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VISITA MONITORADA
Museu Xingu
Sugerimos que você se dirija ao mapa do Parque do Xingu que está à sua
direita um pouquinho antes da entrada do Museu, para visualizar de que
pedaço do Brasil estamos nos referindo.
Sentado e olhando para a frente está uma das peças mais importantes
dessa coleção, a panela grande "Kamalupe", exposta aqui, mostrando a
sua base, sua pintura, seu grafismo que, ao ir ao fogo certamente se
perderia. Mas para a paneleira, a tradição do ofício é com pintura e
assim é feita. Segundo texto de Orlando1:
Em Aruak
makula: panela
makulataiñ: panela pequena
kamalupe: panela grande
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"As peças de barro não são de fabricação comum de todas as aldeias. São poucas aquelas que sabem
colher e tratar o barro até que fique em condições de modelagem. Os índios da família Aruak são os grandes
especialistas. As peças variam de forma e tamanho, pequenas e médias com representação zoomorfa e as
grandes com a linha tradicional que são de grande utilidade. Depois de modelada e cozida em um buraco
previamente aquecido, a panela é debruçada e no seu fundo externo todo embranquecido de tabatinga, com
desmedido capricho, é decorada em vermelho e preto (urucum e jenipapo), com desenhos simétricos com
traços firmes e à mão livre. Feito isso, a peça, geralmente pesada, com auxílio de outros é colocada sobre
três pedras, que é o seu fogão, e em seguida acendem o fogo. Instantes depois o fundo pintado se torna
enegrecido, e lá se vai a pintura. Advertido do trabalho inútil e demorado da trabalhosa
pintura,impiedosamente destruída, responde o paneleiro ou a paneleira ... "sem pintura não é panela"."
Xingu ,Território Tribal, de Cláudio e Orlando Villas-Bôas
região, como tatu, jacaré, cracajá, pomba etc. O capricho, o som musical2 e
os segredos do barro são rituais da paneleira, em referência ao mito de
"Kamula Hai", a cobra-canoa, o "dono do barro", que traz o barro e carrega
panelas musicais3.
Já que fomos ver a mini panela "tsak-tsak" da Uleyalu, para ouvir o seu som
característico, vamos falar o porquê da cerâmica Waurá ser tão resistente.
Na argila utilizada é misturado um parasita de rio chamado de "Akukupe” (é
como se fosse uma craca de concha, mas no caso é de galhos de árvore
submersos no rio). Esse parasita é queimado, formando um pó, e é
2
Para saber mais sobre os Waurá, história, mitos e processos da cerâmica leia a Dissertação de Mestrado
de Aristóteles Barcelos Neto, de 1999, "ARTE, ESTÉTICA E COSMOLOGIA ENTRE OS ÍNDIOS WAURÁ
DA AMAZÔNIA MERIDIONAL"
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De um modo geral, todos os artefatos têm uma origem mítica, sendo que muitos deles, desde sua
existência primeva, são dotados de subjetividade, de pontos de vista próprios e de inteligência e
sensibilidade, que no caso das panelas Waurá se expressam pela música. Lévi Strauss,1997, Olhar, Escutar,
Ler.
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Uleyalu Mehinako é filha de um casamento entre Waurá e Mehinako e por isso lhe era permitido fazer
panelas. Faleceu em 2020, vítima de Leishmaniose e deixou muitas saudades, sete filhos e marido. Uleyalu
nos contou do costume antigo em relação aos filhos que nascem sem pai. Coisas de sua época não mais
praticadas. Uma criança não pode sobreviver em uma aldeia sem um pai, seja biológico ou não. Se uma
criança nascia sem pai, essa criança era enterrada viva para que se algum homem a desenterrasse, a
assumisse. Quando a equipe de curadoria do museu esteve na aldeia conheceu um menino que foi
desenterrado pelo cacique que assumiu a paternidade.
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Loja de comércio justo e arte brasileira anexa ao Museu.
misturado à argila na dose certa. Antes do forno, a panela já moldada e seca
deve ser alisada com uma pedrinha redonda constantemente molhada numa
casca de árvore chamada "yapita". Para a queima são necessárias cascas
da árvore "ajatá" que só tem no parque. Processo esse, bem demorado com
cerca de 20 etapas, e aqui resumido6.
O macaco está muito presente entre os indígenas: convive junto, brinca com
as crianças e pode ser comido também, quando da escassez do peixe. O
peixe é um dos alimentos mais apreciados e é consumido de 3 a 4 vezes por
semana.
Na frente estão dois mantos cerimoniais: “Abeatá”, manto tecido com capuz,
largo e sem mangas, confeccionado com fios de algodão e penas nas bordas
e capuz, usado por pajés do Povo Yudja (ex Juruna); e “Ot oxilat”, touca com
cobre-nuca, uma indumentária de guerra, tecida em algodão e ornamentado
de plumas na touca do Povo Ikpeng (ex Txicão).
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Xingu ,Território Tribal, de Cláudio e Orlando Villas-Bôas
da frente, cobrindo parcialmente o órgão genital, um
pequeno triângulo de entrecasca de árvore; do
vértice inferior sai um fio que, passando entre as
pernas e as nádegas da mulher, vai se prender na
parte de trás do cinto. No momento em que a mulher
entra no período menstrual o fio é retirado, mas o
cinto permanece.
Orlando ainda dizia, com bom humor, ser o Uluri precursor do biquíni "fio
dental" dos anos 80.
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