau de zelo do profissional; II - o
lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo
advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Importante esclarecer que os valores previstos na tabela do Conselho Seccional da OAB/DF são
recomendados para a hipótese de contratação de serviços advocatícios, ou seja, para o ajuste de
honorários advocatícios contratuais, de natureza diversa dos honorários advocatícios sucumbenciais.

Por esse motivo, a utilização do valor referencial previsto na tabela do Conselho Seccional da OAB/DF
sem observar as particularidades do caso poderia ensejar a fixação de honorários excessivos,
incompatíveis com a equidade a que se refere o art. 85, § 8º, do CPC, entendida, segundo Maria Helena
Diniz[6] , como a “autorização, explícita ou implícita, de apreciar, equitativamente, um caso,
estabelecendo uma norma individual para o caso concreto e tendo por base as valorações positivas do
ordenamento jurídico”.

Na situação dos autos, o valor recomendado pelo Conselho Seccional da OAB/DF para o caso,
R$8.919,25 (oito mil novecentos e dezenove reais e vinte e cinco centavos), não atende aos princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade e poderia ocasionar enriquecimento sem causa.

Isso porque, no particular, o tempo decorrido entre o ajuizamento da ação e a prolação da sentença foi
relativamente curto (aproximadamente quatro meses), não houve dilação probatória e não se trata de
processo de alta complexidade capaz de exigir excessivo labor aos advogados.

Nesse cenário, para fixação dos honorários advocatícios por apreciação equitativa, reputa-se razoável
aplicar o parâmetro de 60% (sessenta por cento) do valor recomendado pelo Conselho Seccional da
OAB.

Referido parâmetro é adequado para, de um lado, remunerar o trabalho desenvolvido no processo,


respeitando a dignidade da profissão, e, de outro, evitar o enriquecimento sem causa.

Ante o exposto, conforme o art. 85, §§ 8º e 8º-A, do CPC e a tese vinculante consolidada no Tema
Repetitivo n. 1.076/STJ, a verba honorária deve ser arbitrada em R$5.351,55 (cinco mil trezentos e
cinquenta e um reais e cinquenta e cinco centavos), correspondentes a 60% (sessenta por cento) do
valor sugerido na tabela da OAB/DF, considerando também o grau de zelo profissional, o lugar de
prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado e o tempo exigido para o
serviço advocatício.

Nesse sentido, há recente decisão monocrática proferida pela Exma. Ministra Maria Isabel Gallotti nos
autos do REsp n. 2.106.286 (DJe de 19/12/2023):

Trata-se de recurso especial interposto por MASSA FALIDA DE TEVECAR


ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIO LTDA, com amparo no art. 105, inciso III, alínea
"a", da Constituição Federal, em face de acórdão assim ementado (e-STJ, fl. 173):

Locação - Ação de despejo c. c. reparação por danos materiais - Sentença que julgou a
ação parcialmente procedente - Apelação - Revelia - Ocorrência - Presunção de
veracidade que decorre da revelia que também não é absoluta e pode ceder a outros
elementos de convicção e postulados valorativos, não se aplicando, ainda, a matéria de
direito, cuja análise deve ser realizada livremente pelo juiz da causa - Multa contratual
devida. Porém, de forma proporcional, tendo em vista a execução parcial do contrato.

Inteligência do art. 413 do CC -Honorários de sucumbência - Valor da condenação fixado


em R$ 1.500,00, de modo que o arbitramento da verba honorária no intervalo percentual
previsto no art. 85, §2º, do CPC/2015 resulta, em termos absolutos, em remuneração
irrisória, não condizente com a dignidade do exercício da advocacia. Honorários fixados
por equidade, nos termos do art. 85, §8º, CPC/2015 - Recurso parcialmente provido.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados (e-STJ, fls. 189/195).

Nas razões do especial, aponta a recorrente violação do artigo 85, § 8º-A, do Código de
Processo Civil, argumentando, em síntese, que o valor fixado na Tabela da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) seria determinante para o arbitramento de honorários
sucumbenciais.

Ressalta que os honorários sucumbenciais não poderiam ser fixados abaixo do patamar
estabelecido na Tabela da OAB, mesmo que usado o critério da equidade.

Contra-arrazoado, o recurso especial foi admitido na origem (e-STJ, fls. 221/222).

Assim delimitada a controvérsia, passo a decidir.

No caso, observo que o Tribunal de origem concluiu que os honorários arbitrados seriam
suficientes para remunerar o trabalho do advogado, não sendo determinante o valor
indicado na Tabela da OAB, por se tratar de mera recomendação (e-STJ, fl. 192):

Por fim, de rigor consignar que ainda que sob a exegese do §8-A, do art.85, do CPC, e
com a máxima vênia a entendimento em sentido contrário, não há que se cogitar da
incidência de honorários no patamar veiculado pela Tabela da OAB no caso concreto,
mesmo porque iterativa jurisprudência já se encontra consolidada no sentido de que
referida tabela representa mera recomendação para fins de arbitramento equitativo em se
tratando de honorários entre cliente e advogado.

A orientação adotada não destoa da jurisprudência desta Corte Superior, consolidada no


sentido de que: "a tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB tem natureza
meramente orientadora e não vincula o julgador, devendo ser levada em consideração a
realidade do caso concreto" (AgInt no REsp 1.751.304/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/9/2019, DJe de 30/9/2019).

Nesse mesmo sentido:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. TABELA DE HONORÁRIOS DA
SECCIONAL DA OAB. NATUREZA INFORMATIVA. NÃO VINCULANTE.
HONORÁRIOS FIXADOS OBSERVANDO OS PARÂMETROS LEGAIS E EM VALOR
RAZOÁVEL. ALTERAÇÃO. INVIABILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Esta Corte
Superior manifesta-se no sentido de que "a tabela organizada pelo Conselho Seccional da
OAB tem natureza meramente orientadora e não vincula o julgador, devendo ser levada
em consideração a realidade do caso concreto" (AgInt no REsp 1.751.304/SC, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/9/2019, DJe de
30/9/2019). 2. Ademais, somente é admissível o exame do valor arbitrado a título de
honorários advocatícios contratuais, nesta instância especial, quando for verificada a
exorbitância ou a natureza irrisória da importância arbitrada, o que não se verifica no
caso em exame. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp n. 2.038.616/RJ, relator
Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 10/10/2022, DJe de 21/10/2022.)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RESCISÃO DE CONTRATO ADVOCATÍCIO. INDENIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO
NEGÓCIO JURÍDICO. PRINCÍPIOS DA PROBIDADE E BOA-FÉ. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. TABELA DA OAB. NÃO VINCULATIVA. JULGAMENTO
POR DECISÃO MONOCRÁTICA. SÚMULA N. 568/STJ. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. ARBITRAMENTO POR EQUIDADE. VIGÊNCIA DO CPC/1973.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. MAJORAÇÃO. INDEFERIMENTO.
DECISÃO MANTIDA. [...] 2. Segundo a jurisprudência desta Corte Superior, "a Tabela
organizada pelo Conselho Seccional da OAB possui natureza orientadora e não
vinculativa" (AgInt no AREsp 1471152/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 16/09/2019, DJe 18/09/2019). [...] 7. Agravo interno a que se nega
provimento. (AgInt no AREsp n. 1.033.446/SP, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira,
Quarta Turma, julgado em 29/6/2020, DJe de 1/7/2020.)

Desse modo, como a orientação adotada no acórdão recorrido está em conformidade com
a jurisprudência desta Corte Superior, o recurso especial não deve ser conhecido, em
razão da Súmula 83/STJ.

Em face do exposto, não conheço do recurso especial.

Nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil de 2015, majoro em 10% (dez
por cento) a quantia já arbitrada a título de honorários em favor da parte recorrida,
devida pela parte recorrente, observando-se os limites dos §§ 2º e 3º do mesmo artigo.

Intimem-se.

[...]

Convém acrescentar, nesse ponto, julgados deste TJDFT sobre o assunto, inclusive acórdão redigido
por esta Relatoria:

APELAÇÕES. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA


DO PEDIDO. PAGAMENTO DA CONDENAÇÃO IMPOSTA NA SENTENÇA.
ACEITAÇÃO. FATO IMPEDITIVO DO DIREITO DE RECORRER. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. PROVEITO ECONÔMICO INESTIMÁVEL.
VALOR DA CAUSA MUITO BAIXO. FIXAÇÃO POR APRECIAÇÃO EQUITATIVA.
POSSIBILIDADE. TEMA REPETITIVO N. 1.076 DO C. STJ. ART. 85, §§ 8º e 8º-A, DO
CPC. TABELA DA OAB. APLICABILIDADE NO PERCENTUAL DE 50%. RECURSO
DO AUTOR CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO ADESIVO DA RÉ
NÃO CONHECIDO. 1. Trata-se de apelações interpostas pelo autor e, adesivamente, pela
ré contra sentença que julgou procedentes os pedidos deduzidos na petição inicial e, em
observância ao princípio da causalidade, condenou a ré ao pagamento das despesas
processuais e dos honorários advocatícios sucumbenciais, esses fixados em R$2.000,00
(dois mil reais), nos termos do art. 85, § 8º, do CPC, pois irrisório o valor atribuído à
causa, inicialmente estipulado em R$100,00 (cem reais). 2. Na hipótese, a ré realizou o
pagamento voluntário da obrigação sucumbencial imposta na sentença. Tal ato configura,
nos termos do art. 1.000 do CPC, aceitação tácita incompatível com a vontade de
recorrer. Constatada a existência de fato impeditivo do direito de recorrer, impõe-se a
realização de juízo negativo de admissibilidade recursal. Recurso adesivo interposto pela
ré não conhecido. 3. Nos termos do § 8º do art. 85 do CPC e em observância às teses
fixadas no Tema Repetitivo n. 1.076 do c. STJ, nas causas em que for inestimável ou
irrisório o proveito econômico ou quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o
valor dos honorários por apreciação equitativa. 4. Em recente alteração legislativa, a Lei.
n. 14.365/2022 incluiu o § 8º-A ao art. 85 do CPC, segundo o qual "Na hipótese do § 8º
deste artigo, para fins de fixação equitativa de honorários sucumbenciais, o juiz deverá
observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do
Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo de 10% (dez por cento)
estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior". 5. Por ser inestimável o
proveito econômico obtido pelo autor e diante do baixo valor atribuído à causa,
inicialmente estipulado em R$100,00 (cem reais), a fixação dos honorários advocatícios
sucumbenciais deve ser realizada por apreciação equitativa, na forma do art. 85, §§ 8º e
8º-A do CPC. 6. Na espécie, entretanto, o valor previsto na tabela do Conselho Seccional
da OAB/DF para o caso, de R$9.242,75 (nove mil duzentos e quarenta e dois reais e
setenta e cinco centavos), não atende aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade diante das particularidades da causa, porquanto trata-se de demanda de
pequena complexidade, pois formulado apenas um pedido de mérito na exordial, em que a
ré não ofereceu resistência ao pleito autoral e não houve produção de provas a demandar
excessivo labor por parte do advogado do autor. 7. Ainda, é preciso considerar que os
valores previstos na tabela do Conselho Seccional da OAB/DF são recomendados para a
hipótese de contratação de serviços advocatícios, ou seja, para o ajuste de honorários
advocatícios contratuais, de natureza diversa dos honorários advocatícios sucumbenciais.
Nesse cenário, um parâmetro razoável para a fixação dos honorários advocatícios
sucumbenciais por apreciação equitativa é a observância de 50% (cinquenta por cento)
dos valores recomendados pelo Conselho Seccional da OAB para o ajuste de honorários
advocatícios contratuais, pois, de um lado, remunera o trabalho desenvolvido no processo
em observância à dignidade da profissão e, de outro, evita o enriquecimento sem causa do
advogado da parte vencedora. 8. Nesse cenário, a r. sentença deve ser parcialmente
reformada para, nos termos do art. 85, §§ 8º e 8º-A, do CPC e das teses vinculantes
consolidadas no julgamento do Tema Repetitivo n. 1.076 do c. STJ, fixar fixados
honorários advocatícios sucumbenciais em favor do advogado do autor no valor de
R$4.621,38 (quatro mil seiscentos e vinte e um reais e trinta e oito centavos),
correspondente a 50% (cinquenta por cento) dos valores recomendados pelo Conselho
Seccional da OAB. 9. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC, diante do não conhecimento
do recurso adesivo interposto pela ré (AgInt nos EDcl no AgInt no REsp n. 1816967-PR,
Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, Julgado em 31/8/2020), majoro em R$400,00
(quatrocentos reais) o montante fixado a título de honorários advocatícios sucumbenciais,
totalizando o valor de R$5.021,38 (cinco mil e vinte e um reais) a título de honorários
advocatícios sucumbenciais. 10. Recurso do autor conhecido e parcialmente provido.
Recurso adesivo da ré não conhecido. (Acórdão 1764623, 07446678920228070001,
Relator: SANDRA REVES, 7ª Turma Cível, data de julgamento: 4/10/2023, publicado no
DJE: 19/10/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE CONHECIMENTO.


REVELIA. PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
CABIMENTO. EQUIDADE. PROVIMENTO. 1. Nos termos do art. 85, caput, do Código
de Processo Civil - CPC, o vencido deve pagar honorários advocatícios ao advogado do
vencedor. Na mesma linha, dispõe o art. 82, § 2º: "a sentença condenará o vencido a
pagar ao vencedor as despesas que antecipou". 2. O CPC adota critério objetivo: se há
sucumbência, são devidos honorários advocatícios pela parte vencida. Todavia, a
doutrina e a jurisprudência orientam que, com relação aos ônus sucumbenciais, deve ser
analisado também o princípio da causalidade, segundo o qual quem que deu causa à
instauração do processo, deve arcar com as despesas decorrentes. 3. Seja qual for o
fundamento para a condenação aos ônus sucumbenciais - sucumbência ou causalidade -
certo é que os honorários visam recompensar o trabalho do advogado que consagrou seu
cliente vitorioso na demanda. Logo, o fato de o revel sucumbente não ter constituído
advogado não afasta sua condenação ao pagamento de honorários em favor do advogado
da outra parte, uma vez que este desempenhou seu trabalho ao longo do processo.
Precedente do Superior Tribunal de Justiça. 4. O art. 85, § 8ª-A, incluído pela Lei
14.365/2022, estabelece que, "para fins de fixação equitativa de honorários
sucumbenciais, o juiz deverá observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional
da Ordem dos Advogados do Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo
de 10% (dez por cento) estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior". 5.
O referido dispositivo visa assegurar remuneração adequada aos advogados. Impede que,
nas hipóteses do art. 85, § 8º, do CPC, os honorários advocatícios sejam fixados por puro
arbítrio do juiz, o que, muitas vezes, pode resultar no aviltamento da verba ou em grande
disparidade entre causas semelhantes. Todavia, a aplicação do § 8º-A do art. 85 do CPC
deve ser afastada quando, no caso concreto, revelar-se desarrazoada em face dos
critérios previstos no § 2º, que devem sempre ser observados, conforme prevê o próprio §
8º. 6. A tabela de honorários da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB é um referencial a
ser seguido pelos juízes. Deve, entretanto, ser ponderado de acordo com as circunstâncias
do caso concreto e em conformidade com os princípios da razoabilidade, racionalidade e
acesso à justiça. Precedentes. 7. Entender que a fixação de honorários pelo magistrado
está sempre vinculada aos parâmetros de valores estabelecidos pelos Conselhos
Seccionais da OAB é o mesmo que afastar o juízo de equidade e negar vigência ao
próprio art. 85, § 8º, do CPC. 8. No caso, a fixação de honorários advocatícios no valor
de R$ 9.013,25 - valor previsto na atual tabela de honorários da OAB-DF - é incompatível
com a complexidade da demanda, o trabalho do advogado e o tempo exigido para o seu
serviço. Com base em tais critérios, o valor dos honorários de sucumbência deve ser
fixado em R$2.000,00. 9. Recurso conhecido e provido. (Acórdão 1780274,
07117204520238070001, Relator: LEONARDO ROSCOE BESSA, 6ª Turma Cível, data
de julgamento: 31/10/2023, publicado no DJE: 23/11/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

APELAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. BASE DE


CÁLCULO. VALOR DA CAUSA MUITO BAIXO. HONORÁRIOS IRRISÓRIOS.
FIXAÇÃO POR APRECIAÇÃO EQUITATIVA. POSSIBILIDADE. ART. 85, § 8º-A, DO
CPC. VALOR MÍNIMO DA TABELA DA OAB. NÃO VINCULAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO (TEMA REPETITIVO 984 DO STJ). PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE. QUANTIA QUE SUPERARIA AS VANTAGENS ADVINDAS EM
FAVOR DO PRÓPRIO CLIENTE NA AÇÃO. VEDAÇÃO CONTIDA NO ART. 38 DO
CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. 1. Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença que, nos
autos da ação pelo procedimento comum, julgou procedente o pedido para declarar a
inexigibilidade do débito cobrado extrajudicialmente pela apelada e determinar a
remoção do apontamento correspondente ao débito inexigível no cadastro de
inadimplentes, arbitrando os honorários sucumbenciais no montante de R$300,00
(trezentos reais), único tema objeto da insurgência recursal. 2. O art. 85, § 8º, do CPC,
previu que, para as hipóteses em que o valor da causa seja muito baixo, o juiz deve fixar o
valor devido por apreciação equitativa. Por sua vez, a Lei n. 14.365/2022 incluiu o § 8º-A
ao art. 85 do CPC, que prevê: "(...) para fins de fixação equitativa de honorários
sucumbenciais, o juiz deverá observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional
da Ordem dos Advogados do Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo
de 10% (dez por cento) estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior.".
3. O valor dos honorários advocatícios para a hipótese, calculado seguindo a tabela do
Conselho Seccional da OAB/DF em fevereiro de 2023, resultaria em R$9.185,50 (nove mil
cento e oitenta e cinco reais e cinquenta centavos), montante que não atende aos
comandos dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade ante a pequena
complexidade do feito, sendo apto a ocasionar o enriquecimento sem causa do apelante.
4. A alteração legislativa promovida pela Lei n. 14.365/2022, que incluiu o § 8º-A ao art.
85 do CPC, não modificou o entendimento da jurisprudência (Tema repetitivo 984 do STJ)
no sentido de que o tabelamento dos honorários efetuado pela Ordem dos Advogados do
Brasil é meramente referencial e não vincula o Poder Judiciário. 5. A utilização dos
valores recomendados pelo Conselho Seccional da OAB para fixação dos honorários
advocatícios superaria o benefício auferido pela parte autora na demanda, situação que
justifica o arbitramento em patamar inferior diante da vedação contida no art. 38 do
Código de Ética e Disciplina da OAB, que limita a remuneração do advogado ao máximo
do proveito econômico de seu cliente. 6. Em razão do grau de zelo do profissional, o lugar
de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo
advogado e o tempo exigido para o seu serviço, não se vislumbra aviltamento dos
honorários advocatícios sucumbenciais na quantia arbitrada pelo Juízo de primeiro grau.
7. Negou-se provimento ao recurso. (Acórdão 1778323, 07081716120228070001, Relator:
ANA MARIA FERREIRA DA SILVA, 3ª Turma Cível, data de julgamento: 25/10/2023,
publicado no DJE: 13/11/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO.


SERASA LIMPA NOME.HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. VERBA
ADVOCATÍCIA.VALOR DA CAUSA IRRISÓRIO. FIXAÇÃO EQUITATIVA.
HONORÁRIOS ARBITRADOS COM MODERAÇÃO PELO JUÍZO SENTENCIANTE.
RECONHECIMENTO. OBSERVÂNCIA AO ART. 85, § 8º, DO CPC. TABELA DA
OAB/DF. INAPLICABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Como
regra, inexistindo condenação ou sendo incerto o proveito econômico alcançado, os
honorários advocatícios devem ser estipulados entre o mínimo de 10% (dez por cento) e o
máximo de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do
CPC. 2. Nos casos em que inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda,
quando o valor da causa for muito baixo, a legislação processual prevê a possibilidade de
o juiz fixar o valor dos honorários por apreciação equitativa. Inteligência do art. 85, § 8º,
do CPC. 3. Não havendo complexidade e dificuldade para o enfrentamento da questão
deduzida (inexigibilidade de débito fundada no reconhecimento da prescrição), não pode
ser aplicada a Tabela de Honorários Advocatícios divulgada pela OAB/DF que estipula,
como critério de fixação de honorários advocatícios sucumbenciais, o valor mínimo 25
URH para ações de jurisdição contenciosa em geral, notadamente, quando este
arbitramento possa extrapolar o triplo do proveito econômico buscado pela parte. 4. Caso
em que correta a fixação da verba de sucumbência arbitrada de forma equitativa pelo
juízo sentenciante em R$1.000,00, por considerar a importância assumida pelos fatos
processuais, a ausência de complexidade do trabalho; o tempo de tramitação do feito; o
local da prestação do serviço; e, por fim, a consequência prática da incidência da norma
processual civil que fixa o percentual de honorários sucumbenciais. 5. Entendeu o c. STJ
justificável e necessária a incidência do § 8º para as situações em que a aplicação do § 2.º
do art. 85 do CPC levasse a grandes distorções na fixação dos honorários advocatícios
sucumbenciais. 5.1. A despeito da possibilidade de consideração das Unidades de
Referência de Honorários estabelecidas em Tabela da Ordem dos Advogados do Brasil,
para arbitramento dos honorários advocatícios contratuais, certo é que dito rol tem
caráter meramente informativo, a depender sua aplicação das circunstâncias do caso
concreto. 6. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão 1763210,
07289044820228070001, Relator: DIVA LUCY DE FARIA PEREIRA, 1ª Turma Cível,
data de julgamento: 20/9/2023, publicado no DJE: 31/10/2023. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

Ante o exposto, a distribuição e a fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais devem ser
alteradas.

Conclusão

Com esses fundamentos, conheço das apelações, dou provimento ao recurso dos réus para excluir a
condenação relativa à obrigação de fazer e dou provimento ao apelo do autor para julgar parcialmente
procedente o pedido apresentado na inicial, a fim de condenar a parte requerida a pagar R$5.000,00
(cinco mil reais), de forma solidária, como compensação pecuniária de danos morais, acrescidos de
correção monetária pelo INPC desde o arbitramento (súmula n. 362 do STJ) e juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês a contar do evento danoso (súmula n. 54STJ).

Diante da sucumbência recíproca e proporcional (art. 86, caput, do CPC), o autor e os réus devem
pagar, na proporção de 25% (vinte e cinco por cento) e 75% (setenta e cinco por cento),
respectivamente, as custas processuais e os honorários advocatícios sucumbenciais, estes fixados em
R$5.351,55 (cinco mil trezentos e cinquenta e um reais e cinquenta e cinco centavos), conforme o art.
85, §§ 8º e 8º-A, do CPC e a tese vinculante consolidada no Tema Repetitivo n. 1.076/STJ.

É como voto.

[1] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

[2] Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

[3] Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, equitativamente, a indenização.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

[4] Disponível em: https://oabdf.org.br/urh/. Acesso em 24/1/2024.

[5] Disponível em:


https://oabdf.org.br/wp-content/uploads/2021/08/NOVA-TABELA-DE-HONORARIOS.pdf. Acesso
em 24/1/2024.

[6] DINIZ, Maria H. Dicionário jurídico universitário. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição).
Editora Saraiva, 2022.
O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal

Senhor Presidente,

Ouso divergir parcialmente da eminente Relatora, e o faço pelas singelas razões abaixo transcritas.

Verifica-se que ambas as partes litigantes foram locatários, em períodos distintos, do mesmo imóvel
mencionado na inicial.

Após o autor desocupar o imóvel em abril de 2015, este foi alugado em maio do mesmo ano para os
requeridos.

Diante do inadimplemento das faturas de água e esgoto, a CAESB realizou protestos relativos a
dívidas vencidas em julho e agosto de 2022, período este em que os réus eram os locatários do
imóvel.

O autor ingressa com a ação na origem contendo pedido cominatório direcionado aos requeridos
(obrigação de fazer) consubstanciado em “obrigar os réus aos cancelamentos dos mencionados
protestos”, bem como pedido indenizatório, visando “a condenação solidária dos réus a título de
compensação de danos morais.”

Esclarecida a questão fática e jurídico-processual, a CAESB não poderia negar aos novos locatários
(requeridos) a transferência da titularidade da unidade consumidora, transferência essa realizada pelos
réus anos após ingressarem no imóvel locado. A concessionária também não poderia exigir do autor,
em tese, o pagamento de débito relativo a período em que a unidade consumidora não estava de fato
sob sua responsabilidade.

Ocorre que nenhuma das partes litigantes providenciou a solicitação de alteração da titularidade
ou atualização cadastral perante a CAESB, a tempo e modo, vindo os requeridos a fazê-lo a
destempo e quando já efetivado o protesto das faturas relativas aos meses de julho e agosto de 2022.

Incumbia ao demandante pois, frise-se, na condição de usuário cadastrado na CAESB, solicitar a


extinção da relação contratual com a concessionária assim que extinta sua relação obrigacional
com o imóvel locado, conforme a Resolução n. 14/2011 da Adasa e precedentes deste Tribunal de
Justiça citados pela eminente Relatora.

Ora, se houve mudança de titularidade da unidade consumidora, não informada formalmente à CAESB
pelo usuário então cadastrado, no caso o autor, tendo ocorrido o protesto em seu nome por ato de
terceiros (CAESB), não há que se falar, na hipótese vertente,em danos morais ocasionados pelos
requeridos.

Do mesmo modo, a parte ré não pode ser compelida a providenciar a baixa dos protestos de títulos cuja
credora e autora dos protestos é a CAESB, terceiro não integrante da lide, incumbindo ao credor
realizar a baixa do registro desabonador no caso de dívida quitada, ou, tratando-se de protesto legítimo,
caberá ao devedor providenciar o seu cancelamento, conforme o art. 26, caput e § 1º, da Lei n.
9.492/97.

Com essas singelas considerações, renovando o pedido de "vênia", divirjo parcialmente da eminente
Relatora para negar provimento ao recurso do autor e dar provimento ao apelo dos requeridos,
julgando improcedentes os pedidos formulados na inicial.

Condeno o autor apelante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados
em 11% (onze por cento) do valor dado à causa, já computados a majoração prevista no art. 85, §11,
do CPC.

É como voto.

O Senhor Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA – Vogal

Senhora Presidente, peço vênia aos demais Pares e até ajuda para que me corrijam se eu
estiver errado. Mas, encerramos uma pauta virtual de 300 processos e temos uma presencial de 36, das
quais não vejo o nome das partes. Perdoe a minha ignorância. Somos advertidos, quando informamos
que temos parentes, etc., de que estamos impedidos. Acho que aqui foi feita uma afirmação que foge
do nosso dia a dia e não leva a nada, a nenhuma discussão, mas é bom deixar registrado que não se
analisa vida pregressa de nenhuma das partes, salvante se tiver relacionado com o fato em si objeto da
discussão.

Não temos aqui nenhum prejulgamento em relação às pessoas envolvidas. Ainda cito
que há um processo pautado envolvendo um presidente da República contra um ex-presidente ou
vice-versa. Então, são situações em que, se fosse entrar nessa análise, a Justiça ficaria totalmente
inviável, não teria como aplicar a lei analisando as partes envolvidas. Então, perdoe-me fazer essa
observação e retardar um pouco esse julgamento.

Todavia, naquilo que interessa, acompanho a eminente Relatora.

Só queria deixar registrado isso porque sou o mais novo aqui, aprendendo com o nosso
Decano. Se eu estiver errado, por favor, corrijam-me, mas confesso que me senti um pouco violado
quando se fala que estamos julgando ou temos de analisar que uma pessoa tenha ou teve um tipo de
comportamento. Confesso que desconheço qualquer coisa em relação a qualquer das partes. Acho que
não tenho nenhum vínculo com nenhum deles.

Por isso, voto com total segurança e confiança, Senhora Presidente, acompanhando o
voto de V. Ex.a

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – Vogal

Senhora Presidente, confesso que o mesmo desconforto que S. Ex. a ,o


Desembargador Fabrício Fontoura Bezerra, sentiu ao ouvir as sustentações orais também senti.

O Código é muito enfático ao exigir que todos tratem todos os agentes processuais, os
sujeitos processuais, com urbanidade e respeito. Um ministro do STF dizia que não olhava a capa dos
autos. Hoje não temos capa, mas ufano-me de dizer que não olho cabeçalho ou índice dos processos
eletrônicos. Então, incorporo a este voto as observações feitas pelo Desembargador Fabrício Fontoura
Bezerra.
Com relação ao caso, embora vindo a integrar o quórum em razão da divergência
apresentada, ouvi atentamente os detalhes do caso e eventualmente posso ser auxiliado com alguma
intervenção de V. Ex. as , que
estudaram minuciosamente essa lide. Mas parece-me que a sentença deve ser confirmada integralmente
e explico por quê.
Na medida em que há uma locação, o locatário — como a obrigação de pagar a taxa de
água e luz são de natureza pessoal, ou seja, aquele que consome é quem paga — deveria comunicar à
CAESB dessa sua
figuração como locatário e usuário do serviço. Ele que consumiu a água, não outro. E esta atribuição,
como disseram tanto a eminente Relatora quanto
oDesembargador Fabrício Fontoura Bezerra, era cabente também ao locatário que saíra do imóvel no
qual colocara o seu nome como usuário do serviço. Como disse
oDesembargador Maurício Silva Miranda, era meramente uma informação de l0, 15 minutos feita pelo
site.

Há o concurso da inércia de ambos: um deixando de comunicar — não sei por que razão
queria manter, ou por inércia ou por desídia, não interessa — e o outro que poderia ter também se
livrado desse problema
comunicando, e não o fez, e foi isso que a juíza fez ao negar os danos morais. Mas a juíza determinou
que o réu providenciasse a baixa do protesto. Pode um terceiro pagar um protesto? Claro que sim.
Protesto pode ser pago por qualquer pessoa. Ao credor interessa receber o dinheiro. Portanto, qualquer
cidadão que chegar ao cartório de protesto e dizer que quer pagar um protesto e pedir o cancelamento
tem o direito de fazê-lo ou pelo menos provar que o protesto foi cancelado. Aqui não se fez isso.
Apesar de acionado judicialmente, o réu continua insistindo na tese de que ele não pode
cancelar o protesto, só a CAESB é que poderia fazê-lo. No caso aqui, o autor poderia ter duas
alternativas, a meu ver: ou pagar
o protesto cancelando-o e usar o direito de regresso, ou, alternativamente, proceder-se como a MM
juíza determinou: o causador do protesto indevido deve pagá-lo no prazo em que o juiz estipulou.
Acredito que o eminente juiz acabou encontrando a solução definitiva para esse caso.
Ou seja, nem se julga improcedente, como é o voto doDesembargador Maurício Silva Miranda, nem se
deixa esse protesto ainda surtindo seus efeitos, como consta no voto da eminente Relatora.
Creio que a sentença resolveu toda a questão determinando que o réu cancele esse
protesto sob pena de multa diária, e ele vai ter de pagar essa multa. Parece-me que foi estipulada em
R$ 300,00 até o limite de R$ 10.000,00. Poderá fazê-lo amanhã, ou sujeitar-se à multa.
Então, Senhora Presidente, embora seja um voto diferente dos dados pelos eminentes
desembargadores que me precederam, coloco essa reflexão para exame de V. Ex. as . Parece-me que
essa sentença soluciona a lide de modo mais justo e definitivo.
Por isso, meu voto é no sentido de negar provimento, sem embargo de que o
julgamento, ao continuar, possa receber novos adminículos, novos acréscimos dos senhores
desembargadores, e eu possa alterar esse entendimento inicial.

A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora

Desembargador Getúlio Moraes Oliveira, no que se refere ao meu voto, compreendo as


ponderações de V. Ex.a, sempre absolutamente pertinentes e muito técnicas, mas fiquei convencida em
sentido contrário.

Então, mantenho meu posicionamento.

O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - Vogal

Acompanho o voto do Decano.


O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – Vogal

Negando provimento a ambos os recursos.

O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal

Mas, pelo acórdão, parece que a doutora está fixando os danos morais.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – Vogal

O seu voto é mais ou menos parecido com o meu, porque V.Exª. nega provimento ao
recurso do autor.

O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal

Dou provimento para afastar os danos morais.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – Vogal

Eu dei provimento.

A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora

Entendi como configurados os danos morais e estou dando provimento ao recurso da


parte autora.

O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal

A doutora fixou os danos morais.


A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora

Exatamente, eu e o Desembargador Fabrício Fontoura Bezerra. Agora o votoda maioria


afasta a compensação pordanos morais.E, no que se refere ao recurso do réu, estou dando provimento
para afastar a obrigação de fazer. Mas o Desembargador Getúlio Moraes Oliveira e o Des Robsom
estão mantendo a sentença. O voto médio é de Vossa Excelência, Des. Maurício Miranda

O Senhor Desembargador MAURICIO SILVA MIRANDA – Vogal

Na obrigação de fazer estou dizendo que não cabe.

Acabou o meu voto médio prevalecendo.

A Senhora Desembargadora SANDRA REVES – Relatora

Fica como relator designado do acórdão o Desembargador Maurício Silva Miranda.

DECISÃO

CONHECIDOS. RECURSO DA PARTE AUTORA DESPROVIDO. RECURSO DOS RÉUS


PROVIDO. MAIORIA. JULGAMENTO DE ACORDO COM O ART. 942 DO CPC. VENCIDA A
RELATORA, REDIGIRÁ O ACÓRDÃO O 1º VOGAL, DESEMBARGADOR MAURÍCIO SILVA
MIRANDA, PROLATOR DO VOTO MÉDIO.

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