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NACALA-PORTO
2020
Dália Débora Artur
Nacala-Porto
2020
A violação dos Direitos Humanos emergentes dos conflitos em Cabo Delgado
A violência armada em Cabo Delgado dura há três anos e está a provocar uma crise
humanitária com cerca de 2.000 mortes e 435.000 pessoas deslocadas - sem habitação,
nem alimentos suficientes - concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
norte de Moçambique não está a conseguir dar resposta às necessidades dos deslocados
internos que fogem dos ataques terroristas na região. A cidade de Pemba, em Cabo
Delgado, recebeu recentemente uma nova vaga de deslocados que obrigou as organização
não-governamentais a redobrarem esforços para evitar uma nova catástrofe humanitária.
As organizações no local estimam que haja mais de 400.000 mil pessoas deslocadas pela
violência na província moçambicana de Cabo Delgado.
DW África: Que desafios para o ACNUR traz a nova vaga de refugiados internos
que Pemba assiste?
Nesse contexto os maiores desafios estão na sua maioria relacionados com problemas de
proteção e violação dos Direitos Humanos em Cabo Delgado e nas províncias perto que
também estar a acolher deslocados internos.
A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) alerta que “a situação que está a
acontecer em Cabo Delgado é de extrema violação dos direitos humanos”.
Causas do conflito em Cabo Delgado
A dimensão religiosa não é a única neste momento. De facto, pode ter sido no início, mas
houve uma mudança muito importante. Um movimento que era meramente religioso
passou a ser um movimento muito mais militarizado.
Ademais, aponto a pobreza como uma das possíveis causas dos ataques armados em Cabo
Delgado.
Salientando que a província nortenha de Cabo Delgado está a ser alvo de ataques armados
desde outubro de 2017. Os ataques provocaram já pelo menos duas centenas de mortos,
alguns dos quais decapitados, milhares de deslocados e centenas de casas incendiadas.
O Observatório do Meio Rural realizou um estudo sobre este fenómeno que atinge vários
distritos de Cabo Delgado, província onde se localiza um dos maiores projetos de
exploração de gás natural, no norte moçambicano.
Um dos autores do estudo, o investigador João Feijó, disse à DW África que em Cabo
Delgado reuniram-se algumas condições para que despoletassem tensões violentas.
"Em primeiro lugar, fenómenos de pobreza que já se prolongam há muitos anos. Mas
depois, nos últimos 10 anos assiste-se a uma grande euforia em torno da exploração de
recursos naturais", explicou Feijó, acrescentando que "estas descobertas precipitaram
muita gente para Cabo Delgado, aumentaram as desigualdades sociais, algumas pessoas
ganharam com aquilo, houve uma grande pressão sobre terrenos e as populações locais
grande parte delas não beneficiaram com isto".
Por seu turno, o diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, diz que o
problema de Cabo Delgado não é meramente militar. "É um conjunto de fatores
associados que resvalou para a situação de conflito, que a província está a passar neste
momento".
Portanto, no meu posicionamento, de facto, este conflito é causado pela exclusão social e
falta de partilha de recursos, desencadeando assim movimentações de terroristas na região
que têm interesses econômicos criminosos.
Possíveis Soluções
Vai ser muito importante [neste segundo mandato] investir na inclusão social, económica
e política, para que os moçambicanos se sintam parte de um projeto comum de país. Eu
penso que aqui, eventualmente, reside o desafio maior para todos os problemas que o país
tem estado a enfrentar nos mais de 40 anos da sua independência. O novo Governo vai
ter que revisitar todos esses problemas, que não são novos, mas precisa-se de mais
criatividade para lidar [com eles], e também para evitar que todo o esforço que tem sido
envidado para reduzir a pobreza não seja sem resultados. Claramente, o cenário atual é
extremamente complicado e eu não sei como é que o Governo vai fazer para lidar com
dois conflitos quase simultâneos no norte e no centro.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, admite que a solução para a violência armada
em Cabo Delgado não é apenas militar, aparentemente, dando razão à sociedade civil e
académicos que defendem o impulsionamento do desenvolvimento da região, através de
empregos e de políticas públicas mais redistribuitivas.
A capital provincial, Pemba, tem sido o principal refúgio para as pessoas que procuraram
abrigo e segurança em Cabo Delgado, mas há quem prefira fugir para outros lugares,
incluindo Nampula, província vizinha, concretamente em Nacala-Porto. São frequentes
os relatos de pessoas que viram os seus familiares serem assassinados pelos terroristas,
deste modo, fizemos uma entrevista algum dos refugiados sobre os momentos
aterrorizantes que eles estiveram submetidos: “Vi o meu tio ser degolado a cabeça virada
pra lá, cortado e epectado… as pessoas que praticaram o acto vestiam a roupa das FADM.
Fico a pensar e estou traumatizada! Não consigo tirar da cabeça” diz Hawa Salimo,
deslocada de Cabo Delgado. “Esfaquearam o meu Tio e logo lhe matou ali mesmo, lhe
faqueram e lhe empedaçaram todo corpo e nós deixamos a família…até agora a família
está viver no mato” narra Elizabete Adamo, deslocada dos ataques de Cabo Delgado. Mas
com muitas dificuldades na entrevista, devido a língua que é maconde.