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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RS

TCSD
Nº 70050110170
2012/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL.


IRREGULARIDADE DA REPRESENTAÇÃO
PROCESSUAL DA PARTE AUTORA. NULIDADE DO
PROCESSO. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE
CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E
REGULAR DO PROCESSO.
Constatada a irregularidade da representação
processual da parte autora, a qual não foi sanada no
prazo assinalado para tanto após intimação pessoal,
imperiosa a decretação de nulidade do processo,
conforme o art. 13, I, do CPC, com a extinção do feito,
sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, IV,
do CPC, diante da ausência dos pressupostos de
constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo. Nulidade absoluta.
DE OFÍCIO, DECRETARAM A NULIDADE DO
PROCESSO E JULGARAM EXTINTO O FEITO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, NOS TERMOS DO ART.
267, IV, DO CPC. APELO PREJUDICADO.
UNÂNIME.

APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70050110170 COMARCA DE PORTO ALEGRE

ALBERTO CLAUDINETE FERREIRA APELANTE

IURI PEREIRA BRITTO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em, de ofício,
decretar a nulidade do processo e julgar extinto o feito, sem resolução de
mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC, restando prejudicado o apelo.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE) E
DES. LEONEL PIRES OHLWEILER.
Porto Alegre, 24 de outubro de 2012.

DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY,


Relator.

RELATÓRIO
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)
Trata-se de recurso de apelação interposto por ALBERTO
CLAUDINETE FERREIRA contra a sentença que, nos autos de “ação de
indenização por danos morais” ajuizada em face de IURI PEREIRA BRITTO,
julgou improcedente o pedido, condenando a parte autora ao pagamento
dos ônus sucumbenciais, suspensa a exigibilidade por litigar sob o amparo
da gratuidade judiciária.
Em suas razões recursais (fls. 213/227) pugna,
preliminarmente, pela declaração da intempestividade da contestação e
aplicação dos efeitos da revelia. Quanto ao mérito, sustenta a configuração
de danos morais em razão de registro de ocorrência policial por parte dos
codemandados, no qual imputado ao autor a prática de crime de estelionato
diante da narrativa de não ter concluído o serviço para o qual fora contratado
– reforma e construção de elevadores – e de ter se apropriado dos valores
dados em pagamento e dos materiais fornecidos para a execução do
serviço, não retornando às ligações do comunicante. Alega que as
afirmações perante a autoridade policial são inverídicas, pois prestou o
serviço e devolveu os materiais quando da conclusão, aduzindo ter
enfrentado problemas em seu aparelho celular. Argumenta que a acusação

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infundada por parte dos apelados causou transtornos em sua esfera pessoa
e profissional, devendo ser indenizado pelos danos morais sofridos. Tece
considerações acerca dos critérios para fixação do quantum indenizatório.
Requer o provimento do apelo.
Apresentadas as contrarrazões (fls. 232/249) os demandados
suscitam, preliminarmente, a inexistência do processo diante da ausência de
poderes dos patronos que subscrevem as petições da parte autora; alegam
estar preclusa a alegação de intempestividade da contestação, eis que não
houve manifestação pelo autor quando intimado para a produção de provas,
momento em que tacitamente reconhecida a tempestividade, aduzindo a
impossibilidade de apreciação desta questão neste grau de jurisdição diante
da ausência de manifestação pelo juízo de origem. Afirmam ser inválida a
citação da empresa Trevicorp, eis que realizada em endereço distinto de sua
sede, sendo tempestiva a contestação, eis que iniciado o prazo a contar da
juntada da procuração. Quanto ao mérito, pugnam pela manutenção da
sentença de improcedência.
Subiram os autos a este Tribunal e vieram a mim distribuídos
por vinculação.
Verificada a irregularidade da representação processual dos
procuradores da parte autora, determinei a intimação pessoal para a
regularização da representação processual, sob pena de nulidade do
processo.
Intimada pessoalmente a parte autora (fl. 262), transcorreu in
albis o prazo para a regularização de sua representação processual.
É o relatório.

VOTOS
DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY (RELATOR)

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Eminentes Colegas.
Conforme visto do relatório, há questão prejudicial que impede
a análise da controvérsia vertida nos autos.
Com efeito, compulsando os autos, denota-se que a
procuração de fl. 18 confere ao procurador Roosevelt Hanoff poderes
específicos “para extração de cópias da ação tombada sob n.º
001/2.09.0056147-6”, razão pela qual sem qualquer validade os
substabelecimentos por si subscritos no curso da lide. Da mesma forma, não
há qualquer procuração conferindo poderes à advogada que subscreve a
petição inicial, Dra. Fernanda Winck. Ou seja, a parte autora não está
representada por advogado legalmente habilitado para atuar no presente
feito.
Intimado pessoalmente para regularizar a sua representação
processual, a parte autora quedou-se inerte. Dessa forma, na esteira do
disposto no art. 13 do CPC, alternativa outra não resta que não declarar a
nulidade do processo, diante da ausência de representação processual.
Assim dispõe o dispositivo legal:
“Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a
irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o
processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito. Não
sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência
couber:
I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo;
(…)”

Sobre o tema, fundamentam com maestria Nelson Nery Junior


e Rosa Maria de Andrade Nery1:

1
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
Comentado e legislação extravagante. 11ª. ed. rev. , atual. e ampl. – São Paulo: Ed. Revista
do Tribunais, 2010 p. 217-218.

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“A capacidade das partes e a regularidade de sua


representação judicial são pressupostos processuais
de validade. A falta desses pressupostos acarreta a
extinção do processo sem resolução do mérito.
(...)
A norma fala em nulidade do processo, como pena
para o autor que, intimado, não regulariza o defeito no
prazo devido. Caso isto ocorra, os atos praticados no
processo devem ser anulados e, em seguida, extinto
o processo sem resolução do mérito, por falta de
pressuposto processual de validade.
(...)
A capacidade processual e a representação judicial
das partes são pressupostos processuais de validade
(CPC 267 IV), devendo ser examinadas de ofício pelo
juiz ou tribunal, a qualquer tempo e grau de jurisdição,
sendo insuscetível de preclusão (CPC 267 IV e § 3.º;
301 VIII e § 4º) (...).”

No mesmo sentido, Humberto Teodoro Júnior2:


“São, outrossim, casos de nulidade de todo o
processo, que por isso, conduzem à sua extinção sem
julgamento de mérito:
(…)
b) incapacidade processual ou irregularidade da
representação da parte, não sanadas no prazo
assinado pelo juiz (art. 13, I);
(…)”

Nesse diapasão, diante da ausência de representação


processual da parte autora, que mesmo intimada pessoalmente para
regularização quedou-se inerte, impõe-se seja decretada a nulidade do
processo, com a extinção do feito sem resolução de mérito em razão da
ausência dos pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e
regular do processo, conforme o art. 267, IV, do CPC.
Nesse sentido, precedentes desta Corte:

2
AS NULIDADES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - Humberto Theodoro Júnior
(Publicada na Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil nº 01 - SET-OUT/1999, pág. 136
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APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. REVISIONAL DE CONTRATO.
IRREGULARIDADE DA REPRESENTAÇÃO
PROCESSUAL DO AUTOR. AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTOS. NULIDADE DO PROCESSO.
EXTINÇÃO DO FEITO. Diante da irregularidade da
representação processual da parte autora, a qual não
foi sanada nos prazos e oportunidades concedidas, a
hipótese é de anulação do processo, desde a sua
propositura e de extinção do feito, sem resolução do
mérito, nos termos do artigo 267, inciso IV, do CPC.
DECLARADA A NULIDADE DO PROCESSO,
JULGOU-SE EXTINTO O FEITO, SEM RESOLUÇÃO
DO MÉRITO, FICANDO PREJUDICADO O EXAME
DO RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70034433490, Vigésima Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Barcelos de
Souza Junior, Julgado em 14/08/2012)

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE


CRÉDITO. CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTO. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE
CONSTITUIÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO
E REGULAR DO PROCESSO. Diante da
irregularidade da representação processual da parte
autora, a qual não foi sanada no prazo concedido, a
hipótese é de anulação do processo, desde a sua
propositura e de extinção do feito sem resolução do
mérito, nos termos do artigo 267, inciso IV, do CPC.
DECLARADA A NULIDADE DO PROCESSO,
JULGOU-SE EXTINTO O FEITO SEM RESOLUÇÃO
DO MÉRITO, FICANDO PREJUDICADO O EXAME
DO RECURSO. (Apelação Cível Nº 70043877091,
Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Breno Beutler Junior, Julgado em
22/11/2011)

AÇÃO REVISIONAL. CONTRATOS BANCÁRIOS.


CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTOS DE CONSTITUIÇÃO E DE
DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO
PROCESSO. Diante da irregularidade da
representação processual da autora, a qual não foi
sanada no prazo concedido, a hipótese é de anulação
do processo, desde a sua propositura, e de extinção
da ação, sem resolução de mérito, nos termos do
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artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil.


PRECEDENTES. DECLARARAM A NULIDADE DO
PROCESSO E JULGARAM EXTINTO O FEITO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, RESTANDO
PREJUDICADO O EXAME DO APELO. UNÂNIME.
(Apelação Cível Nº 70038697900, Décima Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Julgado em
14/09/2011)

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. AÇÃO


CAUTELAR. IRREGULARIDADE DA
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL DA PARTE
AUTORA. INTIMAÇÃO PARA REGULARIZAÇÃO.
DEFEITO NÃO SANADO NO PRAZO ASSINADO.
NULIDADE E EXTINÇÃO DO PROCESSO. ARTS. 13,
I, E 267, IV, DO CPC. Intimada a parte autora para
regularizar a sua representação processual, ratificando
os atos praticados, e transcorrido in albis o prazo
razoável concedido para tal diligência, de rigor a
declaração de nulidade do processo, julgado extinto,
sem apreciação do mérito, ante a ausência dos seus
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido
e regular. Inteligência dos artigos 13, I, e 267, IV, do
Código de Processo Civil. DECLARADA A NULIDADE
DO PROCESSO, JULGADO EXTINTO SEM
APRECIAÇÃO DO MÉRITO. CONDENAÇÃO DO
BANCO A RESPONDER PELAS CUSTAS DO
RETARDAMENTO E À PERDA DO DIREITO DE
HAVER OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DA
PARTE ADVERSA DA DEMANDA CAUTELAR.
INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 22 E 267, § 3º, IN
FINE, AMBOS DO CPC. (Outros Feitos Nº
70018931824, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba Lucas,
Julgado em 14/05/2007)

Por fim, considerando que o demandado não alegou a nulidade


quando da contestação, agindo desidiosamente, acarretando no
desnecessário trâmite do feito, deve responder pelas custas do
retardamento, bem como perde o direito de haver do autor honorários
advocatícios, nos termos do art. 22, e 267, § 3º, do CPC:

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Art. 22. O réu que, por não argüir na sua resposta fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor,
dilatar o julgamento da lide, será condenado nas custas a
partir do saneamento do processo e perderá, ainda que
vencedor na causa, o direito a haver do vencido honorários
advocatícios.

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:


(…)

§ 3º O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau


de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da
matéria constante dos nºs IV, V e VI; todavia, o réu que a não
alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos
autos, responderá pelas custas de retardamento.

Ante o exposto, de ofício, com amparo no art. 13, I, do CPC,


decreto a nulidade do processo e, nos termos do art. 267, IV, do CPC, julgo
extinto o feito, sem resolução de mérito, diante da ausência dos
pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo. Apelo prejudicado.
Condeno o demandado ao pagamento das custas processuais
a partir do saneamento do processo, perdendo o direito de haver honorários
advocatícios da parte autora, nos termos do art. 22 e 267, § 3º, in fine, do
CPC.
É como voto.

DES. LEONEL PIRES OHLWEILER (REVISOR) - De acordo com o(a)


Relator(a).
DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE) - De acordo
com o(a) Relator(a).

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DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA - Presidente - Apelação Cível


nº 70050110170, Comarca de Porto Alegre: "DE OFÍCIO, DECRETARAM A
NULIDADE DO PROCESSO E JULGARAM EXTINTO O FEITO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO, NOS TERMOS DO ART. 267, IV, DO CPC.
APELO PREJUDICADO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: MURILO MAGALHAES CASTRO FILHO

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