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ESTADOS INSULARES:
O CASO DE CABO VERDE
MAIO, 2013
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS PEQUENOS
ESTADOS INSULARES:
O CASO DE CABO VERDE
MAIO, 2013
Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor
em Geografia e Planeamento Territorial – Especialidade de Planeamento e
Ordenamento do Território, realizada sob a orientação científica da Profa. Doutora
Margarida Angélica Pires Pereira Esteves.
Cabo Verde
II
O território nacional constitui património de todas as gerações de cabo-verdianos, presentes
e futuras. O seu ordenamento e planeamento constituem imperativo nacional.
III
Aos meus pais
pelo esforço na minha formação e por sempre acreditarem em mim;
À todos que, de forma empenhada, com ética e bom senso, lutam diariamente por territórios
melhor ordenados e comunidades com melhor qualidade de vida.
IV
AGRADECIMENTOS
Aos entrevistados: Sara Lopes; Manuel Inocêncio Sousa; Pedro Delgado; Carlos Pires
Ferreira; Ulisses Correia e Silva; Vera Almeida, Francisco Tavares, João Baptista e Sousa;
António Soares, Américo Nascimento, José Pinto de Almeida, Fernandinho Teixeira, Manuel
Ribeiro, Orlando Cruz e Pedro Lopes, pela disponibilidade e atenção reiterada;
V
ao Orlando Monteiro (do Instituto Nacional de Estatísticas), pela disponibilização dos dados
estatísticos;
Seria muito ingrato, se não tirasse umas linhas para manifestar o meu profundo
reconhecimento e agradecimento em termos institucionais ao Ministério do Ambiente,
Habitação e Ordenamento do Território, pelo apoio concedido.
VI
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS PEQUENOS ESTADOS INSULARES: O CASO DE CABO
VERDE
RESUMO
VII
A nível urbano importa erguer e materializar uma política integrada de solos e de
cidades, privilegiando a reabilitação e consolidação urbana. Na orla costeira, a estratégia deve
contemplar um plano de ordenamento da orla costeira e programas de requalificação de áreas
degradadas, e evitar a ocupação do domínio público marítimo. O turismo deve ser
equacionado à luz da integração ambiental e socioterritorial. Ao mesmo tempo é necessária a
salvaguarda efetiva das áreas protegidas e o ordenamento da atividade extrativa.
O sistema de gestão territorial tem de ser adaptado à realidade do país. E é
indispensável fortalecer as instituições com conhecimentos mais inovadores e ajustados aos
desafios emergentes bem como incrementar uma cultura cívica mais valorizadora do
território.
VIII
SPATIAL PLANNING IN SMALL ISLAND STATES: THE CASE OF CAPE VERDE
ABSTRACT
The study is focused on spatial planning in Cape Verde. The research aims to
demonstrate the relevance of the policy of spatial planning for a small island state, able to
manage the imbalance between its fragile ecosystem and the economic and demographic
pressures, ensuring its sustainable development. In methodological terms, beyond the critical
analysis of thematic bibliography and institutional documents, we develop an intense field
work that included the survey of the problems of spatial planning in all the islands and in all
urban areas of the country, conducting interviews to actors responsible for policies and
interventions in the territory and questionnaires.
Cape Verde has suffered since independence accentuated economic and social change,
with increasing pressure on their territory and resources. This process of transformation has
not been accompanied by a consistent planning, and territory reflects numerous pathologies,
particularly in urban areas and shorelines. In a fragmented country, of scarce resources and
many needs to fill, the spatial planning has not been stated as an essential component of
development, being a weak policy.
The process of rapid urbanization of the country, coupled with the lack of an effective
urban management, originated multiple dysfunctions (spread of informal areas, difficulty of
access to land, lack of housing and basic infrastructure, urban widespread disqualification),
jeopardizing the creation of cities inclusive and sustainable.
The coastal area, which concentrates most of the population, has had increasingly
negative interventions. The occupation has been uncontrolled and without strategic vision.
Tourist development has put pressure on natural resources and led to a disruption in the
ecosystems of high biophysical vulnerability and various dysfunctions. The extraction of sand
already caused irreversible damage to natural resources.
The territorial management system proves to be divergent in relation to the practice of
agents and territorial marks. Failure to follow the legal rules, coupled with articulation and
coordination failures, and deficient public involvement have contributed to the worsening of
the situation.
To overcome the problems of spatial planning is necessary to involve the private
sector and individuals. And it goes through a collaborative governance to mobilize resources
and encourage participation, while clarifying rights and duties. Only in this way it is possible
to create truly transformative projects.
In urban areas it is necessary to materialize an integrated land and cities policies,
favoring urban consolidation and urban requalification as well as housing programs for low-
income population. In coastal areas, the strategy must include a plan for coastlines and
programs for degraded areas, and avoid the use of maritime public domain. Tourism must be
IX
integrated with the environment, territory and society. At the same time it is necessary to
safeguard protected areas and plan the mining activity.
The territorial management system has to be adapted to the reality of the country. And
it is essential to strengthen the institutions with the most innovative knowledge and adjusted
to emerging challenges and increase civic culture increase civic culture about the importance
of spatial planning.
Keywords: Island States, Cape Verde, Spatial Planning, Urban Areas, Coastal zone, Public
Participation, Integration, Legality
X
ABREVIATURAS E SIGLAS
XI
ONU – Organização das Nações Unidas
ONU – HABITAT – Agência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos
PIMOT – Planos Intermunicipais de Ordenamento do território
PD – Plano Detalhado
PDM – Plano Diretor Municipal
PDU – Plano de Desenvolvimento Urbanístico
PEOT – Plano Especial de Ordenamento do Território
PENH – Plano Estratégico Nacional de Habitação
PIB – Produto Interno Bruto
PMA – Países menos avançados
PNB – Produto Nacional Bruto
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PSOT– Plano Sectorial de Ordenamento do Território
PUD – Plano Urbanístico Detalhado
QUIBB – Questionário Unificado de Indicadores Básicos de Bem-estar
RGCHU – Regulamentação Geral de Construção e Habitação Urbana
RNOTPU – Regulamento Nacional de Ordenamento do Território e Planeamento Urbanístico
SIDS - LDC – Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento - Países Menos
Desenvolvidos
SDTBM – Sociedade de Desenvolvimento Turístico de Boavista e Maio
UE – União Europeia
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento
UNFCCC – Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
ZDTI – Zona de Desenvolvimento Turístico Integral
ZEE – Zona Económica Exclusiva
ZRPT – Zona de Reserva e Proteção Turística
XII
ÍNDICE GERAL
Pág.
DEDICATÓRIA........................................................................................................... ………IV
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. V
RESUMO ................................................................................................................................ VII
ABSTRACT ............................................................................................................................. IX
ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................................. XI
1.INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
1.1 Justificativa e problemática............................................................................................... 1
1.2 Objectivos e Tese ................................................................................................................ 3
1.3 Estrutura do trabalho ........................................................................................................ 5
1.4 Metodologia......................................................................................................................... 7
I PARTE
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS PEQUENOS TERRITÓRIOS
INSULARES – SUPORTE PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
XIII
1.2.4.4 Mecanismos e meios de envolvimento público ............................................................ 38
1.2.5 Papel dos agentes públicos e dos privados no planeamento ........................................... 42
1.2.5.1 Contextualização .......................................................................................................... 42
1.2.5.2 Parcerias público-privadas: vantagens e desvantagens .............................................. 43
1.2.6 Suportes à prática do planeamento .................................................................................. 44
1.2.6.1 Institucionais ................................................................................................................ 44
1.2.6.2 Políticos........................................................................................................................ 45
1.2.6.3 Técnicos ...................................................................................................................... 46
1.2.6.4 Influência da cultura na prática do planeamento ........................................................ 47
1.3 Principais desafios que atendem ao ordenamento do território ............................. …51
1.3.1 Gestão da urbanização e promoção do desenvolvimento urbano ................................... 51
1.3.2 Gestão dos recursos naturais, proteção e valorização ambiental .................................... 57
1.4 Síntese do capítulo/aspectos a reter ................................................................................ 62
II PARTE
ESTUDO DE CASO: CABO VERDE
XIV
3.6 Infra-estruturas de transportes..................................................................................... 100
3.7 Sistema urbano e povoamento ...................................................................................... 103
3.8 Especificidades das ilhas habitadas .............................................................................. 111
3.8.1 Santo Antão ................................................................................................................... 112
3.8.2 S.Vicente ....................................................................................................................... 115
3.8.3 S.Nicolau ....................................................................................................................... 118
3.8.4 Sal .................................................................................................................................. 121
3.8.5 Boavista ......................................................................................................................... 124
3.8.6 Maio .............................................................................................................................. 127
3.8.7 Santiago ......................................................................................................................... 130
3.8.8 Fogo ............................................................................................................................... 133
3.8.9 Brava ............................................................................................................................. 136
3.9 Síntese do capítulo/aspectos a reter .............................................................................. 139
XV
CAPÍTULO 5 – ÁREAS URBANAS .................................................................................... 179
XVI
CAPÍTULO 8 – PERSPETIVAS DE ATORES .................................................................... 304
XVII
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.INTRODUÇÃO
Nessa perspetiva, as estratégias têm que ser baseadas numa visão mais alargada, sendo
mais amigas do ambiente, prudentes na gestão adequada dos recursos naturais, no respeito
pela capacidade de carga dos ecossistemas, no fortalecimento da resiliência natural e social,
mitigando as desigualdades sociais, ao mesmo tempo que contribuem para reforçar a
cidadania e as capacidades institucionais e de governança a todos os níveis de decisão.
Num quadro influenciado por interesses económicos cada vez mais ávidos por novas
fontes de lucros e de poder, encravados numa sociedade progressivamente imediatista e
consumista, de fraquezas institucionais, de défice de articulação estratégica comprometida e
fracasso das políticas territoriais e sociais, emergem situações de desequilíbrios e disfunções
no funcionamento dos sistemas territoriais. E a tendência é para os problemas territoriais se
tornarem cada vez mais complexos, num contexto de dinâmicas e pressões muitas vezes
contraditórias e num quadro de falta ou escassez de recursos e inadequação das ações dos
governos.
1
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
em todo o mundo, um dos grandes desafios do século XXI, particularmente nos pequenos
estados insulares.
Esses estados, onde se enquadra Cabo Verde, em virtude das suas caraterísticas, são
muito vulneráveis e com pouca resiliência, sendo permeáveis às perturbações e mais
suscetíveis às repercussões das alterações ambientais, com todas as suas implicações nos
ecossistemas por si ecologicamente sensíveis e na qualidade de vida das pessoas.
Com recursos limitados, muitos dos estados insulares têm elegido o turismo como um
dos principais vetores de desenvolvimento económico, para contrariar os custos da
insularidade e da fragmentação territorial e para resolver os seus problemas estruturais de
desemprego e pobreza. Contudo, trata-se de um turismo exigente em termos de recursos e que
procura aproveitar as potencialidades das zonas costeiras, gerando problemas diversificados e
complexos.
O dilema é, pois, de como fazer crescer a economia desses países sem agravar ainda
mais os seus problemas ambientais e territoriais. Cabo Verde encontra-se nesta encruzilhada:
um país em fase de descolagem do seu desenvolvimento que, não apresentando uma ocupação
territorial muito intensa, em comparação com algumas realidades, tem muitas marcas e
práticas inadequadas que perigam o alcance do seu desenvolvimento sustentável.
faz sentido persistir num modelo de gestão territorial complexo e oneroso, para o
qual parece não haver os meios necessários à sua operacionalização?
Dada a extensão da temática, a tese está focalizada em três domínios que se têm como
essenciais para ancorar a política de ordenamento do território em Cabo Verde, a saber:
Orla costeira - A zona costeira nacional possui uma extensão de cerca de 1000
km, com 80% dos aglomerados populacionais concentrada nessa faixa, sendo um
ecossistema de elevada vulnerabilidade biofísica. Porém, tem sofrido uma intervenção
antrópica intensa e cada vez mais desqualificadora. A ocupação urbana e turística (setor
assumido pelo poder público como eixo central do desenvolvimento do país), a par da
extração de inertes, geram múltiplas disfunções que afetam a qualidade de vida e a
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Para além da introdução e conclusão, a tese está estruturada em duas partes e sete
capítulos.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cabo Verde: Enquadramento Geral - este capítulo tem por finalidade fazer uma
caraterização do país e de cada ilha do ponto de vista físico, demográfico, social e económico,
ao nível das infraestruturas, do sistema urbano e do povoamento. Analisa-se, ainda, as
especificidades das ilhas, incluindo os seus pontos fracos/debilidades, pontos
fortes/potencialidades, oportunidades e ameaças.
Orla Costeira - este capítulo é dedicado à orla costeira – interface entre a terra e o
oceano – identificando e explicando os principais problemas, com destaque para a ocupação
por aglomerados populacionais, ocupação turística e a extração de inertes, os impactes
territoriais associados e as intervenções públicas que lhe são direcionadas.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.4 Metodologia
Identificação e caraterização
dos problemas
Areas Urbanas
Fatores explicativos
Orla Costeira
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A terceira fase foi dedicada ao trabalho de campo. Este traduziu-se na visita a todas as
ilhas do país, para um contacto direto com as diferentes realidades locais. A auscultação dos
principais atores institucionais fez parte desta etapa. Utilizou-se a entrevista estruturada, que
obedece a um plano constituído por uma série de questões previamente escolhidas e
integradas num guião (ver apêndice). Entrevistamos responsáveis das entidades públicas,
ministros, autarcas de pequenos e grandes municípios: Ministra do Ambiente, Habitação e
Ordenamento do Território; Ministro das Infraestruturas Transportes e Telecomunicações;
Diretor Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano; Diretor Geral do
Turismo; Presidente da Associação Nacional dos Municípios e Presidentes das Câmaras
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Municipais de Praia; Santa Cruz, Ribeira Brava, Tarrafal de S.Nicolau; Boavista; São
Salvador do Mundo; Mosteiros; Maio e Paúl. Um técnico da Associação ambientalista Natura
2000 foi igualmente entrevistado.
Da mesma forma foi aplicado um questionário à população (ver apêndice) para avaliar
a participação dos cidadãos nos processos de planeamento do território, complementando
assim outras fontes utilizadas para suster a fundamentação nesta matéria no contexto nacional.
Perante a impossibilidade de uma aplicação direta em todo o país, recorreu-se ao estudo local
de Mindelo na ilha de S.Vicente para avaliar a participação pública no processo de
planeamento, no intuito de se proceder a uma generalização analítica das conclusões para
Cabo Verde. Assim, foi aplicado um questionário a 500 indivíduos de Mindelo, entre
Novembro e Dezembro de 2011, por meio de amostragem aleatória.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Canárias durante muito tempo sofreu uma forte pressão turística, com alguns desaires
ambientais associados. Com um volume de turistas muito superior ao de Cabo Verde,
Canárias, há cerca de 11 anos, decidiu não criar mais camas, optando por ir diminuindo a
capacidade de carga existente, e melhorando a qualidade das infraestruturas, à medida que vão
sendo remodelados. Em termos de intensidade de ocupação turística, Cabo Verde é visto
como Canárias 30 anos antes e as recomendações são para evitar os erros aí cometidos.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fontes:
Obras e artigos científicos,
comunicações, relatórios de
Pesquisa organismos internacionais,
Bibliográfica/documental documentos de diversas
instituições
Obtenção de
dados
Observação direta
Entrevistas a atores institucionais Instrumentos:
Inquérito a população Guião de Entrevistas
Participação em comité de seguimento de Questionário
planos, apresentações públicas de Observação visual e
instrumentos de gestão territorial, participante
workshops, seminários, debates e formações Fotografias
Tratamento de dados
Análise de conteúdos, analítico e
sintético de obras científicas, de
documentos oficiais e de relatório de
entrevistas
Ferramentas
Word, Excell, Arcgis,
Gvsig, Google earth
Tratamento Representação variáveis
dos dados Gráficos, mapas, figuras,
Quadros
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
I PARTE
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS PEQUENOS ESTADOS INSULARES - UM
SUPORTE PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
território circundante, justifica sua influência sobre a planificação territorial em países como
França, Itália e Espanha.
Mas, a redução das desigualdades conduziu a um dilema complexo, uma vez que
segundo LOPES, A.S. (2001), a maximização do crescimento tende a acentuar o
desequilíbrio, do mesmo modo que reduzir os desequilíbrios significa sempre sacrificar ritmos
de crescimento. De facto, as preocupações de crescimento económico não implicam a
organização da sociedade em termos territoriais.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
territorial que ultrapassa os limites da urbe, ou seja da cidade e dos espaços adjacentes”
(PARTIDÁRIO, 1999:26). Portanto, surgiu uma nova abordagem, independente do
Urbanismo, dedicada a estabelecer metodologias para a ocupação racional do território numa
perspetiva mais ampla, e que presta grande atenção à expansão dos núcleos urbanos, à
localização das infraestruturas e seu impacto sobre os aspetos ambientais.
De acordo com MENDES (1997), a sua especificidade face às teorias anteriores radica
no facto de o desenvolvimento ser interpretado como resultado da influência conjunta tanto de
fatores económicos como extraeconómicos (institucionais, culturais e sistemas de valores,
relações sociais, heranças históricas...), que, além do mais, apresentam um carácter localizado.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Para GÓMEZ OREA (2007b), qualquer modelo que adote como referência planear o
desenvolvimento territorial sustentável deve considerar os seguintes critérios (agrupados em
torno de três elementos: as atividades humanas, sua localização e regulação):
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
No que diz respeito ao conceito, é difícil dar uma definição precisa de ordenamento do
território. Para LANVERSIN (1979), o ordenamento do território constitui uma noção pouco
clara, questionando mesmo se toda a instalação, modificação ou transformação constitui
ordenamento do território. Segundo PUJADAS e FONT (1998), o ordenamento do território
devido à sua juventude como ciência não tem ainda conceitos sedimentados e consensuais, em
virtude das diversas interpretações que tem vindo a receber. Mesmo porque “não existem
grandes reflexões sobre o que abrange, exatamente este conceito” (ALVES, 2007:48). O
conceito pode ainda assumir significados diferentes de país para país (MORPHET, 2011).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
público, em que a intervenção do Estado e dos poderes públicos, sobre o território, deve
prosseguir sempre finalidades de interesse coletivo e não interesses particulares;
sustentabilidade, que preconiza a conservação, salvaguarda, proteção e valorização dos
valores e recursos do território (ambiental, cultural, natural) assegurando a satisfação das
necessidades presentes sem comprometer os recursos das futuras gerações; subsidiariedade,
como processo descentralizado, e que impõe a coordenação dos procedimentos dos diversos
níveis da Administração Pública de forma a privilegiar o nível decisório mais próximo do
cidadão; equidade, no sentido de garantir o acesso aos recursos territoriais, as oportunidades
de todo o território tendo como propósito corrigir desequilíbrios existentes nos níveis de
desenvolvimento.
evita que os usos humanos interfiram nos processos ecológicos, definindo áreas
mais adequadas para a ocupação humana e suas atividades;
preserva os bens que integram o património histórico e cultural, ajudando na sua
valorização;
permite definir os melhores traçados e com menores impactos ambientais e em
termos gerais permite reconhecer o conflito entre usos e tomar medidas para
proteger os valores ambientais, reconsiderar traçados ao adotar outros com menor
impacto;
propicia a localização de assentamentos humanos, atendendo aos riscos naturais e
a conexão aos serviços gerais;
proporciona que as atividades se concentrem nas localizações mais adequadas,
evitando sua dispersão e a duplicação de gastos desnecessários, valorizando assim
o solo como um bem escasso;
possibilita acompanhar a geração de solo urbanizável às necessidades de
crescimento, diminuindo ou desestimulando a especulação imobiliária e os preços
do solo;
contribui para a competitividade, atraindo investimentos, ao proporcionar aos
promotores solo apto e em segurança para instalar as atividades produtivas, ou
para levar a cabo processos de urbanização;
propicia a organização dos assentamentos rurais, evitando a dispersão e ocupação
de solos úteis, nomeadamente para a segurança alimentar;
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.2.1 Conceito
Planear é um ato intrínseco à natureza humana, sendo por isso, uma prática antiga. De
acordo com PARTIDÁRIO (1999) a natureza racional e organizativa do Homem, constituem
importantes fatores impulsionadores da necessidade deste para, quer individual quer
coletivamente, planear a sua atividade quotidiana, criando uma sequência temporal, espacial
ou social. Para HEALEY (2006), a complexidade de processos políticos, económicos,
combinados com desigualdades sociais, exclusões sistemáticas, degradação ambiental, o
colapso nos processos de mercado, conduziram a crescente necessidade de gestão da relação
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
socioespacial e dentro dos estados e cidades. Ou seja, passou-se a planear de um modo mais
formal.
Nesta linha, REIGADO (2000:48) diz que o planeamento é “um processo de análise
(do passado e do presente) de antecipação ao futuro, de programação, de ação/execução, de
controlo, de correção e de avaliação dos resultados”.
GLASSON (1983) numa definição de planeamento, diz que é uma sequência geral de
ações desenhadas para resolver problemas no futuro. Não obstante a atenção que se deve dar a
resolução de problemas atuais, planea-se sobretudo para o futuro, no sentido de evitar
problemas.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
“Os planos, mais do que regras, devem apresentar soluções para os problemas que se
equacionam no seu domínio de intervenção, devendo a sua componente regulamentar
orientar-se para o estímulo e apoio ao desenvolvimento, contribuindo para as realizações
necessárias ao bem-estar das populações” (PARDAL, S. e COSTA LOBO, M., 2000:4).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
objetivo era produzir um plano enquanto imagem ótima do território para um determinado
horizonte temporal num contexto territorial previsível e implementar o plano.
Surge assim, como mais adequado para se adaptar a complexidade e a tendência para a
fragmentação, um planeamento colaborativo, em rede, de esforço coletivo (HEALEY, 2006),
que facilite a interação entre setores, colaboração da comunidade para a construção de
consensos, tornando desta forma o processo mais eficiente e democrático, capaz de contrariar
a descoordenação nas ações territoriais, e gerar economia de tempo, energias, racionalização
de recursos e defesa do interesse público, entendido como bem comum, a que GRANT
(2005), entende ser maior que a soma total de todos os interesses individuais na sociedade.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
que agilize os processos de atuação para não ser ultrapassada pela agilidade das
dinâmicas sociais e económicas;
que mobilize os atores na conceção, construção, avaliação e utilização de um
projeto territorial; que ajude a criar uma cultura de território, ensinando a olhar para
este como um recurso vital, que é preciso preservar e potenciar em favor da
comunidade;
que trabalhe no fortalecimento das estruturas de articulação (verticais e horizontais)
e de concertação e na transparência dos processos negociais (para serem
credibilizados);
que estimule a criação de Comunidades inteligentes, isto é, capazes de ter uma
influência efetiva e persistente na configuração dos seus espaços de vida: e
contribuam para a construção de um projeto territorial;
que combata as atitudes individualistas (do cidadão, do município, do departamento
da administração central…) e ajude a construir uma consciência de território
enquanto bem coletivo, fundamental na mudança de comportamentos e na
influência da tomada de decisões.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Abertura - as instituições deverão trabalhar de uma forma mais transparente com uma
estratégia de comunicação ativa e utilizando uma linguagem acessível ao grande público e
facilmente compreensível.
Há um conjunto de fatores que podem ter uma influência negativa ou positiva nesses
processos colaborativos. STEAD e MEIJERS (2009) categorizam os vários tipos de fatores
facilitadores e inibidores de integração em termos gerais (quadros 2 e 3).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Trata-se de uma fase, “onde se revelam interesses e contradições, muitas vezes até aí
menorizadas ou insuspeitos e onde soluções tidas como adequadas ficam comprometidas, por
vezes inviabilizadas, por falta de diálogo e concertação” (PEREIRA, 2003:191). Esta
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
constatação configura a gestão do território como uma fase de gestão de conflitos. De facto, a
execução do plano pode ficar comprometida pelas vulnerabilidades e influências do sistema
em que se insere, o que evidencia que o processo de planeamento tem limitações, entre os
quais, a inadequação dos governos, a insuficiência de recursos e a impreparação institucional.
Porém, a maior parte dos sistemas de planeamento urbano não têm monitorização e a
avaliação como parte integrante das suas operações (UN-HABITAT 2009:VII). Esta ausência
pode comprometer o desempenho do plano e penalizar o território, na medida em que não
permite ter uma visão atualizada sobre o sistema territorial e atuar de forma atempada e
adequada. O planeamento é uma atividade contínua no tempo, cíclica, um processo que nunca
tem fim. “Não são admissíveis intervalos, interrupções. Não faz sentido” (COSTA LOBO,
1999:21).
De acordo com BATISPTA E SILVA (2003), avaliação pode ser ex ante (quando se
ponderam as alternativas, antecipam-se as medidas e soluções para fazer face aos problemas
atuais e futuros tendo em conta os objetivos e princípios traçados), in continum/monitorização
(ao longo da fase de execução do plano) e ex-post (no final do horizonte temporal do plano).
Quanto à forma, os planos territoriais podem ser avaliados de 2 formas: avaliação do plano
em si e avaliação do funcionamento do plano (LOURENÇO, 2003).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
muito tempo para estudar e intervir no território. Por outro lado, num quadro de escassez de
recursos é essencial a sua racionalização e afetação adequada.
Global e Integrado
Todos os aspetos devem ser observados, os objetivos, opções, perspetivas, conhecimentos e
impactes significantes devem ser considerados.
Lógico
Cada etapa conduz à próxima, muito embora essa ordenação lógica seja flexível.
Flexível
A incerteza quanto ao futuro é grande e é uma condicionante a atender, pelo que a prudência
recomenda a elaboração de planos que não sejam rígidos para que no futuro possamos vir a
absorver soluções e oportunidades não prevista. Todavia, flexível não significa permissível.
Compreensível e transparente
Definição clara dos objetivos. Os resultados devem ser entendidos pelas pessoas afetadas.
Todos os envolvidos entendem como o processo opera pelo que a transmissão de informação
deve ser fluida e fidedigna entre todos os atores.
Resiliente
O sistema de planeamento deve ter mecanismos capazes de absorver perturbações e efeitos
indesejáveis, mantendo a sua organização e capacidade de resposta. Do mesmo modo que, o
futuro deve ser planeado numa lógica de adaptação e valorização dos territórios.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.2.4.1 Conceito
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Para BEIERLE e CAYFORD (2002), a participação pública como contínuo pode ser
sistematizada quatro categorias: informar o público, ouvir o público, engajar na resolução de
problemas (definir o problema, as alternativas para a sua solução e os critérios de avaliação) e
desenvolver acordos. A informação pública por si só não corresponde a participação pública.
São vários meios de envolvimento público, sendo que alguns são mais informativos
outros mais deliberativos, alguns sistematizados no quadro 4. Os métodos participatórios
apenas devem ser escolhidos quando os objetivos do processo estiverem claramente
articulados, o nível de engajamento apropriado aos objetivos identificados e os Stakeholders a
incluir no processo selecionados. Da mesma forma que deve ser adaptado ao contexto de
tomada de decisão, incluindo socioculturais (ALLEN, W.; KILVINGTON, M., HORN, C.
2002; REED, 2008). Por exemplo, métodos que requerem leitura e escrita devem ser evitados
em participantes iliterados (REED, 2008).
39
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Meios Descrição
Fóruns de grupos de Partes interessadas podem participar em reuniões ou diálogos para obter imputs sobre
interesse os pontos de vista de pessoas que expressam um interesse na questão em análise. As
reuniões podem ter vários formatos (por exemplo, audiências públicas).
Criação de uma página Web para informar o público, podendo ter funções
Internet colaborativas.
Brochuras Panfleto ou folheto de informação ao público. Deve ter mensagens claras, linguagem
simples e ter qualidade.
Grupos de cidadãos com variados fundos se reúnem para discutir problemas numa
base científica e técnica. Consiste em 2 etapas:
Conferência de Consenso 1) reuniões com especialistas, discussões, trabalhando no sentido do consenso
(envolve um pequeno grupo de pessoas);
2) conferência durante o qual as principais observações e conclusões são
apresentadas para os meios de comunicação e públicos em geral.
Grupos Focais Discussão de um determinado tópico, envolvendo 6-12 indivíduos selecionados com
objetivo de cumprir critérios específicos, a fim de amplamente representarem um
segmento especial da sociedade. Único encontro cara-a-cara estruturado para ser
informal e para estimular a discussão aberta entre os participantes. A discussão é
facilitada por um moderador.
Fonte: ABELSON e outros (2003), BEIERLE e CAYFORD (2002), CREIGHTON (2005), MORPHET (2011)
40
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.2.5.1 Contextualização
Algumas das vantagens das parcerias público-privadas podem ser resumidas nos
seguintes aspetos: poupança de custos devido ao papel do setor privado que dá um impulso
fundamental para o ganho económico; economias de escala por motivar o setor privado para
organizar as suas atividades de forma que impulsiona a eficiência e maximizar retornos sobre
investimentos; saídas e resultados baseados em contratos que ligam pagamentos a
performance; partilha de riscos entre o setor público e os privados; entregas On Time, pois o
setor privado tem interesse financeiro que projetos e serviços sejam entregues dentro do
prazo, se não antes; melhoria da Gestão Pública, devido à transferência de riscos e
responsabilidades o setor público fica liberto para se concentrar em outras questões políticas
importantes tais como o planeamento de serviços urbanos e monitorização de desempenhos;
melhoria dos níveis de serviço, por reunir os pontos fortes dos setores público e privado,
compartilhando uma gama diversificada de recursos, tecnologias, ideias e habilidades de
forma cooperativa, contribuindo para melhorar ativos de infraestrutura urbana e serviços que
são entregues ao povo (UN-Habitat, 2011d).
Como desvantagens apontam-se custos adicionais que, se não for gerida de forma
adequada, podem corroer algumas das potencialidades económicas e benefícios deste modelo;
perda de controlo público sobre as decisões importantes relativas a uma gama de questões
públicas, incluindo de serviços públicos básicos, o que periga a satisfação do interesse público
e a justiça social; perda de responsabilidade, se os contratos não forem claramente definidos,
sendo que o risco se torna maior e mais variado quanto maior é a complexidade dos projetos.
(UN-Habitat, 2011d).
43
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
As condições essenciais para o sucesso das parcerias público – privadas passam pela
existência de uma comunicação eficaz, normas contratuais claras, uma estrutura
administrativa eficaz e eficiente, procedimentos administrativos menos burocráticos a todos
os níveis decisórios da administração para acompanhar de forma eficiente a execução dos
projetos e dar resposta atempada às solicitações dos privados. Passa por estabelecer critérios
de avaliação e desempenho. A parceria deve estabelecer um ciclo regular de revisão do seu
desempenho.
A associação com os privados deve ser balizada pela procura de uma solução que seja
socialmente adequada. É necessário harmonizar os interesses públicos e privados sem perder
de vista o carácter social e a perspetiva global de planeamento. Por exemplo, não podemos
separar a negociação imobiliária do planeamento urbanístico. Tem de haver uma convivência
saudável sem o segundo perder a sua identidade (CARVALHO, 2005). Não se pode ignorar a
importância dos privados, mas estes têm de assumir a sua quota-parte de responsabilidade no
processo de planeamento e ordenamento do território.
1.2.6.1 Institucionais
44
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1.2.6.2 Políticos
45
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Os poderes públicos estão sujeitos a uma grande pressão por parte dos promotores
privados. As pressões a que hoje a governação está sujeita, é caso para dizer, parafraseando
LICHFIELD e DARIN-DRABKIN (1980:57), que “o modelo do político individual agir de
acordo com a sua consciência deve ser quase raro na governação contemporânea”. O poder
político no planeamento e ordenamento do território está sujeito à uma grande pressão e é
uma área permeável a abusos de poder. Mas a governação deve ter como princípio
fundamental a responsabilidade e a ética, no sentido da defesa do interesse público. Até
porque, “o decisor político, num regime democrático estável e com relativa transparência
funcional, está crescentemente em cheque” (MOURATO, 2009:154).
1.2.6.3 Técnicos
46
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Devem estar preparados para lidarem com diferentes contextos e interesses. E neste
contexto deve procurar alianças, percebendo os interesses dos outros atores para poder
mediar, negociar gerir da melhor forma os conflitos. O planeador deve ser um diplomata, estar
ciente do seu poder, mas também das suas próprias limitações (FORESTER, 1989).
Ao mesmo tempo que, segundo UMEMOTO (2011), deve respeitar emoções das
pessoas, simpatizar com a sua raiva, frustração, medo ou confusão. Daí o papel importante
que se atribui também ao planeador na ampliação de oportunidades de participação cívica em
práticas de ordenamento do território (TORFING e SORENSEN, 2008).
Os planeadores, como indivíduos, são influenciados por toda uma série de códigos e
experiências, com repercussões na actividade profissional do planeamento. Essa influência
pode ser, em alguns casos, "explícita" e noutros, "implícita". O pensamento implícito decorre
de crenças e valores derivados de vida e educação. O pensamento explícito decorre de reação
às influências (TEWDWR-JONES, 2002). Não obstante essa influência, deve haver o
primado geral da obrigação de profissionalismo (CAMPBELL e MARSHALL, 2002).
47
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
De cordo com PIRES (2004) de um modo geral, a cultura refere-se aos componentes
simbólicos e apreendidos do comportamento humano, tais como, a língua, a religião, os
hábitos de vida, e as convenções. Sendo o oposto do instinto, é muitas vezes considerada
como aquilo que distingue o homem do animal. No âmbito desta perspetiva, cultura, que
apenas o Homem possui, corresponde ao desenvolvimento intelectual e a um refinamento de
atitudes.
48
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cultura
Administrativo- Visão burocrático Visão empresarial Visão colaborativa
organizacional
Sectorialização, Pragmatismo, eficácia Decisões colaborativas,
Processos de planeamento e administrativa. cooperação e coordenação
decisão programação racionais, Satisfação de interorganizacional.
Orientação processos hierárquicos, cidadãos e empresas Capacitação institucional,
Prestação de contas rotinas burocráticas. como «clientes» empowerment de cidadãos e
Racionalidade Prestação de contas comunidades.
instrumental, soluções por parte da Monitorização e avaliação
estandardizadas. Administração. como fonte de mobilização,
Cumprimento de regras aprendizagem e inovação
formais, mas social.
vulnerabilidade à
informalização.
50
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
“Os maiores desafios urbanos do séc. XXI incluem o rápido crescimento de muitas
cidades e o declínio de outras” Ban KI-Moon - Secretário-geral das Nações Unidades (UN-
HABITAT, 2009:V). Embora mundialmente diferenciada, assiste-se a uma intensificação da
urbanização com concentração crescente de populações e de atividades em meio urbano e nas
cidades. Hoje, mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
crescimento da população urbana no século XXI será em grande parte composto por
população em situação de pobreza.
52
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
As áreas urbanas são vulneráveis aos efeitos previsíveis das alterações climáticas (hoje
reconhecido cientificamente), impulsionada por fatores associados às atividades antrópicas
(poluição), ao elevado grau de artificialização do território citadino. Tendo implicações a nível
do acréscimo de riscos naturais, as consequências podem ser devastadores em virtude da
elevada concentração de pessoas, edifícios, infraestruturas e atividades. Ou seja, as cidades
são grandes responsáveis pelas alterações climáticas mas também são particularmente
vulneráveis aos seus efeitos. Para responder aos seus impactos, as áreas urbanas devem
desencadear ações de mitigação e adaptação e adotar o planeamento como ferramenta
indispensável. A intensidade do risco ambiental em áreas urbanas pode ser influenciada pelas
más práticas de ocupação do solo. A prática de incluir questões de alterações climáticas e
riscos naturais nas agendas municipais e nas nossas práticas de urbanismo e de ordenamento
do território deve ser uma realidade na medida em que os seus efeitos afetam os recursos,
localização de assentamentos humanos e investimentos, e consequentemente a
competitividade e qualidade de vida das áreas urbanas.
Energia
Segurança alimentar
O preço dos alimentos aumentou em todo o mundo, o que tem várias consequências,
especialmente para os pobres, que são os mais afetados. O planeamento urbano deve ter em
conta as atividades de agricultura urbana em espaço aberto urbano, incluindo em terreno vazio
aguardando urbanização.
53
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Desigualdade de rendimento
Diversidade Cultural
O número crescente de migrantes em todo o mundo fez com que as cidades ao redor
do mundo se tornassem cada vez mais multicultural. Esta nova realidade apresenta acrescidos
desafios aos planeadores que deverão mediar entre estilos de vida e contraditórias expressões
culturais.
Crescimento Urbano
A maior parte do novo crescimento acontece nas áreas periurbanas, originando áreas
urbanas extensivas e fragmentadas, sendo que, em muitos o novo assentamento é informal. A
gestão dessas áreas é complexa e onerosa do ponto de vista de infraestruturação, exigindo
abordagens mais inovadoras de intervenção, a exemplo de parceria com as comunidades
locais. De acordo com UN-HABITAT (2009), o desenvolvimento de redes de serviços e
tecnologias alternativas (Solar ou energia eólica) pode ser o caminho mais adequado para
atender a essas áreas, questionando também se o planeamento de áreas periurbanas áreas
54
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
exige uma ação de planeamento local ou regional, e que nível de governo está em melhor
posição para lidar com essas áreas. A combinação de abordagens de planeamento regional e
local podem bem ser necessárias. Associado a esta questão evidencia-se o aumento do preço
de mercado imobiliário impulsionado por investimento estrangeiro com consequências
negativas no desenvolvimento urbano.
Informalidade Urbana
Desigualdade e pobreza
O acesso aos bens, recursos e serviços urbanos é desigual devido em grande parte à
falhas de políticas sociais e de planeamento. E os pobres são os pobres urbanos que mais
sofrem com uma cidade disfuncional. “A experiência confirma que as intervenções casuísticas
tendem a beneficiar os territórios mais ricos (ou mais favorecidos) e os atores com maiores
55
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Uma vez que as áreas urbanas tendem a tornar-se cada vez mais complexa, a
urbanização sustentável é um dos desafios mais prementes da comunidade global no século
21. Segundo AMADO (2010), o modelo da sustentabilidade urbana nas cidades encerre em si
os princípios de Sustentabilidade – Economia, Ambiente e Social, aos quais se acrescentará a
componente da governança, por ser hoje imprescindível a participação da população e a
partilha da tomada de decisão, como fator indispensável ao sucesso do funcionamento das
futuras cidades sustentáveis (figura 5).
56
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Economia
• Atividades sustentadas
• Produção de riqueza
• Gestão de recursos
• Redistribuição justa
Ambiente
• Responsabilidade Intergeracional;
• Protecção dos Recursos;
• Valorização do Património Natural;
• Ordenamento do Território;
• Eco-eficiência
Social
• Equidade Social
• Coesão Social
• Satisfação das necessidades
coletivas e individuais
• Integração das minorias
Governança
• Processo de decisão partilhado e
transparente
• Assegurar a participação de todos
A questão ambiental é hoje crucial, na medida em que a pressão exercida pelo homem
no meio ambiente tem aumentado de forma crescente e continuada. E com isso, a degradação
ecológica e delapidação de recursos.
57
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Direta ou indiretamente, todas as atividades afetam e interagem com seu ambiente (ou
seja, sistemas ecológicos, econômicos e sociais). Tais interações segundo podem ser
classificados como sendo compatíveis, incompatíveis no tempo, incompatíveis no tempo e no
espaço, disfuncionais, complementares, sinérgicas (GÓMEZ OREA, 2007a; FAO, 2008):
• compatíveis: as atividades podem coexistir no mesmo espaço e ao mesmo tempo
• incompatíveis no tempo: as atividades podem praticar-se no mesmo espaço, mas
não ao mesmo tempo
• incompatíveis no tempo e no espaço: as atividades não podem coexistir no mesmo
espaço e ao mesmo tempo
• disfuncionais: o exercício de uma atividade diminui a qualidade dos fatores que
determinam a outra
• complementares: a complementaridade entre duas atividades existe quando elas
partilham o(s) mesmo(s) recurso(s) ou instalações sem conflito e quando uma
atividade fornece inputs à outra
• sinérgicas: duas ou mais atividade são sinergéticas quando a sua interação resulta
num acréscimo da atividade económica (ou do bem estar) com benefícios
ambientais superiores à soma dos seus resultados individuais.
58
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
(quadro 7). A ocupação do litoral pelo homem tem aumentado muito nas últimas décadas e
consequentemente a pressão antrópica sobre essa zona. Infelizmente, este crescimento nem
sempre foi, ou é, acompanhado de uma política clara de planos de gestão, de ordenamento e
desenvolvimento sustentado do litoral enquanto recurso natural (BORGES, LAMEIRAS, e
CALADO, 2009). Esta pressão tem diminuído a resiliência desse ecossistema, por si
ecologicamente sensível.
“A maioria das maiores cidades do mundo está situada na costa marítima, ou nas
proximidades da costa marítima, aumentando a probabilidade de a elevação do nível das
águas tornar-se numa realidade prejudicial à medida que o século avança” (FNUAP,
2009:58).
59
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A necessidade de, por um lado, fazer crescer o território do ponto de vista económico,
satisfazendo as necessidades básicas da população e, por outro, a premência de ordenar e
proteger o ambiente, constitui um dos principais dilemas do ordenamento do território. Mas, o
argumento do crescimento tem sido muito mais forte que o discurso da sustentabilidade,
sobretudo nos países em vias de desenvolvimento onde ainda há muitas carências por suprir.
A maior parte das ações preconizadas pelo ordenamento do território não se destinam
a ser eficazes a curto prazo, mas sim a preparar o futuro (REIGADO, 2000). Há autores que
apontam que dificilmente podem ser ajuizadas para um período inferior a 20 anos (BRITO,
1997). Na verdade, a consciencialização para ordenar o território/proteger o ambiente exige
tempo e só pode concretizar-se a longo prazo.
60
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
próprias. Com efeito, abraçar toda a criação em toda a sua diversidade, beleza e maravilha”
(FNUAP, 2009:77).
61
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
62
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
63
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
económica (riscos que decorrem dos choques externos nos sistemas produtivos locais,
na distribuição e no consumo);
ambiental (riscos associados aos ecossistemas naturais - marinhos e terrestres);
social (riscos que afetam a sociedade e os grupos);
Socioeconómica (influências negativas na coesão social).
64
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Em relação à resiliência de um sistema, este pode ser definido como a sua capacidade
social ou ecológica de absorver perturbações, continuando a manter as mesmas estruturas
básicas ou modos de funcionar, a capacidade de se auto-organizar e de se adaptar ao stress e
às modificações impostas do exterior (MIMURA, N., L. e outros, 2007).
66
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Por outro lado, “O espaço urbanizado é tão mais importante quanto mais reduzidas são
as dimensões do território nacional” (GOITIA, 1982: 88) e, atendendo a que o afluxo de
populações às cidades acontece sobretudo em países com maiores dificuldade económicas, os
problemas ampliam-se. Com o passar dos anos, as ilhas vão sedimentando a hierarquia dos
sítios principais e as áreas mais densificadas da ocupação humana.
As caraterísticas dos estados insulares têm grandes implicações nas suas estruturas
económicas: o reduzido tamanho do mercado doméstico devido à pequena dimensão
demográfica não possibilita colher os benefícios de economia de escala (BRIGUGLIO, 2003).
A pequena dimensão obriga muitas vezes que os investimentos públicos e privados operem
abaixo do seu nível de eficiência mínima, tendo como consequência altos custos de produção;
custos elevados de transportes no comércio internacional; isolamento geográfico e a
dependência de importações e exportações levam a que as pequenas ilhas sejam influenciadas
pelas tendências de comércio internacional, dado o seu pequeno volume de trocas
relativamente aos mercados externos (BASS e DALAL-CLAYTON, 1995; ESTEVÃO,
2001).
67
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A dependência alimentar e energética tende a ser muito acentuada. Por exemplo, Malta
produz apenas 20% das reservas alimentares e Cabo Verde 10 a 15%. Ambos têm recursos
limitados de água potável e não têm nenhuma fonte de energia doméstica. Barbados importam
quase a totalidade dos alimentos, combustíveis e materiais de construção. São Tomé importa
82.7% dos produtos (UNCTAD, 2005).
Fonte: UN (2010)
68
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Verde, o setor terciário é aquele com maior contribuição no Produto Interno Bruto, e a
agricultura é uma atividade com pouco peso. Contudo, este setor não pode ser ignorado
devido à sua importância em termos de segurança alimentar. A pesca apresenta enorme
potencial, mas ainda é pouco explorada, não obstante alguns estados terem uma relação mais
forte com os oceanos e fazerem uso dela como estratégia de inserção no mercado global
(Singapura). As ilhas Marshall e Tuvalu dependem dos seus recursos marinhos. Hong Kong,
Singapura, Kiribati, ilhas Marshall, Malta e Barbados têm algumas das mais altas densidades
do mundo, mas uma base económica frágil e sistemas produtivos vulneráveis, tornando-os
economicamente dependentes dos mercados e investimentos estrangeiros.
69
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: UN (2010)
Figura 7 – Índice de vulnerabilidade ambiental para 33 estados insulares em desenvolvimento
comparado com a média dos Pequenos Estados insulares em desenvolvimento - países menos
desenvolvidos
Cerca de 90% dos pequenos estados insulares em desenvolvimento estão situados nos
trópicos, o que favorece a ocorrência desses fenómenos, com todas as suas implicações na
maior parte da atividade económica dessas ilhas (nomeadamente na agricultura – produção de
alimentos, turismo-impactos na zona costeira e marinha, etc.).
Fonte: UN (2010)
Figura 8 – Desastres em Pequenos Estados insulares em desenvolvimento por tipo de
desastre, 1990-2009
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: UN (2010)
Figura 9 – Número de Pequenos Estados insulares em desenvolvimento afetados por
desastres naturais
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A gestão dos pequenos estados insulares passa por responder a questões do tipo: Como
combater o isolamento? Como resolver os problemas dos transportes/comunicações? Como
financiar infraestruturas autónomas em cada ilha? Como contrariar os desequilíbrios
demográficos e económicos? Como superar as dificuldades de controlar o crescimento
urbano? Como proteger o ambiente? As questões colocadas identificam problemas que só
uma gestão adequada pode ajudar a responder e minimizar. Aliás como refere Hussain (2008),
a boa governança é uma pré-condição vital para reduzir a vulnerabilidade dos pequenos
estados insulares.
A conferência dos Estados insulares nas ilhas Maurícias (Janeiro de 2005), sob o lema
Pequenas ilhas, grandes desafios, fez uma revisão do programa de ação do desenvolvimento
sustentável. Uma das grandes preocupações foi a gestão e governânça nos pequenos estados
insulares e a importância da gestão do solo devido à sua progressiva degradação, pondo em
causa o seu uso sustentável.
Falar de um equilíbrio razoável não significa replicar o mesmo modelo por todas as
unidades de conjunto, mas permitir que cada ilha defina o seu cenário de desenvolvimento,
pois para o equilíbrio do arquipélago é essencial que cada ilha tenha capacidade para valorizar
a sua identidade e atingir o seu próprio equilíbrio territorial. (PEREIRA, Margarida, 2010,
Comunicação Oral).
75
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
II PARTE
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cabo Verde fica situado no Oceano Atlântico, a cerca de 455 km do cabo com o
mesmo nome, no extremo ocidental africano. Trata-se de um arquipélago de reduzida
dimensão territorial (4033 km2), repartido por 10 ilhas (Santa Luzia não é habitada) e oito
ilhéus, dispostos em dois grupos em função do seu posicionamento face aos ventos
dominantes: o de Barlavento, constituído pelas ilhas de Santo Antão, S. Vicente, Santa Luzia,
S. Nicolau, Sal e Boavista, e o de Sotavento, formado pelas ilhas de Maio, Santiago, Fogo e
Brava (Figura 10).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A acidentada orografia dificulta a articulação interna em cada uma das ilhas e condiciona
a implantação de assentamentos humanos.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: http://www.climatempo.com.br
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Porém, Cabo Verde tem um ambiente frágil. A fragilidade dos sistemas naturais é devida,
em grande parte, ao carácter desértico do seu território, à falta de água no solo e no subsolo e
à extensão da orla costeira (cerca de 1020 km) constituída por falésias e praias de grande
sensibilidade biofísica.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Para além destas situações comuns a todas as ilhas, as ilhas do Fogo e Brava são
marcadas pelos riscos associados à atividade vulcânica e sísmica. A última erupção no Fogo
foi em 1995, mas as duas ilhas têm tido uma atividade sísmica constante, embora de baixa
intensidade.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cabo Verde continua a destacar-se em todos os indicadores dos países africanos seus
vizinhos. É um dos poucos países Africanos que estão prestes a cumprir os Objetivos do
Milénio (ODM). Em 2000, os chefes de Estado e de Governo que participavam na
Assembleia Geral das Nações Unidas, assinaram a Declaração do Milénio que levou à
formulação dos oito objetivos específicos de desenvolvimento cuja meta para o seu
cumprimento é o ano 2015, nomeadamente: Erradicar a pobreza extrema e a fome; Alcançar o
Ensino Primário Universal; Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das Mulheres;
Reduzir a Mortalidade Infantil; Melhorar a Saúde Materna; Combater o VIH/Aids, a malária e
outras doenças; Assegurar um ambiente sustentável; Estabelecer uma parceria Mundial para o
Desenvolvimento. Segundo o Relatório ODM de Cabo Verde (2010), o país já alcançou
quatro desses objetivos (atingir o ensino primário universal, promover a igualdade de género,
reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna).
No tocante à pobreza, segundo dados do QUIBB 2007, entre 2000/2001 e 2007, a taxa
nacional caiu de 36,7 % para 26,6 %, verificando-se uma diminuição tanto no meio urbano
como no meio rural e em todos os concelhos do país. O limiar da pobreza fixado era de
49.485 ECV. A pobreza no meio urbano em 2007 era de 13,2% e no meio rural, 44,3%,
incidindo sobretudo nas mulheres (33%) e nas pessoas de todos os níveis de instrução,
particularmente nas sem instrução (41%) e com ensino básico (25,6%). De acordo com a
88
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Atividades económicas
Figura 16 - Vista parcial de campo agrícola no concelho de Santa Cruz – Ilha de Santiago
1
O valor do índice Gini oscila entre 0 e 1 e é crescente com a concentração. O valor 0 indica a inexistência de
dissimilaridades na repartição do rendimento e o valor 1 caracteriza a máxima concentração do rendimento e
desigualdade total.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A raridade e irregularidade das chuvas provocam secas cada vez mais longas,
causadoras de um défice hídrico permanente e de uma progressiva desertificação. Nestas
condições excecionalmente difíceis, a produção alimentar é sempre deficitária, o que põe em
causa a segurança alimentar, sobretudo da população rural.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
14,2 milhões de Euros. Cabo Verde importa quase a totalidade dos produtos que consome e as
importações são equivalentes a 40% do PIB. A dependência é particularmente elevada em
relação aos bens estratégicos, tais como os produtos alimentares e os produtos energéticos. O
país depende quase totalmente da importação dos produtos petrolíferos para satisfazer as suas
necessidades energéticas. O valor da dívida externa é elevado (acima dos 50% do PIB).
Portugal tem cooperado e ajudado fortemente Cabo Verde a nível económico e social,
o que resultou na indexação de sua moeda, o escudo cabo-verdiano, ao euro, e no crescimento
de sua economia interna. Cabo Verde estabeleceu, em finais de 2007, uma parceria especial
com a União Europeia, a par da adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), o que
poderá trazer vantagens à dinamização da sua economia.
Cabo Verde é uma nação mestiça, onde não existem etnias. A língua oficial é
Português e no quotidiano fala-se o crioulo com diferentes padrões em cada uma das ilhas.
Segundo os dados do Censo 2010 (INE), a população residente no país é de 491.875
habitantes, sendo 50,5% do género feminino e 49,5% do género masculino.
Quadro 11- Distribuição do efetivo populacional em Cabo Verde por género (2010)
92
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ilha Efetivo %
Santo Antão 43.915 8,9
S.Vicente 76.140 15,5
S.Nicolau 12.817 2,6
Sal 25.779 5,2
Boavista 9.162 1,9
Maio 6.952 1,4
Santiago 274.044 55,7
Fogo 37.071 7,5
Brava 5.995 1,2
Total 491.875 100
Fonte: INE
93
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
94
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A evolução por ilhas mostra um aumento populacional em seis ilhas, tendo a perda da
população acontecido apenas em Santo Antão, S.Nicolau e Brava (figura 20).
Figura 20 – Evolução da população residente de Cabo Verde por ilhas (2000 e 2010)
A população residente de Cabo Verde registou uma taxa de variação de cerca de 27,3
% de 1990 para 2000 e de 13,2 % de 2000 para 2010, e um crescimento médio anual de 2,4%
na década de 90 e de 1,2% na década de 2000, evidenciando uma redução da taxa de
crescimento populacional.
95
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A taxa de crescimento médio anual difere entre as ilhas e concelhos. As ilhas de Santo
Antão, S.Nicolau e Brava perderam população no último período censitário, tendo ocorrido
um crescimento acentuado da população nas ilhas da Boavista (7,8%) e Sal (5,5%) que,
juntamente com concelho da Praia (2.9%) apresentam taxas de crescimento médio superior à
média nacional (1,2%). O concelho da Praia continua a ser o mais populoso do país. Em 2000,
a Praia concentrava cerca de 25% dos habitantes, tendo aquele valor subido para 26,9% em
2010.
96
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Concelho
1 Ribeira Grande
2 Paul
3 Porto Novo
4 S. Vicente
5 Ribeira Brava
6 Tarrafal de S. Nicolau
7 Sal
8 Boavista
9 Maio
10 Tarrafal
11 Santa Catarina
12 Santa Cruz
13 Praia
14 S. Domingos
15 Calheta de S. Miguel
16 S. Salvador do Mundo
17 S. Lourenço dos Órgãos
Ribeira Grande de
18 Santiago
19 Mosteiros
20 S. Filipe
21 Santa Catarina do Fogo
22 Brava
97
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Concelho
1 Ribeira Grande
2 Paul
3 Porto Novo
4 S. Vicente
5 Ribeira Brava
6 Tarrafal de S. Nicolau
7 Sal
8 Boavista
9 Maio
10 Tarrafal
11 Santa Catarina
12 Santa Cruz
13 Praia
14 S. Domingos
15 Calheta de S. Miguel
16 S. Salvador do Mundo
17 S. Lourenço dos Órgãos
18 Ribeira Grande de Santiago
19 Mosteiros
20 S. Filipe
21 Santa Catarina do Fogo
22 Brava
O país apresenta uma estrutura de população jovem (54,4% da população tem menos
de 25 anos, sendo que 31,6% tem menos de 15 anos). A idade média é de 26,8 anos.
Fonte: INE
Figura 24 – Pirâmide etária, Cabo Verde, 2010
98
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
99
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
De igual forma o fluxo migratório proveniente dos países vizinhos faz considerar a
necessidade de políticas relativas às migrações e priorizar estratégias de integração dos
imigrantes. De acordo com o documento Migrações em Cabo Verde – perfil nacional 2009, a
imigração para Cabo Verde cresceu nas últimas décadas. Os dados mais recentes indicam que
a população imigrante aumentou cerca de 20 %, passando de 8.931 em 1991 para 11.183 em
2005. De acordo com os dados do INE em 2010, a população estrangeira em Cabo Verde era
de 14.373 efetivos, provenientes sobretudo de outros países do continente africano (71,7%).
Apesar das melhorias registadas, a rede portuária sofre ainda de muitas patologias,
entre as quais uma frota inadequada, empresas com fraca qualidade, serviços portuários e
agências sem condições para garantir o funcionamento normal do sistema de transporte
marítimo. Segundo Câmara do Comércio, Indústria e Turismo – Portugal – Cabo Verde, no
domínio portuário, o país tem uma extensão de cais insuficiente para o crescimento da taxa
média anual de tonelagem de mercadorias carregadas e descarregadas ao ritmo do
crescimento do PIB.
101
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
102
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fontes: UCCP
103
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Em 2010 Cabo Verde passou de 6 cidades para 24 cidades, pois as sedes dos
Municípios foram elevados a categoria de cidades2.
A partir dos anos noventa do século passado, assiste-se, embora de forma ainda muito
ténue, a um progressivo crescimento dos centros secundários (os de dimensão média), como
sejam: cidades de Pedra Badejo, no Concelho de Santa Cruz, de Assomada, no Concelho de
Santa Catarina, de Porto Novo e de São Filipe. Porém, não exercem ainda uma atração capaz
de atenuar o crescente afluxo populacional em direção à capital.
2
Lei n°77/VII/2010, de 23 de Agosto de 2010, que estabelece o regime da divisão, designação e determinação das
categorias administrativas das povoações, em vigor desde 3 de Setembro de 2010.
104
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cidades POP.
2010
7 Tarrafal 3.766
8 Espargos 15.997
9 Santa Maria 5.772
10 Sal Rei 5.407
11 Porto Inglês 2.982
12 Tarrafal 6.177
13 Calheta 4.220
14 Pedra Badejo 9.345
15 Assomada 12.026
16 Achada Igreja 1.406
17 João Teves 1.699
18 Várzea da Igreja 2.583
19 Praia 127.899
20 Santiago de CV. 1.214
21 S. Filipe 8.125
22 Cova Figueira 659
23 Igreja 3.598
24 Nova Cintra 1.127
Praia é o concelho com maior saldo migratório, seguido de S.Vicente, Sal e Boavista (quadro
15).
105
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A Praia exerce grande atração sobre o espaço rural da ilha de Santiago e das restantes
ilhas, incluindo S.Vicente (quadro 15). A partir da independência, a Praia cresceu
explosivamente em resultado da forte migração interna, originada pela seca e pelas
perspetivas de encontrar trabalho na maior cidade do país.
106
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Figura 31 – Percentagem de saídas de cada uma das ilhas com destino a Praia em relação ao
total de saídas das respetivas ilhas
107
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ilha Número %
Santo Antão 602 6,9
S.Vicente 1.775 20,4
S.Nicolau 335 3,8
Sal 940 10,8
Boavista 237 2,7
Maio 212 2,4
Santiago 3710 42,8
Interior Santiago 1.490 17,0
Praia 2.220 25,8
Fogo 714 8,2
Brava 171 2,0
Total 8.716 100
Fonte: INE (III recenseamento empresarial)
Praia tem 1 dos 4 aeroportos internacionais do país. De acordo com dados da Agência
Nacional de Aviação Civil, em 2009, o aeroporto da Praia representou 30,8% do movimento
das aeronaves e 30,7% do total dos passageiros (embarque, desembarque, trânsito). A cidade
da Praia tem o porto mais importante do país (Porto da Praia) que movimenta mais de 60% do
total das cargas.
108
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A cidade da Praia é o centro com maior dinâmica cultural. Nos últimos anos adquiriu
salas de espetáculos e de conferências (o Salão Nobre da Assembleia Nacional, o Auditório
Nacional, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Histórico Nacional e o Palácio da Cultura).
A cidade do Mindelo, para além dos aspetos anteriormente referidos, tem o setor
industrial mais desenvolvido do país (panificação, massas alimentares, refrigerantes, moagem
de cereais e café, sabão, indústria hoteleira, construção naval, construção civil). A atividade
comercial é importante, muito ligada ao Porto Grande.
109
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ao longo das vias de comunicação é comum uma cintura de ocupação linear intensa
que liga os principais centros ao interior. Na evolução mais recente do povoamento sobressai
o aumento da dispersão da construção ao longo das vias e entre as linhas de água. Esse tipo de
assentamento humano está associado à prática de atividades agriculturas, mormente de
regadio e também, por vezes, à propriedade do solo.
3
Segundo definição da Lei nº 77/VII/2010
110
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
111
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A rede urbana é dominada pelas cidades de Porto Novo, Ponta do Sol, Ribeira Grande e Pombas, com
6. Sistema funções políticas e administrativas e alguma concentração de equipamentos públicos e privados. Porto Novo
urbano e é a cidade mais relevante do ponto de vista funcional e Ribeira Grande em termos de dimensão
estrutura de populacional. No meio rural predomina o povoamento disperso. Vários aglomerados rurais estão ligados à
povoamento exploração dos vales agrícolas.
Na ilha funcionam para além do hospital regional, 2 centros de saúde, 11 postos sanitários e 27 unidades
sanitárias de base (MS, 2011); e 66 Jardins, 78 escolas do ensino básico e 6 estabelecimentos do ensino
secundário) (ME, 2010). As redes de serviços básicos de saúde e de educação cobrem razoavelmente a ilha,
não obstante a necessidade do seu reforço nas áreas rurais. Todas as localidades da ilha apresentam défice
em termos de equipamentos públicos associados à cultura, desporto e lazer, com maior incidência nas áreas
rurais. A habitação é um problema, devido à precariedade e às deficientes condições de habitabilidade.
As áreas urbanas informais mais expressivas estão no Porto Novo, associada à dispersão das construções
que invadiram o leito das ribeiras. O défice de infraestruturas afeta 88,1% (8685) das habitações. Em casas
sem acesso à rede de esgotos, sem acesso à rede de eletricidade e sem acesso à rede de água vivem 13%
(1316) das famílias (INE, Censo 2010). Muitas zonas da ilha não possuem água canalizada e não existe rede
de esgotos na ilha, com exceção de uma pequena rede de recolha em Porto Novo. A deposição de resíduos
sólidos urbanos ocorre numa lixeira selvagem a céu aberto. Não há recolha seletiva nem tratamento de
resíduos sólidos.
7. Infraestruturas A principal infraestrutura de transportes interilhas é o Porto Marítimo de Porto Novo. As ligações diretas
de transportes regulares são para a ilha de S.Vicente (duas viagens por dia), mas a ligação às restantes ilhas do país é
deficiente. Tem um pequeno aeroporto, inoperacional. Isto é, não dispõe de ligações aéreas. As
infraestruturas rodoviárias estão adaptadas às condições orográficas da ilha, mas é necessária a sua
beneficiação facilitando o acesso ao Porto Novo e o desencravamento de comunidades rurais.
112
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
113
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.2 S.Vicente
Quadro 20 - Especificidades da ilha de S.Vicente
1.Localização No grupo do Barlavento, tem 227 km2 e altitude máxima de 750 metros (Monte Verde).
e configuração
2. Meio físico e Exiguidade de recursos naturais, extrema aridez e escassez de chuvas, sendo necessário recorrer à
recursos naturais dessalinização. Apresenta áreas de elevado valor geológico e geomorfológico e alta biodiversidade
marinha. Tem 1 área protegida declarada (Monte Verde). A extração de inertes para a construção
civil é um problema sensível, pela degradação provocada no litoral, bem como a ocupação do
domínio público marítimo com fábricas, centrais de abastecimento e depósitos de combustíveis.
3. Riscos naturais Seca, cheias e inundações, sobretudo na cidade do Mindelo.
A população ativa está empregada sobretudo no setor terciário (comércio e serviços). Há potencial
4. Situação para o desenvolvimento do cluster do mar (rede de produção de empresas fortemente
económica interdependentes, ligados entre si numa cadeia de valor acrescentado, associando também a
universidade).
S. Vicente concentra quase metade da população do Barlavento e 15,5% da população do país. É a
5. Aspetos segunda ilha mais populosa do arquipélago, com uma população jovem. A tendência é para a
demográficos evolução populacional positiva. A ilha passou de 67.163 hab. em 2000 para 76.140 hab. em 2010,
e sociais com uma taxa de crescimento médio de 1,3 %, superior a média nacional. O desemprego é o
principal problema social, com uma taxa superior à média nacional (14,8%) (INE, Censo 2010). A
incidência da pobreza é de 13,6% (QUIBB, 2007). Crianças de rua e delinquência juvenil são
outros males sociais.
Possui o segundo maior centro urbano do país – Mindelo (70.468 hab.), a par de outros centros
6. Sistema urbano urbanos como Baia das Gatas, Salamansa, Calhau e a localidade piscatória de S.Pedro. É a ilha
e mais urbana do país (cerca de 93% de população), prevalecendo o povoamento concentrado urbano.
Estrutura de Os problemas urbanos mais significativos são a construção informal e a falta de habitação social e
povoamento de drenagem na cidade. O défice de infraestrutura afeta 46,2% (8716) das habitações. Em casas
sem rede de esgotos, sem rede de eletricidade e sem rede de água vivem 8,98% (1694) das famílias
(INE, Censo 2010). Tem aterro controlado, mas não há recolha seletiva nem tratamento de resíduos
sólidos. Tem hospital central, 5 centros de saúde e 3 unidades sanitárias de base (MS, 2011); e 29
Jardins, 35 escolas do ensino básico e 6 estabelecimentos do ensino secundário (ME, 2010). As
redes de serviços básicos de saúde e educação correspondem, de uma forma geral, às necessidades
das populações locais, concentrando-se essencialmente na cidade de Mindelo, sobretudo as
carências mais expressivas nas zonas espontâneas periféricas à cidade e nas áreas fora deste núcleo
urbano principal.
O porto de Porto Grande tem um papel relevante no desenvolvimento da ilha e do país. O aeroporto
7. Infraestruturas internacional de S. Pedro tem ligações áreas internas diretas e diárias para as ilhas de Santiago, Sal,
de transportes S.Nicolau, Boavista e pela via marítima está ligada a Santo Antão, Praia, Sal e S.Nicolau. São
importantes as complementaridades entre S.Vicente e Santo Antão. A rede rodoviária é constituída
por estradas nacionais e municipais, ligando as principais localidades, a maioria em bom estado de
conservação.
115
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.3 S.Nicolau
Quadro 22 - Especificidades da ilha de S.Nicolau
1.Localização No Barlavento, apresenta uma forma alongada, com uma superfície de 338 km2 e altitude máxima
e configuração de 1.304 metros (Monte Gordo).
Relevo bastante acidentado. Diferenciação entre a parte este da ilha (mais árida) e a Oeste (mais
2. Meio físico e verde). Os recursos naturais são escassos, com destaque para os recursos do mar. A ilha apresenta
recursos naturais potencialidades nos domínios ambiental e paisagístico. Tem uma área protegida com grande valia
(Monte Gordo).
3. Riscos naturais Riscos de desabamentos e cheias/inundações, com maior relevo na área urbana de Ribeira Brava. A
seca e a erosão do solo marcam as comunidades rurais.
4. Situação Fraca dinâmica da economia, apoiada nas atividades do setor primário (agro-silvo-pastoril e pesca).
económica
Diminuição progressiva da população nas últimas décadas, com maior incidência nas áreas rurais.
5. Aspetos A população passou de 13.661 em 2000 para 12.817 em 2010 (-6,2%). A ilha está exposta ao
demográficos fenómeno da emigração. Tem falta de recursos humanos qualificados. A taxa de desemprego é de
e sociais 7% (INE, Censo 2010) e a de pobreza 13% (QUIBB, 2007).
População distribui-se de forma dispersa pela ilha, em pequenos povoados com pouca infraestrutura
coletiva. Há 2 cidades: Ribeira Brava (com arquitetura do tipo colonial/português e edifícios
6. Sistema urbano emblemáticos) e Tarrafal. Existem ainda os aglomerados rurais de povoamento concentrado e
e alguns encraves singulares. A habitação é um problema, devido à precariedade e às condições de
estrutura de habitabilidade. Insuficiências em infraestruturas básicas, em particular nas áreas rurais. O défice de
povoamento infraestrutura afeta 100% (3256) das habitações: na ilha nenhuma habitação tem todas as
infraestruturas. Em casas sem rede de esgotos, sem rede de eletricidade e sem rede de água vivem
12,71% (414) das famílias. Existência de lixeira controlada. Não há recolha seletiva nem
tratamento de resíduos sólidos.
Nas redes de saúde e ensino funcionam, para além do hospital regional, 2 centros de saúde, 3 postos
sanitários e 10 unidades sanitárias de base (MS, 2011), e 16 Jardins, 21 escolas do ensino básico e 2
estabelecimentos do ensino secundário (ME, 2010). Os equipamentos de ensino evidenciam alguma
degradação e carência de alguns serviços, pelo que impõe-se a sua renovação. Permanece alguma
dependência relativamente a outros concelhos em relação ao acesso a serviços de saúde de
especialidade e de ensino superior. O défice de equipamentos de saúde, desportivos e culturais,
afeta sobretudo localidades mais encravadas da ilha.
Ligações marítimas com a ilha são escassas devido a constrangimentos portuários (ligação direta
com Sal). As ligações aéreas dos voos comerciais são muito limitadas, condicionando o
desenvolvimento da ilha (não há ligação direta, havendo passagem pela ilha do Sal). A acentuada
7. Infraestruturas topografia da ilha dificulta a passagem das infraestruturas viárias, ficando muitos dos seus núcleos
de transportes mal conectados com o resto dos aglomerados. Situação de encravamento de algumas localidades
(caso de Carriçal).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.4 Sal
Quadro 24 - Especificidades da ilha do Sal
1.Localização No grupo do Barlavento, no extremo Nordeste do arquipélago de Cabo Verde, tem uma superfície de 216
e configuração km2 e uma altitude máxima de 406 metros (Monte Grande).
Relevo plano e paisagem árida. É a segunda ilha mais plana, com ligeiras elevações. A escassez de
precipitação, a carência de água e a salinidade dos solos formam condicionantes ao desenvolvimento da
2. Meio físico e agricultura. O Município do Sal é abastecido na sua totalidade com água dessalinizada. Grandes extensões
recursos naturais de areia, sal e argila. Apresenta excelentes condições para o turismo balnear e desportos náuticos, onde se
destacam o surf e o windsurf, o mergulho e a pesca submarina. Há 11 espaços naturais protegidos
declarados. Problema de extração de inertes e de ocupação do domínio público marítimo.
3. Riscos naturais Seca, erosão costeira, cheias e inundações.
Turismo balnear é o motor da economia. Os complexos turísticos têm-se instalando desde os anos 60,
principalmente na cidade de Santa Maria. O setor terciário ocupa a maior parte dos empregados. Na ilha
estão localizados 12 dos 44 hotéis, 38,7% dos quartos (3051) e 44,7% de todas as camas (6292)
4. Situação disponíveis no país (INE, 2011). É a segunda ilha com mais entrada de hóspedes (35,4%) e mais dormidas
económica (42,9%). Os hóspedes são sobretudo do Reino Unido, Itália e Alemanha. Potencial para o desenvolvimento
do cluster aéreo, criando uma rede de produção de empresas do setor fortemente interdependentes, ligados
entre si numa cadeia de valor acrescentado, associando também a universidade.
Crescimento acelerado da população, que passou de 14.816 hab. para 25.776 hab. entre 2000 e 2010
5. Aspetos (+74%), com tendência para aumentar. É um importante pólo de atração da população das outras ilhas do
demográficos país e dos originários dos países da Comunidade Económica da África do Oeste. Há problemas sociais,
e sociais como a criminalidade e a prostituição. A taxa de desemprego é de 10,8%, ligeiramente superior a média
nacional (INE, Censo 2010) e a de pobreza é de 4% (QUIBB, 2007).
O número de povoados é exíguo, existindo extensas manchas sem ocupação. Destacam-se as cidades de
Santa Maria e Espargos, e as povoações de Palmeira e Pedra de Lume. É a segunda ilha mais urbana do
6. Sistema país (92,5%), predominando o povoamento concentrado urbano. Há uma desadequação da infraestrutura
urbano e geral e das infraestruturas turísticas ao acréscimo dos fluxos turísticos, e ao crescimento acelerado dos
estrutura de centros urbanos. Há problema de falta de habitação para a população de baixo rendimento e muitos
povoamento assentamentos informais. O défice de infraestrutura afeta 95,3% (5512) das habitações. Em casas sem rede
de esgotos, sem rede de eletricidade e sem rede de água, vivem 9,64% (557) das famílias (INE, Censo
2010). Não há rede municipal de esgotos. Há um aterro sanitário, mas não existe recolha seletiva nem
tratamento de resíduos sólidos. A cobertura por rede de saúde e educação é satisfatório, albergando
hospital regional, 2 centros de saúde e 2 unidades sanitárias de base (MS, 2011); e 11 Jardins, 6 escolas do
ensino básico e 1 estabelecimento do ensino secundário (ME, 2010). Os equipamentos concentram-se
sobretudo nos Espargos e Santa Maria. Está em construção um novo Liceu em Santa Maria, sendo dotando
de condições exigidas pela lei ao estatuto de cidade não obstante já o ser administrativamente, em virtude
de ser um centro turístico com especial relevância para a economia nacional.
7.Infraestruturas Alberga o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, sede do cluster aéreo e o Porto das Palmeiras.
de transportes Ligações áreas diretas com Praia, S.Vicente e Boavista e portuárias com S.Vicente, S.Nicolau e Praia. As
infraestruturas rodoviárias, ligando os principais aglomerados populacionais, são boas.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.5 Boavista
Quadro 26 – Especificidades da ilha da Boavista
No grupo do Barlavento, tem uma superfície de 620 km2 e uma altitude máxima de 387 (Estância).
1.Localização Com uma configuração quase circular, é a terceira maior ilha em termos de dimensão, e a mais
e configuração próxima do continente africano.
É a ilha mais plana e com o maior potencial para o turismo balnear. Grandes extensões de areia clara
e com vegetação dominada por palmeiras. Existência de belas praias. Tem muitos locais de desova de
2. Meio físico e tartarugas marinhas. Alberga 14 das 47 áreas protegidas do país. Os ecossistemas dunares estão
recursos naturais constantemente sob pressão humana.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.6 Maio
Quadro 28 – Especificidades da ilha do Maio
No grupo do Sotavento, tem uma superfície de 269 km2 e altitude máxima de 436 metros
1.Localização (Penoso). Com uma forma oval, é a quinta maior ilha do arquipélago. Está a 23km da Ilha de
e configuração Santiago, isto é, a 3h de barco ou 15mn de voo da capital do país.
Predominantemente plana, é árida, rica em sal e em quantidade e variedade de peixes nas
suas águas. Alberga o maior perímetro florestal do país. Extensas praias de areia branca e
água cristalina, com um potencial elevado para o turismo balnear e de desportos náuticos, a
2. Meio físico e recursos pesca desportiva, o mergulho e o turismo de natureza. A maior parte da água de
naturais abastecimento às populações provém da dessalinização da água do mar. Tem 7 espaços
naturais protegidos declarados.
3. Riscos naturais Seca, erosão costeira, cheias e inundações.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Oportunidades Ameaças
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.7 Santiago
Quadro 30 – Especificidades da ilha de Santiago
1.Localização No grupo do Sotavento, é a maior ilha do arquipélago com uma superfície de 991 km2 e altitude máxima
e configuração de 1394 m (Pico de Antónia).
Relevo acidentado. Reúne 50% dos terrenos férteis do arquipélago e importantes recursos hídricos
2. Meio físico e subterrâneos. Alberga 2 áreas protegidas (Serra Malagueta e Pico de Antónia). A exploração
recursos naturais descontrolada de inertes é intensa e afeta particularmente as zonas litorais bem como a ocupação do
domínio público marítimo.
3. Riscos naturais Cheias e inundações urbanas, seca, desertificação, erosão dos solos.
A base económica da ilha é de carácter terciário, com grande peso do emprego no setor público
4. Situação administrativo, associada à presença da capital do País. Mas a agricultura e a pesca continuam a ter um
económica papel importante na subsistência das famílias.
É a ilha mais populosa, com mais metade da população do arquipélago (55,7%). Em 2000 tinha 236.352
hab., atingindo 274.044 hab. em 2010. Tem tido um papel determinante no crescimento demográfico do
país, assumindo-se desde 1950 como o principal pólo de crescimento populacional. Estrutura etária
5. Aspetos bastante jovem. O desemprego afeta sobretudo os jovens. A taxa de desemprego na cidade da Praia é de
demográficos 11,3% e no resto da ilha de Santiago, 9% (INE, Censo 2010). Elevada taxa de pobreza (36%) (QUIBB,
e sociais 2007).
Existência de um pólo francamente urbano e de dimensão muito superior aos restantes, a Cidade da
Praia, a capital de Cabo Verde. Tem 9 concelhos e 9 cidades. Possui sítios de interesse histórico como:
6. Sistema “Cidade Velha” (património mundial), o antigo campo concentração do Tarrafal e o centro histórico da
urbano e cidade da Praia (Plateau).
estrutura de Verifica-se uma tendência crescente para a ocupação por habitações informais em encostas, mesmo nas
povoamento mais declivosas, leito das ribeiras e marginal das principais vias e estradas de acesso ao interior. Em
meio rural há também povoamento disperso. Problema de construções informais, sobretudo na cidade da
Praia e de habitação precária na generalidade dos seus municípios. O défice de infraestrutura afeta 89,3%
(52851) das habitações. Em casas sem rede de esgotos, sem rede de eletricidade e sem rede de água
vivem 16,13% (9540) das famílias (INE, Censo 2010). Existência de lixeiras selvagens a céu aberto. Não
há recolha seletiva nem tratamento de resíduos sólidos. Em Santiago concentra-se a maior oferta de
ensino superior do país. Na ilha funciona para além do hospital central e regional, 14 centros de saúde,
13 postos sanitários e 50 unidades sanitárias de base (MS, 2011); e 293 Jardins, 216 escolas do ensino
básico e 24 estabelecimentos do ensino secundário (ME, 2010). A cidade da Praia é o centro com maior
concentração de equipamentos. Alguns núcleos urbanos elevados administrativamente à categoria de
cidades apresentam défices de equipamentos públicos (caso de João Teves, Achada Igreja, Santiago de
Cabo Verde). Carências de equipamentos de saúde, desporto, cultura e lazer, sobretudo nas áreas rurais.
As principais infraestruturas de transportes são o aeroporto internacional da Praia e o Porto da Praia. Nas
7. Infraestruturas infraestruturas rodoviárias, a rede principal de estradas da ilha de Santiago é densa e o traçado das vias
de transportes adaptado às condições orográficas da ilha. O seu estado de conservação é razoável.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.8 Fogo
Quadro 32 – Especificidades da ilha do Fogo
1.Localização No grupo do Sotavento, com forma circular e uma superfície de 476 km2 e altitude máxima 2829
e configuração metros (Pico do Fogo).
Possui uma orografia singular, de formato cónico, com paisagem vulcânica impressionante cujo
2. Meio físico e elemento central é a enorme cratera de onde emerge o Pico do vulcão do Fogo. Fraca
recursos naturais disponibilidade de água potável. Os solos constituem um dos principais recursos naturais da ilha:
muito ricos do ponto de vista mineralógico, são os melhores solos do País. Potencialidades para o
desenvolvimento do ecoturismo, do turismo de natureza e do turismo gastronómico e medicinal.
Alberga o parque natural do Fogo. A apanha da areia na orla para a construção civil é um
problema ambiental sensível, que contribui para a degradação da paisagem.
3. Riscos naturais Sismos, erupções vulcânicas, erosão e seca
4. Situação Atividade económica baseada na agricultura, na pesca e no comércio. A produção vinícola tem
económica expressão na economia local.
A ilha tem 7,5% da população do país, tendo registado no período 2000-2010 uma ligeira quebra
5. Aspetos populacional (de 37.431 hab. para 37.051 hab.). A pressão demográfica nos principais centros
demográficos urbanos é elevada. Estrutura etária jovem. A emigração constitui um fenómeno estrutural na
e sociais sociedade foguense. A taxa de desemprego é de 7,2% (INE, Censo 2010) e a de pobreza, 39%
(QUIBB, 2007).
A rede urbana é dominada pelas cidades de São Filipe, de Igreja (nos Mosteiros), e de Cova
6. Sistema urbano Figueira (em Santa Catarina). Estes centros urbanos concentram as principais funções políticas e
e administrativas da ilha, equipamentos públicos e privados, enquanto sede dos respetivos
estrutura de concelhos. O povoamento rural é disperso.
povoamento Não existe rede de esgotos. Em casas sem rede de esgotos, sem rede de eletricidade e sem rede de
água vivem 26,79% (2211) das famílias (INE, Censo 2010). As águas residuais domésticas são
lançadas em fossas sépticas ou na natureza. Existência de lixeira selvagem a céu aberto. Não há
recolha seletiva nem tratamento de resíduos sólidos. Existe hospital regional, 2 centros de saúde,
2 postos sanitários e 10 unidades sanitárias de base (MS, 2011); e 52 Jardins, 48 escolas do ensino
básico e 5 estabelecimentos do ensino secundário (ME, 2010). Os equipamentos concentram-se
sobretudo na cidade de S.Filipe. Há carências enormes de equipamentos noutros centros urbanos
como Cova Figueira, elevada administrativamente à categoria de cidade sem cumprir requisitos
funcionais e números de eleitores mínimos constantes na lei.
7. Infraestruturas A rede de estradas é constituída principalmente por estradas circulares, dominada por dois
de transportes importantes anéis. A rede de estradas municipais corresponde a estradas de ligação entre as duas
circulares e por estradas de acesso às diversas localidades. A ilha conta com duas infraestruturas
aeroportuárias: o aeródromo de S. Filipe e o dos Mosteiros (este inativo há já algum tempo).
Dispõe ainda do porto de Vale dos Cavaleiros.
133
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3.8.9 Brava
Quadro 34 – Especificidades da ilha da Brava
1.Localização No grupo do Sotavento, no extremo sul do arquipélago, é a mais próxima do
e configuração continente sul-americano. De forma arredondada é a menor das ilhas habitadas,
com uma superfície de 67,4 km2 e atitude máxima de 976 metros (Fontainhas).
2. Meio físico e recursos Relevo muito acidentado, húmida e conhecida por “ilha das flores”, devido à sua
naturais beleza paisagística. Parcos recursos naturais.
136
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Território acidentado
Valor ambiental e paisagístico (ilha das flores) Isolamento - sem um aeroporto
Elegância das construções típicas funcional
Potencial para o desenvolvimento do turismo de Fluxo emigratório expressivo
natureza Dependência dos serviços sanitários
Produção de peixe para outras ilhas especializados da ilha do Fogo ou da
“Morabeza” da população capital do país
População jovem Carência de mão-de-obra qualificada
e também de quadros técnicos e
superiores
Aproveitamento deficiente do
potencial silvo-pastoril da ilha
Oportunidades Ameaças
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cabo Verde é um país pequeno, insular, fragmentado, parco em recursos naturais, com
crescimento populacional crescente, de grandes fragilidades ambientais e de um crescimento
económico e social por consolidar. Está sujeito a múltiplos riscos naturais, nomeadamente
desabamentos, cheias, inundações, sismos, seca, desertificação, subidas do nível do mar, com
tendência para se agravarem em função das alterações climáticas, elementos fundamentais a
considerar nas políticas de ordenamento do território.
139
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ilhas
Especificidades Santo S. S. Sal Boavista Maio Santiago Fogo Brava
Vicente Nicolau
Antão
Maior dimensão
territorial
Mais montanhosas
Mais populosas
Maior taxa de
desemprego
Maior incidência da
pobreza
Mais agrícolas
Mais turísticas
Mais terciarizadas
Mais vulneráveis
ambientalmente
Maior valia
ambiental
Maiores problemas
de água
Maiores problemas
de esgotos
Maiores problemas
de resíduos sólidos
Maiores problemas
de assentamentos
informais
Maiores problemas
de apanha de inertes
Maiores problemas
de transportes com
outras ilhas
Elaboração própria
As ilhas mais turísticas (Sal e Boavista) são as que possuem maior valia ambiental.
Mas também são as que já apresentam graves disfuncionalidades (problemas de esgotos,
resíduos sólidos urbanos, assentamentos informais). Maio, ainda com um enorme potencial
turístico por aproveitar (condicionado por deficiência de transportes, de rede de esgotos e
recolha e tratamento de resíduos). Estas debilidades estão igualmente presentes na maior ilha
do país e também que acolhe a sua capital – Santiago. O facto das ilhas mais turísticas
apresentarem grandes valias ambientais exige um ordenamento da atividade turística exigente
e rigoroso, sob pena de a prazo, comprometer esses recursos e afetar irremediavelmente a
atividade.
140
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
141
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
territorial; Participação, que preconiza o reforço da consciência cívica dos cidadãos através do
acesso à informação e à intervenção nos procedimentos de elaboração, execução, avaliação e
revisão dos instrumentos de gestão territorial; Liberdade de acesso à informação, que
propicie uma participação esclarecida e lúcida do cidadão nas questões relativas ao
ordenamento do território, desenvolvimento e planeamento urbanístico; Precaução que, a
mercê da grande mutabilidade do ambiente, previna externalidades imprevistas e
desconhecidas; Responsabilidade, que garante a prévia ponderação das intervenções com
impacto relevante no território e estabelece o dever de reposição ou compensação dos danos
que ponham em causa a qualidade ambiental; Contratualização, que incentiva a adoção de
modelos de atuação baseados na concertação entre a iniciativa pública e a iniciativa privada
na concretização dos instrumentos de gestão territorial; Segurança jurídica, que garante a
estabilidade dos regimes legais e o respeito pelas situações jurídicas validamente constituídas.
142
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Administração Central
(Ministérios, institutos Públicos e
outras administrações
desconcentradas)
Autarquias Locais
(Municípios)
143
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Para além do MAHOT, são várias as instituições com responsabilidades sobre partes
do território. A Cabo Verde Investimento e a Sociedade de Desenvolvimento Turístico de
Boavista e Maio gerem as Zonas de Desenvolvimento Turístico Integral - ZDTI; as florestas e
reservas agrícolas são geridas pelo Ministério do Desenvolvimento Rural; a orla marítima
pelo Ministério das Infraestruturas, Transportes e Telecomunicações; os parques eólicos e
industriais sob a responsabilidade de Ministério da Economia. E ainda há as redes de
equipamentos, de educação e de saúde, com tutelas próprias.
145
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
primeira geração de planos urbanísticos para alguns municípios, posteriormente suspensos por
dificuldades financeiras (TAVARES, 2006).
O Programa de Governo 1981-85 instituiu o poder local como poder político, num
contexto de permanência do centralismo democrático, com o Estado a desempenhar o papel
central em todos os domínios. A descentralização só deu passos consistentes nos finais dos
anos 80 e início dos anos 90, com a publicação de um conjunto de diplomas, nomeadamente:
lei de bases das autarquias locais (Lei 47/III/89), lei eleitoral municipal (Lei 48/III/89), lei das
finanças locais (Lei 101-0/90), lei da organização e funcionamento da administração
municipal (D.L. 52-A/90) e com a revisão da Constituição da República, de 1992, que
fortaleceu o poder local, admitindo que as autarquias têm finanças e patrimónios próprios
(PNUD – CEA, 2002). Em 1991 foi adotada uma estrutura política multipartidária e o país
avançou rumo à descentralização política, tendo ocorrido as primeiras eleições autárquicas.
Segundo TAVARES (2006:74) “muitas das atribuições que antes pertenciam ao poder
central (Ministério da Administração Local e Urbanismo - MALU), foram transferidas para o
poder local (promoção social, obras públicas, licenciamento, infraestruturas no domínio do
146
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Mas foram lançadas algumas iniciativas como a criação do Gabinete de Apoio Técnico
Intermunicipal (por conjunto de ilhas ou por concelhos da mesma ilha), com o intuito de
apoiar a elaboração de planos de desenvolvimento municipal. Em 1995 foi criada a
Associação Nacional dos Municípios (ANMCV), que tem como objetivo a defesa dos
interesses comuns dos municípios, estimulando sinergias e complementaridades. A ANMCV
tem promovido esforços para dotar a administração local de mais condições, mas com
resultados modestos (TAVARES, 2006).
147
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
atribuições, sobretudo no que diz respeito à autonomia financeira. A Lei das Finanças Locais,
de 1998, (Lei 76/V/98) incorpora mecanismos que permitem aos municípios ter uma maior
capacidade financeira, podendo, assim, levar a cabo a sua responsabilidade de elaboração de
instrumentos de ordenamento e gestão municipal. Em Setembro de 2005 foi aprovado a atual
lei das finanças locais (Lei n.º 79/VI/2005 de 5 de Setembro), que define o alargamento do
leque de taxas e receitas a favor dos municípios (art.º 5º). A nova lei permite que os
municípios tenham acesso a créditos internos (art.º 1, alínea d) no quadro da cooperação
descentralizada. Em termos gerais a lei tem como objetivo:
148
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
149
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Em 1985 o Estado criou, pela primeira vez, uma lei de bases associada ao
Ordenamento do Território e Urbanismo – Lei de Bases do Planeamento Urbanístico (Lei n.º
57/II/85, de 22 de Junho), estabelecendo os princípios fundamentais do planeamento
urbanístico (mas não incluindo o regime urbanístico do solo).
150
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
consultores estrangeiros que garantiam uma fraca permanência em Cabo Verde. PEREIRA
(coord.), GONÇALVES, CAMPOS (1992).
O poder público reconheceu que o quadro não era satisfatório e que os reflexos
provocados no território não eram desejáveis. As autoridades começaram a tomar consciência
que a persistência da falta de medidas eficazes em termos de Ordenamento do Território
poderiam estar a comprometer o futuro de Cabo Verde. Falou-se em definir políticas, mudar
tendências e discutir soluções.
151
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
152
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
153
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Em termos gerais, não obstante as alterações que possa vir a sofrer, o regulamento
apresenta aspetos positivos e constitui um passo importante no sentido de se continuar a
aperfeiçoar o regime de elaboração e execução dos planos, os procedimentos de consulta, a
concertação e participação dos interessados.
154
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Podem ainda dois ou mais Municípios da mesma ilha elaborar Planos Intermunicipais
de Ordenamento do território (PIMOT) que visam a articulação estratégica entre áreas
territoriais que, pela sua interdependência, necessitam de uma gestão integrada.
155
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Elaboração própria
156
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
157
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Instrumentos Portaria conjunta dos Sem aprovação prévia Competência dos membros do
de Política Membros do Governo Governo responsáveis pela tutela
Especial responsável pela tutela dos dos interesses a proteger ou das
interesses a proteger atividades a disciplinar.
PD Deliberação da Câmara
Municipal
Elaboração própria
4.5.3.1 DNOT
158
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
159
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O Modelo Territorial (Figura 43), de acordo com a DNOT, deve funcionar como uma
rede policêntrica em rede e complementar no sentido de aproveitamento do potencial de cada
ilha.
Sobre a estrutura dos núcleos urbanos, a DNOT apresenta uma classificação e define
os equipamentos para cada tipo de núcleo. Assim, temos a) Capital do Estado: Praia b)
Núcleos de serviços suprainsulares: Praia, Mindelo, Espargos e S.Filipe c) Núcleos de
serviços insulares: Porto Novo, Mindelo, Ribeira Brava, Espargos, Sal Rei, Porto Inglês,
Praia, Ribeira Grande de Santo Antão, Santa Catarina de Santiago, São Filipe e Nova Cintra.
d) Núcleos de serviços concelhios: as restantes sedes de municípios.
O modelo turístico atribuí diferentes vocações turísticas a cada ilha, sendo orientado
para unidades de média dimensão, procurando evitar os resorts fechados, e a formação de
urbanizações turísticas centrípetas, que ocupem um contínuo de praia, separadas do resto da
ilha. A DNOT define também um modelo ambiental (modelo de ordenamento terrestre e de
ordenamento da zona litoral e marinha) a ser respeitado pelos instrumentos de nível
hierarquico inferior.
160
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Escala: 1:200000
Fonte: Proposta da DNOT,2013, DGOTDU
4.5.3.2 EROT
161
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: B.O. n.º 40/2010, I Série, de 19 de Outubro; B.O. n.º 40/2010, I Série, de 19 de Outubro; B.O. n.º
23/2011, I Série, de 4 de Julho; DGOTDU,2011
162
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
163
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Escala: 1:5000
A partir dos eixos relacionados com as áreas urbanas, os EROT reconhecem que as
respectivas ilhas precisam de centros urbanos qualificados, com dimensão demográfica que
proporcione massa crítica para a sustentação de serviços urbanos, de atividades económicas e
de práticas sociais e culturais, capazes de dinamizar o desenvolvimento económico, social e
cultural dessas ilhas. Daí incentivar a concentração da população e de atividades económicas
ligadas ao terciário, à indústria e à logística, bem como dos equipamentos coletivos com
maiores níveis de serviços diferenciados e maior capacidade de atração das populações,
polarizando assim territórios alargados. Defende-se a valorização do espaço público como
espaço organizador da cidade e condição da qualidade de vida urbana.
4.5.3.3 PEOT
A cobertura do país por PEOT é fraca: existem apenas 3 Planos de Gestão de Áreas
Protegidas (num total de 47 áreas declaradas) e 5 Planos de Ordenamento Turísticos num
universo de 29 zonas de desenvolvimento turístico integral. Não há planos de ordenamento da
orla costeira nem de ordenamento de bacias hidrográficas.
Quanto aos Planos de Gestão de Áreas Protegidas, oficialmente 3 (6,4%) das áreas
protegidas terrestres possuem Planos de Gestão concluídos, homologados pelo Governo e
publicados em Boletim Oficial (quadro 42). Está em implementação o projeto de consolidação
do sistema das áreas protegidas de Cabo Verde financiado pelo Fundo para o Ambiente
Global no valor de cerca de 4 milhões de dólares. O projeto visa criar novas unidades de áreas
protegidas e apoiar a elaboração de planos de gestão para as áreas protegidas de S.Vicente,
Santo Antão, Sal e Boavista.
165
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1:20.000
166
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
No que diz respeito aos POT, de 2008 a 2010 foram elaborados 5, correspondendo a
17,2% do universo das ZDTIs declaradas oficialmente.
167
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
5
www.sdtibm.cv
168
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
169
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Os planos setoriais não têm sido sujeitos a consulta pública como mandam a LBOTPU
e o RNOTPU e normalmente não são enviados à DGOTDU para emissão de parecer sobre os
seus efeitos territoriais. Na verdade, as políticas setoriais geradoras de afetação no território
foram integradas no sistema de gestão territorial, sob a designação de instrumentos de gestão
territorial de natureza setorial, mas têm sido um “elemento estranho” neste sistema, derivado
de alguma falta de entendimento do seu papel e impacto na transformação do território, da
falta de articulação, colaboração e coordenação eficazes.
4.5.3.4 PU
170
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
171
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
situação fazia com que a elaboração dos planos se arrastasse por vários anos e depois de
aprovados pelas Câmaras, não tivessem consequências práticas.
Nos anos 90, surgiram o Plano Diretor de S. Vicente, PDU de Vila de Santa Maria,
PDU de Vila dos Espargos, PDU da cidade S. Filipe, da Vila Assomada, Vila de Pedra Badejo
e outros estudos, como esquema estrutural do PDM da Praia, da Boavista.
Assim, passamos de uma situação de ausência para outra de estudos limitados sem
consequências práticas. Esses estudos poucas vezes eram divulgados e não tinham em conta a
concertação com a população. Neste sentido, os planos elaborados na altura pouco
contribuíram para apaziguar os problemas de então, nomeadamente indefinições da legislação
em matéria de propriedade e uso do solo; dificuldade de expropriação para melhoramentos
urbanos (dotação de equipamentos, infraestruturação e disponibilização de solos); e
loteamentos.
172
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Actualmente quase todos os municípios estão a elaborar o seu PDM (quadro 44),
encarados como instrumento importante para fazer face às disfunções territoriais e ao
desordenamento existente. Neste momento há 11 Planos Diretores Municipais homologados.
173
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Municípios Fase
174
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: DGOTDU
175
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
são subprodutos das fragilidades institucionais que o país enfrenta em matéria de planeamento
territorial.
176
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O sistema de gestão territorial, tal como está estipulado na LBOTPU, não tem sido
cumprido, sendo mais avançado do que a prática que dele é feita. O país mostra incapacidade
para cumprir todos os princípios consagrados na LBOTPU. O Ordenamento do Território,
enquanto política pública, em virtude das muitas fragilidades políticas, administrativas e
financeiras, revela-se pouco consistente. Também aqui, usando a expressão de FERRÃO
(2011), podemos dizer que o ordenamento do território se revela “uma política fraca”. Ora
num país com um território exíguo, fragmentado e com constrangimentos físicos múltiplos,
que reduzem de modo significativo as áreas com ocupação humana, a existência de uma
rutura entre o discurso formal de política de ordenamento do território e das suas práticas
pode conduzir à degradação dos recursos básicos e á agudização de problemas territoriais de
recuperação difícil. Assim, importa reajustar os objetivos ás capacidades reais de intervenção,
definir uma visão estratégica a perseguir de modo consistente, clarificar as prioridades de
intervenção e a calendarização das metas.
178
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Do conjunto das ilhas, Santiago era a menos desfavorecida, a maior, tinha bons portos
e contava com boas nascentes de água doce. Por essa altura, deu-se o povoamento da atual
cidade de S. Filipe, na ilha do Fogo (BOLENO, 2001). Por volta de 1516, a Praia surge com a
designação de vila, embora com crescimento lento ao longo do século XVI, mas acaba por
suplantar a Ribeira Grande. No século XVI inicia-se o povoamento das ilhas de Santo Antão e
de S.Nicolau. As restantes ilhas seriam povoadas a partir do século XVII. Como caraterística
marcante dessa ocupação evidenciava-se a concentração urbana litorânea.
Em 1858, a vila da Praia de Santa Maria foi promovida à categoria de cidade, que
desde cedo contou com órgãos de poder formalmente instituídos e teve o comércio como a
sua principal atividade económica. Posteriormente, a cidade do Mindelo ganharia uma
posição geoestratégica na escala de navegação, o que permitiu o desenvolvimento desse
centro urbano a Norte do arquipélago. Assim, a Norte do país, Mindelo torna-se o principal
centro urbano, enquanto a Sul a cidade da Praia ganha maior destaque.
SILVA, 2002). E, de uma forma geral, a perda de população de áreas mais deprimidas para as
de maiores oportunidades.
No período colonial, Cabo Verde era fundamentalmente rural, mas este cenário
mudou. Assim, acompanhando a tendência mundial, verifica-se uma intensificação do
fenómeno da urbanização. A população urbana passou de 35,5% em 1980 para 45,9% em
1990 e 53,9% em 2000. Segundo os dados do censo 2010, aquele valor é agora de 62%. Isto
é, em cada 100 cabo-verdianos, cerca de 62 vivem no meio urbano. Porém, esta taxa de
urbanização elevada é, em parte, fictícia, pois resulta de uma classificação administrativa de
cidades que não reúnem os requisitos demográficos, funcionais e económicos indispensáveis
aquele estatuto.
Fonte: INE
180
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: INE
181
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
De seguida são analisadas as caraterísticas gerais das 24 cidades do país (do ponto de
vista de localização, estrutura espacial, habitação, infraestruturas, adequação dos
equipamentos face ao crescimento da última década, qualidade do espaço público,
organização do comércio). A sequência das cidades é apresentada seguindo a lógica da
disposição das ilhas de norte para sul.
Ribeira Grande/ Localizada no litoral nordeste da ilha de Santo Antão, é o segundo núcleo mais
Ribeira Grande importante da ilha (3.328 habitantes), com funções políticas e administrativas, e com
alguma concentração de equipamentos públicos e privados. Os espaços verdes de
outros tempos tem vindo a diminuir em virtude da urbanização. A sua orografia, cria
condições físicas difíceis para o crescimento urbano. Trata-se de uma cidade bastante
vulnerável aos riscos naturais. As condições de habitação são globalmente
deficientes. O sistema de recolha e tratamento das águas residuais é precário. Exígua
cobertura de rede de saneamento e ausência de recolha seletiva e tratamento de
resíduos sólidos. O comércio é organizado.
182
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ribeira Grande Sede do concelho de Ribeira Grande de Santo Antão, com 1.300 habitantes, é a
de Santo Antão/ cidade mais a norte de Cabo Verde. Dispõe de funções administrativas e alguma
concentração de equipamentos. A cobertura de equipamentos é razoável face ao
Ponta do Sol
crescimento populacional. Escassez de espaços de lazer e de áreas verdes. Não existe
recolha seletiva nem tratamento de resíduos sólidos. Tem edifícios emblemáticos. O
comércio é organizado.
Paúl/ Cidade litoral, com 1.263 habitantes, tem o mar e as altas montanhas como limites,
Pombas que determinam a configuração urbana. Muitas construções estão demasiadas
próximas do mar e das falésias. Trata-se de uma urbe de ruas estreitas com
caraterísticas rurais. O crescimento da área construída tem sido rápido, mas com
escassa possibilidade de expansão devido à orografia do terreno. Tem bairros de
condições precárias e insalubres. Insuficiência de equipamentos públicos. A cobertura
de rede de abastecimento de água é reduzida. O Sistema de recolha e tratamento das
águas residuais é precário. Não existe recolha seletiva nem tratamento de resíduos
183
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Localizada à volta da baia natural de Porto Grande, é a segunda maior cidade do país
S. Vicente/ (70.468 habitantes), com cerca de 14% da sua população e 90% da população da ilha
de São Vicente. A seguir a Praia, é o centro mais importante com concentração de
Mindelo equipamentos estruturantes, de empresas e serviços. Com arquitetura portuguesa e
britânica, é património histórico nacional. Crescimento urbano acelerado, com grave
défice habitacional e um elevado número de construções informais na periferia. Em
termos gerais a cobertura de equipamentos é razoável face ao crescimento
populacional. Escassez de espaços públicos, incluindo áreas verdes, sobretudo na
periferia da cidade. Insuficiência de rede de saneamento e incorreto tratamento de
resíduos urbanos, não existindo recolha seletiva nem tratamento. Coexistência do
comércio organizado e informal (de rua).
184
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ribeira Brava/ Localizada na região central da ilha de S.Nicolau, ao longo de uma ribeira com o
Ribeira Brava mesmo nome, e encravada na cordilheira de montanhas que domina a região. A
orografia compromete a expansão urbana. É o núcleo urbano mais importante da ilha,
sendo um pólo administrativo, económico-financeiro e comercial com delegações e
serviços desconcentrado do estado. Apresenta uma arquitetura do tipo
colonial/português, e edifícios emblemáticos. Trata-se de uma cidade bastante
vulnerável aos riscos naturais. A cobertura de equipamentos é razoável face ao
crescimento populacional. Carência de espaços de lazer. Tem deficientes condições
habitacionais e de infraestruturas de saneamento. O comércio é organizado.
Tarrafal de Localizada num terreno plano, tem o mar como um dos seus limites. É o segundo
S.Nicolau/ núcleo urbano em importância da ilha de S.Nicolau (3.766 habitantes). Tem
condições para a expansão urbana. Insuficiência de equipamentos. Escassez de
Tarrafal
espaços de lazer e áreas verdes. Deficientes condições habitacionais e de
infraestruturas de saneamento. O comércio é organizado.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Sal/ Cidade costeira situada no sul da ilha do Sal, de cariz turística balnear, com 5.772
Santa Maria habitantes. Núcleo urbano com maior concentração de hotéis do país (5.712 camas).
Caracterizado por um traçado geométrico. A cobertura de equipamentos é razoável
face ao crescimento populacional. Escassez de espaços de lazer e áreas verdes. Há
uma desadequação da infraestrutura geral e de oferta de habitação ao acréscimo do
turismo, e ao crescimento acelerado do centro urbano, em parte devido ao grande
fluxo de imigrantes. Comércio organizado e informal, este último sobretudo dos
imigrantes da costa ocidental africana.
186
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Boavista Localizada numa elevação costeira, possui pouco mais de 50% da população da ilha
Sal Rei (5.407 habitantes). Tem um crescimento bastante superior ao da média nacional, em
parte devido ao fluxo de imigrantes, decorrente do desenvolvimento da atividade
turística. Concentra a maior parte das infraestruturas e equipamentos da ilha.
Apresenta uma malha urbana mais ou menos regular, mas a qualidade arquitetónica
diminui com o afastamento do centro. A cobertura de equipamentos é razoável face
ao crescimento populacional. Escassez de espaços de lazer e áreas verdes Não existe
tratamento de resíduos sólidos nem rede de esgotos municipal. A infraestrutura geral
está desajustada ao aumento dos fluxos turísticos e ao crescimento acelerado do
centro urbano. A oferta do mercado de habitação não tem acompanhado o
crescimento populacional acelerado As condições da habitação na ilha são bastante
mais precárias que no resto do país. Há graves problemas de alojamento para a
população de baixo rendimento e para trabalhadores da indústria hoteleira. Os bairros
informais assumem dimensão preocupante (área ocupada e número de alojamentos).
São quase 1000 agregados familiares a viver nesses bairros, totalizando mais de 3000
mil pessoas. Comércio geralmente organizado e informal.
Maio/ Maior aglomerado da ilha do Maio (2.982 habitantes), onde se concentram as funções
Porto Inglês mais centrais. A sua estrutura é de tipo matricial imperfeito. No edificado sobressai a
habitação unifamiliar isolada. A taxa de crescimento é exígua, pois não há pressão
para o aumento do parque habitacional. A cobertura de equipamentos é razoável face
ao crescimento populacional. Escassez de espaços de lazer e áreas verdes Deficiente
infraestruturação geral: o Porto Inglês carece de redes de infraestruturas de
saneamento básico e de evacuação de águas pluviais e os resíduos são depositados a
céu aberto numa lixeira na zona de Volta Grande, próximo da estrada e junto de uma
linha de água. Comércio organizado e informal.
187
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Tarrafal de Com 6.177 habitantes, está localizada entre a via central e o promontório litoral, com
Santiago/ uma malha urbana ortogonal, constituída por ruas em direção ao mar. Alberga uma
das praias mais bonitas do país e uma atividade piscatória de cariz familiar. A
Tarrafal cobertura de equipamentos é razoável face ao crescimento populacional. Escassez de
espaços de lazer e de áreas verdes. É servido por uma rede de esgoto ligada a uma
Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). O lixo é transportado para a
lixeira municipal a céu aberto No que diz respeito às condições de saneamento,
constata-se uma forte precariedades das habitações. Os bairros periféricos da Cidade
do Tarrafal, Chão Bom e as zonas rurais são os que apresentam situações mais
precárias em termos de habitabilidade. Comércio organizado e informal
188
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
S. Miguel/ Com 4.220 habitantes, está localizada ao longo de via estruturante de litoral,
Calheta onde estão a administração e os principais serviços públicos do concelho de S.
Miguel. A cobertura de equipamentos é razoável face ao crescimento
populacional. Não há assentamentos informais, mas existem habitações com
deficientes condições estética e de habitabilidade. Escassez de espaços de lazer
e áreas verdes. Não existe rede de esgotos, recolha seletiva nem tratamento de
resíduos sólidos. Comércio organizado e informal.
189
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
São Domingos/ Cidade com caraterísticas rurais (2.583 habitantes), desenvolve-se ao longo de
Várzea da Igreja via estruturante da ilha de Santiago. A dotação de infraestruturas e
equipamentos públicos é fraca. Escassez de espaços de lazer e de áreas verdes.
Não existe rede de esgotos nem recolha seletiva e tratamento de resíduos
sólidos. Desqualificação do parque habitacional, em termos de salubridade e
em termos construtivos. Comércio organizado e de rua.
Localizada no sul da ilha de Santiago, tem o mar como um dos seus limites. É
Praia/ Capital de Cabo Verde, com uma dimensão (127.899 habitantes) e um papel
polarizador diferenciado dos restantes aglomerados. Concentra cerca de 1/3 da
Praia população do país. É o concelho com maior saldo migratório. Aí estão sediados
todos os órgãos de soberania, embaixadas e representações internacionais e o
essencial da administração pública e da atividade empresarial. É o centro com
dotação de equipamentos estruturantes, mas a cidade é marcada por uma
periferia com extensas manchas de habitações informais, onde a qualidade
urbanística é baixa. A cobertura de equipamentos é razoável face ao
190
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ribeira Grande de Localizada no litoral sudoeste da ilha de Santiago, foi a primeira cidade
Santiago/ construída pelos europeus nos trópicos e a primeira capital de Cabo Verde.
Tem um valioso património arquitetónico, sendo património mundial da
Santiago de Cabo
humanidade. Com 1.214 habitantes, apresenta caraterísticas rurais, com fraca
Verde infraestruturação e equipamentos público, estando dependente da cidade da
Praia. Insuficiência de espaços de lazer. Existência de habitações informais
mas não em grande número, mas há habitações com grandes problemas de
habitabilidade. Não existe rede de esgotos nem recolha seletiva e tratamento de
resíduos sólidos. Comércio organizado.
191
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Santa Catarina/ Localizada no centro da ilha de Santiago, é o segundo maior centro urbano da
Assomada ilha (12.026 habitantes), com concentração de atividades comerciais e de
serviços. Num misto de cidade-campo, é um importante pólo comercial. O
comércio assume um papel importante na cidade, com muito comércio
informal de rua. No centro da cidade encontramos uma forte presença de
edificado do tipo colonial português. Construções informais na periferia. Com
cobertura razoável de equipamentos face à demanda populacional, escasseando
espaços públicos de lazer. Presença de uma universidade de cariz privada.
S. Lourenço dos Localização ao longo de via estruturante do centro da ilha de Santiago, tem
Órgãos/ 1.699 habitantes e caraterísticas rurais. Não obstante não se verificar bairros de
construções informais, nota-se falta de planeamento dos espaços existentes.
João Teves
Alguma degradação das habitações. com fraca infraestruturação e
equipamentos públicos. Escassez de espaços de lazer. A população usa
maioritariamente os equipamentos do município de Santa Catarina e também
da cidade da Praia. Não existe rede de esgotos nem recolha seletiva e
tratamento de resíduos sólidos. Comércio organizado e de rua.
192
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
S. Filipe/ Situado no sudoeste da ilha do Fogo, virada para o mar, é uma das primeiras
S. Filipe cidades de Cabo Verde. Núcleo urbano mais importante da ilha (8.125
habitantes) com concentração de equipamentos, empresas e serviços. No centro
da cidade há uma forte presença de edificado do tipo colonial português. A
cobertura de equipamentos é razoável face ao crescimento populacional.
Escassez de espaços de lazer.
193
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Santa Catarina do Aglomerado mais importante do concelho de Santa Catarina do Fogo, com 659
Fogo habitantes. Cidade com forte índice de ruralidade. Tende a expandir-se em
todas as direções, com altos custos para a infraestruturação. Fraca presença de
Cova Figueira equipamentos coletivos. Escassez de espaços de lazer. As condições de
habitação são geralmente deficientes. A infraestruturação básica é deficitária.
A cobertura por rede de água é reduzida, não há rede de esgotos nem recolha
seletiva nem tratamento de resíduos sólidos. Comércio em mercearias e
ambulante.
194
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O défice habitacional é um dos problemas mais graves do país. Afeta todas as áreas
urbanas e sobretudo os estratos de população de menor rendimento.
Estudo elaborado pela IFH em 2008 (IFH - Diagnósticos do setor da habitação, 2008),
estimavam na altura, em cerca de 40 mil fogos o défice básico ou quantitativo, sendo 70,7%
195
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Os dados do estudo da IFH revelam que o défice é superior nas ilhas de maior
dinâmica económica e de maior oportunidade de emprego, como são os casos de Santiago,
São Vicente, Sal. A ilha da Boavista atualmente junta-se às ilhas já referidas, sendo a ilha com
196
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
6
Segundo INE, entende-se por Barraca – unidade de alojamento construída com restos de material não definitivo.
Inclui-se nesta modalidade as casas de lata/bidão/tambor e as construções feitas com madeira aparelhada, que não
tenha sido previamente preparada para esse fim (habitações de operários construídas normalmente com tábuas
destinadas a cofragens).
197
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A carência é maior a nível de ligação à rede de esgotos (atinge 80,5% das habitações).
Com exceção de S.Vicente, em todos os Municípios mais de 65% das famílias habitam em
casas sem rede de esgotos.
Quadro 48 – Famílias que habitam casas sem esgoto por Município e meio de residência,
2010
Meio de residência
Total
Concelho Urbano Rural
Nº % Nº % Nº %
Ribeira Grande 754 65,4 3283 98,7 4037 90,1
Paul 232 75,6 1225 93,9 1457 90,4
Porto Novo 1508 71,5 1639 98,6 3147 83,5
S. Vicente 4748 26,9 1139 96,9 5887 31,2
Ribeira Brava 586 100,0 1428 100,0 2014 100
Tarrafal de S. Nicolau 880 100,0 362 100,0 1242 100
Sal 5134 95,9 334 78,2 5468 94,6
Boavista 1651 100,0 808 100,0 2459 100
Maio 872 100,0 1013 100,0 1885 100
Tarrafal 1342 89,8 2595 98,0 3937 95,1
Santa Catarina 2111 96,7 5804 98,9 7915 98,3
Santa Cruz 1608 81,1 3419 98,9 5027 92,5
Praia 23556 78,8 678 99,7 24234 79,2
S. Domingos 538 100,0 2130 100,0 2668 100,0
S. Miguel 932 100,0 2555 100,0 3487 100,0
S. Salvador do Mundo 292 100,0 1394 100,0 1686 100,0
S. Lourenço dos Órgãos 342 100,0 1099 100,0 1441 100,0
Ribeira Grande de Santiago 253 100,0 1401 100,0 1654 100,0
Mosteiros 853 100,0 1340 100,0 2193 100,0
S. Filipe 1987 100,0 2974 100,0 4961 100,0
Santa Catarina do Fogo 139 100,0 961 100,0 1100 100,0
Brava 306 100,0 1257 100,0 1563 100,0
Total 50624 70,5 38838 98,9 89462 80,5
INE, censo 2010
No meio urbano 70,5% dos alojamentos não estão ligados à rede pública de esgotos,
revelando a precariedade de evacuação de águas residuais. A rede de esgotos não abrange 13
das 24 cidades do - Tarrafal de S.Nicolau, Ribeira Brava (S.Nicolau), Porto Inglês (Maio), Sal
Rei (Boavista), Cidade de Santiago, Calheta, João Teves, Achada Igreja, Várzea da Igreja
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
(Santiago), Igreja, Cova Figueira, S. Filipe (Fogo) e Nova Sintra (Brava). Quando existe, a
cobertura é baixa. A situação mais favorável ocorre em S.Vicente. As fossas sépticas são
utilizadas em 48,1% dos alojamentos, mas apresentam baixo rendimento na depuração das
águas residuais e são suscetíveis de causar danos à qualidade da água, quando colocados
próximos de aquíferos subterrâneos. As estações de tratamento de águas residuais (ETAR)
existem somente nos seguintes centros urbanos: Praia, Mindelo, Santa Maria, Tarrafal e Pedra
Badejo (Plano Nacional de Saneamento, 2010). Nas restantes situações os esgotos são
lançados ao mar ou na natureza sem qualquer tratamento.
No país, 36,7% das famílias vivem em casas sem casa de banho. Cerca de 25% dos
alojamentos em meio urbano (17.824) não têm instalações sanitárias e 45,5% (32.781) não
têm instalações de banho ou duche. Ainda a nível da evacuação das águas residuais, o redor
da casa é utilizada por 36,3% da população urbana (28.158 agregados familiares) e a natureza
(mar, ar livre, céu aberto) é utilizado por 13,6% dessa população (10.548 agregados
familiares). Portanto, uma parte significativa da população urbana não tem acesso a um
serviço mínimo e adequado de evacuação das águas residuais, recorrendo à natureza para a
satisfação das suas necessidades, com todos os problemas ambientais associados,
repercutindo-se na salubridade ambiental e na qualidade de vida.
De acordo com os dados do Censo 2010, 38,6% dos alojamentos em meio urbano
(27.827) não têm acesso à rede pública de água canalizada. A franja da população desprovida
de ligações domiciliárias abastece através de chafarizes/fontanários ou autotanques, onde o
preço é maior. A água para o abastecimento público provém, na sua grande maioria, de águas
subterrâneas (furos e nascentes), com exceção dos centros urbanos das ilhas de Sal, S.Vicente
e Boavista, sobretudo abastecidas a partir de água dessalinizada. Cerca de 20,1% dos
alojamentos em meio urbano não possuem cozinha e 10% não tem acesso a eletricidade. O
fornecimentos de água e eletricidade são marcados por uma grande irregularidade, devido ao
subdimensionamento face às necessidades. Por outro lado, o estado defeituoso e obsoleto de
grande parte das redes de distribuição possibilita perdas consideráveis.
Cerca de 40% dos edifícios clássicos em meio urbano não estão concluídos, 18% estão
revestido com reboco mas sem pintura, 23% apresenta-se sem revestimento e com bloco à
vista e 2,7% sem revestimento, e com pedra à vista. Estes dados explicam em parte o
“cinzentismo” que prejudica a imagem e qualidade urbanística das cidades cabo-verdianas. As
habitações inacabadas e também a sua má qualidade são marcas vincadas das habitações
urbanas.
199
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Praia
Somente 21,5% no meio urbano utilizam o carro do lixo. Aos contentores têm acesso
71,1% da população, mas em condições de deposição a céu aberto e precária. O redor da casa
é usado por 0,9% dos agregados familiares (706), para além de outros meios como a natureza
(2,9%, 2.227 agregados familiares).
200
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
201
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A ocupação informal atinge várias cidades de Cabo Verde, com destaque para a Praia,
Mindelo, Espargos e Sal Rei. Embora com dimensões variáveis, nesses centros surgem
assentamentos informais à margem de qualquer processo de planeamento, com construções
efetuadas sem licença legalmente exigida, incluindo as realizadas em terrenos loteados
ilegalmente (terrenos privados, do estado e das autarquias locais).
202
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Sal Rei e Espargos são dois centros urbanos localizados nas ilhas turísticas de
Boavista e Sal, respetivamente, onde a ocupação informal tem dimensão preocupante e em
crescimento (em área urbana e número de fogos).
203
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O bairro teve início com a construção de barracas (construções precárias, tendo sido
denominado bairro da Barraca), mas rapidamente surgiram edifícios unifamiliares mais
sólidos (tijolo e cimento).
204
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Figura 79 – Acumulação de resíduos sólidos nos arredores do Bairro das Salinas - Sal Rei
O bairro cresceu sob uma salina, com infiltração de água do solo e por isso quando
chove a terra não seca. Não existem infraestruturas que permitam o escoamento da água,
sendo frequente o alagamento de ruas e casas.
Na ilha do Sal as construções informais estão dispersas pela ilha, estimadas em 320
alojamentos, com maior concentração nos bairros periféricos da cidade de Espargos,
nomeadamente em Alto de Santa Cruz (130) e Alto São João (110), com elevada proporção
de barracas de materiais provisórios como chapa/lata (7 em cada 10), que emergiram no final
da década de setenta, em consequência do intenso fluxo migratório gerado pela oferta de
emprego no ramo aeroportuário. As condições de habitabilidade são muito precárias, com
ausência de rede de infraestruturas de saneamento básico, o que acarreta sérios problemas
ambientais. A permanência de hábitos rurais é outra evidência nesses assentamentos, como a
criação de animais ao redor ou no interior da habitação.
205
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
207
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
planeamento prévio representam ~8 km2 (57%), dos quais 3 km2 (21%) pertencem a áreas
não objeto de planeamento prévio mas em progressiva consolidação, e 5 km2 (36%) de
superfície pertencentes aos bairros de crescimento informal mais recentes (maioritariamente
construções clandestinas). A área informal da cidade aumentou mais de 120% entre 1990 e
2010.
208
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Quadro 49 - Imóveis a construir por municípios até 2014 no âmbito do programa Casa para
Todos
Ilhas Municípios Classe A Classe B Classe Total
C
Boavista Boavista 350 300 150 800
Brava Brava 60 60 30 150
Mosteiros 50 50 25 125
Fogo São Filipe 80 80 40 200
Santa Catarina Fogo 30 30 15 75
Maio Maio 75 75 25 175
Paul 70 60 20 150
Santo Antão Porto Novo 100 100 50 250
Ribeira Grande 60 60 30 150
Sal Sal 450 350 200 1000
Praia 900 750 350 2000
Ribeira Grande de Santiago 100 75 25 200
Santa Catarina 250 250 125 625
Santa Cruz 150 125 75 350
São Domingos 140 115 70 325
Santiago São Lourenço dos Órgãos 50 50 25 125
São Miguel 50 50 25 125
São Salvador do Mundo 50 50 25 125
Tarrafal 50 50 25 125
S.Nicolau Ribeira Brava 50 50 25 125
Tarrafal 85 85 30 200
S.Vicente S.Vicente 500 350 150 1000
Total 3700 3165 1635 8400
Fonte: MDHOT
Classe A – família com rendimento mensal entre 0 e 40 mil escudos
Classe B - família com rendimento mensal superior a 40 mil escudos até 100.000 escudos
Classe C - família com rendimento mensal superior a 100.000 escudos até 180.000 escudos
O custo dos imóveis para classe A situa-se entre 2000 e 2750 contos. Se a família for
classificada como classe A, pode obter uma habitação através do arrendamento social, do
arrendamento resolúvel (com opção de compra ao fim de 10 anos de contrato), ou por compra
com empréstimos bancário, mediante os fundos de estado e o fundo de garantia se for
elegível. Sendo a lógica da IFH e do Governo a sustentabilidade do programa, a questão que
se levanta é a exequibilidade da entrega de habitação às populações de baixo rendimento ou
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
sem rendimento que não podem pagar (desempregados ou pessoas com empregos precários)
ou a mobilização de recursos para subsídios.
O programa “Casa para Todos” (designação do nosso ponto de vista infeliz pelas
expectativas que gera), está baseado no princípio de habitação de interesse social. Trata-se de
um programa estrutural que vai mudar pela positiva a face de muitas cidades do país. Porém,
poderá ter dificuldades de sucesso no estrato populacional de baixos rendimentos. Por outro
lado, pensamos que o programa na sua vertente de construção de novas unidades poderia ter
sido articulado com os assentamentos informais existentes, servindo este como alternativa de
realojamento para debelar em parte esses assentamentos, em particular os situados em áreas
de risco. Entendemos que o programa não garante a continuidade de uma política realmente
social de habitação, não obstante o seu valioso contributo para a redução do défice e oferta
alojativa.
214
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ao longo dos anos tem faltado mecanismos que garantam a função social da
propriedade. Nos centros urbanos a iniciativa fundiária municipal, entendida como a
infraestruturação, produção e oferta de solo urbanizado, é diminuta. A produção direta do solo
urbanizado por parte das Câmaras é praticamente inexistente como política programada. Não
tem havido intervenções de maneira estruturada e em larga escala. As atuações das câmaras
têm tido atuações quase sempre pontuais, fragmentadas, sem visão estratégica. Parece-nos
evidente que não é sustentável abordar a complexidade do problema da habitação e dos
assentamentos informais com medidas avulsas e dispersas.
As iniciativas de construção de habitação social por parte das câmaras municipais têm
sido inexpressivas. Na cidade da Praia, onde o problema é mais grave, a construção de
habitações sociais não chega a uma centena (Achada Grande, Bela Vista, Tira-chapéu,
Achada Mato), agudizado pelo facto de muitas dessas áreas habitacionais não serem
completadas com equipamentos e infraestruturas, e ao longo dos anos não ter havido uma
215
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
gestão adequada, fazendo com que as mesmas se tenham degradado, integrando atualmente a
contabilidade do défice habitacional.
Porém, não são apenas necessários meios financeiros para garantir a permanente
disponibilidade do solo municipal para os diferentes usos; os meios organizativos, técnicos,
políticos são igualmente importantes. E nestas vertentes os municípios apresentam ainda
muitas fragilidades. Sem terrenos, as Câmaras não conseguem evitar a morosidade na decisão
quanto à oferta de solo urbanizável – em tempo e local oportuno, o que contribui para a
procura da alternativa informal.
216
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Por outro lado, a lógica predominante durante muito tempo foi construir primeiro e
urbanizar depois, ou seja, as infraestruturas andam sempre a reboque das construções. A
proposta do regime jurídico de loteamento em fase final de elaboração pretende resolver este
problema, obrigando as câmaras a urbanizar antes da construção, uma disposição que tem
tanto de necessário como de desagrado dos municípios que alegam não ter os meios para a sua
aplicação. Porém, a ausência de planeamento e execução prévia da infraestruturação urbana
tem tido consequências negativas para as comunidades, nomeadamente nas deficientes
condições de habitabilidade e de salubridade do meio, afetando a qualidade de vida das
populações.
A localização inadequada de muitas áreas urbanas e a falta ou insuficiência, ou
subdimensionamento das infraestruturas, tem na ausência de planeamento uma das principais
causas, prevalecendo iniciativas avulsas geradas pelas dinâmicas económicas e sociais. Os
problemas associados a assentamentos informais exigem intervenções integradas, sobretudo
nos conjuntos espontâneos com maior dimensão e com implicações a nível do ordenamento
do território, sendo necessária a elaboração de planos de reconversão e a oferta de alternativas
para realojamento, quando necessário.
Enquadrada por uma política de solos por forma a definir claramente o papel não
apenas na gestão do solo, mas também no uso do solo, acesso, direitos, transferência, as
câmaras devem criar reservas fundiárias para promover a urbanização formal, incluindo
programas habitacionais, sobretudo para as camadas mais desfavorecidas. A inclusão social
deve ser a base para as estratégias apropriadas de gestão do solo urbano e tem que ser baseada
nos direitos claros ao solo: acesso e posse. São os pobres urbanos que mais sofrem com uma
cidade defeituosa. “Ordenar e qualificar a cidade exige uma política fundiária forte: perene e
persistente; inventiva; perspetivada de forma global, mas aplicada especialmente a cada uma
das diversas partes da cidade; articulando uma multitude de propriedades, agentes, recursos e
dinâmicas, públicos e privados; utilizando, de forma complementar instrumentos impositivos,
incentivadores, associativos e negociais” (CARVALHO, 2003:287).
E de uma forma mais geral tem faltado um verdadeiro projeto de cidades. Este projeto
que, segundo FERREIRA (2005:124), “unifica diagnóstico, coordena atuações públicas e
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A ausência de um cadastro predial que garanta a correta identificação dos prédios, com
as respetivas confrontações, tem tido impactos negativos na gestão do território, dos recursos
fundiários e do desenvolvimento local, nomeadamente: confusão dos registos e levantamentos
cadastrais, gerando conflitos no que respeita à problemática da titularidade do solo, demora
nos atos administrativos de registo e do licenciamento das obras, procedimentos lentos e
embaraçosos de transação da propriedade, falta de segurança no trânsito jurídico da
propriedade e especulação imobiliária. O Governo decidiu trabalhar na Montagem do Sistema
Nacional de Cadastro Predial, numa abordagem ambiciosa e que impõe importantes desafios,
nomeadamente no que diz respeito ao custo, manutenção, segurança, atualização, qualidade
dos dados, capacidades, questões relacionadas com a governânça e articulação e
funcionamento das instituições. Além do mais são projetos que recorrem a fundos
estrangeiros e nesta ótica podemos levantar a questão da sua sustentabilidade.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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Decreto n.º 130/88, de 31 de Dezembro (já revogada)
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Os valores praticados são excessivos até para a classe média (o salário mínimo, ainda
inexistente, mas equacionado, é a volta de 10 contos e o salário base de um técnico licenciado
na função pública é de 65 contos mensais) e são insuportáveis para uma população fragilizada
em termos económicos. A maior parte da população não suporta os custos ligados à
valorização fundiária, em crescimento. A especulação no acesso ao mercado do solo é grande
e continua a aumentar. A promoção imobiliária tem sido sobretudo privada, que tem uma
política direcionada para estratos sociais médio e altos e não estão interessados em construir
habitações a baixo custo para famílias de baixo rendimento, acentuando as diferenças sociais.
O estado não intervém na regulação dos preços e no combate à especulação, não sendo
cobradas as mais-valias resultantes da valorização fundiária, que são cativados na sua
totalidade pelos privados, permitindo aos promotores a apropriação de importantes lucros. O
controlo sobre o mercado imobiliário é inexistente bem como a ligação entre o planeamento
do uso do solo, o mercado imobiliário, a economia e a fiscalidade.
220
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
drogas8, provocando a escassez do solo e aumento do seu valor. E para evitar a especulação e
garantir o correto ordenamento do território, a câmara deve, como refere CARVALHO
(2003), apresentar alternativas à iniciativa privada, quer seja legal ou clandestina.
8
Ficou provado nos casos judiciais no país o envolvimento ilícito de empresas imobiliárias e onde arguídos foram
condenados a penas pesadas e obrigados a devolver os bens adquiridos ilegalmente.
221
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O despovoamento das áreas rurais e das ilhas mais deprimidas, em favor dos principais
centros urbanos do país, tem sido progressivo e as autoridades mostram grandes dificuldades
em controlar a expansão urbana. A maioria dos municípios não dispõe de políticas urbanas
consistentes nem de instrumentos e mecanismos de programação e gestão urbanística. A
ausência e ineficiência do planeamento, a falta de políticas de habitação e de solos, os
elevados preços de solo no mercado formal, as condições pouco favoráveis de financiamento,
a fraca iniciativa fundiária municipal, a morosidade na decisão quanto à oferta de solo
urbanizável, a atuação casuística das autarquias, a gestão negligente, e a insuficiência de
cooperação entre a administração central e local, em conjugação com a atuação dos privados,
a falta de uma (verdadeira) vontade política para resolver esses problemas de uma maneira
estruturada e em larga escala configuram-se como fatores determinantes no entrave ao
ordenamento urbano e acesso ao solo e habitação em áreas urbanas, bloqueando o
cumprimento do preceito constitucional do Direito à Habitação.
O crescimento acelerado da população urbana não tem sido acompanhado por medidas
eficazes para a diminuição efetiva das carências. As atuações têm sido dispersas e casuísticas
e pouco articuladas com a política global de urbanismo e de ordenamento do território,
sobretudo a nível municipal. A ausência de uma visão de futuro e da ação por antecipação e
de políticas de solo tem comprometido a construção de cidades organizadas, mais equilibradas
e inclusivas.
222
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
223
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Em Cabo Verde o conceito de orla costeira não está definido. Apenas os conceitos de
orla marítima e de Domínio Público Marítimo têm enquadramento na legislação nacional.
Segundo a Lei nº 44/VI/2004, de 2 de Julho (que define e estabelece o regime jurídico dos
bens do domínio público marítimo do Estado), na sua arte. 3º, pertencem ao domínio público
marítimo, a orla marítima, compreendendo as praias e os terrenos das costas, enseadas, baías
contíguos à linha da máxima preia-mar, numa faixa de 80 metros, também estipulado na Lei
dos Solos (BO I Série, nº 26 – Decreto – Legislativo nº 2/2007) no Capítulo II – Domínio
Público do Estado, ponto 1, Arteº 10, alínea f).
Porém, a faixa dos 80 metros ainda não está delimitada em cartografia oficial,
tornando pouco claro o âmbito territorial de aplicação dos respetivos regimes de proteção.
Para além disso são adotados os mesmos parâmetros de delimitação (fixos) a nível nacional,
esquecendo a grande diversidade geomorfológica, Eda fó-climática, hidrológica e hidráulica,
e de povoamento, que justifica a necessidade de adaptação das soluções de ordenamento do
território às diferentes áreas.
Assim, no contexto desta investigação entendemos a orla costeira como interface entre
a terra e o oceano, numa faixa de intervenção de 300 metros, englobando o domínio público
marítimo.
Em Cabo Verde a orla costeira apresenta uma grande diversidade, devido ao facto das
ilhas serem muito diferentes em termos de dimensão, orografia e extensão da linha da costa. A
extensão da orla costeira nacional é de cerca de 1017 Km.
224
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Nessa zona existe uma importante biodiversidade marinha e terrestre, falésias e praias
de grande sensibilidade biofísica, corredores de areia de alto valor ecológico e paisagístico,
locais de nidificação de tartarugas e aves. Aqui estão grande parte dos ecossistemas mais
valiosos e frágeis a conservar (LIMA, 2008; LIMA e MARTINS, 2009).
A importância das zonas costeiras tem sido traduzida numa pressão crescente sobre o
ambiente. A falta de recursos origina pressões sobre os recursos naturais. De entre as
atividades desenvolvidas com impactos na orla costeira, destaca-se a ocupação residencial,
industrial e turística e a extração de areia.
Cabo Verde enquadra-se nos países em que a maior parte da sua população se reside
na faixa costeira. Embora o seu litoral não esteja muito alterado, encontra-se na categoria de
alterado (figura 86).
225
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
226
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
“A pequena superfície de ilhas como por exemplo as dos arquipélagos de Cabo Verde e dos
Açores, e o elevado comprimento relativo da sua faixa costeira, os contrastes fisiográficos entre franja
litoral e região interior destas, levam-nos facilmente a perceber que a linha de costa deste tipo de ilhas
tem importância particular na vida quotidiana dos insulares. Com efeito, o litoral muitas vezes
representa uma das poucas parcelas de terra que ofereceu e muitas vezes oferece ainda as melhores
condições para a fixação do Homem, apesar dos perigos inerentes à proximidade do oceano”
(BORGES, LAMEIRAS e CALADO, 2009:67-68).
9
Decreto Lei 2/2007, de 19 de Julho – Lei dos solos, art.13º
10
Art. 11º alínea 1 da Lei nº 44/VI/2004, de 2 de Julho
227
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Figura 87 – Implantação de um hotel com centro comercial (de 6 pisos) no domínio público
marítimo - Cidade da Praia
228
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
229
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A verdade é que, os efeitos das alterações climáticas são hoje uma realidade
preocupante para os territórios insulares. O seu impacto na zona costeira pode ser devastador
sobretudo na presença de eventos extremos. E a tendência é para mais e mais intensos eventos
extremos. Apesar de a administração dispor já de Estratégia Nacional e Plano de Ação sobre
as Mudanças Climáticas (2001), não são ainda visíveis no terreno medidas de precaução em
matérias relacionadas com ocupação urbana na orla costeira. Porém, mesmo se não é possível
estar certo da quantidade e escala do dano, é melhor “estar no lado seguro” (HEALEY, 2006).
ROCHA (2011)
230
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
231
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
11
www.sia.cv
232
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A fábrica de sabões, em S.Vicente, é uma pequena unidade em que a água não é objeto
de qualquer tratamento antes do seu lançamento na fossa e o problema de contaminação dos
lençóis freáticos nunca foi tido em conta. A orla marítima do Mindelo é ocupada ainda com
depósitos de combustíveis e oleodutos de empresas como a SHELL, ENACOL, fábricas de
reparação naval, de congelação, transformação do pescado, moagem de cereais, etc. os
impactes ambientais dessas são evidentes (SILVA, Marina, 2001). A indústria de conserva em
S.Nicolau também lança efluentes ao mar sem tratamento. As instalações de dessalinização,
em São Vicente, Santiago, Boavista e Sal, descarregam a salmoura diretamente para o mar.
233
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Da análise global da ocupação urbana na orla, por ilha, verifica-se que os maiores
impactes ocorrem nas ilhas com as maiores cidades e com atividade económica mais intensa,
seguindo-as as ilhas com desenvolvimento turístico (quadro 50).
Quadro 50 – Valoração qualitativa dos impactes da ocupação urbana na orla, por ilha
Gravidade (Valoração Qualitativa)
Problema Manifestação Santo S. S. Sal Boavista Maio Santiago Fogo Brava
Vicente Nicolau
Antão
Ocupação do
domínio
1 2 2 2 3 2 3 1 1
público
marítimo
Impacte
paisagístico
1 2 1 3 2 2 3 1 1
negativo
Ocupação Diminuição
urbana da fruição e
na orla 1 2 1 2 3 2 3 1 1
livre acesso
costeira Poluição 1 3 2 2 2 1 3 1 1
Apreciação 1 2,25 1,5 1,8 2 1,75 3 1 1
global
Elaboração própria
6.3 Turismo
A costa africana tem-se tornado num atrativo e crescente destino para o turismo global
(HURON e KORATENG, 2006).
234
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: INE
O Banco de Cabo Verde calcula que a entrada de turistas estrangeiros tenha gerado
receitas para o país na ordem dos 25,3 milhões de contos em 2008, um crescimento de 7,8%
em relação a 2007. As receitas com o turismo contribuem assim para 19,4% do PIB e 60,8%
no total das receitas do setor serviços. Dados do BCV e da Cabo Verde Investimentos indicam
que o turismo e investimentos imobiliários receberam 80,5% do Investimento Direto
Estrangeiro (IDE) em 2008.
A Ilha da Boavista representa o maior acolhimento, com 38,9% do total das entradas,
seguido da ilha do Sal, com 35,4% e Santiago com 12,6%. A ordem mantém-se em relação às
dormidas: Boavista com 47,2%, Sal com 42,9% e Santiago, com 4,6% (Figura 99).
12 Fátima Fialho - Ministra do Turismo, Indústria e Energia de Cabo Verde in observatorio turismo Cabo Verde, numero 3 Outubro 2010, pag.2
235
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: INE
O principal mercado emissor de turistas, no ano 2011, continua a ser o Reino Unido,
com 19,0% do total das entradas, seguido de França, Portugal e Alemanha responsáveis por
14,0; 13,8% e 12,7% das entradas, respetivamente. Nas dormidas, o Reino Unido também
permanece no primeiro lugar com 27,1% do total, seguido de Alemanha, Itália e Portugal,
com 15,1%; 14,1% e 11,9% respetivamente (Figura 100).
Fonte: INE
Figura 100 – Hóspedes e Dormidas (%) por pais de residência dos hóspedes, 4º trimestre
2011
236
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Segundo o inventário anual realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, junto dos
estabelecimentos hoteleiros, em 2011 existiam em Cabo Verde, 195 estabelecimentos
hoteleiros, o que corresponde a um acréscimo de 9,6%, face ao ano anterior. Essas unidades
oferecem uma capacidade de alojamento de 7.901 quartos, 14.076 camas, traduzindo num
acréscimo de 34,1%, 23,5% respetivamente, em relação ao ano anterior.
237
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte: INE
238
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Número de %
Ilhas Camas
Santo Antão 521 3,7
S.Vicente 971 6,9
S.Nicolau 112 0,8
Sal 6.292 44,7
Boavista 4.376 31,1
Maio 85 0,6
Santiago 1.351 9,6
Fogo 323 2,3
Brava 42 0,3
Total 14.076 100
Fonte: INE
No ano em apreço, em média, a taxa de ocupação-cama, a nível geral, foi de 58%, com
um aumento de 8 pontos percentuais face ao ano transato. As ilhas da Boavista e do Sal
tiveram as maiores taxas de ocupação – cama com 83% e 61%, respetivamente.
Cabo Verde tem condições naturais excelentes para o turismo de “sol e praia”,
caraterizadas pelas belas praias de areia branca. Sal, Boavista e Maio, devido à zona costeira
plana, com grande extensão de areia e maior plataforma insular, são as ilhas com maiores
potencialidades para o turismo balnear, em crescimento.
239
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ciente dos valores paisagísticos da orla costeira, vistos como um atrativo turístico, a
administração decidiu, a partir de 1993, delimitar as zonas de desenvolvimento turístico
integral (ZDTI) no litoral com potencialidade turística (Figuras 103, 104 e 105). Estão
delimitados mais de 20 mil ha de ZDTI. Esta ação teve a vantagem de definir áreas de
reservas públicas, contendo, até certo ponto, a ocupação por aglomerados populacionais, mas
também gerou alguma controvérsia, que abordarmos mais a frente.
13
Lei nº 75/VII/2010, de 23 de Agosto de 2010
240
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
241
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Murdeira Vilage
Sab Sab
Paradise Beach
Riu Funana
Odjo Água
Riu Garoupa
Morabeza
242
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Na ilha da Boavista estão localizados na orla costeira Marine Clube, Luka Kalema,
Estoril Beach, Cá Nicola, Orquídea, Decameron, Parque das Dunas, Iberostar, os 2 hotéis all
includes do grupo Riu (Karamboa e Tuareg) e outros empreendimentos associados ao turismo
residencial.
Decameron
Riu Karamboa
Iberostar
Riu Tuareg
243
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Bela Vista
244
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Riu Karamboa
Riu Funana
245
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Não obstante a intensidade ser relativamente menor quando comparada com outras
realidades (por termos um turismo em crescimento), em quase todas as ilhas é evidente a falta
de prudência em algumas ocupações da orla costeira, nomeadamente implantação em áreas de
elevado valor paisagístico, no domínio público marítimo, em formação dunares de alto valor
ecológico, em zonas húmidas, em áreas de nidificação de tartarugas, sem integração adequada
com os valores naturais, quer em termos de implantação e disposição do edificado, quer ao
nível dos materiais utilizados.
Figura 108 – Hotel Odjo d´água – construído (excessivamente) sobre a orla marítima
O hotel Salinas Beach Resort (Figura 109) foi implantado na zona de salinas
(paisagem protegida), sem área de amortecimento. A classificação das salinas como espaço
protegido justifica-se, pois trata-se de uma paisagem natural e cultural de grande interesse.
Para além dos valores históricos e culturais das salinas, em parte responsáveis pelo
povoamento de estas áridas ilhas orientais, supõe um habitat idóneo para muitas espécies de
aves limnícolas e migrantes, com importância mundial. Também possuem um valor
paisagístico notável, de interesse turístico. Em 2011, parte do hotel foi inundado devido aos
efeitos de maré-alta e de ondulações, resultado de uma tempestade tropical no atlântico.
O Hotel Riu Karamboa foi construído sobre um sistema dunar e no limite da reserva
natural de Boa Esperança, cujo fundamento para a proteção inclui a necessidade de
preservação e manutenção dos processos ecológicos derivados da dinâmica de areias. A
localização desta unidade hoteleira compromete a evolução natural das formações e cordões
dunares, e assim a proteção costeira natural, que tem colocando em risco o próprio hotel. Com
frequência é necessário resolver o problema de nuvens de areia no interior do complexo
hoteleiro. A implantação da unidade procurou manter livre os espaços para o uso balnear, sem
atender que os sistemas dunares e as praias são interdependentes.
Figura 110 – Cordão Dunar e Hotel Riu Karamboa na praia de Chave- Boavista
247
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
248
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O Hotel Riu Tuareg, na Praia de Santa Mónica, para além de situado numa área onde a
dinâmica de acumulação de areias é ativa, conflitua com a reserva natural de Tartaruga, onde
são proibidos, segundo o regime das áreas protegidas, quaisquer tipos de edificação. Os
fundamentos para a proteção da Reserva Natural de Tartaruga incluem a necessidade da
conservação das praias como áreas de nidificação de tartarugas e a existência de zonas
húmidas.
Figura 113 – Vista parcial do Hotel Riu Tuareg- Praia de Santa Mónica- Boavista
249
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
250
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
251
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
252
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A DNOT determina que, para aproveitar os naturais de ilhas como Boavista, Maio e
Sal, deve ser controlada a qualidade da oferta turística e, particularmente, em termos de
densidade, para adequar à capacidade de carga das ilhas e de cada zona e evitar uma imagem
massificada da ilha que retraia clientes de elevado poder de compra.
Porém, não tem havido correspondência cabal entre o discurso e os objetivos definidos
pela administração e as práticas. As autoridades têm abandonado prerrogativas importantes a
nível de organização territorial e de proteção ambiental em detrimento de ações com efeitos
imediatos, capazes de impulsionar o crescimento económico, sem acautelar os efeitos
negativos a médio e longo prazo. Esta opção política terá elevados custos para o país (alguns
já evidentes no presente). Em parte, essa assunção é consequência dos desfasamentos entre os
ciclos políticos curtos e os ciclos de planeamento longos.
253
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Estão declaradas 47 áreas protegidas, mas apenas 3 têm limites e planos de gestão
publicados oficialmente. Em 2003 foi criado o regime jurídico de espaços naturais, fixando
que nos seis meses seguintes a entrada em vigor do referido diploma deveriam ser publicados
os limites das áreas protegidas. Até ao momento não foi feito, essencialmente, por
fragilidades institucionais e (manifesta) falta de vontade política, com todas as implicações
que isto tem na ocupação do território. As ilhas da Boavista, Maio e Sal onde o turismo
balnear tem crescido mais são as que possuem maior valia ambiental, onde foram declaradas
33 espaços naturais de alto valor paisagístico e ambiental, mas nenhuma delas têm limites
publicados nem planos de gestão. A conflitualidade de interesses na ocupação do território é
óbvia, mas também é evidente a opção escolhida pela Administração na prática.
254
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
não enquadram a orla costeira como um todo integrado. As prioridades e a localização são em
muitos casos definidas pelos investidores privados, que se demitem de outras intervenções
sobre a extensão da orla, e o Estado é pouco exigente neste sentido.
No que diz respeito ao investimento estrangeiro no turismo, em Cabo Verde ainda não
se aplica a conceção através do direito de superfície, mas a venda de terrenos, o que tem
gerado atritos. Alguns investidores retêm vastas quantidades de terrenos por muitos anos, sem
que o estado os obrigue a dar o uso turístico ao solo, permanecendo extensas áreas vazias com
a faixa de compromissos assumidos, e quando surgem novas propostas de investimentos,
surgem atuações avulsas ad hoc das ZDTI, sem qualquer perspetiva de planeamento.
O turismo balnear é uma boa oportunidade para Cabo Verde, que pode retirar proveito
das suas caraterísticas paisagísticas e climáticas, sobretudo num contexto em que outras
255
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
formas de turismo são ainda pouco viáveis, como o cultural ou ecoturismo, que apresentam
dificuldades de sustentação por si só. Mas o turismo de massa tem impactos prejudiciais para
o ambiente e o território e, na ausência de planeamento e intervenções adequadas, esse
impacto é muito gravoso e irreversível, com consequências diretas na qualidade do próprio
turismo e no desenvolvimento urbano. Como refere SHELDON (2005), os recursos
ambientais são a principal atração dos visitantes e a relação com esses recursos precisa ser
enquadrado num planeamento cuidadoso. E isso passa necessariamente por uma boa
governânça.
Não é desenvolvida a sociedade cujas formas de vida são sustentadas por exploração
de recursos de outros, como não pode ser aquela cujos padrões de vida foram criados e
mantidos à custa do consumo de recursos não renováveis ou do consumo de recursos
renováveis a ritmo superior ao da sua capacidade de renovação (LOPES, A.S., 2001).
Esta prática tem provocado o enfraquecimento dos volumes de areia acumulados nas
praias, com reflexos na sua qualidade. A apanha da areia ocorre em praticamente todas as
256
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
ilhas, onde há casos de delapidação total de algumas praias. Cerca de 2/3 das praias da ilha de
Santiago foram degradadas por via da extração de areia.
A apanha da areia e de cascalho está relacionada com a procura deste material para a
construção civil. Em termos de consumo, é de referir que segundo MAAP/GEP (2004), o
consumo associado de britas e areia foi de 227.815 ton em 1985 e 723.187 ton em 1995 e
estima-se que tenha sido de 1.103. 205 ton em 2006. Especificamente de areia, passou-se de
173.959.7 ton em 2008 para 552.224.6 ton em 1995.
257
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Figura 118 – Mulheres na apanha da areia - Praia de Aguas Belas – Santa Catarina – ilha de
Santiago.
258
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A exploração desregrada das areias e cascalho da orla costeira tem-se refletido numa
visível degradação, com consequências ambientais e paisagísticas muito negativas, com
dimensões irreversíveis em muitas praias.
Erosão costeira
259
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
260
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
261
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Figura 125 – Degradação das terras agrícolas - Achada Igreja – Santa Cruz
Degradação do habitat das espécies que aí vivem, ou que o utilizam para iniciar ou
passar parte significativa do seu ciclo de vida. O avanço mais acelerado das águas do
mar, reduzindo assim a amaragem de interface entre terra e o mar, impede a desova
das tartarugas marinhas, visto que a diminuição da espessura da areia e subsequente
abaixamento da temperatura, modificará as condições necessárias para o efeito.
262
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Redução da retenção dos materiais finos transportados pelas cheias, originando solos
com fracas capacidades de produção
Os maiores impactes da extração de areia registam-se nas ilhas de Santiago, Fogo, Sal
e S.Vicente e Boavista, a maioria onde a atividade económica e dinamismo na construção
civil é mais intensa.
263
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
264
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
metros, bem como a sua exploração, por um lado e, por outro, define normas disciplinadoras
de tais atividades, quando elas sejam permitidas.
O Governo, ciente dos impactos ambientais resultantes da extração de areia nas praias,
aposta na sua importação, nomeadamente da Mauritânia. Investiu-se muito entre 2004/2005:
foram criados canais de apoio, viabilizada a via diplomática, dadas diretrizes de compra para
facilitar iniciativas empresariais. Mas estas foram em pequena escala e sem significado. Em
paralelo, têm sido concedido benefícios fiscais às empresas que importam inertes, mas estes
benefícios não têm tido os resultados esperados. O investimento pesado exigido às empresas
justifica o insucesso.
Por isso, o reforço da fiscalização para o cumprimento da lei no que diz respeito à
proibição da extração de areia é premente. Mas não é suficiente. É preciso atuar sobre as
265
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
causas do problema, para o conseguir debelar, e isto passa por equacionar esta questão à luz
das políticas de geração de emprego e inclusão social.
266
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
dentro das zonas afetadas. Não obstante a incapacidade do IMP planear e gerir o domínio
público marítimo, esta medida não se revela a mais adequada na medida em que atribui ao
organismo gestor das ZDTI a faculdade de controlar essa faixa dos 80 metros, sendo que a
SDTIBM passa a ser “jogador e árbitro” ao mesmo tempo. A entidade que gere a atividade
económica do turismo e a ZDTI deve ser diferente da entidade que gere e autoriza usos no
domínio público marítimo.
Deverá ainda ser equacionada a criação de uma Lei de Bases da Zona Costeira,
indicando os princípios de gestão, a harmonização dos interesses e o estabelecimento de um
sistema eficaz de gestão.
A ocupação inadequada da orla costeira em Cabo Verde resulta, entre outros fatores,
da falta de planeamento e visão. Ainda não existem planos de ordenamento de orla costeira
14
Orla costeira e áreas protegidas em Cabo Verde, organizado pela DGOTDU, 11 e 12 de Fevereiro
267
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
(POOC) que estabeleçam a salvaguarda dos recursos e valores naturais e um regime integrado
de gestão, incluindo do Domínio Público Marítimo, que tem sido encarado sobretudo como
uma restrição de utilidade pública nos planos de ordenamento do território.
Durante muito tempo, o país permaneceu sem instrumentos que pudessem dar
orientações sobre a ocupação da orla. O exercício do planeamento é recente em Cabo Verde e
só agora está-se a dotar o país de instrumentos de gestão territorial como os EROT, a DNOT
ou os planos especiais. Na ausência de POOC, a orla marítima tem sido tratada de forma
deficiente nos outros planos territoriais, nomeadamente nos Esquemas Regionais de
Ordenamento do Território e nos planos de gestão de áreas protegidas e planos urbanísticos.
Mas há dúvidas sobre o modo como os planos territoriais devem tratar a orla marítima, devido
ao problema de informação técnica e de maturidade das estruturas responsáveis pela
elaboração, acompanhamento e aprovação dos planos territoriais. Os EROT em vigor
limitam-se a dar orientações sobre a extração de areias nas praias, remetendo para a legislação
nacional relacionada com esta matéria, que é deficitária. A Diretiva Nacional do Ordenamento
do Território veio estabelecer como orientação a necessidade de proteger e valorizar a orla
costeira nacional mediante a elaboração de um plano especial de regulação da orla costeira e
do mar, visando a salvaguarda de recursos fundamentais e o aproveitamento das
potencialidades da orla litoral. Neste momento estão a ser preparados os termos de referência
para a sua elaboração.
A orla costeira deve estar sujeita a um adequado planeamento e gestão para evitar
situações de usos desajustados, de vulnerabilidades e riscos. As zonas costeiras, sendo
portadoras de enormes potencialidades, mas também de acentuada fragilidade dos
ecossistemas, requerem uma atenção especial em termos de ordenamento, para que a sua
utilização ao serviço do desenvolvimento não ocasione situações de excessiva pressão e
degradação ambiental e ecológica. De forma mais operacional podem desenvolver-se
268
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
269
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A capacidade de carga total prevista para as ilhas mais turísticas não se coaduna com a
necessidade de preservação ambiental, comprometendo o alcance do desenvolvimento
sustentável.
A ausência de uma visão integrada e global sobre a orla costeira tem de ser
ultrapassada: a figura de plano de ordenamento da orla costeira não existe; as autoridades
mostram grande dificuldade em fazer cumprir a legislação; fragmentação e sobreposição das
competências com repercussões nos processos decisórios é elevada; a população mostra-se
pouco sensibilizada para as questões ambientais face às necessidades de sobrevivência.
270
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
“ O que há de novo com o ser humano não é o facto de ele transformar a natureza,
embora o faça muito depressa, mas sim o de ele ser capaz de apreender a modificação que
introduz. Enquanto os lemmings se deitam cegamente ao mar, nós, com a nossa ciência,
observando os futuros possíveis, começamos a poder adivinhar as consequências dos nossos
atos. E se podemos realmente saber onde conduz esta ou aquela política, se podemos
realmente mudar de política em função deste saber, podemos, nos limites fixados pelas leis da
natureza, claro – escolher o nosso destino” (KANDEL, 2005:131-132).
271
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Os problemas que temos hoje não podem ser resolvidos se mantivermos a mesma
maneira de pensar que tínhamos quando os criamos.
Albert Einstein
“Se compararmos a construção de uma cidade com o uso de um par de sapatos, poderemos
melhor apreciar alguns aspetos da participação dos cidadãos no urbanismo. O sapato servirá ao dono
se, antes de compra-lo, certificou-se de que a medida era adequada. Também o urbanista faria bem em
consultar o povo para quem faz o planeamento. Além do mais, o dono do sapato sabe onde lhe doem
os pés e onde estão gastas as solas…Por outro lado, o dono do sapato pode preferir os pares mais
usados, que não lhe apertem os calos”.
HILLMAN (1964:101)
272
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte:DGOTDU
Figura 127 – Exposição pública da DNOT e dos EROT de Fogo e Santo Antão
O método da exposição pública com o livro de registo tem-se mostrado pouco eficaz.
A análise dos livros de registos e relatórios de consulta pública dos planos revela a
inexpressiva participação, sendo muito poucas as pessoas que visitam as exposições e, na
maioria dos casos, não deixam comentários ou sugestões. Na verdade, como refere
273
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
MORPHET (2011), a exibição não é um método robusto de consulta se usada sem outros
métodos.
Fonte:DGOTDU
274
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fonte:DGOTDU
A participação continua a ser, sobretudo, dos grupos de instrução mais elevada, mas é
ainda essencialmente reativa, não sendo um modo construtivo de participação. As opiniões
recolhidas raramente influenciam a decisão. E não existe a prática de divulgar os resultados da
consulta pública, no sentido de informar os cidadãos sobre os aspetos incorporados ou não na
decisão final, ficando o público a desconhecer se o seu contributo valeu a pena, colocando – o
longe da corresponsabilização.
15
Com idade igual ou superior a 18 anos escolhidos aletoriamente, 70% dos respondentes residem no meio urbano e
30% no meio rural, 51% do sexo feminino, 54% com ensino secundário ou pós-secundário.
275
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
participaria numa marcha de protesto mesmo que tivessem oportunidade, 40% participariam
em encontros na sua comunidade, 87% concorda que todos os cidadãos devem ter livre acesso
a todas as informações produzidas pelo Estado, 77% apoia a liberdade de associação, 61%
concorda que se deve ter cuidado sobre aquilo que se diz sobre a política. Os cabo-verdianos
demonstram maior confiança em relação aos órgãos não eleitos comparados com os eleitos,
liderando o exército e os tribunais, com 71 e 69 por cento respetivamente; 48% considera
Cabo Verde uma democracia com pequenos problemas e 31%, uma democracia com grandes
problemas e 15% uma democracia completa.
Assim, foi aplicado um questionário a 500 indivíduos da cidade de Mindelo, por meio
de amostragem aleatória. Cerca de 51% dos inquiridos era do género feminino (quadro 58),
64% tinha idade compreendida entre 18 e 35 anos, 18,4% entre 36-50 anos. (quadro 59). No
que diz respeito à distribuição da amostra por nível de instrução, 58,8% tinha o pós-
secundário (quadro 60).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cerca de 71% dos inquiridos mencionaram não saber o que significa Plano Diretor
Municipal e, não obstante o PDM de S.Vicente estar em elaboração, cerca de 62% afirmou
nunca ter ouvido falar do respetivo plano (quadros 61 e 62).
Nº %
Sim 143 28,6
Não 357 71,4
Total 500 100
Fonte: Inquérito à população do Mindelo, Novembro a Dezembro de 2011
277
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Mais de 61% dos inquiridos referiu que não tem conhecimento de outros
planos/projetos da câmara municipal de S.Vicente na área do urbanismo e ordenamento do
território (quadro 63).
278
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Cerca de 64% dos inquiridos refere que as sugestões apresentadas pelo público não
são tidas em conta. Esta perceção também está relacionada com o facto de não ser hábito dar
ao público um feedback sobre a inclusão ou não dos contributos na versão final do plano
(quadro 66).
Das razões apontadas para a não participação, destacam-se a falta de tempo (43,4%) e
falta de informação (29,9%). No entanto, apesar das dificuldades, mais de 78% dos inquiridos
279
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
gostaria de participar (quadro 67). Este facto é revelador de que há sempre interesses de
engajamento social e político latentes, à espera de expressões mais mobilizadoras
(HILLMAN, 1964).
280
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A maioria dos inquiridos (66,8%) mencionou que a câmara municipal não tem
estimulado a participação da população na discussão dos programas/projetos para a cidade
(quadro 70). Cerca de 33% considera que a edilidade devia dar mais informação e 29,9% que
poderia possibilitar mais discussão (quadro 71).
281
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Sim 41 8,2
Não 459 91,8
Total 500 100
Fonte: Inquérito à população do Mindelo, Novembro a Dezembro de 2011
282
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
16
Presidente da Plataforma das ONGs-Cabo Verde, in Jornal expresso das ilhas nº 511, 14 Setembro de 2011
283
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Por outro lado, mais do que a falta de meios técnicos, financeiros e logísticos das
instituições, apontados como razão limitativa para uma maior socialização dos planos,
podemos elencar razões como a deficiente organização/programação e esforço institucional,
bem como a falta de um compromisso claro de legitimação de um processo construtivo de
participação, muito mais do que o cumprimento de um requisito ou previsão legal.
Não obstante os sinais nos últimos 2 anos de uma evolução positiva (divulgação dos
períodos e locais de apresentação dos planos), predomina uma administração que estimula
pouco a participação dos cidadãos e das organizações da sociedade civil nas decisões de
planeamento e gestão do território, que não difunde a informação de modo simples e atrativo,
que não investe na formação de forma perene e consistente, no sentido de se criar uma
verdadeira consciência cívica, o que dificulta a criação de comunidades esclarecidas, capazes
de ter uma influência efetiva e persistente nos projetos territoriais e, consequentemente, na
configuração dos seus modos de vida. Podemos, pois, afirmar que o planeamento e
ordenamento do território em Cabo Verde não conta ainda com o entendimento e apoio
democrático do público.
Na verdade, os decisores políticos não têm conseguido contribuir para uma maior
consciência cívica dos direitos urbanísticos dos cidadãos, criando meios adequados e
esclarecendo responsabilidades e garantias no planeamento territorial, num processo que eles
mesmos tem alguma falta de conhecimento.
284
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
investimento na capacitação social deverá ser feito para além de projetos específicos, por
forma a garantir a sustentabilidade das intervenções.
285
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Por outro lado, os níveis de integração ficam penalizados pelos hábitos institucionais
dos setores de não pensarem e traduzirem espacialmente as suas políticas e o predomínio de
atuações parcializadas, com todas as limitações no que respeita à alocação de recursos, num
país onde estes escasseiam. A administração central é altamente setorial, onde predomina uma
estrutura organizativa vertical com chefias intermédias e superiores e departamentalização de
serviços, técnicos e funcionários administrativos (isto também se aplica às câmaras
municipais). A estrutura de serviços é rígida com reflexos no comportamento dos
funcionários, e aqui há que romper com conformidade às rotinas e procedimentos, e a simples
gestão do Status Quo. As competências nem sempre estão definidas com clareza, havendo
sobreposição de missões e tarefas. E a cultura de partilha de informação ainda está por
consolidar. “Ainda não está completamente ultrapassada o hábito, em entidades da
administração pública, de ver a informação de que dispõe como propriedade e um bem, à
partida, sem uma justificação especial para o contrário, não deve ser disponibilizada a outros.
286
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Ora, para uma sociedade democrática, moderna e descentralizada poder prosperar, o contrário
deve ser padrão” (DUBEAU, 2011:26-27).
Cada entidade está mais preocupada com o seu domínio específico de intervenção,
funcionando a lógica da “Capelinha” ou do “Balcão”, do que na construção comum de
respostas coordenadas dos problemas territoriais, tanto em termos de planos como em termos
de níveis de competência e setores. Como menciona FERRÃO (2010b:413), “Qualquer
exercício de ordenamento do território nas sociedades contemporâneas é incompatível com
visões centralistas, verticalizadas, setorizadas e autárcicas da administração”. De facto, “O
ordenamento do território convocará sempre perspetivas e competências diversificadas. O que
está em causa é, portanto, criar uma comunidade onde a diversidade seja um fator de
enriquecimento e não de fragmentação” (FERRÃO, 2010b:415).
Nos processos de elaboração dos EROT de Santiago, Fogo e Santo Antão, ficou
evidente a ausência de compatibilização entre a localização das plataformas logísticas
(Estação de tratamento de resíduos sólidos, Central de combustíveis, Central Eléctrica Única),
com a servidão aeronáutica e radioeléctrica. Por outro lado, determinados posicionamentos
dos municípios no âmbito da elaboração dos PDM, não estão alinhadas com disposições dos
EROT, sendo que a ANMCV e os municípios são partes integrantes dos comités de
seguimento dos EROT. Esta situação coloca em evidente a falta de concertação entre a visão
de longo prazo e os intervenientes do processo, com consequências financeiras, dados os
recursos que terão de ser mobilizados para a revisão e compatibilização dos planos.
288
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A não resposta atempada dos setores quanto aos pareceres, projetos e condicionantes
das suas respetivas áreas de competência tem tido implicações negativas no processo de
planeamento, prolongando mais do que desejável a conclusão dos planos como a DNOT, os
EROT e os PDM. Noutros casos, há aprovação dos planos sem a auscultação devida dos
setores cuja intervenção tem implicações no território, dificultando a articulação, e
compatibilização entre agentes e planos.
Os EROT da ilha de Santiago, Fogo e Santo Antão levaram cerca de 5 anos a serem
concluídos e alguns PDM estão e estiveram em elaboração mais de 2 ou 3 anos, num contexto
em que a lei não fixa prazos para as entidades responderem às solicitações no âmbito de
processos de elaboração de planos. As delongas afetam inevitavelmente a dinâmica do
processo de planeamento.
Fonte: DGOTDU
289
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
(não obstante os municípios até inicio de 2000 raramente o terem feito e sem intervenção da
tutela face a esse incumprimento) e isto exige processos mais longos. Ora, “ uma das ameaças
mais graves ao sucesso e a qualidade de planeamento territorial é, não só em Cabo Verde, a
sua morosidade” (DUBEAU, 2011:27).
Fatores políticos
Fatores institucionais/organizacionais
292
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Fatores económicos/financeiros
• Inércia e complacência
• Resposta não atempada das instituições, levando a linhas de comunicação pouco
funcionais
• Falta de um diálogo sistemático entre setores
• Diferenças nos procedimentos
• Falta de mecanismos de avaliação e monitorização
293
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
De acordo com SILVA (2009), o direito visa a ordenação da vida social e fá-lo através
das normas do direito objetivo e o estado espera que essa ordenação seja respeitada. Segundo
o autor, “as normas jurídicas são imperativos, comandam os comportamentos humanos, mas
são dirigidas a pessoas livres. Os destinatários das normas podem desobedecer-lhe. Por isso as
normas são violáveis e a violabilidade das normas jurídicas é uma caraterística essencial”. Ou
seja, a norma impõe um comando, um comportamento que deve ser observado, mas este
comando pode ser acatado ou não - “se o destinatário do comando cumpre a norma, respeita a
lei; se não cumpre a lei, desrespeita a lei, viola a lei, comete um facto ilícito (SILVA,
2009:184).
Porém, muitas das disposições legais vigentes não são aplicadas/cumpridas (figura
130), contrariando um dos princípios fundamentais da política de ordenamento do território e
planeamento urbanístico estabelecido na LBOTPU, que é a segurança jurídica, que garante a
estabilidade dos regimes legais e o respeito pelas situações jurídicas validamente constituídas.
294
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A maioria dos municípios não tem regulamentos de alienação de lotes de terreno como
determina a Lei dos Solos, para que se definam critérios objetivos de cedência, respeitando os
princípios fixados na lei (imparcialidade, precedência temporal e garantias de justiça social).
A venda de solos do Estado e Autarquias Locais nem sempre é feita em hasta pública e
a cedência de solos preferencialmente em regime de direito de superfície não tem sido
aplicado como é determinado. O direito de preferência, às Autarquias Locais, nas
transmissões a título oneroso, entre particulares de solos situados em áreas compreendidas
num plano detalhado devidamente aprovado ou em área delimitada pelo programa municipal
de atuação urbanística, não é praticamente aplicado. A reversão dos terrenos a favor do
Estado ou das Autarquias Locais conforme couber quando não se faz o aproveitamento de
terrenos no prazo fixado no contrato ou de forma supletiva, no caso do contrato ser omisso
(prazo nunca superior a 5 anos) também tem aplicação residual: os investidores turísticos
retêm terrenos por longos anos, e os cabo-verdianos em geral costumam construir as suas
295
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
casas aos poucos, às vezes ultrapassando os 5 anos, já que a construção só recomeça quando
têm dinheiro extra para investir na aquisição de materiais ou no pagamento dos trabalhadores.
A Lei dos Solos impõe a gestão criteriosa do solo urbano. E como refere RAMOS
(2012), a ideia da defesa do princípio da sustentabilidade no uso do solo é uma preocupação
que perpassa toda a nossa legislação. Porém, a forma como o solo tem vindo a ser gerido está
longe de ser sustentável. A maior parte dos municípios veem o solo urbano como fonte de
receita, retalhando e vendendo sem enquadramento em planos, para obter, no curto prazo,
recursos para implementar os seus programas. Há casos de utilização indevida do domínio
privado do Estado. “São conhecidas inúmeras situações, em praticamente todas as ilhas, em
que os municípios se apropriam indevidamente dos terrenos do domínio privado do Estado,
vendendo a terceiros, que por sua vez não os consegue registar por configurar uma venda de
bens alheia” (RAMOS, 2012:34).
Por outro lado, há municípios que têm instrumentos de gestão urbanística aprovados,
mas estes não são respeitados, nalguns casos também pelo facto de as ambições espelhadas
nos planos serem desajustados à realidade e noutros casos as suas normas serem por vezes
rígidas (sendo mais fácil contorna-las do que despender dinheiro e tempo em alterações), e
num quadro de défice de fiscalização. A análise aos relatórios de inspeções territoriais
elaborados pela Unidade de Inspeção Autárquica e Territorial do Ministério de Ordenamento
do Território, nomeadamente levados a cabo nos Municípios de S. Domingos na ilha de
Santiago (com PDM em vigor desde Novembro de 2008) e do Sal (PDM em vigor desde
Janeiro de 2010), evidenciou as seguintes situações: ocupação de zonas de riscos interditas
pelo plano, nomeadamente em leitos de ribeiras ou outras áreas de duvidosa segurança
geotécnica com atividades incompatíveis; extração de inertes em locais proibidos; construção
de edificação, depósito de sucata, resíduos de origem doméstica no domínio público marítimo
296
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Predomina um sentimento de impunidade, num quadro em que falta coragem para por
em práticas medidas penalizadoras e criminais pelo não cumprimento das normas territoriais e
urbanísticas. No prazo de 2 (dois) anos, a contar da data da aprovação do RNOTPU, todas as
câmaras municipais do país que não dispunham de planos urbanísticos regularmente
aprovados e ratificados, deveriam promover a respetiva elaboração e aprovação, sob pena
dessa inobservância dar lugar às consequências como: a não autorização de expropriação por
utilidade pública; a não celebração de contratos – programa; a suspensão de auxílios
financeiros concedidos ou a conceder pelo Governo, a impossibilidade de licenciamento de
operações de loteamento urbano. Mas tal penalização não se tem verificado.
minorar, para que se caminhe no sentido de construir um território sustentável. Porém, até ao
momento nem o Estado nem as autarquias locais discutiram e aprovaram os REOT, sem que
esse incumprimento tenha gerado quaisquer consequências. A avaliação prevista no nosso
sistema de ordenamento e planeamento urbanístico ainda não se efetivou. E as razões para a
sua inexistente operacionalização podem estar relacionadas com a juventude do planeamento,
especificamente a nova fase do planeamento que se está a incrementar, mas também as razões
avançadas por PEREIRA (2012:95-96) para esse desinteresse também se aplicam ao caso
cabo-verdiano:
298
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Regime excepcional de
transferência de terrenos do Elaboração de PD em áreas transferidas do
Estado para os Municípios estado para municipios
municipios
Por outro lado, será que resolvendo as necessidades básicas prementes da população
pode-se influenciar a obediência e o sentido de conformidade à lei? Cremos que poderá ser
um determinante importante. LEYENS (1994), baseado nas experiências de BARRY, CHILD
300
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
301
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Não obstante estar previsto no nosso sistema de gestão territorial, não existe um
sistema nacional de avaliação de políticas, programas e planos territoriais, evidenciando a
dissociação entre a intervenção no território e a responsabilização política pelos seus
resultados. Razões associadas à escassez de conhecimento na matéria, falta de recursos, receio
de crítica, complacência das populações explicam este facto. Uma política pública implica
uma formulação, uma implementação e avaliação. Um tripé a que não pode faltar nenhum pé.
Ora no país, no que diz respeito à política de ordenamento do território as duas últimas
precisam de consolidação.
A aplicação da legislação em vigor é fraca. Muitas das disposições legais vigentes não
são cumpridas por manifesta falta de capacidade, autoridade e vontade. Há violações de
legislações de forma negligente e intencional, num quadro em que por vezes as pessoas
interpretam as regras e normas no contexto das suas próprias motivações (interesses)
pessoais/institucionais. O exercício da autoridade é deficiente, o que penaliza o território.
302
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O ordenamento do território em Cabo Verde ainda não se afirmou como uma política
integradora, abrangente, participativa e respeitadora das normas, num quadro em que as
condições de implementação não estão asseguradas. O poder público e a comunidade não são
ainda suficientemente robustos para implementar uma política de ordenamento do território
consistente e a tendência é para persistir um desfasamento entre o ordenamento formal e as
dinâmicas territoriais. Mas as políticas só fazem sentido quando são aplicadas.
Em suma, podemos dizer que, a população e alguns decisores políticos ainda não
incorporaram o sentido da valorização do ordenamento do território como uma questão de
bem comum fundamental da qualidade de vida. Predominam ideias técnico-racionais, pouco
estratégicas, associadas à uma cultura político institucional de sistema de valores de visão
centralista e uma cultura administrativo-organizativa pouco colaborativa.
303
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Assim, alinhado com o propósito e as premissas desta tese, dividimos a análise, para
além da apreciação geral sobre o estado do ordenamento do território em Cabo Verde, em 3
partes essenciais: áreas urbanas, orla costeira e cultura territorial.
304
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
O novo impulso que está a ser dado é visto como positivo, nomeadamente em matéria
de elaboração de legislação e planos, não obstante os múltiplos constrangimentos associados,
como demonstramos ao longo desta investigação. Observa-se que há mais desafios a
conquistar do que ganhos consolidados. O Governo considera que o sistema de planeamento,
tal com está desenhado, está ajustado a esses desafios e que se os agentes forem responsáveis
e consequentes, poder-se-á melhorar o estado do ordenamento do território.
Para os entrevistados da administração central, o país ainda não está numa situação de
caos, mas são reconhecidos erros, entre os quais a ausência de uma visão estratégica, a falta
de sensibilidade urbanística, com repercussões na ocupação desadequada em várias áreas
urbanas do país, de todas as dimensões. Para o Governo, a gestão do solo tem sido
305
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Tanto a administração central como a local afirmam ter feito investimentos no sentido
de debelar a problemática da habitação e do saneamento, nomeadamente, com os programas
de abastecimento de água e saneamento e de reabilitação de construções. Mas não de forma
estrutural, capaz de eliminar de forma satisfatória as patologias urbanas.
O governo menciona o “Programa Casa para Todos” como uma resposta de curto e
médio prazo para diminuir o défice habitacional, sendo na sua perspetiva mais do que a
construção de casas, mas a criação de espaços de habitar com qualidade. A ideia elencada é
que deve ser um programa enquadrado na política de habitação integrada, socialmente
inclusiva, solidária e sustentável. E que se insere numa política mais global para promover o
desenvolvimento social, combater a pobreza e reforçar a coesão social e a solidariedade. O
poder local reconhece o “Programa Casa para Todos” como uma boa solução, mas
insuficiente. E ainda sobre este programa há que referir um outro constrangimento que
concerne à disponibilidade de espaço para construção. Alguns municípios não terão a
306
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
totalidade das habitações programadas por manifesta falta de solos ou meios financeiros para
suportar uma expropriação por utilidade pública.
O Governo aponta ainda um conjunto de reformas legais, entre as quais o novo regime
de edificação urbana e de operações urbanísticas, como respostas legislativas para garantir
maior qualidade e disciplina urbanística. Para os municípios, a resposta passa por um maior
apoio e articulação com o governo central e mostram grande resistência à obrigatoriedade que
será imposta pela lei de operações urbanísticas sobre a realização de obras de urbanização
prévia aos loteamentos e edificação, alegando falta de recursos locais.
O Governo diz que os municípios utilizam a orla sem critério e a maioria dos
municípios menciona que a gestão da orla costeira por parte do IMP é deficiente. Na verdade
308
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
financia e contrata os técnicos que realizam estes estudos. Considera ainda que a política de
desenvolvimento turístico praticada em Cabo Verde tem por alvo satisfazer as demandas dos
investidores e as necessidades dos turistas, mais que atender aos interesses da população local
e que uma grande parte dos recursos naturais estão a ser sobre-explorados para alimentar o
setor da construção (turismo e infraestruturas), incluindo as areias (dunas, praias e ribeiras).
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
recursos, quando deveria estar focado na busca de soluções para debelar problemas como os
da habitação e da gestão e planeamento do território.
Para os municípios o diálogo com a Administração Central não é fácil, são muitos os
elementos de tensão. Mas regra geral é reconhecido que nos últimos anos houve um esforço
dos dois lados no sentido do reforço das relações institucionais, apesar da diferença de pontos
de vistas em vários domínios, como por exemplo, a nível do exercício do poder de tutela de
legalidade do ponto de vista urbanístico, financiamento da requalificação urbana, onde não há
nenhuma obrigatoriedade da administração central no cofinanciamento dos projetos.
311
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
CONCLUSÃO
O pouco cuidado com o território está associado ao contexto cultural do país, num
quadro em que a participação cívica nos processos de planeamento e gestão territorial, a
integração e coordenação institucional entre atores e políticas setoriais bem como o respeito
pela legalidade está longe de estar consolidada, não sendo o território visto ainda como bem
comum, que impõe a construção de um esforço partilhado. Por este facto, as ações
concretizadas até ao presente não têm conseguido apagar de forma satisfatória as disfunções
territoriais e algumas contribuíram, até, para o seu agravamento. Esta situação tem
comprometido não só a qualidade de vida e a segurança das populações como interesses
públicos relevantes, essenciais à promoção de um desenvolvimento sustentável.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
Entendemos que o sistema deve ser melhor adaptado à realidade, sendo necessário
haver novos rumos e paradigmas, novas posturas e atitudes. Como forma de superar as
limitações é preciso desenvolver de forma efetiva uma maior integração e coordenação
interorganizacional. As políticas e os planos devem resultar em ações (integradas) práticas no
solo. Para o reforço do sistemático diálogo intersetorial é fundamental o compromisso da
liderança política e a qualificação institucional. As instituições devem pugnar por modelos de
planeamento mais colaborativos e pela institucionalização do planeamento como processo e
não apenas reduzido à elaboração do plano. A execução dos planos tem de merecer uma
atenção redobrada, sendo necessário adequa-los melhor à realidade, deixando de lado
ambições irrealistas, que tenha em conta os limitados recursos, articulando-os com planos de
desenvolvimento e orçamentos municipais, desenvolvendo parcerias e programas ajustadas as
unidades operativas de planeamento e gestão para a sua efetiva materialização.
A territorialização das políticas setoriais deve ganhar espaço no seio do sistema global
de planeamento, compatibilizando o planeamento económico-social com o planeamento
territorial. É fundamental criar uma cultura aprofundada sobre a importância da
territorialização das políticas públicas, criando espaços mais funcionais de articulação;
reforçando as instituições. É fundamental comprometer os responsáveis pela gestão, com
maior responsabilidade, reciprocidade e engajamento coletivo. Os agentes devem melhorar a
forma como encaram o território, fazendo convergir a sua atuação pública para a eficiência do
planeamento, e para a qualificação efetiva do território para resolução dos problemas mais
prementes, no sentido de um rumo consistente para o desenvolvimento sustentável do país. As
pessoas devem aceitar que a mudança deve acontecer e envidarem esforços nesse sentido.
Não pode faltar lealdade de entidades públicas quando se trata de um projeto coletivo de
responsabilidade partilhada. A mudança de comportamentos é uma das ferramentas mais
poderosas para Cabo Verde vir a ter um território melhor ordenado e garantir a resiliência do
setor no contexto das políticas públicas. Guias simplificados de apoio no domínio da gestão
territorial, do planeamento, de procedimentos de articulação podem ser elaborados. As
entidades administrativas com competências sobre o território deverão articular-se melhor
com as universidades, que terão de se capacitar para darem melhor contribuição neste
processo, incluindo participação na elaboração de bases técnicas de apoio ao planeamento
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A nível dos planos deve ser equacionada a necessidade de existência de certas figuras
de planos. A elaboração de EROT para ilha com apenas 1 município parece-nos dispensável,
desde que a nível do processo de elaboração dos PDM e pela via de integração setorial,
comprometida e responsável, se salvaguardassem os grandes objetivos da administração
central. Nesta linha da garantia necessária do comprometimento institucional e da prevalência
do planeamento integrado, poderia-se evitar também a multiplicação de PEOT, podendo ser
apenas elaborados de forma supletiva na ausência dos EROT e PDM. No contexto municipal
são dispensáveis os PDU. Os instrumentos de planeamento urbanístico deverão ganhar outra
roupagem, com reforço da sua componente estratégica. Há que apostar no desenvolvimento
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A avaliação do território deve passar a ser uma prática corrente e efetiva, tanto a nível
nacional como municipal. A avaliação estratégica de impactes em planos de ordenamento
deverá ser incrementada. A tutela deverá desenvolver uma metodologia oficial para os dois
casos. A criação do observatório de avaliação de políticas, planos, programas de planeamento
e ordenamento do território deve ser equacionada. Esta estrutura faria a recolha de
informações de caracter técnico e científico e elaboraria relatórios periódicos de avaliação
incidindo sobre os impactos dos programas e instrumentos, articulações setoriais,
recomendando ajustamentos. Por outro lado, há que avaliar também o desempenho dos
responsáveis na gestão do território.
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
cidadãos precisam de ser partes da decisão, e não meros recetores de informação. Participação
na reconversão de bairros degradados, recuperação das praias degradadas, gestão de espaços
públicos, nos programas e orçamentos municipais. A elaboração de um guia de participação
pública pode ser pensada, e assuntos relacionados com o género devem ser incluídas na
governação local e no planeamento. Há que estudar melhor o potencial dos vários
Stakeholders. A comunicação social deverá ser envolvida, enquanto veículo importante de
sensibilização bem como facilitadores como líderes comunitários e professores. Em todos os
projetos territoriais deve ser reservada uma percentagem de verbas para serem canalizados
para a educação das pessoas e apoio ao envolvimento na tomada de decisão.
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compromisso ético com as gerações futuras, assumirmos que planear e ordenar o território, na
base de uma governança responsável e inclusiva, é condição indispensável à promoção do
desenvolvimento sustentável. O território deverá ser entendido por toda a sociedade como
sendo essencial para estruturação do nosso futuro.
Cabo Verde vai precisar de tempo para debelar os prejuízos do crescimento territorial
descontrolado dos últimos decénios. Mas há que seguir em frente de forma coletiva e com
determinação, com um absoluto sentido de visão estratégica e de solidariedade. Mas também
por imperativo ético inter-geracional, que, apesar de não ser uma ordem concreta, serve para
qualquer espécie de atos ou conteúdos.
Tudo se pode modificar, embora, parafraseando Aurelio Peccei, o futuro já não é o que
se pensava ser, ou o que podia ter sido se os seres humanos tivessem sabido tirar partido da
sua capacidade de raciocínio e das suas oportunidades. Mas ainda pode vir a ser aquilo que,
razoavelmente e realisticamente desejamos que seja.
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ÍNDICE DE FIGURAS
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Figura 31 – Percentagem de saídas de cada uma das ilhas com destino a Praia .................... 107
Figura 32 – Localidade Ribeira Pratas – Tarrafal de Santiago .............................................. 110
Figura 33 – Esquema geral da ilha de Santo Antão .............................................................. 113
Figura 34 – Esquema geral da ilha de S.Vicente.................................................................... 116
Figura 35 – Esquema geral da ilha de S.Nicolau ................................................................... 119
Figura 36 – Esquema geral da ilha do Sal .............................................................................. 122
Figura 37 – Esquema geral da ilha da Boavista ..................................................................... 125
Figura 38 – Esquema geral da ilha do Maio........................................................................... 128
Figura 39 – Esquema geral da ilha de Santiago ..................................................................... 131
Figura 40 – Esquema geral da ilha do Fogo ........................................................................... 134
Figura 41 – Esquema geral da ilha da Brava .......................................................................... 137
Figura 42 – Modelo político-admnistrativo de Cabo Verde .................................................. 143
Figura 43 – Modelo Territorial de Cabo Verde...................................................................... 161
Figura 44 – Modelo Territorial da ilha de Santiago ............................................................... 164
Figura 45 – Planta de zonamento da área protegida de Serra Malagueta .............................. 166
Figura 46 – Traçado ortogonal do Plateau- Cidade da Praia ................................................ 171
Figura 47 – Planta de ordenamento do PDM de S.Domingos ............................................... 175
Figura 48 – Evolução da população urbana, Cabo Verde, 1980-2010 ................................... 180
Figura 49 – Percentagem de população urbana, por concelhos, em 2010 ............................. 181
Figura 50 – Tipologias de cidades.......................................................................................... 181
Figura 51 – Vista aérea da cidade de Porto Novo ................................................................. 182
Figura 52 – Vista aérea da cidade de Ribeira Grande .......................................................... 183
Figura 53 – Vista aérea da cidade de Ponta do Sol ............................................................... 183
Figura 54 – Vista aérea da cidade das Pombas .................................................................... 184
Figura 55 – Vista aérea da cidade do Mindelo ..................................................................... 184
Figura 56 – Vista aérea da cidade de Ribeira Brava ............................................................. 185
Figura 57 – Vista aérea da cidade de Tarrafal de S.Nicolau ................................................ 185
Figura 58 – Vista aérea da cidade de Santa Maria ............................................................... 186
Figura 59 – Vista aérea da cidade de Espargos .................................................................... 186
Figura 60 – Vista aérea da cidade de Sal Rei ....................................................................... 187
Figura 61 – Vista aérea da cidade do Porto Inglês ................................................................ 188
Figura 62 – Vista aérea da cidade de Tarrafal de Santiago .................................................. 188
Figura 63 – Vista aérea da cidade de Calheta ........................................................................ 189
Figura 64 – Vista aérea da cidade de Pedra Badejo ............................................................. 190
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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ÍNDICE DE QUADROS
352
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
353
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
354
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
APÊNDICE
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A. GUIÃO DE ENTREVISTA
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
3. Numa leitura retrospectiva, quais as políticas com incidência territorial com repercussões
mais positivas e mais negativas no presente?
Participação da população
1. Como vê a questão da participação pública no planeamento?
Poder local
357
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1. Qual a apreciação global que faz dos problemas das áreas urbanas em Cabo Verde?
2. Quais as orientações de política nos seguintes domínios:
- Habitação
- Solo urbano
- Equipamentos coletivos (com particular ênfase para os de educação e de saúde)
- Infraestruturas básicas (rede eléctrica, abastecimento de água, saneamento básico, recolha de
resíduos sólidos urbanos).
3. Quais os principais obstáculos à concretização dessas políticas?
Orla costeira
1. Como avalia o tipo de ocupação que tem ocorrido na orla costeira em Cabo Verde?
2. Entende que os recursos locais e os interesses da população estão salvaguardados?
3. Como vê a questão da apanha da areia?
4. Que medidas pensa que devem ser tomadas nesse sentido (ocupação e apanha de areia)?
358
O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
DESENVOLVIMENTO URBANO
3. Numa leitura retrospectiva, quais as políticas com incidência territorial com repercussões
mais positivas e mais negativas no presente?
Participação da população
1. Como vê a questão da participação pública no planeamento?
Poder local
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
1. Qual a apreciação global que faz dos problemas das áreas urbanas em Cabo Verde?
2. Quais as orientações de política nos seguintes domínios:
- Habitação
- Solo urbano
3. Quais os principais obstáculos à concretização dessas políticas?
Orla costeira
1. Como avalia o tipo de ocupação que tem ocorrido na orla costeira em Cabo Verde?
2. Entende que os recursos locais e os interesses da população estão salvaguardados?
3. Como vê a questão da apanha da areia?
4. Que medidas pensa que devem ser tomadas nesse sentido (ocupação e apanha de areia)?
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
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PRESIDENTE DA CÂMARA
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B. QUESTIONÁRIO
QUESTIONÁRIO
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O Ordenamento do Território nos Pequenos Estados Insulares: o caso de Cabo Verde
A resposta deve ser dada com rigor e honestidade. Este questionário é de natureza confidencial. O tratamento deste, por sua
vez, é efectuado de uma forma global, não sendo sujeito a uma análise individualizada, o que significa que o seu anonimato é
respeitado. Obrigado pela disponibilidade.
1. GÉNERO
M F
2. IDADE
3. ESCOLARIDADE
ENSINO BÁSICO INCOMPLETO ENSINO BÁSICO COMPLETO
ENSINO SECUNDÁRIO INCOMPLETO ENSINO SECUNDÁRIO COMPLETO
ENSINO MÉDIO ENSINO SUPERIOR
SIM NÃO
SIM NÃO
SIM , DE 1 A 5 VEZES
SIM, DE 6 A 10 VEZES
NÃO
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ACESSÍVEL
RAZOAVELMENTE ACESSÍVEL
SIM NÃO
FALTA DE TEMPO
FALTA DE DINHEIRO
FALTA DE INFORMAÇÃO
DIFICULDADE DE ACESSO
SIM NÃO
AUDIÊNCIA PÚBLICA
FORUM DE DISCUSSÃO
PESQUISAS PÚBLICAS DE OPINIÃO
CONSULTAS E PARTICIPAÇÃO VIA INTERNET
EXPOSIÇÃO DE DOCUMENTOS PARA COMENTÁRIOS
OUTRAS, QUAIS?
SIM NÃO
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SIM NÃO
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