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SE O SEU CLIENTE FOI VÍTIMA DO GOLPE DO MOTOBOY

No caso do golpe do motoboy, o golpista realiza uma ligação para a vítima, se passando por um
funcionário do banco, informando que o cartão dela está sendo usado para compras suspeitas e, por
isso, ele precisa ser cancelado.

Durante a ligação, o golpista solicita alguns dados da vítima, incluindo a senha, e a orienta cortar o
cartão ao meio.

Em momento posterior, volta a ligar para a vítima e avisa que um funcionário do banco vai pegar o
cartão cortado como medida de segurança. Dessa forma, tendo disponíveis os dados, senha e chip
do cartão da vítima, o golpista consegue fazer diversas compras.

Assim que se der conta da fraude, o cliente deve além de realizar um registro de ocorrência na
delegacia, deve procurar o banco e comunicar a fraude para que as operações suspeitas possam ser
bloqueadas ou canceladas.

Constatado o golpe, se o banco não tomar as medidas necessárias de segurança, restará configurada
falha na prestação do serviço. Isso porque, quando as operações realizadas e os valores fugirem ao
perfil do cliente, não correspondendo às suas práticas habituais como usuário, de forma evidente, é
dever do banco ou da instituição financeira proceder ao bloqueio a fim de averiguar se aquela
operação realmente procede ou se é fruto de fraude. Se não o faz, poderá também ser
responsabilizado.

AO JUÍZO DA .... VARA CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE CONSUMO DA COMARCA DA ..../......

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO
IDOSO 70 ANOS

NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, RG nº ....., órgão expedidor e inscrito no
CPF/MF sob o nº ...., residente e domiciliado ...., por sua advogada infra-assinada, já devidamente
constituída e qualificada em instrumento de mandato procuratório em anexo, com endereço
profissional endereço na ...., onde recebe notificações e intimações (CPC, art.39, I), vem
respeitosamente a presença de Vossa Excelência com fulcro nos arts. 186 e 927 do Código Civil, bem
como no art. 5°, V, CRFB/88 e demais dispositivos legais previstos no Código de Defesa do
Consumidor propor:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO POR FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO BANCÁRIO C/C DANOS MATERIAIS
E MORAIS.

Contra o Banco ......, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº ....., estabelecida com
endereço ....... pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I – PRELIMINARES

A) DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO IDOSO

A parte autora possui 70 anos, de modo que, conforme previsto no artigo 71 do Estatuto da Pessoa
Idosa e, artigo 1.048 do Código de Processo Civil, lhe é assegurada o direito fundamental de
prioridade de tramitação dos processos, razão pela qual requer a prioridade na tramitação do feito.

B) DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Cumpre salientar que a parte autora se encontra em situação de hipossuficiência, restando


impossibilitado de arcar com custas processuais. À vista disto, o Código de Processo Civil brasileiro,
em cumprimento ao direito constitucional de acesso ao judiciário àquelas pessoas que se encontrem
financeiramente impossibilitadas, traz, nos artigos 98 e 99, a possibilidade de obtenção do benefício
da gratuidade da justiça, isentando tais hipossuficientes ao pagamento de custas, despesas
processuais e honorários advocatícios, a ser pleiteado no corpo desta exordial.

Outrossim, Vossa Excelência, caso a parte autora comprometa a sua renda financeira com estas
custas processuais, estará ainda mais impossibilitado de arcar com os seus gastos mensais, como
moradia, alimentação, transporte, enfim, custos para que consiga sobreviver de forma digna. Então,
caso este juízo negue a gratuidade da justiça, irá a parte autora, consequentemente, incapacitado de
continuar litigando em busca de um direito legítimo seu em face da instituição bancária demandada.

Então, requer-se a este juízo a concessão do benefício à gratuidade da justiça, bem como a juntada
dos documentos comprobatórios que demonstram a imprescindibilidade da parte demandante no
que tange à gratuidade, a fim de que consiga exercer o seu direito constitucional de acesso ao
judiciário, de forma efetiva e plena, sem comprometer com sua renda financeira e de sua família.

C) DESINTERESSE NA DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

A parte autora manifesta, expressamente, o seu desinteresse na designação da audiência de


conciliação e mediação, nos termos do art. 334, §5º do CPC. Assim, em homenagem aos Princípios
da Razoável Duração do Processo, Celeridade e Economia Processual, requer a imediata instrução e
julgamento do feito.

Todavia, ainda que seja desnecessária a audiência de conciliação, em homenagem ao Princípio da


Cooperação, insculpido no art. 6º do CPC, indica os canais de comunicação constantes no timbre
para uma eventual composição amigável, informando desde já que seus patronos possuem os
poderes especiais previstos do art. 334, §10, do CPC.

C) DAS INTIMAÇÕES, PUBLICAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

Nos termos do art. 272, §§2º e 5º do Código de Processo Civil, requer que todas as Intimações,
Publicações e Notificações, dizendo respeito à presente ação, tenham a devida publicação, com
expressa indicação, sempre, em nome da Dra. ......, OAB/UF nº....... .

Já as Intimações e Notificações que, “in eventum”, possam vir a ser excepcionalmente expedidas, via
postal, requer que sejam endereçadas, sempre, aos cuidados dos mesmos patronos ora constituídos.
Por oportuno, requer que todas as notificações e publicações referentes ao processo em epigrafe
sejam realizados em nome da Dra. ......, OAB/UF nº....... (procuração nos autos).
E-mail: ....... Na forma do art. 272 do CPC/2015, sob pena de nulidade.

II. DOS FATOS


A parte autora, pessoa idosa, aposentada, no dia ....... às ....... h recebeu uma ligação (conforme
doc. ....) de um Sr. ....., se identificando como um funcionário do banco ......, onde o autor é cliente,
Ag. ......, conta nº......, informando que havia suspeita de que o seu cartão de crédito de n. ......
estava sendo utilizado para realização de compras e operações por terceiros, e por isso, precisava
ser cancelado.

Durante a ligação, o suposto funcionário solicitou ainda alguns dados do autor, incluindo a senha, e
o orientou a cortar o cartão ao meio.

No mesmo dia, em momento posterior, por volta das ..... h., o mesmo funcionário voltou a ligar para
o autor, avisando que como medida de segurança, um outro funcionário do banco passaria em sua
residência para pegar o cartão cortado. E assim foi feito.

No mesmo dia, às ..... h. um motoboy se identificando como preposto do banco ..... passou na
residência do autor e recolheu o cartão, dizendo que este seria inutilizado.

No dia seguinte, a parte autora identificou através do seu aplicativo Internet Banking, que tinham
sido realizadas várias compras, transferências realizadas por PIX e realizado um empréstimo em
nome do autor, transações essas desconhecidas pela parte autora (AG. ..... CONTA ...), conforme
relacionado abaixo:
(DISCRIMINAR OS VALORES E OPERAÇÕES FRAUDULENTAS)

Nesse momento, tomando ciência de que havia sido vítima de estelionato e fraude, o autor
prontamente entrou em contato com o banco através dos canais disponíveis ao cliente, tanto em
conversas através de chats e ligação, onde recebeu informações desencontradas, bem como não foi
devidamente orientado, inclusive sendo ele próprio responsabilizado por falha na segurança, ao
disponibilizar seus dados, senha e chip do seu cartão a terceiros sem proceder à verificação da
veracidade das informações dadas pelo golpista.

Diante disso, o autor realizou Boletim de Ocorrência (nº ......) na delegacia mais próxima de sua
residência, e lá ficou sabendo que havia sido mais uma vítima do chamado “GOLPE DO MOTOBOY”.
O autor, com o Boletim de Ocorrência (nº........) em mãos, foi até o banco de forma presencial para
falar com a gerente de sua conta, que não lhe deu a devida atenção, tratando-o com desídia,
informando que diante do fato, infelizmente não poderia fazer nada no sentido de minimizar ou
bloquear as operações tendo em vista que o próprio cliente deu azo à fraude da qual foi vitimado.

Simplesmente orientando que ao autor realizasse a comunicação e a solicitação de bloqueio das


operações suspeitas por email diretamente ao seu banco e ouvidoria da instituição, acompanhado
de cópia do boletim de ocorrência.

No entanto, diante da demora da realização da notificação de infração dentro desse mecanismo, o


autor, munido do Boletim de Ocorrência e da notificação feita, compareceu novamente de forma
presencial em sua agência bancária, sem conseguir solucionar a questão.

E por inúmeras vezes, a parte autora tentou resolver administrativamente com a Instituição
Financeira responsável, o que não foi possível, tendo em vista a recusa do banco.

Ocorre que, assim que se deu conta da fraude, o cliente tomou todas as medidas cabíveis como
comunicação ao banco e realização do boletim de ocorrência, e por sua vez, diante da comunicação
de um crime e de realização de operações suspeitas não reconhecidas pelo seu cliente, cabe ao
banco proceder de forma a assegurar e averiguar a veracidade de tais operações e, em caso de
suspeita, realizar o bloqueio ou cancelamento.

Assim, constatado o golpe, se o banco não tomar as medidas necessárias de segurança, restará
configurada falha na prestação do serviço. Isso porque, quando as operações realizadas e os valores
fugirem ao perfil do cliente, não correspondendo às suas práticas habituais como usuário, de forma
evidente, é dever do banco ou da instituição financeira proceder ao bloqueio a fim de averiguar se
aquela operação realmente procede ou se é fruto de fraude. Se não o faz, poderá também ser
responsabilizado.

Sabe-se que a falta de segurança na prestação de serviços bancários possibilita a ocorrência de


fraudes e delitos praticados por terceiros em detrimento dos consumidores, sendo assim, pode-se
considerar que a falha de segurança é, portanto, um defeito do serviço bancário, e de sua
responsabilidade.
Assim, resta configurado não só a falha na prestação do serviço como os danos de ordem material e
de ordem moral, tendo em vista que o cliente além de ter sido vítima de fraude, foi obrigado a
desperdiçar seu tempo em inúmeras ligações, comunicações virtuais e presenciais, infrutíferas e
ainda sendo ele próprio responsabilizado por ter sido vítima de estelionato, se isentando a
instituição de seu dever de segurança no serviço prestado ao consumidor, dever esse ínsito à sua
atividade.

III. DO DIREITO

A) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

Para que não paire dúvida sobre a irregularidade cometida pelo Réu, faz-se necessária a inversão do
ônus da prova, nos termos do inciso VIII do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, pois a
relação jurídica entre as partes está resguardada pelo CDC.

Por essa razão, impõe-se a inversão do ônus da prova, devendo a instituição financeira apresentar
em juízo toda a documentação referente aos dados das transações realizadas e especificando de
forma detalhada, afim de que possa ser comprovado a higidez da operação.

Em razão da fragilidade do consumidor, que o coloca em posição desigual ou desvantajosa em


relação ao fornecedor, deve ser determinada a inversão do ônus da prova, visto que é mais fácil ou
menos difícil para a instituição Bancária comprovar, já que é titular do monopólio de informações e
documentações.

B) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Conforme farta e sedimentada jurisprudência, o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras, conforme Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça. Vale salientar que o
Banco Central do Brasil através da resolução CMN 4.949/21 reconhece como relação de consumo as
transações bancárias.

Em ato contínuo, o Banco Central do Brasil, no Art. 4º, inciso II da referida Resolução reforça que as
Instituições Financeiras e demais Instituições autorizadas, devem assegurar:

II - integridade, conformidade, confiabilidade, segurança e sigilo das transações


realizadas, bem como legitimidade das operações contratadas e dos serviços prestados;
Cumpre destacar, em relação ao art. 6º, VIII, do CDC, que a parte autora se encontra em nítida
situação de hipossuficiência em relação à Instituição Financeira, o que por si só autoriza a inversão
do ônus probandi, uma vez que se trata de aplicação do direito básico do consumidor, inerente à
facilitação de sua defesa em juízo, como também nos termos do artigo 373, inciso II, do CPC.

C) DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS EM CASOS DE FRAUDE

Conforme súmula 297 do STJ e art. 3, §2º do Código de Defesa do Consumidor (CDC), as relações
jurídicas realizadas entre uma pessoa física e uma instituição financeira são definidas como uma
relação de consumo, em que existe a procura por um serviço e o fornecimento do mesmo, conforme
segue:

Súmula 297 do STJ - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.

Art. 3º, CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
[...] § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

O banco como prestador de serviços, possui responsabilidade objetiva com relação a qualquer risco
inerente a sua atividade, com isso, o dano seja gerado por um fortuito interno ele deverá ressarcir o
consumidor independentemente de culpa, conforme Súmula 479 do STJ, in verbis:

Súmula 479 do STJ - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos


gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias.

Com isso, quanto a responsabilidade civil do banco, considera o aplicado no art. 927 do Código Cível
(CC), que preceitua que por aquele que comete ilícito, e causar dano a outrem deverá repará-lo
independentemente de culpa.
Importa ressaltar que diante disso não há que se falar em culpa do autor em ter fornecido seus
dados, senha e cartão parcialmente danificado a terceiro golpista. Inclusive o STJ no REsp nº
1995458/SP, o Min. Villas Boas Cueva inaugurou divergência ao pontuar que o caso se trata de
fortuito interno do banco, sendo assim, responsabilidade integral da instituição financeira. Isso
porque a empresa deixou de adotar medidas razoáveis para que aquela lesão se concretizasse.

Destacou, ainda, que em curto período após a entrega do cartão picotado ao motoboy, ocorreram
débitos de “valores incongruentes com a prática daquele consumidor, o que faria que fossem
acionados algoritmos que avisam que o comportamento daquele usuário do cartão é incomum”.

Dispôs ainda que

No caso não é razoável entender que a vítima, ao digitar sua senha pessoal no teclado
de seu telefone depois de ouvir a confirmação de todos os seus dados pessoais e destruir
parcialmente o cartão antes de entregá-lo a terceiro que dizia ser preposto do banco
assumiu o risco de vir a sofrer danos, sobretudo por se tratar de pessoa idosa, em que a
imputação de responsabilidade deve ser feita considerando sua peculiar situação de
consumidor.

Assim, concluiu não ser inviável na hipótese de distribuição de reparação proporcionalmente,


devendo a instituição financeira arcar pelos danos sofridos pelo idoso. Por fim, concluiu o ministro
por dar provimento ao recurso para declarar a inexigibilidade de todas as transações bancárias não
reconhecidas pelo idoso.

Sobre o tema, resta mencionar ainda decisão do Tribunal de Justiça do Paraná:

RECURSO INOMINADO. INDENIZAÇÃ O. SENTENÇA DE IMPROCEDÊ NCIA.


INCONFORMISMO DA PARTE AUTORA. INSURGÊ NCIA RECURSAL ACOLHIDA.
BANCO DO BRASIL. RELAÇÃ O DE CONSUMO. INVERSÃ O DO Ô NUS DA PROVA.
GOLPE DO MOTOBOY. VÍTIMA IDOSA. CONSUMIDORA HIPERVULNERÁ VEL OU
DUPLAMENTE VULNERÁ VEL. PRECEDENTE DO C. STJ. RECEBIMENTO DE LIGAÇÃ O
NO TELEFONE RESIDENCIAL DA CORRENTISTA. DADOS SIGILOSOS. DEVER DE
SEGURANÇA E PROTEÇÃ O NÃ O OBSERVADO PELA INSTITUIÇÃ O FINANCEIRA.
CASO FORTUITO INTERNO. PARTE RÉ QUE NÃ O LOGROU Ê XITO EM COMPROVAR
FATOS IMPEDITIVOS, EXTINTIVOS OU MODIFICATIVOS DO DIREITO DO AUTOR,
NÃ O SE DESINCUMBINDO DE SEU Ô NUS PROBATÓ RIO, A TEOR DO CONTIDO NO
ARTIGO 373, II DO CPC C/C ARTIGO 6º, VIII DO CDC. EXCLUDENTES DA
RESPONSABILIDADE CIVIL NÃ O COMPROVADAS. ILEGALIDADE EVIDENCIADA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INTELIGÊ NCIA DO ART. 14, CAPUT, DO CDC.
MANIFESTA FALHA NA PRESTAÇÃ O DO SERVIÇO. APLICAÇÃ O DA SÚ MULA 479 DO
C. STJ. DEVER REFORÇADO DO FORNECEDOR DE AGIR COM BOA-FÉ E LEALDADE
EM RESPEITO À S CONDIÇÕ ES PESSOAIS DO CONSUMIDOR DUPLAMENTE
VULNERÁ VEL. DANO MORAL CONFIGURADO. TENTATIVAS DE SOLUÇÃ O
ADMINISTRATIVA DO IMPASSE SEM SUCESSO. DESCASO E DESRESPEITO COM O
CONSUMIDOR. TRANSTORNOS QUE ULTRAPASSAM O MERO DISSABOR DO DIA A
DIA. SENTENÇA REFORMADA. Recurso conhecido e provido (TJ-PR - RI:
00098947320208160035 Sã o José dos Pinhais 0009894-73.2020.8.16.0035
(Acó rdã o), Relator: Leo Henrique Furtado Araujo, Data de Julgamento: 14/03/2022,
4ª Turma Recursal, Data de Publicaçã o: 14/03/2022).

D) REQUISIÇÃO JUDICIAL PARA ENTREGA DE DADOS ARMAZENADOS PELO PROVEDOR DE


APLICAÇÕES DE INTERNET

Para a melhor elucidação, com base na LEI Nº 12.965, art. 10, parágrafo 1º, diante das dificuldades e
condições financeiras da parte autora, cabe ainda a requisição de dados de ....., de CPF: ....., titular
da Conta: ....., na Agência....., Instituição Bancária ...., pessoa vinculada a chave (e- mail, telefone,
CPF, chave aleatória), a fim de identificar a transação fraudulenta assim como o eventual
cometimento de delito, necessitando para tanto que Instituição Financeira ré, que na presente
demanda na condição de litisconsorte deverá proceder e se assim entender o Juízo e desde já
requerendo o fornecimento do CPF completo vinculado a presente conta, além do endereço
domiciliar, bem como outros dados que possam trazer a melhor qualificação deste terceiro na
relação.

Assim sendo, o parágrafo 1º. do art. 10 da Lei n. 12.965/14 estabelece que o propósito primário da
quebra do sigilo informacional pode ser justamente a descoberta da autoria de crimes.
Por fim, pleiteia-se a Vossa Excelência que seja dado total procedência à ação de conhecimento,
visto que o consumidor foi excessivamente lesado, ao sofrer uma ação fraudulenta. Tal fato lhe
gerou prejuízo de ordem financeira, tendo em vista que ser aposentado tendo de arcar com as
despesas realizadas em seu nome e sobre as quais não reconhece sendo fruto de fraude.

Insta mencionar que a ausência de tais valores fizeram e fazem falta no orçamento do autor e
geraram seu superendividamento, além dos danos extrapatrimoniais comprometendo o seu mínimo
existencial.

E ainda, há de se mencionar o danos de ordem moral, já que a instituição se negou a tomar as


medidas cabíveis de praxe para casos como esse, de fraude, se isentando de toda e qualquer
responsabilidade, colocando toda a culpa no autor, vítima de um crime.

E) DO DANO MATERIAL – REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Em razão da nítida má-fé da Instituição Financeira, conforme amplamente demonstrado nessa


exordial, a parte autora faz jus a receber a devolução, em dobro, das quantias descontadas de sua
conta bancária, acrescida de juros e correção monetária no valor de R$ ....... (por extenso), conforme
discriminado abaixo:

(INCLUIR OS VALORES E OPERAÇÕES FRAUDULENTAS)

Resta evidente que a parte autora deve ser restituída pelos danos materiais correspondente ao
dobro dos valores indevidamente cobrados, acrescidos de atualização monetária e juros de mora. É
incontestável a má-fé da instituição financeira. Basta observar a falta do dever de cuidado com o
autor, acarretando um numa ação fraudulenta, onde a própria Instituição Bancária é conivente, e
que se situa na categoria do enriquecimento sem causa, nos termos do Artigo 884 do Código Civil.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

A reparação a parte autora é fundamental para que a Instituição Financeira não reincida na conduta,
conforme previsão no artigo 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor:
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Nesse sentido, cita-se o posicionamento do Tribunal de Justiça do Paraná a respeito do tema que
assim dispôs:

RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. TRANSFERÊNCIA DE VALORES VIA PIX. NÃO


RECONHECIMENTO DA OPERAÇÃO PELA CORRENTISTA. DESCABIMENTO. FORTUITO
INTERNO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 479 DO STJ. CULPA DA VÍTIMA NÃO
CONFIGURADA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO APRESENTA NENHUMA PROVA
ACERCA DA SEGURANÇA, AUTENTICAÇÃO OU IDENTIFICAÇÃO DA OPERAÇÃO.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO DO VALOR TRANSFERIDO E DOS ENCARGOS INCIDENTES
SOBRE SALDO NEGATIVO GERADO. CABIMENTO. JUROS DE MORA. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA,
DESPROVIDO. 1. Da análise dos autos, observa-se que a instituição financeira recorrente
não apresentou nenhuma prova sobre a operação realizada, nem que esta teria sido
confirmada mediante o uso de token ou senha. Assim, ante a alegação da reclamante
que não realizou tais transações (fato negativo), o ônus da prova acerca da regularidade
da operação recaiu sobre o recorrente – ônus do qual, frise-se, não se desincumbiu. 2.
Tratando-se de questão atinente à segurança interna dos dados dos correntistas, das
contas e operações bancárias mantidas junto ao recorrente, a sua responsabilidade
resta consolidada pelo que dispõe a súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça (“as
instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias”). 3. Assim, cabível a restituição dos valores retirados fraudulentamente da
conta bancária pertencente à reclamante, bem como dos encargos cobrados sobre o
saldo negativo gerado pela fraude. 4. Inviável o conhecimento do pedido de reforma do
termo inicial dos juros de mora, uma vez que a sentença estipulou a sua incidência a
partir da citação, no mesmo sentido do que foi pleiteado pelo recorrente. Assim,
inexiste interesse recursal no ponto. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais -
0001795-75.2021.8.16.0069 - Cianorte - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL
DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MANUELA TALLÃO BENKE - J. 04.10.2021) (TJPR, RI:
00017957520218160069 – Cianorte - 0001795-75.2021.8.16.0069 (Acórdão), Relator:
Manuela Tallão Benke, Data de Julgamento: 04/10/2021, 5ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais, Data de Publicação: 04/10/2021)

Posto isso, em conformidade com os artigos 14 e 42 do CDC, desde logo, requer- se que este Douto
Juízo condene expressamente a Instituição Financeira a devolver EM DOBRO a quantia paga
indevidamente – valores que perfazem, nestes moldes, na forma simples, uma média de R$ ..... (por
extenso), a título de danos materiais, totalizando assim a repetição de indébito um montante de
R$ ...... (por extenso).

F) DO DANO MORAL

Trata-se de dano moral in re ipsa, que dispensa a comprovação da extensão dos prejuízos, sendo
estes evidenciados pelas circunstâncias do fato, conforme entendimento firmado pelo STJ. Cumpre
salientar que a indenização em comento é indispensável, pois tem caráter repressivo e pedagógico.

É incontroverso que o Banco deve responder objetivamente pelos danos causados, em harmonia
com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: Súmula 37, que estabelece que “são
cumuláveis as indenizações por dano material e moral oriundos do mesmo fato”.

SÚMULA 37 - STJ - SÃO CUMULAVEIS AS INDENIZAÇÕES POR DANO MATERIAL E DANO


MORAL ORIUNDOS DO MESMO FATO.

Isto posto, requer que seja a Instituição Financeira condenada a indenizar a parte autora no valor de
R$ ...... (por extenso)., pelos danos morais advindos da conduta ilícita praticada.

DOS DANOS TEMPORAIS POR DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR

O reconhecimento da perda involuntária do tempo como um dano causado pelo mau atendimento
das demandas de consumo por parte dos fornecedores de produtos e serviços revela-se como um
dos mais importantes e atuais avanços na defesa do consumidor.
O dano temporal está relacionado com a área do direito do consumidor, derivado do dever de sua
proteção pelo Estado, previsto no art. 5º, XXXII, da Constituição Federal, o qual trata-se de um
verdadeiro bem jurídico do indivíduo brasileiro, permeia todo o sistema jurídico brasileiro, em que
está pautado em prazos.

No mundo atual, marcado pelas rotinas agitadas e pelos compromissos urgentes, pensar em tempo
significa muito mais lidar com a sua escassez do que com a sua abundância.

Se tomado como um tipo de recurso, o tempo é caro e finito;se concebido como uma espécie de
direito, o tempo é componente do próprio direito à vida. Se é questão de direito, o tempo também é
questão de justiça.

O tempo é precificado – integra a remuneração da jornada de trabalho – e é benefício – o tempo de


férias, o tempo livre com a família etc. Por ser limitado e valioso, uma das principais frustações
cotidianas é a perda de tempo.

O consumidor tem sido constantemente alvo dessa subtração de tempo, especialmente em razão
das longas jornadas a que costuma ser submetido ao se deparar com defeito em um produto ou
serviço.

A constatação do tempo do consumidor como recurso produtivo e da conduta abusiva do


fornecedor ao não empregar meios para resolver, em tempo razoável, os problemas originados
pelas relações de consumo é que motivou a chamada teoria do desvio produtivo.

Segundo o doutrinador Marcos Dessaune a atitude do fornecedor ao se esquivar de sua


responsabilidade pelo problema, causando diretamente o desvio produtivo do consumidor, é que
gera a relação de causalidade existente entre a prática abusiva e o dano gerado pela perda do tempo
útil. Segundo Dessaune:

A Teoria do desvio produtivo sustenta que o tempo é o suporte implícito da vida, que
dura certo tempo e nele se desenvolve, e a vida constitui-se das próprias atividades
existenciais que cada um escolhe nela realizar. Logo o tempo é tanto um dos objetos do
direito fundamental à vida – ou seja, um bem jurídico constitucional – quanto um
atributo da personalidade tutelado no rol aberto dos direitos da personalidade.
Reitera-se que a parte autora tentou extrajudicialmente inúmeras vezes solucionar seu problema,
contudo, sequer obteve resposta pela Requerida.

A teoria do desvio produtivo foi aplicada no REsp 1.737.412 – o tempo perdido no atendimento
precário de agências bancárias – a Ministra Nancy Andrighi comentou que, a sociedade pós-
industrial, o consumo de um produto ou serviço de qualidade, produzido por um fornecedor
especializado na atividade, tem a utilidade subjacente de tornar disponíveis o tempo e as
competências que o consumidor precisaria para produzi-lo para o seu próprio uso.

Dessa análise, de acordo com a relatora, extrai-se uma espécie de função social da atividade dos
fornecedores, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento dos recursos produtivos
disponíveis na sociedade – entre eles, o tempo.

Assim, resta claro o dano temporal pelo tempo perdido pelo Autor, cabendo indenização justa
para amenizar o tempo perdido.

Ressalte-se que a celeuma poderia ter sido resolvida de forma administrativa, o que não foi possível
por intransigência do Requerida, havendo a necessidade acionar o Poder Judiciário.

Assim, deve a Requerida ser condenada a indenizar o Autor, a título de indenização por danos
temporais valor não inferior a R$....... (por extenso) pelo tempo perdido e, mormente, por
produzirem reflexos materiais.

Por fim, pleiteia-se a Vossa Excelência que seja dado TOTAL PROCEDÊNCIA À AÇÃO DE
CONHECIMENTO, visto que o consumidor foi excessivamente lesado, ao sofrer uma ação
fraudulenta. Tal fato lhe gerou incontáveis prejuízos de ordem financeira, tendo em vista que a
ausência dos valores discutidos fez bastante falta no orçamento e geraram seu superendividamento,
além dos danos extrapatrimoniais, comprometeram o seu mínimo existencial.

DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Nos moldes do art. 84 do CDC, o Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir
medidas antecipatória para assegurar o resultado prático da demanda. Subsidiariamente, o art. 300
do CPC estabelece alguns requisitos para a concessão da tutela antecipada de urgência, a saber: a
fumus boni iuris e o periculum in mora.

A fumaça do bom direito é patente, porque o pleito autoral tem como escopo norma de Direito
Fundamental, bem como os fatos ora narrados são ratificados pelas provas que escoltam a peça
vestibular, revelando, assim, a probabilidade do direito invocado.

Resta evidente o perigo de se aguardar provimento judicial posterior, na medida em que a parte
autora continuará a sofrer descontos indevidos em seus vencimentos mensais de modo que
poderá comprometer gravemente seu sustento e do seu núcleo familiar, o que,
consequentemente, pode causar dano irreparável ou de difícil reparação, circunstância essa
suficiente para caracterizar a urgência do provimento.

Por outro lado, a concessão da liminar não trará qualquer encargo ao Reclamado, que poderá
restabelecer os descontos, no fim do processo, acaso sobrevenha Sentença de Improcedência dos
pleitos autorais.

Com efeito, vindica-se imediato provimento judicial, a fim de determinar que o Réu proceda a
suspensão dos descontos na conta do autor até ulterior decisão deste Juízo, tudo isso no prazo de
48H, sob pena de multa diária de R$ 500,00 por dia de atraso.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer, a V.Exa., sendo os pedidos julgados PROCEDENTES para:

a) Conceder inaudita altera pars da TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA PARA SUSPENDER OS


DESCONTOS NA CONTA DO AUTOR, no prazo de 48h, sob pena de multa diária de R$ 500,00 por dia de
atraso;

b) Atribuir a prioridade de tramitação do presente feito tendo em visto a condição de idoso do


Requerente.

c) Concessão do benefício da justiça gratuita para as instâncias de 1° e 2° grau, requerido no


instrumento procuratório; nos termos dos arts. 98 e 99, caput e § 3°, CPC, e da Lei Federal 1.060/50;

d) Que não seja designada a audiência de mediação e conciliação, tendo em vista a


manifestação de desinteresse da parte autora, nos termos do art. 334, §5º do CPC;

e) Por oportuno, requer que todas as notificações e publicações referentes ao processo em


epigrafe sejam realizados em nome da Dra. ....., OAB/UF nº..... (procuração nos autos). E-mail: ..... Na
forma do art. 272 do CPC/2015, sob pena de nulidade;

f) Proceder com a citação do réu para, querendo, apresentar contestação, sob pena de seu
não oferecimento importar na incidência dos efeitos da revelia e na aceitação das alegações de fato
formuladas, nos moldes do art. 344 do CPC/15;

g) Determinar a incidência das regras do Código de Defesa do Consumidor em razão da


vulnerabilidade e da hipossuficiência do autor em face do réu, sendo invertido o ônus da prova nos
termos do art. 6, VIII do diploma em comento;

h) O reconhecimento da fraude praticada, e condenar a instituição financeira ré à restituição, a


títulos de danos materiais, no valor de R$ ...... (por extenso) ao consumidor/vítima lesado.

i) Requer que seja a Instituição Financeira condenada a indenizar a parte autora no valor de R$
...... (por extenso), pelos danos morais advindos da conduta ilícita praticada e do desvio produtivo do
consumidor.

j) Que seja determinado a quebra do sigilo informacional, com base no parágrafo 1º. do art. 10
da Lei n. 12.965/14.

Protesta provar o alegado por todos os meios de Prova em direito admissíveis, especialmente a
documental inclusa e depoimento pessoal do Representante da Demandada sob pena de Confissão,
bem como a apresentação de demais documentos que entender necessários e que forem
ordenados, tudo nos termos do artigo 369 do Novo Código de Processo Civil.

Dá-se à causa, o valor de R$ ...... ( por extenso).

Termos em que,
Pede deferimento.

Local, Data.

ADVOGADO
OAB/UF nº.....

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