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J. Meirinhos, «Manuscritos e leituras de S.

Bernardo em Portugal na Idade Média», em Cister: por entre


História e Imaginário. Livro do IX Encontro Cultural São Cristóvão de Lafões, Associação dos Amigos do
Mosteiro de São Cristóvão de Lafões, São Cristóvão de Lafões 2014, pp. 97-129 (ISBN:
978-989-97817-2-6).
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média 97
José Meirinhos
Cister: por entre História e Imaginário
pp. 97-129

Manuscritos e leituras de S. Bernardo em


Portugal na Idade Média

José Meirinhos*

B ernardo, abade de Claraval e uma das mais importantes personalidades


do mundo cristão do século XII, teve uma influência determinante na ex-
pansão da Ordem Cisterciense por toda a Europa, fazendo também chegar a nova
ordem monástica a Portugal no momento de formação do reino. A sua ação de sol-
dado da fé e de crente na força das armas para a expansão da fé, desde cedo ficou
associada ao movimento de conquista territorial que seria fundamental para a pró-
pria formação e afirmação do reino de Portugal. Essa relação transparece na lite-
ratura, na documentação e na historiografia, que aqui serão estudadas. Estuda-se
(1) a relação imaginada ou real de Bernardo com a fundação Portugal, tratando-
se depois a receção da sua obra, que ocorre a múltiplos níveis. Desde logo, pro-
curando (2) o lugar da leitura e dos livros na vida dos Cistercienses, através de (3)
testemunhos da existência de bibliotecas e da prática da leitura nos mosteiros da
Ordem de Cister em Portugal, e da (4) identificação dos manuscritos que chega-
ram até nós com obras de Bernardo de Claraval e, por fim, (5) alguns testemunhos
da leitura de Bernardo em dois sermonários latinos de autores portugueses do sé-
culo XIII e em duas obras de espiritualidade do final da Idade Média em português.

* Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).


Endereços electrónicos: meirinhos@letras.up.pt e http://ifilosofia.up.pt/inv/meirinhos
98 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

1. S. Bernardo e Portugal

As edições impressas das Cartas de S. Bernardo incluíam quatro cartas que li-
gavam o primeiro abade de Claraval a Portugal, entre as quase 500 cartas que lhe
estão atribuídas e chegaram até nós. A carta 308 está dirigida a Afonso Henriques
enviada através de frei Rolando para lhe entregar uma carta que atesta a munifi-
cência Apostólica, mencionando-se com essa expressão talvez o título papal de re-
conhecimento de Afonso como rei, na sequência do seu pedido a Bernardo para in-
termediar junto do sumo Pontífice; a carta 463 também está dirigida a Afonso
Henriques, mencionando um mosteiro a construir após a vitória sobre os sarrace-
nos; a carta 464 está dirigida a João Cirita sobre a fundação de mosteiros de Cis-
ter em Portugal; a carta 470 é dirigida por Afonso Henriques ao Abade de Clara-
val a dar notícia da conquista de Santarém, com a promessa de a assinalar com a
fundação de um mosteiro da Ordem de Cister1, e que viria a ser Alcobaça.
As cartas 308, 463 e 470 fundamentaram durante longo tempo que S. Ber-
nardo tinha tido intervenção direta quer no reconhecimento pelo papa do título de
rei a D. Afonso Henriques, quer na fundação do mosteiro de Alcobaça em retri-
buição de uma intervenção milagrosa na conquista de Santarém. Nessas cartas, se
basearia o enfeudamento de Alcobaça e o tributo perpétuo a pagar anualmente por
Portugal ao mosteiro de Santa Maria de Claraval2. Jean Mabillon, autor da edi-
ção das Cartas mais tarde retomada pela Patrologia latina, considerara já as car-
tas 463 e 470 como apócrifas3.
Também a pretensa carta de Bernardo a João Cirita foi considerada apócrifa.
Subsistia a curta carta 308 dirigida a Afonso Henriques, com um conteúdo onde
é mencionado Pedro Afonso como irmão do rei, e onde se dizia que um frade de
Claraval era portador de cartas que atestavam a munificência papal, o que pode

1 Patrologia latina, ed. J.-P. Migne, 4 vol., Paris 1879, vol. 182, respetivamente col. 521,
668, 669, 675. A Patrologia retoma a edição de J. Mabillon, Sancti Bernardi Abbatis
Primi Clarevallensis et Ecclesiae Doctoris Opera Omnia, 6 vol., Apud Fredericum Leo-
nard, 1667 (2ª ed. 1690). Foi entretanto publicada a edição crítica das Sancti Bernar-
di opera, 9 vol., ed. J. Leclercq – C.H. Talbot – H.M. Rochais, Roma, Editiones Cis-
tercienses, 1957–1977; o texto latino desta edição foi retomado na edição bilingue San
Bernardo, Obras completas, 8 vol., Madrid, BAC, 1993-2006. As Éditions du Cerf têm
em curso de publicação as Œuvres complétes (Col. Sources chrétiènnes), Paris 1990-seg.
2 Cf. M. Cocheril – Études sur le monachisme en Espagne et au Portugal, Société d’É-
ditions Les Belles Lettres, Paris 1966. cap. IV «Les relations de Saint Bernard avec le
Portugal», pp. 255-322.
3 As cartas 463 e 470 foram inseridas nas edições da obra de S. Bernardo a partir da
publicação na Monarchia Lusitana de Frei Bernardo de Brito, cfr. Cocheril – Études,
cit., p. 270, n. 27. A carta 308 aparece pela primeira vez em Frei Bernardo de Brito –
Primeyra parte. A chronica de Cister onde se contam cousas principais desta religiam
com muytas antiguidades, asy do Reino de Portugal como de outros muytos da Chris-
tandade, Lisboa, Pedro Crasbeek, 1602, Livro III, cap. V, ff. 131v-132r (com texto e
tradução), cfr. Cocheril – Études, cit., p. 303. As cartas 308, 463 e 470 não figuram em
qualquer manuscrito colacionado para a edição crítica preparada por Jean Leclercq, cfr.
Idem, p. 281, n. 63. Nas cartas 463, 464 e 470 o editor escreveu apenas «A Sancto Ber-
nardo scriptae non sunt», cf. S. Bernardi Epistolae, (Opera, vol. VIII.2), Romae: Ed.
Cistercienses, 1977, pp. 446 e 447; San Bernardo, Cartas, Obras Completas, vol. 7, cit.,
pp. 1238, 1240.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 99

indicar o reconhecimento do título de Afonso Henriques, o qual de facto apenas


viria a ocorrer em 1179, quase 26 anos após a morte de Bernardo. Esta carta re-
sistiu mais tempo à crítica filológica, até que Dom Maur Cocheril, num estudo de
rigorosa acribia literária e histórica, demonstrou que se tratava de mais uma fal-
sificação de frei Bernardo de Brito (1569-1617), cronista mor do reino e monge de
Alcobaça4. Defendia-se, assim, que os quatro documentos são falsificações no sé-
culo XVII, o que retirava fundamento à pretensão de uma relação direta e inte-
ressada de S. Bernardo com Portugal. Contudo, na sequência de estudos de Harold
Livermore sobre a carta a Osberto onde se narra a conquista de Lisboa5, José Mat-
toso recupera a validade do documento que, mesmo podendo ser falso, testemu-
nharia um fundo histórico verdadeiro que é a relação direta de S. Bernardo com
Portugal através da mobilização de cruzados com a incumbência de combaterem
na tomada de Lisboa6. Mattoso conclui que não são definitivos os argumentos con-
tra a autenticidade da carta e que mesmo que ela seja falsa, «nem por isso se pode
esquecer a possível veracidade do facto que lhe deu origem7». Esbatida a nature-
za da falsificação, é recuperada de novo a tese da relação direta de S. Bernardo com
Portugal, desde logo pelo envio de monges para a fundação de mosteiros, mas so-
bretudo também como defensor das pretensões de Afonso Henriques ao título de
rei, assim como aos seus esforços de guerra de cruzada para ampliação do peque-
no território de que era senhor e que lhe permitiria aspirar ao reconhecimento
como rei. S. Bernardo pode pois ser apresentado como figura tutelar da formação
do reino de Portugal.
Sem poder aqui entrar no mérito desta discussão, que parece longe de estar en-
cerrada e que precisa de ser revisitada na crítica filológica e nos critérios para tor-
nar plausíveis os factos alegados por uma carta falsificada, pretende-se sim inda-
gar a outra presença de Bernardo de Claraval em Portugal ao longo da Idade Mé-
dia, aquela que pode ser acompanhada através das suas obras, como foram rece-
bidas, lidas e conservadas.

4 Edição crítica de J. Leclercq em S. Bernardi Epistolae, cit., p. 228, trad. em San Ber-
nardo, Cartas, cit., pp. 926-928. No aparato de notas, em ambos os casos se remete
para o estudo de M. Cocheril, mas sem ser mencionada a natureza apócrifa da carta,
embora Leclercq anote que, segundo Cocheril, Pedro e Rolando mencionados na car-
ta nunca existiram. Contudo, na Introdução, p. XIV, Jacques Leclercq explicou que a
carta não está em qualquer manuscrito e que se conhece apenas pela Chronica de Cis-
ter de frei Bernardo de Brito e que é um falso, mas que é publicada de novo, a partir
da edição Mabillon-Migne, «por ter dado lugar a discussão» (a tradução castelhana
simplesmente omite esta importante informação).
5 Cf. H. Livermore – «The ‘Conquest of Lisbon’ and its Author», Portuguese Studies,
6 (1990), pp. 1-16.
6 J. Mattoso – D. Afonso Henriques, (Reis de Portugal) Ed. Temas e debates, Lisboa
2007, pp. 232-235, 240-243. Sobre a importância de S. Bernardo e da Ordem de Cis-
ter para o novo perfil das ordens monásticas em Portugal e a conquista de Lisboa ve-
jam-se também: F. G. Caeiro – «São Bernardo e os primórdios de Santa Cruz de Coim-
bra», em IX Centenário do nascimento de S. Bernardo. Actas do Encontro de Alcoba-
ça e Simpósio de Lisboa, Braga, Universidade Católica Portuguesa – Câmara Munici-
pal de Alcobaça, 1991, pp. 219-232; P.G. Barbosa – «S. Bernardo e a Independência
de Portugal», ibid., pp. 337-349.
7 Mattoso – D. Afonso Henriques, cit., p. 235.
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2. Livros e leitura no quotidiano dos Cistercienses

Bernardo foi responsável pela implantação da Ordem de Cister em Portugal e


é durante o seu abaciado que decorre o período de maior expansão da Ordem no
reino8. É durante o reinado de Afonso Henriques e sob sua proteção que ocorre a
chegada e a mais rápida e extensa implantação territorial da Ordem, quer por con-
versão de eremitérios, sobretudo no vale do Douro, aos costumes da Ordem, quer
por fundação de novos mosteiros9. Bernardo é o pai tutelar mencionado nos do-
cumentos e na memória da Ordem e dos seus mosteiros, como é explícito no Exór-
dio do mosteiro de S. João de Tarouca, onde se mencionam os nomes dos 8 frades
«a P. nostro Bernardo tunc claravalense Abbate missi / enviados pelo nosso pai Ber-
nardo, então abade de Claraval»10 com uma carta encomendando João Cirita para
que com eles edificasse um mosteiro. A organização hierárquica da Ordem, que
obriga que o abade da casa mãe visite em cada ano os mosteiros que a sua casa ti-
ver fundado11 e a obrigatoriedade de todas os abades reunirem em capítulo
anual12, manterá viva a ligação e dependência dos mais antigos e importantes mos-
teiros portugueses com Claraval, até à fundação da Congregação Portuguesa, com
cabeça em Alcobaça, reconhecida pelo papa em 1567, que torna os mosteiros in-
dependentes daquela ligação que provinha das origens13. Roberto de Molesme
(1028-1112) com 21 companheiros fundara um mosteiro em Cister / Citeaux em
1098 para viver de modo mais rigoroso a regra de S. Bento, dando assim origem

8 Entre todos, ver o estudo de M. A. Marques – «A introdução da Ordem de Cister em


Portugal», em La introducción del Císter en España y Portugal, Actas, La Olmeda (Bur-
gos), pp. 155-193, agora em Ead., Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, (Es-
tudos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 24) Lisboa, Colibri, 1998,
pp. 29-73 (cita-se a partir desta edição).
9 Ead. – «A introdução da Ordem de Cister em Portugal», cit, pp. 48-49, 59-61, es-
tando mesmo identificada a presença de monges fundadores provenientes de Claraval,
p. 54. Ocupação do território e cronologia da expansão são ilustradas pelos 2 mapas
das pp. 72-73.
10 Ed. e trad. em Ead. – «A introdução da Ordem de Cister em Portugal», pp. 65-71,
cit. nas pp. 65 e 69.
11 Carta de Caridade, VI.1-2. Para os textos fundacionais da Ordem de Cister cita-se
a partir de Cister, os documentos primitivos. No 9º centenário da fundação de Cister,
trad., introd. e comentários por A. A. Nascimento, Lisboa, ed. Colibri, 1999, que in-
clui: Notícia da fundação de Cister (Exordium paruum), Exórdio de Cister (Exordium
Cistercense), Carta de Caridade (Carta caritatis), Estatutos anteriores a 1134, Estatu-
tos ditos de 1134, Usos dos conversos, além de outros textos em anexo, sobre a origem
da Ordem.
12 Exórdio de Cister, III-IV, em Cister, os documentos primitivos, cit., pp. 55-56; Car-
ta de Caridade, VI-VII, ibidem, pp. 71-73.
13 Para uma síntese sobre Cister em Portugal, ver P.G. Barbosa – «Cistercienses», em
C.M. Azevedo (dir.), Dicionário de História Religiosa de Portugal, Lisboa, Círculo de
Leitores, 2000, vol. I, pp. 346-351; Ordens religiosas em Portugal: das origens a Tren-
to. Guia histórico, dir. B. Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2006 2ªed.;
J. VARANDAS – «Citercienses», em Dicionário histórico das ordens e instituições afins
em Portugal, dir. J. E. Franco et al., Lisboa, Gradiva, 2010, pp. 109-119 e sobretudo
os estudos reunidos em M. A. Marques – Estudos sobre a Ordem de Cister em Portu-
gal, cit.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 101

à ordem que tomou o nome do seu primeiro mosteiro14. Em 1115, pouco mais de
dois anos após entrar em Cister, Bernardo é enviado por Estêvão de Harding, ter-
ceiro abade de Cister, a fundar um mosteiro em Claraval no qual seria de imedia-
to eleito abade, função que manteve até ao final da vida, em 1153. Pela sua capa-
cidade de intervenção Bernardo, a partir de Claraval, tornar-se-á num dos grandes
responsáveis pela pujança e rápida difusão da ordem por toda a Europa.
Embora a ação de Bernardo, para o exterior e para o interior da Ordem, te-
nha sido influente sobretudo pela palavra proferida e pelo exemplo espiritual, as
suas obras, cartas e sermões são passados a escrito15. Bernardo não é apenas um
organizador incansável, é também um pensador irrequieto, um místico inspirado,
um adversário doutrinal temível16, e um escritor com um estilo refinado e vivo,
onde usa com mestria as artes da argumentação, que critica em outros quando as
aplicam às questões teológicas17.
A personalidade carismática de Bernardo coloca-o no centro da atividade ecle-
siástica e política, marcando o rumo da cristandade no seu tempo. O seu caráter,
a um tempo contemplativo e místico, mas também combativo e tenaz, permite-lhe
exercer uma extraordinária influência na vida monástica, eclesiástica, política e mi-
litar do seu tempo. Terá sido essa força a levar o rei de Portugal a procurar o seu
apoio, dando-lhe como contrapartida as condições para a instalação da Ordem em
Portugal. Aspirando ao abandono do mundo para se dedicar à contemplação di-
vina, mas empenhado e solicitado a envolver-se nos negócios militares e políticos,
Bernardo vive os dilemas da sua condição de monge entregue a questões munda-

14 De entre a numerosa bibliografia, cfr. esta mais recente: C. H. Berman – The Cis-
tercian Evolution, The Invention of a Religious Order in Twelfth-Century Europe, Phi-
ladelphia, University of Pennsylvania Press, 2000; J. Burton & J. Kerr – The Cistercians
in the Middle Ages, (Monastic Orders), Woodbridge, The Boydell Press, 2011; M. B.
Bruun (ed.) – The Cambridge Companion to the Cistercian Order, Cambridge, Cam-
bridge University Press, 2012.
15 Para introdução ao estudo do pensamento e da obra de Bernardo Claraval são in-
dispensáveis E. Gilson – La théologie mystique se S. Bernard, Paris, Vrin, 1935 (reed.
1985); J. Leclercq – St. Bernard et l’esprit cistercien, Paris, Seuil, 1966; Idem – Recueil
d’études sur saint Bernard et ses écrits, 5 vol., Roma, Edizioni di Storia e Letteratura,
1962-1990; B.P. McGuire – A Companion to Bernard of Clairvaux, (Brill’s companions
to the Christian tradition), Leiden – Boston, Brill, 2011. Está traduzida em português
a detalhada biografia por A. Luddy – Bernardo de Claraval, trad., Lisboa, Ed. Aster,
1950. Ver também M. C. Pacheco – «Ordinatio caritatis. Reflexões sobre a ascese e a
mística no pensamento de S. Bernardo», em IX Centenário do nascimento de S. Ber-
nardo. Actas do Encontro de Alcobaça e Simpósio de Lisboa, Braga, Universidade Ca-
tólica Portuguesa – Câmara Municipal de Alcobaça, 1991, pp. 27-40.
16 São marcantes as polémicas teológicas em que se envolve contra Pedro Abelardo e
contra Gilberto, bispo de Poitiers. Frei Bernardo de Brito deve ter sido o primeiro a tra-
tar em português estas polémicas, cfr. B. de Brito – Primeyra parte. A chronica de Cis-
ter, ed. cit., Livro III, cap. 7, ff. 136r-138v, sobre «Pedro Abailardo hereje» e como Ber-
nardo o confrontou no Concílio de Sens; cap. 23, ff. 173v-175v, sobre as heresias de
Gilberto de Poitiers, que Bernardo refutou no concílio de Reims.
17 Sobre o vocabulário e o estilo de Bernardo é indispensável Ch. de Mohrmann – «Ob-
servations sur la langue et le style de S. Bernard», em Sancti Bernardi opera, ed. J. Le-
clercq et al., ed. cit., vol. II, pp. IX-XXXIII.
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nas. Ele que queria dedicar-se à vida religiosa em silêncio e pura contemplação. É
essa contradição que descreve quando se lamenta em carta ao prior de Portes:
«Sou a quimera do meu século, pois não vivo como clérigo nem como lai-
co. Não deixei o hábito de monge, mas há muito que abandonei esse gé-
nero de vida»18.

Esta tensão entre a intervenção nas questões mundanas para defesa e expan-
são da fé, e o desejo de recolhimento contemplativo para realização de uma vida
pura, atravessa a vida e a obra de Bernardo.
A espiritualidade cisterciense, baseada numa interpretação reformada e rigo-
rista da regra de S. Bento, acentua na proposta de Bernardo a fuga do mundo atra-
vés de uma vida de austeridade e contenção19, no vestuário, na alimentação e no
despojamento dos bens materiais, para uma mais pura e livre dedicação à oração
e às ocupações quotidianas pelas quais se podia exprimir o louvor a Deus. Faziam
desse modo de viver um sinal de rutura com o monaquismo beneditino do seu tem-
po, revolucionando a aparição do homem novo:
«Despojados pois do homem velho, exultavam por se terem revestido do
homem novo»20.

É pois a uma via exigente e sem compromissos que se entregam. O próprio


Bernardo faz muitas vezes a descrição incisiva dos trabalhos de vida que ocupam
o monge, como quando escreve aos monges de Aulps, que haviam decidido entrar
na Ordem de Cister sob Claraval e buscavam orientação para a eleição do abade:
«A nossa Ordem é abjeção, é humildade, é pobreza voluntária, obediên-
cia, paz, alegria no Espírito Santo. A nossa ordem é ser submisso ao mes-
tre, ao abade, à Regra, à disciplina. A nossa ordem é observar o silêncio,
é exercitar-se nos jejuns, nas vigílias, nas orações, nos trabalhos das mãos
e, acima de tudo, seguir o caminho mais excelente, que é o amor; acima de
tudo, é progredir em tudo isso de dia para dia e nisso perseverar até ao úl-
timo dia»21.

O mosteiro erguido em local ermo e separado do mundo é o lugar idealizado


para a busca da perfeição de vida pela disciplina e obediência. Bernardo mencio-
na as orações e o trabalho manual nas ocupações diárias do monge, como meio
18 Carta 250, § 4; Sancti Bernardi opera, ed. Leclercq, p. 147; Cartas, cit., p. 800.
19 Na expressão do Exórdio de Cister sobre as razões da fundação do primeiro mos-
teiro para observação com mais rigor quanto estava estabelecido na Regra de S. Ben-
to, «preferiram então dedicar-se exclusivamente aos exercícios celestes a embrenhar-se
nos negócios terrenos», I.3, cit., p. 59. Os Estatutos anteriores a 1134 estabelecem como
primeira regra que os mosteiros não são erguidos nas cidades, castelos ou aldeias, «mas
em locais afastados do convívio dos homens», em Cister, os documentos primitivos, cit.,
p. 81.
20 Notícia da fundação de Cister, em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 41.
21 Carta 142.1, Epistolae, Sancti Bernardi opera, ed. Leclercq, p. 340; Cartas, ed. cit.,
pp. 510-512. Cf. P. Nouzille – «Bernard de Clairvaux», em C. Gauvard et al., Dic-
tionnaire du Moyen Âge, Paris, PUF, 2002, pp. 151-154.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 103

para a meditação e a contemplação como ideal de vida monástica, não o estudo


ou a especulação, muito menos a simples curiosidade pelo saber22. Contudo, a lei-
tura tem um certo lugar no quotidiano cisterciense. Para a formação espiritual e a
regulação da vida em comunidade os livros são indispensáveis e, portanto, também
a aprendizagem da leitura e da escrita.
Nos documentos fundacionais da Ordem de Cister é prescrito que todos os
mosteiros da ordem devem ter os mesmos livros litúrgicos: «missal, evangeliário,
epistolário, colectário, gradual, antifonário, himnário, saltério, lecionário, Regra,
martirológio»23, para que nos diferentes mosteiros e entre os monges «não haja
qualquer discrepância» e vivam «numa só caridade, uma única regra e costumes
semelhantes»24. A Regra de S. Bento, adotada pela Ordem para ser vivida com ex-
tremo rigor25, era mais explícita quanto aos livros e à necessidade da leitura na vida
quotidiana dos monges26. O Exordium Cistercense, datável de momento próximo
da fundação de Claraval, c. 1124-1128, no capítulo sobre a fundação de abadias
estabelece que
«não se pode enviar um novo abade para fazer uma nova fundação sem
pelo menos doze monges, sem que entre os livros haja um saltério, um him-
nário, um colectário, um antifonário, um gradual, uma Regra, um missal
(...).
Com o objetivo de perpetuar entre as abadias uma unidade indissolúvel,
estabeleceu-se como norma suprema que a regra de S. Bento será inter-
pretada de uma única maneira e que ninguém se afaste daí, mesmo que seja
num pequeno traço»27.

Estas disposições encontram-se também na Carta de Caridade, o documento


fundacional de Cister, datado de 111928, e nos Estatutos ou Capitula anteriores a
113429. Os textos constituintes da ordem de Cister são precisos em indicações so-
bre o lugar simbólico e instrumental do livro. E nos Estatutos era estabelecido mais

22 Sobre a atitude dos cistercienses perante o saber, cfr. A. Dimier – «Les premiers cis-
terciens étaient-ils ennemis des études?», Studia monastica, 4 (1960), pp. 69-91; B.W.
O’Dwyer, «The Problem of Education in the Cistercian Order», Journal of Religious
History, 3 (1995), pp. 238-245.
23 Exordium Cistercense, X, em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 58. Nos Es-
tatutos anteriores a 1134 a lista é ligeiramente diferente: «missal, epistolário, evange-
liário, colectário, gradual, antifonário, Regra, himnário, saltério, lecionário, calendá-
rio», ibidem, p. 82.
24 Carta Caritatis, III, em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 70.
25 Cfr. Exordium parvum, I.2, XV, Carta Caritatis, II.2, Estatutos anteriores a 1134,
II, em Cister, os documentos primitivos, cit., respetivamente pp. 27, 41, 70, 81.
26 Regra do glorioso patriarca S. Bento, Singeverga, Ora et Labora, 1951, cap. 38 so-
bre leitura pública, cap. 48 sobre leitura privada.
27 Exordium Cistercense, IX.1 e X.2, em Cister, os documentos primitivos, cit., pp. 57,
58.
28 Carta de Caridade, III.2., em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 70.
29 Estatutos, cf. §§ II, XII e XIII, em Cister, os documentos primitivos, cit., pp. 81 e
83.
104 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

um elemento relativo aos livros, que marcará a atividade dos scriptoria cister-
cienses:
«Proibimos que nos livros das nossas comunidades haja peças, que usual-
mente recebem os nomes de fechos, que sejam de ouro ou de prata, ou mes-
mo prateados e dourados, nem haja códice algum recoberto de brocado»30.

A prescrição refere-se apenas ao exterior visível do livro, despojando-o de qual-


quer elemento decorativo que denote riqueza e luxo. Esta disposição concretiza no
livro, enquanto objeto de uso, a austeridade exigida na vida monástica cistercien-
se e está de acordo com a sobriedade da decoração dos códices produzidos nos seus
scriptoria. A contenção no uso das representações e da cor é estatuída às próprias
igrejas:
«Proibimos que haja esculturas ou pinturas nas nossas igrejas ou em quais-
quer dependências do mosteiro, pois quando se olha para elas, deita-se a
perder a utilidade da boa meditação ou a disciplina da gravidade monás-
tica. No entanto, temos cruzes pintadas que são de madeira»31.

Também a decoração dos códices, sobretudo nas origens da Ordem, é de gran-


de sobriedade, dispensando imagens narrativas, mas valorizando ainda assim a fun-
cionalidade da decoração de inicial, preferentemente mono ou bicromática e com
elementos fitomórficos em disposição arquitetural. No interior dos livros exprime-
se essa mesma estética da austeridade que explora a elegância gráfica e decorati-
va das formas simples e de uma reduzida paleta de cores32 e que dão um caráter
unitário e distintivo aos códices cistercienses. De qualquer modo nos períodos pos-
teriores perde-se este gosto da depuração, adoptando-se os mesmos modos e téc-
nicas de representação narrativa e mais amplo cromatismo, incluindo até o ouro33.
A Regra de S. Bento era bem explícita quanto aos livros e à necessidade da lei-
tura na vida quotidiana dos monges, prescrevendo em particular a leitura em alta
voz durante as refeições, tomadas em absoluto silêncio, que nem podia ser inter-

30 Estatutos, § XIII, em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 83.


31 Estatutos anteriores a 1134, XX, em Cister, os documentos primitivos, cit., p. 84.
32 São a este respeito significativos os estudos sobre a decoração nos manuscritos cis-
tercienses em Portugal por M. A. Miranda – «A Inicial Ornada nos Manuscritos Al-
cobacenses. Um percurso através do seu Imaginário», Ler História, 8, (1986), pp. 3-33;
Ead. – A iluminura românica em Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça.
Subsídios para o estudo da iluminura em Portugal, tese de doutoramento, Lisboa,
FCSH-UNL, 1996; Ead. – «A iluminura românica em Portugal», em A iluminura em
Portugal: identidade e influências (do séc. X ao XVI). Catálogo da exposição, ed. A.A.
Nascimento – M.A. Miranda, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1999, pp. 127-235; H.A.
Peixeiro – «A iluminura em Portugal nos séculos XIV e XV», em IX Centenário do nas-
cimento de S. Bernardo. Actas do Encontro de Alcobaça e Simpósio de Lisboa, cit., pp.
181-194; Id. – «Um missal cisterciense iluminado (Alc. 26) e as representações da Vir-
gem e de S. Bernardo», ibidem, pp. 195-218.
33 Veja-se o mais exuberante programa decorativo e as iniciais historiadas do missal
de Alcobaça no estudo acabado de citar: H. Peixeiro – «Um missal cisterciense ilumi-
nado (Alc. 26)».
34 Regra do glorioso patriarca S. Bento, cap. XXXVIII, cit., pp. 50-51.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 105

rompido para pedir o necessário à refeição ou sobre o próprio conteúdo da leitu-


ra escutada34. Por esta razão as refeições dos monges cistercienses são sempre to-
madas em silêncio, ouvindo uma leitura feita por um monge, na maioria dos mos-
teiros colocado numa cadeira a altura sobrelevada. No imponente refeitório do sé-
culo XII-XIII de Alcobaça existe um belo púlpito do leitor, situado num dos lados
dessa ampla divisão. As leituras neste contexto deveriam ser diversificadas, com a
leitura de obras integrais ao longo de várias refeições. Entre essas leituras encon-
tram-se obras de formação moral, sermonários e comentários patrísticos, que en-
contramos nas bibliotecas e nos inventários de mosteiros cistercienses.
A leitura privada é feita no claustro da leitura, a ala norte do claustro, encos-
tada à igreja35. Aí devem existir cadeiras de leitura ou bancos corridos para os
monges, geralmente encostados à parede da Igreja, tendo o abade uma cadeira so-
brelevada e colocada de frente para os monges. Nesse local se leem em comum as
Colações de Cassiano ou outra lectio divina antes de Vésperas. A biblioteca ou ar-
marium é portanto o lugar onde se guardam os livros e não propriamente um lu-
gar de leitura. Não é improvável que o claustro funcionasse também como scrip-
torium, exceto no inverno, altura em que os copistas, devido à quase imobilidade
que a tarefa envolve e às agruras deste trabalho penoso, estavam autorizados a tra-
balhar no caldarium. De qualquer modo, como escreveu Aires Nascimento, «mais
que um local, o scriptorium era uma atividade que há-de ser apreciada nos seus
produtos»36. Isto é, nos próprios códices, mas também na atividade de leitura que
eles permitem.
Na carta de visitação de D. Edme de Saulieu ao mosteiro de Santa Maria da
Estrela, datada de 11 de fevereiro de 1533, é prescrito algo que faz parte do quo-
tidiano dos monges cistercienses desde o início da Ordem, o que pode indicar que
o hábito de leitura poderia ter aí entrado em relaxamento:
«Determinamos também que os mesmos frades, realizado o ofício divino,
se entreguem à leitura, à meditação ou a qualquer outra ocupação manual
honesta, para que nunca sejam ociosos»37.

A leitura é uma ocupação que permite ao monge a concentração sobre si, com-
batendo o maior inimigo da vida monástica: o ócio e os vícios que lhe estão asso-
ciados e que o afastam do fim mesmo a que se deve entregar a vida do religioso,
a oração e a contemplação. Mas, a leitura não é atividade de toda a comunidade,
ela apenas é permitida, ou obrigatória, para os monges de coro, os tonsurados, e
mesmo alguns destes podem dedicar-se apenas ao trabalho manual. Já para os con-
versos, parte importante, mas separada, da comunidade cisterciense, a leitura é cla-
ramente proscrita nos próprios textos constituintes:

35 J. Burton & J. Kerr – The Cistercians in the Middle Ages, cit., p. 72.
36 Cf. Nascimento – «A experiência do livro», cit, p. 129 e pp. 140-141 sobre o fun-
cionamento do scriptorium enquanto atividade.
37 S.A. Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal: séculos XV e XVI,
Lisboa, IPPAR, 1998, doc. IX, p. 244, e cit. p. 247.
106 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

«nenhum deles tenha algum livro e não aprenda outra coisa que não seja
o Pater noster e o Credo in Deum, o Misere mei Deus que lhes está esta-
belecido saberem, mas não por leitura e sim de cor»38.

Os livros eram parte do quotidiano dos monges, para o ofício divino, mas tam-
bém para a aprendizagem das Escrituras, da doutrina e dos preceitos da vida mo-
nástica. Apesar de em muitos momentos essa atenção poder ter sido desvaloriza-
da em favor da contemplação e mesmo do trabalho manual, os mosteiros cister-
cienses dotaram-se de bibliotecas que cresceram com notável rapidez, como a bi-
blioteca da Abadia de Claraval, de onde irradiaram livros e modelos literários para
toda a rede de mosteiros que fundou e que dela dependiam39. Essa dependência ex-
plica não só a comunidade de costumes dos mosteiros cistercienses portugueses,
como também da tradição litúrgica e rituais quotidianos, bem assim como das pre-
ferências de leitura, que se refletem num conjunto bem identificado de títulos e au-
tores, com preferência pelas autoridades patrísticas.

3. Bibliotecas e leitura nos mosteiros cistercienses em Portugal

Entrados em Portugal, seguramente pelo menos a partir de 1142 em S. João de


Tarouca, e desde 1153 em Santa Maria de Alcobaça, os cistercienses rapidamente
disseminaram as suas fundações por território português, muitas vezes por simples
mudança de observância de mosteiros ou eremitérios já existentes, não sem alguns
desaires e dificuldades40.
Como vimos, os livros eram parte essencial na fundação dos mosteiros, mas
pouco sabemos da sua presença e destino nos mosteiros portugueses. São escassas
as informações sobre as bibliotecas dos 7 conventos femininos e dos 16 conventos
masculinos, de desigual importância e dimensão, da Ordem de Cister em Portugal
na Idade Média41. A maior Biblioteca de todas é a de Alcobaça, de que subsistem

38 Usos dos conversos, VIIII, cit., p. 97. Cf. C. van Dijk – «L’instruction et la culture
des frères convers dans les premiers siècles de l’ordre de Citeaux», Collectanea Ordi-
nis Cisterciensium Reformatorum, 24 (1962), pp. 243-258.
39 Cf. A. Bondéelle-Souchier – «Trésor des moines : les Chartreux, les Cisterciens et
leurs livres» em A., Vernet, Histoire des bibliothèques françaises, vol. I, Les bibliothè-
ques médiévales du VIe siècle à 1530, Paris, Ed. du Cercle de la Librairie, 1989, pp. 65-
81; D. N. Bell – «Cistercian libraries and scriptoria», em Bruun (ed.) – The Cambrid-
ge Companion to the Cistercian Order, cit., «Cistercian libraries and scriptoria», pp.
140-150 (não pude consultar estes estudos na íntegra).
40 Lista dos mosteiros e fundações dos cistercienses em Portugal no apêndice a M. Co-
cheril – Alcobaça, abadia cisterciense de Portugal, Lisboa, INCM, 1989, pp. 107-110.
Para uma descrição da história e estado de todos os mosteiros, M. Cocheril – Routier
des abbayes cisterciennes du Portugal, Paris, Fondation Calouste Gulbenkian – Centre
Culturel Portugais, 1986 (ed. rev).
41 S.A. Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal: séculos XV e XVI,
Lisboa, IPPAR, 1998, p. 13 e n. 8.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 107

466 códices, 344 dos quais anteriores a 150042. Este é o maior fundo monástico
nacional, hoje na Biblioteca Nacional, e um dos maiores de mosteiros cistercien-
ses de toda a Europa43. Dos restantes mosteiros apenas de Arouca e Lorvão44 so-
breviveram alguns poucos e dispersos manuscritos45. Sabemos que os manuscritos
e documentos dos mosteiros de S. João de Tarouca e de S. Cristóvão de Lafões ar-
deram no incêndio do seminário de Viseu em 1841, onde estavam depositados46.
Em Alcobaça nos séculos XIII-XV o lugar para a leitura situa-se na ala sul do
claustro de D. Dinis ou do silêncio, junto à Igreja. Na primitiva abadia, e como é
habitual na arquitetura das abadias cistercienses, o pequeno armarium, que é pro-
priamente a biblioteca onde se guardam os livros, está situado na passagem entre
a sacristia e o claustro do capítulo47. Esse local ou outro onde se guardavam livros
terá atingido com o tempo maior dimensão, mas nem sempre com a devida ma-
nutenção. Na visitação por D. Pedro Serrano, em 22 de fevereiro de 1484, assinala-
se a existência de biblioteca, mas para ordenar que «seja reparada, segundo con-
vém, de armários e das demais coisas necessárias48».

42 Cf. Nascimento – «A experiência do livro», cit. pp. 128-129 para uma carateriza-
ção sumária e alguns números significativos. Os antigos inventários e descrições dos có-
dices ficam superados por T. L. Amos, The Fundo Alcobaça of the Biblioteca Nacio-
nal, Lisbon, 3 vol., Minnesota, Hill Monastic Manuscript Library – St. John’s Univer-
sity, 1989.
43 Sobre o livro em Alcobaça, a receção e irradiação dos modelos e leituras cistercien-
ses, cfr. A.A. Nascimento – «A experiência do livro no primitivo meio alcobacense», em
IX Centenário do nascimento de S. Bernardo, cit., pp. 121-145; Id. – «Livro e leituras
em ambiente alcobacense», em ibid., pp. 147-165.
44 Cf. M.A. MARQUES – «Inocêncio III e a passagem do mosteiro de Lorvão para a
Ordem de Cister», em Revista Portuguesa de História, 18 (1980), pp. 231-238, agora
em Ead. – Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal, pp.75-125, sobre os manus-
critos de Lorvão cf. pp. 77-80; A. A. Nascimento – «Tempo e livros medievos: os an-
tigos códices de Lorvão – do esquecimento à recuperação de tradições», Compostela-
num, 56 (2011) 729-753, agora em Id. – Ler contra o tempo. Condições dos textos na
cultura portuguesa (recolha de textos em Hora de Vésperas), Lisboa, Cento de Estudos
Clássicos, 2013, pp. 389-410.
45 S. A. Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal, p. 20 e n. 23. De no-
tar que alguns dos códices hoje no fundo de Alcobaça testemunham ter tido origem em
outros mosteiros portugueses da Ordem.
46 Cocheril – Études, cit., p. 257.
47 Cocheril – Études, cit., planta na Fig. XV. Frei João Claro, prior de Alcobaça entre
1492 e 1495, em carta a el-rei localiza a livraria justamente na passagem da sacristia
para a claustra e descreve como renovar tábuas para acomodar mais livros e «caberem
sobre elas mais de VI centos livros e tantos nom tem Alcobaça», mostrando que eles
estão disponíveis a monges e hóspedes letrados. Editada por S. Viterbo e citada por A.
A. Nascimento – «Em busca de códices Alcobacenses perdidos», Didaskalia, 9 (1979),
pp. 279-288, agora em Id. – Ler contra o tempo, cit., pp. 205-214, cfr. p. 212. Sobre
o assentamento e o espaço edificado em mosteiros portugueses, cfr. M. L. Real – «A or-
ganização do espaço monástico entre os cistercienses, no Portugal medievo», em M. A.
F. Marques – L. C. Amaral (org.) – Monasticon (II): nos caminhos de Cister, S. Cristó-
vão de Lafões, Associação dos Amigos do Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, 2013,
pp. 77-112, sobre os scriptoria, p. 104.
48 «Bibliotheca autem in armarijs et alijs necessarijs prout indiget reparetur», S. A. Go-
mes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal, cit., pp. 125-149, trad. pp.155-
182, cit. da p. 130, trad. p. 160.
108 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

Na ampliação dos séculos XVI-XVIII e com a construção do mais amplo claus-


tro do Rachadoiro ou da Biblioteca, adossado à manga sul é construído um edifí-
cio que tem o arquivo no rés do chão e no primeiro andar e a biblioteca no segundo
andar49. As boas condições criadas para a Biblioteca pouco antes da extinção das
ordens Religiosas em Portugal pode explicar a dimensão do acervo então recupe-
rado e transferido para a Biblioteca Nacional. A situação parece bem diferente para
os outros mosteiros cistercienses.
Parece por isso ser escasso o património codicológico subsistente e pouco re-
presentativo da totalidade de casas cistercienses em Portugal. Também são raros e
parciais os registos de livros cistercienses em Portugal que nos permitam aferir da
dimensão das bibliotecas dos mosteiros ou da dimensão da perda e desgaste de có-
dices ao longo do tempo50. Não se conhece qualquer catálogo medieval de biblio-
tecas cistercienses portuguesas. Por isso, é necessário recorrer aos próprios códi-
ces subsistentes e a inventários e visitações para recolher informações que, embo-
ra dispersas, podem ajudar a recompor um quadro mais geral, embora lacunar, das
leituras e existências de livros. As visitações registam geralmente apenas só os li-
vros de coro ou das sacristias, por ser aí que se encontravam os livros utilizados
no ofício divino. Não é possível saber se a menção a esses livros se faz por inércia
de verificação relativamente ao cumprimento do disposto nos documentos funda-
cionais da Ordem, ou se é para abreviar omitindo os livros existentes no armarium,
ou se é simplesmente porque não existiam outros livros.
No traslado realizado em 1510 do inventário dos ornamentos e ourivesaria que
estavam na Sacristia de Alcobaça, encontra-se uma lista de livros, todos para o ofí-
cio51. Não há qualquer traço de armarium e de códices em maior número e diver-
sidade para a leitura ou o estudo. Num documento de apelação do mosteiro de Al-
cobaça contra a Igreja de Lisboa, descrevem-se os pertences de três igrejas pro-
priedade de Alcobaça e onde se inventariam também os livros, todos relacionados
com o ofício52.
No quotidiano dos monges cistercienses a leitura, o estudo e mesmo a escrita
não são a prioridade. A vida monástica é dedicada à contemplação divina, como

49 Cocheril – Études, cit., plantas na Fig. III, XV, XIX e XX; claustro da leitura na fig.
XLI, sala da biblioteca do séc. XVIII na fig. LV. Refeitório dos séculos XII-XIII, com o
púlpito de leitura, na fig. LII. Sobre o claustro da leitura, ver pp. 61-62; sobre o refei-
tório e o púlpito do leitor, cfr. p. 72.
50 Para suprir informação e reunir todos os testemunhos, seria indispensável a re-
constituição virtual das bibliotecas dos mosteiros cistercienses, como a que está a ser
preparada para a biblioteca de Claraval em 1472: http://www.biblissima-
condorcet.fr/fr/bibliotheque-virtuelle-clairvaux-1472 (consulta em 10.02.2014).
51 Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal, ed. cit., doc. 1, pp. 59-
71, livros cfr. p. 69. É explicitamente mencionado que há um pontifical, dois missais e
um breviário com brochas de pratas (ornamentos desprezados e proibidos pelos textos
fundadores da Ordem, como vimos), algumas quebradas e guardadas à parte.
52 Documento publicado em M.A. Marques – Estudos sobre a Ordem de Cister em
Portugal, cit., pp. 221-236, com livros assinalados nas igrejas de Santa Maria de Alju-
barrota (p. 225), de Santa Eufémia de Cós (p. 226), de Santa Maria de Pederneira (p.
227) e de Santa Maria de Alvorninha (p. 229).
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 109

bem indica D. Francisco da Fonseca, bispo de Titopole, que em carta de 29 de maio


de 1523 escreve de Alcobaça a el-rei informando-o sobre os monges capazes para
ocuparem cargos de governo, não encontrando aí quem satisfaça essa necessida-
de do reino:
«Estes todos que aqui nomeo a Vosa alteza todos merecem mercê. Nam
sam homens de sangue nem letrados. San como disse boons clérigos da or-
dem e sabem na bem, e vsam della, asy os d alcobaça que conheço, como
hos de ceiça letrados nam sam, porque nem a ordem e Religiam nossa non
no lo manda, e portanto dem bem de comer, pera hos Religiosos profesos
della, Vaagarem a contemplação e a deus. E nam se ocuparem em exercí-
cios exteriores, senam viuer regularmente em claustro sub Regra e a obe-
diência d abade que he duro aos filhos dos homens53.»

É clara a oposição entre «clérigos» e «letrados», sendo que a vida monástica


é de dedicação à contemplação e a Deus e não ao estudo das letras. Talvez seja esta
desafeição pelo estudo que, poucos anos depois, na carta de visitação feita pelo
cardeal Infante D. Henrique ao Mosteiro de Alcobaça em 27 de janeiro de 1538,
entre outras disposições, se ordena que os monges se devem também dedicar aos
estudo:
«Item lhe encomendamos que faça estudar os monges que aprendem em
Artes, e lhe de toda maneira que puder para bem estudarem, e aprenderem,
e o numero destes estudantes por agora sera o que ele Prior com o con-
vento ordenarem os quaes estudantes mandamos que guardem o regimento
que lhe temos dado para seu estudo; e ele Prior lho fara guardar: e assim
mesmo lhe mandamos que comunique com o Mestre sobre os estudantes,
que ora aprendem; a saber se ha alguns entre elles que não tenham habi-
lidade nem engenho para aproveitarem; e os que acharem que sam tais, que
nam podem fazer proveito; e assim os que hi andarem que ha ja muito que
aprendem, e o nam fazem tirem do dito estudo; e em seus lugares ponham
outros; os quaes elegerà para isso com parecer, e consulta do convento; es-
pecialmente do Mestre dos noviços que deve de saber do engenho, e habi-
lidade de cada um pois os ensinou»54.

Esta oscilação entre o desinteresse pela leitura ou o estudo, preferindo-lhe uma


maior dedicação ao trabalho manual e à contemplação divina, e outros períodos
de criação de escolas e a constituição de bibliotecas, devido a um maior interesse
pelas questões do tempo e o serviço ao reino, podem explicar a falta de continui-

53 S. A. Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal, ed. cit., visit. IV, p.


210.
54 S. A. Gomes – Visitações a mosteiros cistercienses em Portugal, ed. cit., visit. XV,
p. 383-384 (nº 22).
110 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

dade nas bibliotecas da Ordem de Cister em Portugal. O mesmo se diga quanto à


existência de escolas seja para os noviços seja abertas ao exterior55.

4. Códices com obras de Bernardo de Claraval em bibliotecas portuguesas

Apesar da sua importância para o perfil espiritual da Ordem e mesmo para o


imaginário cisterciense, a leitura das obras de Bernardo de Claraval não é prescri-
ta em nenhum documento fundacional, nem parece ter alguma vez tido impor-
tância central na formação dos monges. Entre as primeiras gerações de cistercien-
ses há outros importantes escritores, que nunca tiveram a mesma relevância e pro-
jeção de Bernardo. Nas bibliotecas medievais portuguesas não estão identificadas
obras de Alcher de Claraval, ou Guilherme de S. Teodorico, ou Isaac de Stella, ou
Aelredo de Rievaulx. De Bernardo sim, existem diversos manuscritos e testemu-
nhos da existência de outros, provavelmente perdidos.
Bernardo nasce c. de 1090 em Fontaine-les-Dijon (Borgonha) numa família no-
bilitada. Em 1113, aos 23 anos, ingressa na Ordem de Cister com 4 dos seus 6 ir-
mãos. Em 1115 Estêvão de Harding, terceiro abade de Citeaux, envia-o a fundar
um mosteiro em Claraval, iniciando um longo abaciado de quase 40 anos, que ter-
minará apenas com a sua morte. Nesse período o seu dinamismo e combativida-
de espiritual dinamizam a rápida expansão da Ordem em toda a Cristandade, ten-
do Claraval durante esse período fundado outros 68 mosteiros em toda a Europa.
A sua vida monástica e de cavaleiro da fé confunde-se com a sua atividade de au-
tor, destacando-se a composição de alguns tratados e obras breves, e uma perma-
nente atividade epistolar e de pregador, sendo a carta e o sermão os géneros a que
mais se dedicou e que mais contribuíram para a fixação da sua enorme influência
no mundo e na comunidade monástica. Em 1145 é eleito o papa Eugénio III, pri-
meiro papa da Ordem Cisterciense, que fora discípulo de Bernardo. Em 1153 Ber-
nardo morre em Claraval. Em 1174 é canonizado (festa a 20 de agosto) e em 1830
é declarado doutor da Igreja, doctor mellifluus. A obra de Bernardo de Claraval
inclui tratados de natureza espiritual e de formação moral que exprimem com cla-
reza um enorme desejo de intervenção e a ligação ao mundo. Do seu labor resul-
taram pelo menos estes títulos: Apologia ad Guillelmum abbatem (após 1120)56;
De amore Dei (1126); De gratia et libero arbitrio (1127-1128); De diligendo Deo
(c. 1128); De gradibus humilitatis et superbiae (c. 1127); De laude novae militiae
(c. 1129); Prologus in graduale Cisterciense (c. 1140); De praecepto et dispensa-
tione (c. 1141-1144); De consideratione (c. 1148-1153); Vita S. Malachiae (1148);

55 Há notícia de em 1269 D. Estêvão Martins ter criado em Alcobaça uma escola aber-
ta a leigos, cf. Nascimento – «A experiência do livro no primitivo meio alcobacense»,
cit., p. 126 e n. 13, mas nada mais sabemos sobre a sua atividade.
56 Tradução portuguesa, com texto latino defronte, em Bernardo de Claraval – «Apo-
logia para Guilherme, abade», apres., trad. e notas de Geraldo J. A. Coelho Dias, Me-
diaevalia. Textos e estudos, 11-12 (1997), pp. 9-76.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 111

Sermones in Cantica canticorum (86 sermões, iniciados em 1135, não tendo sido
terminado o comentário sobre todo o Cântico); Epistolae (c. 444 ao longo de toda
a vida); Sermones, alguns dos quais circularam mesmo como tratados autónomos
(por exemplo: De conversione ad clericos Sermo seu Liber, de 1122; De moribus
et officio episcoporum; etc.), recolhas de Sentenças. Um bom número de textos
apócrifos, entre eles várias dezenas de cartas, mas também sermões e opúsculos cir-
cularam e subsistem, manuscritos ou impressos, sob o nome de Bernardo.
Nos armários dos mosteiros medievais portugueses, sobretudo cistercienses,
podemos encontrar uma boa parte destas obras. Com algumas ausências signifi-
cativas, mas que, mais uma vez, não sabemos se se devem a terem-se perdido ou
se de facto a sua cópia nunca chegou a circular em Portugal. Não parece haver um
interesse sistemático dos mosteiros na obtenção destes códices, ou mesmo em cul-
tivar a sua leitura e meditação. Frei Fortunato de S. Boaventura lamenta-se no iní-
cio do século XIX de em Alcobaça não existir a obra completa de S. Bernardo, o
que, diz, é não só insólito como repreensível 57. Depois de descrever o ms. LXX/152
com uma ampla miscelânea de textos de Bernardo, menciona o ms. LXIX/358 com
Sermones de tempore, acrescentando que no mosteiro de Alcobaça não existem os
Sermones S. Bernardi a Pascha usque ad Adventum Domini, mas que os viu em
Santa Cruz de Coimbra e em S. João de Tarouca58. O que indica que terão existi-
do duas cópias desta coleção, mas de facto o códice subsistente em Santa Cruz co-
meça com os Sermões do Advento59. Fortunado indica ainda o ms. LXIX (Alc.
358) com os Sermones de tempore et de sanctis (cf. p. 347), para depois discorrer
sobre a atribuição ou não a S. Bernardo de certos opúsculos que nos manuscritos
estão sob o seu nome, mas que alguns editores rejeitam por serem apócrifos.
Há outros testemunhos documentais dispersos sobre a existência de volumes
com obras de Bernardo. Uma querela com implicações patrimoniais entre o mos-
teiro de Santa Maria de Bouro e o mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, e entre
o mosteiro de Seiça e o de Alcobaça fornece-nos dois inventários de livros de 1408,
mencionados no rol de outros bens dos mosteiros de Bouro e de Seiça. Para Bou-
ro indica-se mesmo que os livros estão na Igreja, embora incluam títulos para lá
dos livros destinados ao ofício e à oração, com diversas obras para a lectio divi-
na, entre as quais há um «serme de S. Bernaldo»60. Em 1437 será feito novo in-
ventário do mosteiros de Bouro e nesses 31 anos a lista cresceu consideravelmen-

57 F. de S. Boaventura – Commentariorum de Alcobacensi manuscriptorum Bibliotheca


libri tres, Conimbricae, Ex typographia Academico-regia, 1827, Li. II, cap. XIV «De co-
dicibus operum S. Bernardo adjudicatorum, vel abjudicandorum», pp. 344-356.
58 Idem, ibidem, p. 347.
59 Cf. anexo II: ms. Porto, BPM, Santa Cruz 33.
60 Em M.A. Marques – «Bens de dois mosteiros cistercienses no século XV. Santa Ma-
ria de Seiça e Santa Maria de Bouro», agora em Ead. – Estudos sobre a Ordem de Cis-
ter em Portugal, cit., pp. 239-274, listas dos livros a pp. 266-267 (nesta p. menciona-
se o sermão de S. Bernardo) e 268-269. Sobre estas mesmas listas de livros cf. J. Mat-
toso – Religião e cultura na Idade Média portuguesa, Lisboa, INCM, 1982, cap. «Lei-
turas cistercienses do século XV», pp. 511-552, edita as listas de 1408 dos livros de
Bouro e de Seiça a pp. 548-550.
112 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

te, passando de 42 items para 7261. Entre os novos títulos há agora «huum liuro
de alamentacoees de Sam Bernaldo» (item 21), para além de «outro liuro de Sam
Bernaldo sobre Cantica Canticorum» (item 40) e «outro liuro que chamam Hor-
to do Esposo» (item 28) que, como veremos, é uma obra portuguesa de espiritua-
lidade cisterciense, onde S. Bernardo é mencionado. No estudo de José Marques
sobre scriptoria cistercienses em Portugal, é apresentada informação coligida no
séc. XVIII para um «Index alfabético» dos escritores cistercienses, elaborado como
suporte para a renovação da História de Portugal promovida pela Real Academia
da História62. Do índice constam escritores propriamente ditos ou também copis-
tas, de 11 mosteiros cistercienses63. Desse elenco consta a menção a «hum livro em
pergaminho que conthem = Divus Bernardus de Laudibus Virginis Mariae», jun-
tamente com a Espositio de Hugo de S. Vítor sobre a Regula S. Augustini, a Doc-
trina ad monachos de S. Basílio e a Vita S. Rudesindi64. Todos estes códices, men-
cionados em notícias e inventários avulsos, podem estar perdidos ou destruídos, ou
podem ser um ou outro dos 13 manuscritos conhecidos e que se inventariam no
Anexo I.
Nestas notícias de códices com obras de S. Bernardo os Sermões são o título
mais presente (cfr. códices 1, 2, 4, 11, 13 do inventário anexo e 10 com os Ser-
mones in Cantica canticorum), o que pode manifestar uma preferência pela dou-
trina e funcionalidade formativa dos sermões para a preparação de pregadores e
para o conhecimento do texto bíblico. Mas, também devemos ter em conta que esta
é a parte mais substancial da obra de Bernardo, juntamente com as Cartas. Mui-
tos dos sermões circulavam isolados, integrados em miscelâneas, como é o caso dos
que encontramos nos códices 5 (nn. 4-5 e 12), 6, 7 do inventário anexo. A mesma
razão poderá explicar o interesse pelas Sententiae, de que existem diversas coleções
(cfr, códices 6b, 7b, 11.2), que fornecem passagens e pensamentos exemplares uti-

61 A lista de livros no inventário de Bouro de 1437 está também publicada em J. Mat-


toso – Religião e cultura na Idade Média portuguesa, cit., pp. 551-552, o documento
está publicado na íntegra em M.A. Marques – «Um litígio entre mosteiros cistercien-
ses no séc XV. Alcobaça e Bouro», agora em Ead. – Estudos sobre a Ordem de Cister
em Portugal, cit., pp. 275-308, com o inventário de livros nas pp. 303-305.
62 J. Marques – «Desconhecidas instituições culturais portuguesas: alguns scriptoria cis-
tercienses», Bracara Augusta, 39 (1985), pp. 343-362.
63 Cf. Idem, ibidem, p. 18, nº 3. Creio não ser possível inferir que uma subscrição em
um códice mencionando o mosteiro do copista, ou mesmo um outro tipo de fonte, ates-
te que aí existiu um scriptorium enquanto instituição. Um monge de Ermelo, por exem-
plo, pode fazer a cópia de um códice por ter perícia para tal e passarem décadas até que
um outro manuscrito seja lá copiado por outro monge, além de que a cópia pode ser
feita por esse monge mas num outro qualquer mosteiro onde estivesse o exemplar. O
próprio elenco de mosteiros com cópia de obras (cf. quadro na p. 13 do estudo cit.)
mostra como a atividade é escassa, com 53 volumes em 11 mosteiros, sem incluir Al-
cobaça, para o período de c. de 1200 a c. 1678, o que, mesmo ressalvando que se tra-
taria de códices com identificação de copista e de informação avulsa, dá uma média de
um códice por século em cada mosteiro.
64 A sumária descrição de conteúdo corresponde exatamente ao ms. Lisboa, BNP, Alc.
CXXXIII/24 (faltando apenas assinalar a Vita S. Dominici, após a obra de S. Basílio),
cfr. T.L. Amos – The Fundo Alcobaça of the Biblioteca Nacional, Lisbon, 3 vol., Min-
nesota, Hill Monastic Manuscript Library – St. John’s University, 1989, vol. I, pp. 35-
37.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 113

lizáveis em sermões ou para meditação pessoal. O «liuro das meditações de Sam


Bernardo» que pertenceu à Biblioteca de D. Fernando poderia corresponder a uma
coleção de sentenças65.
Outras obras de S. Bernardo subsistiram em códices copiados ou adquiridos
para os mosteiros, indicando-se o seu número no inventário anexo:
Apologia ad Guillelmum abbatem (códice 6c)
De consideratione (5.1), obra também com tradução para português no
mais recente dos códices, do séc. XVIII (12).
De diligendo Deo (5.11);
De gradibus humilitatis et superbiae (5.7-8)
De gratia et libero arbitrio (5.13);
De laude novae militiae (5.10)
De praecepto et dispensatione (5.2)
Vita S. Malachiae (5.3)

Dos títulos importantes apenas do De amore Dei parece não existir cópia, as-
sim como do Prologus in graduale Cisterciense. Notável é que não exista qualquer
coleção significativa das Epistolae, Bernardo escreveu cerca de 440, embora es-
cassas cartas estejam copiadas aqui e ali (cfr. 6 e 9 no códice 5; e no códice 13 a
carta 374). Como vimos atrás, não existe qualquer manuscrito das qautro cartas
forjadas e falsamente atribuídas para fundamentar algumas das invenções ou das
convicções dos historiadores de Alcobaça.
Merece ainda menção o códice com a tradução da Vida de Sam Bernardo por
Guilherme de S. Teodorico e outros textos pseudo bernardianos (códice 9).
Os manuscritos subsistentes também não são muito ricos em anotações que
permitissem fazer a história da sua leitura e utilizações, o que se deve seguramen-
te ao facto de não terem sido usados como livros de estudos. Tudo indica que es-
tas obras poderiam ser lidas na parte quotidiana da leitura privada, mas não mui-
to manipuladas devido a terem sobrevivido aos séculos de uso possível, sendo tam-
bém plausível que algumas delas, sobretudo os Sermões, pudessem ter servido para
leitura em alta voz durante as refeições.

5. Testemunhos da leitura de S. Bernardo em Portugal na Idade Média

O conhecimento da obra de Bernardo de Claraval é testemunhado também em


obras de autores portugueses medievais, duas do século XIII em latim, uma do séc.
XIV-XV e outra do século XVI em português. Pelo menos três delas têm uma li-
gação direta com a Ordem de Cister.

65 Cf. A. A. Nascimento – «As livrarias dos príncipes de Avis», Biblos, 63 (1993), pp.
265-287, agora em Id. – Ler contra o tempo, cit., pp. 249-266, cf. p. 267.
114 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

a) Santo António de Lisboa O.F.M.


Fernando Martins pode ter lido obras de Bernardo em Santa Cruz de Coim-
bra, em cuja biblioteca deveria existir já o códice de Sermões que hoje ainda se con-
serva no fundo de Santa Cruz da Biblioteca Pública do Porto66. Pode ter sido nes-
se mesmo manuscrito que Fernando Martins pode ter lido obras de S. Bernardo
pela primeira vez, portanto antes de em 1220, antes de ter entrado para a Ordem
dos frades menores tomando o nome de António67. Continua a discutir-se se os
seus Sermões68 terão sido escritos enquanto António ainda era cónego regrante69,
ou se os compôs após ter começado a pregar em Itália e no sul de França em 1222,
e mais provavelmente entre 1227 e 1232 quando desempenhava já funções de ma-
gister no studium franciscano de Pádua. Os sermões manifestam o extenso co-
nhecimento bíblico de António, mas também a sua maestria para utilizar uma pro-
fusão de autoridades como instrumento auxiliar de exegese bíblica e de formação
moral. Os editores críticos dos Sermones de Santo António assinalaram diversas
citações ou referências a S. Bernardo. Contudo, nem todas resultam de atribuições
fundadas, pois, como bem mostrou Anna Burlini Calapaj, quando os editores pro-
põem filiar em Bernardo algumas passagens em que o próprio Bernardo não é ci-
tado, trata-se ou de casos com possíveis fontes comuns, ou de associações voca-
bulares que não evidenciam dependência textual ou doutrinal70. Em outros casos
é o próprio Santo António que atribui erradamente a S. Bernardo passagens, que
de facto são das Declamationes de Godofredo71, ou da Epistola ad frates de Mon-
te Dei do também cisterciense Guilherme de S. Teodorico72, ou do anónimo Trac-

66 Porto, Biblioteca Pública Municipal, Santa Cruz 33, cfr. Anexo II.
67 Sobre os cónegos regrantes de Coimbra e Alcobaça, cfr. S. A. Gomes – «Relações
entre Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça ao longo da Idade Média. As-
pectos globais e particulares», em IX Centenário do nascimento de S. Bernardo. Actas
do Encontro de Alcobaça e Simpósio de Lisboa, Braga, Universidade Católica Portu-
guesa – Câmara Municipal de Alcobaça, 1991, pp. 257-303, assim como a introdução
da tese de A. F. Frias – Fontes de cultura portuguesa medieval: o ‘Liber ordinis Sanc-
tae Crucis Colimbriensis’, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001.
68 Santo António de Lisboa – Obras completas. Sermões dominicais e festivos, 2 vol.,
Introd., trad. e notas por H.P. Rema, Porto, Lello & Irmão, 1987; cfr. J. Meirinhos –
«S. António de Lisboa, escritor. A tradição dos Sermones: manuscritos, edições e tex-
tos espúrios», Mediaevalia. Textos e estudos, 11-12 (1997), pp. 139-182, onde se in-
dica outra bibliografia.
69 Raoul Manselli, grande historiador do franciscanismo, foi claro ao afirmar «riten-
go di poter concludere, senza mezzi termini, che questi sermones sono stati scritti in Por-
togallo, dal teologo e canonico de Coimbra», R. Manselli – «La coscienza minoritica
di Antonio di Padova di fronte all’Europa del suo tempo», em A. Poppi (cura), Le fon-
ti e la teologia dei Sermoni antoniani, Padova, Ed. Messaggero, 1982, pp. 29-35, a cit.
é da p. 32.
70 A. B. Calapaj – «Le citazioni da S. Bernardo nei Sermones antoniani», em Le fonti
e la teologia dei Sermoni antoniani, ed. cit., pp. 217-227, cfr. pp. 117-121.
71 Santo António, Sermões dominicais e festivos, cit., I, pp. 47, 108, 339, 348; II, p.
196.
72 Santo António, Sermões dominicais e festivos, cit., I, pp. 33, 130, 201, 526; II, pp.
497, 515, 562, 568, 977.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 115

tatus de Charitate73, ou do De scripturis de Santo Agostinho74.


As citações diretas de Bernardo que coincidem com os seus textos são curtas
e lapidares, na expressão de alguma sentença moral ou de interpretação bíblica. A
maioria são descontextualizadas e não parecem evidenciar a leitura ou um interesse
na meditação direta de qualquer obra, mas sim a utilização de autoridades para in-
troduzir alguma ideia, ou sobretudo reforçar a interpretação simbólica de algum
passo bíblico, ou oferecer uma sentença moral conclusiva75. António é também um
pensador profundo e um místico, por isso, mesmo se descontextualiza as passagens
de Bernardo, em alguns casos penetra no seu pensamento glosando passagens in-
teiras para as adaptar à sua interpretação, como acontece com a explicação de al-
gumas passagens dos Sermones de diversis, dos Sermones super Cantica cantico-
rum, ou principalmente do De consideratione. Essa deslocação permite a António
exprimir uma espiritualidade diversa da do monge cisterciense, com uma pregação
dirigida aos pregadores e aos crentes para mover à conversão do pecado e já não
uma pregação dirigida à comunidade de monges para exortar ao abandono do
mundo e à união mística76.
As atribuições erradas e a natureza das citações literais mas cartas de Bernar-
do, em nenhuma das quais o autor menciona a obra de onde provêm, podem con-
firmar que a sua origem não é uma leitura direta dos referidos textos, mas sim um
dos muitos florilégios de sentenças para uso de pregadores que então circulavam,
e que explicam a natureza descontextualizada das citações.

b) Frei Pelágio Parvo O.P.


Pouco posterior a Santo António, o dominicano Frei Pelágio Parvo também
compôs um sermonário cuja única cópia está entre os manuscritos de Alcobaça77,
com a indicação expressa de o apógrafo ter sido copiado a pedido do Abade do
mosteiro de S. João de Tarouca78.

73 Santo António, Sermões dominicais e festivos, cit., I, p. 68.


74 Santo António, Sermões dominicais e festivos, cit., I, p. 394.
75 A. B. Calapaj – «Le citazioni da S. Bernardo nei Sermones antoniani», passim.
76 Cfr. Eadem – ibidem, pp. 225-227. Para a comparação da espiritualidade de Ber-
nardo e de António, cfr. F. G. Caeiro – «São Bernardo e os primórdios de Santa Cruz
de Coimbra», cit., pp. 225-231.
77 Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, Alc. 5. O sermonário foi estudado e pu-
blicado na íntegra em B.F.C. Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei
Paio de Coimbra e edição crítica de ‘Magistri Fratris Pelagii Parui, Ordinis Praedica-
torum Summa Sermonum, A. D. 1250 – Cod. Alc. 5/CXXX, tese de Doutoramento em
História da Filosofia, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2011.
É de grande importância o recente estudo e edição parcial por S. Tugwell – Pelagius Par-
vus and his ‘Summa’: a Preliminary Enquiry and a Sample of Texts, Roma, Angelicum
University Press, 2012.
78 É este o colophon do sermonário: «Explicit summa composita a fratre Pelagio Pa-
ruo Ordinis Predicatorum et scripta ad preces Domni Petri Iohannis Abbatis sancti Io-
hannis de Tharauca, per manus Dominici Petri Vlixponensis Alcobacie monachi. Men-
se octobre era Mª CCª LXXXª VIIIª.» (f. 179v, que não é o final do códice), cf. ed. B.
MARQUES – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, cit., p.
687. Estas informações foram retomadas na tardia página de rosto do códice.
116 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

Bernardino Marques considera que Bernardo de Claraval é «um dos autores


predilectos do mestre dominicano»79, contando-se entre as suas outras fontes mais
citadas Santo Agostinho, S. Jerónimo, Gregório Magno, Isidoro de Sevilha, Pedro
Lombardo, mas sem qualquer citação de Cassiano80. Consultando o índice da sua
edição, encontramos assinaladas cerca de 102 citações explícitas de obras de S. Ber-
nardo, embora os respetivos títulos sejam omitidos. Dessas, 55 sãos dos Sermões
sobre o Cântico dos Cânticos, o que manifesta aproximação de género literário,
reforçada por mais 30 citações de Sermões festivos e marianos. As restantes obras
citadas são a Apologia para Guilherme (1 vez), De consideratione (7), De gradi-
bus humilitatis et superbiae (1), Cartas (6), De diligendo Deo (1), De praecepto et
dispensatione (1).
Simon Tugwell tentou compreender a natureza da Summa de sermões anali-
sando justamente a técnica de citação de obras e as suas lacunas, porque o autor
junta notas no texto ou na margem para depois verificar melhor o texto ou en-
contrar o texto citado, ou acrescentá-lo, o que contrasta com as citações bíblicas
para as quais Pelágio usa um novo e mais preciso modo de citação e com o texto
já transcrito. Acresce o facto de a obra conter diversos outros indícios de inaca-
bamento, como, por exemplo, apenas uma pequena parte dos sermões estarem ple-
namente desenvolvidos, sendo muitos deles pouco mais que esquemas de sermões
ou sequências de citações ainda não organizadas. Segundo Tugwell o sermonário
teria ficado inacabado, devido a doença ou morte de Frei Pelágio, tendo o copis-
ta recolhido os materiais ainda em curso de revisão, e daí ter também transcrito as
notas internas sem as ter completado. Este modo de trabalhar e a natureza das ci-
tações indica que elas provêm de compilações ou florilégios e não da leitura ou me-
ditação direta das próprias obras.
Pela utilização de fontes jurídicas e teológicas, Bernardino Marques intuiu que
a Suma contribuiu para difundir o novo pensamento teológico pelas escolas dos do-
minicanos e através dele nas «escolas dos cistercienses» em Portugal. E este ele-
mento intrigou também Tugwell: porque é que um sermonário inacabado de um
dominicano está nas mãos de cistercienses, é pedido pelo Abade do mosteiro de
Arouca, é copiado por um monge de Alcobaça e acaba no fundo da abadia onde
foi copiado e não no mosteiro que o havia pedido81?
Sem nenhuma outra informação textual sobre o autor, Tugwell acumula indí-
cios, entre eles a cuidadosa análise das citações de Bernardo82, a maior parte das
vezes indicado no início apenas com um «Bernardus» ou «beatus Bernardus», mas

79 B. Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, cfr. p.


CXX, n. 536; Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., pp. 70-71, n. 5.
80 Cfr. os índices de autores citados nos Sermões, Marques – Mundividência cristã no
Sermonário de Frei Paio de Coimbra, pp. 731-761. A obra mais citada é a Bíblia, cfr.
o respetivo índice de citações nas pp. 696-730.
81 Cfr. Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., pp. 125-131, cap. 6: «Pelagius
and Cistercians».
82 Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., estuda as citações de Bernardo nas
pp. 68-70, 81-82, 130-138.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 117

progressivamente com a quase única evocação de «beatissimus Bernardus». Mais


interessante e intrigante são as três vezes que o dominicano Pelágio usa expressões
próprias de um cisterciense83: «beatissimus pater noster Bernardus»84, ou «ut di-
citur humili et beatissimo patri nostro Bernardo»85, ou «ut beatissimo Bernardo,
patri nostro»86. Que razão pode justificar este modo de nomear Bernardo? Pode-
ria ser parte de uma citação de um outro autor? Ou uma intervenção do copista
Domingos Pedro? Mas Tugwell, tendo em conta os outros indícios de inacaba-
mento do texto e o facto de ser um texto de um dominicano que está nas mãos dos
cistercienses, propõe uma solução que também é coerente com a possível datação
da obra. Pelágio, apesar de dominicano, poderia estar em contacto com o mostei-
ro de Alcobaça, onde poderia ter recomposto materiais anteriores para a pregação
a monges cistercienses, preparando assim uma suma de materia praedicabilis, que
deixou inacabada. A este propósito Tugwell cita a decisão do capítulo geral dos cis-
tercienses de 1245 que, por ordem do papa, deliberou que os abades pudessem ins-
tituir um studium, e que pelo menos em um mosteiro de cada província existisse
um studium theologiae87. E justamente a sua hipótese é que o dominicano Pelágio
Parvo teria sido chamado a ensinar em Alcobaça como leitor c. de 1246-1247, aí
desenvolvendo os seus materiais para ensino da pregação. Tal facto explica o con-
teúdo da Suma, que não teria podido acabar, deixando assim em aberto todas as
notas para completar ou buscar melhor texto para as citações e mesmo uma boa
parte dos sermões sem uma forma definitiva. A mudança no modo de referir Ber-
nardo e mesmo o chamar-lhe «nosso pai»88 teria sido então o modo de Pelágio
«tornar a sua ‘Suma’ um pouco mais cisterciense»89.
Embora seja citado em abundância e de serem dedicados sermões a novos san-
tos dos séculos XII e XIII, nenhum sermão é dedicado Bernardo90. A este propó-
sito Pelágio, que não mostra conhecer qualquer facto da vida de Bernardo, tem
uma outra novidade. No sermão VII para a festa da Assunção Pelágio menciona

83 Cf. Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., p. 130.


84 Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, op. cit.,
p. 400.
85 Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, op. cit.,
p. 489.
86 Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, p. 530.
87 Statuta Capitulorum generalium ordinis Cisterciensis ab anno 1116 ad annum 1786,
ed. J.-M. Canivez, Louvain, Ed. de la Revue d’histoire ecclésiastique, 1935, vol. II, pp.
289-90, cit. por Tugwell, – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, op. cit., p. 61, n. 61.
88 Diga-se que Pelágio também usa a expressão para S. Domingos, patrono da sua or-
dem, cfr. Marques, ed., p. 464.
89 Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., p. 132.
90 Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., p. 137 assume que se Pelágio ti-
vesse terminado a redação da sua Suma ainda teria inserido algo sobre Bernardo. Note-
se que Tugwell diz expressamente que qualquer destas explicações pode até ser impró-
pria, mas que apenas quer significar com elas que a ausência de um sermão sobre Ber-
nardo não é uma objeção inultrapassável para excluir a hipótese de Pelágio ter acaba-
do os seus dias trabalhando num mosteiro cisterciense.
118 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

aquela que se tornaria uma das lendas hagiográficas mais representadas na ico-
nografia bernardiana, a aleitação pela Virgem Maria:
«Vnde, ut dicitur humili et beatissimo patri nostro Bernardo: ‘mammillam
prebuit ut hauriret»91,

e no Sermão I para a Natividade de Maria é explicado que na noite da igno-


rância Bernardo recebeu da Virgem o lumen scientiae, «a luz da sabedoria»:
«Ipsa enim confert nobis (...) in nocte ignorantia, lumen scientie, ut Bea-
tissimo Bernardo, patri nostro»92.

Ora, esta dupla menção parece a primeira atestação da lenda hagiográfica da


infusão da ciência em Bernardo, que antedata em muito a mais antiga das refe-
rências literárias à aleitação de Bernardo, em Ci nous di, compilado entre 1313 e
133093.
Se as duas passagens de Pelágio Parvo94 remetem para esta narrativa hagio-
gráfica, estaremos perante a mais antiga alusão que lhe é feita, ou mesmo na sua
origem. A «aleitação» é a única representação de S. Bernardo existente nos ma-
nuscritos de Alcobaça numa bela inicial do missal cisterciense do século XIV95.

c) O Orto do Esposo
Em Alcobaça serão traduzidas ou escritas diversas obras em português, pelo
menos desde o século XIV. Um delas é o Horto do Esposo96, que subsiste em dois
códices de Alcobaça (Alc. 198 e Alc. 212) e, como vimos atrás, é mencionado no
inventário do mosteiro de Santa Maria de Bouro de 1437, tendo D. Duarte tam-
bém possuído um exemplar na sua biblioteca97. Obra de formação moral e místi-

91 Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, op. cit.,


p. 489.
92 Marques – Mundividência cristã no Sermonário de Frei Paio de Coimbra, op. cit.,
p. 530.
93 Cfr. Tugwell – Pelagius Parvus and his ‘Summa’, cit., p. 136 e n. 28.
94 Note-se que Tugwell prudentemente rejeita identificar Pelagius Paruus, como é no-
meado no manuscrito, com qualquer dos Pelágios conhecidos, nomeadamente com Pe-
lágio de Coimbra.
95 H. Peixeiro – «Um missal cisterciense iluminado (Alc. 26) e as representações da Vir-
gem e de S. Bernardo», cit., pp. 214-215, onde se inclui reprodução da inicial, também
reproduzida a cores na capa de G. Leroux – São Bernardo: 1090-1990. Catálogo bi-
bliográfico e iconográfico, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1991.
96 Ver a edição mais recente em Horto do esposo, ed. crítica de I. F. Nunes, colab. M.
S. Alpalhão, P. A. Pereira, J. Segura; estudos introdutórios de A. P. Morais, P. A Perei-
ra; coord. de H. Godinho, (Obras clássicas da literatura portuguesa. Literatura medie-
val, 4) Lisboa, Colibri, 2007. Para uma breve notícia sobre a obra e os seus problemas
literários, cfr. A. Díaz Ferrero & H. A. Peixeiro – «Horto do esposo», em Dicionário
da Literatura Medieval Galega e Portuguesa, org. G. Lanciani & G. Tavani, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993, pp. 315-317; e sobretudo M. N. Henriques – A caminho de
uma espiritualidade laica: Ciência, Filosofia e Teologia no ‘Orto do Esposo’ (tensões
histórico-filológicas e semânticas), tese de doutoramento, Coimbra, Faculdade de Le-
tras, 2013.
97 Cfr. A. A. Nascimento – «As livrarias dos príncipes de Avis», cit., p. 266.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 119

ca, atravessada pelo ascetismo cisterciense, sob a forma de compilação narrativa


e com recurso a numerosos exempla confrontando 12 formas de vida mundana
afastadas da sabedoria. A obra está dividida em quatro partes de dimensão desi-
gual: na primeira trata-se o nome de Jesus, na segunda compara-se o «horto de-
leitoso» do paraíso terrestre com a Sagrada Escritura, na terceira o modo como se
deve estudar a Escritura, e na quarta, a única extensa, reflete-se sobre a vaidade
das coisas humanas. Ao longo da obra S. Bernardo é chamado várias vezes para
proferir orientações espirituais ou servir de exemplo pela sua pureza de espírito e
sabedoria contemplativa assente na oração, no abandono do mundo e refúgio si-
lencioso e solitário na floresta.
Através da figura de S. Bernardo o anónimo autor explica como a oração in-
tensa é o meio adequado para receber a iluminação que permite compreender o
sentido dos passos mais difíceis e obscuros da Sagrada Escritura:
«E o abade Sam Bernardo dizia e confessava que todo aquelo que se spi-
ritualmente entendia das Sanctas Scripturas, todo o aprendera em nos ma-
tos e em nos agros meditando e orando. E em esto nunca houvera outros
meestres se non as faias e os carvalhos e assi o dizia el antre seus amigos
em seu solaz mui gracioso. Onde aquel que deseja leer e entender as Sanc-
tas Scripturas acorra-se aa oraçom e quite-se dos pecados, maiormente dos
pecados carnaes»98.

Não é o estudo que inicia à compreensão da Sagrada Escritura, mas sim a ora-
ção e a contemplação da natureza. Como advertira o autor no início desse mesmo
capítulo, o sábio não tem que confiar na «agudeza do seu engenho, nem da sua so-
teleza, nem do grande trabalho do seu studo». Deve sim confiar na bondade de
Deus e na piedade da oração e da «humildade de dentro do coraçom»99. E Ber-
nardo figura ao lado de outros, como Cassiano, o abade Teodoro, Boécio, Séne-
ca, o apóstolo Paulo, S. Gregório, Santo Agostinho, todos exemplo de como a ora-
ção e o abandono do mundo são a via para atingir o entendimento das Escrituras.
Encontramos mais à frente o mesmo dilema para o monge no confronto entre
a subtileza de engenho e o trabalho e oração:
«Por em diz Sam Bernardo que em na profissom da religion o homem que
é de engenho arteiro e é sages em arte e ha o entendimento mui agudo, es-
tas cousas son estormentos assi de pecados come de virtudes. Ca milhor
carreira é o trabalho e a oraçom pera alcançar a ciencia e as virtudes que
a sotileza do engenho e a agudeza do entendimento».

Para o monge cisterciense a sabedoria e engenho tanto podem conduzir à vir-


tude como ao pecado. Daí que a intervenção de Bernardo seja para indicar que não
é de correr o risco e para aquele que quer alcançar a «ciência e as virtudes», a sub-
tileza e a agudeza não são a melhor via, mas apenas trabalhar e orar, via esta que

98 Horto do esposo, III, cap. 9, ed. I. F. Nunes, cit., p. 57, 12-16.


99 Horto do esposo, III, cap. 9, ed. I. F. Nunes, cit., p. 56, 23-25.
120 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

apenas conduz à virtude e à ciência. A recusa da via das ciências de estudo é ape-
nas uma outra figura do abandono do mundo, para regressar a si e buscar a su-
prema virtude pela fé. Ao autor não interessa a ciência mundana mas a ciência de
Cristo, ao serviço da qual devem estar todos os saberes. Também por aqui se cons-
tata o sentido da frequente convocação de Bernardo, pelos ditos sentenciosos ou
pelo exemplo.

d) O Boosco deleitoso
Também no Boosco deleitoso, obra anónima publicada em português em 1515
pelo impressor Hermão Campos100, vemos surgir a figura de Bernardo. De novo
no bosque, espaço solitário e de contemplação a que é sempre associado. No Boos-
co deleitoso, que muitos consideram, pelo menos em parte, inspirado no De vita
solitaria de Petrarca, sucedem-se intervenções de diversos personagens em defesa
da vida solitária, como modo supremo de realizar e em mais elevado grau o gozo
da alma. No capítulo 32 temos «Dom Bernardo, grorioso doutor» descrito como
«monge vestido em uua cugula mui alva: e a sua face era mui crara e mui lêda»101,
onde fala na primeira pessoa para fazer uma apologia da contemplação, pois o con-
templativo a quem a vida ativa afasta da contemplação, não decai pois age bem
(p. 77). E na boca de Bernardo são colocadas estas palavras que sussurra ao leitor
descrevendo a sua própria experiência solitária e de silêncio:
«non havia outra cousa que mais me prouvesse senom aquele apartamen-
to solitário, em que não havia falamento com outrem. E pela manhaã, me-
tia-me em uua fruesta espêssa e áspera e nom saía dela ataa tarde. Nom era
cousa mais amiga pera mi que o êrmo e o apartamento solitário»102.

Este Bernardo não descura a vida ativa, pois aquele que tomou o gosto da con-
templação mais forte e valentemente sai a «catar ganhos das almas», como justa-
mente tinha sido a vida de Bernardo.
E na quinta parte de novo o «grorioso monge Dom Sam Bernardo» é convo-
cado entre muitos solitários ilustres. A voz que narra, depois de em primeira pes-
soa se dirigir a Bernardo, recordando factos da sua vida e o sentido do abandono
do mundo, diz querer calar o louvor da abstinência e das falas de Bernardo, pois
todos as conhecem. Mas pede-lhe que diga alguma doce palavra sobre o «solitá-
rio apartamento»:
«Entom falou San Bernardo e disse:
— Tôdas as lêteras e a ciência que eu soube, em os matos e em os agros as
aprendi, nom seendo dicípolo dos homees, mas meditando e pensando e
orando. E nunca houve outros mestres senom os carvalhos e as faias»103.

100 Boosco deleitoso, ed. A. Magne, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1950.
Para uma notícia breve cfr. J. D. Pinto-Correia – «Bosco deleitoso», em Dicionário da
Literatura Medieval Galega e Portuguesa, cit., pp. 107-109.
101 Boosco deleitoso, ed. A. Magne, cit., p. 76.
102 Boosco deleitoso, ed. A. Magne, cit., p. 78.
103 Boosco deleitoso, ed. A. Magne, cit., p. 211.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 121

De novo Bernardo associado à doce contemplação, refugiado na natureza que


lhe ensina tudo o que sabe. Exatamente nos mesmos termos e oposições entre me-
ditação e ciência de estudo que tínhamos encontrado no Horto do Esposo, mos-
trando-se assim que a figura de Bernardo só muito longinquamente era associada
ao irrequieto cavaleiro da fé, hesitante entre o abandono do mundo e a interven-
ção militante em tudo o que pudesse auxiliar a difusão da fé e a autoridade ecle-
siástica em qualquer esfera da vida e da ação humanas.

O percurso pelos vários indícios de receção e leitura da obra de Bernardo em


Portugal na Idade Média deixa-nos indicações quanto à cultura do livro em meio
cisterciense e à real influência do pensamento e da obra escrita do Doutor Melí-
fluo. A leitura da sua obra não é prescrita, nem os monges cistercienses parecem
mostrar grande interesse na posse da sua opera omnia para leitura nos mosteiros,
ou mesmo para estudo e formação de noviços. Nem mesmo as indicações que pos-
suímos nos deixam concluir que na ordem cisterciense o estudo e a formação teo-
lógica fossem determinantes para o seu modo de realização do ideal de vida na fé,
havendo períodos ou mosteiros em que isso parece acontecer e noutros não. Se a
leitura tinha algum significado era a das sentenças lapidares que incendeiam a me-
ditação individual e servem de guia para as diferentes situações da vida laica ou re-
ligiosa, como vemos na utilização que delas fazem os pregadores e mestres de pre-
gação. A tradição espiritual em língua vulgar dos séculos XIV-XVI parece expli-
car a razão para esta preferência. Bernardo é sobretudo o monge solitário, um mo-
delo de vida mística que prefere a natureza e as feras à sociedade e ao ruído dos
homens. Bernardo é aquele que, fugindo do mundo e do estudo, se encerra solita-
riamente na contemplação para aprender com faias e carvalhos e realiza de forma
mais elevada, pelo exercício individual da oração e da meditação, o ideal de per-
feição humana na sua aspiração ao divino. Não são apenas os códices que fazem
perdurar no tempo a memória de Bernardo. O desejo de elevação interior a que o
monge solitário aspira é também acendido de modo suficiente pela iconografia,
pela estatuária e pintura, pelas narrativas hagiográficas ou pela sabedoria das sen-
tenças lapidares, mantendo viva a influência espiritual do exemplo contemplativo
e ativo de Bernardo de Claraval.•
122 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

Anexo I

Inventário de códices com obras de Bernardo de Claraval em bibliotecas


portuguesas

Neste apêndice inventariam-se os códices miscelâneos ou unitários com obras identifi-


cadas de S. Bernardo de Claraval. Não se mencionam os códices com obras apócrifas.
A distribuição temporal dos códices é a seguinte:
Século XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII ? Total
Unitários 4 1 1 1 7
Miscelâneos 2 1 2 1 6
Total 4 2 2 3 1 1 13

Bibliografia
Index Codicum Bibliothecae Alcobatiae, in Quo Non Tantum Codices Recensentur, sed
Etiam Quot Tractatus, Epistolas, Etc. Singuli Codices Contineant, Olisipone : ex Typo-
graphia Regia, 1775.
Fr. Fortunati a D. Bonaventura, Commentariorum de Alcobacensi manuscriptorum Bi-
bliotheca libri tres in quibus haud pauca ad rem litterariam illustrandam, ac fortassis
augendam facientia, hucusque abdita, reserantur, Conimbricae: ex Typographia Aca-
demico-Regia, 1827.
SBO = Sancti Bernardi Opera, 9 vol., ed. J. LECLERCQ – C.H. TALBOT – H.M. ROCHAIS,
Roma, Editiones Cistercienses, 1957-1977.
AMOS, T. L., The Fundo Alcobaça of the Biblioteca Nacional, Lisbon, 3 vol., Minne-
sota, Hill Monastic Manuscript Library – St. John’s University, 1989.
G. LEROUX – São Bernardo: 1090-1990. Catálogo bibliográfico e iconográfico, Lisboa,
Biblioteca nacional, 1991.
Inventário dos códices iluminados até 1500. Coord.: Isabel Vilares CEPEDA – Colab.: Te-
resa A.S. Duarte FERREIRA, Vol. I. Distrito de Lisboa, Vol. II: Distritos de Aveiro, Beja,
Braga, Bragança, Coimbra, Évora, Leiria, Portalegre, Porto, Setúbal, Viana do Caste-
lo, e Viseu. Apêndice: Distrito de Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura – Biblioteca
Nacional, Lisboa 1994 e 2001.
NASCIMENTO, A. A. – J. MEIRINHOS (org.) – Catálogo dos códices da Livraria de Mão
do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra na Biblioteca Pública Municipal do Porto, Por-
to, Biblioteca Pública Municipal, 1997.

Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade


1.
Ms. 2457
49 ff.; Bibl.: Catálogo dos manuscritos da Biblioteca, in Boletim da Biblioteca da Uni-
versidade de Coimbra, p. 14.
1 (ff. 1-) Bernardo de Claraval, Sermones de laudibus virginis Mariae. (no ms.: Dom-
ni Bernardi).

Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo


2.
Manuscritos da livraria, 735
Pergam.; 177 ff. (mut. no fin.): séc. XV, 1ª metade.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 123

1 (ff 1r-) Bernardo de Claraval, Sermones per anni circulum.

Lisboa, Biblioteca da Academia das Ciências


3.
Série vermelha, 624
Perg.; séc. XV.
— (ff. 85v-90r) Bernardo de Claraval, De consideratione, cap. 1-12.

Lisboa, Biblioteca Nacional


4.
Alc. CXXXIII/24
Pergam.; séc. XIV. Miscelâneo.
1 (1v-9v) Bernardo de Claraval, De laudibus virginis Mariae. Sermo primus
3 (48-48v) Bernardo de Claraval, Sermo in Canticum canticorum 3:3.

5.
Alc. LXX/152
Pergam.; 203 ff.; séc. XII (anterior a 1174? Sanctus/sancti escrito sobre palavra domi-
nus/domini raspada).
1 (ff. 1v-48v) Bernardo de Claraval, De consideratione ad Eugenium III papam. [Men-
cionado na edição crítica, SBO, vol. III, p. 383].
2 (ff. 48v-67v) Bernardo de Claraval, Liber de praecepto et dispensatione. [Mencionado
na edição crítica, SBO, vol. III, p. 245].
3 (ff. 67v-97) Bernardo de Claraval, Vita sancti Malachiae. [Mencionado na edição críti-
ca, SBO, vol. III, p. 300].
4 (ff. 97-99v) Bernardo de Claraval, Sermo II In transitu S Malachiae Episcopi. [Mencio-
nado na edição crítica, SBO, vol. IV, p. 5].
5 (ff. 99v-102v) Bernardo de Claraval, Sermo I In transitu S. Malachiae Episcopi.
6 (ff. 102v-104) Bernardo de Claraval, Epistola ad fratres qui in Hybernia sunt.
7 (ff. 104-104v) Bernardo de Claraval, De gradibus humilitatis et superbiae. Retractio et
Index. [Mencionado na edição crítica, SBO, vol. III, p. 6].
8 (ff. 105-126) Bernardo de Claraval, De gradibus humilitatis et superbiae.
9 (ff. 126-128) Bernardo de Claraval, Epistolae CXLIV, CXLIII, CXLV.
10 (ff. 128v-140v) Bernardo de Claraval, Liber de nova militia ad milites Templi. [Men-
cionado na edição crítica, SBO, vol. III, p. 209].
11 (ff. 140v-157v) Bernardo de Claraval, Liber de diligendo Deo. [Mencionado na edição
crítica, SBO, vol. III, p. 113].
12 (ff. 158-180v) Bernardo de Claraval, Sermones quattuor De laudibus virginis Matris.
13 (ff. 180v-201v) Bernardo de Claraval, De gratia et libero arbitrio. [Mencionado na edi-
ção crítica, SBO, vol. III, p. 159].

6.
Alc. CCVI / 168
Pergam, 149 ff.; séc. XIII, Portugal. Miscelâneo (obras de Ephrem; pseudo João Cri-
sóstomo; Hilário de Poitiers; Ambrósio Autperto; Anónimos).
— (ff. 82a-89va) Bernardo de Claraval, Sermo De passione domini (In feria IV hebdomade
sanctae).
124 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

— (ff. 89va-102vb) Anónomo, Sententiae excerptae ex operibus S. Bernardi.


— (ff. 122va-138a) Bernardo de Claraval, Apologia ad Guillelmum. [Mencionado na edi-
ção crítica, testemunho da capitulatio B; SBO, vol. III, p. 77].

7.
Alc. XXVIII / 180
Pergam.; datado: Alcobaça 1309, copiado por João Martins a pedido do abade D. Pe-
dro (f. 130b).
Miscelâneo (obras de Ephrem; pseudo João Crisóstomo, Ambrósio Autperto, Estêvão
de Tournai, Pedro de Celle; Anónimos).
— (ff. 85va-92vb) Bernardo de Claraval, Sermo De passione domini (In feria IV hebdo-
made sanctae).
— (ff. 93a-106va) Sententiae S. Bernardi.

8.
Alc. CXLII / 187
Pergam.; 117 ff.; Rubricas. Iniciais a azul, verde, vermelho. Parte I datada: Alcobaça 1231:
f. 95r. Miscelâneo (Consuetudines da Ordem Cist.; Textos O.Cist.; Ricardo de Wed-
dinghausen; Anónimos).
— (ff. 83v-95r) Bernardo de Claraval, De praecepto et dispensatione. Explicit liber de pre-
cepto et dispensatione domni Bernardi abbatis de clara valle. Era m cc lx ix. Explicit
liber iste sit gloria Christe per manus Stephanus Martini dictus monachus Alcobacie
cuiuus anima requiescat in pace amen.

9.
Alc. CCXCI / 200
Pergam.; 233 ff.; séc. XV. Miscelânea de traduções que a página de rosto (séc. XVIII)
atribui a Francisco de Melgaço OCist, de S. Maria de Bouro.
1 (ff. 1-74) GUILHERME DE S. TEODORICO, Vida Sam Bernardo.
— (ff. 125r-147v) PSEUDO-BERNARDO, Este liuro fez san bernardo dos pensamentos que ho-
mem deue dauer consigo mesmo para se conhecer outrosym uiir em conhecimento de
Deus. / A alma [=PL, 184, 485A-508B].
— (ff. 148-180) BERNARDO DE CLARAVAL, Regra / Deçeplina monacorom.

10.
Alc. LXVIII / 357
Pergam.; 230 ff.; rubricado; séc. XII; raras notas marginais, diversos sinais de nota, por
vezes elaborados.
1 (ff. 1ra-230vb) Bernardo de Claraval, Sermones in Cantica Canticorum. Título: Incipiunt
tractatus sancti Bernardi abbatis super Cantica canticorum (a palavra sancti está escrita
sobre palavra raspada). [É o ms. Al da edição crítica. Contém os sermões 1-86. Con-
tém a forma definitiva do sermão 24, que serve para distinguir entre as três versões di-
ferentes do sermonário. Quanto ao texto contém a versão média T, a que tem teste-
munhos mais numeroso (cfr. SBO, pp. XVI-XVII, XXVIII-XXIX, LVII-LVIII)].

11.
Alc. LXIX / 358
Pergam.; 117 ff.; séc. XII final. Fortunato de São Boaventura chama-lhe eximius codex.
1 (ff. 1(3)a-113(115)va) Bernardo de Claraval, Sermones de Tempore, de Sanctis et de di-
versis [Schneyer cita 126 mss. incluindo este].
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 125

2 (ff. 113(115)va- 117(119)va) Bernardo de Claraval, Sententiae, [ed. crítica cita 12 mss
incluindo este; seleção de sentenças provenientes das três séries, ver mss 168 e 180]

12.
Cod. 4861
Papel; 284 ff., séc. XVIII.
1 (f. 1-) Liuros da Consideraçaõ de S. Bernardo. Nouamente traduzidos na língua Portu-
guesa. Por fr. Lucas Figueira monge professo da Cartuxa de Scala Coeli.

Porto, Biblioteca Pública Municipal


13.
Santa Cruz 33 (Geral 44)
Perg.; 227 ff.; datado: 1187 (f. 227vb); Manuscrito miscelâneo, partes: I: ff. 1-104; II: ff.
105-108; III: ff. 109-227. As partes I e III possuem semelhanças de empaginação, es-
crita e ornamentação, mas as assinaturas na parte III obrigam a distingui-las.
1 (ff. 1-227vb) Bernardo de Claraval, Sermones et Epistula ad religiosos fratres qui in Hi-
bernia sunt (Ep. 374).
(ver Anexo II).
126 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

Anexo II

Manuscrito Porto, Biblioteca Pública Municipal, Santa Cruz 33 (Geral


44)104

Sermões e Carta 374 de Bernardo de Claraval. Manuscrito datado: 1187 (no colofão
da parte III, f. 227vb).

227 ff.; em pergaminho, com os ff. totalmente separados da encadernação, o que de-
nota degradação pelo uso continuado. Manuscrito miscelâneo, em 3 partes: I: ff. 1-104;
II: ff. 105-108; III: ff. 109-227. As partes I e III possuem semelhanças de empaginação,
escrita e ornamentação, mas as assinaturas na parte III obrigam a distingui-las. A par-
te II tem empaginação e mão diferentes por se tratar de um acrescento para suprir tex-
to em falta.
I
ff.: 1-104. Pergaminho, bastante escurecido pelo uso.
1 (ff. 1ra-104vb) Bernardus Claraevallensis abb., <Sermones>.
1.1 (ff. 1r-12ra) Sermones in adventu Domini. (ff. 1r-4ra) <Sermo 1>. inscr. De aduentu
domini. Sermo sancti Bernardi abbatis Clareuallensis de sex circumstantiis aduentus. (ff.
4ra-5va) <Sermo 2>. (ff. 5va-7vb) <Sermo 3>. (ff. 7vb-9ra) <Sermo 4>. (ff. 9ra-10ra)
<Sermo 5>. (ff. 10ra-11va) <Sermo 6>. (ff. 11va-12ra) <Sermo 7>.
1.2 (ff. 12ra-27va) Sermones in vigilia nativitatis domini. (ff. 12ra-14ra) <Sermo 1>. (ff.
14ra-16rb) <Sermo 2>. (ff. 16rb-19va) <Sermo 3>. (ff. 19va-22rb) <Sermo 4>. (ff. 22rb-
24rb) <Sermo 5>. (ff. 24rb-27va) <Sermo 6>.
1.3 (ff. 27va-35ra) Sermones in nativitate Domini. (ff. 27va-29vb) <Sermo 1>. (ff. 29vb-
31va) <Sermo 2>. (ff. 31va-33ra) <Sermo 3>. (ff. 33ra-34ra) <Sermo 4>. (ff. 34ra-35ra)
<Sermo 5>.
1.4 (ff. 35ra-36ra) Sermo in festo sanctorum Stephani, Iohanni et Innocentium.
1.5 (ff. 36ra-41ra) Sermones in circumcisione Domini. (ff. 36ra-37ra) <Sermo 1>. (ff. 37ra-
38va) <Sermo 2>. (ff. 38va-41ra) <Sermo 3>.
1.6 (ff. 41ra-46vb) Sermones in Epiphania Domini. (ff. 41ra-43vb) <Sermo 1>. (ff. 43vb-
44vb) <Sermo 2>. (ff. 44vb-46vb) <Sermo 3>.
1.7 (ff. 46vb-47va) Sermo in octava epiphaniae Domini.
1.8 (ff. 47va-51rb) Sermones in dominica I post octavam epiphaniae. (ff. 47va-48vb) <Ser-
mo 1>. (ff. 48vb-51rb) <Sermo 2>.
1.9 (ff. 51rb-53vb) Sermo in conversione sancti Pauli.
1.10 (ff. 53vb-56rb) Sermones in purificatione Beatae Mariae Virginis. (ff. 53vb-54vb)
<Sermo 1>. (ff. 54vb-55va) <Sermo 2>. (ff. 55va-56rb) <Sermo 3>.
1.11 (ff. 56ra-59ra) Sermones in septuagesima. (ff. 56ra-58ra) <Sermo 1>. inscr. (ff. 58ra-
59ra) <Sermo 2>.
1.12 (ff. 59ra-65va) Sermones in quadragesima. (ff. 59ra-60vb) <Sermo 1>. (ff. 60vb-62va)
<Sermo 2>. (ff. 62va-63va) <Sermo 3>. (ff. 63va-64va) <Sermo 4>. (ff. 64va-65va) <Ser-
mo 6>. [Falta o sermão 5].
1.13 (ff. 65va-99vb) Sermones super Psalmum Qui Habitat. (ff. 65va-67rb) <Praefatio et
Sermo 1>. (ff. 67rb-67vb) <Sermo 2>. (ff. 67vb-69va) <Sermo 3>. (ff. 69va-70va) <Ser-
mo 4>. (ff. 70va-71rb) <Sermo 5>. (ff. 71rb-73ra) <Sermo 6>. (ff. 73ra-77vb) <Sermo

104 Retoma-se a descrição que publiquei em A. A. Nascimento – J. Meirinhos (org.) –


Catálogo dos códices da Livraria de Mão do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra na
Biblioteca Pública Municipal do Porto, Porto, Biblioteca Pública Municipal do Porto,
1997, pp. 182-198.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 127

7>. (ff. 77vb-81rb) <Sermo 8>. (ff. 81rb-83va) <Sermo 9>. (ff. 83va-85va) <Sermo 10>.
(ff. 85va-88va) <Sermo 11>. (ff. 88va-90vb) <Sermo 12>. (ff. 90vb-92rb) <Sermo 13>.
(ff. 92rb-94vb) <Sermo 14>. (ff. 94vb-96rb) <Sermo 15>. (ff. 96rb-97va) <Sermo 16>.
(ff. 97va-99vb) <Sermo 17>.
1.14 (ff. 99vb-102va) <Sermo III in adnuntiatione dominica>.
1.15 (ff. 102va-104vb) <Sermo I in adnuntiatione dominica, mut.>

Edições: Todos os sermões estão publicados na Patrologia Latina (PL), vol. clxxxiii e nas Sancti Bernardi Ope-
ra, ed. J. Leclerc – H.-M. Rochais, t. IV. Editiones Cistercienses, Roma 1966:
1.1. PL clxxxiii 35-56. Bernardi Opera, t. IV, 161-196.
1.2. PL clxxxiii 87-115. Bernardi Opera, t. IV, 197-244.
1.3. PL clxxxiii 115-130. Bernardi Opera, t. IV, 244-270.
1.4. PL clxxxiii 129-132. Bernardi Opera, t. IV, 270-273.
1.5. PL clxxxiii 135-142. Bernardi Opera, t. IV, 273-291. Ordem dos Sermões 1 e 2 trocada, no ms.
1.6. PL clxxxiii 141-152. Bernardi Opera, t. IV, 291-309.
1.7. PL clxxxiii 153-154. Bernardi Opera, t. IV, 310-313.
1.8. PL clxxxiii 155-162. Bernardi Opera, t. IV, 314-326.
1.9. PL clxxxiii 358-365. Bernardi Opera, t. IV, 327-334.
1.10. PL clxxxiii 365-372. Bernardi Opera, t. IV, 334-344.
1.11. PL clxxxiii 161-168. Bernardi Opera, t. IV, 344-352. O Sermão 1 encontra-se dividido em dois: ff. 56ra-
57ra e 57ra-58ra.
1.12. PL clxxxiii 167-186. Bernardi Opera, t. IV, 353-371, 377-380. Faltam os Sermões 5 e 6.
1.13. PL clxxxiii 185-254. Bernardi Opera, t. IV, 382-492.
1.14. PL clxxxiii 392-398. Bernardi Opera, t. V, 34-42.
1.15. PL clxxxiii 383-387D. Bernardi Opera, t. V, 13-23.

II
ff.: 4. (ff. 105-108 do códice, inseridos para preencher uma lacuna assinalada no f.
99vb).
1 (ff. 105ra-108vb) <Bernardus Claraevallensis abbatis, Sermo de sancto Benedicto,
acéf.>. (em branco: final da col. 108vb).
Edição: PL clxxxiii, [375] 337B-382. Bernardi Opera, t. V, ed. J. Leclercq – H.-M. Rochais, Editiones Cister-
cienses, Roma 1968, pp. [13]15-23.

III
ff.: 119 (ff. 109-227 do códice). Pergaminho, amarelado, com alguns furos e cortes de ori-
gem, bastante escurecido pelo uso, pelas manchas de gordura e pingos de cera. Com-
pleto, muito usado, alguns ff. algo delidos e sujos e outros fora de ordem, no final.
1 (ff. 109ra-227vb) Bernardus Claraevallensis abb., Sermones et Epistula.
1.1 (ff. 109ra-118vb) Sermones in die Paschae. (ff. 109ra-113vb) <Sermo 1>. (ff. 113vb-
116rb) <Sermo 2>. (ff. 116rb-118rb) <Sermo 3>. (f. 118va-b) <Sermo 4>.
1.2 (ff. 118vb-121vb) Sermones in octavae Paschae (ff. 118vb-120vb) <Sermo 1>. (ff.
120vb-121vb) <Sermo 2>.
1.3 (ff. 121vb-122rb) Sermo in rogationibus.
1.4 (ff. 122rb-134rb) Sermones in ascensione domini. (ff. 122rb-123rb) <Sermo 1>. inscr.
(ff. 123rb-124vb) <Sermo 2>. (ff. 124vb-127ra) <Sermo 3>. (ff. 127ra-130va) <Sermo
4>. (f. 130va-b) <Sermo 5>. (ff. 130vb-134rb) <Sermo 6>.
1.5 (ff. 134rb-139va) Sermones in diem pentecostes. (ff. 134rb-135vb) <Sermo 1>. (ff.
135vb-137va) <Sermo 2>. (ff. 137va-139va) <Sermo 3>.
128 Cister: por entre História e Imaginário – Livro do IX Encontro Cultural de São Cristóvão de Lafões

1.6 (ff. 139va-142rb) Sermo in nativitate sancti Iohannis Baptistae.


1.7 (ff. 142rb-vb) Sermo in vigilia Sanctorum Petri et Pauli.
1.8 (ff. 142vb-147ra) Sermones in festa sanctorum Petri et Pauli. (ff. 142vb-144ra) <Ser-
mo 1>. (ff. 144ra-145vb) <Sermo 2>. (ff. 145vb-147ra) <Sermo 3>.
1.9 (ff. 147ra-148rb) <Sermo in dominica quarta post pentecostem>.
1.10 (ff. 148rb-150vb) <Sermones in dominica sexta post pentecostem>. (ff. 148rb-149rb)
<Sermo 1>. (ff. 149rb-150vb) <Sermo 2>.
1.11 (ff. 150vb-151vb) Sermo de altitudine et bassitudine cordis.
1.12 (ff. 151vb-155ra) Sermones in labore Messis. (ff. 151vb-153vb) <Sermo 3>. (ff.
153vb-154ra) <Sermo 1>. (ff. 154va-155ra) <Sermo 2>.
1.13 (ff. 155ra-166rb) Sermones in assumptione beatae Mariae Virginis. (ff. 155ra-156rb)
<Sermo 1>. (ff. 156rb-158va) <Sermo 2>. (ff. 158va-160vb) <Sermo 3>. (ff. 160vb-
162va) <Sermo 4>. (ff. 162va-166rb) <Sermo 5>.
1.14 (ff. 166rb-170vb) Sermo in domenica infra octavam assumptionis beatae Maria.
1.15 (ff. 170vb-175va) Sermo in nativitate beatae Mariae virginis.
1.16 (ff. 175va-177ra) Sermo ad abbates.
1.17 (ff. 177rb-180ra) Sermones in festa Sancti Michaelis. (ff. 177rb-178vb) <Sermo 1>.
(ff. 178vb-180ra) <Sermo 2>.
1.18 (ff. 180ra-194ra) Sermones in festivitate omnium sanctorum. (ff. 180ra-184vb) <Ser-
mo 1>. (ff. 184vb-186vb) <Sermo 2>. (ff. 186vb-188rb) <Sermo 3>. (ff. 188rb-190va)
<Sermo 4>. (ff. 190va-194ra) <Sermo 5>.
1.19 (ff. 194ra-196va) Sermo in transito sancti Malachiae.
1.20 (ff. 196va-197rb) <Epistula 374 >.
1.21 (ff. 197rb-205ra) Sermones in dominica i novembris. (ff. 197rb-198rb) <Sermo 1>.
(ff. 198rb-199va) <Sermo 2>. (ff. 199va-200vb) <Sermo 3>. (ff. 200vb-201vb) <Sermo
4>. (ff. 201vb-205ra) <Sermo 5>.
1.22 (ff. 205rb-210ra) Sermo in festo Sancti Martini.
1.23 (ff. 210ra-211va) Sermo in natalis Sancti Clementi.
1.24 (ff. 211va-212vb) Sermo in vigilia Sancti Andreae.
1.25 (ff. 212vb-217ra) Sermones in natali Sancti Andreae. (ff. 212vb-215ra) <Sermo 1>.
(ff. 215ra-217ra) <Sermo 2>.
1.26 (ff. 217ra-219va) Sermo in obitu domini Humberti.
1.27 (ff. 219va-227vb) Sermones in dedicatione ecclesiae. (ff. 219va-220vb, f. 225ra) <Ser-
mo 1>. (ff. 225ra-226ra) <Sermo 2>. (ff. 226ra-vb, 221ra) <Sermo 3>. (ff. 221ra-222vb)
<Sermo 4>. (ff. 222vb-224vb, f. 227ra-vb) <Sermo 5>. coloph. Expliciunt sermones
sancti Bernardi Abbatis Claravallis sub era M.CC.XX.V. (cfr. acima a explicação da
reordenação dos ff. 221-227).
Edições: Todos os sermões e a carta estão publicados na Patrologia Latina (PL), vol. clxxxiii e nas Sancti Ber-
nardi Opera, ed. J. Leclercq – H.-M. Rochais, t. IV. Editiones Cistercienses, Roma 1966:
1. Cfr. PL clxxxii, clxxxiii. Cfr. Bernardi Opera, ed. J. Leclercq – H.-M. Rochais, t. V, VIII. Editiones Cister-
cienses, Roma 1968, 1977.
1.1. PL clxxxiii 273-292. Bernardi Opera, t. V, pp. 73-111. Em PL falta
o S. 4.
1.2. PL clxxxiii 291-298. Bernardi Opera, t. V, pp. 112-121.
1.3. PL clxxxiii 297-300. Bernardi Opera, t. V, pp. 121-123.
1.4. PL clxxxiii 299-324. Bernardi Opera, t. V, pp. 123-160.
1.5. PL clxxxiii 323-334. Bernardi Opera, t. V, pp. 160-176.
1.6. PL clxxxiii 397-404. Bernardi Opera, t. V, pp. 176-184.
1.7. PL clxxxiii 403-406. Bernardi Opera, t. V, pp. 185-187.
Manuscritos e leituras de S. Bernardo em Portugal na Idade Média – José Meirinhos 129

1.8. PL clxxxiii 405-416. Bernardi Opera, t. V, pp. 188-201.


1.9. PL clxxxiii 333-338. Bernardi Opera, t. V, pp. 202-205.
1.10. PL clxxxiii 337-344. Bernardi Opera, t. V, pp. 206-213.
1.11. PL clxxxiii 637-639. Bernardi Opera, t. V, pp. 214-216.
1.12. PL clxxxiii 639-647. Bernardi Opera, t. V, pp. 217-228.
1.13. PL clxxxiii 415-430. Bernardi Opera, t. V, pp. 228-261. Em PL falta
o Sermão 5.
1.14. PL clxxxiii 429-438. Bernardi Opera, t. V, pp. 262-274.
1.15. PL clxxxiii 437-448. Bernardi Opera, t. V, pp. 275-288.
1.16. PL clxxxiii 634-637. Bernardi Opera, t. V, pp. 288-293.
1.17. PL clxxxiii 447-454. Bernardi Opera, t. V, pp. 294-303.
1.18. PL clxxxiii 453-482. Bernardi Opera, t. V, pp. 327-370.
1.19. PL clxxxiii 481-486. Bernardi Opera, t. V, pp. 417-423.
1.20. PL clxxxii 579-580. Bernardi Opera, t. VIII, pp. 335-337.
1.21. PL clxxxiii 343-360. Bernardi Opera, t. V, pp. 304-326.
1.22. PL clxxxiii 489-500. Bernardi Opera, t. V, pp. 399-412.
1.23. PL clxxxiii 499-502. Bernardi Opera, t. V, pp. 412-417.
1.24. PL clxxxiii 501-504. Bernardi Opera, t. V, pp. 423-426.
1.25. PL clxxxiii 503-514. Bernardi Opera, t. V, pp. 427-440.
1.26. PL clxxxiii 513-518. Bernardi Opera, t. V, pp. 440-447.
1.27. PL clxxxiii 517-535. Bernardi Opera, t. V, pp. 370-398.

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