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Faculdade de ciências e Tecnologias

Curso: Arquitectura IV

RESTAURO
Discentes:
- Alves Eduardo Gastone André
- Anguilucha Carlitos Dimas Jonasse
- Dinércio de Deus Goncalves

Docente: Arq. Felisberto Vasco Mufanequiço


Beira, Abril de 2022
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Introdução

Desde a Idade Média até ao Renascimento, continuam-se a praticar apenas transformações sobre as obras do
passado, novas adaptações e reconstruções mais ou menos radicais.
O restauro está ao serviço da ideologia política e cultural, a qual valoriza essencialmente um momento circunscrito da
história do homem, a Idade Clássica. Restaurar significava reinterpretar-se o antigo com uma chave moderna, razão
pela qual uma tal operação não era atribuída a executantes especialistas mas antes aos artistas, os quais tinham plena
liberdade na execução deste trabalho. O princípio da renovação só se tornou obsoleto quando, muito mais tarde, um
dos conceitos básicos do restauro e da conservação passou a ser o do respeito absoluto pela obra de arte em si, pela
sua autenticidade, desde o ponto de vista histórico ao estético, e quando não foram mais admitidas intervenções que
pudessem alterar ou falsificar a obra original. Humanismo e Renascimento, ao se reclamarem herdeiros da
antiguidade, foram, no entanto, muito pouco respeitadores pelo passado; o amor pela antiguidade provocou vastas
destruições com a finalidade de serem isolados os pormenores mais significativos de um monumento.
.

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CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
Objetivos de Estudo

Objetivo Geral Objetivo Específico


• Pretende-se com o presente
• Descrever e interpretar as Cartas de Restauro;
trabalho conhecer em linhas gerais os
• Identificar os tipos e etapas do Restauro;
aspectos relacionados a conservação,
• Demostrar as intervenções do Restauro a Nível Arquitectónico e
restauro e requalificação, suas etapas
Urbanístico.
e os tipos do restauro.

Metodologia
O projecto a ser realizado é de natureza Aplicada e Exploratória e a estratégia de estudo adotada foi o Estudo
de Caso. O instrumento de coleta de dados consistiu na Pesquisa bibliográfica em Livros e Dissertações onde
procuramos obter respostas e diferentes pontos de vista e abordagens sobre o tema em causa.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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História e Evolução Conceitual dos Critérios do Restauro Arquitectónico
Definições
Retirado de Recomendações e Directrizes para a adoção de princípios comuns sobre a conservação e restauração do
património cultural na Europa – Apel (Acteurs du patrimoine européen et legislation - 2001).

Conservação – Restauro
A conservação-restauro deve ser definida como qualquer intervenção directa ou indirecta efetuada sobre um
objecto ou monumento, para salvaguardar a sua integridade física e garantir o respeito pelo seu significado cultural,
histórico, estético e artístico.

Património Cultural
Entende-se por património cultural todo aquele que sendo objecto, construção ou ambiente, a sociedade lhe atribua
um valor especial, estético, artístico, documental, ecológico, histórico, científico, social ou espiritual e que constitua
um património cultural essencial a transmitir às gerações futuras.

Diagnóstico
O diagnóstico compreende a identificação, a determinação da composição e avaliação das condições dos bens
culturais; a identificação, a natureza e extensão das alterações, a apreciação das causas da sua degradação e a
determinação do tipo e extensão do tratamento necessário, assim como o estudo das informações existentes
relacionadas.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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História e Evolução Conceitual dos Critérios do Restauro Arquitectónico

Documentação
A documentação compõe-se de imagens e texto que retratem o historial de todos os processos efetuados e a
exposição do raciocínio que terá estado por trás deles. Fazem parte dessa documentação, os documentos e
relatórios de exame, a proposta de tratamento, o consentimento e observações do proprietário, os documentos e o
relatório ilustrativo do tratamento efetuado, assim como as recomendações para intervenções futuras.

Manutenção
A manutenção deve ser definida como intervenções rotineiras visando manter a integridade dos bens culturais.

Conservação preventiva
A conservação preventiva consiste na realização de intervenções indirectas visando o retardamento da degradação e
impedindo desgastes pela criação de condições optimizadas para a conservação dos bens culturais de forma que
essas medidas forem compatíveis com a sua utilização social. A conservação preventiva compreende também o
tratamento correto, transporte, utilização, acondicionamento em reserva e exposição. Pode também implicar
questões que tenham a ver com a produção de réplicas com intuito de preservar os originais.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Criação vs. Restauração/conservação a dualidade da preservação
Quando se atua em preservação do património arquitectónico atua-se na esfera da dualidade entre o antigo e o
novo, entre criar (inventar) e preservar (manter/conservar). Em arquitectura, o ato de criar pressupõe a invenção de
um novo elemento que vai coexistir, através de sua concretização pela obra, com uma estrutura preexistente, seja ela
antiga ou recente.

O Universo Da Conservação/Restauração – materiais e métodos


O conjunto edificado e os espaços públicos de valor histórico encontram-se dispersos na cidade e no campo, muitas
vezes entrecortados por elementos novos que registaram, nas estruturas ambientais, o carácter de temporalidade,
demonstrando que passado e presente interagem continuamente.

Restauração
É naturalmente, o termo mais antigo e, por isso, o mais conhecido. Actualmente, caracteriza-se por representar a
intervenção que devolve a unidade potencial da obra, que preenche as lacunas, que recompõe a imagem.

Conservação / Consolidação
Caracteriza-se pela intervenção na matéria de que se constituem os edifícios para garantir-lhes integridade física -
estrutural ou estética. Os materiais envelhecem e apresentam patologias que aumentam, em variedade e
profundidade, devido aos níveis cada dia mais altos de poluição ambiental, além dos actos de vandalismo que vêm,
cada vez mais, sendo praticados contra os monumentos.

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Criação vs. Restauração/conservação a dualidade da preservação
Restauro
Segundo Tavares (2011), restauração é a execução de acções em edifícios degradados com o objectivo de recuperar a
aparência de uma data específica. Pretende-se restituir sua arquitectura, devendo existir profundo conhecimento de
suas técnicas construtivas e um estudo documentado para selecção das soluções mais adequadas.

Os fundamentos teóricos do restauro


Entende-se geralmente por restauro qualquer actividade desenvolvida para se prolongar a conservação dos meios
físicos a que está atribuída a consistência e a transmissão da imagem artística, e também se pode aplicar este
conceito para nele se compreender a reintegração, tanto quanto possível aproximativa, de uma imagem artística
mutilada. Estes dois pólos, de que um confina o restauro à mera conservação, e o outro o pode levar até à usurpação
dos privilégios da criação artística, caracterizam as atitudes discordantes que se adoptaram e ainda se adoptam
relativamente ao restauro.
Os Restauros Estilísticos De Viollet-Le-Duc
O parisiense Viollet-de-Luc nasceu em 1814 e
faleceu em 1879 em Lausanne. Foi uma
personalidade polémica, arquitecto, desenhador,
escritor, crítico e historiador de arte arquitectónica.
Foi ainda um excelente restaurador de edifícios da
Idade Média, que influenciou as ideias ocidentais
acerca do restauro no século XIX.
Retrato de Viollet-le Duc by Félix Nadar 1879

Igreja de Saint-Sernin
CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Criação vs. Restauração/conservação a dualidade da preservação
As Críticas Às Teorias De Restauro De Viollet-Le-Duc
No mesmo período de Viollet-le-Duc, quase em simultâneo, surgem outras tendências em Inglaterra, mais fatalistas e
com ideias opostas, protagonizadas por John Ruskin e William Morris. Retrato de

Restauro Empírico
Durante o período neoclássico, acentua-se o culto pelos monumentos, iniciando-se assim os primeiros restauros que
tendem a valorizar o monumento, não com a finalidade de uma sua melhor função, mas enquanto obra que detêm
um interesse como realização artística ou recordação histórica.

Maquete da Igreja Notre Dame antes do restauro Igreja Notre Dame depois do restauro

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Criação vs. Restauração/conservação a dualidade da preservação
Restauro Científico e Restauro Crítico
Entre estes dois conceitos contrários, elaborou-se uma teoria intermédia, sustentada por C. Boito e G. Giovannoni,
que propõe dar-se a maior importância às obras de manutenção e de consolidação. Maquete da Igreja Notre Dame
antes do restauro
Em 1883, Camilo Boito tinha já enunciado os princípios fundamentais do restauro no seu sentido moderno:
• Os monumentos valem não só para o estudo da arquitectura, mas como documentos da história dos povos e, por
isso, devem ser respeitados.
• Devem ser preferencialmente consolidados do que reparados, preferencialmente reparados do que restaurados,
evitando-se adições e renovações.
• As adições executadas em tempos diferentes devem ser consideradas como partes do monumento e mantidas.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
A história recente está plena de ideias diversas e protagonistas diferentes em vários países, e por isso percebeu-se a
necessidade de estabelecer regras aceites internacionalmente, tendo em vista solucionar os problemas complexos de
salvaguarda do património artístico e histórico. Em 1921, no Congresso Internacional de História e de Arte em Paris,
manifesta-se essa necessidade, assim como em Roma em 1930, mas foi em Atenas no ano de 1931, que se realizou
uma conferência com resultados para o futuro. Nomeadamente, as principais cartas de restauro e recuperarão após
a II Guerra Mundial:
• Carta de Atenas;
• Carta de Restauro Italiana;
• Carta de Veneza;
• Carta de Amesterdão;
• Carta de Cracóvia.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
Carta de Atenas-1931

Conferência Internacional de Atenas


I. A Conferência, convicta de que a conservação do património artístico e arqueológico da humanidade interessa a
todos os Estados tutores da civilização, deseja que os Estados se prestem reciprocamente uma colaboração, sempre
mais completa e concreta, para o favorecimento da conservação dos monumentos da arte e da história; tem por
altamente desejável que as instituições e os grupos qualificados, sem beliscarem minimamente o direito internacional,
possam manifestar o seu interesse pela salvaguarda das obras-primas pelas quais a civilização encontrou a sua mais
alta expressão e que pareçam ameaçadas;
II. A Conferência elaborou os princípios gerais e as doutrinas respeitantes à protecção dos monumentos. Constatou
também que, pela diversidade dos casos especiais a que podem corresponder soluções particulares, predomina nos
vários Estados representados uma tendência geral para se abandonarem as restituições integrais e para se evitarem
os riscos, mediante a instituição de manutenções regulares e permanentes destinadas à garantia da conservação dos
edifícios.
III. A Conferência recomendou a divulgação da legislação que tenha por objetivo, nas diferentes nações, a protecção
dos monumentos de interesse histórico, artístico ou científico; aprovou unanimemente a tendência geral que
consagra, desta forma, um direito da colectividade que se sobrepõe ao interesse privado.
IV. A Conferência constata com satisfação que os princípios e as técnicas expostas nas diferentes comunicações
particulares se inspiram numa tendência comum, ou seja : quando se trata de ruínas, mas se impõe uma
conservação escrupulosa, e, quando as condições o permitem, é trabalho feliz a devolução aos seus lugares dos
elementos originais encontrados (anastilose); e que os materiais novos necessários param este objectivo devem ser
sempre reconhecíveis. CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
Carta de Restauro Italiana-1932

As Teorias De Restauro Italianas


No final do século XIX e início do século XX, surge uma geração de arquitectos preocupados com o conceito de
restauro e em defesa da conservação e reparação, de modo a preservar os valores históricos e artísticos do
monumento, baseados nos princípios estabelecidos pelo arquitecto italiano Camilo Boito.

Lei. Para A Conservação Dos Monumentos


✓ Deverão limitar-se as intervenções ao mínimo possível, mas caso se executem têm de ser bem identificadas;
✓ Deverá ser visível a diferença entre as partes antigas e as novas;
✓ Deverá ser visível a diferença entre os materiais modernos e os originais aplicados nas diversas obras;
✓ As partes que foram eliminadas, deverão ser expostas num lugar próximo ao monumento restaurado.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
Carta de Restauro Italiana-1972

Artigos da carta Italiana


Art.º 1.º - Toda as obras de arte de qualquer época, na acepção mais vasta que vai desde os monumentos
arquitectónicos às da pintura e da escultura, mesmo quando fragmentadas, e desde os achados paleolíticos às
expressões figurativas das culturas populares e da arte contemporânea, pertencentes a qualquer pessoa ou entidade,
são objecto das presentes instruções que tomam o nome de Carta do Restauro 1972.

Art.º 2.º - Para além de todas as obras indicadas no artigo anterior, devem ser a elas assimilados, para a garantia da
sua salvaguarda e restauro, os conjuntos de edifícios com interesse monumental, histórico ou ambiental, as colecções
artísticas e as sistematizações conservadas na sua disposição tradicional; os jardins e os parques que sejam
considerados de especial importância.

Art.º 3.º - Incluem-se da disciplina das presentes instruções, para além das obras definidas nos artigos 1.º e 2.º, as
próprias operações organizadas para garantia da salvaguarda e do restauro dos vestígios antigos respeitantes às
buscas terrestres e subaquáticas.

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CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
Carta de Veneza-1964
Art.º 1- A noção de monumento histórico compreende tanto a criação arquitetónica isolada como o ambiente
urbano ou paisagístico que constitua o testemunho de uma civilização em particular, de uma evolução significativa,
ou de um acontecimento histórico (esta noção aplica-se não só às grandes obras, mas também às obras modestas
que, com o tempo, adquiriram um significado cultural).

Art.º 2- A conservação e o restauro dos monumentos constituem uma disciplina que se vale de todas as ciências e
de todas as técnicas que possam contribuir para o estudo e para a salvaguarda do património monumental.

Art.º 3- A conservação e o restauro dos monumentos encaram a salvaguarda tanto da obra de arte como do
testemunho histórico.

Art.º 4- A conservação dos monumentos impõe igualmente uma manutenção sistemática.

Artigo 9º – A restauração é uma operação que deve ter carácter excepcional. Tem por objectivo conservar e revelar
os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos
autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjecturais, todo trabalho complementar
reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitectónica e
deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo
arqueológico e histórico do monumento.
CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
Carta de Amesterdão
Carta de Amesterdão, ou Carta Europeia do Património Arquitectónico, adoptada pelo Comité dos Ministros do
Conselho da Europa, em 26 de Setembro de 1975, acrescenta a todos estes aspectos anteriormente enumerados, a
chamada conservação integrada. Este conceito traduz o trabalho dos técnicos de restauro, que em conjunto
procuram encontrar a função apropriada a cada caso, com o apoio dos meios jurídicos, administrativos, financeiros e
técnicos. A noção de património arquitetónicos não abrange somente os monumentos, mas também cidades antigas
e aldeias tradicionais.

I Carta de Cracóvia
O documento subscrito em junho de 1991, por diversos países, incluindo os países de Leste da nova Europa. A carta
sublinha a importância pelo respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais como base para o
desenvolvimento da criatividade cultural, e ainda a necessidade de cooperação ao nível da formação técnico-
científica entre os Estados aderentes.

Objectivos e Métodos
✓ O património arquitectónico, urbano e paisagístico, assim como os seus objetos individuais, é o resultado de uma
identificação associada aos diversos momentos históricos e aos vários contextos socioculturais. O nosso objectivo é a
conservação deste património.
✓ A manutenção e a reparação são partes fundamentais do processo de conservação do património. Estas
operações devem ser organizadas através da investigação sistemática, de inspecções, de controlos, de
monitorizações e de ensaios. A possível degradação deve ser prevista e descrita assim como submetida a medidas de
prevenção adequadas. CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
II Carta de Cracóvia

Definições:
A comissão de redacção da Carta de Cracóvia usou os seguintes conceitos fundamentais na maneira como se
exprimiu.
✓ Património: O património cultural é o complexo de obras humanas nas quais uma comunidade reconhece os seus
valores particulares e específicos, e nos quais se identifica. A identificação e a definição das obras como património é
também um processo de escolha de valores.
✓ Monumento: O monumento é uma obra singular do património cultural, reconhecida como portadora de valores e
constituindo um suporte para a memória.
Esta reconhece nele os aspectos relevantes respeitantes ao fazer e ao pensar do homem, localizáveis no curso da
história e ainda adquiríveis por nós.

III Carta de Cracóvia


✓ Conservação: A Conservação é o conjunto das atitudes da colectividade com o fim de fazerem perdurar no tempo
o património e os seus monumentos. Explicasse em função dos significados que a obra singular assume, com os
valores a ela ligados.
✓ Restauro: O restauro é a intervenção directa sobre cada objecto do património, tendente à conservação da sua
autenticidade e à aquisição desta pela parte da colectividade.
✓ Projecto de restauro: O Projecto, como consequência das decisões conservativas, é o procedimento específico pela
qual a conservação atua sobre o património construído e sobre a paisagem. CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Cartas de Restauro e Recuperação após a II Guerra Mundial
IV Carta de Cracóvia
• Métodos, critérios e técnicas:
✓ Finalidades de uma intervenção (para determinar a metodologia).
✓ Importância do estudo e da documentação - a instância histórica.
✓ Várias abordagens ao objecto artístico.
✓ Respeito pela obra do ponto de vista material e imaterial (valorização tanto técnica como simbólica).
✓ Respeito pelos materiais originais (não adicionar novos elementos).
✓ Conceitos de compatibilidade e reversibilidade; os materiais devem ser compatíveis e nenhuma conservação é
reversível – quando um objecto é limpo, não é possível reverter essa limpeza. Retroactividade: voltar a trabalhar no
objecto.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Os Principais Tipos De Intervenção Do Restauro A Nível Urbanístico
Reestruturação urbanística
Destina-se a verificar, e eventualmente a corrigir onde necessário, as relações do
centro histórico com a estrutura territorial ou urbana com a qual esse centro forma
unidade. É de especial importância a análise do papel territorial e funcional que o
centro histórico desempenhou no passado e desempenha no presente.

Reorganização viária
Respeita à análise e à revisão das ligações viárias e dos fluxos de tráfego que
atropelam a estrutura, com o principal objectivo de lhes reduzir os aspectos
patológicos e de reconduzir a utilização do centro histórico a funções compatíveis com
a estrutura do passado.

Revisão do mobiliário urbano


Diz respeito às ruas, praças e todos os espaços livres existentes (pátios, espaços
interiores, jardins, etc.), com a finalidade de uma homogénea interligação entre
edifícios e espaços.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Os Principais Tipos De Intervenção Do Restauro A Nível Urbanístico
Restauro Gráfico
Era já uma prática anterior que veio responder às novas
exigências dos antiquários. Opõe-se ao método científico,
correspondendo a representações fantasiosas, podendo não
ocorrer no próprio local do monumento.

Restauro Arqueológico ≠ Restauro Estilístico


Baseia-se nos Monumentos Nacionais em que engloba a
descoberta das antiguidades nacionais como por exemplo a
história do Cristianismo que é a afirmação da civilização
Ocidental.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Os Principais Tipos De Intervenção A Nível De Edifícios
Saneamento estrutural e higiénico do edifício Destinado à manutenção da sua estrutura e de uma utilização
equilibrada da mesma; tais intervenções devem ser executadas conforme as técnicas, as modalidades e as
advertências referidas nas recomendações para a condução dos restauros arquitectónicos.

Renovação funcional dos organismos interiores


Que só serão permitidas onde se demonstrem indispensáveis para o objectivo de manutenção em utilização do
edifício. Orientações metodológicas relativas a intervenções de restauro a serem executadas em edifícios históricos

Critérios fundamentais válidos para todos os trabalhos:


- Deve-se conservar a autenticidade da obra: Qualquer hipotética adição deve, geralmente, ser reconhecível e
diferente da preexistência na quantidade mínima mas suficiente para não sacrificar inutilmente a unidade figurativa
própria de cada construção individual. Para tal, devem-se manter as preexistências com o seu aspecto e na sua
consistência originais.
- Deve-se ter o maior cuidado, pelo contrário, com as sistematizações ao redor e/ou ao ambiente necessário para se
prolongar naturalmente a vida das fachadas exteriores, pela eliminação das mais graves causas de degradação;
- Devem-se evitar as imitações “ao estilo”;
- Devem-se evitar as tentativas de renovação da obra;
- Deve-se respeitar, na execução de qualquer género de obra, o princípio da intervenção mínima;
- Deve-se respeitar o princípio da reversibilidade das intervenções;
- Devem-se respeitar os princípios da compatibilidade mecânica, química e física ;
- Deve-se garantir a durabilidade efectiva das intervenções;
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Os Principais Tipos De Intervenção A Nível De Edifícios
Critérios válidos para trabalhos específicos
Em conformidade com estas indicações metodológicas, as modalidades para se executarem intervenções correctas
sobre as superfícies das fachadas dos edifícios podem ser exemplificadas pelos casos seguintes:

1) Intervenções sobre materiais pétreos artificiais (rebocos)


- O reboco apresenta-se bem conservado mas marcado de diferentes formas pela passagem do tempo. Nestes casos
é possível usar-se do máximo respeito pela preexistência limitando-se as operações ao mínimo indispensável; como se
recomenda, também, a salvaguarda desse reboco sem se renovarem as cores (N.T – tintas), com o objectivo de se
manterem os vestígios da sua passagem pelo tempo.

- O reboco apresenta-se bem conservado, mas algumas partes (mais ou menos amplas) estão ausentes. A presença
de lacunas (localizadas frequentemente na base da construção, por patologias consequentes da humidade
ascendente) não justifica (seja em termos culturais, seja em termos económicos) nem a substituição sistemática de
todo o revestimento nem a pintura das fachadas exteriores.
Neste caso deve-se proceder à reparação das partes em falta, pelo emprego de argamassas cromaticamente
controladas ou pela utilização de técnicas de tipo pictórico de recuperação em pinturas.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Os Principais Tipos De Intervenção A Nível De Edifícios
2) Intervenções sobre materiais pétreos naturais
- Os elementos em pedra apresentam-se bem conservados. Entendendo-se por boa conservação uma condição em
que os aparelhos decorativos, apesar de apresentarem sinais consistentes da passagem do tempo, se apresentam
formalmente íntegros e sem lacunas, as operações de manutenção consistem na execução de uma ligeira mas
cuidadosa limpeza. Onde particulares condições de agressão ambiental tenham provocado a formação de crostas (de
natureza química, inequivocamente activa e evolutiva) é correcto executar-se uma intervenção de limpeza mais
profunda, mas sempre com total respeito pelo princípio da intervenção mínima e evitando-se a obliteração irreversível
dos sinais do tempo.

- Os elementos em pedra apresentam-se, geralmente, bem conservados mas com pequenas lacunas. Continuando
correctas as recomendações para o caso anterior, devem-se distinguir as seguintes situações:

a) A lacuna consiste na forte degradação de poucos elementos em pedra de cantaria isentos de decorações, mas
com funções construtivas precisas. Neste caso, procedendo-se por modelação ou por substituição de alguns
elementos não se altera, geralmente, a forma da obra;

b) A lacuna consiste na forte degradação ou na ausência de uma parte de um aparelho decorativo.

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Restauro em Moçambique
Patrimónios em Moçambique

O património cultural é preservado não pelos valores, funções ou significados atribuídos no passado, mas sim pelo
simbolismo que representa no presente e que representará para as futuras gerações” (Fernandes 2008: 17).

“ Não existe nenhum método universal para a conservação e restauro do património cultural imóvel (monumentos,
conjunto e sitio).Cada categoria do património imóvel tem os seus problemas humanos, geológicos e ambientais que
mudam com o tempo. Existem princípios gerais de conservação e restauro que podem ser aplicados aos bens imóveis
do património cultural, em Moçambique, apesar dos constrangimentos e desafios que se colocam na sua preservação
“(Macamo 2014:23).

Para promover o património cultural, é fundamental estabelecer os valores que o mesmo encerra, também as
estratégias de protecção e conservação podem mudar de acordo com o contexto e os valores associados ao bem
patrimonial (Fonseca & Dória 2007-2008:03). Tomemos como exemplo os CFM. Este imóvel possui os seguintes
valores: social, histórico, económico, arquitectónico e artístico, em que os mesmos valores não são estáticos.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Restauro em Moçambique
Níveis de intervenção aplicados ao património edificado em Moçambique

De acordo com a política de Monumentos, os níveis de intervenção permitidos no património


edificado são os seguintes:

• “Preservação – para manter o imóvel na condição em que se encontra, tentando ao mesmo tempo, travar ou
retardar a sua deterioração;
• Manutenção – para a protecção contínua do imóvel, do seu conteúdo e contexto;
• Conservação – para manter ou recuperar as condições originais de um imóvel, garantindo a integridade dos
objectos ou estruturas que dele fazem parte;
• Reabilitação – para modificar um imóvel de modo a corresponder à uma utilização compatível;
• Restauro – para reproduzir a condição de uma estrutura previamente conhecida do imóvel, adicionando materiais
antigos ou novos;
• Reconstrução – para tornar o imóvel, tanto quanto possível, semelhante à aparência original conhecida, distinguindo
a introdução no mesmo imóvel de materiais novos ou antigos;
• Reparação – para repor, quando necessário ou periodicamente, as condições de construção e de uso do imóvel de
modo a garantir a integridade e durabilidade das operações de que foi alvo”. (Resolução nr. 12/2010).

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Restauro em Moçambique
O sector Estatal que superintende a área do património edificado era até recentemente o Ministério da Cultura, hoje
Ministério da Cultura e Turismo. A DNPC é o órgão central do Ministério na Cultura e Turismo, à qual compete a
coordenação e materialização das políticas dos monumentos e museus e que zela pelo cumprimento dos planos e
programas do Governo na área de preservação e valorização do património cultural.

Presentemente, ela funciona na Casa de Ferro, imóvel do património cultural edificado protegido por lei. Esta direcção
orienta-se em conformidade com as linhas constitucionais e leis especificas vigentes na República de Moçambique,
bem como pela observância da Política Cultural de Moçambique e Estratégia da sua Implementação, tendo a Cultura
como factor de identidade e de desenvolvimento sustentável (MC/DNPC 2013).
A DNPC tem a missão de coordenar a actividade ligadas à identificação, inventariação, registo, preservação e
valorização dos bens culturais materiais do património cultural moçambicano, como componente da identidade
nacional. São funções da Direcção Nacional do Património Cultural:

a)Dirigir, planificar, promover e coordenar a pesquisa, salvaguarda e valorização do património cultural;

b)Propor o quadro legislativo para a protecção do património cultural, bem como as normas para o funcionamento
dos serviços e instituições da área;

c)Propor os regulamentos e outras normas de aplicação da Lei de Protecção do Património Cultural, incluindo a
classificação dos bens do património cultural e a organização e actualização do seu inventário;
CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO
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Restauro em Moçambique
d)Proceder ao licenciamento de actividades de pesquisa arqueológica e de intervenção em bens do Património
Edificado;
e)Coordenar a implementação da política museológica, criar um sistema de museus e alargar o número dos museus
para todo pais;
f)Definir as normas de conservação e restauro de monumentos, regulamentar o processo de declaração de novos
monumentos e manter actualizado o inventário de monumentos, conjuntos e sítios do património cultural;
g)Propor modelos de gestão do património cultural imóvel e coordenar acções atinentes a criação de monumentos
comemorativos ou memoriais que reflictam a nova realidade do pais;
h)Promover acções para o enriquecimento, valorização e conservação do fundo bibliográfico de Moçambique,
incluindo a elaboração de normas que assegurem a realização do depósito legal;
i)Incentivar a edição de obras referentes ao património cultural;
j)Promover e incentivar a criação de arquivos especializados, na área do património cultural, de documentação escrita,
sonora, visual e audiovisual, e regulamentar o seu funcionamento;
k)Promover a educação dos cidadãos na protecção e valorização dos bens do património cultural e estimular a sua
utilização para fins educativos e turísticos;
l)Promover o conhecimento e valorização do património cultural, enquanto elemento da identidade cultural
moçambicana” (Ministério da Cultura, 2013).

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Conclusão
Após aprofundadas pesquisas sobre a conservação, o restauro e requalificação, de uma forma generalizada, e a
posterior enfocando a arquitectura, pudemos sintetizar que ao longo dos tempos a história é criada e materializada,
e como forma de salvaguardar essas heranças monumentais houve a necessidade de se criar termos, princípios,
técnicas, que de tempos em tempos, trazendo melhorias, garantem o respeito pelo seu significado cultural, histórico,
estético e artístico com intervenções rotineiras visando manter a integridade dos bens culturais. De salientar que
essas intervenções vêm, de uma forma geral, garantir que o objecto que se quer preservar dure por gerações e
gerações, a finalidade não é de obstruir ou de qualquer forma alterar a informação histórica que cada monumento
transmite, com isso, são abordadas técnicas e directrizes que se devem tomar em consideração quando se pretende
intervir na requalificação, restauro, ou mesmo conservação de um bem histórico. Além dos cuidados que se deve ter
em conta na intervenção de projectos deste caracter, há que também se ter em conta de que deve haver um
interesse em se conservar, restaurar ou requalificar os mesmos bens, para que, em ultima instância não se tornem
meros edificados em um estado de deterioração tão avançado que seja alvo de invasões, vandalizações, e em ultima
instancia a destruição de uma história.

CONSERVAÇÃO, RESTAURO E REABILITAÇÃO


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Referências Bibliográficas
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FIM
OBRIGADO PELA ATENÇÃO DISPENSADA!

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