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Universidade Agostinho Neto

Faculdade de Economia
Mestrado em Gestão na Especialidade de Administração e Finaças

A POLITICA TRIBUTÁRIA E O DESENVOVIMENTO ECONOMICO


DE ANGOLA

GRUPO 4:
Estanislau Afonso
Fábio Belo
Carlos Muchambi
Celso Dala
Heraclito da Silva
Isabel Fernando
Jeronimo Velho
Marilda Fatima

ORIENTADOR: Doutor Pedro Pereira

Pré-projecto apresentado à Comissão de Selecção do Curso de Mestrado em Gestão na


Especialidade de Administração e Finanças

Luanda 2017
Universidade Agostinho Neto
Faculdade de Economia
Mestrado em Gestão na Especialidade de Administração e Finanças

A POLITICA TRIBUTÁRIA E O DESENVOVIMENTO ECONOMICO


DE ANGOLA

GRUPO 4:
Estanislau Afonso
Fábio Belo
Carlos Muchambi
Celso Dala
Heraclito da Silva
Isabel Fernando
Jeronimo Velho
Marilda Fatima

Pré-projecto apresentado à Comissão de Selecção do


Curso de Mestrado em Gestão na Especialidade de
Administração e Finanças, orientado pelo Doutor
Pedro Pereira
Luanda 2017
RESUMO

A actividade fiscal de governo influencia a economia, seja através da aplicação de


recursos públicos pelo processo político e orçamentário, ou pela arrecadação desses
recursos, principalmente por meio da actividade tributária. Surge assim princípios
econômicos que consubstanciam limites da actividade impositiva. A análise do alcance
jurídico destes princípios evidencia tratar-se de vertentes ou subprincípios dos
princípios jurídicos. A relação entre ambos é essencial para a orientação da aplicação
dos conceitos jurídicos no campo das finanças e, de maneira inversa, a jurisdição dos
conceitos provenientes dos princípios económicos.

A introdução de qualquer tributo pode piora a situação dos tributados porque terão
menos recursos para consumir ou trabalharão mais se não quiserem consumir menos.
Quando se consideram os benefícios recebidos pelos contribuintes, a sua situação pode
ficar melhor que antes do tributo, quando, por exemplo, o governo fornece bens público
ou completa o mercado de forma eficiente. É nesta senda que a Reforma Tributária em
Angola tem vindo a ser debatida, construída e ajustada ao longo dos últimos anos. Este
processo esta a implementar um novo regime mais estável para as receitas tributárias de
diversas naturezas, tendo sido publicado no final de 2014 o pacote legislativo que
estabiliza a estrutura fiscal que deve reger a actividade dos agentes económicos
(Galhardas, 2015).

As expectativas de um sistema tributário que impulsione o crescimento socioeconómico


e aumente a produtividade da economia do país é muito grande. Considerando que o
sistema actual beneficia os ricos e prejudica a classe média e os pobres que pagam mais
impostos proporcionalmente à renda que têm do que os ricos.

Palavras Chaves: Reforma Tributaria em Angola, Desenvolvimento de Angola,


Tributo, Sistema Tributário Angolano, AGT, Desenvolvimento Socioeconómico

1
ABSTRACT

Government fiscal activity influences the economy, either through the application of
public resources through the political and budgetary process, or through the collection
of these resources, mainly through tax activities. In this way, economic principles
emerge, constituting limits of tax activity. The analysis of the legal scope of these
principles shows that they are aspects or sub-principles of legal principles. The
relationship between the two is essential for guiding the application of legal concepts in
the field of finance and, conversely, the jurisdiction of concepts derived from economic
principles.

The introduction of any tribute can worsen the situation of the taxed because they will
have less resources to consume or will work more if they do not want to consume less.
When you consider the benefits received by taxpayers, they situation may get better
than before tax, when, for example, the government provides public goods or completes
the market efficiently. It is on this path that the Tax Reform in Angola has been
debated, reformed and adjusted over the last few years. This process is implementing a
new and more stable regime for tax revenues of various natures The legislative package
stabilizing the fiscal structure that governs the activity of economic agents was
published at the end of 2014 (Galhardas, 2015).

The expectations of a tax system that drives socioeconomic growth and increase the
productivity of the country's economy is very large. Whereas the present system
benefits the rich and harms the middle class and the poor who pay more taxes in
proportion to their income than the wealthy.

Keywords: Tax Reform in Angola, Development of Angola, Tribute, Angolan Tax


System, AGT, Socioeconomic Development

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INDICE DE TABELAS

Tabela 1: Receitas Fiscais 2003/2016 ............................................................................ 23

Tabela 2: Indicadores desenvolvimento e Subdesenvolvimento .................................... 30

Tabela 3: Intervalo de Classificação do IDH.................................................................. 31

3
INDICE DE GRAFICOS E FIGURAS

Figura 1: Grafico da distribuição do PIB por sector da economia Angolana ................. 22

Figura 2: Distribuição de Rceitas por Rendimento ........................................................ 32

Figura 3: Ganhos alcançados pela Reforma Tributaria .................................................. 37

Figura 4: fonte AGT (2017) - Evolução da base de contribuinte e pagamentos não


petroliferos ...................................................................................................................... 40

4
ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7
1.1. Contextualização ................................................................................................ 7
1.2. Finanças publicas ............................................................................................... 8
1.3. Sistema Tributário.............................................................................................. 9
1.3.1. Impostos ................................................................................................... 10
1.3.2. Taxas......................................................................................................... 10
1.3.3. Contribuições ............................................................................................ 10
1.3.4. Empréstimos compulsórios ...................................................................... 10
1.3.5. Princípios Regentes da Teoria da Tributação ........................................... 10
1.3.6. Política Fiscal do Estado e suas Funções ................................................. 11
1.4. Desenvolvimento Socioeconómico.................................................................. 12
1.5. A Reforma Tributaria....................................................................................... 13
1.6. Identificação do Problema ............................................................................... 16
1.6.1. Formulação do Problema .......................................................................... 16
1.7. Formulação da Hipótese .................................................................................. 16
1.8. Objectivos do Estudo ....................................................................................... 16
1.8.1. Gerais ........................................................................................................ 16
1.8.2. Específicos: ............................................................................................... 16
1.9. Justificativa ...................................................................................................... 17
1.10. Limitação e Delimitação .............................................................................. 17
1.10.1. Limitação .............................................................................................. 17
1.10.2. Delimitação ........................................................................................... 17
1.11. Metodologia da Pesquisa .............................................................................. 18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 19
3. A IMPORTÂNCIA DA TRIBUTAÇÃO EM ANGOLA. ..................................... 22
3.1. Sonegação e Elisão Fiscal ................................................................................ 23
3.2. Sistema Fiscal Angolano ................................................................................. 24
3.2.1. Princípios Gerais ...................................................................................... 24
3.2.2. Reforma Tributaria ................................................................................... 26
4. DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL ............................................ 27
4.1. Administrativa e Financeira. ............................................................................ 28
4.1.1. Actividade Administrativa ........................................................................ 28
4.1.2. Actividade Financeira ............................................................................... 28
4.2. Desenvolvimento economico e a Actividade Empresarial .............................. 29
4.3. Crescimento Económico versus Desenvolvimento de Angola ........................ 30

5
4.4. Serviço de Saude e Educação .......................................................................... 33
4.5. As receitas fiscais ............................................................................................. 33
5. A REFORMA TRIBUTÁRIA ANGOLANA ........................................................ 34
5.1. Motivos da reforma tributária .......................................................................... 35
5.2. Evolução da reforma Tributária ....................................................................... 36
5.3. Principais resultados alcançados ...................................................................... 38
5.3.1. Lei do Investimento Privado Lei n.º 14/15, 11 de Agosto ....................... 39
5.4. Impacto da reforma sobre os impostos ............................................................ 40
5.4.1. Imposto Industrial ..................................................................................... 40
5.4.2. Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho ............................................ 41
5.4.3. Imposto do Selo ........................................................................................ 41
5.4.4. Imposto sobre a Aplicação de Capitais..................................................... 41
5.4.5. Imposto de Consumo ................................................................................ 42
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 43
7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 45
BIBILIOGRAFIA ........................................................................................................... 46

6
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização

Historicamente, o tributo sempre esteve relacionado a grandes transformações político-


jurídicas da sociedade. Para citar alguns exemplos, a denominada magna carta de 1215 o
Bill of Rights, o constitucionalismo do seculo XVIII, a Revolução das colonias Britânicas
da América do Norte, a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira, todas tiveram no
tributo o seu motor (Sequeira, 2014).

O Estado como ente organizado nasce da concepção do contrato social, onde, de um lado
temos o cidadão se submetendo a regras de convivência social, e de outro temos uma
entidade colectiva que manterá uma estrutura para proporcionar o bem comum a todos os
cidadãos. Dessa forma, para que o estado cumpra o seu papel, duas actividades serão
inerentes à sua existência: administrativa e financeira (Eugene & Abigail, 2016).

A actividade administrativa consiste justamente na execução e no pleno exercício de


actividades que propiciem o bem comum. Porém, para o cumprimento da actividade
administrativa é sabido que será necessário a realização de despesas públicas que trata do
empenho da receita pública para o pleno funcionamento Estado (Costa & Souza, 2008).

Do outro lado, teremos a actividade financeira do Estado consistente na arrecadação de


recursos financeiros necessários para implementar as actividades administrativas e atingir o
bem comum. Basicamente, o Estado para o cumprimento de sua actividade administrativa
buscará recursos através de fontes de receitas originárias e derivadas. As originárias
compreendem a arrecadação proveniente da própria exploração dos bens públicos através
da cobrança do preço público. Já a derivada pressupõe a arrecadação através da actividade
tributária e da aplicação de penalidades pelo Estado (Costa & Souza, 2008).

O Estado intervém na economia através da produção directa ou da concessão de subsídios,


com o intuito de gerar externalidades positivas e negativas. Como por exemplo, a cobrança
de multas, taxas, impostos e regulamentações. Este serve-se da actividade fiscal na sua
função distributiva como instrumento para minimizar as desigualdades económicas e
regionais. Através da alocação equitativa de benefícios pelos contribuintes, o Estado tende
a melhorar as suas condições sociais, por exemplo, através do fornecimento de bens
públicos ou complemento de um mercado (Macek, 2014). No entanto, a introdução de

7
qualquer tributo pode também piorar a situação dos tributados, i.e., estes terão menos
recursos para consumir ou trabalharão mais se não quiserem consumir menos (Saxton,
2011).

1.2. Finanças publicas

Em Angola as finanças públicas têm sido caracterizadas por uma exagerada dependência
das receitas fiscais petrolíferas, cerca de 70% em média, um declínio notório da base fiscal
não‑petrolífera, reflexo da crise económica, do crescimento do sector informal, do aumento
da inflação e da deficiente organização e capacidade fiscal do Estado, um peso acentuado
das despesas militares, um manifesto excesso de despesas com os funcionários públicos e
um pesado serviço da dívida pública. Os défices fiscais aumentaram muito a partir de
meados dos anos 80 e foram sempre financiados com acumulação de dívida externa e
expansão monetária (da Rocha, et al., 2016).

As receitas tributárias são a principal forma de ingresso público nas economias modernas e
a tributação, por seu modo, está regrada pelo direito, que disciplina as relações entre o Fisco
e os contribuintes. O Estado, para cumprir a sua função utiliza-se do instrumento da
tributação, que consiste na expropriação lícita do patrimônio dos contribuintes (de Oliveira
& Biasoto Jr., 2015). Dessa forma, os impostos são arrecadados pelo Estado para garantir
suas despesas gerais. Não é legalmente estabelecida qualquer relação entre a arrecadação
dessa espécie de tributo e actuação estatal específica e nem está vinculado a qualquer
princípio identificador de benefício direto dos contribuintes pagantes. São exigidos sobre
factos praticados pelos respectivos sujeitos passivos da regra de incidência, em base de
cálculo previamente estipulada. Logo, não pode o ente estatal tributar a revelia, sem prévia
norma que autorize e discipline como a cobrança (Eugene & Abigail, 2016).

Para Padda & Akram (2009), os princípios econômicos consubstanciam limites da


actividade impositiva. A análise do alcance jurídico destes princípios evidencia tratar-se de
vertentes ou subprincípios dos princípios jurídicos. A relação entre ambos é essencial para a
concretização no plano fáctico e jurídico. Enquanto os princípios jurídicos regem os
conceitos trazidos pelos princípios econômicos, de maneira inversa, os princípios
econômicos direcionam a aplicação dos princípios jurídicos no campo das finanças
públicas.

8
1.3. Sistema Tributário

Os sistemas tributários e fiscais refletem as opções tomadas pelas sociedades, para definir
que tipo de bens e serviços públicos querem ter. Os serviços públicos exigem cada vez mais
recursos. Para reverter à situação, tem-se que buscar novas fontes de financiamento, sem
comprometer a classe média e os pobres. Segundo Sequeira (2014), a estrutura e o
funcionamento do sistema fiscal Angolano resultam da conjugação de vários fatores sendo
uns de natureza económica e outros de natureza política. A actividade fiscal de governo
influencia a economia, seja através da aplicação de recursos públicos pelo processo político
e orçamentário, seja pela arrecadação desses recursos, principalmente por meio da
actividade tributária1.

Espera-se da actuação estatal na economia, portanto, duas importantes finalidades: a


primeira deve ser promover melhor distribuição dos recursos na sociedade, reduzindo as
desigualdades, e a segunda está relacionada a permitir a actuação do mercado da forma
mais eficientemente possível na geração de riquezas, promovendo o crescimento econômico
(Galhardas, 2015). A tributação impõe aos cidadãos a restrição de sua renda e da
propriedade pessoais, reduzindo a capacidade de consumo e de acumulação de riqueza
individuais, e, por isso mesmo, constitui uma das mais evidentes manifestações do poder do
Estado, situando-se no mesmo patamar da manutenção da ordem pública e da aplicação de
punições criminais.

Os direitos do cidadão contribuinte constituem aspecto essencial dos direitos fundamentais,


por isso que o exercício do poder de tributar deve ser seja limitado, de modo a garantir-se a
segurança dos contribuintes em suas relações com o Fisco. Uma vez que a tributação
consiste na limitação da liberdade individual em prol do bem comum, seu exercício
legítimo pressupõe que o espaço de actuação estatal seja limitado ao que foi previamente
demarcado pela sociedade, através de seus representantes, pelo estabelecimento de normas
que prescrevem os limites formais e materiais ao poder de tributar (Costa & Souza, 2008).

Assim, a autorização legislativa para a tributação caminha junto com as limitações à


tributação, de modo que a competência tributária deve ser entendida como a soma da
autorização e da limitação para o exercício de funções tributárias. É dessa junção entre
limitação e autorização da actividade de arrecadação do Estado que surge a segurança

9
tributária, que está na base do estatuto dos contribuintes. A arrecadação do estado por se por
meio de impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios.

1.3.1. Impostos

Imposto são tributos cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de
qualquer actividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Assim, os impostos são
arrecadados pelo Estado para garantir suas despesas gerais; não há relação com
nenhuma actuação estatal específica e nem está atrelado a qualquer princípio
identificador de benefício direto dos contribuintes pagantes.

1.3.2. Taxas

A taxa é exigida tendo em vista uma actuação estatal determinada, ou seja, é cobrada
daqueles que provocam uma atuação por parte do Estado e acabam por beneficiar-se
dela, de maneira direta e específica. Sua razão de ser é a necessidade estatal de cobrir
custos pela execução de suas actividades que são usufruídas por um contribuinte ou
grupo determinado deles. É regida pelo princípio de que quem causa a actividade estatal
deve custeá-la, isto é, o princípio do benefício.

1.3.3. Contribuições

As contribuições são espécies tributárias instituídas e arrecadadas pelo Estado para


suportar gastos públicos em áreas específicas e de relevância. Estão fundamentadas no
princípio do benefício e da solidariedade.

1.3.4. Empréstimos compulsórios

Têm por função econômica suprir as necessidades financeiras específicas do Estado


quando da ocorrência de fatos determinados, tais como: calamidade, guerra,
investimentos públicos de caráter urgente e de relevante interesse nacional, possuindo
caráter vinculativo à despesa que fundamentou sua instituição.

1.3.5. Princípios Regentes da Teoria da Tributação

A teoria tributaria é regida por quatro princípios: a) simplicidade; b) neutralidade; c)


progressividade; d) equidade; e e) Flexibilidade.

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a) Simplicidade

Este princípio consiste em desonerar as pessoas (contribuintes) de custos desnecessários


com a interpretação e aplicação das normas tributárias e facilitar o trabalho
administrativo aumentando a eficiência e qualidade nas actividades de fiscalização e
arrecadação;

b) Neutralidade

A politica fiscal de um Estado não deve provocar desvios ou redireccionamentos quanto


a alocação de recursos na economia, sob pena de distorce-la e tornar o sistema tributário
ineficiente;

c) Progressividade

Por sua vez, um sistema tributário deve procurar tributar as pessoas de forma
progressiva, isto é, aqueles que auferem maior renda devem pagar mais tributos. Isso
possibilita a redistribuição de renda;

d) Equidade.

Corresponde ao respeito à capacidade contributiva ou à justiça fiscal. A parcela que


cada cidadão deve contribuir par o custo do governo deve ser justo. Implica tratar
igualmente situações iguais e desigualmente situações desiguais na medida de suas
desigualdades;

e) Flexibilidade

Consubstanciada na capacidade de se ajustar automaticamente às variações nas


condições econômicas, sem perda de arrecadação;

1.3.6. Política Fiscal do Estado e suas Funções

As actividades do Governo influenciam a economia de forma que se realize uma


política econômica com o intuito de atingir seus principais objetivos que se assentam
em suprir as necessidades da coletividade com recursos provenientes dos ingressos
públicos, tais como as receitas advindas da arrecadação fiscal, rendas produzidas por

11
organizações do Poder Público, multas, tarifas públicas, empréstimos contraídos,
doações, expropriações em casos excepcionais, etc. Para cumprir com os objectivos e
necessários que o Governo cumpra três funções, a saber: a) função alocativa; b) função
distributiva ou redistributiva; c) função estabilizadora

a) Função Alocativa - Por meio desta função o Governo faz a provisão de


determinados bens e serviços públicos não oferecidos adequadamente mediante
o sistema de mercado;
b) Função Distributiva ou Redistributiva - consiste em ajustamentos no perfil da
distribuição de renda na sociedade. O Poder Público transfere a renda de parcela
mais abastada da população mediante a implementação de esquemas de
transferências fiscais tributação progressiva da renda e subsídios para as famílias
de baixa renda;
c) Função Estabilizadora - mediante regulação, o Estado garante aos trabalhadores
direitos sociais, concede incentivos para fomentar a geração de empregos em
dado sector econômico, faz investimentos públicos e financiamentos para
estimular o sector privado.

Esses conceitos e funções do Estado são relevantes quando se pensa em


desenvolvimento econômico, uma vez que o Governo precisa utilizar-se de todos os
mecanismos à disposição visando alcançar um desenvolvimento sustentável, ou seja,
mirando não apenas no crescimento econômico, mas em indicadores sociais, no
mínimo, aceitáveis.

1.4. Desenvolvimento Socioeconómico

Alguns autores entendem que o desenvolvimento econômico, para ser alcançado, deve
contar com a intervenção do Estado em muitos sectores sociais e econômicos, mas
especificamente com uma estratégia de investimentos em que o Governo se
comprometa a criar uma agenda de desenvolvimento, cujas prioridades seriam a
estabilidade macroeconômica; preços e incentivos; boas instituições ; proteção aos
direitos de propriedade; obediência ao princípio da legalidade; representatividade e
estabilidade política e social; investimentos públicos em infraestrutura básica e gastos
sociais; equilíbrio e justiça social; segurança; equilíbrio fiscal; estratégia de
desenvolvimento bem definida e comprometimento da liderança política; e, finalmente,

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uma máquina pública bem preparada para implementar as diretrizes de tal estratégia de
desenvolvimento (World Bank Group, 2017).

De acordo com as Ciências Econômicas, o crescimento econômico e sinônimo de


óptimo desenvolvimento da produção, principalmente mediante as inovações
tecnológicas, do consumo, os quais impulsionam a produção, o lucro e os investimentos
em produção futura mediante emprego do lucro como capital para reprodução. Todavia,
estas políticas direcionadas ao crescimento econômico mostraram-se nociva em razão
das externalidades negativas que as actividades do modo de produção capitalista geram,
sobretudo no campo ambiental e social (UNDP, 2017). A poluição, esgotamento ou mau
uso de fontes de energia, problemas infra-estruturais, desemprego e outros problemas
sociais são apenas alguns exemplos.

Ou seja, infere-se que deve haver sustentabilidade no processo de desenvolvimento de


uma nação e não apenas a verificação pura e simples de crescimento econômico. O que
se almeja na realidade, é o desenvolvimento económico e social que leve ao máximo a
inclusão possível, não devendo Estado ficar somente restrito a noção simplicista de
crescimento económico.

Com a mudanças na tributação directa visando tornar o sistema mais progressivo, o


Estado torna-se não só um instrumento de justiça fiscal, mas também do crescimento
económico. Visto que, por meio da crescente exploração de impostos progressivos, será
possível fortalecer a capacidade de financiamento do Estado, ao mesmo tempo em que
se cria condições possíveis para a diminuição da carga da produção e dos investimentos,
e o fortalecimento do mercado interno com a redução da tributação sobre as classes de
menor renda, que possuem maior propensão a consumir (UNCTAD/ALDC, 2016).

1.5. A Reforma Tributaria

A tributação surge da necessidade dos indivíduos em estabelecer convívio social


organizado e gerir a coisa pública mediante a concessão de poder a um Soberano. Como
consequência, uma das condições necessária para que o poder de tributar seja legítimo é
que ele emane do Estado, visto que qualquer imposição tributária privada seria
comparável à usurpação. É por referir-se à construção do bem comum que se permite à
tributação o poder de limitar a capacidade econômica individual em prol da criação de

13
uma capacidade econômica social. O poder de tributar justifica-se sob a premissa de que
o bem da colectividade tem preferência a interesses individuais, sobretudo porque, na
ausência do Estado, não haveria garantia nem mesmo à propriedade privada.

A Reforma Tributária tem vindo a ser debatida, construída e ajustada ao longo dos
últimos anos. Acredita-se que este processo resultou num novo regime agora mais
estável para as receitas tributárias de diversas naturezas, tendo sido publicado no final
de 2014 o pacote legislativo que estabiliza a estrutura fiscal que deve reger a actividade
dos agentes económicos (Administração Geral Tributaria (AGT), 2017). As obrigações
tributárias mantêm-se, dentro do novo regime, sendo esperado do sector privado,
organizações e outros agentes económicos, que desempenhem o seu papel num cenário
em que o cumprimento, por parte destas entidades, e controlo, por parte da autoridade
tributária, se tornará cada vez mais eficiente e harmonioso.

As expectativas é que o sistema tributário impulsione o crescimento económico-social e


aumente a produtividade da economia do país. Considerando que a arrecadação
tributária é feita principalmente por meio de impostos indiretos, que incidem sobre o
consumo e são embutidos nos preços, o sistema actual beneficia os ricos e prejudica a
classe média e os pobres que pagam mais impostos proporcionalmente à renda que têm
do que os ricos. Angola necessita, urgentemente, de correção das distorções para poder
gerar recursos para áreas prioritárias como a saúde, educação, cesta básica, agricultura e
segurança.

Numa perspectiva diferente, o desenvolvimento econômico parte da premissa de que


temos que investir na actividade empresarial, o que não tem merecido nenhuma atenção
por parte de nossos governantes. Só que a actividade empresarial não vai poder se
desenvolver porque a produção no país é muito cara por falta de infraestruturas e
competências nucleares para o desenvolvimento do empresariado nacional; sem
produção não temos emprego; sem emprego não temos consumo; sem consumo não
temos empresas; sem empresas não temos desenvolvimento econômico.

Além disso, temos que levar em consideração que além de tudo, estamos vivendo em
uma economia globalizada, e que nossas empresas estão competindo com empresas
estrangeiras, mais do que isso, muitas dessas empresas são de países desenvolvidos
onde a produção é subsidiada pelo governo local, o que significa dizer, produtos e

14
serviços mais baratos, gerando uma perda de competitividade da empresa nacional.
Ademais, a empresa Angolana para financiar a produção, conta exclusivamente com
recursos do mercado financeiro, já que inexiste política de financiamento público, e o
financiamento obtido no mercado bancário financeiro é extremamente caro em razão
dos altos juros praticados pelas taxas fixadas pelos próprio Banco Nacional e Bancos
comerciais.

Seguramente que para as finanças públicas angolanas esta recente tendência no


comportamento da sua principal fonte fiscal é recebida com enorme contentamento,
esperando‑se que as reservas internacionais aumentem e se volte a devolver aos
mecanismos de mercado as decisões de afectação dos recursos do sistema bancário
nacional.

Temos que levar em consideração que o país vive em um regime econômico capitalista,
onde o desenvolvimento econômico está assentado em um eixo composto por quatro
elementos: produção, trabalho, renda e consumo. Por isso, depositando na reforma
tributária todas as esperanças para que o país retome o crescimento a partir do equilíbrio
do caixa governamental não é o mais acertado, não é o governo o actor principal para o
desenvolvimento econômico e sim a actividade empresarial. A produção nasce a partir
da actividade empresarial, o que significa dizer que precisamos de uma actividade
empresarial forte para poder gerar postos de trabalho; gerando postos de trabalho,
certamente vamos gerar renda; gerando renda, certamente teremos consumo; tendo
consumo, certamente vamos gerar mais necessidade de produção, ou seja, assim
funciona o desenvolvimento econômico.

Aumentar o tributo, como prevê a reforma tributária não e a solução para retomar o
desenvolvimento do país, pois esta acção poderá retrair a actividade empresarial de
Angola e por via de consequência no desenvolvimento económico. A reforma tributaria
não é a solução única, mas, pode permitir um ajuste no equilíbrio social através de uma
intervenção coerente do Estado.

Neste trabalho procura-se investigar a relação entre a reforma tributaria com


desenvolvimento econômico de Angola. Apresentar-se-á sob a modalidade de pesquisa
exploratória, de natureza qualitativa-descritiva e quantitativa, complementado
empiricamente por uma análise da realidade socioeconómicas do país, e se compõe de

15
uma revisão do referencial teórico, mediante uma análise conceitual crítica de alguns
aspectos pertinentes aos assuntos do Sistema Tributário, Reforma Tributária,
Actividades Socioeconómicas do Estado Angolano, e o Desenvolvimento.

1.6. Identificação do Problema


1.6.1. Formulação do Problema

Uma vez identificado o problema, formula-se as seguintes perguntas de partida:

 Qual o contributo da politica tributaria no desenvolvimento social e económico de


Angola

1.7. Formulação da Hipótese

Quanto à hipótese para a solução deste problema, acredita-se que se a politica tributaria
estiver ajustada a realidade socioeconómica do país o Estado poderá arrecadar mais
receitas e melhor distribuir impulsionando o desenvolvimento esperado.

1.8. Objectivos do Estudo


1.8.1. Gerais

Em correspondência ao problema exposto, se define com objectivo geral do presente


trabalho analisar a importância da tributação como um factor do desenvolvimento
económico Angolano.

1.8.2. Específicos:

a) Identificar os benefícios económicos e socias provenientes da politica tributária


b) Analisar o sistema tributário como uma das soluções para alavancar a economia
c) Discutir a relação entre o regime de tributação existente e os serviços sociais
oferecidos pelo estado Angola
d) Descrever as vantagens trazidas pelo PERT (Projeto Executivo para reforma
tributária)

16
1.9. Justificativa

O tema em causa é do interesse teórico e prático, actualmente o sector tributário é um


sector activo e em desenvolvimento no país. As receitas fiscais contribuem para a
estabilização e diversificação da economia dos pais. Estas representam parte
significativa do PIB (produto interno Bruto) e das récitas fiscais do estado. Porquanto,
espera-se contribuir para o esclarecimento ou o conhecimento dos aspectos relacionados
a tributação e a especificidade da reforma tributarias em progresso a nível dos pais,
focalizando os aspectos tidos como relevantes no que toca aos impostos, taxas, receitas
e despesas do Estado bem com a redistribuição as populações.

1.10. Limitação e Delimitação


1.10.1. Limitação

Este elemento faz referência a problemas, obstáculos e dificuldades, e constrangimentos


encontrados no decurso da pesquisa. As dificuldades no acesso as informações por
partes das instituições, visto que elas não fornecem as informações necessárias, e devido
a burocracia existente dentro das nossas organizações, especificamente as empresas
publicas, fazem com que elas não nos forneçam os dados concretos, precisos e
confiáveis para a execução da pesquisa.

De uma forma geral, as limitações do presente trabalho resultam, em grande medida, de


dois aspectos: (i) revisão da bibliografia e (ii) a falta de dados estatísticos.

A primeira limitação prende-se com o facto de termos constatado que apesar de existir
uma diversidade de literatura a nível internacional sobre a relação entre o crescimento
económico e o desenvolvimento do sistema financeiro, existe escassa investigação no
que diz respeito aos países da África Subsaariana. Acresce-se o facto de a literatura
relativa a Angola sobre o tema ser de difícil acesso e em idiomas estrangeiros.

1.10.2. Delimitação

Em termos da delimitação, partimos de dois critérios. Critério temporal e espacial, no


primeiro critério refere-se ao período compreendido para a elaboração da pesquisa. Em
contrapartida, temos o critério espacial, que faz alusão ao local onde deve ser realizado
o trabalho, neste contexto, Angola.
17
1.11. Metodologia da Pesquisa

Para o desenvolvimento deste trabalho, enquanto método de abordagem será utilizado o


método exploratório e dedutivo, ou seja, o raciocínio utilizado é dedutivo, já que o
mesmo parte do geral e, a seguir, desce para o particular, partindo dos conceitos,
caracterização, princípios e funções do Estado Estado angolano e do sistema tributário
Angolano (Prodanov & Freitas, 2013, p. 27)

Como métodos de procedimento utilizaremos os seguintes:

a) Qualitativo;
b) Quantitativo;
c) Bibliográfico;
d) Exploratório;
e) Explicativo;
f) Análise e síntese;
g) Estudo de Caso.

O ensaio foi dividido em cinco capítulos. O primeiro trata da introdução, onde


apresentam-se o contexto a ser estudo, objeto da pesquisa e informações sobre as
estratégias metodológicas utilizadas para a realização do estudo. No segundo capítulo é
resumido fundamentação teorica e conceitos de pesquisa impirica, O terceiro capítulo
aborda os conceito, importância e benefícios do sistema, destacando as vantagens da
reforma tributaria em Angola. O quarto capítulo analisa o desenvolvimento
socioeconómico de Angola, as politicas económica e sociais do Governo e seu impacto
no estilo de vida das populações. O quinto capítulo trata dos impactos da reforma
tributária, apresentando as expectativas, resultados alcançados e dificuldades inevitáveis
numa reforma do sistema tributário. E finalizando, no sexto capítulo apresentam-se as
considerações finais e Conclusão, e após, foram colocadas as referências bibliográficas
e anexas.

18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Padda & Akram (2009), Angola é um dos principais exportadores de petróleo do
mundo, produzindo aproximadamente dois milhões de barris por dia (bpd), O governo
angolano recebe algo da ordem de US $ 5 bilhões em receitas de petróleo por ano. No
entanto, muito pouco da riqueza do petróleo entra na sociedade em geral, por esse motivo,
apesar da expansão da produção petrolífera, durante 25 anos, os angolanos continuam a
população mais pobres do planeta. De acordo com a Organização das Nações Unidas
(UNDP, 2017), Angola apresenta um dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH)
do mundo (161 de 173). O país importa praticamente de tudo um pouco e emprega muito
poucos angolanos em sectores chaves, contando com a mão-de-obra qualificada em equipas
de trabalhadores estrangeiros trazidos em contratos de curto prazo. Esses trabalhadores
vivem em complexos fechados e vêm e vão do aeroporto para o seu complexo ignorando as
cidades circunvizinhas inteiramente.

A literatura revela uma relação inversa entre encargos tributários e taxas de crescimento, ou
seja, uma carga tributária menor elevaria a taxa de crescimento econômico. Portanto, a
produção econômica e as receitas fiscais futura seriam maior com a taxa de tributação ideal
e mais baixa. A política fiscal pode afectar o crescimento econômico, desencorajando novos
investimentos e incentivos empresariais ou distorcendo as decisões de investimento, uma
vez que o código tributário, por exemplo, impostos sobre o rendimento, pode desencorajar o
esforço de trabalho e a aquisição de habilidades dos trabalhadores (FERGUSON, 2005).

Gale e Samwick (2014) defendem que os impostos também afectam a economia no longo
prazo através do lado da oferta. Segundo este, as altas taxas de imposto marginais podem
desencorajar o trabalho, economizar investimentos e inovação, enquanto preferências
fiscais específicas podem afectar a alocação de recursos econômicos. Mas a redução de
impostos também pode retardar o crescimento econômico de longo prazo ao inactivar
déficits. Os efeitos a longo prazo das políticas fiscais dependem, portanto, não apenas dos
seus efeitos de incentivo, mas também dos seus efeitos orçamentários. Embora as reduções
tarifárias aumentassem o retorno ao trabalho, poupança e investimento, eles também
aumentarão a renda após impostos que as pessoas recebem, o que diminui a necessidade de
trabalhar, economizar e investir (Gale & Samwick, 2016). O primeiro efeito aumenta a
actividades econômica, enquanto o segundo efeito normalmente a reduz. As reduções nas

19
taxas de imposto sobre o rendimento afectam o comportamento dos indivíduos e das
empresas através dos efeitos da renda e da substituição.

No entanto, (Padda & Akram, 2009) afirmam que as políticas governamentais podem
afectar a renda percapita no caminho de transição para o crescimento no estado
estacionário. Uma taxa de imposto mais elevado reduz permanentemente o nível de
produção, mas não tem efeitos permanentes na taxa de crescimento do produto.

Em relação a Angola, para Saxton (2011), O sistema fiscal actual é contraproducente e


tendencioso contra poupança e investimento. A política fiscal deve aumentar os incentivos
econômicos, reduzir as perdas de peso morto, fornecer alívio de base ampla para as famílias
sujeitas à tributação de renda excessiva e melhorar as perspetivas de desenvolvimento social
e crescimento econômico. Porem, as autoridades nos países em desenvolvimento enfrenta
um conjunto de circunstâncias muito desafiadoras quando se trata de cobrança de impostos
(McNabb & LeMay-Boucher, 2014). Questões como fraca administração, baixos níveis de
alfabetização, uma grande economia informal exigem que não só a receita global seja baixa,
mas a estrutura tributária é menos dependente dos impostos sobre o rendimento, com um
peso mais pesado sobre os impostos comerciais sobre os rendimentos que são mais
facilmente cobrados.

Um sistema fiscal bem estruturado oferece oportunidades governamentais para gerar receita
necessária para atender a sua crescente necessidade. O imposto é uma fonte verdadeira e
sustentável de receitas para o governo e uma ferramenta para a política fiscal e a gestão
macroeconômica (Eugene & Abigail, 2016). É importante para o governo fortalecer e
mudar mais para o imposto indireto, pois tem uma relação positiva com o nível de
crescimento econômico e oferece menos desafios de custo e administração. Uma vez que a
implementação de uma tributação progressiva deve levar a uma maior igualdade de renda
(Clark & Lawson, 2004).

De acordo com Gale e Samwick (2014), a reforma tributária, envolve reduções nas taxas de
imposto de renda, bem como medidas para ampliar a base tributável. Ao remover o
tratamento especial ou vários tipos de renda ou consumo, o alargamento de base tenderá a
elevar as taxas de imposto marginal efectivo médio na oferta de mão-de-obra, economia e
investimento. Estas mudanças devem elevar o tamanho geral da economia no longo prazo,
embora o efeito e a magnitude do impacto estejam sujeitos a uma incerteza considerável.

20
Esta avaliação parte do princípio que as políticas fiscais bem planeadas têm o potencial de
aumentar o crescimento econômico, mas há muitos obstáculos ao longo do caminho e
certamente não há garantias que todas as mudanças tributárias irão melhorar o desempenho
econômico (Gale & Samwick, 2016).

É evidente que para estimular o crescimento econômico no país, as autoridades econômicas


e políticas devem reduzir a tributação das empresas, os impostos sobre o rendimento das
pessoas singulares, e a perdas (Macek, 2014). Assim, implementar um sistema de taxa mais
lisa e mais ampla para incentivar os recursos a sair dos sectores actualmente preferenciais
de impostos e para outras áreas da economia com maiores retornos antes de impostos. A
reafectação aumentaria o tamanho da economia (Gale & Samwick, 2014).

21
3. A IMPORTÂNCIA DA TRIBUTAÇÃO EM ANGOLA.

Imposto é a prestação pecuniária, coactiva e unilateral a título definitivo, sem caracter de


sanção de vida ao Estado ou outros entes públicos, ou seja, é estabelecida por lei a favor de
uma pessoa colectiva de direito público, que é exigida pelo Estado, para a realização de fins
públicos” (Sequeira, 2014).

O imposto tem como finalidade custear os gastos públicos, a saúde, a educação, a


segurança, o transporte, os salários dos servidores, os benefícios de aposentados e
pensionistas, ou seja, para pagar todos os gastos dos Poderes, Executivo, judiciário e
Legislativo, que deveria reverter-se em benefícios para a sociedade. Parte das receitas dos
Governos deveria financiar investimentos em obras públicas – portos, estradas, ferrovias,
metrôs, hidrelétricas – e infraestrutura em geral, água e esgoto, limpeza de ruas e coleta de
lixo, iluminação pública, etc.

A economia Angola a mais de duas décadas tem financiado grande parte da sua Economia,
mormente com recursos provenientes do Sector Petrolífero. Em face a diversidade da sua
Economia e tendo em atenção que, o petróleo constitui uma fonte não renovável e esgotável
urge a necessidade de a Médio e Longo Prazo, obterem-se recursos provenientes de outros
sectores.

Figura 1: Grafico da distribuição do PIB por sector da economia Angolana

22
A arrecadação de imposto apresenta, assim, um potencial formidável para fortalecer as
bases de financiamento do Estado, visando melhorar suas condições para realizar
investimentos necessários para o crescimento e para sustentar políticas essenciais para a
população, além de aumentar a contribuição das classes de maior renda para os cofres
públicos.

Tabela 1: Receitas Fiscais 2003/2016

As receitas arrecadadas através dos impostos podem não surtir os efeitos desejados aos
cidadãos, ou seja, através da redistribuição do rendimento para grande parte da população
desfavorecida, e ainda pelo facto do imposto ser unilateral e sem contraprestação. Alguns
Especialistas afirmam que o país possui uma carga tributária muito alta para seus
contribuintes. Uma vez que o alto custo dos tributos que, além de ser excessivo para o bolso
do cidadão, não traz um retorno adequado e justo para sua população. E como se não
bastasse, o contribuinte ainda é obrigado a gastar com educação, saúde e segurança
privadas, já que o serviço público não os oferece com qualidade. A falta de controlo dos
gastos públicos e desvios de finalidade nos níveis de governo causaram transtornos para a
situação social do país. A saúde, a educação e a segurança pública estão precárias.

3.1. Sonegação e Elisão Fiscal

Não é correto afirmar que qualquer pagamento a menor de imposto é sonegação. A falta de
pagamento (inadimplência fiscal) é diferente do ato de sonegar, que é a intenção deliberada
de fraudar a apuração do imposto devido. Sonegação Fiscal é diferente também, de elisão
fiscal que significa planeamento tributário. A elisão fiscal é reconhecida como tal, quando
um contribuinte recorre a uma combinação engenhosa ou que ele efetua uma operação
particular se baseando sobre uma convenção não atingida pela legislação fiscal em vigor.

23
Ele usa o texto legal sem o violar: ele sabe utilizar habilmente uma brecha do arsenal fiscal
(Margairaz, 1972).

A elisão fiscal não está sujeita às sanções legais, pois ela procede de uma regra jurídica
centenária e defende que os contribuintes que dispõem de vários meios para chegar a um
resultado idêntico têm o direito de optar por aquele que lhes permite pagar o menor imposto
possível. As empresas ainda enfrentam dificuldades com inadimplência fiscal,
irresponsabilidade dos agentes públicos, coação ilegal, impugnação de ato de infração,
sigilo fiscal, crime de sonegação fiscal, dentre outros.

3.2. Sistema Fiscal Angolano

O sistema fiscal Angolano é constituído por um conjunto de normas jurídicas, quer


consagradas constitucionalmente, quer esparsas em código e outras legislações avulsas
sobre a matéria tributária, das quais se destacam as seguintes: código geral tributário,
decreto-lei nº 10/99, de 29 de outubro Aprova o Código de imposto sobre o Rendimento do
trabalho, lei nº 8/99, de 10 de Setembro - Código de imposto Industrial, Código do
Impostos sobre a aplicação de capitais, Registro geral do contribuinte (Decreto nº 29/92, de
julho), lei nº 10/03, de 25 de Abril – Unidade de correção fiscal – derroga o artigo 2º da lei
nº 12/96, de 24 de Maio, Regulamento do Imposto de consumo, Imposto sobre Importação
(decreto nº 17/90, de 4 de Agosto, Isenções e Alterações ao impostos sobre a importação
(decreto-lei nº 17/94, de 24 de Agosto) Regime Fiscal para a industria Mineira (decreto-lei
nº B/96 de 31 de Maio e Regime Aduaneiro para a industria Mineira (decreto nº 12-B/96, de
24 de Maio), lei nº 9/99, de 01 de Outubro – aprova a extensão do imposto de consumo aos
servições de telecomunicação, de Hotelaria e similares e de funcionamento de Agua e
Eletricidade.

3.2.1. Princípios Gerais

Na lei constitucional

O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades económicas, sociais e administrativas do


Estado e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. Os impostos só podem ser
criados e extintos por lei, que determina a sua incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias

24
dos contribuintes. (art. 14) Princípio da função económica e social do fisco e princípios da
legalidade.

Todos os cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
mesmos deveres, sem distinção da sua cor, raça, etnia, sexo, lugar de nascimento, religião,
ideologia, grau de instrução, condições económicas ou sociais. (Art.18) Principio da não
discriminação e da igualdade dos cidadãos perante a lei.

A definição do sistema fiscal e a criação de impostos é da competências da assembleias


Nacional, podendo, igualmente, ser o Governo desde que autorizado pela lei passada por
aquela. (Art. 90º e 91º)

Os deputados e os grupos parlamentares não podem apresentar projectos de lei que


envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas
do Estado fixadas no orçamento (Art. 93º) – Principio da estabilidade do fisco

No código Geral Tributário.

Serão obrigatoriamente determinadas por lei a incidência, as isenções e as taxas de cada


imposto, bem como as formas processuais de atacar a ilegalidade dos actos tributários (At.
1º). As leis só dispõem para o futuro e nos termos regulados na lei geral. (Art 5º) Princípio
da legalidade e da não retroactividade da lei fiscal.

Recentemente a Assembleia da República de Angola, aprovou o novo Regime Tributário


Angolano, com destaque para o Imposto Industrial (II), Imposto sobre o Rendimento do
Trabalho (IRT), os Códigos Geral Tributário e do processo tributário e igualmente a entrada
em vigor do Código das Execuções Fiscais, que será praticamente no Sistema Fiscal
Angolano.

Tal como qualquer medida ou política pública, o seu fim único recai no cidadão que é e será
o potencial contribuinte ou financiador das políticas ou programas públicos que são
executados através do Orçamento Geral do Estado (OGE).

Esperamos, que o impacto do novo regime Tributário, venha surtir o seu efeito dominó
sobretudo no sector privado, permitindo desta forma o surgimento de mais empresas, fuga
ao fisco e maior rentabilidade, que permitirá de certa forma a absorção da mão-de-obra

25
desempregada, gerando renda e consumo e concomitantemente poupança, que são os
combustíveis de que a Economia Angolana necessita para que possa retomar a velocidade
cruzeiro no seu crescimento e proporcionar melhor condições de vida para todos os
Angolanos.

O crescimento econômico está abrindo um grande avanço na consolidação da estabilidade


macroeconômica, caracterizado por uma política econômica voltada para a aceleração do
crescimento,

O desafio, neste momento, é criar condições para consolidar os avanços e acelerar ainda
mais o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais e regionais.

3.2.2. Reforma Tributaria

O termo reforma significa uma idéia de melhoria, de aperfeiçoamento. Em todas as lutas em


que a sociedade buscou por uma reforma foi para que a mesma fosse beneficiada. Na área
da tributação isto não é diferente.

26
4. DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL

O Estado como ente organizado nasce da concepção do "contrato social", onde, de um lado
temos o cidadão se submetendo a regras de convivência social, e de outro, a criação de um
ente ficto que manterá uma estrutura para proporcionar o bem comum a todos os cidadãos.

O desenvolvimento deve ser entendido como um estado de equilíbrio na produção,


distribuição e consumo de riquezas. Nenhum Estado pode ser considerado desenvolvido se
mantiver uma estrutura social caracterizada por vertentes simultâneas de riqueza e pobreza.
O Estado desenvolvido é marcado pela estrutura harmônica entre o padrão de modernização
e a proteção dos valores coletivos. Assim, busca-se ao mesmo tempo o crescimento, com a
liberdade das atividades econômicas, desde que tal conviva com a proteção do consumidor
e do meio ambiente. Um Estado que enfatiza apenas a vertente da modernização,
desprezando a sua harmonia com os demais elementos, não pode se configurar como
desenvolvido; pode, no máximo, ser um Estado modernizado1

Desenvolvimento econômico significa mudança de estrutura, como o crescimento da


participação do produto industrializado no produto total, e melhoria dos indicadores sociais
e da distribuição de renda2. Pode-se com isso, afirmar que o desenvolvimento econômico
deve corresponder com a melhoria do padrão de vida da sociedade. Diferentemente pode ser
observado no Brasil, onde ocorre representativo crescimento econômico.

Conforme destaca Gilberto Bercovici3, o desenvolvimento é condição necessária para o


bem-estar social, sendo o Estado seu principal condutor por meio de programas e ações, o
qual envolve a ampliação de oportunidades individuais e coletivas geradas pelo crescimento
econômico, pela observância de valores fundamentais balizados constitucionalmente, como
a justiça e a redução da pobreza e das desigualdades.

Dessa forma, para que o estado cumpra o seu papel, duas actividades serão inerentes à sua
existência:

1
ELALI, André. Um Exame da Desigualdade da Tributação em face dos Princípios da Ordem Econômica,
pág. 4, www.idtl.com.br/artigos/242.pdf, acesso em 20.01.2012
2
SOUZA, Nali de Jesus de. Curso de Economia. São Paulo: Atlas, 2003, pág. 318.
3
BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades regionais, Estado e Constituição. São Paulo: Max Limonad, 2003,
pág. 58.

27
4.1. Administrativa e Financeira.
4.1.1. Actividade Administrativa

A atcividade administrativa consiste justamente na execução e no pleno exercício de


atividades que propiciem o bem comum. Porém, para o cumprimento da actividade
administrativa é sabido que será necessário à realização de despesas públicas que trata do
empenho da receita pública para o pleno funcionamento Estado.

4.1.2. Actividade Financeira

De outro lado, teremos a actividade financeira do Estado consistente na arrecadação de


recursos financeiros necessários para implementar as atividades administrativas e atingir o
bem comum. Basicamente, o Estado para o cumprimento de sua actividade administrativa
buscará recursos através de fontes de receitas originárias e derivadas. As originárias
compreendem a arrecadação proveniente da própria exploração dos bens públicos através
da cobrança do preço público. Já a derivada pressupõe a arrecadação através da atividade
tributária (impostos, taxas e contribuições) e da aplicação de penalidades pelo Estado.

A manutenção voraz da incidência da carga tributária sobre produção, consumo e


investimento levará a instituição de um freio no processo de desenvolvimento econômico
nacional, e frise-se, - é a atividade produtiva a única saída para nos tornarmos um país
desenvolvido e com mínimas desigualdades sociais.

Claro está que existe um erro de avaliação, vez que se está depositando na reforma
tributária todas as esperanças para que o país retome o crescimento a partir do equilíbrio do
caixa governamental, no entanto, não é o governo a mola mestra para o desenvolvimento
econômico e sim a atividade empresarial.

Por outro lado, temos que levar em consideração que nosso país vive em um regime
econômico semi-capitalista, onde o desenvolvimento econômico está assentado em um eixo
composto por quatro elementos: produção, trabalho, renda e consumo.

A produção como já dissemos nasce a partir da actividade empresarial, o que significa dizer
que precisamos de uma atividade empresarial forte para poder gerar postos de trabalho;
gerando postos de trabalho, certamente vamos gerar renda; gerando renda, certamente
teremos consumo; tendo consumo, certamente vamos gerar mais necessidade de produção,

28
ou seja, assim funciona o desenvolvimento econômico, girando a roda. Só que a actividade
empresarial não vai poder se desenvolver porque a produção no país é mais cara por falta de
recursos tecnologicos, nowhow e matriais primas; sem produção não temos emprego; sem
emprego não temos consumo; sem consumo não temos empresas; sem empresas não temos
desenvolvimento econômico, ou seja, é a política do não desenvolvimento econômico. Ou
seja, estamos entrando no círculo vicioso do antidesenvolvimento que vai levar o país para
um precipício sem precedentes.

4.2. Desenvolvimento economico e a Actividade Empresarial

O desenvolvimento econômico parte da premissa de que temos que investir na actividade


empresarial Angolana, o que não tem merecido nenhuma atenção. Além disso, temos que
levar em consideração que além de tudo, estamos vivendo em uma economia globalizada, e
que as empresas estão competindo com empresas estrangeiras de países desenvolvidos onde
a produção é subsidiada pelo governo local, o que significa dizer: produtos e serviços mais
baratos, gerando uma perda de competitividade da empresa nacional.

Independentemente da solução que se vá buscar para retomar o desenvolvimento


econômico do país, aumentar tributos não é a solução, haja vista que o aumento de tributos
vai implicar no corte de custos por parte das empresas, o que significa dizer entre outras
coisas, redução de postos de trabalho, o que implica em redução de renda e que fatalmente
vai levar a redução do consumo proporcionando uma estagnação ou retração na actividade
empresarial e por via de conseqüência no desenvolvimento econômico.

Em Angola tem carga tributária excessiva e baixa qualidade do serviço prestado. As


despesas públicas aumentam anualmente e a Receita … aperta as exigências impostas aos
contribuintes para manter a receita tributária ascendente. A produção em massa de
legislações e normas tributárias é subproduto da voracidade na arrecadação. Poucos
conseguem estar em dia com todas as dívidas e normas tributárias

A economia cresce e pressiona a infra-estrutura, como na questão aérea, dos portos e da


energia elétrica. O governo não investe nas áreas sob seu comando nem cria condições para
o investimento do setor privado. É preciso dar sustentabilidade a atual fase de expansão da
economia.

29
Segundo Bercovici4: O desenvolvimento é condição necessária para a realização do bem-
estar social. O Estado é, através do planeamento, o principal promotor do desenvolvimento.
Para desempenhar a função de condutor do desenvolvimento, o Estado deve ter autonomia
frente aos grupos sociais, ampliar suas funções e readequar seus órgãos e estrutura.

4.3. Crescimento Económico versus Desenvolvimento de Angola

O papel dos indicadores de política fiscal também tem recebido considerável atenção na
literatura. Algumas teorias do crescimento económico sugerem que a política fiscal pode ter
efeitos importantes no crescimento de longo prazo. Cereseto e Waitzkin (1986), propõem
que o aumento da dimensão do sector público (despesas ou impostos) retarda o
crescimento. A redução dos impostos sobre o trabalho e o capital podem acelerar o
crescimento económico de longo prazo. Clark & Lawson (2004) concluem que a tributação
distorcida e as despesas não produtivas do governo reduzem o crescimento económico,
enquanto que a tributação não distorcida e as despesas produtivas do governo não. Costa e
Sousa (2008) concluíram que existe uma forte relação entre crescimento económico e a
política fiscal, pois, por um lado, os países em desenvolvimento dependem fortemente dos
impostos sobre o comércio internacional, por outro, o imposto sobre o rendimento é mais
importante nos países desenvolvidos.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é hoje o indicador mais relevante para a


análise das condições de vida da população e para o cálculo duma medida que permita
compreender quanto de crescimento económico se transforma em desenvolvimento.

Tabela 2: Indicadores desenvolvimento e Subdesenvolvimento

Indicadores Metas
1. Índice de Desenvolvimento Humano (PNUD) 0.54
2. Esperança de Vida à Nascença (Nº de Anos) 55
3. Taxa de Incidência da Pobreza (%) 28
4. Nº de Anos de Escolaridade Obrigatória 9
5. Taxa de Alfabetização de Adultos (%) 75
6. Taxa de Mortalidade Infantil (por mil nado-vivos) 60

4
BERCOVICI, Gilberto. Constituição Econômica e Desenvolvimento: uma leitura a partir da Constituição
de 1988. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 51

30
7. Taxa de Mortalidade Materna (por 100 mil nado-vivos) 250

O indicador de rendimento é o de maior relevância para Angola, agora país de


rendimento médio elevado de acordo com a classificação do Banco Mundial, mas nos
restantes as deficiências ainda são evidentes. De resto, as diferenças entre os “ranking”
do rendimento por habitante e do próprio IDH continuam a permitir concluir que o
crescimento económico não se tem transformado emoportunidades de desenvolvimento
social.

Muitos países do Human Development Index das Nações Unidas apresentam um


rendimento por habitante inferior ou igual ao de Angola, mas o valor do IDH é superior,
equivalendo afirmar que esses países, através de políticas públicas adequadas,
conseguiram transformar o crescimento em melhorias das condições gerais de vida da
maioria dos cidadãos.

Tabela 3: Intervalo de Classificação do IDH

Há desigualdade na distribuição de receitas. O quinto quintil (ou seja, os 20% da população


mais rica) detém 59% de todas as receitas do país, enquanto o primeiro quintil (ou seja, os
20% da população mais pobre) detém apenas 3% das receitas do país. Por outras palavras, a
receita média de uma pessoa no quintil mais rico é 18 vezes mais alta do que a receita
média de uma pessoa no quintil mais pobre. Estes dados justificam a necessidade de
programas e intervenções cada vez mais sérias.

31
Figura 2: Distribuição de Rceitas por Rendimento

A Constituição da República de Angola consagra um conjunto de “direitos económicos,


sociais e culturais” e estabelece a responsabilidade do Estado como agente promotor do
desenvolvimento social, nomeadamente por meio da “adopção de critérios de redistribuição
da riqueza que privilegiem os cidadãos e, em particular, os extractos sociais mais
vulneráveis e carentes da sociedade” (Artigo 90.o, CRA).

O desenvolvimento de qualquer país é visto numa perspectiva multidimensional,


fundamento em factores de ordem económica, social, política e ambiental, visando
assegurar a sua sustentabilidade (UNDP, 2017). Esta multidimensionalidade torna o
conceito com desenvolvimento aberto ao concurso de vários actores sociais.

No caso particular de Angola, o Estado é um actor com grande peso na equação


desenvolvimentista devido ao modelo económico que o país segue, no âmbito do qual ele (o
Estado) aparece como o principal empregador da força de trabalho, para além de deter as
empresas com maior expressão no tecido produtivo. Ainda assim, resta espaço para outros
actores, com particular realce para as Organizações da Sociedade Civil e Igrejas para
continuarem a dar o seu contributo em prol do desenvolvimento social do país, à luz do
princípio da subsidiariedade.

Os níveis de reprodução social permanecem baixos pois insiste-se numa política de baixos
salários e numa distribuição da renda extremamente desigual que não é compensada por um
sistema de redistribuição, através do Estado social que é quase inexistente ou grandemente
ineficaz. A evolução do salário real é quase estacionária e o poder de compra dos

32
assalariados continua a ser erodido pela inflação acumulada, embora os seus níveis tenham
caído ao nível de um dígito já há algum tempo..

4.4. Serviço de Saude e Educação

O Serviço Nacional de Saúde que apresenta níveis satisfatórios, no plano da prevenção de


doenças através da vacinação, continua a não dar resposta suficiente no plano da saúde
materno-infantil e no combate às endemias. Assim, como os hospitais, os centros e os
postos médicos revelam uma incapacidade quase total de dar resposta satisfatória ao grande
número de doentes, muitas vezes devido à má qualidade da água consumida e à falta de
saneamento do meio.

O país ainda não debelou o fenómeno das crianças fora do sistema de ensino e muitos
jovens e adultos continuam a não ter oportunidade de acesso à escola e alguns não a
concluem (Universidade Católica de Angola, 2017).

4.5. As receitas fiscais

As iniciatvas governamentais de aumento das receitas fiscais – determinadas pela


necessidade de se reduzirem os defices orçamentais – podem desencadear efeitos perversos
sobre as iniciativas empresariais privadas e aumentar a submersão de uma parte da
economia nacional.

A obtenção de ganhos de eficiencia no processo de arrecadação das receitas públicas deve


ser o primeiro passo para um melhor enquadramento macroeconómico dos defices do
Estado. Depois de a economia recuperar ânimo e crescer em competitividade, então a
aplicação da Reforma Tributária pode ser mais integral.

Uma pesquisa do Departamento de Assuntos Orçamentais do FMI mostra que é muito


importante para os países construírem uma capacidade de imposto mínima que aponta para
valores do rácio das receitas em relação ao PIB de cerca de 15% (World Bank Group,
2017). Ter uma quantidade minima de capacidade fiscal o importante para a economia,
porque o fundamental para o Estado ser capaz de desempenhar o seu papel no processo de
crescimento e desenvolvimento. É fundamental para construir a capacidade do Estado, para
ser capaz de realizar um processo orçamental eficiente e eficaz.

33
5. A REFORMA TRIBUTÁRIA ANGOLANA

De acordo AGT (2017), a estratégia de reforma tributária é colocada no topo da lista de


indicadores de referência estruturais acordados com o fundo monetário internacional (FMI),
no ano de 2009. As linhas gerais da reforma tributárias tem respaldo no (D.P. nº 50/11, de
15 de Março). A reforma é coordenada pela Unidade Técnica Executiva para a Reforma
Tributária – UTERT no Ministério das Finanças. Encontrávamo-nos no ano de 2010 quando
se deu início à arquitetura programática que deveria nortear todo o processo de Reforma
Tributária, alicerçando a sua sustentabilidade em 6 pilares:

 Aumento da eficiência da administração;


 Promoção da Justiça e equidade tributaria;
 Modernização do Sistema tributário;
 Melhoria e Integração das Tecnologia de informação;
 Aposta nos Recursos Humanos, e
 Comunicação, como elemento crucial na relação entre a Administração Tributária e
os contribuintes, fomentando, deste modo, uma cultura e consciência fiscal.

Ao nível do domínio tributário, adaptação dos diplomas transversais a nova realidade


económica, politica e constitucional tem como os seguintes aspectos:

 Revisão do Código Geral tributário, com alargamento do seu campo de aplicação a


outras entidades e impostos;
 Harmonização dos diplomas existentes com os princípios do CGT;
 Simplificação e racionalização do imposto de selo
 Introdução de maior simplicidade e neutralidade no imposto de consumo,
preparando caminho para o IVA;
 Racionalização e consolidação legislativa do II, de modo a clarificar a base de
incidência do imposto, bem como as bases de calculo, eliminando a dispersão
legislativa, corrigindo certos regimes (empreitadas), actualizando as taxas das
provisões e das reintegrações e amortizações, alargando a base e diminuição da taxa
de tributação;
 Revisão do Código do IRT;
 Regulamentação do Código Aduaneiro, Etc…

34
Com a reforma tributária em curso, muitas normas foram revistas, privilegiando-se, tanto
quanto possível, a tributação do lucro real, apurado a partir dos elementos de contabilidade,
ao mesmo tempo que foram ampliados mecanismos de defesa administrativos e judiciais
aos sujeitos passivos, reforço do papel dos contabilistas (art. 5º do CGT) e introduzidas
outras alterações que tornaram, na verdade, o sistema tributário muito mais justo. Tendo em
conta a rigidez estrutural dos antigos órgãos (DNI e SNA), decorrentes da sua natureza de
organismos da administração publica clássica e dos condicionamentos, dai, resultantes para
a adoção de política remuneratória, baseada no mérito e focalizada na realização de
objetivos e resultados, através do DP nº 324/14, de 15 de Dezembro, foi criada a
Administração Geral Tributaria – ( AGT) .

A Reforma resultou na publicação e revisão de 17 diplomas tributários e aduaneiros, e tem


como objectivos:

 Promover o alargamento da base tributária permitindo um acréscimo de receita com


redução do encargo fiscal individual
 Reforçar a simplificação, equidade e competitividade fiscal do sistema angolano

5.1. Motivos da reforma tributária

O principal objetivo da reforma é aumentar as receitas fiscais não petrolíferas pelo


alargamento da base tributária, racionalizar incentivos, aumentar o controlo com o
pagamento de impostos voluntários e combater a evasão fiscal (Fjeldstad, et al., 2012). Há
também um desejo de utilizar o sistema fiscal como um mecanismo para fornecer
incentivos aos investimentos e diversificação da economia. “Na realidade, num país onde os
impostos petrolíferos representam cerca de 80% do total da receita fiscal e 45% da
totalidade do PIB, valores que são excessivamente elevados, onde ainda é patente a
existência de uma economia informal e em que existe uma cada vez menor mas ainda
acentuada evasão fiscal, é fundamental, em conjunto com outras medidas já adotadas e a
adotar, proporcionar aos agentes económicos a segurança e certeza jurídica nos negócios, na
justiça, na economia e na estabilidade da democracia e do País” (AGT, 2017).

Vários estudos feitos na altura mostravam que o sistema fiscal angolano, era obsoleto,
injusto, muito dependente das receitas do petróleo, e que não dispunha de meios de defesa
suficientes para a defesa dos interesses dos contribuintes. O sistema não obedecia às

35
modernas tendências da tributação, que assenta no alargamento da base tributaria e na
diminuição das taxas, assim como não era exigente em relação à organização contabilística
e documental das médias empresas. Em particular, e no que ao Código do Imposto
Industrial dizia respeito, continha muitas disposições que permitiam à administração um
amplo poder discricionário na fixação da matéria coletável, nomeadamente na utilização de
múltiplos métodos de avaliação indireta. Por estes motivos, por forma a alargar a base
tributária e reduzir a vulnerabilidade da despesa pública face às flutuações do preço do
petróleo o Executivo tem levado a cabo um processo de Reforma Tributária.

Um dos argumentos para apoiar a oferta de incentivos fiscais é que um regime fiscal
favorável atrairá mais investimento directo estrangeiro e, portanto, contribuir para a
diversificação e crescimento económico. Embora não seja incomum que os países usem o
sistema fiscal para tentar atrair investimentos, a pesquisa mostra que os incentivos fiscais
sob a forma de taxas mais baixas, isenções temporárias e isenções fiscais, só têm impactos
insignificantes sobre as decisões de investimento em potencial.

Outros factores como o potencial de mercado, infraestrutura (estradas, água e eletricidade),


a burocracia, a estabilidade política e previsibilidade a longo prazo são mais importantes
para os investidores. Em Angola, esses outros factores parecem esmagadores. De acordo
com levantamento do Banco Mundial Doing Business, Angola ocupa o 172º. Lugar entre
183 países, e recentemente caiu no ranking (World Bank Group, 2017).

5.2. Evolução da reforma Tributária

É possível que a reforma tributária não tenha ocorrido antes por não ter sido priorizada até
2008, já que outras questões tiveram precedência, tais como a reconstrução inicial da
infraestrutura do país, o restabelecimento de um processo democrático dentro de um
sistema multipartidário, e redação da nova Constituição. Esta sequência de grandes
reformas criou vantagem de que a reforma tributária em curso está a começar sob a
orientação geral da Constituição.

A Constituição não é específica em suas instruções sobre o projeto do sistema fiscal. Ainda
assim, alguns dos seus princípios gerais sugerem um sistema fiscal progressivo, uma vez
que estabelece uma distribuição justa da renda e da riqueza nacional, bem como o dever de
contribuir de acordo com a capacidade económica

36
Apesar de algumas medidas introduzidas antes de 2010, tendentes a uma maior eficácia da
maquina (reforma aduaneira e criação da Repartição dos Grandes Contribuintes) ou melhor
coordenação entre os vários órgão do sistema tributário, apurou-se - haver um longo
caminho a percorre.

a) Julho de 2010

Os objetivos gerais e estrutura do Projeto Executivo da Reforma Tributária – PERT são


estabelecidos no decreto presidencial (155/10 de 28 de Julho).

b) Fins de 2010

Novos padrões de referência que visam a apresentação para o Gabinete de vários


anteprojetos gerais de direito fiscal, antes do fim de 2010 e um plano de acção com prazos
para o programa de reforma tributária.

c) Março de 2011

O plano de acção para a reforma tributária (Linhas Gerais do Executivo para a Reforma
Tributária) é concretizado em um decreto presidencial (50/11 de 15 de Março).

d) (2011-2014)

Segundo AGT (2017), foram alcançados importantes ganhos num curto espaço de tempo
Importantes vitórias da Reforma (2011-2014).

Figura 3: Ganhos alcançados pela Reforma Tributaria

37
5.3. Principais resultados alcançados

A Reforma em curso deverá assentar nos princípios de uma maior abrangente incidência
fiscal, chegando a mais pessoas e empresas, mas reduzindo a respetiva carga, de forma a
não as onerar de forma excessiva, o que, naturalmente, poderia trazer consequências
indesejáveis. Adicionalmente, é necessária a transparência e simplicidade na legislação
mais recente e, principalmente, a celeridade e proximidade das Instituições Públicas perante
as empresas e os cidadãos, facilitando os procedimentos de cálculo, retenções, pagamentos
e devoluções de impostos e outras taxas.

Na globalidade e a médio/longo prazo, o aumento das receitas fiscais, por um lado, e a


diminuição da dependência do sector petrolífero, com o desenvolvimento de outros sectores
de actividade, que contribuirão de forma fundamental para o crescimento económico, por
outro, permitirão, de forma paulatina, o investimento do Estado em áreas prioritárias como
a Educação, a Saúde, a Justiça, a Segurança Social, as Infraestruturas Rodoviárias e
Ferroviárias e a Energia.

Segundo AGT (2017), foram alcançados importantes ganhos num curto espaço de tempo
Importantes vitórias da Reforma (2011-2014):

 O peso de tributação não-petrolífera na composição da tributação total aumentou de


17% em 2011 para 29% em 2014
 +14% Variação anual na receita não petrolífera em 2010-14, Kz 483 mil milhões de
impacto da Reforma
 +12pp Aumento da receita não-petrolífera na composição da receita total
 25 Mil Novos contribuintes com tributação relevante
 17 Diplomas revistos e publicados
 41 Repartições Fiscais intervencionadas em todas as 18 províncias
 722 mil Horas adicionais de formação técnica
 857 Novos funcionários, Considera novos recrutamentos e saída de funcionários
(reforma e falecimento)subsistindo ainda desafios
 Elevada concentração da arrecadação em impostos sobre o petróleo (e por isso,
sujeita a volatilidade) e em grandes contribuintes
 Profusão de isenções e regimes fiscais bonificados

38
Administração tributária ainda pouco orientada ao contribuinte e à eficiência dos processos
promove o alargamento da base tributaria permitindo um acréscimo de receita com redução
do encargo fiscal individual e reforça a simplificação, equidade e competitividade fiscal do
sistema angolano

5.3.1. Lei do Investimento Privado Lei n.º 14/15, 11 de Agosto

Constituem benefícios e incentivos fiscais, as deduções à matéria coletável, as


amortizações, reintegrações aceleradas, a isenção e redução de taxas de impostos,
contribuições e direitos de importação, o diferimento no tempo do pagamento de impostos e
outras medidas fiscais de carácter excecional que beneficiem o investidor contribuinte,
como:

 Uma parte substancial dos ganhos de arrecadação não petrolífera é atribuível à


Reforma Tributária, num total de Kz ~483 mil milhões
 Impacto acumulado da Reforma de Kz~4831 mil milhões desde 2010
 Crescimento composto anual da arrecadação total de 14% entre 2011 e 2014
 A receita petrolífera caiu em média 10% ao ano entre 2011 e 2014, representando
uma perda de aproximadamente KZ 1.000 mil milhões
 Nesse mesmo período, a receita não petrolífera cresceu a 14% ao ano, ajudando a
cobrir cerca de Kz 400 mil milhões da queda na receita petrolífera

O forte aumento dos impostos fiscais continua a compensar a quebra na arrecadação dos
impostos aduaneiros. Não subsistem dúvidas de que o crescimento económico, em Angola,
será fortalecido com uma política de incentivos e benefícios fiscais e aduaneiros mais
atrativa e com uma diminuição da carga fiscal e parafiscal para empresas e particulares,
atraindo o investimento, fomentando o empreendedorismo e a criação de postos de trabalho,
bem como proporcionando a instalação de polos industriais e agropecuários, e,
concomitantemente, o desenvolvimento sustentado do País.

39
Figura 4: fonte AGT (2017) - Evolução da base de contribuinte e pagamentos não petroliferos

Adicionalmente, no decorrer da Reforma, o número de contribuintes com pagamentos não


petrolíferos aumentou significativamente, o programa da expansão da rede fiscal abrangeu
mais de 41 repartições Fiscais por todo o território angolano até 2016.

5.4. Impacto da reforma sobre os impostos


5.4.1. Imposto Industrial

a) Passam a ser colectadas no âmbito do regime de tributação de serviços acidentais,


as pessoas colectivas que tenham sede ou direcção efectiva no estrangeiro, sem
estabelecimento estável no país.
b) Introdução de normas específicas de regulamentação de custos indevidamente
documentados , custos não documentados e despesas confidenciais . Estes custos,
para além de não poderem ser considerados encargos dedutíveis , são ainda objecto
de tributação autónoma à taxa de 2%
c) As regras introduzidas em matéria de amortizações são apenas aplicáveis aos bens
do activo imobilizado que entrem em funcionamento após a data de entrada em
vigor da nova legislação.
d) Passa a estar prevista a dedução à matéria colectável, e até à concorrência desta, dos
proveitos sujeitos a IPU e a IAC.

40
e) A taxa de Imposto Industrial é reduzida de 35% para 30%, sendo prevista ainda a
possibilidade de reduções de taxa no contexto de projectos de investimento privado.
f) O imposto devido em actividades de vendas de bens, pelos contribuintes dos Grupos
A e B, passa a ser objecto de autoliquidação provisória até ao final dos meses de
Agosto e Julho, mediante a aplicação de uma taxa de 2% sobre o volume total de
vendas .
g) Os contribuintes cuja actividade esteja no âmbito dos poderes de supervisão do
Banco Nacional de Angola e do Instituto de Supervisão de Seguros efectuam a
respectiva liquidação provisória à qual aplicam uma taxa de 15%.”
h) As prestações de serviços , efectuadas por contribuintes dos Grupos A e B, estão
sujeitas a tributação, por retenção na fonte, à taxa de 6,5% .

5.4.2. Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho

a) Alarga-se a base de incidência de tributação às contribuições para fundos de pensões


ou quaisquer regimes complementares de Segurança Social, aos subsídios de
representação e quaisquer outros subsídios diários.

5.4.3. Imposto do Selo

a) Com a aprovação do novo Código do Imposto do Selo é efectuada uma profunda


reformulação das normas actuais e uma significativa redução das realidades sujeitas
a este imposto

5.4.4. Imposto sobre a Aplicação de Capitais

a) Relativamente à Secção B, a Reforma determina o alargamento da base tributável


b) Quanto à Secção B, passam a encontrar-se isentos de imposto apenas:
c) Os lucros distribuídos por uma entidade com sede ou direcção efectiva em território
angolano
d) Os juros de instrumentos que se destinem a fomentar a poupança
e) Os juros que resultem de aplicações em contas poupança-habitação

41
5.4.5. Imposto de Consumo

a) As principais alterações consubstanciam-se no alargamento da base tributável a


novas operações sujeitas a imposto.
b) Prevê-se a isenção de Imposto de Consumo sobre os bens produzidos em Angola,
quando os mesmos se encontrem isentos quando importados.
c) Introdução de um regime especial de tributação de grupos societários, aplicável
apenas a grupos dominados por um Grande Contribuinte, medianteo qual a sujeição
a tributação opera pela soma total dos resultados positivos e/ou negativos das
empresas que o constituem.

42
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enquanto um quadro institucional inadequado está dificultando a diversificação da


economia Angolana, o fraco ambiente de negócios também está impedindo o crescimento
industrial. Angola é classificado como o país mais difícil para fazer negócios na região da
SADC. Esta classificação é atribuível a um ambiente de execução de contratos deficientes,
burocracia fiscal ineficiente e dificuldades encontradas na abertura de um novo negócio
(PWC, 2013).

Além do mais, para além da má qualidade das infraestruturas, as injustiças da carga


tributaria contribui para um crescimento económico irregular e irrisório para um país com
as dimensões de Angola, dificultando assim o alcance de um real desenvolvimento
socioeconómico. Os tributos são mal distribuídos, gerando desequilíbrio em alguns sectores
importantes da sociedade, principalmente naqueles vinculados a actividades sociais e
econômicas, e o prejuízo tem recaído sobre a esfera social e o empresariado nacional que é
impactada não apenas com a carga fiscal, falta de gastos públicos com infraestrutura e
serviços e desemprego, mas também com a falta de competitividade do país no mercado
internacional.

Durante os últimos anos o sistema tributário Angolano sofreu modificações legislativas


somente no intuito de aumentar a arrecadação, porém, o gasto público não diminuíram e
nem se vé a aplicação desses recursos públicos em infra-estrutura, distribuição de renda ou
em serviços à coletividade. Para a reverter esta situação necessita-se uma maior
participação da sociedade civil, cobrando políticas públicas que positivem os valores do
Estado constitucionalmente previsto. Por conseguinte, o governo através de uma proposta
apoiada na tributação indirecta deve implementar reformas para simplificar os processos e
mudar o perfil da carga tributária incidente sobre a sociedade, de forma a melhorar sua
distribuição (Teixeira, 2015). Arrecadação tributária feita principalmente por meio de
impostos indiretos, que incidem sobre o consumo e embutidos nos preços, permite a
correção das distorções, gerar recursos para áreas prioritárias como a saúde, educação e
segurança (Roberto, 2014).

Segundo o Portal Angola (2014), no pacote legislativo tributário aprovado, constam o


Código Geral Tributário, o Código do Processo Tributário, o Código de Execuções Fiscais,
o Código de Imposto Industrial e o Código do Imposto sobre Rendimentos de Trabalho.

43
Considerando o actual momento económico do país, pretende-se adoptar a administração de
procedimentos tributários mais simples e modernos. A proposta insere-se no âmbito do
Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT). Após um estudo do impacto do
mesmo sobre a economia angolana, resolveu-se implementar o imposto indirecto que incide
sobre o valor acrescentado em transacções de bens e serviços e sobre importações, IVA, em
Angola. Angola apresenta-se como o único país da SADC que ainda não adoptou o imposto
(Banco Millennium Antlantico, 2016). Também, pela primeira vez, tentou-se criar um
Código de Processo Tributário que vem instituir um verdadeiro processo tributário no país,
resolvendo-se assim os problemas existentes relativos à tramitação dos processos em
matéria tributária e à competência dos tribunais comuns para a apreciação de matérias
tributárias.

44
7. CONCLUSÃO

Para que o Estado consiga realizar seus objetivos precisa de recursos financeiros. A maior
fonte de receitas públicos é a cobrança de tributos, embora tenham outros, como
empréstimos, doações, multas, tarifas públicas etc. Por intermédio destas receitas publica o
governos viabilizam em termos financeiros a realização das funções estatais que provocam
gastos públicos (Costa & Souza, 2008).

O estímulo fiscal deve ser bem orientado da seguinte maneira (Francis, et al., 2015):

 Em primeiro lugar, ele deve ir para famílias ou empresas com maior probabilidade
de aumentar os gastos em resposta ao estímulo e, assim, aumentar o produto interno
bruto no curto prazo.
 Em segundo lugar, deve proporcionar o maior benefício para as pessoas mais
afectadas pela desaceleração.

Porque, embora as empresas e outras entidades tenham a obrigação legal de pagar certos
impostos, o ónus econômico dos impostos cai em última instância sobre as famílias. Este
fardo pode ser sentido através de uma redução na renda familiar ou preços mais altos por
bens e serviços (Padda & Akram, 2009). A reforma tributaria Angolana é abrangente
aborda as desigualdades, complexidades e ineficiências do sistema tributário. Este pretende
substituir o imposto de renda por um sistema de imposto baseado no consumo mas
mantendo os objetivos gerais de maior equidade, eficiência e simplicidade.

Sendo o IVA é um imposto sobre o consumo proposto e como as famílias mais pobres
gastam uma maior proporção de seus rendimentos, se for introduzido sem outros ajustes de
política e medido em relação ao rendimento actual torna-se regressivo. Embora um imposto
sobre o valor acrescentado (IVA) tribute bens e serviços em todas as fases de produção e
venda, o fardo econômico líquido é como o de um imposto sobre vendas. Conceitualmente,
o imposto pode aumentar o preço total pago pelos consumidores ou reduzir a quantidade de
receita comercial disponível para compensar os trabalhadores e os investidores. Teorias
sugerem que o IVA é transmitido aos consumidores através de preços mais altos. O ônus do
IVA como parte da renda é menor para as famílias de renda alta do que para outras famílias
porque um IVA não tributa os retornos de novos investimentos de capital e os rendimentos
do capital representam uma parcela maior da renda total das famílias de alta renda.

45
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