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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Teste 2: Trabalho de campo

Módulo: Macroeconomia

Tema: Dívida Pública em Moçambique e suas Implicações Socioeconómicas.

2º Ano – 2019
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Nome do Estudante: Frederico Júlio Manjate

Xai-Xai, Agosto de 2019

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Indice
Sumário………………………………………………………………………………………………………03
Introdução……………………………………………………………………………………………………03
Dívida pública – Definição……………………….………………………………………………………….04
Como surge dívida pública? Qual é o seu papel?............................................................................................04
Tipos de Dívida pública ……………………………………………………………………………………..05
Stock da dívida pública, Estrutura e Dinâmica………………………………………………………………05
Endividamento acelerado como opção de acumulação………………………………………………………06
Porque é que este Cenário da dívida é Preocupante?.......................................................................................09
Governador do Banco de Moçambique e as Dívidas………………………………………………………...09
Observacões do Economista Moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco………………………………...…10
A Dívida para com os BRICS………………………………………………………………………………..13
Implicações Socioeconómicas da Dívida Pública em Moçambique…………………………………………13
Conclusão…..………………………………………………………………………………………………...14
Bibliografia..…………………………………………………………………………………………………14

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Sumario
Este trabalho constitui o segundo teste da Disciplina de Macroeconomia, cujo tema é: Dívida Pública em
Moçambique e suas Implicações Socioeconómicas, no qual analisarei a situação real das dívidas públicas
em Moçambique desde período de 2005 ate aos dias de hoje.
De referir que por causa do tipo de dirigentes políticos que temos no nosso país a divida publica
infelizmente ta aumentar de ano para ano sem políticas claras para puder estancar esta situação, o que
implica o sofrimento continuo e prolongado das populações e consequentemente a pobreza e
subdesenvolvimento infinito.

Introdução
Os recentes escândalos de dívidas ilegais e ocultas trouxe ao de cima um problema estrutural na
gestão das contas públicas moçambicanas, a incessante interferência política das elites na condução
da economia.
É evidente que o Governo deve gerir toda e qualquer crise (incluindo a da dívida pública) de um
ponto de vista político, com o objectivo de regular o interesse público. Contudo, um dos maiores
problemas que actualmente enfrentamos centra-se numa intervenção que visa salvaguardar
interesses próprios em detrimento do bem-estar comum.
No caso específico das contas públicas, o grande erro desta “gestão política da coisa pública” é a
falta de consciencialização de que, quanto às dívidas, estas foram contraídas de forma ilegal e,
consequentemente, são o motivo principal para o rápido deterioramento da economia
moçambicana.
A divida criou a retirada do investimento, desaceleração do crescimento económico e aumento do
desemprego.
A crença que a negação dos factos e o “assassinato do carácter” dos “críticos” era a “solução” para
os problemas foi substituída por uma azáfama de desculpas, justificações, acusações, incredulidade,
vergonha, desânimo, medidas punitivas por parte dos doadores, e tentativas de reafirmar a validade
das opções económicas que conduziram à situação actual.

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Dívida pública – Definição

Em geral, a dívida pública é aquilo que o setor público deve aos bancos (como créditos bancários)
e, principalmente, aos portadores de títulos públicos (que também podem ser de propriedade de
bancos). Os títulos públicos podem ter juros pré-fixados ou pós-fixados.
Nos títulos pré-fixados, os juros são definidos previamente ao lançamento ou são determinados nos
leilões de venda. No caso de títulos pós-fixados, os juros dependem do comportamento futuro de
outras variáveis, sendo que, em Mocambique, dependem principalmente da taxa de juros para
operações financeiras de curto prazo (a taxa SELIC, determinada pelo Banco de Mocambique),
mas também dos índices de inflação e da variação cambial.

Como surge dívida pública? Qual é o seu papel?

A dívida surge e aumenta sempre que o governo gasta mais do que arrecada. Assim, quando os
impostos e demais receitas não são suficientes para cobrir as despesas, o governo é financiado por
seus credores (pessoas físicas, empresas, bancos etc), dando origem à dívida pública. Assim como
o bom uso do crédito por um cidadão facilita o alcance de grandes conquistas (a compra de sua
casa própria, por exemplo), o endividamento público, se bem administrado, permite ampliar o bem-
estar da sociedade e favorece o bom funcionamento da economia.
Especialistas costumam destacar a importante função que o endividamento público exerce ao
garantir níveis adequados de investimento e de prestação de serviços pelo governo à sociedade, ao
mesmo tempo em que propiciona maior equidade entre gerações.
As receitas e as despesas de um governo passam por ciclos e sofrem choques frequentes. Em
momentos de crise, por exemplo, a economia produz menos e a arrecadação de impostos cai. Ao
mesmo tempoo número de desempregados sobe e os gastos do governo com seguro desemprego
aumentam. Com isso, a conta do governo fica mais apertada. Na ausência do crédito público, esses
choques teriam de ser absorvidos por aumento na carga tributária ou por cortes em outros gastos,
penalizando, demasiadamente, em ambos os casos, a populacao.

Tipos de Dívida pública

Tendo em atenção a prática, estudiosos desta matéria têm desenvolvido várias classificações de
dívida pública. Elementos como os credores da dívida, o principal devedor, o espaço temporal de
vencimento, o carácter negociável ou não, dentre outros têm sido as linhas mestras que guiam estas
classificações dicotómicas.
Com base na classificação feita por CATARINO, elencaremos os tipos que achamos mais
importantes para este trabalho.

A primeira classificação tem como elemento o mercado ou a localização dos credores da dívida.
Assim, encontramos a dívida pública interna e a dívida pública externa.
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A dívida  pública interna, também conhecida como doméstica, é aquela cujo empréstimo é feito
no mercado nacional, isto é, os credores são os cidadãos ou as instituições financeiras que tem a
sua atividade económica dentro do país devedor.

A dívida pública externa é aquela cujo empréstimo é feito no plano internacional, isto é, os
credores são outros Estados, instituições financeiras internacionais, dentre outros agentes
económicos que operam fora do país devedor.
 
No que concerne ao espaço temporal no qual a dívida pública deve ser exigida ou vence, temos a
dívida pública fundada e a dívida pública flutuante.
A dívida pública fundada é aquela cujo período de pagamento ou amortização é superior a doze
meses, isto é, vai  para além do ano orçamental em que é feita. Segundo Catarino, esta costuma
servir para fazer face ao défice global do orçamento do Estado, ao financiamento de serviços
públicos dependentes de autorização legislativa para amortização.
A dívida flutuante é aquela que deve ser amortizada no mesmo ano orçamental em que é
contraída, portanto o seu prazo de pagamento é inferior aos doze meses.
 
No que diz respeito ao carácter principal ou não do Estado como beneficiário da dívida, ou devedor
principal a dívida pública pode ser principal ou acessória.
É principal a dívida que tem o Estado como primeiro beneficiário e é exigível, primeiro lugar, ao
Estado.
É acessória a dívida que tem como beneficiário principal terceiro e o Estado garante o seu
cumprimento, pagando nos casos em que o terceiro se apresentar inadimplente na sua obrigação de
reembolsar. O Estado apresenta-se neste último caso como um devedor auxiliar.

Expressões Comuns sobre dívida pública

Deficit nominal: é o saldo negativo nas contas, uma vez pagos os juros da dívida.
Resultado primário: a receita menos as despesas, sem gastar com juros;
Resultado nominal: a receita menos as despesas, incluindo-se gastos com juros;
Dívida líquida: é o débito consolidado, uma vez descontados = disponibilidades de caixa,
aplicações financeiras e outros haveres financeiros.

Stock da dívida pública, Estrutura e Dinâmica


Segundo dados do Governo de Moçambique, o stock da dívida pública total, tanto quanto já foi
descoberto e divulgado, é de cerca de US$ 12 mil milhões, ou, aproximadamente 80% do Produto
Interno Bruto (PIB) do País.
Deste montante, cerca de US$ 2 mil milhões são de dívida pública doméstica. Dos restantes US$
10 mil milhões, dívida pública externa, cerca de metade é dívida comercial, sendo a outra metade
dívida oficial a governos ou instituições multilaterais (dívida concessional, com taxas de juro mais

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baixas e prazos de reembolso mais amplos).
Entre 2006 e 2015, o stock de dívida quadruplicou, expandindo a uma taxa média anual de 15%,
duas vezes maior que a do crescimento do PIB.
Na segunda metade dessa década, a dívida pública cresceu mais depressa do que na primeira,
devido a vários factores fundamentais:
(i) a voracidade das elites económicas nacionais por capital, de que as dívidas ilegais o
investimento imobiliário são parte;
(ii) a aceleração do investimento na redução de custos e riscos para o grande capital do complexo
mineral-energético, em mercado doméstico de capitais, o que contribui para formar um sistema
financeiro doméstico especulativo e pouco preocupado com a produção que não seja associada a
mega projectos, por causa dos elevados retornos financeiros que a compra e venda de títulos de
dívida proporciona e do impacto deste negócio no encarecimento e na escassez de capital.
Nos últimos cinco anos, a compra e venda de títulos de dívida pública tornou-se no principal
negócio do sistema financeiro doméstico, tanto da banca (cerca de 30% das suas aplicações
financeiras, o que é idêntico à soma total dos empréstimos bancários à agricultura, à indústria, ao
turismo, às pescas e aos transportes e comunicações). Como da bolsa de valores (cerca de 80% das
suas transacções financeiras). As tendências especulativas do sistema financeiro doméstico,
exacerbadas pela dívida pública, são determinantes para manter as taxas de juro comerciais altas e
inacessíveis às pequenas e médias empresas produtivas, para reduzir a eficácia de políticas
monetárias expansionistas, para aumentar os efeitos negativos das políticas anti inflacionárias, e
para desestabilizar o metical.

Endividamento acelerado como opção de acumulação


A dívida pública foi largamente utilizada para apoiar o complexo mineral-energético, as suas
infraestruturas e sistemas de defesa e segurança, bem como para o financiamento e o envolvimento
das oligarquias nacionais emergentes no controlo e exploração das riquezas energéticas e minerais
do País, em conjunto com o grande capital multinacional.
Esta foi, apenas, uma opção de classe, e não uma necessidade imperiosa da nação, e nunca foi o
único caminho ou opção disponíveis e/ou possíveis, tendo sido escolhida por ser a que mais
rapidamente atrairia capital multinacional em larga escala para financiar a emergência de
oligarquias nacionais.
As consequências desta opção são profundas e estruturantes: A economia tornou-se mais afunilada
e desarticulada e menos variada, mais vulnerável aos mercados financeiros e de mercadorias e aos
seus choques cíclicos, mais dependente de dívida, mais cara, menos capaz de crescer
sustentavelmente e mais especulativa.
No período 2010-2014, a economia viveu numa bolha especulativa que expandiu e implodiu
(retracção do investimento, desaceleração do crescimento e redução do emprego), depois de ter
explodido (crise de dívida). As capacidades físicas criadas com recurso à dívida não podem
facilmente ser reorientadas para outras dinâmicas económicas e sociais, porque a dívida foi usada
para financiar projectos caros e pouco úteis para a economia como um todo (como a ponte da Ka
Tembe, o aeroporto de Nacala, os jogos Africanos, o estádio nacional do Zimpeto), projectos
ligados ao complexo mineral-energético (infraestruturas, segurança, serviços especializados e
financiamento directo de oligarcas nacionais), entre outros.

O futuro macroeconómico do País, incluindo a sua capacidade de honrar a dívida, foi colocado na
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dependência das expectativas sobre o complexo mineral-energético, ou dos termos da
reestruturação e cancelamento da dívida.
Quais serão as condições dos mercados na segunda metade da década de 2020, e que quantidade de
excedente será, de facto gerada? Quanto desse excedente ficará, de facto, na economia nacional, e
quanto sobrará para alargar a base social do desenvolvimento e garantir uma vida digna aos
moçambicanos? Mesmo que os projectos do carvão e gás atinjam pleno funcionamento em 2023, a
competição pelo rendimento (incerto) será enorme:
(i) entre os custos e retornos dos investidores e as necessidades fiscais da economia; (ii) entre
diferentes aplicações das receitas fiscais, desde o reembolso da dívida até ao financiamento de mais
infraestruturas e logística para o complexo mineral-energético; desde a necessidade de criar fundos
soberanos até às demandas sociais e económicas mais urgentes.
Apesar do rápido crescimento económico, da expansão do investimento e da duplicação do número
de multimilionários, registados na década de 2005-2014, a pobreza não diminuiu , a desigualdade
aumentou significativamente e as condições de trabalho tendem a tornar-se mais precárias.
Portanto, as demandas e pressões económicas, políticas e sociais para transformação da economia e
dos padrões de produção e distribuição vão aumentar significativamente.
Que respostas serão possíveis num cenário pós-bolha económica, com um possível programa de
austeridade social imposto como mecanismo de ajustamento e uma infraestrutura e base produtivas
que não servem as necessidades da economia e dos cidadãos comuns?

Questoes imediatas
Como começar a tratar deste problema?
Primeiro, é preciso contextualizá-lo adequadamente. No debate actual, alguns analistas põem a
ênfase na corrupção, outros relatam, longamente, o cenário internacional, enfatizando a queda dos
preços das mercadorias primárias e, um pequeno grupo, está em campanha contra o FMI e os
doadores.
A contextualização adequada requer, no entanto, ligar a questão da dívida à lógica do processo de
reprodução e acumulação económica em Moçambique. A nossa economia expôs-se a bertamente
aos mercados financeiros internacionais na busca de capital e corporações multinacionais vitais
para o processo de reprodução e acumulação primitiva, privada, de capital. Esta estratégia conduziu
ao maior afunilamento da economia, à perda de diversidade e de capacidade de articulação
doméstica e de substituição de importações, bem como à marginalização da produção de bens e
serviços básicos a baixo custo, em especial produtos alimentares e serviços públicos vitais.

O endividamento público funcionou como “recurso natural”, explorado até ao esgotamento, dado o
espaço de dívida que havia sido criado por duas décadas de austeridade financeira acordada com o
FMI. Este “recurso” foi usado para atrair capital externo –reduzindo os seus custos e riscos –e para
financiar a ligação entre esse capital e as classes capitalistas emergentes em Moçambique, em fase
de acumulação primitiva.
Ao contrário do que é apregoado, a dívida não é o produto de que consumimos mais do que
produzimos, porque a maioria da população e das unidades económicas não beneficia desse tipo de
endividamento.
O grosso da dívida é o produto das opções de desenvolvimento assentes no grande capital
corporativo multinacional e no financiamento de oligarcas nacionais.
Se pensarmos na dívida como excesso de consumo sobre a produção, vamos definir a austeridade
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social e o aumento da produção, mesmo dentro do actual modelo de reprodução e acumulação,
como prioridades, dando destaque à contínua privatização de activos e serviços públicos.
Se pensarmos na dívida como resultado de um modelo económico específico, a preocupação
central será a mudança desse modelo, e não a sua expansão. Portanto, a contextualização da
problemática da dívida é central para a entender e para definir as estratégias de acção.

Segundo, é necessária uma auditoria exaustiva, transparente, rigorosa e pública da dívida,


incluindo os avales a empresas privadas, tornando claro: os tipos de dívida (doméstica, externa,
comercial, concessional, empréstimos do Estado e avales do Estado a empresas privadas), as
condições de reembolso (incluindo períodos de graça e maturidade e os juros), com quem a dívida
foi contraída (a quem devemos), a utilização dada aos empréstimos (em detalhe), quem deles
beneficiou, onde estão os fundos e se podem ser recuperados, a dívida registada e não registada no
orçamento, os mecanismos que permitiram a ocorrência da dívida ilegal, a projecção do serviço da
dívida, entre outros factores.

Terceiro, a auditoria permitirá estabelecer uma estratégia de gestão, reestruturação e cancelamento


parcial da dívida (especialmente, da dívida ilegal), definindo os limites de sustentabilidade com
referência às necessidades de diversificação, alargamento e articulação da capacidade produtiva, de
produção de bens básicos de qualidade e a baixo custo e de prestação dos serviços públicos vitais,
em vez de, apenas, ajustar a dívida aos limites (semi arbitrários) de sustentabilidade fiscal, os quais
são politicamente definidos em função da capacidade política de intensificar medidas de
austeridade social.

É pouco provável que seja possível avançar com a reestruturação e cancelamento da dívida sem
que se proceda a auditoria e sem que as instituições de justiça façam a investigação criminal e
eventual julgamento dos responsáveis pela dívida ilegal.
As instituições públicas têm de se demarcar da governação desastrosa do erário e do bem público,
do período 2005-2014, e dar claras indicações de que este cenário não será repetido.
É preciso credibilizar a governação antes de negociar o que quer que seja, ou a renegociação vai ser
sempre em favor dos credores.

Quarto, é necessário renegociar os contratos com os mega projectos que já produzem lucros há
quatro ou mais anos, como são os casos da Mozal, Sazol, Kenmare e outros, e rever o pacote de
incentivos ao investimento de modo a eliminar incentivos redundantes, aumentar a receita fiscal,
travar o aumento da dívida pública doméstica sem cortes na despesa social e reorientar o
investimento para além do complexo extractivo da economia.
Esta medida poderia contribuir para tornar o sistema financeiro doméstico menos especulativo e
mais interessado no alargamento da base produtiva e comercial da economia.

Quinto, é necessário reestruturar o portfólio de investimento público, incluindo a reavaliação da


racionalidade económica e dos custos dos projectos que fazem parte desse portfólio, o
cancelamento dos projectos menos relevantes para a economia (mesmo que sejam grandes), a
adequação do investimento público às prioridades económicas e sociais nacionais e, finalmente, o
aperfeiçoamento dos sistemas de planificação, de avaliação e de monitoria de projectos e de
decisões públicas, reforçando o escrutínio público e democrático, constitucional sobre as acções do
executivo.

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PORQUE É QUE ESTE CENÁRIO É PREOCUPANTE?


Se o crescimento exponencial da dívida constituiu, ou não, um problema depende do tamanho e
estrutura da economia, da estrutura e das causas da dívida, da sua aplicação, dos termos de
reembolso e das consequências macroeconómicas.

Há países com stocksde dívida mais elevados que os de Moçambique e que continuam a contrair
dívida, porque as suas economias acomodam o endividamento e a sua capacidade produtiva
expande de modo a sustentar o serviço de dívida sem incorrer em crises.
No caso de Moçambique, a economia nacional é muito vulnerável, sobretudo quando exposta tão
abruptamente aos mercados financeiros internacionais, pela sua dependência de importações, para
o consumo e para investimento, e de um pequeno número de produtos primários para exportação,
para mercados voláteis e com elevadas taxas de substituição de produtos, Portanto, quando a
economia expande, as importações tendem a crescer mais rapidamente que as exportações.

O endividamento rápido resulta desta dinâmica de dependência e consolida-a. A par do aumento


significativo do défice da conta de rendimentos, no mesmo período o valor das exportações
contraiu por causa da queda dos preços dos produtos primários, e as importações aumentaram em
linha com a expansão da economia.
A crise da balança de pagamentos é mascarada pela entrada de capitais externos, numa primeira
fase, mas revela-se quando a economia começa a servir dívida. Por outro lado, a dívida pública
interna, financiada sobretudo pela venda de títulos de dívida com altas taxas de juro, contribui para
tornar o sistema financeiro doméstico mais especulativo.

O facto de a dívida ser crescentemente comercial adiciona dois problemas: é mais cara e com
prazos de pagamento mais curtos, e é mais difícil de renegociar e reestruturar sem custos
adicionais.

Finalmente, o grosso da dívida foi aplicado em armamento ou em grandes projectos de


investimento, de retorno e prioridade duvidosos, e de muito longo prazo, não gerando capacidade
de servir a dívida a curto e médio prazo.
A combinação destes factores aumenta os riscos para os investidores e os custos do capital, bem
como as taxas de juro da dívida, tornando-a mais cara, mais difícil de servir e, portanto, mais capaz
de se autorreproduzir, e dificultando a mobilização de recursos, dentro e fora da economia, para
servir a dívida e para desenvolvimento.

Governador do Banco de Mocambique e as Dividas


A dívida pública de Moçambique 'passou de 40 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2013
para cerca de 120 por cento agora (2018), e isso é assustador', disse o governador do Banco Central
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de Moçambique.
Respondendo a perguntas da audiência durante um debate na conferência Horasis Global Meeting,
que decorreu em Cascais, Lisboa, Rogério Zandamela acrescentou que 'parte dessa dívida é da
dívida não divulgada, que é um montante enorme'.

A agência de notícias LUSA escreveu que Zandamela mostrou-se, no entanto, confiante na


capacidade do país em ultrapassar a crise económica, orçamental e financeira em que está
mergulhado, mas não escondeu que há muitos desafios pela frente.
Moçambique, lembrou, acumula défices orçamentais ano após ano, e respalda-se no Investimento
Directo Estrangeiro e nos doadores internacionais.
'Se este é modelo de desenvolvimento que vamos continuar a ter, então vamos ter problemas.
Vamos ter muito dinheiro, mas vamos continuar pobres, porque a maioria da população não tem
emprego nem há hospitais', exemplificou o governador.

Observacoes do Economista Mocambicano Carlos Nuno Castel-Branco


Qual é a situação da dívida pública, incluindo as garantias públicas ilícitas à dívida
privada?

Na década 2005-2015,

• A dívida pública total cresceu 50% mais depressa do que a economia


• A dívida pública comercial total cresceu 6 vezes mais depressa do que a economia (esta é a dívida mais
cara, de mais curto prazo e mais difícil de renegociar).
Mesmo sem contar as garantias públicas ilícitas à dívida privada, a dívida comercial cresceu 5 vezes mais
depressa do que a economia. Esta componente tornou-se no factor principal do crescimento meteórico da
dívida pública.

• Das várias categorias de dívida pública, somente a dívida concessional (mais barata, de mais longo prazo e
menos difícil de renegociar) cresceu mais lentamente do que a economia
• As garantias ilícitas pioraram o cenário da dívida, mas, mesmo sem o ilícito, este cenário já era perigoso.

O que são garantias públicas ilícitas?


São garantias dadas em nome do Estado para a dívida assumida por empresas privadas,
que garantem aos credores que se as empresas não pagarem as dívidas o estado as pagará.

Porque são ilícitas?


Porque violaram a constituição e a lei orçamental no que diz respeito a quem tem a competência
para aprovar limites de garantias e montantes de dívida cujo serviço exceda o mandato de um
governo, e não foram registadas no orçamento.
É provável que haja outros ilícitos (por exemplo: as tais empresas privadas existem? Em que foi
usado o dinheiro?) mas só uma auditoria detalhada poderá apurar isso.

Embora a dívida ilícita piore a situação e reduza drasticamente a credibilidade das


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instituições nacionais, a dinâmica de endividamento público como opção de desenvolvimento é o
problema maior. Como veremos nos dados que se seguem:

•A dívida ilícita é apenas um sexto do stock da dívida pública total, e um quarto do stock da dívida
externa,…
•…mas a dívida ilícita é quase metade da dívida comercial, sendo muito cara, de muito curto prazo,
envolvendo ligações financeiras internacionais complexas e obscuras, e de difícil renegociação.

A divida em si não e Problema


A dívida, em si, não tem que ser entendida como um grande problema. Se a dívida for utilizada
para financiar um processo de acumulação e reprodução económica, que não só permita sustentar o
serviço da dívida, mas gere mais opções e oportunidades na economia, a torne mais dinâmica e
amplifique os seus benefícios sociais, então a dívida pode jogar um papel útil.

A dívida não tem somente o lado da despesa, tem também o da receita

• O grande capital beneficia de incentivos fiscais por longos períodos, de grande dimensão e,
geralmente, redundantes.

• O valor dos incentivos fiscais redundantes dados a apenas três grandes empresas – Mozal, Sasol e
Kenmare – é superior ao crescimento médio anual da dívida pública doméstica nos últimos dez
anos.
Se tais incentivos fossem eliminados, com a mesma despesa o Estado poderia travar o crescimento
da dívida pública doméstica, libertando recursos no orçamento do estado e reduzindo o efeito
especulativo sobre o sector financeiro doméstico.

• Outras formas de perda de receita: taxas de terra, concessão de infraestruturas públicas a baixo
custo,
Concessão de recursos naturais estratégicos a baixo custo, venda de gás e outros recursos naturais a
preços baixos.

• Isto favorece o grande capital (multinacional e doméstico), mas limita as opções e as capacidades
fiscais do Estado e reforça a desigualdade e injustiça social na distribuição do rendimento (por
exemplo, os trabalhadores e as pequenas e médias empresas pagam mais impostos que os mega
projectos).

Implicações da dívida pública

• Serviço da dívida e o Orçamento do Estado: redução da capacidade financeira do Estado para


prosseguir políticas e programas económicos e sociais mais amplos, gerando uma crise fiscal e
tornando o Estado em servidor do grande capital.
Reforço da desigualdade e injustiça social na distribuição do rendimento.
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• Dívida autoalimenta-se: contrair nova dívida para pagar dívida (por exemplo: o rápido
crescimento da dívida externa comercial acelerou o crescimento da dívida interna; mais dívida
concessional, por exemplo, empréstimos do FMI para repor reservas externas e estabilizar a moeda,
para lidar com consequências da dívida a curto prazo; baixas expectativas sobre a capacidade de o
país pagar dívida podem aumentar os juros de tal modo que o serviço da dívida se torna
insustentável e o stock de dívida cressce por acumulação de arrears).

Dívida incentiva especulação financeira e reduz a capacidade de financiamento da produção e torna


o sistema financeiro mais especulativo:

• O rápido crescimento da dívida externa contrai a disponibilidade de moeda externa (vital numa
economia dependente de importações para investir e para operar a capacidade produtiva), aumenta
o risco da economia e aumenta o custo do capital externo (exemplos: redução brutal do rating de
Moçambique no sistema financeiro internacional; duplicação, em pouco mais de um ano, dos
prémios de financiamento externo);

• Dado que o serviço de dívida aumenta, a dívida interna, utilizada para financiar o défice público
de curto prazo, aumenta.

• O rápido crescimento da dívida interna exacerba o carácter especulativo do sistema financeiro


nacional e mantém o capital excessivamente caro e inacessível às pequenas e médias empresas
(cerca de 25% do financiamento bancário usado para aquisição de títulos de dívida pública;
80% das transacções na bolsa de valores são transações de dívida pública)

O carácter especulativo do sistema financeiro faz falir empresa produtivas:


• Dívidas correntes insustentáveis
• Financiamento futuro insustentável e crise da oferta

•A ruptura das reservas externas e da disponibilidade de divisas impede e encarece as importações.


Numa economia tão dependente de importações – para investimento, para operação da capacidade instalada
e para o consumo básico – o rápido crescimento da dívida e o seu efeito na depreciação da moeda nacional e
efeito especulativo no sistema financeiro geram dois efeitos cumulativos que reduzem o poder de compra e
a produção e aumentam a pobreza (crise da oferta e da procura):

• Emprego diminui porque as empresa não conseguem importar o que necessitam (e não há capacidade
instalada de substituição de importações, a curto prazo)

•O custo dos bens básicos aumenta.


• A dívida ilícita e secreta reduz a credibilidade e a soberania política e financeira do Estado e de
todas as instituições nacionais, e torna mais difícil e mais caro o acesso a capital.

As dívidas ocultas representam apenas cerca de 20% da dívida pública total

Contudo, ainda que significativas para o crescimento do custo e do stock global, as dívidas ocultas
representam apenas cerca de 20% da dívida pública total (Direcção Nacional do Tesouro, 2017).
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Previamente à sua contração, a dívida pública total já vinha registando taxas médias de crescimento
anual de cerca de 20%, tendo a sua parte comercial crescido em cerca de 60% nos últimos cinco
anos que antecederam a descoberta das dívidas “ocultas”.
Parte significativa do aumento registado resulta de dívida de Moçambique para com o Brasil,
Rússia, China e Índia, comummente conhecidos pela sigla BRICS. Esta constatação suscita
questões sobre o peso desta dívida no total de stock da dívida pública, assim como sobre o seu uso
e suas implicações para a economia de Moçambique.

Breve Analise sobre a evolução de Stoque da dívida pública em Moçambique

A Dívida para com os BRICS


Nos últimos anos, o grosso dos créditos contraídos pelo governo de Moçambique foi com base em
acordos feitos com países que fazem parte dos BRICS.
Entre 2012 e 2015, a dívida com este grupo de países foi determinante para a aceleração e aumento
do custo da dívida pública total de Moçambique. Entre 2008 e 2015 a dívida para com os BRICS
contribuiu em cerca de 80% e 45% para o crescimento da dívida bilateral e total, respetivamente.
Os créditos comerciais contraídos com os BRICS representaram cerca de 50% dos créditos totais
contraídos entre 2012 e 2015, o que contribuiu para que o serviço da dívida bilateral representasse
61% dos juros pagos.
Na prática, a relação financeira de Moçambique com os BRICS é dominada pela China, que é de
onde provém cerca de 80% da dívida total com este grupo de países. Depois da China, a Índia com
10% tem o segundo maior peso no stock de dívida, seguida do Brasil e da Rússia.

Implicações Socioeconómicas da Dívida Pública em Mocambique

O elevado nível de endividamento que tem caracterizado as finanças públicas do Estado


Moçambicano, tem influído negativamente na economia deste país, este facto é comprovável,  por
sequintes indicadores negativos:

- Excessiva inflação, e por conseguinte desvalorização da moeda nacional;


- Menor capacidade de provimento de serviços públicos básicos pelo Estado;
- Aumento do desemprego com todas consequencias dai provenientes;
- Redução do consumo, e do respetivo investimento privado, afetando assim o desenvolvimento do
país não apenas a curto prazo como também a longo prazo.
- Limitação e a redução da intervenção do Estado;
- desaceleração do crescimento económico.

Estas consequências advém na sua maior parte da não aplicação do crédito de uma forma que
beneficie a economia e da má gestão da dívida pública nos processos subsequentes de
endividamento.

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Conclusão

Moçambique parece estar condenado ao fracasso com tudo o que possui para poder andar num bom
caminho, crescer economicamente e desenvolver:
Tem extensa costa marítima com todos os recursos marinhos; Tem extensas áreas
de terras arraveis, para a prática de todo o tipo de agricultura;
Tem mao-de-obra jovem para trabalhar e produzir;
Tem uma das maiores barragens para a produção de energia elétrica para mover todo o tipo de
maquinas, Iluminar todas as residências e empresas; Tem vários rios com caudal permanente;
E tem sobretudo vários recursos minerais, desde o ouro, prata, diamante, areias pesadas, Gás,
petróleo e Tudo. Mas devido à ambição, corrupção e sobretudo endividamento indevido, o país
continua nos primeiros lugares dos
países mais pobres do mundo e dos mais subdesenvolvidos deste planeta Terra.

Bibliografia
- Manual de Macroecomia de ISCED, 2º Ano, Código: ISCED22-ECOCFE010
- BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
- DORNBUSCH, Richard; FISCHER, Stanley. Macroeconomia. 11. ed: Porto Alegre, 2013.
- SANTOS,Jorge; PINA, Álvaro; BRAGA, Jacinto; AUBYN, Miguel.Macroeconomia.
3ª ed: editora escolar, 2010.
- www.tesouro.gov.br/documents
- journals.openedition.org/cea/2964

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