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Economia Brasileira

Contemporânea
Material Teórico
O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização
dos Governos Militares

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Júlio Cesar Gomes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
O Golpe de 1964 e os Planos de
Estabilização dos Governos Militares

• O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização


dos Governos Militares
• A Primeira Fase (1964 a 1967)
• A Segunda Fase (1968 a 1973)

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Descrever o cenário econômico após o Golpe de 1964;
· Analisar as principais medidas do PAEG;
· Caracterizar as ações de reforma estrutural do sistema financeiro,
tributário e das relações de trabalho;
· Analisar os principais aspectos do “Milagre Brasileiro”;
· Descrever as principais medidas do PED;
· Analisar o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND);
· Caracterizar o efeito do Choque do Petróleo;
· Caracterizar os efeitos da alta de juros de 1982;
· Caracterizar as medidas de ajuste recessivo, anti-inflacionária.
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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Contextualização
Alguns mecanismos das políticas econômicas determinadas no período militar
foram herdados pela Nova República, após a Abertura, em 1985, alinhando-se com
a perspectiva desenvolvimentista inaugurada na era Vargas e ainda permanecem
para muitos como estratégias válidas para promover o capitalismo no País.

Assista à reportagem exibida por meio do link abaixo, para conhecer o legado
do período militar.

50 anos do Golpe Militar. O “Milagre Econômico” e o legado


Explor

https://youtu.be/rvhA95tPMuI

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O Golpe de 1964 e os Planos de
Estabilização dos Governos Militares
A estabilidade política do período militar foi mantida por um regime de exceção,
instituído pelo golpe militar que depôs o então presidente João Goulart em 31 de
março de 1964 (GIAMBIAGI, 2011).

No que tange ao desempenho da economia, a primeira metade do período


militar, de 1964 a 1973, caracterizou-se pela busca de estabilização econômica
e política e intenso crescimento econômico, englobando duas fases distintas:
1964 a 1967 e 1968 a 1973.

O período de 1964-73 abrigou três mandatos de presidentes militares: Humberto


Castello Branco (1964-66), Arthur da Costa e Silva (1967-69) e Emílio Garrastazu
Médici (1969-73).

Fonte: commons.wikimedia.org

No governo Castello Branco, o modelo de política econômica foi estabelecido


pelo ministro do Planejamento Roberto Campos e por Octávio Bulhões, o Ministro
da Fazenda. Ambos eram economistas de perfil ortodoxo. Foram empossados
em abril de 1964 e permaneceram até o fim da gestão de Castello Branco.

Fonte: Adaptado de puggina.org

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

No diagnóstico apresentado em fins de abril de 1964, em documento reservado,


intitulado “A Crise Brasileira e Diretrizes de Recuperação Econômica”, Roberto
Campos apontou duas linhas principais de ação para a superação da crise:
·· O lançamento de um plano de emergência destinado a diminuir e eliminar
a inflação (que veio a ser o PAEG);
·· O lançamento de reformas estruturais na área fiscal e financeira.

Roberto Campos (Bob Fields) fala sobre o “golpe” de 1964


Explor

https://youtu.be/UKu4CFfnlgc

Deste modo, na gestão de Castello Branco, a política econômica teve os


seguintes objetivos:
·· O combate gradual à inflação;
·· A expansão das exportações;
·· A retomada do crescimento.

No entanto, devido ao desequilíbrio monetário e externo, a política econômica


dos governos militares foi inicialmente restritiva. Apenas a partir de 1967-68, a
retomada do crescimento econômico tornou-se a meta principal.

No que tange ao desempenho da economia, o período de 1964 a 1973 englobou


duas fases distintas:

A Primeira Fase (1964 a 1967)


Caracterizou-se pelo ajuste conjuntural e estrutural da economia para conter
o processo inflacionário, o desequilíbrio externo e a estagnação econômica.
Neste contexto, a economia brasileira apresentou um comportamento do tipo
stop and go, embora o crescimento médio do PIB tenha sido razoável (4,2% ao
ano). Outro aspecto importante foi a realização de reformas estruturais, como a
reforma tributária e financeira.

Roberto Campos considerava que as causas da inflação eram os déficits gover-


namentais e a contínua pressão salarial. Os déficits fomentavam a expansão dos
meios de pagamento que, por sua vez, estimulava os aumentos de salários.

Esse diagnóstico determinou as seguintes medidas corretivas estabelecidas


pelo PAEG:
·· Um programa de ajuste fiscal, com base em metas de aumento da
receita (via aumento da arrecadação tributária e de tarifas públicas) e de
contenção (ou corte, em 1964) de despesas governamentais;
·· Um orçamento monetário que previa taxas decrescentes de expansão dos
meios de pagamentos;

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· Uma política de controle do crédito ao setor privado pela qual o crédito
total ficaria limitado às mesmas taxas de expansão definidas para os
meios de pagamento;
· Um mecanismo de correção salarial no qual as revisões salariais nor-
teadas pelo critério da manutenção, durante o período de vigência de
cada reajustamento, do salário real médio verificado no biênio anterior,
acrescido de porcentagem correspondente ao aumento de produtividade
(GIAMBIAGI, 2011).

As metas do PAEG para a inflação indicavam uma estratégia do tipo gradualista.


O Plano não visou a suprimir o processo inflacionário em curto lapso de tempo,
mas apenas a atenuá-lo ao longo de três anos, admitindo ainda uma inflação de
dois dígitos (10%) no terceiro ano.

A opção pelo gradualismo foi justificada no PAEG com base no argumento de


que havia a necessidade de uma “inflação corretiva” que evitasse uma grave crise
de estabilização.

GAMBIAGI, Fábio; VILELA, André; CASTRO, Lavínia Barros de; HERMANN, Jennifer. Economia
Explor

brasileira contemporânea. (1945-2010). Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

Por sua vez, as Reformas Estruturais tiveram por foco a estrutura tributária
e a financeira.

A Reforma Tributária visava aumentar a arrecadação do governo através do


aumento da carga tributária da economia e da racionalização do sistema tributário.
Nesse sentido, tinha como objetivo reduzir os custos operacionais da arrecadação,
eliminando os impostos de pouca relevância financeira e definindo uma estrutura
tributária capaz de incentivar o crescimento econômico.

Para tal, as principais medidas implementadas foram:


a) Instituição da arrecadação de impostos através da rede bancária;
b) Extinção dos impostos do selo (federal), sobre profissões e diversões públicas
(municipais);
c) Criação do ISS (Imposto Sobre Serviços), a ser arrecadado pelos municípios;
d) Substituição do imposto estadual sobre vendas, incidente sobre o faturamento
das empresas, pelo ICM (Imposto Sobre a Circulação).

Por sua vez, a Reforma Financeira pretendeu complementar o Sistema


Financeiro Brasileiro (SFB), constituindo um segmento privado de longo prazo no
Brasil cujos mecanismos de financiamento fossem capazes de sustentar o processo
de industrialização já em curso, e de forma não inflacionária.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Inicialmente, a Reforma Financeira teve que reorganizar o funcionamento do


mercado monetário, o que foi feito com a criação de duas novas instituições:
·· O Banco Central do Brasil (Bacen), como executor da política monetária;
·· O Conselho Monetário Nacional (CMN), com funções normativas e
reguladoras do SFB.

Para viabilizar esse modelo, foi necessário ainda estabelecer outras medidas:
·· Definição de regras claras de funcionamento do mercado de capitais;
·· Dotação das instituições financeiras, bem como as empresas interessadas
no financiamento direto, de condições de acesso a recursos de longo prazo;
·· Ampliação do grau de abertura da economia ao capital externo, de risco,
por meio de investimentos diretos, e, principalmente, de empréstimo.

Você Sabia? Importante!

Até meados da década de 1960, o sistema financeiro brasileiro constituía-se, basicamente,


de quatro tipos de instituições: bancos comerciais privados e financeiras, que realizavam
a provisão de capital de giro para as empresas; caixas econômicas federais e estaduais,
voltadas para o crédito imobiliário; e bancos públicos (Banco do Brasil e Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico - BNDE), que eram os únicos que atuavam na intermediação a
prazos mais longos. Instituições não bancárias, embora existissem, tinham papel secundário
no mercado financeiro do Brasil anterior a 1964.
A carência dessas instituições e instrumentos tornou-se evidente durante o Plano de
Metas de JK, cujo financiamento teve como fonte predominante a emissão de moeda,
algumas fontes fiscais ou parafiscais e o capital externo. A emissão de moeda era uma
forma de financiamento de natureza inflacionária, na medida em que os recursos
novos criados pelo governo não retornavam como poupança financeira, mas a partir de
depósitos à vista, disponíveis para gasto imediato.
A reforma financeira estabelecida pela lei nº 4595, de 31/12/1964 foi importante porque
até então o Brasil não tinha um Banco Central. De fato, antes de 1945, o Banco do Brasil
- um banco comercial - funcionava também como um banco central. Em 1945, foi criada
a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), dirigida por um Conselho presidido
pelo Ministro da Fazenda, que seria o precursor do futuro banco central.
A SUMOC era responsável pela formulação da política monetária, mas na prática, não
possuía o controle da sua execução, que era realizada por vários órgãos: i) Banco do
Brasil através de suas Carteiras de Redesconto (CARED), de Câmbio e Comércio Exterior
(CACEX); ii) da Caixa de Mobilização Bancária (CAMOB), uma instituição administrada
pelo diretor da CARED; e da Caixa de Amortização, do Ministério da Fazenda. A Caixa de
Amortização emitia moeda, demandada pela CARED ou pela CAMOB, após a autorização
do Conselho da SUMOC.
BARBOSA, Fernando de Holanda. O Sistema Financeiro Brasileiro.
https://goo.gl/Wi34Z5

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As principais estratégias criadas para atrair os recursos necessários foram
os seguintes:
1. Regulamentação de alguns tópicos da Lei no 4.131 (de 1962), a fim de permitir
a captação direta de recursos externos por empresas privadas nacionais;
2. Resolução 63 do Bacen, que regulamentou a captação de empréstimos exter-
nos pelos bancos nacionais para repasse às empresas domésticas;
3. Mudança na legislação sobre investimentos estrangeiros no País, para facilitar
as remessas de lucros ao exterior, tornando o mercado brasileiro mais compe-
titivo na captação de investimentos diretos;
4. Criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que veio substituir
o regime de trabalho vigente nos anos de 1960, que garantia a estabilidade do
trabalhador no emprego após dez anos de serviço no mesmo estabelecimento.

O fundo de garantia por tempo de serviço — FGTS


Explor

O FGTS é um fundo formado por depósitos mensais, por parte do empregador, em nome de
cada trabalhador, de valor inicial equivalente a 8% dos respectivos salários nominais. Com o
FGTS, as empresas ganharam o direito de demitir funcionários a qualquer momento. Em caso
de demissão ou em algumas situações especiais (como a compra de imóvel, por exemplo),
os recursos poderiam ser liberados para o trabalhador. A ideia era que a flexibilização do
mercado de trabalho, permitida pelo Fundo, não estimularia as demissões, gerando uma
maior quantidade de contratações de empregados, na medida em que diminuía o risco e
os custos de longo prazo do emprego para os empregadores. Infelizmente, não é possível
avaliar quantitativamente essa hipótese. Isso exigiria alguma forma de comparação entre
as taxas de desemprego antes e depois do FGTS. Contudo, a pesquisa de emprego do IBGE só
teve início na década de 1980.
DIZ, Rosangela Maria Kraviski Grainert. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. ANIMA:
Revista Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba PR - Brasil. Ano IV, nº 9,
jan/jun 2013. ISSN 2175-7119.
https://goo.gl/35RT39

Em março de 1967, o professor de Economia da USP, Antônio Delfim Netto,


tornou-se ministro da Fazenda. Delfim Netto manteve, em linhas gerais, a política
de combate gradual à inflação, mas imprimiu uma mudança de ênfase da política
econômica em dois aspectos:
1. O controle da inflação passou a enfatizar o componente de custos, em vez
da demanda, já que a economia operou em ritmo de stop and go nos três
anos do governo Castello Branco.
2. O combate à inflação foi associado às políticas de incentivo à retomada do
crescimento econômico.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

A Segunda Fase (1968 a 1973)


O crescimento econômico que ocorreu durante o período de 1968-73 retomou
e complementou o processo de difusão da produção e consumo de bens duráveis,
iniciado com o Plano de Metas de JK.

Em 1968, a economia brasileira inaugurou uma fase de crescimento vigoroso,


que se estendeu até 1973. Este período caracterizou-se por uma política monetária
expansiva e pela intensificação da atividade econômica, a uma média anual de
11,1%, liderado pelo setor de bens de consumo durável e, em menor escala, pelo
de bens de capital. A taxa de investimento, que ficou estagnada em torno de 15%
do PIB no período de 1964-67, subiu para 19% em 1968 e encerrou o período
com pouco mais de 20%. Houve também a gradual redução da inflação e do
desequilíbrio externo.
Explor

Extraído de: https://goo.gl/fQne7z

Neste período, a política econômica foi marcada pelo Plano Estratégico de


Desenvolvimento (PED), lançado em meados de 1968, cujas prioridades eram:
1. A estabilização gradual dos preços, mas sem a fixação de metas explícitas
de inflação;
2. O fortalecimento da empresa privada, visando à retomada dos investimentos;
3. A consolidação da infraestrutura, a cargo do governo;
4. A ampliação do mercado interno, visando a sustentação da demanda de
bens de consumo, especialmente dos bens duráveis.

Do ponto de vista técnico, a ausência de metas explícitas de inflação no


PED favoreceu a implementação de políticas de crescimento, assim como a
adoção da política de minidesvalorizações cambiais a partir de 1968. Neste caso,
buscava-se evitar que a inflação (ainda na casa dos dois dígitos) provocasse uma
defasagem cambial que viesse a prejudicar a balança comercial e, indiretamente,
a atividade econômica.

O PED foi um plano mais “desenvolvimentista” que do que o PAEG, embora


buscasse manter o combate gradual à inflação. Utilizava investimentos públicos e
políticas propícias à recuperação dos investimentos privados. A diminuição prévia
da inflação nos anos anteriores facilitou a adoção de um plano dessa natureza em
1968, assim como a sua continuidade no governo Médici (1969-73).

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Explor
“Com o afastamento de Costa e Silva, a mesma orientação de política econômica foi mantida
no governo Médici (1969-73). No campo político, porém, o período marca uma fase de nítida
radicalização do regime autoritário. Em resposta às inúmeras manifestações contrárias ao
regime militar desde 1964, em dezembro de 1968, o governo Costa e Silva decretou o AI-5
(Ato Institucional no 5), que suspendeu as garantias constitucionais, fechou o Congresso
por tempo indeterminado e cassou mandatos de políticos opositores ao regime. Ao AI-5
seguiu-se um longo período, conhecido como “anos de chumbo”, marcado por prisões
arbitrárias (e sem qualquer direito de defesa por parte do acusado), torturas e deportações
de cidadãos considerados “subversivos da ordem” — leia-se, críticos ao regime autoritário.
Esse ambiente político favoreceu, indiretamente, a política antiinflacionária do governo,
calcada no controle direto de preços e na contenção dos salários reais. “
GAMBIAGI, Fábio; VILELA, André; CASTRO, Lavínia Barros de; HERMANN, Jennifer. Economia
brasileira contemporânea. (1945-2010). Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p. 65).

Em 1968, propulsionada pelo PED, a economia brasileira iniciou uma fase de


intenso crescimento que se estendeu e se acelerou até 1973 - o “Milagre Brasileiro”.

Essa façanha foi tornada possível por algumas condições econômicas e políticas
favoráveis, que foram aproveitadas com êxito pelo governo.

As condições econômicas e políticas favoráveis ao “Milagre econômico” foram


as seguintes:
1. A existência de capacidade ociosa na economia, fruto da debilidade
econômica da fase anterior;
2. Ampla liquidez no mercado internacional;
3. O regime autoritário vigente, que eliminava a contestação social e os lobbies
dos grupos de interesse;
4. A “simpatia” americana pelo regime.

Para aproveitar tais condições, o governo implementou um conjunto de medidas:


1. A adoção do controle de preços (inclusive salários);
2. A política de juros tabelados (em níveis baixos);
3. A política de crawling peg para o câmbio (baseada em minidesvalorizações
cambiais, de acordo com a inflação), que evitou movimentos bruscos da
taxa de câmbio real, estimulando as exportações e, indiretamente, o nível de
atividade econômica;
4. A política deliberada de captação de recursos externos que favoreceu o
controle do câmbio e o financiamento da expansão econômica.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Fonte: gazetadopovo.com.br

A seguir, o choque dos preços do petróleo entre 1973-74 deu início a uma
longa fase de dificuldades para a economia brasileira, pois estabeleceu restrições
externas de bens de capital e de insumos industriais, além de subir os preços
dos combustíveis.

Em resposta, o modelo de ajuste estrutural implementado no governo Geisel


(1974-78) teve como objetivo fomentar a produção nacional de bens cruciais ao
crescimento econômico.

O ajuste externo adotado no governo Geisel foi do tipo estrutural, materializado


no II PND, em meados de 1974. Tratava-se de um ousado plano de investimentos
públicos e privados (incentivados por políticas específicas), a serem implementados
ao longo do período de 1974-79 para promover o desenvolvimento econômico.

Os novos investimentos eram dirigidos aos setores estratégicos para o crescimento


da economia brasileira: infraestrutura, bens de produção (capital e insumos), energia
e exportação.

No primeiro, o objetivo era a ampliação da malha ferroviária, da rede de teleco-


municações e da infraestrutura para produção e comercialização agrícola, visando
ampliar a oferta para o mercado interno e para exportação. No segundo, o foco
do II PND eram os segmentos de siderurgia, química pesada, metais não ferrosos e
minerais não metálicos.

Por sua vez, no terceiro, os investimentos planejados se dirigiam aos seguintes


vetores econômicos:
·· Pesquisa, exploração e produção de petróleo e derivados;
·· Ampliação da capacidade de geração de energia hidrelétrica;
·· Desenvolvimento de fontes de energia alternativas aos derivados de
petróleo, com ênfase no álcool combustível.

Esse conjunto de iniciativas visava avançar no processo de substituição de importa-


ções e ampliar a capacidade exportadora do País de bens primários, manufaturados
e semimanufaturados.

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Diante do alto custo e do longo prazo de maturação dos investimentos, e da
virtual inexistência de mecanismos privados de financiamento de longo prazo no
Brasil, a viabilização do II PND dependeu de fontes de financiamento público e
externo. O primeiro apoiou-se no BNDE, a quem coube o financiamento dos
investimentos privados, com base em linhas especiais de crédito a juros subsidiados.
Além disso, os investimentos públicos foram financiados por recursos do orçamento
(impostos) e por empréstimos externos captados pelas empresas estatais, em
melhores condições de obtenção de crédito do que as empresas privadas.

No campo político, foi promovido por Geisel


um processo de distensão do regime. Esta aber-
tura política não pretendia afastar os militares
do poder civil, mas institucionalizá-los através da
formação de uma base partidária sólida, que fa-
vorecesse a sua legitimação política. Para tal,
o apoio das elites empresariais do País era es-
tratégico para enfraquecer tanto a linha dura
militar, quanto os movimentos políticos de es-
querda, presentes no MDB, nos sindicatos e or-
ganizações estudantis, que combatiam o regime
militar e o modelo de economia capitalista que
Fonte: commons.wikimedia.org
vinha sendo implementado desde 1964.

Nesse contexto, o II PND, atendia, simultaneamente, ao projeto de desenvol-


vimento econômico e ao projeto de poder do governo militar: “Em suma, uma
resposta ortodoxa à crise [de 1974] conduziria a restrições econômicas imediatas,
acirraria os conflitos distributivos e reduziria muito as possibilidades de o governo
promover com sucesso a ‘distensão’ política em que se empenhava” (SALLUM JR.,
1996, p. 51).

Na verdade, no governo Geisel, embora a preocupação com o processo infla-


cionário estivesse presente, o objetivo era vencer os desafios do desenvolvimento
econômico. No que tange à inflação, o governo apenas conseguiu evitar a sua ace-
leração. Quanto ao PIB, embora abaixo da meta anunciada e apresentando uma
desaceleração no biênio 1977-78, a taxa média anual de crescimento no governo
Geisel foi ainda bastante elevada: 6,7%.

O II PND gerou ou seguintes efeitos entre as décadas de 1970 e 1980:


1. A substituição do petróleo na matriz energética brasileira: o peso do
petróleo importado no consumo final de petróleo no Brasil, que foi crescente
até 1979, quando atingiu 86%, caiu para 77% em 1983 - na pauta de
importações, porém, o peso dos combustíveis (derivados de petróleo) só
começou a ser reduzido de forma importante a partir de 1986. Essa queda
relativa nas importações de petróleo reflete a substituição do insumo na
matriz energética brasileira, cuja participação reduziu-se de 43% em 1978
para 34% em 1983.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

2. O aumento das exportações brasileiras: o quantum de exportações


cresceu continuamente a partir de 1978, à exceção apenas do ano de 1982,
no auge da recessão internacional provocada pelo segundo choque do
petróleo e pelo aumento dos juros externos. A partir desse ano, o crescimento
real das exportações tornou-se superior às taxas de crescimento real do PIB;
3. O aumento das exportações de bens manufaturados: o peso dos bens
básicos nas exportações totais reduziu-se de 65% em 1973, para 32% em
1984. Este declínio foi compensado pelo aumento do peso relativo dos bens
manufaturados: de 23% para 56% no mesmo período;
4. A tendência à substituição de importações entre 1970 e 1980: por
exemplo, o peso dos bens de capital importados na FBCF no Brasil reduziu-
se de 12,3% (em média) no período de 1971-73 para 3,5% entre 1981-83.
5. Aumento posterior do endividamento externo: um dos efeitos negativos
do II PND se deve à ousadia da sua estratégia de endividamento externo, que
ensejou a posteriori um aumento considerável da dívida pública. Contudo,
outro fator relevante foi o próprio modelo de ajuste externo adotado nos
anos 1979-84 para enfrentar os choques externos do período.

A seguir, o general João Figueiredo assumiu a Presidência da República em março


de 1979 e convidou M. H. Simonsen, ministro da Fazenda no governo Geisel, para
a pasta do Planejamento - que se tornaria o comando central da política econômica
na gestão de Figueiredo. No início de 1979, a economia brasileira entrava no 12o
ano consecutivo de vigoroso crescimento e endividamento externo.

Ao longo de 1979, ocorreu um segundo choque do petróleo, que teve um efeito


negativo prolongado sobre a política econômica, devido a dois fatores:
·· Retração das importações dos produtos nacionais por parte dos países
industrializados;
·· Racionamento maior de crédito para os países em desenvolvimento.

O governo passou então a adotar uma estratégia de ajuste recessivo, acompanhan-


do a mudança nas condições estruturais e conjunturais de operação da economia
brasileira, que incluiu as seguintes medidas:
·· Combinação de ajuste de preços relativos - taxa de câmbio, tarifas públicas;
· · Controle da absorção interna (promovido por uma política de juros
reais elevados).

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Você Sabia? Importante!

Segunda crise do petróleo


“Ficou conhecida como a Segunda Crise ou Segundo Choque do Petróleo o corte na venda
e distribuição deste item por parte do segundo maior produtor mundial, o Irã, em meio
à revolução fundamentalista pela qual passou o país em 1979. Nesse ano, o governo
impopular, notoriamente corrupto e pró-ocidente do xá Reza Pahlevi seria deposto por
um movimento de cunho moralista e religioso cujo líder era o aiatolá Khomeini, e que é
importante salientar, não tinha a mesma simpatia pelos países dependentes do petróleo
como acontecia com os responsáveis pelo regime deposto. Assim, as mudanças no país
trarão uma enorme turbulência no mercado do petróleo, sendo que pela segunda vez na
década de 70 (a primeira vez sendo em 1973), o preço do produto, fundamental para o
funcionamento da economia mundial, vai às alturas, chegando a dobrar o seu original valor
pós-crise de 1973, isso em janeiro de 1980, fomentada tal escalada ainda pelos temores de
racionamento energético nos EUA.
Ao contrário do Primeiro choque, este terá maior duração, pois além da paralisação da
produção logo após a Revolução, o novo governo islâmico fundamentalista irá controlar
os preços do produto de acordo com a sua orientação político-religiosa. Os Estados
Unidos, então aliado íntimo do governo do Xá, agora se tornarão os maiores inimigos
do país, especialmente após o dramático episódio que se seguiu imediatamente à
revolução: a crise dos reféns da embaixada norte-americana, capturados em meio a
invasão de tal prédio em Teerã, capital do país, tornaram-se subitamente moeda de
troca do governo de Khomeini, permanecendo 444 dias sob vigilância armada, com suas
vidas em potencial risco.
No Brasil, mais uma vez a economia irá sofrer com o novo choque. Se na primeira vez,
os preços dispararam e a inflação ficara fora de controle devido ao imenso desequilíbrio
que se apresentava na balança comercial nacional, agora o país estava à beira da
quebra, com as consequências dos desmandos e obras faraônicas do Regime Militar
aflorando, além dos erros da política energética equivocada do governo, que vinham
cobrando um alto preço da população com a disparada do preço da gasolina e do diesel
nas bombas dos postos. Ao menos dessa vez, o novo choque iria produzir uma mudança
radical na política brasileira com relação aos combustíveis, dando início ao investimento
no desenvolvimento de alternativas à gasolina, emergindo o álcool combustível como
solução nos postos de todo o país, e que até hoje subsiste, sendo, porém uma inovação
a ser ainda propagada ao resto do mundo. “
O Segundo Choque do Petróleo em 1979
https://goo.gl/dSTzcc

A combinação desses choques atingiu gravemente os países importadores de


petróleo, e, em especial, os endividados, tais como o Brasil, pois deteriorou ainda
mais os termos de troca comercial.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

O aumento dos juros americanos contribuiu para aumentar seus déficits em


conta corrente de duas maneiras:
1. através da retração das importações dos países industrializados, dentre
os quais estava os Estados Unidos, que sempre tinha sido um comprador
importante de produtos brasileiros;
2. através do aumento das despesas com a dívida externa, uma vez que uma
parte dela significativa era contratada a taxas flutuantes, revistas a cada seis
meses, indexadas a prime rate.
Ao mesmo tempo, os juros mais altos dificultavam a captação de novos
empréstimos pelos países já endividados. Este fato atraía recursos para os países
industrializados, pois aumentavam o risco atribuído, pelos investidores estrangeiros,
aos países devedores, porque implicavam maiores despesas com a dívida já
contratada e maiores custos de “rolagem” da dívida vincenda. Nessas condições,
a compensação dos déficits em conta corrente por superávits na conta de capital,
como se fez no Brasil durante o “Milagre”, não era mais possível.
O resultado desse novo cenário internacional foi o racionamento do crédito para
os países altamente endividados - a maior parte da América Latina - e a deflagração
da “crise da dívida” latino-americana. Incapazes de saldar ou de refinanciar as
elevadas despesas financeiras em dólares, esses países tiveram que declarar
moratória da dívida externa, tais como o México, em agosto de 1982. À moratória
mexicana, seguiu-se um longo período de estancamento do fluxo de capital para os
países em desenvolvimento, bem como de renegociação da dívida externa latino-
americana (caso a caso), que se estendeu até a década de 90.
Este novo contexto exigia do Brasil novas e rápidas medidas de ajuste externo.
Na visão do Ministro Mário Henrique Simonsen, encarregado de definir a nova
política econômica, dessa vez, o ajuste recessivo se impunha como única forma
de controlar o grave desequilíbrio do BP. Porém, como toda política econômica
restritiva, a implementada pelo ministro gerou críticas e resistências no setor
privado e até dentro do governo, nas estatais. Essas pressões culminaram com
a renúncia de Simonsen e a sua substituição por Delfim Netto, que determinou a
política econômica até o fim do governo Figueiredo.

Fonte: uol.com.br

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O diagnóstico inicial de Delfim Netto foi que o estrangulamento externo que
afetava a economia brasileira em 1979 se devia a um desajuste de preços relativos
que distorcia a distribuição dessa demanda entre os diversos setores.

Na visão de Delfim Neto, diante dos novos choques externos, a taxa de câmbio
deveria ser corrigida para promover o redirecionamento da demanda em favor dos
bens de produção doméstica e estimular as exportações.

Para tal, foram estabelecidas as seguintes medidas:


· Os mecanismos de controle monetário existentes foram intensificados, o
que gerou taxas negativas de crescimento do M1 e do crédito no biênio
1979-80;
· Uma maxidesvalorização cambial foi realizada, de 30% nominais, em
dezembro de 1979.

Em suma, o modelo de ajuste externo implementado no período de 1979-80


se pretendia não recessivo, e combinava formas de controle fiscal e monetário
com ajustes de preços relativos com o objetivo de favorecer a balança comercial
e de recuperar as contas públicas, resolvendo, ao mesmo tempo, o desequilíbrio
externo e fiscal.

Na prática, porém, esse ajuste de preços não funcionou, porque a aceleração da


inflação corroía rapidamente os aumentos reais obtidos a cada rodada de correção,
o que penalizou a população brasileira, favorecendo a concentração de renda.

Mas a recessão foi evitada. No biênio 1979-80, o PIB cresceu à taxa média de
8% ao ano no período, devido às seguintes medidas:
· Aumento das exportações;
· “Crescimento inercial” dos investimentos públicos e privados do II PND,
que estavam sendo finalizados.

No que tange ao BP, porém, o desequilíbrio externo não foi sequer amenizado
entre 1979-80, devido a diversos fatores:
1. a maxidesvalorização de 1979 não se materializou em desvalorização real do
câmbio, porque foi consumida pelo rápido aumento da inflação;
2. apesar do forte crescimento das exportações, o déficit comercial aumentou
alavancado pelo aumento dos preços (especialmente do petróleo) e, em 1979,
também da quantidade de importações;
3. sob o efeito do aumento dos juros internacionais, as despesas com rendas
cresceram;
4. os superávits da conta de capital não foram suficientes para cobrir os déficits
correntes, tornando o BP deficitário.

Com isso, o País registrou significativa perda de reservas internacionais, que


passaram de US$12 bilhões em 1978 para US$7 bilhões em 1980.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Em face da crise, a partir de 1981, a ênfase do ajuste externo recaiu sobre o


controle da absorção interna. Assumiu-se, então, explicitamente, o modelo de ajuste
recessivo, embora uma nova maxidesvalorização cambial tenha sido implementada
em 1983. Novamente, os custos do ajuste foram mais altos e duradouros do que os
seus benefícios.

À semelhança do biênio 1979-80, os efeitos positivos da política restritiva sobre


a balança comercial foram mais significativos do que sobre a contracorrente e o sal-
do global do Balanço de Pagamento (BP). Isto aconteceu no período de 1981-83,
quando o saldo comercial aumentou US$9,3 bilhões, enquanto os da contracor-
rente e do BP cresceram, respectivamente, US$6,0 bilhões e US$3,4 bilhões.
Além disso, a manifestação de um novo desequilíbrio externo em 1985 atestou a
fragilidade do ajuste obtido nos anos 1981-84.

O legado negativo desta política econômica de ajuste foi permanente, pois a


tendência à aceleração inflacionária se manteve até meados da década de 1990.

Fonte: og.infg.com.br

Em relação às contas públicas, apesar da redução do déficit operacional para


3,0% do PIB em 1984, o déficit nominal e a dívida pública interna mantiveram sua
trajetória ascendente, devido aos seguintes fatores:
·· A pressão da inflação;
·· As correções cambiais sucessivas;
·· A política de juros altos;
·· A proteção dos devedores externos,
·· A influência das operações de esterilização do capital externo (nos períodos
de superávit do BP), que contribuíam para o aumento do estoque da
dívida pública.

Na verdade, estas experiências malsucedidas de ajuste externo do período de


1979-84 evidenciavam a influência de um fator determinante de desequilíbrio
externo brasileiro: o crescimento exógeno dos encargos da dívida externa, devido
à elevação dos juros internacionais.

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Neste contexto, ao final do período militar, o ajuste externo e fiscal requerido
dependia diretamente de uma redução significativa das despesas financeiras que
pesavam sobre o BP e as contas públicas. A solução do problema dependia da
renegociação ampla da dívida externa, com a aceitação de um deságio por parte
dos credores, que só foi estabelecida em 1994, o que favoreceu a estabilização do
câmbio e dos preços no País.

Você Sabia? Importante!

“Desde 1930, o Estado tem funcionado sistematicamente como mecanismo de proteção


das várias atividades econômicas existentes no País, frente às vicissitudes dos mercados
internacional e nacional. A partir do Estado Novo, o poder público passou a atuar,
também, como promotor da diferenciação do aparelho produtivo nacional, ampliando sua
capacidade industrial. Neste sentido, existe um parentesco direto entre a implantação da
siderurgia pesada em Volta Redonda durante o Estado Novo, a execução do Plano de Metas
de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e a do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) de
Ernesto Geisel (1974-1979). Para a compreensão da natureza da relação Estado-sociedade
na história brasileira, é estratégico ressaltar a forte continuidade do estilo de atuação do
Estado Desenvolvimentista, através de distintos regimes - o Estado Novo, a Constituição de
1946 e o autoritarismo inaugurado em 1964.
Há, hoje, um amplo consenso sobre a importância do II PND como momento da afirmação
máxima das características desta forma de Estado e da definição dos contornos da crise
atual. Frente ao estrangulamento externo ocasionado pela alta extraordinária dos preços
internacionais do petróleo, o governo Geisel desencadeou um ambicioso programa
de substituição de importações sob a égide do Estado, mas com maciça utilização
de empréstimos externos. Esta onda de investimentos na área de bens de capital e
intermediários, na qual a distribuição das aplicações orientava-se pelo famoso tripé -
capital estrangeiro, nacional e estatal -, amplia a autonomia industrial do País frente ao
Exterior. Com isso, as taxas de crescimento do PIB, embora menores que as vigentes nos
anos do milagre econômico (1968-1973), foram ainda elevadas.
Entretanto, a redução conseguida na dependência produtiva teve como contrapartida
a elevação da dependência financeira em relação ao mercado internacional de capitais.
Enquanto as taxas internacionais de juros mantinham-se relativamente baixas e o preço
do petróleo conservava-se no mesmo patamar, o País conseguiu preservar sua capacidade
de pagamentos absorvendo novos capitais que permitiam rolar a dívida. A partir da alta
violenta da taxa internacional de juros, em 1979, e da nova elevação do patamar dos preços
do petróleo, a capacidade de adaptação da economia brasileira ao ambiente econômico
internacional foi posta em xeque. Restringiu-se paulatinamente o acesso do Brasil ao
mercado internacional de capitais, até a completa interrupção dos fluxos voluntários a
partir do setembro negro mexicano de 1982 (15). Estas restrições obrigaram a uma redução
das atividades econômicas do País. O ajuste recessivo anterior e posterior aos acordos com
o FMI teve o condão de adaptar a economia como um todo para enfrentar a crise da balança
de pagamentos. Paulatinamente, foram gerados os excedentes exportáveis necessários ao
pagamento do serviço da dívida externa. Nos anos 80 e, especialmente, depois de 1982,
o setor capitalista privado se adapta a patamares inferiores de produção, diminuindo
celeremente seu endividamento interno e externo.”
BRASILIO SALLUM JR, Brasilium; KUGELMAS, Eduardo. O Leviathan declinante: a crise
brasileira dos anos 80. Estudos Avançados, 5(13), 1991.
https://goo.gl/vcCsX4

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Em Síntese Importante!

Inicialmente, o “Milagre econômico” brasileiro apresentou os seguintes aspectos positivos:


• A inflação muito mais baixa: 15% em 1973, em comparação com o índice de 80%
em 1963;
• A reorganização da estrutura fiscal e financeira;
• A recuperação do BP;
• O próprio ritmo acelerado de crescimento econômico.
Essas condições econômicas favoráveis foram testadas a partir do Primeiro choque dos
preços do petróleo em fins de 1973, que exigiu um esforço de substituição de importações
de bens de capital através de empréstimos. Mas com o segundo choque do petróleo em
1979 e a alta de juros ocorrida no início da década de 80, esta política foi colocada em
xeque. Restringiu-se gradualmente ao acesso do Brasil ao mercado internacional de
capitais e a capacidade de importações de bens de capital, petróleo e seus derivados, e
aumentou a inflação e o endividamento interno e externo.
Foi então exigido um ajuste externo e fiscal através da redução significativa das desp-
esas financeiras que pesavam sobre o BP e as contas públicas, que era muito difícil de
acomodar nos saldos comerciais e no resultado primário do governo. A solução era
fazer a renegociação ampla da dívida externa, que devia incluir a aceitação de um
deságio por parte dos credores, que só foi obtida em 1994, que quando finalmente se
conseguiu gerar a estabilização do câmbio e dos preços no País.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-1930
ABREU, Alzira A. de et al. (coord.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro
Pós-1930 (ed. rev. e atual.). Rio de Janeiro: Editora FGV/CPDOC, 2001.

A Lanterna na Popa
CAMPOS, Roberto de. A Lanterna na Popa: memórias. 2.ed. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1994.

Desenvolvimento Capitalista no Brasil


CRUZ, Paulo D. “Notas sobre o endividamento externo brasileiro nos anos setenta”.
In: L. G. Belluzzo; COUTINHO, R. (orgs.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil,
vol. 2. São Paulo: Brasiliense, 1983.

A Era dos Extremos


HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Economia Brasileira Contemporânea


SOUZA, Nilson Araújo de. Economia brasileira contemporânea: de Getúlio a
Lula. 2. ed., ampl. São Paulo: Atlas, 2008.

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UNIDADE O Golpe de 1964 e os Planos de Estabilização dos Governos Militares

Referências
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do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Ipea/Inpes, 1988. (Série PNPE, n. 19.)

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Desenvolvimento e Crise no Brasil: história,


economia e política de Getúlio Vargas a Lula. 5.ed. São Paulo: Editora 34, 2003.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995.

FISHLOW, Albert. “A economia política do ajustamento brasileiro aos choques


do petróleo: uma nota sobre o período 1974/84”. Pesquisa e Planejamento
Econômico, vol. 16, n. 3, pp. 507-550, dez. 1986.

FURTADO, Milton Braga. Síntese da economia brasileira. 7. ed. Rio de Janeiro:


Livros Técnicos e Científicos, 2012.

GIAMBIAGI, Fabio; CASTRO, Lavínia Barros De; HERMANN, Jennifer. Economia


brasileira contemporânea: 1945-2010. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier 2011.

GREMAUD, Amaury Patrick; TONETO JUNIOR, Rudinei.; VASCONCELLOS,


Marco Antônio Sandoval. Economia Brasileira Contemporânea. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.

IANNI, Otavio. 1986. Estado e planejamento econômico no Brasil. 4.ed. Rio


de Janeiro: Civilização Brasileira.

LACERDA, A. C. et al. Economia Brasileira. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

LAGO, L. A. C. “A Retomada do Crescimento e as Distorções do ‘Milagre’: 1967-73”.


In: M. de P. Abreu (org.). A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica
Republicana — 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1997. cap. 10, pp. 233-294.

MONTEIRO FILHA, Dulce C. “A Contribuição do BNDES para a Formação da


Estrutura Setorial da Indústria Brasileira no Período 1952/89”. Revista do BNDES,
vol. 2, nº 3, pp. 151-166, jun. 1995.

SALLUM JR., Brasilio. Labirintos: dos generais à Nova República. São Paulo:
Hucitec, 1996.

SERRA, José. “Ciclos e Mudanças Estruturais na Economia Brasileira do Pós-


Guerra”. In: Luiz G. de M. Belluzzo; Renata Coutinho (orgs.). Desenvolvimento
Capitalista no Brasil: ensaios sobre a crise. São Paulo: Brasiliense, 1982.

SILVA, Ricardo. Planejamento econômico e crise política: do esgotamento


do Plano de Desenvolvimento ao malogro dos programas de estabilização. Rev.
Sociol. Polít., Curitiba, 14: p. 77-101, jun. 2000.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

SOCHACZEWSKI, Antônio Cláudio. Desenvolvimento Econômico e Financeiro


do Brasil: 1952-1968. São Paulo: Trajetória Cultural, 1993.

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