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PROPÓSITO
Compreender as transformações e os lugares da Arte na modernidade sob os efeitos da
Revolução Industrial, da Primeira Guerra Mundial e de regimes totalitários como o nazismo,
fascismo e comunismo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a produção artística na modernidade entre fins do século XVIII – com a Revolução
Industrial – e as primeiras décadas do século XX
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
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Em um período relativamente extenso, como foi o marcado pela Revolução Industrial, mais
especificamente entre 1760 e 1840, compreender a produção artística em toda sua extensão
de práticas, técnicas e repertórios é, sem dúvida, uma tarefa desafiadora. Isso se deve em
virtude da grandiosidade cronológica – marcada ainda por inúmeros outros eventos
importantes e fatos isolados –, mas também pelas dimensões geográficas e peculiaridades –
tendo em vista seu início na Inglaterra e, posteriormente, extensivo a toda Europa ocidental e
aos Estados Unidos.
Não há dúvida de que inúmeros foram os impactos da Revolução Industrial na Arte e no campo
cultural, como veremos a partir de agora. A transição do processo artesanal para a produção
em larga escala pelos novos maquinários, o crescimento urbano com o êxodo rural, a produção
de novos bens de consumo e o forte crescimento econômico em países capitalistas
impactaram o campo cultural-artístico por diferentes formas, cujas consequências (benéficas)
técnicas e plástico-visuais são vistas até os dias atuais.
MÓDULO 1
A separação mais clara entre uma burguesia, possuidora dos bens de produção, e
o proletariado, que vende no mercado sua força de trabalho.
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Figura 2. A estação de Saint-Lazare, por Claude Monet
Da Inglaterra, essas transformações se estenderam, de forma e em ritmo desiguais, para os
países da Europa continental e outras poucas áreas de além-mar, revolucionando, no espaço
de poucas gerações, a natureza da história dos homens e as relações entre eles.
A partir de 1850, teve lugar a chamada Segunda Revolução Industrial, que foi uma aceleração
das transformações em curso, impulsionadas pelo aparecimento de diversas inovações
técnicas, tais como o aperfeiçoamento da indústria química; o surgimento de novas fontes de
energia motriz (eletricidade); os processos de transformação do ferro em aço. No final do
século XIX, o desenvolvimento industrial alcança um estágio jamais imaginado.
Ferro e Carvão (figura 3), obra produzida pelo artista escocês William Bell Scott (1811-1890) –
um dos primeiros artistas a descrever detalhadamente em suas obras os processos da
Revolução Industrial –, é um excelente exemplo para compreender os impactos desse
momento na produção artística, especialmente na pintura.
Nessa obra, vemos toda a ação centrada nos trabalhadores, na estrutura e nos instrumentos
(observe a marcação feita por meio do triângulo em amarelo). A posição dos corpos e os
gestos dos braços demonstram a força produtiva em dois elementos: ferro e carvão, tema da
própria obra, e elementos cruciais nesse novo processo de industrialização.
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Há ainda outros elementos que nos indicam os impactos dessas transformações, como a
presença dos navios a vapor, as pontes – grandes obras de engenharia –, inúmeras pessoas
pelas ruas e, ainda, a presença de uma criança no canto inferior esquerdo no ambiente de
trabalho com dois elementos de destaque: o peão e a marmita. Cena dos novos tempos, dos
novos hábitos e de espaços de convívio, especialmente dos processos de trabalho.
Fonte: Wikipedia
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São essas diversas e emblemáticas “formas de expressão” que veremos nas construções
pictóricas do extenso período que compreende os impactos e efeitos da Revolução Industrial.
O Vagão da Terceira Classe (figura 4), obra do artista francês Honoré Daumier (1808-1879),
realizada entre 1863 e 1865, é um importante exemplo para compreensão da chamada
“ruptura” da tradição na pintura.
Embora os parâmetros técnicos e, por vezes, as inspirações estejam presentes – como o pintor
Daumier que se dedicou aos estudos das obras de mestres como Peter Paul Rubens (1577-
1640) e Ticiano Vecellio (c.1473/1490-1576) –, o que muda na arte com os efeitos da
Revolução Industrial e dos impactos na sociedade à época é o repertório e a forma de
apresentação. Toda a carga narrativa está na visualidade dos corpos, na expressão dos rostos,
na atitude do artista para além das questões de estilo – fator de peso até o século XVIII.
O que vemos (as marcações em amarelo e vermelho sinalizam essa construção visual em
primeiro e segundo planos) é a apresentação de uma cena que se tornará comum. Vagões de
trem – objeto de deslocamento de massa – com pessoas/trabalhadores cansados; um espaço
pictórico que também sinaliza a divisão de classes, os novos tempos e as novas realidades. A
carga expressiva do cansaço e das condições socioeconômicas está posta nos rostos, nas
vestimentas, na posição dos corpos e até mesmo no pequeno espaço onde se encontra um
número grande de pessoas.
A tomada de consciência do papel da arte e da sua estreita relação com a sociedade será
muito explorada, mas isso não impedirá a continuidade das pinturas de gênero histórico e as
grandes encomendas religiosas. O que teremos a partir de então – que será ainda mais
questionado com as vanguardas artísticas – é a chegada de novos temas e de uma arte com
espaço para cenas e indivíduos não representados ou não representativos: as pessoas que
viajavam na terceira classe, os camponeses, os trabalhadores do campo e da cidade, as
mulheres e as crianças.
No século XX, período em que as vanguardas artísticas estavam em voga na Europa, o Brasil
vivia o modernismo. A pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973) se dedicou a termas
sociais em suas obras, à semelhança dos propósitos de Daumier, no século anterior. Tarsila
pintou a obra Segunda Classe (figura 5), em 1933, um óleo sobre tela, exposta na mostra
Tarsila Popular, em 2019, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
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Segunda Classe, centrada em uma família que desembarca de um trem, foi uma cena real
presenciada por Tarsila, transformada mais tarde em uma pintura cujo peso expressivo de
tristeza e simplicidade está no rosto e na postura dessa família, bem como nas vestes e nos
pés descalços.
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Figura 6. Autorretrato (Tamara no Bugatti verde), por Tamara de Lempicka
Sobre essa obra, Santos et al. (2007) descrevem que, no decorrer dos últimos 25 anos, esse
quadro ficou famoso e tem sido muito reproduzido. Não é um retrato no sentido de
representar a aparência de uma mulher específica. É improvável que, a partir dessa
imagem altamente estilizada, alguém fosse capaz de reconhecer a pintora na rua. Trata-se,
antes, de um momento e de um tipo de mulher que surgiu naquela época.
Por meio do sacrifício de toda uma geração de homens, a Primeira Guerra Mundial
provavelmente foi o evento histórico que mais colaborou para o progresso e a emancipação
das mulheres. Na agitada década de 1920, o símbolo máximo da emancipação feminina –
para as mulheres que podiam dar-se a esse luxo – era o automóvel. O relato de Tamara de
Lempicka sobre como ela pegou a bela Rafaela no Bois de Bologne e levou-a a seu ateliê é um
exemplo de como o automóvel podia ser usado como adjutório para independência sexual.
A professora Adriana Nakamuta aprofunda as questões que aqui apresentamos.
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Figura 7. Cartão Postal da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais
Modernas
Tamara de Lempicka, nascida em Varsóvia em 1898, foi uma importante pintora do estilo
conhecido como Art Déco, que teve impacto nas artes visuais – decorativas e gráficas –, na
arquitetura e no design. O nome dado a esse estilo tem origem na abreviação de artes
decorativas da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas (figura 7)
realizada em 1925, em Paris. Combinado aos movimentos e estilos modernistas já em voga, o
Art Déco foi marcado por exuberância, luxo e requinte associados à expectativa que havia
sobre o progresso social e tecnológico já implantado com a Revolução Industrial. No padrão
decorativo desse estilo, vemos uma predominância de linhas retas ou circulares estilizadas,
formas geométricas e design abstrato; entre os motivos mais explorados estão os animais e as
formas femininas; esse estilo clean e puro Art Déco dirige-se ao moderno e às vanguardas do
começo do século XX.
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Figura 8. Cartaz da Feira Mundial de Chicago
Art Déco (figuras 8 e 9) e Art Nouveau foram dois estilos que se fizeram presentes no
entresséculos XIX-XX, especialmente na arquitetura, frutos da implementação de processos e
produtos decorrentes da Revolução Industrial, tais como ferro, cimento, vidro, entre outros
elementos que alcançaram produção e qualidade em larga escala. No Brasil, bons exemplos
são a Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e o conjunto urbano Art Déco, preservado
na cidade de Goiânia, no estado de Goiás.
A influência das descobertas tecnológicas tornou-se mais expressiva na arte de fins do século
XIX e início do século XX, com o advento de novas possibilidades, novos suportes foram
postos à disposição dos artistas, ampliando o mercado e o sistema da arte.
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Figura 9. Escadas do hotel particular de Jacques Doucet
SISTEMA DA ARTE
No ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, o crítico cultural, filósofo
e sociólogo Walter Benjamin (1892-1940) apresenta uma reflexão sobre os efeitos da
reprodutibilidade técnica na arte.
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Figura 10. Prensa de tipos móveis de 1811 em exposição em Munique, na Alemanha
Em 1839, surge o daguerreótipo, aparelho fotográfico inventado por Louis Daguerre (1787-
1851), físico e pintor francês, que fixava as imagens obtidas na câmara escura numa folha de
prata sobre uma placa de cobre. A descoberta causa uma verdadeira inflexão na produção de
imagem.
O daguerreótipo (figura 11) possuía, no entanto, vários inconvenientes. Era pesado – cerca de
50 quilos –, custava caro – entre 300 e 400 francos –, a placa, sensibilizada pelo vapor, tinha
de ser preparada na hora, e o tempo de exposição do objeto fotografado girava em torno de
meia hora. Havia ainda outra limitação: ele não fornecia cópias.
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Figura 11. Câmara de daguerreótipo
Entre 1839 e 1841, uma série de aperfeiçoamentos técnicos é realizada, diminuindo o peso do
aparelho, seu preço, melhorando o aproveitamento ótico das lentes. A descoberta de novas
substâncias aceleradoras torna as placas mais sensíveis à luz, reduzindo o tempo de
exposição (embora sem ainda atingir a instantaneidade):
1840: 13 minutos
1842: 24 segundos
1855: 3 segundos
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Esse progresso incentiva a criação de ateliês, que, desde 1841, começam a proliferar em
Paris. Em 1842, são produzidos na cidade cerca de 1800 retratos que, embora ainda
artesanais, já nos dão a dimensão de um quadro pré-industrial que se anunciava.
A automação só fez aumentar essa dicotomia entre criar e fazer, e a progressiva transposição
do estético do gesto para a ideia criativa.
Embora tenham sido recebidos com desconfiança e pessimismo pelos artistas plásticos, a
fotografia e, anos depois, o cinema não representaram uma ameaça à pintura, que passou a
conviver e dividir com as novas linguagens o interesse do público. As diversas formas de
manifestação artística da atualidade convivem, influenciam-se e se referem mutuamente.
No final do século XIX, outros inventos propiciaram novas formas de olhar o mundo – o
telescópio, o microscópio – e trouxeram para a arte novos temas e outros pontos de vista. O
surgimento de máquinas e dispositivos que tinham por função principal a gravação, reprodução
e transmissão de sons e imagens, como o telefone, o telégrafo, o gramofone, a máquina
fotográfica, o rádio e o cinema, também influenciaram diretamente a produção artística.
Assim como a pintura, a fotografia também tem marcas fortes ligadas à construção social do
indivíduo e à imagem eternizada, haja vista os retratos de personalidades, eventos históricos
importantes, as cenas do cotidiano, entre outros registros desde a sua descoberta.
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Figura 12. Entrada da baía e da cidade do Rio a partir do terraço do Convento de Santo
Antônio, por Nicolas-Antoine Taunay
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Figura 13. Projeto da fachada da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro
Deve-se ainda ao trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), que proporcionou
a base da formação do campo da estética, seguidamente pelo aprofundamento feito pelo
filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
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Figura 14. irmãos Lumière
A invenção do cinematógrafo, no final do século XIX, provocou outra revolução, que avançou
pelo século XX. O aparelho permitia registrar imagens em movimento e projetá-las sobre uma
tela. As primeiras realizações dos irmãos Lumière (figura 14) causaram espanto e sucesso
imediato.
É provável que eles não soubessem que estavam inventando um meio de expressão
importante. Como qualquer nova arte, que ao começar se inspira em artes e conhecimentos
anteriores, os filmes do início do século XX imitavam os espetáculos teatrais. A câmera ficava
de frente para os acontecimentos, imóvel, e os espectadores ficavam sentados em poltronas,
como para assistir a uma peça. Aos poucos, o cinema se transformou e assumiu uma
linguagem particular que, por sua vez, influenciaria as outras artes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) V-V-F-V-F
B) V-F-F-V-F
C) V-V-V-F-F
D) F-F-V-F-F
2. A INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS, ASSIM COMO A
DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO, TROUXE PARA O CAMPO DAS ARTES
UM APROFUNDAMENTO DA DICOTOMIA ENTRE CRIAR E FAZER. A
FOTOGRAFIA, O CINEMATÓGRAFO, O TELESCÓPIO, O MICROSCÓPIO,
ENTRE OUTRAS TECNOLOGIAS CONTRIBUÍRAM COM O REPENSAR DA
PRODUÇÃO ARTÍSTICA E IMPULSIONARAM NOVOS MOVIMENTOS DE
VANGUARDA. AO MESMO TEMPO, PODEMOS CONSIDERAR QUE A
REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA DA ARTE TROUXE UM DILEMA PARA A
IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA AOS ORIGINAIS. TAL DILEMA OCORRE POR
QUÊ:
B) Perde-se a unicidade do objeto artístico original e, por consequência, seu “valor de culto”.
C) Desde a destruição causada pelas guerras mundiais, a arte passou a dar maior ênfase à
produção em escala.
GABARITO
I. Art Déco e Art Nouveau foram dois estilos que se fizeram presentes no entresséculos
XIX-XX, especialmente na arquitetura, frutos da implementação de processos e produtos
decorrentes da Revolução Industrial.
II. Ferro e Carvão é uma obra produzida pelo artista escocês William Bell Scott, que foi
um dos primeiros artistas a descrever detalhadamente em suas obras os processos da
Revolução Industrial.
Uma concepção importante sobre os debates do papel da arte é que as obras de arte tinham
uma função ritual e, por isso, um “valor de culto”, ligado essencialmente à unicidade. Mas, com
a entrada do processo industrial na produção artística e o advento da reprodutibilidade técnica,
ocorreu a emancipação das obras de arte da sua função ritualística. E, por conseguinte, o
“valor de culto” deu lugar ao “valor de exposição”.
MÓDULO 2
A França tornou-se o mundo! A frase faz uma referência ao significado da Belle Époque
francesa. Seus movimentos e suas transformações se disseminaram pelo mundo de forma
intensa. Os fenômenos de troca e comunicações foram absolutamente gigantescos entre o fim
do século XIX e o início do século XX. Os principais fatores foram o telégrafo e a possibilidade
de viagens cada vez mais velozes entre a Europa e o resto do mundo, o que fazia as modas
circularem.
Outro fenômeno eram os eventos mundiais. Os mais famosos eram as feiras de ciência e
tecnologia, nas quais foram lançados produtos muito conhecidos, como o telefone, a luz
elétrica e as tecnologias de aço, que mudaram o mundo e a arte.
A Torre Eiffel, por exemplo, é fruto de um evento mundial – aliás muito contestado, pois
destoava completamente da arquitetura de Paris. Outros eventos ganharam notoriedade, como
os Jogos Olímpicos e as feiras e galerias de arte que se multiplicam no mundo.
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Figura 15. Edifício Chrysler em Nova York, obra do arquiteto William Van Alen
A nova arquitetura era a arquitetura imponente das grandes estruturas de aço para erigir os
prédios a ferro fundido como forma de arte nos gradis, parapeitos e nas portas. Sempre que se
vê as grandes estruturas de gradis retorcidos, fortes, com lanças, arcos, maças, trata-se de um
gradil Art Déco; e aqueles repletos de folhas e flores representam gradis e estruturas Art
Nouveau.
Ao andar pelas cidades, tente encontrar e ver se, de alguma forma, essas tradições ainda
estão presentes. Essa herança é fruto de um momento, quando a arquitetura mundial passa a
ser influenciada pelos modelos franceses entre o fim do XIX e início do XX.
Art Déco e Art Nouveau são estilos decorativos, manifestados principalmente em formas
arquitetônicas, mas não só. O primeiro é marcado pela força da nova era, é pesado, robusto e
visa afirmar solidez. O estilo Nouveau – não é exatamente sucessório, mas se consolida depois
– tem a mesma estrutura técnica, mas o reforço do estilo, do detalhamento, de como a arte se
estabelece com esses novos materiais. Ambos são filhos da Revolução Industrial e se
consolidam nos espaços do Estado-nação.
As Revoluções Industriais e o Estado-nação disseminam o capital e o estilo de vida urbano,
que passam a ressaltar a arte como uma iconografia burguesa, simbólica e poderosa. O estilo
de vida burguês se baseia nessas tradições francesas. Cresce de forma intensa a vida em
cafés, bares, cinema, entre outros. Começamos a falar das propagandas em que a arte
também aparece de forma vívida, gerando identidades de marca.
Para uma elite burguesa importante, o mundo vivia seu auge e as tecnologias tornavam o
mundo cada vez melhor. Ainda que bolsões de miséria e pobres operários existissem, eles
podiam almejar atingir e reproduzir aquele estilo. Parecia o certo, parecia o mais perfeito dos
mundos. As grandes nações disputavam, afirmavam-se, viam-se como inatingíveis, mas a roda
girou.
A arte ganhou contornos burgueses. Vale o quanto o “mercado” diz que vale. Pela primeira vez,
são compradas e vendidas por fortunas, fazem parte dos interesses dos países. A arqueologia
mundial multiplica e se concentra, e os grandiosos museus europeus se afirmam como uma
força singular (Louvre, British Museum, Prado, Orsay, entre muitos outros). A arte é o espaço
de encontro, debatida em ciclos intelectuais, tão ícone da burguesia quanto ter efetivamente
capital, ou andar com as roupas da moda de Paris.
A NAÇÃO E A GUERRA
A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 28 de julho de 1914, e suas consequências
vindouras marcam não apenas os principais acontecimentos geopolíticos que abalaram a
Europa até meados do século XX, como também são fundamentais para a compreensão do
impacto desse cenário na produção artística que já estava evidenciada com as novas
tendências proporcionadas pela arte moderna. Não seria exagero afirmar que a experiência da
guerra, especialmente das trincheiras, integrou-se profundamente na linguagem e no
imaginário dos artistas europeus que dela participaram ou que cresceram à sua sombra, como
veremos adiante.
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Figura 17. Representação do assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria-
Hungria, por Gavrilo Princip
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Figura 18. Ferdinando e Sofia saindo da Camara Municipal de Saravejo, pouco antes do
atentado que os levou à morte e Figura 19. Carro usado por Ferdinando e Sofia no dia do
atentado – o círculo indica a marca do projétil que matou Sofia
A partir daí ocorreu uma escalada de acontecimentos que levam à formação de blocos militares
(os Aliados e as Potências Centrais) e o conflito armado nas linhas de trincheira da região
fronteiriça que dividia a França e a Alemanha e em outras partes do mundo. Nos combates, foi
usado o que havia de mais avançado em termos de poderio bélico: canhões, metralhadoras,
lança-chamas, substâncias tóxicas, tanques de guerra e aviões. O desenvolvimento da
indústria bélica foi impulsionado no decorrer da Primeira Guerra Mundial, como a produção de
carros de combate, mais conhecido como “tanque de guerra” (figura 20).
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Figura 20. Tanque Mark I, 1916, usado durante a Primeira Guerra Mundial
O Manifesto Futurista foi publicado em 1909, no jornal Le Figaro, na França, e foi escrito
pelo poeta Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944).
Apesar do empenho de Boccioni – na arte e na guerra –, a vida lhe reservou um fim trágico.
Em 1916, durante exercícios militares, seu cavalo se assustou com um caminhão, provocando
a queda do artista e sua morte devido a uma fratura no crânio.
Formas Únicas de Continuidade no Espaço (figura 22), escultura de 1913, é uma das principais
obras do artista. Nela, vemos a dissolução da forma figurativa que tradicionalmente era
perceptível na prática de escultura; contudo, apesar dos aspectos abstratos, podemos observar
a estrutura que nos remete a um corpo em movimento, três dimensões postas nessa obra,
juntamente com uma quarta, que se traduz na força “invisível” que ela nos proporciona ou
sugere.
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Figura 22. Formas Únicas de Continuidade no Espaço, de Umberto Boccioni
Entre civis e militares, um número expressivo de escritores também tomou parte do conflito. Se
não foram convocados, alistaram-se voluntariamente, entusiasmados com a pregação
nacionalista que antecedeu o conflito ou movidos pelo fervor juvenil com as glórias militares.
Alguns sobreviveram às trincheiras, como o compositor e pianista francês Joseph-Maurice
Ravel (1875-1937), o violonista austríaco Fritz Kreisler (1875-1962) e o pianista Paul
Wittgenstein (1887-1961) – que voltou para casa com o braço direito amputado.
Outros não tiveram a mesma sorte, como Boccioni, e morreram no campo de batalha. Dentre
eles, os pintores alemães de orientação expressionista August Macke (1887-1914) e Franz
Marc (1880-1916) e os poetas Edward Thomas (1878-1917) e Isaac Rosenberg (1890-1918).
Também passaram pelo campo de batalha o pintor francês Georges Braque (1882-1963) e o
crítico e escritor Guillaume Apollinaire (1880-1918). Ambos foram gravemente feridos, mas
resistiram: Braque ficou temporariamente cego, recuperando a visão e retomando a profissão
anos depois; Apollinaire acabou morrendo logo depois, vitimado pela gripe espanhola que se
alastrou pela Europa a partir de janeiro de 1918.
Em pouco tempo, artistas e escritores se deram conta dos horrores provocados pela guerra e
do absurdo em que estavam engajados. Ainda nas trincheiras, confrontados pela carnificina
que se espalhava ao redor, alguns escritores se insurgiram contra o absurdo que ocorria. Isso
também começou a ser visto nas pinturas, um retrato real do que acontecia, censurado
posteriormente em muitas exposições.
Figura 23. Gás, de John Singer
John Singer Sargent (1856-1925), artista italiano filho de emigrantes americanos, pintou, em
1919, a obra Gás (figura 23) – uma encomenda –, com referência às consequências
provocadas pelo gás mostarda durante a Primeira Guerra Mundial, especialmente com a perda
de visão de muitos soldados. Em uma disposição de cortejo, como um cortejo fúnebre
(marcações em azul), os soldados estão deitados, enfileirados e amontoados (marcação em
vermelho), à espera de um socorro médico. Os olhos vendados sinalizam as consequências do
gás. Observe também que a tela é predominantemente pintada com tonalidades de amarelo-
mostarda (sob os efeitos do gás) e verde-militar (para identificar os soldados). No céu, aviões
minúsculos apontam que as operações militares continuam, apesar de todo dano que elas vêm
causando. Aí estão as dores das tropas, as consequências da guerra, as armas químicas e
tecnológicas. Em um cortejo fúnebre, Singer utilizou sua bagagem de aquarelista e excelente
pintor para camadas pictóricas de dor, luta, tristeza e melancolia.
Passados a euforia dos primeiros meses com a Guerra e o inalcançável sonho depositado na
expectativa de um novo tempo, o que mais veremos será uma pintura da realidade, dos fatos
ocorridos. Mesmo com a bagagem dos “ismos” – futurismo, cubismo, expressionismo –, cada
artista trará para o espaço pictórico toda a dor causada pela Guerra.
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Figura 24. The Menin Road, de Paul Nask
As obras The Menin Road e Spring in the Trenches – A Estrada Menin e Soldados na
Trincheira – são dois importantes exemplares de Paul Nash, pintor militar oficial do governo
britânico. No primeiro caso (figura 24), há um cenário de destruição, de “terra arrasada”
pintado. Os troncos das árvores destruídas são como cruzes em um cemitério, a fumaça e as
luzes sinalizam os bombardeios.
Na segunda obra (figura 25), vemos os soldados nas trincheiras – espaço reservado para o
ataque e a defesa – em observação e descanso, ao mesmo tempo em que as expressões
marcam o cansaço imposto. Ao redor, o mesmo princípio que vemos na imagem anterior, uma
natureza destruída, a terra revirada, poucos galhos com folhas e um cenário de campo de
batalha.
Paul Nash, pintor britânico surrealista, ficou conhecido pelos seus emblemáticos quadros de
paisagens, em especial na guerra. O mesmo ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial,
quando o artista se dedicou à pintura com inúmeras cenas de aviões.
Fonte: Wikipedia
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Figura 26. Capa da edição de 1929 do livro Nada de novo no front
As descrições dos mais intensos sofrimentos, como a fome, o frio, o medo e a morte formam
um panorama do que realmente foi o primeiro maior conflito do século XX, diferentemente da
visão oficial. O embrutecimento do ser, a impossibilidade de perspectiva quanto ao futuro e a
noção da falta de sentido dos conflitos são o mote desse romance.
Em Zurique, no Cabaret Voltaire, criado em 1916 por Hugo Ball (1886-1927), reunia-se um
grupo de cinco refugiados – o próprio Ball e Richard Huelsembeck (1892-1974), alemães; Hans
Arp (1886-1966), alsaciano; Marcel Janco (1895-1984) e Tristan Tzara, romenos – aos quais,
posteriormente, se uniriam o francês Francis Picabia (1879-1953) e o chileno Vicente Huidobro
(1893-1948).
Naquele pequeno teatro de variedades promoviam happenings inovadores, sempre para um
público reduzido. Diziam-se discípulos de Rimbaud, liam poemas de Apollinaire e Max Jacob,
recitavam os expressionistas e discutiam os futuristas.
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Figura 27. A fonte, de Marcel Duchamp, 1917
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Figura 28. Édipo Rei, de Max Ernst, 1922
As palavras de ordem do Dadaísmo eram a antiarte, a destruição, o ser contrário, o repúdio ao
bom senso e o caráter de improviso atribuído à arte dadaísta, sempre lúdica e reaproveitando
materiais que, deslocados de seu contexto original, mudam de função e efeito.
MODERNIDADE DA ARTE
A ascensão dos regimes totalitários na Alemanha e Rússia provocou uma mudança radical na
direção das tendências artísticas correntes na Europa, que pode ser entendida a partir da
compreensão do surgimento do nazismo, do fascismo, do comunismo e dos impactos desses
regimes no campo cultural.
Vamos resolver uma confusão histórica. A modernidade em História e Arte não se referem ao
mesmo momento. Na História, moderno é exatamente aquilo que vem ao fim da Idade Média, o
sentido é ser o novo, aquilo que rompe. Na Arte, a modernidade ocorre na transição entre as
velhas técnicas e os novos objetos, no fim do século XIX e nos primeiros anos do século XX.
Então, se, em História, a modernidade rompeu com o medievo, na Arte, a modernidade é fruto
da consolidação da arte burguesa, comercial, “pública”, que rompe com as tradições de arte
dos séculos anteriores.
A arte do capital, arte burguesa, passa a ter outros vieses, outros compromissos e outras
visões. A arte passa a ser vista como uma manifestação da diversidade, que corrobora e
renega, e os artistas discutem a estilística a partir de diversos pontos de vista.
A arte moderna é formada pela modificação e pelas dinâmicas do contexto entre o fim do
século XIX e o início do século XX, mas é consolidada após os impactos das guerras e dos
grandes conflitos. Então, se foi temperada pelas mudanças que relatamos nos dois primeiros
módulos, assume efetivamente sua nova face a partir dos impactos poderosos gerados pelas
Guerras Mundiais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Romantismo
B) Expressionismo
C) Gótico
D) Art nouveau
A) Cubismo
B) Dadaísmo
C) Impressionismo
D) Expressionismo
GABARITO
1. A Belle Époque (“Bela Época”, em francês) foi o período de cultura cosmopolita que
abrangeu o final do século XIX e início do século XX e caracterizou-se, sobretudo, pelo
otimismo gerado pela modernização tecnológica derivada da Segunda Revolução
Industrial (1850-1945). Assinale, dentre as alternativas abaixo, aquela que corresponde
ao estilo artístico muito apreciado durante esse período:
O Art nouveau é um estilo decorativo da época e sua relação com a Segunda Revolução
Industrial se dá, sobretudo, pelo uso de novos materiais, tais como o ferro e o vidro.
Caracteriza-se formalmente pelo uso de formas orgânicas (flores, folhagens, animais), linhas
curvas e assimetria.
MÓDULO 3
Reconhecer os impactos do nazismo, fascismo e comunismo na Arte
E SEUSIMPACTOS NA ARTE
O regime nazista esteve em vigor na Alemanha entre 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler ao
poder, e 1945, ano da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial e da consequente
queda do governo após a morte de Hitler (1889-1945). Em 1918, a Alemanha havia saído
derrotada da Primeira Guerra Mundial, e os vencedores impuseram ao país, como condição de
negociação da paz, a implantação de um governo democrático.
Conflito entre nações europeias que envolveu muitas de suas colônias e ex-colônias,
além de participação indireta de muitos países; por isso, foi considerada uma guerra
mundial. Os derrotados desse conflito têm como “punição”, após o Tratado de Versalhes,
pagar pesadas dívidas como forma de ressarcir o prejuízo dos vencedores, o que gera
para Alemanha uma enorme dívida e um forte ressentimento quanto ao resultado da
guerra.
Nesse contexto, vale a pena observar os efeitos da Grande Guerra na Arte. Junto a esse
sentimento de derrota nota-se, no campo da Arte, uma produção ligada aos sentimentos de
religiosidade, como é o caso da Capela Memorial Sandham (figura 29), que fica na Inglaterra e
foi pintada em 1920 pelo artista britânico Stanley Spencer (1891-1959).
A encomenda foi feita por Mary e Louis Behrend para abrigar um memorial ao irmão dela, o
tenente Henry Willoughby Sandham, que morreu na Primeira Guerra Mundial. As pinturas feitas
a partir da própria experiência de Spencer na guerra tinham o objetivo de homenagear os
mortos esquecidos que não foram lembrados em nenhum memorial oficial. Destaca-se
ainda que a capela é dominada pela cena da Ressurreição atrás do altar, na qual
soldados mortos carregam as cruzes de madeira brancas que marcam seus túmulos
para Cristo (figura 30).
Fonte: Wikipedia
Figura 29. A ressurreição dos soldados, por Stanley Spencer
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Figura 30. Detalhe da obra A ressurreição dos Soldados, presente na Capela Memorial
Sandham
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Figura 31. Juízo Final, por Giotto di Bondone, que adorna a Capela Arena, em Pádua, na
Itália
Vale ainda destacar que tivemos ao longo da História da Arte importantes exemplares de
pintura em espaços como esse, ou seja, capelas encomendadas a grandes artistas. Um
exemplo crucial é a Capela Arena (Capella degli Scrovegni), que conta com afrescos
executados por Giotto com tema da vida da Virgem, celebrando o seu papel na salvação da
humanidade. Dentre os temas que estão na Capela Arena, temos o Juízo Final – muito
representado na pintura histórica e religiosa – e a Ressurreição (figuras 31 e 32).
Voltando aos aspectos políticos desse período, podemos afirmar que a República foi então
proclamada e a rendição assinada em 11 de novembro de 1918. O acordo de paz, contudo,
não se restringia apenas ao tipo de regime que deveria vigorar na Alemanha. Pelos termos do
Tratado de Versalhes, além da Alemanha ser responsabilizada do ponto de vista moral e
financeiro, no plano territorial ela perdia suas colônias (Togo, Camarões e sudoeste africano) e
cerca de um oitavo de seu território, que compreendia a disputada região da Alsácia-Lorena,
conquistada em 1871.
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Figura 32. Imagem da Ressurreição na Capela Arena, em Pádua, na Itália
Houve ainda a concessão para exploração de minas de carvão – fonte básica de energia –
para a França por um período de quinze anos. Outras cláusulas estabeleciam o seguinte:
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Fonte: Wikipedia
Figura 33. A Constituição de Weimar em forma de livreto
Durante sua existência, a chamada República de Weimar assistiu a uma intensa efervescência
artística. São inúmeras as contribuições nos campos da literatura, pintura, teatro, arquitetura,
música e cinema. Apesar da grave crise econômica, social e política, pode-se afirmar que,
durante a República de Weimar, a sociedade alemã foi palco de intensa criatividade cultural e
artística, totalmente reprimida com a ascensão do nazismo.
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Figura 34. Fuga, de Kandinsky, 1914
Fonte: Wikipedia
Figura 35. Senecio, de Paul Klee, 1922
As obras de Paul Klee e Kandisnky – Senecio e Fuga –, ambas das primeiras décadas do
século XX, produzidas antes e depois da Primeira Guerra Mundial, são bons exemplos para
compreensão das novas perspectivas pictóricas impostas pelos artistas à época.
O naturalismo, romantismo e realismo dão lugar às experimentações com materiais diversos,
temas cômicos, personagens dos sonhos ou imaginários. Essas e tantas outras experiências
serão a marca da arte moderna, expressões que serão consideradas impróprias no período
que estamos estudando, como veremos mais adiante.
Outro exemplo de cunho institucional é a Bauhaus (figura 36), escola de arquitetura fundada na
Alemanha, em 1919, por Walter Gropius (1883-1969), que teve entre seus professores Paul
Klee, Wassily Kandinsky, Mies van der Rohe (1886-1969). Na década de 1920, tornou-se o
centro da produção do moderno desenho industrial, adaptando a forma dos objetos às novas
técnicas de produção. Foi fechada pelos nazistas em 1933, quando seus professores
começaram a se espalhar pelo mundo, divulgando os preceitos ali elaborados.
Fonte: ArchDaily
Figura 36. Bauhaus Dessau
Fonte: Wikipedia
Figura 37. Pôster do filme O Gabinete do Dr. Caligari
De igual maneira, o filme Nosferatu, dirigido em 1922 por F.W. Murnau, adapta para as telas de
cinema uma versão livremente inspirada na obra Drácula (1897), de Bram Stocker, com
cenários sombrios, iluminação oblíqua e personagens sinistros, atrelados ao desejo e à
sensualidade, que ainda provocam nos espectadores a sensação de temor e suspense.
A partir de 1933, com a ascensão do nazismo ao poder, toda essa efervescência chegaria ao
fim. O Partido Nacional-Socialista, surgido na Baviera, contava entre seus membros com Adolf
Hitler, que rapidamente se transformou no principal líder da nova agremiação. O programa
partidário era baseado nos seguintes pontos:
Fortalecimento do Estado
Engrandecimento da Alemanha
Intensificação do antissemitismo
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Em abril de 1920, Hitler decidiu alterar o nome do partido (que vinha crescendo desde que ele
assumira sua liderança) para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães
(NSDAP). A denominação socialista foi dada para atrair operários e fazer frente aos grupos
socialistas e comunistas; seus membros, na verdade, combatiam a bandeira da esquerda. Em
meados de 1921, a agremiação já contava com 3.300 membros; no final de 1922, estava com
20 mil.
Ao longo da década de 1920, impulsionado pela crise econômica e pelo clima de humilhação e
injustiça provocados pelas sanções oriundas do Tratado de Versalhes, o pequeno partido
cresce à medida que a crise se aprofunda, o que favorece os nazistas, canalizando o
desespero e o descontentamento do povo alemão. A votação no partido evolui com o
descontentamento até que, em 1933, os nazistas se tornam o partido mais forte do parlamento.
Devido ao intenso apoio popular aos nazistas, Hitler foi convidado pelo presidente Paul von
Hindenburg a ocupar o cargo de chanceler. A ascensão dos nazistas ao poder, em janeiro de
1933, foi por eles chamada de a “revolução legal”.
A ARTE NA CULTURA NAZISTA
As artes desempenhavam um papel de destaque no projeto cultural nazista. Considerando a
estética anterior expressão fruto de uma sociedade decadente – a arte moderna –, os nazistas
planejaram destruí-la, substituindo-a por uma que representasse a “nova idade de ouro da
cultura alemã”. A partir de 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, ele empenhou-se em
redirecionar a produção artística de acordo com os ideais, o estilo de vida e a renovação
ideológica em curso. Incentivadas e controladas pelo regime, as produções artísticas deveriam
expressar a “alma ariana” e desempenhar função pedagógica na formação do novo homem
alemão.
Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção passadista de arte e
se esmeravam em copiar modelos gregos. Acreditavam que o belo deveria encarnar o espírito
da comunidade racial e das tradições populares. Os estilos acadêmicos, neoclássico e
romântico eram os mais bem aceitos porque se inspiravam em temas caros ao regime:
batalhas, heróis, cenas ou figuras mitológicas e lendárias que serviam como modelos de
bravura.
Ajude-nos a vencer!, cartaz de autoria de Fritz Erler (figura 38), as esculturas de Arno Breker, o
busto de Albert Speer – Ministro do armamento do Reich – (figuras 39 e 40) e as pinturas de
Ludwig Dettmann (figuras 41) são exemplos da participação e produção dos artistas nazistas,
dentro dos propósitos que citamos.
Fonte: Wikipedia
Figura 38. Ajude-nos a vencer!, pôster de Fritz Erler
Fonte: Wikipedia
Figura 39. Arno Breker, escultor nazista
Fonte: Wikipedia
Figura 40. Arno Breker, escultor nazista e Albert Speer, Ministro do Armamento do Reich
Fonte: Wikipedia
Figura 41. Nenúfares, pelo pintor nazista Ludwig Dettmann
Fonte: Wikipedia
Figura 42. Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha em visita à exposição
“Arte Degenerada”, em 1938
Em 1937, por toda a Alemanha foram realizadas exposições de arte (figuras 42 e 43). Em 19
de julho desse ano, inaugurava-se em Munique a exposição oficial de “arte degenerada”, como
eram chamadas as obras não vinculadas ao regime (e atribuídas a comunistas, marginais,
negros e judeus), um dia depois da inauguração da primeira grande exposição de arte alemã,
valorizada pelos nazistas. O público deveria fazer o contraponto entre as duas.
Os catálogos explicativos agrupavam as obras a partir dos seguintes temas: arte racista, arte
judaica, invasão do bolchevismo na arte, mulher alemã enlouquecida, ultraje aos heróis,
loucura erigida em método, natureza vista por espíritos enfermos. Ao lado das telas dos artistas
de vanguarda, eram expostos desenhos de doentes mentais internos em hospitais
psiquiátricos.
Fonte: Wikipedia
Figura 43. Exposição de arte nazista em Salzburg, em 1938
Os critérios de seleção das obras para essas exposições eram: ser popular, retratar o heroísmo
e enaltecer os ideais nórdicos de beleza e pureza da raça. Os temas privilegiados
contemplavam imagens de trabalhador, soldado, agricultor, da família e do líder. Em 1937, foi
criada, em Munique, a Casa de Arte Alemã, um templo nos moldes greco-latinos,
especialmente para expor a “verdadeira arte alemã”. Ela serviu de modelo para a criação de
outras.
Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção passadista de arte e
se esmeravam em copiar modelos gregos. Acreditavam que o belo deveria encarnar o espírito
da comunidade racial e das tradições populares. Todos os esforços foram feitos para a
popularização e massificação da arte. Foram produzidos cerca de 2 mil filmes, milhares de
romances, centenas de poemas, exposições de pintura, monumentos, estátuas, esculturas,
afrescos.
Em vez de considerar, de acordo com certos representantes das vanguardas, que o papel da
arte é levantar questões, os nazistas acreditavam que ela deveria afastar a angústia
existencial. Por isso, em vez de supor que o artista deveria usar a forma para expor uma ideia,
concebia-se a arte como expressão da beleza e harmonia porque seu objetivo era decorar,
enfeitar, elevar o espírito e incentivar os valores da raça ariana.
O mundo glorioso criado por Wagner, no século XIX, foi povoado por arianos e semitas. Para
o músico, os judeus mantinham sob sua dominação uma sociedade degenerada,
principalmente em relação à Arte. Propunha que o mais urgente era a emancipação da
opressão judaica. O judaísmo para ele representava a má consciência da civilização moderna.
O cinema foi o setor que recebeu mais atenção e investimentos do regime nazista. Desde o
início de sua carreira política, Adolf Hitler considerava o cinema, por suas próprias
características, o instrumento ideal para influenciar as massas: o apelo emocional subjetivo, a
possibilidade de ilustrar a ideologia do regime, a contínua e uniforme repetição de uma
mensagem. Como exemplo do enorme interesse de Hitler e Goebbels pelo cinema, cabe
destacar que a Câmara de Cinema foi fundada no dia 14 de julho de 1933, antes de todos os
outros departamentos da Câmara de Cultura do Reich, ficando sob o controle direto do
Ministério da Propaganda. Mesmo antes de chegar ao poder, o movimento nazista valeu-se do
cinema como arma de propaganda política. Isso se deve, principalmente, à enorme
possibilidade que o cinema sonoro abriu para a reprodução em massa dos discursos dos
líderes e da divulgação das mensagens político-ideológicas dos partidos.
ARIANOS E SEMITAS
Termos utilizados naquele período para fazer referência a indivíduos oriundos de raças
diferentes: “arianos” designava um pseudopovo originado na Renânia, e “semitas”, os
descendentes de Sem, os que vêm do Oriente, como outro povo, inferior ao primeiro.
Durante os doze anos de regime nazista, estima-se que tenham sido produzidos cerca de 1350
longas-metragens, que buscaram, de várias formas, enaltecer o nazismo, estimulando a
grande maioria da sociedade alemã a participar da experiência nazista, além de colocar a
Alemanha em segundo lugar na produção cinematográfica mundial, depois de Hollywood.
Fonte: IMDb
Figura 44. Pôster do filme O Triunfo da Vontade
O filme demonstra com perfeição o domínio da técnica, desde os engenhosos ângulos visuais
e uma composição de cena grandiosa, até o ritmo determinado de sua montagem, tudo
convergindo para impor uma falsa estética à propaganda política partidária.
A concepção de política como espetáculo foi novamente trabalhada por Riefenstahl em Olímpia
(1938), um longo documentário dividido em duas partes – Festival das Nações e Festival da
Beleza – sobre os Jogos Olímpicos realizados em Berlim. Mais que um simples documentário
da Olimpíada de 1936, trata-se de um hino de exaltação à Alemanha nazista, mediante a
glorificação da força física, da saúde e da beleza racial, miticamente retratadas.
Fonte: IMDb
Figura 45. Pôster do filme Olímpia – Festival das Nações
Fonte: IMDb
Figura 46. Pôster do filme Olímpia – Festival da Beleza
Fonte: IMDb
Figura 47. Pôster do filme O judeu eterno
No começo da década de 1940, eram produzidos tanto filmes que exaltavam a superioridade
da raça ariana como filmes que enfatizavam a inferioridade de outras etnias. Os primeiros
seres mostrados como inferiores pelo cinema nazista foram certamente os judeus.
Todas as representações cinematográficas de judeus colocavam o espectador diante de
personagens feios, maldosos, demoníacos e animalescos. Filmes antissemitas como Os
Rothschilds (1940), Judeu Süss (1940) e o documentário O judeu eterno (1940) tinham como
objetivo incitar o ódio e o desprezo aos membros dessa etnia, ressaltando assim a
necessidade de deportá-los e exterminá-los.
Para a arquitetura também foi reservado um lugar especial. Hitler, arquiteto e pintor frustrado,
considerava-a a mãe das artes pelo seu poder de interferência na vida das pessoas. As obras
produzidas no período se caracterizavam pela monumentalidade. Acreditava-se que as
grandes construções suscitariam adesão por despertarem orgulho e entusiasmo nacionalista.
Inspiravam-se nas ruínas das civilizações greco-romanas e eram decoradas com esculturas
que representavam atletas, soldados, figuras mitológicas. Buscavam expressar a harmonia do
corpo, as virtudes másculas e a virilidade. Tanto essa arte quanto a arquitetura eram
superdimensionadas, seus elementos criados fora da escala humana faziam parte dos projetos
de Hitler.
Sob o impulso do grupo Mir iskusstva (O mundo da arte), que passa a veicular, no início do
século XX, por meio de uma revista de mesmo nome, dirigida por Serguéi Diáguilev (1872-
1929), são divulgadas as novas tendências artísticas europeias, como o impressionismo, o
cubismo francês e ainda o expressionismo alemão. O ímpeto da Revolução projetou um
florescimento artístico espantoso entre 1918 e 1923 e ainda depois. Os anos da Nova Política
Econômica (NEP), entre 1922 e 1928, também favoreceram a liberdade das artes, a
experimentação e a excentricidade.
Fonte: Wikipedia
Figura 48. Membros de Mir iskusstva, de Boris Kustodiev (1916-1920).
No campo das artes plásticas, as correntes russas da pintura de vanguarda, opondo-se a seus
predecessores realista-positivistas (os assim chamados artistas “ambulantes”, em russo,
peredvíjniki) e contrárias também aos simbolistas, considerados apocalípticos e místicos, vão
encontrar em sua pesquisa formal uma inspiração criativa em perfeita sintonia com os aspectos
da nova civilização urbana. A derrocada do velho mundo, com o final da Primeira Guerra
Mundial, reclama ao artista outras soluções e uma nova visão do real.
As vanguardas russas abrigavam diferentes correntes, que iam desde o nadismo ou niilismo
até o futurismo, o expressionismo e o cubismo. Uma de suas mais importantes manifestações
se deu com o surgimento do movimento cubo-futurista, que articulava as propostas do
futurismo italiano às do cubismo francês. Dentre seus princípios estéticos fundamentais,
destacam-se a pesquisa formal.
Figura 49. Composição não objetiva e Figura 50. Retrato de mulher, ambas de Ivan
Kudriashov, de 1919
Em paralelo à pintura, as artes gráficas também assumem uma posição de destaque após a
Revolução de 1917. Os cartazes ornavam a cidade, celebrando festividades políticas, como o
aniversário de Revolução de Outubro, e propagando o ideário da nova realidade advinda da
instauração do socialismo. O esmero da produção gráfica, repleta de inventividade estética no
uso de cores e formas geométricas, transformava os panfletos políticos em peças artísticas de
grande valor.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) Precursora do modernismo.
GABARITO
A ascensão dos regimes totalitários manifestou-se na Alemanha e Rússia através das políticas
culturais de Estado, que buscavam, a partir da centralização e da prescrição das linguagens
artísticas, contribuir com a propaganda desses regimes. Na Alemanha, essa política
caracterizou-se pela revalorização dos estilos acadêmico, neoclássico e romântico. Na Rússia,
o realismo socialista foi o estilo artístico adotado pela propaganda totalitária e traduziu-se na
produção de obras em torno da política stalinista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, a Revolução Industrial foi um ponto importante e de impulso para inúmeras
transformações vistas no campo artístico-cultural. Ela, sem dúvida, foi a grande responsável
pela arte da vanguarda; já havia uma tomada de consciência da sociedade e o
desenvolvimento tecnológico a favor da construção de narrativas visuais estritamente ligadas a
essa nova realidade.
Sob os efeitos e impactos da Primeira Guerra Mundial, diversos artistas – ainda jovens –
empenharam-se nas batalhas, mas, pouco tempo depois, viram-se em situações de tristeza,
dor e profunda clareza da cruel situação que se impunha com as batalhas. A arte desse
período será um triste retrato da realidade da guerra.
Com o sentimento de derrota e desejo de reconstrução de uma nação forte, vimos a ascensão
de regimes totalitários na Alemanha, como o nazista, e, tristemente, a perseguição a todos os
mecanismos de liberdade de expressão, como o caso das artes visuais. Por isso, a arte
moderna e seus artistas foram perseguidos e considerados produtores de uma arte
degenerada.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M. A República de Weimar e a ascensão do Nazismo. Coleção Tudo é
História, v. 58. São Paulo: Brasilense, 1982.
MARABINI, J. Berlim nos tempos de Hitler. Coleção Vida Cotidiana. São Paulo: Companhia
das Letras, 1987.
PALHARES, T. Percursos Críticos. In: Arte brasileira na Pinacoteca de São Paulo: do século
XIX aos anos de 1940. São Paulo: Cosac Naify / Imprensa Nacional / Pinacoteca, 2009, 20-23.
RIBEIRO JÚNIOR, J. O que é Nazismo. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense,
1986.
RICHARD, L. A República de Weimar. Coleção Vida Cotidiana. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988.
O Livro da Arte, publicado pela editora Martins Fontes, em 1999, é uma importante fonte
de informação sobre a biografia de pintores e ilustração das obras.
A obra de Alberto Manguel, publicada pela editora Companhia das Letras, em 2001, sob
o título Lendo Imagens. Uma história de amor e ódio, é uma boa referência para
compreensão de pinturas a partir das abordagens: ausência, enigma, testemunho,
compreensão, pesadelo, reflexo, violência, subversão, filosofia, memória e teatro.
Vale a pena procurar o estudo técnico que foi o realizado pelo Gabinete de Restaurações
do Museu do Prado sobre a obra La Nevada o el Invierno, de Francisco de Goya.
Para saber mais sobre pintura como testemunho de traumas e destruições, como a
Segunda Guerra Mundial, procure palestras e conferências da professora de História da
Arte Maria Dolores Jiménez-Blanco.
Sugestões de filmes:
CONTEUDISTA
Adriana Sanajotti Nakamuta
CURRÍCULO LATTES