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INTRODUÇÃO
A abordagem do tema, como não poderia deixar de ser, parte do trabalho como
categoria social central, ainda que esta categoria tenha sofrido mutações ao longo dos
tempos.
Henry Ford, por sua vez, proprietário da indústria automobilística que leva seu nome,
criou uma nova estratégia de organização da produção utilizando os métodos tayloristas
de gerenciamento.
Nesse contexto, as empresas concorrentes são obrigadas a seguir o novo modelo, sob
pena de serem expulsas do mercado. O fordismo torna-se dominante. Mas quando todas
as empresas o adotam já não há vantagens essenciais no nível da organização. A
competição torna-se mais acirrada e as empresas já não podem destinar recursos à
melhoria das condições de trabalho. Ao contrário, conquista maiores fatias do mercado
quem impõe custos mais baixos de produção, incluindo, a remuneração dos
trabalhadores. Os operários, destarte, são submetidos a condições degradantes,
desencadeando, nos anos 70, a crise do fordismo.
Além disso, assim como o aparato produtivo, as relações de trabalho também precisam
ser flexibilizadas. A força de trabalho é explorada em razão da demanda. Evita-se, a
todo custo, a ociosidade da força de trabalho. Há um número mínimo de empregados
“estáveis”. Se o mercado melhora, contratam-se trabalhadores temporários ou os
operários são obrigados a fazer horas extras. Todavia, “a política básica é usar o mínimo
de operários e o máximo de horas extras.”[15]
Não obstante, há outras maneiras de contornar essa lei. É o que acontece com as
empresas, como a Ford e a Toyota, que criam uma nova organização da produção de
forma a aumentar a mais-valia e reduzir o capital investido, acelerando a rotação do
capital, reduzindo o tempo de cada ciclo[19]. Daí a explicação para a rápida expansão
desses métodos de produção para outros setores da economia. No entanto, ao invés de
assegurar o crescimento do bem-estar coletivo, essa lógica enriquece uma minoria – os
capitalistas –, intensificando a exploração dos trabalhadores.
Estas novas formas de organização do trabalho, não se pode deixar de enfatizar, estão
plenamente ligadas ao neoliberalismo e à globalização. Demonstram, destarte, o intento
capitalista de perpetuar a exploração da classe operária, em intensidade cada vez maior,
tudo em nome da maximização do lucro. Por outro lado, pretendem acabar com o
conflito de classes – iludindo os trabalhadores, que, agora, são designados de
“colaboradores”, de que há identidade de interesses entre o capital e o trabalho em
busca do incremento da produtividade – assim como os benefícios que a relação
dialética entre elas poderia trazer para os trabalhadores.
Como revela Offe, as vantagens dos ex-empregadores são obtidas em diversos níveis.
Ao nível do comportamento, a iminente possibilidade de serem despedidos ocasiona
uma melhoria nos níveis de produtividade, disciplina e desempenho. Ao nível das
negociações salariais, há “uma tendência declinante dos aumentos, que de modo geral
encontram-se atualmente abaixo do índice de inflação: isto significa que quaisquer
aumentos possíveis na produtividade podem ser apropriados pelos empregadores sem
custos adicionais (de salários).”[24] E, por fim, ao nível político, o desemprego exerce
uma pressão sobre o governo no sentido de implementar políticas que beneficiam, em
geral, a capacidade de investimento do capital[25]. Todas essas vantagens, portanto,
fazem crer que não há um efetivo interesse por parte do capital em combater o
desemprego.
Surge uma nova pobreza, a new poor, formada por indivíduos que pertenciam à classe
média e que perderam seus empregos em razão da automação ou da divisão
internacional do trabalho[29]. E, como refere Faria, “existe um importante aspecto
dinâmico na relação entre desemprego e divisão social”[30], já que ser um
desempregado é estar excluído da economia e da sociedade normal[31].
CONCLUSÃO
Torna-se necessário à classe trabalhadora, para construir uma alternativa a este quadro
desolador, reconhecer a “possibilidade de emancipação do e pelo trabalho, como ponto
de partida decisivo”[35] para a melhoria das condições de trabalho na sociedade atual.
Referências
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Curitiba: Juruá, 2003.
SINGER, P. Globalização e Desemprego: diagnósticos e alternativas. São Paulo:
Contexto, 1998.
Notas:
[1] MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, v.1. Tradução
Reginaldo Sant’Anna. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. p. 211.
[2] FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo: Malheiros,
2000. p. 64.
[3] OLSSON, Giovanni. Relações Internacionais e seus Atores da Era da
Globalização. Curitiba: Juruá, 2003. p. 97.
[4] BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à
globalização. Tradução André Carone. São Paulo:Paz e Terra, 1999. p. 44.
[5] Idem, ibidem.
[6] CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed.. São Paulo: Ática, 2003.
[7] Idem, p. 16.
[8] É utilizada neste trabalho, no que tange à Revolução Industrial, a classificação
adotada por Singer, para quem a Primeira Revolução Industrial corresponde à
introdução da maquinaria à vapor, no início do século XIX; a Segunda, iniciada no final
do século XIX e consolidada no início do século XX, à cientificação da produção com a
implementação do fordismo e taylorismo; a Terceira, iniciada na década de 70, com o
avanço da tecnologia de informação.
[9] GOUNET, Thomas. Fordismo e Toyotismo na Civilização do Automóvel. São
Paulo: Boitempo, 1999. p. 19.
[10] SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São
Paulo: Contexto, 1998. p. 17-18.
[11]ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 15.
[12] Idem, ibidem.
[13] Idem, ibidem.
[14] GOUNET, Thomas. Fordismo e Toyotismo na Civilização do Automóvel. São
Paulo: Boitempo, 1999. p. 30-66.
[15] Idem, p. 30.
[16] Idem, p. 42.
[17] Idem, p. 45.
[18]GOUNET, Thomas. Fordismo e Toyotismo na Civilização do Automóvel. São
Paulo: Boitempo, 1999, p. 44.
[19] Idem, p. 45.
[20] Idem, p. 52.
[21]SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São Paulo:
Contexto, 1998. p. 16.
[22] SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São
Paulo: Contexto, 1998. p.17.
[23] Idem, p. 17/18.
[24] SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São
Paulo: Contexto, 1998, p. 17/18.
[25] Idem, ibidem.
[26] ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 41.
[27] Idem, ibidem.
[28] Idem, p. 62.
[29]SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São Paulo:
Contexto, 1998. p. 31.
[30] FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 240.
[31] Idem, p. 241.
[32] Idem, p. 248.
[33] FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 240, p. 250/251.
[34] SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnóstico e alternativas. São
Paulo: Contexto, 1998. p. 73.
[35] ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 88.