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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

CURSO DE PREPARAÇÃO AOS CURSOS DE ALTOS ESTUDOS MILITARES E


EQUIVALENTES – CP/CAEM

GEOGRAFIA

A ATUAL FASE DO CAPITALISMO:


GLOBALIZAÇÃO E
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
(ASSUNTOS 3, 4, 5 e 6)

RIO DE JANEIRO - 2022


CP/CAEM A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva 2

COMPETÊNCIA PRINCIPAL:

Participar dos processos seletivos de oficiais superiores para o prosseguimento da


carreira.

UNIDADES DE COMPETÊNCIA:

Formular soluções para problemas que envolvam aspectos da Geografia do Brasil e


do mundo.

ELEMENTO DE COMPETÊNCIA:

- Analisar os principais problemas brasileiros nas expressões do poder nacional.

- Apresentar estudos geo-históricos com bases geopolíticas e estratégicas.

CONTEÚDO:

A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva

ASSUNTOS

3. O processo de desenvolvimento do sistema capitalista

4. Os modelos de produção Fordista e Pós-Fordista.

5. Revolução Informacional e o atual processo de globalização

6. O Estado diante dos desafios da globalização

PADRÃO DE DESEMPENHO:

Relacionar a globalização, a reestruturação produtiva e a revolução informacional no


contexto do capitalismo, com base na documentação referenciada, para explicar a
evolução dos processos produtivos.
CP/CAEM A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva 3

ÍNDICE

Assuntos Pg

3. O processo de desenvolvimento do sistema capitalista...................... 04

4. Os modelos de produção Fordista e Pós-Fordista.............................. 06

5. Revolução Informacional e o atual processo de globalização............ 11

6. O Estado diante dos desafios da globalização................................... 14

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................... 16
CP/CAEM A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva 4

Ass 3: O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA CAPITALISTA

A globalização é usualmente definida como a atual fase do processo de


expansão do capitalismo na qual se destacam, como aspectos principais, a
ampliação da reprodução do capital e do consumo. Tais efeitos estão relacionados a
uma inédita aceleração dos fluxos de informações, capitais, mercadorias e pessoas.
Esses novos arranjos geram uma complexa rede de relações em nível mundial,
ocasionando uma forte interdependência entre os diversos atores econômicos e
políticos, bem como entre os diversos territórios.

Perceber a globalização como mais uma fase de expansão do capitalismo é


um passo importante para que se construa uma análise estrutural aprofundada do
processo. Assim, pode-se recordar que suas origens remontam ao início da
expansão marítima e da internacionalização do capital entre os séculos XV e XVI.
Não há como compreender a globalização sem percebê-la como resultado do
processo de expansão capitalista e, portanto, em interação com a constituição do
sistema colonial e uma estrutura de relações desiguais entre as diferentes regiões
do mundo. É por isso que muitos autores argumentam que a globalização
representa para a atual fase do capitalismo (fase “tecnológica”), o mesmo que o
colonialismo representou para a fase comercial do capitalismo (mercantilismo,
séculos XVI, XVII e primeira metade do século XVIII) e o mesmo que o imperialismo
para as fases industrial e financeira do capitalismo (Revolução Industrial, séculos
XIX e XX).

Resumidamente, pode-se afirmar que a função do colonialismo dentro da


estrutura econômica capitalista foi potencializar a acumulação de capital e poder da
burguesia e dos Estados-Nação, por meio da exploração dos recursos das colônias
e da expansão das trocas de mercadorias. Nesta etapa, as metrópoles europeias
buscavam controlar áreas fornecedoras de matérias primas e comercializar produtos
manufaturados. A América se constituiu na principal região provedora de recursos
para o desenvolvimento das potências europeias.

Ao colonialismo, sucedeu-se o imperialismo - ou neocolonialismo. Este


constituiu uma resposta às novas demandas de estruturação do sistema capitalista.
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A partir de meados do século XIX, os avanços técnicos associados à 1ª e à 2ª


Revoluções Industriais e a aceleração do processo de acumulação de capital
geraram maior competição nos mercados internos e externos das potências
industriais e uma necessidade de expansão das fontes de matéria-prima. A
concorrência cada vez mais acirrada favorecia a concentração de capital e a
formação de grandes empresas. O alto nível de acumulação gerou uma quantidade
de capital excedente nunca antes vista. Isso, em associação com a crescente
saturação dos principais mercados, desenvolveu uma nova necessidade estrutural
de busca por áreas de investimento para o capital em excesso.

A partilha e o controle político-territorial da África e da Ásia se constituíram,


portanto, um meio economicamente vantajoso de suprir necessidades impostas pela
estrutura de desenvolvimento capitalista da época. Assim, as colônias, tanto no
colonialismo quanto no imperialismo, assumiram a função de sustentar o
desenvolvimento das potências capitalistas, embora com especificidades em cada
momento.

Muitos autores argumentam que a conjuntura ideológica, política e econômica


desenvolvida a partir da 2ª Guerra Mundial tornou o modo de exploração econômica
do imperialismo anacrônico. Nesta conjuntura, o controle territorial através de
ocupação militar direta se mostrou custoso política e economicamente. As
superpotências que se consolidaram, EUA e URSS, impunham uma ordem mundial
renovada e livre das tradicionais colônias. A nova organização que substitui a
exploração imperialista se institui pelo domínio dos aspectos econômicos, políticos e
socioculturais. Ou seja, pelo controle e regulação dos mercados, das instituições
internacionais de poder e das mídias.
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Ass 4. OS MODELOS DE PRODUÇÃO FORDISTA E PÓS-FORDISTA

Para que seja compreendida de maneira mais complexa, a globalização


também deve ser analisada em sua interação com o processo de reestruturação
produtiva, desencadeado a partir das últimas décadas do século XX. Neste período,
têm ocorrido grandes mudanças no modelo hegemônico de desenvolvimento, o que
tem alterado a forma de organização do espaço e a relação entre as diferentes
regiões do mundo. O modo como vem se reorganizando a produção se relaciona
diretamente com o fenômeno que se denomina por globalização.

Desde o início do século XX, grandes transformações modificaram


profundamente o modo como se organiza a produção na sociedade capitalista. Uma
dessas transformações foi o surgimento do modelo de desenvolvimento fordista, que
passou a ser implementado a partir da década de 1930, e recebeu esse nome
porque teve como algumas de suas bases as inovações nascidas na fábrica de
veículos da Ford nas duas décadas anteriores. As principais características do
Fordismo eram a adoção do Taylorismo como forma de organização do trabalho no
interior da fábrica, a noção de produção e consumo em massa (em quantidades
elevadas) e de produção em série (padronização das mercadorias).

Método de racionalização da produção surgido no início do século XX, o


Taylorismo propunha a dissociação entre concepção e execução do processo
produtivo e valorizava a especialização/subdivisão do trabalho como forma de
aumento da produtividade. Portanto, estabeleciam-se relações claramente
hierarquizadas, nas quais gerentes passavam a controlar a concepção e os
operários foram colocados como meros executores, perdendo o controle do
processo produtivo.

A adoção do Taylorismo e os avanços técnicos da 2ª Revolução Industrial


haviam gerado grandes ganhos na produtividade das indústrias ainda no primeiro
quarto do século XX e, em parte, foram responsáveis pela crise de superprodução
que deu origem à Crise de 1929. A resposta à crise, que também significou uma
crise da doutrina do liberalismo econômico, deu-se através da adoção de medidas
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estatais baseadas nos princípios da teoria keynesiana1. Os Estados passaram a


intervir mais diretamente na economia a partir de uma série de medidas que
buscavam regular e estimular o reaquecimento econômico.

Constituem-se exemplos de medidas adotadas pelos Estados nacionais de


inspiração keynesiana a elevação dos gastos públicos, com a realização de grandes
obras e a contratação de servidores; a valorização das estratégias de
desenvolvimento regional; e uma maior atenção à regulação da relação entre capital
e trabalho, como por exemplo, por meio do atendimento às reivindicações da classe
trabalhadora e a elevação do poder de compra da população. No mesmo período, a
conjuntura vigente propiciou a consolidação do Estado do bem-estar social, sob o
qual se desenvolveram políticas de caráter universalista nas áreas social e de
infraestrutura, que reduziram drasticamente as desigualdades sociais nos países
centrais.

A partir de meados dos anos 60, o modelo fordista, que fora responsável por
um intenso crescimento econômico no pós-guerra, passa a enfrentar dificuldades. A
rigidez da estrutura de produção do Fordismo não conseguiu resolver problemas tais
como: a saturação dos mercados dos países desenvolvidos; a queda da
produtividade e da lucratividade das empresas e a maior concorrência internacional
desencadeada devido à recuperação econômica da Europa Ocidental, à ascensão
do Japão e dos países recentemente industrializados.

Paralelamente, a relação entre salários em ascensão, altos gastos públicos,


redução dos lucros, elevação da inflação e a crise do petróleo de 1973 contribuíram
para o estabelecimento da maior recessão pós-Crise de 1929 até então. Os países
centrais sofreram grande retração econômica, enquanto os subdesenvolvidos viram
seu endividamento crescer exponencialmente.

O aumento da concorrência internacional, a saturação dos mercados, a


redução das margens de lucro e o aumento dos custos de produção, relacionado ao
aumento do custo da energia e dos elevados custos de mão de obra, fizeram com
que inúmeras empresas buscassem reestruturar seu processo produtivo.

1
Teoria econômica criada pelo economista inglês John M. Keynes que se opunha ao liberalismo econômico. Para o
Keynesianismo, o Estado assume papel preponderante na regulação e controle da economia.
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Tais transformações contribuíram para o surgimento do modelo flexível de


produção, ou modelo pós-fordista2.

A noção de flexibilidade, que embasa o novo modelo, é um contraponto à


rigidez fordista. Tal condição foi possibilitada pela emergência do que se
convencionou chamar de 3ª Revolução Industrial, ou seja, um conjunto de inovações
surgidas na segunda metade do século XX que potencializaram o processo de
produção e acumulação na sociedade capitalista. As inovações tecnológicas mais
significativas para o processo se concentraram em setores como os da eletrônica,
robótica, telecomunicações e biotecnologia.

O novo modelo propõe a flexibilização da produção, dos produtos, do


consumo, das relações de trabalho e das leis trabalhistas, bem como das formas de
acesso aos mercados de massa. Dessas novas diretrizes apontadas pelas grandes
corporações originaram-se uma série de alterações na estrutura econômica, social e
política, que vieram a acelerar o processo de internacionalização do capital há
séculos em curso.

É nesse contexto que se propaga a doutrina neoliberal, em especial, a partir


dos anos 80, originalmente adotada pelos governos norte-americano e britânico.
Posteriormente, essa doutrina foi encampada por todos os principais organismos
internacionais. O neoliberalismo contribuiu para alterar as estruturas
político-institucionais intra e internacionais.

Suas medidas viabilizaram uma maior volatilidade dos fluxos de capitais e


mercadorias e buscaram reestruturar o Estado nos moldes do que se pensava
serem as novas demandas conjunturais do modo capitalista de produção. Em
contraposição à rigidez fordista, ganha peso o lema da desregulamentação do
mercado de trabalho, do sistema financeiro e do comércio de bens.

Em relação à questão do emprego, observa-se um crescimento dos trabalhos


temporários e da terceirização. Essa reestruturação organizacional, em associação
ao processo de automação, configura um quadro em que se eleva o desemprego
estrutural e a quantidade de mão de obra excedente. Tal situação, aliada ao poder
2
Também se utiliza o termo “Toyotismo”, em referência à primeira grande empresa a adotar o modelo em sua linha de
produção.
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gerado pela alta mobilidade do capital na nova conjuntura, reduziu a capacidade


organizativa do movimento sindical e o poder de negociação da classe trabalhadora.
No que diz respeito ao setor financeiro, os avanços tecnológicos nas áreas de
telecomunicações e informática e as transformações realizadas nos mecanismos de
controle dos Estados sobre a circulação de capitais alteraram substancialmente as
configurações até então vigentes. Paulatinamente, desenvolve-se um sistema
financeiro internacional altamente integrado. A maior inter-relação entre capital
produtivo e financeiro3 e a maior interdependência dos sistemas financeiros
nacionais, ao mesmo tempo em que viabiliza um maior acúmulo de capital, torna
maior o risco de grandes crises financeiras e monetárias.

Num contexto de altíssima competitividade, a inovação assume papel central


nas estratégias de ação empresariais. Capacidade de inovar e domínio do
conhecimento tornam-se vantagens competitivas para pequenas, médias e grandes
empresas. Assim, corporações concorrem por descobertas que podem gerar lucros
grandiosos e o conhecimento passa a se constituir valiosa mercadoria.

As novas tecnologias e a logística baseada no modelo “just in time”4 levam à


maior produtividade e à redução do tempo de giro do capital. As grandes empresas
passam a se organizar em redes, nas quais se distribuem empresas de menor porte
contratadas para exercer partes do processo produtivo. Ao contrário do Fordismo, a
nova lógica exige estoques mínimos. Para estimular o consumo, há também a
redução do tempo de giro das mercadorias, com a diminuição do tempo médio de
uso dos produtos. A essa nova necessidade estrutural se associa uma mudança no
modo de vida. Para aumentar o consumo e reduzir o tempo de vida útil do produto
desenvolve-se uma estrutura que vai induzir à valorização da estética, da
efemeridade, dos modismos, da mercantilização dos mais variados aspectos da
vida.

A dinâmica econômica do Fordismo desencadeou um amplo processo de


concentração espacial da produção. Grandes indústrias atraíam outras tantas e

3
Capitais produtivos são os recursos investidos em atividades econômicas relacionadas à produção de bens e serviços.
Capitais financeiros são aqueles empregados em investimentos no mercado de ações, fundos e títulos.

4
O sistema “just in time” é um modelo de gestão logística que busca a minimização dos estoques para a otimização da
produção e a redução dos custos.
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assim configuravam vastos complexos produtivos. Os efeitos das economias de


aglomeração se concretizaram no desenvolvimento de grandes regiões industriais e
no processo de metropolização. Enquanto a dinâmica espacial fordista era
caracterizada pelas grandes concentrações, no modelo de acumulação flexível
prevalece um sentido de dispersão da produção. As novas condições técnicas e
institucionais possibilitam uma maior mobilidade e dispersão das atividades
produtivas, o que acirra a busca por vantagens locacionais das mais diversas. Hoje,
uma empresa pode mais facilmente transferir uma linha de produção ou distribuir
etapas por plantas instaladas nos mais variados cantos do planeta. Para certos
setores, é uma tendência a saída das grandes aglomerações urbanas em direção a
locais com trabalhadores menos organizados, menores restrições ambientais,
menores congestionamentos. Outro fenômeno espacial típico do modelo de
acumulação flexível é a formação de polos de tecnologia. As empresas ligadas à
inovação tendem a se concentrar junto às grandes universidades e centros de
pesquisa.
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Ass 5. REVOLUÇÃO INFORMACIONAL E O ATUAL PROCESSO DE


GLOBALIZAÇÃO

A globalização configura-se um processo que tem uma base histórica e está


diretamente relacionada às mudanças na estruturação da produção na sociedade
capitalista. Seus aspectos se associam às transformações das técnicas e formas de
produção, localização, circulação e acumulação dentro do capitalismo.

Na atual fase, empresas subcontratam outras, organizam-se de forma


horizontal, desenvolvem centros gestores e uma estrutura de produção dispersa.
Assim, o conceito de rede assume um papel mais relevante na conformação da
estrutura da sociedade. A organização da produção pós-fordista eleva a importância
das redes como meio de circulação de informações, capitais e mercadorias. Tal
mobilidade exige o desenvolvimento de redes de infraestrutura de comunicação e
transporte, compatíveis com a atual demanda. Em decorrência deste fenômeno, as
novas tecnologias e dinâmicas de circulação reduzem as barreiras espaciais e
resultam numa nova dinâmica na relação espaço-tempo.

O processo de globalização se intensifica a partir dos anos 1970.


Definitivamente, dois fenômenos assumem um papel fundamental nesta afirmação.
Em primeiro lugar, uma série de medidas de desregulamentação dos mecanismos
de controle de fluxos de capital contribuem para que neste período o capital
financeiro internacional assuma uma posição cada vez mais autônoma e
hegemônica em relação ao capital produtivo e aos Estados-Nação.

Em segundo lugar ocorre, com a expansão das empresas multinacionais, um


grande acúmulo de capitais gerado pela intensa expansão econômica do período
fordista. Assim, as condições econômicas da época levaram a um largo movimento
de internacionalização de capitais produtivos. As grandes corporações dos países
desenvolvidos passaram a instalar filiais em países subdesenvolvidos e a investir na
produção de bens para além de suas fronteiras nacionais.

As multinacionais buscavam nos países subdesenvolvidos menores custos de


produção e maiores margens de lucro. Estas empresas viam como vantagens os
menores custos de mão de obra e matérias-primas, os mercados consumidores em
CP/CAEM A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva 12

expansão e a possibilidade de exportar a produção e os lucros correlacionados.

Este movimento de busca por vantagens locacionais e novos mercados


tornou as empresas multinacionais os principais atores do processo de globalização
da produção. Houve uma grande dispersão dos polos produtivos por várias partes
do globo, e, em associação, uma dispersão planetária dos padrões de consumo.

As mudanças na lógica de dispersão da produção contribuíram para a


configuração de uma nova divisão internacional do trabalho (DIT). O novo padrão
tecnológico e a dinâmica espaço-tempo5 dele advinda tornaram ainda mais
valorizado o capital associado ao conhecimento. Assim, os países desenvolvidos
tendem a concentrar a produção de bens de alto valor agregado, ou seja, aqueles
produtos que necessitam de um intenso uso de tecnologia de ponta em sua
produção. Num estágio intermediário, consolida-se um grupo de países
recentemente industrializados, que assumem o papel de fornecedores de produtos
industrializados de baixa ou média intensidade tecnológica. Neste grupo estão os
chamados países emergentes como o Brasil, a China, a Índia, os Tigres Asiáticos
(Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura), o México e a África do Sul6.

A dispersão da produção por várias partes do globo tem contribuído para o


aumento dos fluxos de capitais, informações, mercadorias e pessoas. A aceleração
desses fluxos é uma das principais características da globalização. Notadamente, os
avanços na informática e nas telecomunicações contribuíram para essa aceleração
dos fluxos de capitais e informações. Com as novas tecnologias e a
desregulamentação do setor financeiro, tornou-se mais fácil transferir dinheiro e
realizar investimentos especulativos e produtivos nos mais diferentes países.

O progresso técnico na área dos transportes e a dispersão mundial da


produção também levaram a um intenso aumento do comércio internacional. A
expansão da capacidade de carga, especialmente dos navios, e a melhoria das
estruturas logísticas, em especial pela disseminação do sistema de contêiner,

5
As novas tecnologias de comunicação e transportes reduzem o tempo dos deslocamentos materiais e imateriais,
desenvolvendo nos indivíduos uma percepção de aceleração da relação entre tempo e espaço.
6
É preciso destacar as especificidades de países como China, Índia e Coreia do Sul, que apresentam distinções relevantes
em relação ao resto do grupo. Esses países dominam tecnologias de ponta em setores econômicos específicos, como
artefatos nucleares no caso de China e Índia e da eletrônica no caso coreano.
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baratearam os custos de transporte e tornaram possível a distribuição das distintas


etapas produtivas de acordo com as vantagens locacionais encontradas pelas
empresas.

A produção industrial, o comércio e os serviços cada vez mais interagem entre


si e, ao mesmo tempo, crescem as inter-relações entre essas atividades em escala
internacional. Esse fenômeno contribui para um grande aumento do fluxo de
pessoas que viajam a trabalho pelo mundo. O relativo barateamento dos transportes
e a difusão de informações contribuem para o aumento do turismo. Em
contrapartida, esses fatores, associados à elevação das disparidades sociais, têm
incentivado um aumento das migrações internacionais.

Muitos autores relacionam a globalização à noção de fragmentação. O sentido


desta reflexão está em esclarecer alguns pontos controversos nas análises sobre a
globalização. No senso comum, frequentemente se observa a crença de que o
processo de globalização tem levado a uma integração dos povos, a uma radical
homogeneização das culturas e a um amplo desenvolvimento da sociedade global
com um todo.

Na verdade, o processo de globalização constitui-se também um processo de


fragmentação nos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais. A flexibilização
do trabalho, a compartimentagem da produção, a emergência de conflitos de
identidade e regionalistas, a divisão de territórios nacionais anteriormente
consolidados, a formação de blocos regionais e o aumento das desigualdades
sociais – inclusive nas sociedades mais avançadas – são exemplos da
fragmentação presente no processo de globalização. Outro exemplo está no
surgimento de movimentos de resistência política e/ou cultural com bases locais e
regionais, que contestam as posições e interesses de grandes multinacionais ou que
buscam revitalizar valores tradicionais ameaçados pela globalização.
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Ass 6. O ESTADO DIANTE DOS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO

Existe um largo debate acerca de quais seriam as implicações dos processos


de reestruturação da produção e globalização para a organização dos
Estados-Nação. A nova dinâmica de produção e circulação de bens e capitais e o
protagonismo das grandes corporações, dos organismos internacionais e das ONG
representam um desafio para o poder estatal no que se refere aos campos
econômico, político e social. Sem dúvida, os atores sociais acima citados
apresentam na atualidade um grande poder de interferência sobre as atribuições e
ações do Estado, levando alguns autores a considerarem que este passa por uma
crise de soberania.

A expansão das multinacionais no pós-Segunda Guerra Mundial teve como


desdobramento um paulatino aumento de poder dessas corporações frente aos
Estados. Já nos anos 1970, tais empresas lograram um nível de internacionalização
e acumulação de capital que as possibilitaram alcançar um poder de pressão e
determinação sobre as ações dos Estados, dos mais frágeis aos mais bem
estruturados.

Também nas últimas décadas, os organismos internacionais e ONGs


assumiram papel preponderante na conformação das relações econômicas e sociais
e influenciaram diretamente as posturas e intervenções dos Estados-Nação.
Organismos internacionais como o Banco Mundial e o FMI impõem, através de
ofertas de vantagens econômicas, uma série de medidas a serem adotadas, que
implementam o arcabouço político-institucional considerado ideal por essas
instituições. Reduz-se, portanto, a margem de manobra do Estado para arbitrar suas
próprias políticas. As ONGs atuam com um duplo papel: o de influenciar sobre
decisões estatais e a opinião pública e o de substituir o Estado numa série de
funções as quais este pretere.

Assim, o fortalecimento e estabelecimento do neoliberalismo na estrutura do


Estado é mais um fator a contribuir para as transformações observadas
ultimamente. O esforço de implementação de um Estado “mínimo” transfere à
iniciativa privada parte do poder de intervenção e controle da sociedade e do seu
CP/CAEM A atual fase do capitalismo: globalização e reestruturação produtiva 15

território. Delineia-se na atualidade uma visão do Estado que o concebe como um


ente empreendedor. Assim, o Estado teria como uma de suas principais funções
criar condições para incrementar a acumulação, perspectiva que minimiza o seu
caráter político e social da função de administrador de conflitos inerentes à
sociedade.

Numa sociedade em que o domínio do conhecimento constitui a base para a


acumulação de capital, o acesso à informação assume grande importância para
corporações e indivíduos. Consequentemente, a mídia adquire um papel relevante
na estruturação da sociedade. Cada vez mais poderosas, as grandes corporações
deste setor econômico apresentam uma enorme capacidade de interferência na
opinião pública e na própria postura do Estado.

O predomínio da organização em redes e a intensificação dos fluxos de


informação, capitais, mercadorias e pessoas – inclusive os fluxos ilegais – tornam as
fronteiras nacionais mais porosas, o que também reduz a capacidade do Estado de
controlar o seu próprio território. O aumento dos fluxos materiais e imateriais criam
uma série de desafios no que diz respeito ao controle da informação, entrada de
imigrantes, contrabando, evasão de divisas, tráfico de animais, armas e drogas,
terrorismo, etc.

Os processos de reestruturação da produção e globalização têm modificado


nas últimas décadas a organização do sistema capitalista de produção. Essas
transformações possuem desdobramentos nas esferas econômica, política, social e
cultural. Do ponto de vista das relações internacionais, estes processos têm
influenciado diretamente a dinâmica das interações entre países, tema que será
aprofundado em outras unidades.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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sociedade e cultura; v.1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

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COSTA, R. Robôs e engenheiros: para onde vão os operários? Rio de Janeiro.


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IANNI, O. Globalização e neoliberalismo. São Paulo: São Paulo em Perspectiva,


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LIPIETZ, A. e LEBORGNE, D. (1988) O pós-fordismo e seu espaço. Espaço e


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