EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 02ª.
VARA DO TRABALHO FORTALEZA-CE
Processo n°. 0000427-05.2022.5.07.0002
FARO INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARTIGOS TÊXTEIS
LTDA, nos autos da reclamação trabalhista que lhe move MARIA DO SOCORRO DE SOUSA POSSIDÔNIO, todos já devidamente qualificados nos autos do processo supra, por seus procuradores abaixo firmados, vem, respeitosamente à presença desse juízo apresentar sua CONTESTAÇÃO, com bases nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir:
BREVE RESUMO DA PRETENSÃO AUTORAL
Diz a Reclamante em sua exordial que foi contratada pela
Reclamada em 23/07/2021 para trabalhar na função de gerente, recebendo salário mensal de R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais), não tendo sua CTPS assinada.
Assevera ainda que laborava além de seu horário de
trabalhado contratado, sem nunca ter recebido horas extraordinárias.
Requer, por fim, as verbas rescisórias que entende serem
devidas, bem como a rescisão de seu contrato de trabalho.
DA REALIDADE DOS FATOS
Ocorre Excelência, QUE A ALEGAÇÃO DO OBREIRO NÃO
CORRESPONDE À REALIDADE DOS FATOS, TENDO EM VISTA QUE A RECLAMANTE NÃO POSSUÍA VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM A RECLAMADA, SENDO IMPROCEDENTE OS PEDIDOS DA PRESENTE RECLAMAÇÃO.
O que ocorreu de fato é que a Reclamante, no período
compreendido na exordial, prestava serviços de CONSULTORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA, o que ocorria uma vez por semana.
Vale ressaltar que a Reclamante, após isso, desenvolvia sua
prestação de serviços NO HORÁRIO E TEMPO QUE LHE ERAM CONVENIENTES NÃO HAVENDO QUALQUER SUBORDINAÇÃO COM A EMPRESADA RECLAMADA.
DOS REQUISITOS DO CONTRATO DE TRABALHO
DA CONTINUIDADE
A CONTINUIDADE ou HABITUALIDADE da prestação laboral
é requisito importante para que o trabalhador desfrute das prerrogativas da legislação obreira, requisito este ausente no presente caso, pois, no dizer de Rouast e Barassi, "...é preciso que a prestação do serviço não tenha caráter esporádico, eventual. A estabilidade da relação é essencial, como a sua onerosidade o é, posto que a maior parte dos direitos do empregado está alicerçada na continuidade ou habitualidade dos serviços. Por este motivo, o trabalho que se presta ocasional e transitoriamente não atribui a seu executor a condição jurídica de empregado. Ainda que, pela conjunção de outros requisitos, a relação pudesse ser qualificada como relação contratual de trabalho, a transitoriedade do serviço impediria sua constituição, no sentido estrito em que se toma a expressão contrato de trabalho."
Com relação ao ventilado, temos os seguintes entendimentos
jurisprudenciais.
“Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região TRT-1 - RECURSO ORDINÁRIO: RO
01011180920175010248 RJVÍNCULO EMPREGATÍCIO. DESIGNER DE INTERIORES. Conjunto probatório que revela ampla autonomia do reclamante no desempenho de sua atividade profissional, pautada em suas conveniências particulares. E, na ausência dos pressupostos legais da configuração do vínculo de emprego, concernentes à subordinação jurídica e habitualidade, não há como declarar o vínculo de emprego. Recurso do autor improvido. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Não obstante o teor do novel art. 791-A da CLT (Lei nº 13.467/17), a concessão de honorários advocatícios de sucumbência não poderá ser acatada aos processos ajuizados anteriormente ao advento da referida lei. No presente caso, portanto, os honorários advocatícios continuam limitados ao entendimento constante da jurisprudência uniformizada pelas Súmulas 219 e 329 do C. TST. Recurso provido para excluir a obrigação de pagar honorários.”
Ementa: MOTORISTA PROPRIETÁRIO/POSSUIDOR DE VEÍCULO DE TRANSPORTE. REMUNERAÇÃO COMPATÍVEL COM OS CUSTOS DA ATIVIDADE DE TRANSPORTE DE CARGA. AUSÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Os arts. 4º e 5º da Lei 11.442/2007 estabelecem que a prestação de trabalho do motorista proprietário ou possuidor de veículo, com ou sem exclusividade, não gera vínculo empregatício. O contrato foi formalizado de acordo com as disposições da Lei 11.442/2007, comprovando-se a prestação de serviços dentro de seus parâmetros, especialmente o pagamento condizente com a remuneração da atividade de transporte de carga. Portanto, sem vínculo de emprego”.
Portanto, como a obreira prestava serviços a reclamada de
forma eventual, inexiste a continuidade, e, inexistindo por conseguinte, o vínculo empregatício.
DA SUBORDINAÇÃO
A reclamante, em decorrência do que acima foi alegado, nunca
esteve subordinado à autoridade direta da reclamada. Não tinha o reclamante superiores hierárquicos que pertencessem aos quadros funcionais do reclamado e nem estava sujeito a horários ditados pela empresa demandada. Ora, como ensinam os mestres antes citados, "A subordinação do empregado é requisito não somente da prestação, como, ainda, o elemento caracterizador do contrato de trabalho, aquele que melhor permite distingui-lo dos contratos afins. Sua extraordinária importância decorre do fato de ser o elemento específico da relação de emprego, cuja presença nos contratos de atividade, facilita a identificação do contrato de trabalho, propriamente dito." (obra antes mencionada).
Ora, a reclamante não estava subordinada a ninguém que
pertencesse aos quadros da reclamada, sendo que executava o serviço contratado no horário que lhe fosse conveniente. Ausente, pois, o requisito da SUBORDINAÇÃO.
Como dito, o obreiro era quem controlava o horário de sua
prestação de serviços, nunca tendo seu horário acompanhado ou mesmo fiscalizado pela reclamada, ficando ao seu critério, o início do horário de sua prestação de serviços, bem como o término da mesma. A reclamada, seja por qualquer método, não realizava o controle de jornada de trabalho do obreiro, tanto é verdade que nenhuma prova existe nos autos produzida pelo mesmo neste sentido.
41.2015.5.03.0005 (TRT-3) Data de publicação: 18/03/2016 Ementa: VÍNCULO EMPREGATÍCIO. MOTORISTA FRETEIRO. AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO. A subordinação é o elemento que diferencia o trabalho autônomo da relação de emprego. Assim, mesmo se comprovados os demais pressupostos, não se reconhece o vínculo empregatício se o conjunto probatório aponta para o trabalho autônomo do freteiro, que trabalha com independência para atender aos chamados para a prestação de serviços, é possuidor de caminhão próprio e tem liberdade de comparecimento. O objetivo da contratação era, na verdade, a entrega das mercadorias, e não a disponibilização da mão-de-obra do trabalhador à empresa durante determinado interregno temporal. Nesta situação, em que o conjunto probatório aponta para a ausência de subordinação, requisito necessário à pretensão, reconhece-se que o trabalho se dava de forma autônoma”.
“TRT-1 - RECURSO ORDINÁRIO RO 00104756220145010069 RJ (TRT-1) Data de
publicação: 02/08/2016 Ementa: MOTORISTA DE CARRETA. SERVIÇO EXTERNO. HORAS EXTRAS. ÔNUS DA PROVA. 1) Considerando que a CTPS do autor registra sua contratação para o exercício de funções externas, ocupando o cargo de motorista de carreta, incumbia-lhe o ônus de provar que sua jornada de trabalho era fiscalizada, o que implicaria no afastamento da exceção prevista no artigo 62 , inciso I , da CLT e no direito ao recebimento de horas extras, do qual não se desincumbiu. 2) Recurso ordinário da ré ao qual se concede provimento.Encontrado em: Nona Turma 02/08/2016 - 2/8/2016 RECURSO ORDINÁRIO RO 00104756220145010069 RJ (TRT-1)”
Ementa: MOTORISTA AUTÔNOMO. AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. O fato de existir habitualidade na prestação de serviços, demanda de horário para a chegada para o carregamento das mercadorias em função da quantidade de entregas é intrínseco à natureza comercial do negócio, todavia, não autoriza a configuração do vínculo de emprego, porque não foi evidenciada a presença de todos os requisitos previstos no previsto nos art. 3º da CLT”.
Assim, nunca existiu relação de emprego, seja de forma escrita
ou verbal, de modo que inexistiu contrato de trabalho entre as partes, não havendo, por conseguinte, rescisão indireta do contrato do obreiro.
Observando que o Reclamante em momento nenhum recebia
salários, mas sim, pagamentos sobre os serviços realizados. Assim, dada a natureza do serviço, IMPOSSÍVEL seria o Reclamante ter realizado horas extras, ate mesmo porque o mesmo nunca teve, por parte da reclamada, qualquer controle quanto a seus horários de entrada, ou saída.
AVISO PRÉVIO
Improcedente tal pedido, considerando que, conforme
amplamente provado anteriormente, não existiu vínculo empregatício entre as partes.
13º. SALÁRIO PROPORCIONAL - 8/12
IMPROCEDENTE tal pedido, vez que inexistiu relação
empregatícia entre as partes, conforme fartamente exposto anteriormente.
FÉRIAS PROPORCIONAIS + 1/3 – 8/12
IMPROCEDENTE tal pedido, vez que inexistiu relação
empregatícia entre as partes, conforme fartamente exposto anteriormente.
FÉRIAS PROPORCIONAIS (2020/2021)
IMPROCEDENTE tal pedido, vez que inexistiu relação
empregatícia entre as partes, conforme fartamente exposto anteriormente.
HORAS EXTRAORDINÁRIAS E REFLEXOS
Improcedente tal pedido.
Como dito, o reclamante não estava subordinado a ninguém
que pertencesse aos quadros da reclamada, sendo que executava o serviço contratado no horário que lhe fosse conveniente, o que se dava, como dito, apenas uma vez na semana.
Ora, o obreiro, dada a inexistência de vínculo empregatício,
era quem controlava o horário de sua prestação de serviços, não tendo seu horário acompanhado ou mesmo fiscalizado pela reclamada, ficando ao seu critério, o início e término do horário de sua prestação de serviços.
Assim, nunca existiu relação de emprego, seja de forma escrita
ou verbal, de modo que inexistem horas extraordinárias a serem pagas.
Assim, DESCABIDO TAL PEDIDO, seja pela inexistência de
liame empregatício entre as partes, como exaustivamente repisado, seja pelo fato de a reclamada não ter controle na carga horária desenvolvida pelo reclamante. Sendo indevidos ainda, os reflexos decorrentes de tal pedido,
FGTS NÃO DEPOSITADO, FGTS SOBRE REFLEXOS, FGTS SOBRE VERBAS
RESCISÓRIAS, 40% MULTA SOBRE FGTS
INDEVIDA TAL OBRIGAÇÃO, considerando a inexistência de
vínculo empregatício entre as partes, não sendo devido, desta forma os depósitos fundiários e a respectiva multa.
MULTA ART. 467 CLT
IMPROCEDENTE tal pedido, vez que inexistem parcelas incontroversas a serem pagas.
MULTA ART. 477 CLT
IMPROCEDENTE tal pedido, vez que inexistiu relação
empregatícia entre as partes, conforme fartamente exposto anteriormente.
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Por fim, restam improcedentes os pleitos atinentes aos
honorários advocatícios, porquanto inatendidos foram os requisitos do art.14, § § 1º e 2º da Lei nº 5.584 de 26/06/1970. Ora, o reclamante compareceu pessoalmente à liça processual assistido por advogado particular desprezando a assistência sindical prevista especificamente naquele dispositivo legal.
Diz o ENUNCIADO 219 DO C. TST: "HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS HIPÓTESE DE CABIMENTO: Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários advocatícios, nunca superiores, a 15%, não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do mínimo legal, ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família."
O art. 133 da Constituição Federal não tem a natureza de
norma auto-aplicável, pois a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça deve ocorrer "nos limites da Lei", conseqüentemente, continuam em vigor, pelo princípio da recepção, as normas ordinárias especiais constantes da CLT e da Lei 5.584/70, referentes ao "jus postulandi" da parte no processo trabalhista e Assistência Judiciária.
Não há parcelas incontroversas a serem pagas na primeira
audiência, pois todas as pretensões, pedidos e valores lançados pelo Reclamante na inicial foram adredemente contestadas pelo Reclamado.
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer o Reclamado que seja acolhida
a presente Contestação, sendo julgada improcedente a Reclamação Trabalhista em todos os seus termos, condenando o Reclamante ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, desde já fixados em 15% (quinze por cento) do valor da causa.
Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.
Nesses termos,
pede deferimento.
Fortaleza-CE, 9 de abril de 2024.
Francisco Olivando Paiva de Souza
Ronald Torres de Oliveira OAB-CE 16.310 OAB-CE 25.620