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Mercado de Capitais

Instrumentos de Política Econômica


Sumário
Desenvolvimento do material Instrumentos de Política Econômica
Cristiane Valente
Para Início de Conversa... ................................................................................ 4
Objetivos ..................................................................................................... 4
1ª Edição 1. Política Fiscal .................................................................................................. 5
Copyright © 2023, Afya.
1.1 Arrecadação Pública .............................................................................. 5
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 1.2 Gastos Públicos ....................................................................................... 5
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. 1.3 Situações Orçamentárias .................................................................... 6
1.4 A Política Fiscal como Instrumento
de Política Econômica ........................................................................... 8
2. Política Cambial ............................................................................................. 9
2.1 Regimes Cambiais ................................................................................. 9
2.2 A Política Cambial como Instrumento
de Política Econômica .......................................................................... 10
2.2.1 Recessão e Desemprego .................................................................. 11
2.2.2 Inflação .................................................................................................. 11
3. Política Monetária ......................................................................................... 12
3.1 Operações de Mercado Aberto ......................................................... 12
3.2 Depósito Compulsório .......................................................................... 13
3.3 Taxa de Redesconto .............................................................................. 14
3.4 A Política Monetária como Instrumento
de Política Econômica ........................................................................... 14
3.4.1 Inflação ................................................................................................... 14
3.4.2 Recessão e Desemprego .................................................................. 14
Referências ..................................................................................................... 15

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Para Início de Conversa... Objetivos
Independentemente do grau de desenvolvimento do país, todas as ▪ Reconhecer os instrumentos das políticas macroeconômicas.
economias possuem algum tipo de problema de ordem macroeconômica ▪ Identificar os problemas macroeconômicos.
que aflige a sociedade e que precisa ser solucionado ou, na ▪ Analisar a aplicação das políticas macroeconômicas.
impossibilidade disso, pelo menos amenizado.

Desemprego, inflação e concentração de renda são exemplos


de problemas macroeconômicas que precisam ser combatidos/
minimizados pelo governo. E, para que isso seja possível, existem as
políticas macroeconômicas, a saber: fiscal, cambial e monetária; essas
políticas macroeconômicas possuem diversos instrumentos para corrigir
desequilíbrios econômicos e promover o bem-estar social.

Neste capítulo, vamos estudar quais são esses instrumentos


e como eles podem ser utilizados dentro de cada política
macroeconômica. O governo precisa utilizar essas políticas para
garantir o equilíbrio macroeconômico do país, sendo que, em
algumas situações, um instrumento de uma determinada política
pode interferir nas demais. Sendo assim, é necessária a busca por
harmonia e equilíbrio na solução dos problemas macroeconômicos.

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1. Política Fiscal Administrar o orçamento público significa planejar e executar
recebimentos e pagamentos do setor público. Basicamente, o orçamento
A política macroeconômica trata de que forma o governo arrecada público se divide em:
receitas e realiza despesas, ou seja, como é feita a gestão do orçamento
público. A política fiscal deve exercer três funções importantes: 1.1 Arrecadação Pública
estabilizadora, redistributiva e alocativa. O objetivo da função
estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico Existem fontes convencionais de arrecadação pública, como os impostos,
sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços; a função as taxas, as contribuições e as multas. Cabe ao setor de planejamento do
redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda; e a governo, nas esferas municipal, estadual e federal, estimar as receitas
função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicas para o exercício seguinte, considerando cada um desses itens.
públicos, compensando as falhas de mercado.
IMP 1.2 Gastos Públicos
É por meio dos seus gastos que os governos podem produzir bens e
Falhas de mercado
serviços públicos que serão disponibilizados para a sociedade. Assim
O sistema de economia de mercado aloca recursos e organiza a atividade
como as receitas, os gastos do próximo exercício também precisam ser
econômica, porém nem todo o funcionamento é perfeito. Por vezes,
previstos. De forma simplificada, existem dois tipos de gastos públicos:
ocorrem distorções entre agentes econômicos que causam mais efeitos
negativos do que positivos — quando isso ocorre, é chamado de “falhas a. Gastos de Custeio: são os gastos do governo para a manutenção da
de mercado.” máquina pública. Podemos citar como exemplos a folha de pagamento
De uma forma reduzida, podemos dizer que falha de mercado é a situação do funcionalismo público, as contas de consumo (luz, água etc.) das
econômica em que um mercado não consegue produzir uma alocação repartições públicas, gastos com material de escritório, combustível
natural que seja eficiente; nesses casos, as transações do mercado das viaturas públicas, merenda escolar etc.
acabam gerando mais efeitos negativos para todos do que satisfazendo
individualmente os ofertantes e os demandantes.

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b. Gastos de Investimento: são os gastos com a formação de capital ▪ Emissão de títulos públicos: o governo coloca títulos da dívida pública
social básico. É quando o governo gasta para a aquisição ou no mercado, e, ao comprar esse título, o público transfere esse valor
construção de equipamentos públicos que serão disponibilizados para que o governo possa cobrir seus déficits. Esses valores serão
para o uso da sociedade. Escolas públicas, hospitais públicos, estradas, somados à dívida pública interna.
praças, portos, aeroportos, terminais rodoviários e arenas esportivas ▪ Empréstimos no exterior: quando o governo pega empréstimo
são alguns exemplos. externo, ele gera dívida pública externa.
▪ Elevação da carga tributária: aumentando a arrecadação, o Estado
1.3 Situações Orçamentárias poderia compensar a defasagem em seu caixa. Além de ser uma
medida pouco popular para o governo, o aumento de impostos deve
Como em qualquer contabilidade privada, as receitas e os gastos
seguir um processo que depende da aprovação do legislativo para ser
do governo são contabilizados e geram três diferentes situações no
implementado.
orçamento público: equilíbrio fiscal, déficit fiscal e superávit fiscal.
c. Superávit Fiscal: ocorre quando a arrecadação supera os gastos, ou
a. Equilíbrio Fiscal: como o próprio nome já sugere, é uma situação em
seja, ao contabilizar a arrecadação e gastos públicos, o orçamento
que os gastos do governo são da mesma magnitude da sua receita.
apresenta um superávit. Existe uma situação específica na qual
Ou seja, o governo gastou o montante que foi arrecadado, gerando o
equilíbrio fiscal. o superávit é necessário: quando o Estado se encontra muito
endividado, com o pagamento do principal e dos juros da dívida
b. Déficit Fiscal: essa é a situação em que o governo gasta mais do que
arrecadou, gerando uma diferença negativa no seu caixa. Esse déficit comprometendo boa parcela do PIB — nesses casos, o governo deve
deve ser coberto de alguma forma, uma vez que significa que o garantir realizar o chamado superávit fiscal primário, que consiste na
governo não tem recursos para pagar algum gasto — como pagamento realização de saldo positivo após deduzir da arrecadação de todos
dos seus servidores públicos, seus fornecedores, os empreiteiros que os gastos, exceto as despesas com juros da dívida pública. A ideia é
realizam suas obras, as contas de consumo dos órgãos governamentais, fazer com que o governo consiga poupar recursos para poder pagar
por exemplo. Mas como se financia esse déficit? Bem, o governo pode os juros e, algumas vezes, até mesmo amortizar o principal de sua
recorrer às seguintes alternativas de financiamento do déficit público: dívida pública.

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Percebemos que as contas públicas brasileiras conseguiram ter superávit
primário durante 2003 e 2013, garantindo uma certa estabilidade
Precisamos diferenciar o superávit/déficit primário do superávit/déficit
macroeconômica. Ao analisar o superávit em relação ao PIB, em 2003, o
nominal. O superávit/déficit primário é o resultado do balanço da
arrecadação, menos os gastos do governo, sem contabilizar os juros da superávit primário foi 3,2% do PIB, passou para 3,8% do PIB em 2008, e
dívida. Já o conceito de superávit/déficit nominal inclui o déficit/superávit caiu para 1,9% do PIB na recessão de 2009. Até 2011, o superávit chegou
primário mais os gastos com o pagamento de juros. a 2,9% do PIB, porém começou a cair nos anos seguintes, até se tornar
déficit a partir de 2014.

É importante destacar que o superávit reduz o endividamento, enquanto O déficit nominal ficou moderadamente controlado entre 2003 e 2008,
o déficit nominal acelera o crescimento da dívida pública, ou seja, quanto em torno de 3% do PIB. Porém, com a recessão, o déficit nominal chegou
maior o déficit nominal, mais rápido cresce a dívida pública. a -4,2% do PIB em 2010. O quadro piorou em 2014, com o déficit nominal
de -6,5% do PIB e a impressionantes -9,8% do PIB, em 2015.
Vejamos a situação fiscal brasileira, na Figura 1:
Déficit nominal e resultado primário, Brasil: 2003-2023
imp
Na Figura 2, vemos o percentual da dívida pública frente ao PIB. Podemos
4
2
perceber que, enquanto se mantinha um superávit primário, houve uma
0 redução da dívida pública bruta (como relação ao % do PIB). Houve,
ainda, uma redução forte entre 2003 e 2008 e uma redução moderada
% do PIB

-2

-4
até 2013, conforme mostra a Figura 2. Foi quando o superávit primário
-6
-8 se transformou em déficit, aumentando o déficit nominal, que a dívida
-10 pública bruta disparou, chegando a 87% do PIB em 2018 e com uma
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023

Déficit nominal Resultado primário projeção de alcançar 96% do PIB, em 2023.

Figura 1: O déficit orçamentário e a dívida pública que o próximo governo (2019-2022) vai
herdar. Fonte: Adaptada de Alves (2018).

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Dívida pública brasileira (% do PIB): 2003-2023 reduzir a carga tributária; isso provocaria
100 um aumento na demanda, pois, com
95 o aumento da renda disponível, os
90
indivíduos teriam mais recursos
85
80
para o consumo. O aumento do
% do PIB

75 consumo provocaria um aumento


70 na produção e no emprego.
65
60 Existem efeitos perversos
55 dessas medidas. O governo pode
50 2010 comprometer suas contas públicas,

2019
2013
2014
2015
2016
2017
2018

2020
2021
2005
2006

2011
2012

2023
2003
2004

2007
2008
2009

2022
uma vez que os gastos iriam aumentar
e a receita diminuir, no primeiro momento.
Figura 2: O déficit orçamentário e a dívida pública que o próximo governo (2019-2022) vai
herdar. Fonte: Adaptada de Alves (2018). B) Inflação

Existem várias causas do processo inflacionário, sendo uma delas


1.4 A Política Fiscal como Instrumento de Política Econômica chamada inflação de demanda. Esta ocorre quando a demanda agregada
Para que possa atingir os objetivos da política econômica, o governo da economia está aquecida e não existe oferta disponível para a atender.
pode utilizar a ferramenta fiscal, principalmente em situações como: Uma das maneiras de tentar minimizar essa alta dos preços é desacelerar
a demanda; o governo pode usar uma política fiscal restritiva, ou seja,
A) Recessão e Desemprego reduzir os gastos públicos e aumentar os impostos. Com o governo
Essas situações podem ocorrer quando a demanda agregada não é gastando menos e com a renda disponível dos indivíduos reduzida, em
insuficiente para a oferta agregada na economia. Então, é possível utilizar virtude da alta dos impostos, a pressão de demanda deverá ceder, e os
uma política fiscal expansiva, ou seja, aumentar os gastos públicos e preços tenderão a se estabilizar.

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Da mesma maneira que a política fiscal expansionista, existem efeitos
adversos à política fiscal restritiva: a redução da demanda acaba
comprometendo a produção e o emprego se permanecer por um período
longo.

2. Política Cambial
A política cambial é responsável pela taxa câmbio na economia, por
determinar o regime cambial a ser adotado e por praticar o conjunto
de medidas previsto em cada um deles. No Brasil, a política cambial
é executada pelo Bacen, seguindo as diretrizes fixadas pelo CMN.
Assim como as outras políticas macroeconômicas, esta possui vários Figura 3: Dólar. Fonte: Dreamstime.
instrumentos a serem utilizados.

Podemos definir a taxa de câmbio como a quantidade de moeda 2.1 Regimes Cambiais
doméstica necessária para adquirir uma unidade de moeda estrangeira,
Regimes cambiais ou sistemas cambiais são um conjunto de regras
e o seu valor será estabelecido de acordo com o regime de câmbio
e acordos governamentais que determinam como vão acontecer as
adotado no país.
negociações financeiras entre países, conforme a taxa de câmbio de suas
▪ Taxa de Câmbio = xR$/1US$ respectivas moedas.

Exemplo: TC = R$ 5,50, o que quer dizer que os brasileiros teriam que Existem muitos tipos de regimes de câmbio, sendo os principais:
desembolsar R$ 5,50 para adquirir um dólar norte-americano.
a. Câmbio Fixo: é um regime cambial em que a taxa de câmbio é
definida pelo Bacen, de forma unilateral, sem qualquer participação

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das forças de mercado. O Bacen publica, em seus boletins, os valores câmbio está subindo, é porque a demanda pela moeda estrangeira
dos dólares para compra e venda, e essas taxas são mantidas até que está maior do que a sua oferta, então, o BACEN vende dólar das suas
o próprio Bacen as altere. Esse regime cambial foi adotado no Brasil reservas cambiais no mercado para forçar o aumento da oferta da
até março de 1990. moeda e, com isso, acalmar o mercado. Da mesma forma, a queda
b. Câmbio Flutuante: a determinação da taxa de câmbio é resultado da da taxa de câmbio significa que a oferta de dólares está maior que
negociação entre demanda e oferta, sem a intervenção do Bacen. É o a sua demanda; nesse caso, o Bacen entrará no mercado comprando
próprio mercado que determina a taxa de câmbio. É permitido que o dólares para as suas reservas cambiais. Foi o regime cambial adotado
governo participe do mercado como comprador e vendedor de dólar, no Brasil entre julho de 1994 e janeiro de 1999 e constituiu um dos
quando achar oportuno para os interesses macroeconômicos do país pilares do Plano Real.
— daí, em alguns lugares, utilizarem a expressão “flutuação suja”
para esses casos. É importante salientar que o governo não define o 2.2 A Política Cambial como Instrumento de Política Econômica
câmbio, como no câmbio fixo, pois, quando ele participa no mercado,
não há uma predefinição da taxa de câmbio. É o regime de câmbio É importante entender que a taxa de câmbio interfere na economia
adotado no Brasil de janeiro de 1999 até os dias de hoje. doméstica e nas transações com o comércio internacional. Vamos
entender esses efeitos:
c. Regime de Bandas Cambiais: é um regime cambial em que o Bacen
estabelece uma taxa de câmbio máxima — a chamada banda superior a. Uma desvalorização da moeda nacional frente à moeda estrangeira =>
— e uma taxa de câmbio mínima — chamada de banda inferior. A taxa Nesse caso, serão necessários mais reais para adquirir o mesmo dólar,
de câmbio pode flutuar livremente entre as bandas, de acordo com e, com isso, nossos produtos nacionais ficam mais baratos em dólar.
oferta e demanda. Quando a taxa atingir uma das bandas, ocorre a Com a desvalorização da nossa moeda, os estrangeiros precisam de
intervenção do Bacen no mercado de câmbio, vendendo dólares na menos dólares para adquirir a mesma quantidade de reais, ou seja,
banda superior e comprando dólares na banda inferior — é a forma nossos produtos tendem a ser mais atrativos no mercado internacional,
com a qual o Bacen garante que esses limites não sejam ultrapassados, e as exportações tendem a aumentar de volume. Ao mesmo tempo, os
ou seja, a flutuação acontece somente entre as bandas. Se a taxa de produtos estrangeiros, cujos preços estão em dólares, ficam mais caros
em reais, uma vez que precisaremos de mais reais para trocar pela

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mesma quantidade de dólares; logo, os produtos importados ficam Mas qual seria a vantagem da valorização da nossa moeda? Além
mais caros e o volume de importações tende a cair. Esse movimento da questão da confiança e credibilidade na economia, os produtos
tende a melhorar nossa Balança Comercial, além de estimular produção importados que fazem parte da base do nosso processo produtivo
nacional, tanto da parte do setor exportador quanto das empresas que chegarão mais baratos. Com isso, haverá uma menor pressão nos custos
abastecem o mercado interno, uma vez que os consumidores passarão e um controle melhor da inflação.
a comprar mais o produto nacional em virtude do encarecimento do
produto importado. Será atrativa a vinda dos turistas estrangeiros
para o Brasil, e os turistas nacionais terão dificuldade de viajar para o 2.2.1 Recessão e Desemprego
exterior, podendo estimular o turismo interno. Se o governo quiser utilizar a política cambial para minimizar a situação
Então, qual o problema da nossa moeda estar desvalorizada frente ao de recessão econômica e desemprego, ele precisará utilizar instrumentos
dólar? A questão são os produtos que importamos, que são fundamentais para estimular a economia. O Bacen poderia vender dólar no mercado para
à nossa economia, e seu aumento de preços pode gerar uma inflação de tentar provocar uma desvalorização cambial e incentivar as exportações,
custos. Imagine o petróleo que importamos: com o real desvalorizado, o consumo de bens produzidos internamente e o turismo no território
o combustível ficará mais caro no Brasil, e isso poderá provocar um nacional praticado por estrangeiros e por cidadãos do país. Como já foi
processo inflacionário. dito, esse remédio possui efeitos colaterais, como uma possível inflação
de custos provocada pela alta dos preços de mercadorias que utilizam os
b. Uma valorização nacional frente à moeda estrangeira => No caso de insumos importados em seus processos produtivos; essa alta dos preços
uma valorização do câmbio, os produtos nacionais ficarão mais caros seria repassada para o preço dos produtos.
em dólares, e os estrangeiros mais baratos em reais. É o processo
inverso ao que foi relatado no item anterior: haverá uma tendência
ao aumento no volume de importações e uma queda nas exportações. 2.2.2 Inflação
A nossa Balança Comercial deverá sofrer um desequilíbrio, e
Se o governo quiser utilizar a política cambial para combater a inflação,
receberemos menos turistas estrangeiros no país, enquanto os
o Bacen pode provocar uma valorização do câmbio, comprando moeda
turistas nacionais verão vantagens no turismo internacional.
estrangeira no mercado. Com a moeda nacional valorizada, a tendência

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seria um aumento das importações, pois os produtos estrangeiros
chegariam ao mercado interno a preços competitivos. Além de aumentar
a oferta de mercadorias, os insumos chegariam mais baratos no país,
o que iria contribuir para baixar os preços dos bens produzidos
internamente que os utilizassem em seus processos produtivos. O
efeito colateral poderia ser a redução das exportações e do consumo
de bens produzidos internamente, uma vez que os produtos importados
chegariam mais baratos por conta da valorização cambial.

3. Política Monetária
Figura 4: Política Monetária. Fonte: Dreamstime.
Uma importante política macroeconômica é a política monetária. Ela é
responsável pela gestão da moeda em circulação, ou seja, são medidas
que o governo adota para garantir o controle da oferta da sua moeda
3.1 Operações de Mercado Aberto
na economia. No Brasil, as diretrizes da política monetária são traçadas As operações de mercado aberto — o chamado “open market” — consistem,
pelo Conselho Monetário Nacional e são executadas pelo Banco Central basicamente, em compras e vendas de títulos do governo pelo Banco
(Bacen). Para desempenhar essa função, o Bacen conta com os seguintes Central. É um instrumento importante de política monetária no que se
instrumentos de política monetária: operações de mercado aberto, refere à determinação de movimentos da base monetária e da oferta de
depósito compulsório e taxa de redesconto. moeda.

Quando o mercado compra um título de dívida pública, há um aumento


da base monetária e um aumento da dívida pública. Quando ocorre a
venda desse título, o processo é inverso: haverá uma redução da base
monetária. A taxa média dessas operações, feitas diariamente nesse

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sistema, equivale à taxa Selic. A Selic (Serviço Especial de Liquidação Vejamos um exemplo simples: suponha que o banco tenha R$ 100,00
e Custódia) representa os juros básicos da economia brasileira, e seus depositados em contas correntes, que estão disponíveis para os
movimentos influenciam todas as taxas de juros praticadas no país. correntistas sacarem, transferirem etc. O banco faz um empréstimo para
um cliente no valor de R$ 60,00, ou seja, ele credita os R$ 60,00 na conta
O responsável por colocar os títulos no mercado por meio de leilões
do cliente que contraiu o empréstimo. Pois bem, o banco, agora, possui
é o Banco Central, com a participação das instituições financeiras. As
um total de depósitos à vista de R$ 160,00, que estão disponíveis para
instituições mais atuantes no mercado são chamadas de “market makers”.
os titulares das contas, porém, no caixa do banco, existem, fisicamente,
apenas R$ 100,00. Mas e se todos os correntistas forem sacar em espécie
seus recursos simultaneamente? Não haveria recursos para atender
O que é o market maker? aos saques, e o banco “quebraria”. É uma situação difícil de ocorrer, pois
O market maker é um participante do mercado que se compromete a cada vez menos utilizamos moeda física, mas, tecnicamente, não seria
manter ofertas de compra e venda de um ativo dando liquidez a ele. Em impossível.
geral, quem faz essa função são bancos, corretoras e demais instituições
financeiras contratadas para essa finalidade. E onde fica o depósito compulsório nisso? Para limitar o volume de
empréstimos que os bancos podem realizar, o Bacen estabelece um
percentual dos depósitos à vista que deverão ser compulsoriamente
depositados nos seus cofres. Com isso, o Bacen reduz o volume disponível
3.2 Depósito Compulsório para a concessão de empréstimos e, consequentemente, a multiplicação
Os depósitos bancários que as instituições financeiras recebem se da base monetária. Quanto maior for a alíquota do depósito compulsório,
“multiplicam” através de empréstimos que concedem para outros. menos dinheiro restará no caixa dos bancos para emprestar, e menor
Isso acontece porque, ao emprestar o dinheiro que está na conta será a multiplicação dos depósitos à vista. Quanto menor for a alíquota
corrente, as instituições financeiras criam novos depósitos à vista e, do depósito compulsório, mais dinheiro ficará no caixa dos bancos, e
consequentemente, novas disponibilidades, sem, contudo, reduzir as mais empréstimos poderão ser concedidos, resultando uma maior
disponibilidades dos seus correntistas. multiplicação da base monetária.

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3.3 Taxa de Redesconto 3.4.2 Recessão e Desemprego
A taxa de redesconto é uma linha de crédito de liquidez mantida A política monetária expansionista pode ser utilizada para tirar uma
pelo Bacen para atender às instituições que passam por problemas economia da recessão e aumentar o seu nível de emprego. Na política
momentâneos de liquidez. Se o Bacen quer aumentar a liquidez, ele reduz monetária expansionista, o Bacen compra títulos no mercado aberto,
a taxa de redesconto, e os banqueiros acabam emprestando mais dinheiro reduzindo o depósito compulsório e a taxa do redesconto. Esses
aos clientes, pois sabem que, se precisarem recorrer ao redesconto, o estímulos levariam a um aumento da oferta monetária, o que provocaria
“pedágio” não será tão alto. Já, se o Bacen quer reduzir a liquidez, ele mais consumo. Mais oferta monetária tende a reduzir a taxa de juros,
eleva a taxa do redesconto, inibindo, com isso, os empréstimos, uma vez
o que pode provocar estímulos para o consumo e para o investimento.
que, se os bancos tiverem que recorrer ao redesconto, a taxa de juros a
O efeito perverso dessa política monetária expansionista é permitir o
ser paga será muito alta.
aparecimento do processo inflacionário.

3.4 A Política Monetária como Instrumento de Política Econômica Neste capítulo, vimos as três principais políticas macroeconômicas:
fiscal, cambial e monetária — e ainda poderíamos acrescentar a política
A política monetária será empregada para estabilizar a economia nos de rendas, que é um conjunto de iniciativas que visa à redistribuição de
seguintes casos: renda e justiça social.

O que é inegável é a importância da articulação de todas as


3.4.1 Inflação
políticas macroeconômicas para atingir os objetivos de cada país,
O governo pode adotar uma política monetária restritiva para combater com as suas respectivas particularidades. É necessário que essas
a inflação. Nesse caso, o Bacen venderá títulos no mercado aberto e políticas macroeconômicas sejam orquestradas em busca das metas
aumentará a alíquota do depósito compulsório e a taxa do redesconto. macroeconômicas de estabilidade de preços, alto nível de emprego,
Com isso, a tendência é uma redução da liquidez, que possui efeitos crescimento econômico e distribuição de renda socialmente justa.
colaterais como uma alta na taxa de juros, que poderá inibir o consumo
e o investimento, apesar de favorecer a estabilidade dos preços.

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Referências
ALVES, J. E. D. O déficit orçamentário e a dívida pública que o próximo
governo (2019-2022) vai herdar. Instituto Humanitas Unisinos, 2018.
Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-
2018/579259-o-deficit-orcamentario-e-a-divida-publica-que-o-
proximo-governo-2019-2022-vai-herdar. Acesso em: 31 jan. 2023.

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas,


2014.

PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

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