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Minélio Chemane

Causas Subjacentes aos conflitos em Caxemira

Licenciatura em Ensino de História

Universidade Pedagógica

Maputo

2021
Minélio Chemane

Causas Subjacentes aos conflitos em Caxemira

Trabalho da Cadeira Estudos


Contemporâneos Asiáticos a ser entregue na
Faculdade de Ciências Sociais e Filosófica, no
Departamento de História, Curso de Licenciatura
em Ensino de História, para efeitos de avaliação.

Docente: Hermenegildo Lange

Universidade Pedagógica

Maputo

2021
Índice

0. Introdução.........................................................................................................................1

0.1. Objectivo Geral..........................................................................................................1

0.2. Objectivos específicos...............................................................................................1

0.3. Metodologia...............................................................................................................1

1. Contexto do surgimento dos conflitos nas terras da Caxemira.........................................2

2. A perpetuação do conflito e suas dimensões....................................................................5

3. As reacções de Índia-Paquistão durante a Guerra Fria.....................................................7

4. Relações indo-paquistanesas: período actual....................................................................8

5. Conclusão........................................................................................................................11

6. Bibliografia.....................................................................................................................12

7. Anexo: Mapa Político da Caxemira – Jammu and Kashmir...........................................14


1

1. Introdução

O tema deste presente trabalho é as causas subjacentes dos conflitos em Caxemira. O objecto
de estudo de caso será o conflito Indo-Paquistanês e a luta em busca do domínio da região do
Vale da Caxemira que actualmente tem sua maior parte compreendida em terras indianas e
percentagens distribuídas em terras paquistanesas e chinesas. O conflito na Caxemira gira em
torno principalmente da disputa entre Índia e Paquistão pelo território fronteiriço. Outros grupos
militantes também estão inseridos no confronto, colaborando para a deterioração da segurança
regional. Foram contabilizadas 70 mil mortes pelo conflito, sendo 45 mil devido a ataques
chamados terroristas nos últimos 30 anos. A disputa se iniciou oficialmente em 1947, a partir de
uma guerra entre os principais envolvidos e perdura até hoje. As razões derivam de um
problemático processo de descolonização após o domínio britânico. A luta pela posse de
Caxemira oferece risco para além fronteiras, uma vez que se trata de um conflito étnico-
religioso, movimentado por práticas militares, fanatismo religioso e posicionamento de políticas
nucleares. Neste contexto, as lutas dos povos da Caxemira pela posse dos recursos do vale, o
encorajamento de líderes políticos em nome da representação política e a proliferação de armas
nucleares servirão enquanto os principais objectos de análise ao decorrer do trabalho.

1.1. Objectivo Geral

 Conhecer as causas subjacentes aos conflitos em Caxemira.

1.2. Objectivos específicos

o Contextualizar a génese dos conflitos nas terras da Caxemira.


o Identificar as reais causas dos conflitos envolvendo a Índia e o Paquistão.
o Analisar os acordos assinados pela Índia e pelo Paquistão como forma de acabar com
os conflitos.
2

1.3. Metodologia

Segundo Gil (2002, p. 50) A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já


elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Para a materialização dos
objectivos deste trabalho, definiu-se o: Método bibliográfico

2. Contexto do surgimento dos conflitos nas terras da Caxemira

A génese do conflito na Caxemira se dá com a formação dos Estados-nação indiano (1947) e


paquistanês (1947). A região é definida por seu pluralismo linguístico, étnico e religioso, o que a
leva a dificuldades para estabelecer políticas públicas capazes de conciliar choques derivados de
tais divergências culturais.

A partir do domínio britânico, foi desenvolvida a Teoria das Duas Nações. Segundo a
formulação, a religião seria o princípio determinante das identidades nacionais de hindus e
muçulmanos, que seriam completamente distintos. Nesse sentido, de um lado havia o Congresso
Hindu e de outro a Liga Muçulmana. Ambas as entidades serviam como representações das
nações opostas. Os britânicos, nesse contexto, promoviam propositalmente a divisão dos grupos
para poder reinar. Nesse momento, intelectuais hindus defendiam a formação de um ‘Hindustão’,
rejeitando os islâmicos, enquanto os muçulmanos julgavam os hindus como incapazes de formar
um Estado devido ao sistema de castas1 e desenvolveram um projecto de nação anti-hindu.
Assim, a região se polarizou de forma definitiva. O Paquistão alega que, por haver uma maioria
muçulmana na região da Caxemira, esse território se identificaria etnicamente com os valores do
povo paquistanês e deveria pertencer ao Paquistão.

Em 1947 quando o governo Britânico repartiu a Índia Britânica entre Índia e Paquistão, o
autocrático e não popular Marajá2 Hari Singh, resistiu à ideia de possibilitar a autonomia de um
Estado predominantemente muçulmano, nas regiões de Jammu (Jamu) e Kashmir (Caximira).

1
O sistema de castas na Índia é um modelo de organização da sociedade em divisão de classes baseado em
preceitos religiosos. Nesse sistema, a estratificação da sociedade ocorre de acordo com o nascimento do indivíduo
em determinada família.
2
É um título dado a nobres da antiga civilização indiana.
3

Para entender a origem disso tudo, é necessário voltar um pouco na história. Em 1846, o
Império Britânico vendeu a Caxemira para Maharajah Ghulab Singh, que então se estabeleceu
como o primeiro Marajá e governador da região independente. Esse fato ficou conhecido como o
Tratado de Amritsar. Após sua morte, em 1857, seus sucessores assumiram até 1949 e eram
famosos por sua agressividade e tirania.

Em 1947, com a partilha da Índia e do Paquistão, o então Marajá Maharajah Hari Singh foi
aconselhado a considerar a religião e etnia da maioria para decidir qual nação se anexar para
justamente evitar os conflitos. Esta região se encontrava sob o seu domínio administrativo,
favorecendo assim as primeiras indisposições entre os dois países (Indurthy, 2012). No intuito de
ganhar tempo para as suas políticas, o Marajá assinou o Standstill Agreement (contrato de
paralisação) no dia 16 de Agosto na tentativa de manter o status da sua região. O acordo foi
aceite pelo governo do Paquistão, porém fora recusado pela Índia, não tendo desta maneira o
Marajá completado suas expectativas. Um mês após a sua tentativa de acordo, grupos rebeldes
iniciaram tumultos contra o Marajá na região oeste do Estado como uma ofensiva para tentar
estabelecer a autonomia e independência de Azad Kashmir – Caxemira Livre (INDURTHY,
2012).

Ao classificar o tumulto por parte dos rebeldes enquanto uma oportunidade favorável ao
rompimento com a administração Singh, as tribos rebeldes Pathan, invadiram a Caxemira e
apossaram-se de mais de 50 milhas de territórios além da sua capital, Sringar (Schofield, 2003,
p.49). O Marajá solicitou ajuda das forças indianas, porém este fora obrigado a assinar um
instrumento de anexação no qual dizia que os principados em conflito, deveriam ser anexos a
Índia para serem legitimados os avanços militares. Após o consentimento do popular líder da
Conferência Nacional, Sheik Abdullah, o acordo foi feito e estabelecido entre as partes
(SCHOFIELD, 2003, p.14).

Em Outubro de 1947, as tropas muçulmanas pertencentes ao governo nacional central,


decidiram agir e providenciaram o suporte logístico para a manutenção dos rebeldes na região.
Tal medida foi o ponto fulcral para a indisposição do General Paquistanês Muhammed Ali
Jinnah. Ainda que não existam provas concretas do envolvimento de Jinnah com a invasão
4

Pathan, alguns discursos do passado e documentos viabilizados pelo académico Professor Zaidi,
comprovaram palavras de encorajamento expressadas por Jinnah (SCHOFIELD, 2003, p.51).

Neste momento, o Governador-geral da Índia, Lord Mountbatten estava presente em um


jantar diplomático em honra ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da Tailândia, quando fora
informado pelo Primeiro-ministro Jawahlaral Nehru de que a Caxemira estaria sendo invadida
pelas tribos Pathan, encorajadas pelos rebeldes muçulmanos e que o Marajá Singh demandava
com urgência uma ajuda militar. Ainda que o governo indiano estivesse à espera de uma eventual
ofensiva contra a Caxemira, a invasão Pathan fora uma surpresa para o Governador que através
das palavras do secretário Alan Campbell-Johnson do Gabinete da Defesa “the most immediate
necessity that would be height of folly to send troops into a neutral State, where we had no right
to send them, since Pakistan could do exactly the same thing, which could only result in a clash
of armed forces and in war.”3Tomar a decisão sugerida por Nehru e decidida pelo Gabinete era a
formalização desta anexação da Caxemira à Índia (SCHOFIELD, 2003, p.54).

Após a visita a Srinagar por V.P Menon, ordenado pelo Gabinete a voar imediatamente para
a Jammu com intuito de estudar a situação, este conseguiu a assinatura do Marajá em que
concordava com a anexação da Caxemira ao governo Indiano sendo o Sheik Abdullah o futuro
responsável pela administração da região. No dia 27 de Outubro, o Marajá Singh assinou o
acordo com o governo e neste mesmo dia, tropas indianas do exército armadas e treinadas
entraram em força no território da Caxemira, prontos para o respaldo. (Indurthy, 2012, p.03). O
ponto em questão sobre a veracidade dos factos é que Alexander Symon nunca publicou
oficialmente o acordo feito que inclua o acto de anexação bem como o Standstill Agreement.
Alguns argumentos estabelecidos pelo lado paquistanês, de que existem contradições entre o dia
em que as tropas foram enviadas e o regresso de Menon a Deli. As tropas teriam sido enviadas
antes mesmo de Menon regressar a Déli e apresentar a Symon o acordo feito. Segundo Nehru, as
datas coincidem e não existem contradições nos fatos expostos nem nas medidas tomadas
(SCHOFIELD, 2003, p.58).

3
Tradução livre do autor: “A nossa maior e imediata necessidade de enviar tropas militares para um
território neutro é delicada, pois de certa forma nós não temos o direito de fazê-lo, uma vez que se o Paquistão
interpretar que isto também lhe cabe, o grande resultado será um choque de forças armadas que resultará em
guerra” (Schofield, 2003, p.54).
5

A Índia manteve a sua posição de que a partir daquela assinatura, a Caxemira era parte
integrante do Governo Indiano e cabia a este, zelar pela segurança local, enviando tropas para
deter o ataque Pathan que agora fora interpretado como acto ilegítimo contra o governo da Índia.
A interpretação aqui exposta é que para o governo indiano, a Caxemira agora era parte integrante
da Índia. Para o Paquistão, a Caxemira é uma região em disputa pela qual o status oficial final
ainda não fora decidido e a vontade expressada pelo povo da Caxemira deve ser levada em
consideração. A veracidade do acordo é contraditória e este se torna relativo às interpretações,
portanto a posse por parte da Índia seria ilegítima. Neste momento a Organização das Nações
Unidas não teria sido invocada para conter a situação (BOSE, 2005, p.12).

3. A perpetuação do conflito e suas dimensões

Desde 1947, o conflito de Caxemira vem movimentando-se de uma maneira muito intensa e
vem, sobretudo adquirindo grandeza no cenário internacional. O seu carácter prolongado
permitiu a anexação de diversos actores e diferentes dimensões que serviram enquanto elementos
catalisadores do mesmo. A luta pela Caxemira ganhou novos aspectos, deixou de ser uma luta de
Estados em busca da anexação de um novo território e passou a ser expressa enquanto luta pela
sobrevivência das comunidades, pela imposição da ideologia religiosa e pelas riquezas
económicas e sociais favorecidas pela região. Em relação à relevância dos recursos naturais, foi
verificada a importância que o Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB), dá ao fato da água
ser o principal motor da economia local paquistanesa e grande instrumento de produção no Vale
da Caxemira.

A partir da revisão de estudos feitos nesta temática é perceptível que a presença dos recursos
no Vale da Caxemira é atribuída a valores que vão para além de questões simplesmente
económicas. O que ficou exposto através de alguns indicadores de dimensão social e económica
é que existe uma ligação identitária, histórica e humana por parte dos povos da Caxemira. A
problemática em relação aos recursos hídricos aborda também a elaboração de acordos
internacionais feitos em prol da agricultura, pesca e o uso dos recursos das terras partilhadas pela
Índia e Paquistão. A indisposição dos grupos residentes do Vale da Caxemira bem como dos
líderes políticos em relação às nuances deste acordo vão para além de questões económicas
evoluindo para questões culturais e religiosas.
6

A necessidade em atribuir a importância aos recursos hídricos, seja pela garantia da


sobrevivência ou por motivos económicos e sociais, são indicadores de que a luta pela água pode
simbolizar o primeiro pilar para a motivação da guerra entre os povos em nome da posse de
terras. Alguns autores como Chandran (2011) e Khan (2009) defendem a ideia de que o sul
asiático é uma região extremamente dependente dos recursos hídricos e por isto as lutas pela
posse dos mesmos são justificáveis. Por outra linha mais política, Hayat (2011) expressa a ideia
de que a guerra da Caxemira é uma questão de uso e partilha da água aprofundada nos tratados e
os conflitos partem de uma lógica de administração interna com reflexos no externo, como no
caso do Paquistão.

Em concordância com os estudos prestados pelos autores acreditamos que a água é sim um
motor de conflito entre os povos, pois a economia e a sobrevivência local estão vinculadas com o
seu uso e os benefícios que destes podem advir. A água é simbólica para os povos do Vale e
representa também questão de identidade colectiva.

Em relação à Caxemira, a questão do uso e da posse dos recursos hídricos, foi uma das
principais ferramentas motoras para o início de conflitos travados nesta região. Índia e Paquistão
estabeleceram acordos negociados de maneira bilateral – O Tratado do Rio Indo 4 - para decidir a
questão do uso das águas dos rios da Caxemira. O acordo foi assinado por ambas às partes que
aclamavam a posse do uso dos recursos e as divisões das terras irrigadas.

No cenário contemporâneo, a preocupação da comunidade internacional segue em relação à


postura da Índia e a posse dos recursos oferecidos pelo Vale da Caxemira bem como a sua
política de barreira e estratégia política anti-Paquistão, o boicote Indiano na construção de
barragens (Maryanoan, 2010). Neste sentindo, ainda existem preocupações em relação às
alterações climáticas e os seus malefícios à produção de meios de subsistência e escassez dos

4
Tradução de: The Indus Water Treaty, Banco Mundial, Índia e Paquistão (1960), tratado elaborado no intuito
de fortalecer os laços entre as duas nações, possibilitar a boa conduta no uso e na partilha da água do Rio Indu e seus
afluentes, Karachi.
7

recursos do Vale. Contudo, ainda que três grandes guerras e um conflito de alta escala – Kargil -
tenham sido travados entre ambos, é importante ressaltar que após a assinatura do Tratado, um
passo de sucesso entre as partes foi dado. Ainda que continuem as trocas de hostilidades entre
Índia e Paquistão, estes países nunca desrespeitaram as disposições gerias deste acordo
(Chandran, 2011).

Apesar do sucesso parcial, a política Indiana faz parte de uma provocação ao país vizinho. O
Paquistão é um país de clima árido dependente dos recursos hídricos para movimentar a sua
economia que é concentrada na agricultura (Khan, Shakir, 2011). As acções por parte da Índia
comprometem a sobrevivência da comunidade paquistanesa e do desenvolvimento económico.

4. As reacções de Índia-Paquistão durante a Guerra Fria

Durante a Guerra Fria, período marcado pela bipolarização do poder no sistema


internacional, entre EUA e URSS, ocorreu algo esperado no sub-continente indiano. O Paquistão
por um lado posicionou-se junto aos EUA e a Índia junto a URSS.

As relações indo-soviética começaram de maneira acanhada, principalmente devido a noção


de Josef Stalin de não-alinhamento com países que não possuíam a mesma ideologia, dessa
maneira, no período inicial da guerra-fria, ambas as nações tinham pouco contacto. A Índia fazia
parte do movimento dos não-alinhados, ou seja, posicionava-se entre os dois blocos EUA e
URSS de maneira neutra. O autor Kaul define bem esse movimento,

A essência do não-alinhamento é a independência de países não alinhados para julgar cada


questão em seus méritos e como isso afecta o interesse nacional de cada país não alinhado, sem
qualquer compromisso anterior de um lado ou do outro, a legitimidade do interesse dos outros
países não alinhados é o interesse maior pela da paz, segurança e desenvolvimento em todo o
mundo. (KAUL, 1986, p.23 apud SAUTER, 2016, p.35).

Entretanto, o fato do Paquistão estar inclinado a uma aliança com os EUA fez com que o
aumentasse o interesse da URSS sobre a nação indiana. Os sucessores de Stalin entenderam a
importância do desenvolvimento das relações indo-soviéticas principalmente após o Paquistão
8

oferecer uma base para os norte-americanos na Caxemira, dessa forma, os soviéticos buscaram
uma aproximação para impedir o crescimento da influência dos EUA na região.

As relações indo-soviéticas chegaram no ápice em 1971 quando ambas as nações assinaram o


Acordo de Amizade, Paz e Cooperação. (SAUTER, 2016), o acordo foi imprescindível para que
ocorresse a independência de Bangladesh devido a estabilidade gerada no Paquistão Oriental.

Nos anos 1971-72, o Relatório Anual do Ministério das Relações Exteriores Indianas
comenta sobre o tratado indo-soviético de 1971, o qual teria o aspecto importante de assegurar
que, em caso de um ataque ou de uma ameaça, ambos deveriam entrar imediatamente em
consulta mútua a m de remover tal ameaça e propor medidas e capazes para garantir a paz e a
segurança de seus países. Nesse sentido, esse foi, em essência, um acordo de segurança bilateral.
(SAUTER, 2016, p. 36).

Após esse período áureo, o relacionamento foi somente diminuindo, principalmente devido a
degradação da URSS e consequentemente seu fim no final da década de 80.

Após forte apoio indiano, o Paquistão do Leste tornou-se independente em 1971. O apoio
indiano foi estratégico e fundamental para diminuir o poder e influência paquistanesa na região.
Para se ter noção do impacto desse fato, o Paquistão deixou de ser o país muçulmano mais
populoso do mundo, ocupando hoje a terceira posição, atrás da Indonésia e de Bangladesh. A
imagem a seguir mostra o posicionamento das nações envolvidas nesse processo,

5. Relações indo-paquistanesas: período actual

No começo do século XXI, as relações entre ambas as nações tiveram uma série de eventos
que tiveram cunho positivo, principalmente em relação a uma resolução da questão da Caxemira.
Uppsala University (2017) em janeiro de 2004, as nações anunciaram um encontro formal em
Islamabad. Esse foi o primeiro diálogo formal entre as nações em 30 anos.

Entretanto, as conversas avançaram de maneira lenta, mas ainda sim positiva. Para se ter
noção em 2005, decorrente ocorreu um terramoto na região da Caxemira e abriu-se alguns
9

pontos da fronteira entre as nações para a população pudesse circular de um lado para outro da
fronteira. Esse aspecto que ambas nações podem dialogar e cooperarem para benefício mútuo.

Contudo, actualmente a relação entre os países estremeceu-se, principalmente devido a dois


casos em que o governo indiano considera culpa do governo paquistanês. O primeiro foi o
atentado em Mumbai em 2008 e de um homem bomba que atacou a embaixada indiana em
Kabul.

A partir dos fatos apresentados, é interessante compreender como uma partilha feita de
maneira não condizente com a realidade do território indiano desencadeou tais “problemas” que
assolam o subcontinente e podendo criar um conflito que afetaria o sistema internacional como
um todo. Nesse aspecto, é indissociável o eurocentrismo existente e suas consequências para esse
processo.

Em 2016, o governo indiano vetou completamente uma tentativa de diálogo proposto pelo
governo paquistanês.

O governo da Índia rejeita em sua totalidade as alegações interessadas (do


Paquistão) sobre a situação em Jammu e Caxemira. (Esse estado) é uma parte integral
da Índia sobre a qual o Paquistão não tem direitos”, informou a diplomacia indiana em

resposta enviada ao governo paquistanês. (GOVERNO INDIANO, 2016).

No ano de 2017, em que a Índia e o Paquistão celebram o 70⁰ “aniversário” de sua


separação, as relações entre os países continua instável. Nesse aspecto, o intercâmbio entre os
povos proposto pelos pós-colonialistas poderia ser um caminho para o actual estado entre as
nações. Indianos, paquistaneses e africanos nesse sentido seria excelente para a partilha da
mesma experiência histórica, amargura vingativa e revanchismo, pode-se através do diálogo, e
intercâmbio de ideias, facilitado pela globalização e a tecnologia, alcançar uma solução que seja
de ganho mútuo para os povos.

Em 14 de Fevereiro de 2019, um ataque suicida contra um comboio indiano da Força Policial


da Reserva Central (CRPF) deixou 40 mortos e foi reivindicado pelo grupo paquistanês Jaish-e-
Mohammed (JeM). Posteriormente, autoridades indianas prenderam dezenas de separatistas
muçulmanos em incursões na Caxemira e enviaram milhares de reforços para o território. Por
10

outro lado, expressando preocupação com os projectos indianos, o Paquistão acusou a Índia de
elaborar um esquema para reduzir a população muçulmana na Caxemira. (ALVES, PONTÉ,
APARECIDO, 2019, p.04)

Em Março, a Índia foi levada a dialogar com o Paquistão e com separatistas na Caxemira
para aliviar a tensão levantada pelo ataque terrorista. As autoridades indianas descartaram as
negociações com o Paquistão, a menos que actuem em relação a grupos militantes instalados em
Jamu e Caxemira. Nesse sentido, o Primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, disse que
nenhum grupo militante poderá operar em seu país para realizar ataques no exterior, dias depois
de seu governo anunciar uma repressão contra organizações militantes islâmicas. (Idem)
11

6. Conclusão

O ex-império Britânico quando decidiu atribuir às colónias do sul da Ásia o estatuto de


autonomia e independência, abriu espaço para que uma série de questões nos diversos níveis
viessem a tona, permitindo aos dois novos países a iniciação de um confronto em busca de seus
interesses políticos, religiosos, sociais e económicos. Neste cenário de confronto iniciado em
1947, três guerras foram travadas entre as duas nações, sendo estas por diversas razões
aclamadas, mas principalmente no intuito de estabelecer um estatuto de direitos na região de
Caxemira. Esta região passou a expressar desde 1947 uma espécie de coqueluche entre Índia e
Paquistão.

Devido à sua localização geográfica, Caxemira passou a ser um ponto de tensão não apenas
entre Índia e Paquistão, mas favoreceu também a lutas pelas terras da região montanhosa,
compreendida na cordilheira do Himalaia. O governo indiano entrou em posição de hostilidade
também com a República Popular da China quando em 1964 encerrava uma guerra com a
vizinha, perdendo os direitos sobre as terras em Aksai Chin. Diferentemente da China, o governo
do Paquistão não fora bem sucedido em suas batalhas pela posse de Caxemira. A extensão
territorial é compreendida de maneira legítima pelas fronteiras indianas e reconhecidas
internacionalmente como parte da Índia. Apesar de o governo paquistanês afirmar que a questão
da Caxemira ainda está por decidir e que, apenas o povo deve se manifestar através de um
plebiscito, o governo indiano não está disposto a pôr o domínio da região em causa pública.
12

7. Bibliografia
ALVES, R.Q. Ponté, J.V. Aparecido, J, M. Os conflitos na região de Caxemira. V.6, Serie
Conflitos internacionais, Observatório de Conflitos internacionais (OCI), 2019.
BOSE, Sumantra. Kashmir, Roots of Conflict, path to peace. Cambridge &Harvard,

Harvard University Press, 2003.

CHANDRAN, D Suba.Armed Conflict in South Asia. Londres, Routledge, 2011.

GIL, António. Como elaborar projectos de Pesquisa. 4ª Edição, São Paulo, Editora Atlas, 2002.

HAYAT, Hasham. "Indus Waters Treaty and Resolution of Water Conflicts Between Two

Nuclear Nations (Pakistan and India)."Fondazione Eni Enrico Mattei (Milão), 2011.

http://www.feemweb.it/ess/ess12/files/papers/hayat

INDURTHY, Rathnam. "Kashmir Between India and Pakistan: An Intractable Conflict, 1947 to

Present." University of Colorado (Boulder), November 11, 2012.


http://www.beyondintractability.org/citations/15854

KHAN, Yasmin . The Great Partition: the making of India and Pakistan. Estados Unidos da

América: Yale University Press, 2009.

KHAN, Shakir , Muhammad, Somia. "A Comparative Study of Editorial Treatment on Indo-Pak

Conflicts in Daily Dawn and the Nation: A War & Peace Journalism Perspective." European
13

Journal of Social Science 19, no. the Kashmir issue 2011.


http://connection.ebscohost.com/c/articles/67654391/comparativestudy-editorial-treatment-indo-
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MARYAMOON, et, all. "The conflict mitigating effects of trade in the India-Pakistan case.

"Economics of Governance 11 2010.

SCHOFIELD, Victoria .Kashmir in Conflict. Londres, IB Tauris, 2003.

UPPSALA UNIVERSITY. Government of India-Government of Pakistan, 2017. Disponível

em: http://ucdp.uu.se/#conflict/218
14

8. Anexo: Mapa Político da Caxemira – Jammu and Kashmir


15

Fonte: mapa disponível em: http://www.himalayamasala.com/himalayan-maps/map-


kashmirregion

Quadro resumo

Ano de Forças políticas em Principais causas de divisão Inicio da Desfecho


16

Independência conflitos (Seus Guerra


aliados)

Os indianos alegam que a


região de caxemira fazia parte
do território indiano porque o
Maraja Hari Singh, assinou um
acordo que incluía a caxemira
ao território Indiano.

Os paquistaneses legavam que


uma vez que a maior parte da
população é muçulmana devia
a Caxemira fazer parte do
Paquistão dada a influência do É incerto o
islão que essa população desfecho desse
Índia  1947 Congresso hindu professa. 1947 conflito, isso
porque, até aos dias
A luta pela Caxemira ganhou
de hoje os conflitos
novos aspectos, deixou de ser
entre esses dois
uma luta de Estados em busca
países continuam
da anexação de um novo
verificando-se, o
território e passou a ser
que torna incerto se
expressa enquanto luta pela
os conflitos em
sobrevivência das
caxemira
comunidades, pela imposição
continuam ou não.
da ideologia religiosa e pelas
riquezas económicas e sociais
favorecidas pela região

Paquistão  Liga muçulmana 1947


1947

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