IERI - INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
BACHARELADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS 2ª. PROVA DE ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA I VALOR: 34,0 PONTOS PROFESSOR: VITORINO ALVES DA SILVA
04) Desenvolva a interpretação do “capitalismo tardio” para o conjunto do
processo de industrialização brasileiro.
Dentro da lógica do capitalismo tardio, se observa que o olhar para a questão da
origem da indústria e da relação entre a economia agroexportadora e a industrializada se faz importante, mas esse pensamento não fala somente disto. Esta teoria argumenta que, conforme se observa nas demais economias latino-americanas, o desenvolvimento das Indústrias no Brasil se concede de modo muito particular e dentro de uma fase da evolução capitalista que se deu muito tardiamente. Isto nos leva a compreender que o Brasil passou por duas principais fases: 1. Capitalista e nacional (agora independente) no primeiro momento; 2. Economia capitalista nacional agroexportadora assalariada no segundo momento; A defesa dessa linha de pensamento se inicia com uma análise crítica do pensamento proposto pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) a qual sustenta a ideia de uma disseminação desigual da indústria global, resultando em uma Divisão Internacional do Trabalho entre as economias periféricas e centrais. Vale ressaltar que nesta perspectiva, essa desigualdade é atribuída ao legado colonial de longa data, que relegou muitos países periféricos à posição de exportadores de recursos naturais. Em contraste com a doutrina cepalina, o conceito de capitalismo tardio argumenta que a peculiaridade da industrialização no Brasil reside no fato de ter sido primeiramente influenciada por fatores internos e, posteriormente, por fatores externos. Dessa forma, estabeleceu-se uma dependência do capital industrial em relação à economia de exportação cafeeira. Isso ocorreu porque a acumulação de capital e a transição para o regime de trabalho assalariado, ambas viabilizadas pelo setor agroexportador, foram as condições que possibilitaram o surgimento do capital industrial na economia brasileira. Portanto, compreendendo que o capital industrial é uma extensão do capital cafeeiro, sua emergência e consolidação ocorreram em um contexto de expansão da atividade cafeeira, entre o final do século XIX e os anos 1920. Outra questão importante defendida pelo conceito de capitalismo tardio é a natureza contraditória da relação de dependência entre o capital industrial e o capital cafeeiro. Essa contradição está presente no fato de que, embora a economia cafeeira tenha possibilitado o surgimento do capital industrial, ela também estabeleceu limites para a industrialização, uma vez que dependia da demanda estrangeira por produtos primários. Em outras palavras, a continuidade da economia cafeeira estava condicionada à demanda dos países estrangeiros por produtos primários do Brasil, o que resultou em uma posição subordinada do país na Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Isso contribuiu para que inicialmente apenas indústrias de bens de consumo fossem instaladas no país, enquanto os bens de capital eram importados de indústrias nos países centrais. Esse cenário limitou o processo de acumulação de capital industrial nacional, justificando a classificação do desenvolvimento industrial pela vertente do capitalismo tardio como particular, atrasado e carente de autonomia. De maneira geral, a perspectiva do capitalismo tardio defende que devem haver estímulos em períodos de crise porque assim é possível manter parte da demanda interna, que não é mais predominantemente atendida pelas importações. Além disso, essa construção teórica observa que, comumente, quando ocorre uma crise, a política econômica entra em cena permitindo uma desvalorização da moeda porque há o surgimento de estoques.
05) O 1º. Governo Militar (1964;1967) implantou um conjunto de reformas
estruturais. Analise estas reformas estruturais e identifique os principais objetivos para sua implantação.
O período de 1962-1964 foi apresentado com muitas instabilidades nos índices
de crescimento econômico e de inflação. Dessa forma, houve uma queda do crescimento econômico, diferentemente do que acontecia nos anos anteriores. O governo na primeira fase desse cenário econômico, de 1964 a 1967, buscava reduzir a taxa de inflação e aumentar o PIB brasileiro e uma atividade de ajuste conjuntural e estrutural da economia, com o objetivo do enfrentamento da inflação, o desequilíbrio externo e a estagnação econômica que ocorria nesse período. Houve então, a implementação do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) e reformas estruturais de suma importância. As reformas estruturais tiveram como foco a mudança da estrutura tributária e financeira da época, e ao que se refere ao trabalho, houve a importante implementação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), sistema esse presente até nos dias de hoje e que substituiu o regime de estabilidade no emprego e que por sua vez garantia uma estabilidade ao trabalhador no emprego após um determinado limite de tempo. Dessa forma, caso houvesse demissões ou algo do gênero, os depósitos mensais do empregador com o valor da época seriam liberados para o mesmo, com a ideia de uma flexibilização no mercado de trabalho gerando mais contratações. Sobre a reforma financeira, antes de 1964, o Sistema Financeiro Brasileiro (SFB) era regulado por diversas instituições, incluindo bancos comerciais privados e financeiras, responsáveis por fornecer capital de giro às empresas. As caixas econômicas federais e estaduais desempenhavam um papel no crédito imobiliário. Além disso, havia presença de bancos públicos, como o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), juntamente com instituições não bancárias que tinham uma posição secundária no mercado financeiro da época. No entanto, a partir do primeiro governo militar, ocorreram reformas que complementaram o SFB ao introduzir um segmento privado de longo prazo no Brasil. Essas mudanças visavam fortalecer o sistema financeiro e estimular o financiamento de investimentos de médio e longo prazo. Dessa forma, o objetivo central era introduzir no SFB, mecanismos financeiros que poderiam sustentar o processo de industrialização que já estava acontecendo, mas de uma maneira que não fosse tão inflacionária. Sendo assim, se fazia necessário reorganizar o funcionamento do mercado monetário, acarretando em novas instituições como o Banco Central do Brasil (BACEN) e a função de executor da política monetária, e o Conselho Monetário Nacional (CMN), que possuía funções reguladoras do SFB. O modelo de financiamento passou por reformas substanciais, adotando um sistema segmentado semelhante ao aplicado nos Estados Unidos. Nesse novo modelo, as instituições financeiras operavam em segmentos específicos do mercado. Os bancos de investimento desempenhavam um papel crucial ao oferecer financiamento de longo prazo e facilitar a negociação de títulos no mercado de capitais. Em menor escala, os bancos públicos assumiram uma função importante no fornecimento de crédito de longo prazo. Para promover efetivamente esse modelo, foram estabelecidas uma série de leis e resoluções governamentais que estipulavam as diretrizes de funcionamento do mercado. Essas medidas introduziram regulamentações claras para o mercado de capitais, as instituições financeiras e as empresas interessadas em obter financiamento direto, estabelecendo condições transparentes para o acesso a recursos de longo prazo. Essa abordagem visava a criação de um ambiente regulatório mais transparente e estruturado para as atividades financeiras. Essas ações governamentais em relação ao combate à inflação necessitavam de mecanismos de proteção do retorno real dos ativos e incentivo à demanda, então, foram criados a ORTN, Lei do Mercado de Capitais e as Resoluções do Bacen. Por conseguinte, um outro elemento significativo das reformas financeiras ocorridas entre 1964 e 1966 foi o aumento da abertura da economia ao capital estrangeiro, tanto para investimentos diretos quanto para empréstimos. Essa abertura financeira era considerada uma condição favorável para promover a competição e a eficiência do Sistema Financeiro Brasileiro (SFB). Foi promovida uma alteração adicional na legislação referente a investimentos estrangeiros no país, com o intuito de simplificar as transferências de lucros para o exterior. O propósito dessa medida era tornar o mercado brasileiro mais atrativo para a obtenção de investimentos diretos, visando aumentar sua competitividade. Ao que se refere a reforma tributária, seus principais objetivos estavam no aumento da arrecadação do governo e na racionalização do sistema tributário, buscando-se reduzir custos da arrecadação e diminuir impostos com pouca relevância financeira. Para que isso fosse possível, foi eliminado os impostos de selo federal em profissões e diversões públicas municipais, instituição da arrecadação de impostos pela rede bancária, criação do Imposto sobre Serviços (ISS) e substituição do imposto estadual sobre vendas pelo ICM, além de mecanismos de isenção e incentivos a atividades prioritárias do governo. Por meio dessas reformas, o aumento dos impostos no país acabou favorecendo as classes de renda mais alta, ou seja, aqueles que têm capacidade de poupar e investir. No entanto, a maior parte da arrecadação adicional foi obtida por meio de impostos indiretos, que, proporcionalmente, afetaram e penalizaram especialmente as classes de renda mais baixa. Por fim, cabe mencionar as transformações na organização administrativa do Estado que se caracterizaram pela concentração do poder, estabelecimento de entidades fiscalizadoras e adoção de um modelo de desenvolvimento autoritário. A concentração do poder foi alcançada por meio do fortalecimento das forças militares e da centralização das decisões no âmbito executivo. As entidades fiscalizadoras foram criadas com a finalidade de supervisionar a gestão pública, embora também exercessem controle político e ideológico.