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Gestão da Dívida Pública

1) Da Junta do Crédito Público ao Instituto de Gestão do Crédito Público

A evolução do regime jurídico da dívida pública, parte da extinção da Junta do Crédito


Público, determinada pelo art.30º Lei Orgânica do Ministério das Finanças (Decreto-Lei
nº158/96 de 3 Setembro) e a sua substituição pelo Instituto de Gestão do Crédito Público
(IGCP), art.8º do mesmo diploma.

2) Do Instituto de Gestão do Crédito Público à Agência da Tesouraria e da Dívida


Pública – O reforço da Tecnocracia

Os Estatutos do IGCP e Lei nº7/98 de 3 Fevereiro, estabelecem o regime geral de emissão


e gestão da dívida pública.

O Decreto-Lei nº200/2012 de 27 Agosto – altera a designação (ainda que conservando a


sigla) para Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP, E.P.E) – aumenta a
independência da agência, para a criação de entidades desse tipo.

O novo regime geral de emissão e gestão da dívida pública

Lei Nº7/98 de 3 Fevereiro: define o novo regime geral de emissão e gestão da dívida
pública, revogando as leis anteriores e demais legislação complementar, ao mesmo tempo
que aponta para uma revisão geral do regime da generalidade dos instrumentos de dívida
pública, que tem vindo a traduzir-se numa cada vez maior complexidade de operações que
acompanham a evolução dos mercados financeiros.

Esta lei obedece a objetivos de simplificação e clarificação do regime jurídico da


dívida, torna clara a divisão de competências entre as entidades com competência
na matéria. Comporta 4 títulos:

Disposições Gerais Emissão da Dívida Gestão da Dívida Disposições Finais


Pública Pública

Quanto ao 1º diz respeito a uma tentativa de definir os princípios gerais, a que fica
sujeito o recurso pelo Estado a empréstimos públicos (a Constituição não fixa
quaisquer limites ao endividamento público), assim como também se relaciona
com a alteração de alguns conceitos fundamentais em matéria de dívida.

Lei Nº7/98 estabelece que o recurso ao endividamento público direito deve


conformar-se com as necessidades de financiamento geradas pela execução das
tarefas prioritárias do Estado (definidas pela CRP) e salvaguardar, o equilíbrio das
contas públicas.

Tem havido uma crescente importância do debate em torno das potenciais vantagens da
inclusão de limites constitucionais ao recurso da dívida pública. A Lei mantém, como
imposto pela CRP, um papel de primazia da Assembleia, art.4º/1/2 (este último nº sem
caráter de obrigatoriedade).

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Os poderes da Assembleia, art.15º, passam por uma informação trimestral sobre
os financiamentos e as condições dos empréstimos e pela possibilidade de a
qualquer momento, convocar o presidente do Instituto de Gestão do Crédito
Público para audiência destinada a prestar informação sobre os empréstimos
contraídos.

A competência do Governo, está estabelecida no art.5º/1.

Modalidades de dívida

Dívida Pública Financeira: (por Sousa Franco) um encargo em que o Estado incorre em
virtude de uma operação financeira, pela qual lhe foram emprestados ativos financeiros,
devendo reembolsá-los e/ou pagar juros ou rendas.
Dívida acessória do Estado: resultante das garantias que o Estado concede a devedores
privados/públicos para a obtenção de empréstimos, Lei Nº112/97 de 16 Setembro,
art.1º/2.

Cumpre à Assembleia, no âmbito das suas competências legislativas e políticas,


estabelecer o limite máximo dos avales a conceder em cada ano pelo Governo, art.161º/h
CRP, limite este que é aprovado pela Lei do Orçamento de Estado. Já, LEO/2015,
estabelece que sobre o articulado há certos limites para as garantias, art.41º/1/g.

A dívida financeira do Estado

A dívida financeira abrange a dívida flutuante e a dívida fundada.

Dívida Flutuante Dívida Fundada


Corresponde a empréstimos em que o São empréstimos com prazo de validade
reembolso deve ocorrer no próprio ano superior ao anual, o que abrange figuras
em que são contraídos. clássicas em que se não prevê pagamento
(dívida perpétua/consolidada), hoje
praticamente inexistentes, e os
empréstimos que se destinam a ser
reembolsados em circunstâncias
extraordinárias.

Quanto à dívida interna e externa, a lei-quadro da dívida pública, passou a considerar a


dívida interna aquela que é emitida em moeda com curso legal no país, sendo externa a
restante (e não o facto de ser celebrada no próprio país ou fora).

Os mercados secundários de dívida pública

Essencial para o bom funcionamento da dívida pública é a existência de mercados


secundários ativos e bem regulados onde os títulos públicos possam ser transacionados da
mesma forma que os privados. 3 segmentos complementares a saber:

Plataformas Eletrónicas Bolsa de Valores Operações realizadas em


balcão/fora da bolsa

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As agências de rating
1) Generalidades

Estas agências (de natureza privada) condicionam as opções dos intervenientes nos
mercados financeiros e dispõem, de condições únicas para ajudar a um funcionamento
regular/para, a contrário, introduzir perturbações do mercado.

Estas não atuam apenas na área da dívida pública, estando a sua origem relacionada com
os mercados comerciais, onde assumiam a responsabilidade por avaliar o risco dos títulos
emitidos. Essa avaliação de risco era solicitada pelas entidades emitentes.

Hoje em dia, o seu interesse tende a alinhar com os investidores em títulos soberanos,
apresentando baixos ratings dos Estados devedores que funcionam como um fator de
diminuição do risco e de obtenção de juros mais altos na aplicação.

Rating: uma opinião relativa à capacidade financeira e solvabilidade de uma


entidade – um parecer sobre a capacidade de uma entidade vir a satisfazer as suas
necessidades financeiras dentro do prazo estabelecido.

Notação de risco: classificação através que uma nota que indica a capacidade de
um emitente de dívida, público/empresarial, cumprir com os pagamentos.

Para determinar a classificação de um título, a agência de notação de risco analisa as


contas do emitente e os compromissos legais ligados a esse título, de modo a analisar a
probabilidade de incumprimento do título.

A sustentabilidade da dívida

Esta é a preocupação central, a da capacidade dos Estados para assumirem o pagamento


presente e futuro da dívida, que ignoram as consequências económicas e sociais das
medidas tomadas para que essa meta seja escrupulosamente cumprida.

A sustentabilidade pressupõe a conjugação de 3 variáveis:

O peso relativo que essa A taxa de juro que lhe é A taxa de crescimento
dívida já atingiu aplicada nominal do PIB

Tais variáveis estabelecem entre si uma relação que torna possível estimar a ordem de
grandeza que deve ter o saldo orçamental (diferença entre receita e despesa, aferido
antes da despesa com o pagamento de juros) das Administrações Públicas para que a
respetiva dívida se mantenha estável.

A ideia de sustentabilidade exige uma gestão financeira adequada, aparecendo como


decisiva a opção que se tome como fundamental para a garantia do equilíbrio. A
perspetiva é a que parte do princípio de que a sustentabilidade se assegura pela via de
redução das despesas e da consagração do princípio orçamental.

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Contudo, esta ideia não resolve o problema fundamental de saber qual deve ser a
dimensão exata da redução do endividamento e do défice ou a taxa de
crescimento do PIB que permitirá alcançar esse objetivo.

A possibilidade de aumento da sustentabilidade da dívida, ou de outro modo, de


redução do seu peso no PIB, depende sobretudo do desenvolvimento económico.

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