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A análise da tarefa também é considerada como

um princípio que impõe um modo de definição do


trabalho em relação ao tempo. A característica prin-
cipal da tarefa é sua exterioridade em relação ao tra-
balhador envolvido (GUERIN, 2001).
A exterioridade diz respeito ao planejamento
do trabalho por um engenheiro de produção, um ad-
ministrador ou gestor que não participa ativamente
in loco da produção por ele planejada. Frequente-
mente, estes gestores não levam em conta as particu-
laridades dos operadores e muito menos o que eles
pensam sobre as escolhas feitas e impostas (GUE-
RIN, 2001).
Após a abordagem da análise da tarefa a qual
diz respeito às prescrições e regulamentos do traba-
lho, iremos agora discorrer sobre a análise da ativi-
dade, sua natureza e características, seus elementos
de estudo, conceitos e definições.
De maneira introdutória, vimos que a atividade
difere da tarefa da mesma forma que o trabalho real
difere do trabalho prescrito. Variabilidades decor-
rentes da tecnologia, das pessoas e da organização
constituem estas diferenças entre o que é real e o que
é prescrito. Outro fator que contribui para esta dis-
crepância é limitações e fragilidades do planejamen-
to da produção, dificuldades de recursos ofertados
pela empresa e restrições temporais para a produção.

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De maneira geral, podemos dizer que a ativida-
de consiste naquilo que o trabalhador faz, suas ações,
suas decisões para atingir os objetivos definidos na
tarefa ou redefinidos de acordo com o trabalho real
(ABRAHÃO et al., 2009).
Há ainda uma dimensão importante da atividade:
a forma como o trabalhador executa para atingir os ob-
jetivos propostos para a tarefa. Esta dimensão contem-
pla o trabalho muscular (força, flexibilidade, controlo
motor, posturas assumidas, etc.), e as atividades cogni-
tivas do trabalhador (ABRAHÃO et al., 2009).
A análise da atividade se faz através da observa-
ção dos comportamentos dos trabalhadores, sua fala,
a direção do olhar, os gestos, os movimentos, desloca-
mentos, etc. A atividade pode ser analisada também a
partir das estratégias operatórias adotadas pelo traba-
lhador para cumprir as metas com as condições for-
necidas pela empresa (ABRAHÃO et al., 2009).
Os elementos analisados devem ser quantificá-
veis através de registros estatísticos, fotografias, ví-
deos, planilhas, softwares, entrevistas, questionários
etc. De maneira resumida, os aspectos a serem defi-
nidos e analisados são:

• Realização do trabalho;
• Percepção do trabalho;
• Gestos e movimentos;
• Posturas e vícios;

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• Ritmo de trabalho;
• Pausas e repousos;
• Fatores sociais;
• Técnicas de análise.

As características de resultado em uma Análise


Ergonômica do Trabalho (AET) constam de:

A Figura 5 ilustra as relações entre tarefa e ativi-


dade, suas diferenças e particularidades. Nota-se que
a tarefa está relacionada às condições predetermina-
das e a resultados antecipados e a atividade de traba-

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lho às condições reais de trabalho e ao resultado real.

O diagnóstico ergonômico, parte integrante de


uma Análise Ergonômica do Trabalho é resultado de
uma reflexão e avaliação das etapas pregressas ante-
riormente conduzidas.
Não se pode identificar um diagnóstico ergonô-
mico sem antes ter abordado o assunto ou tema em
questão. Por exemplo, não se pode no diagnóstico
identificar uma postura incorreta de um trabalhador
que realiza uma atividade qualquer sem ter registra-
do esta postura por meio de fotografias ou vídeos na
análise da atividade, ser ter registrado a frequência
que o trabalhador assume tal postura.
Além disso, não se pode diagnosticar que a
postura “x” assumida gera riscos de doenças oste-
omusculares sem corroborar esta informação nas

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estatísticas de afastamentos ou registros de entrada
no serviço médico da empresa por conta de dores
ou qualquer distúrbio igual ou similar ao identifica-
do, seja pelo trabalhador em questão ou por outros
trabalhadores que realizam o mesmo tipo de tarefa.
O diagnóstico ergonômico resulta da articula-
ção dos dados resultantes das hipóteses iniciais de
pesquisa levantadas durante a análise da demanda,
das observações livres do ergonomista, da comple-
xidade e da variabilidade das situações de trabalho,
das questões relacionadas à organização do trabalho
ou a cultura organizacional e dos conhecimentos do
ergonomista (ABRAHÃO et al., 2009)
A formulação do diagnóstico ergonômico tem
como objetivo a reformulação das questões iniciais
e hipóteses de base, contribuir para desvendar as es-
tratégias usadas pelos operadores para realizar uma
atividade e contribuir para uma mudança das repre-
sentações sobre o trabalho (ABRAHÃO et al., 2009).
Segundo Guerín (2001), o diagnóstico ergonômico
também contribui para a resolução de problemas
micro e macro e identificar sintomas relacionados a
não conformidades, como por exemplo:

• Erros humanos;
• Incidentes críticos;
• Afastamentos;
• Falta de qualidade nos serviços.

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Por fim, as recomendações ergonômicas são
o produto do esforço metodológico realizado nas
etapas iniciais e finais de uma AET. Por isso, a er-
gonomia é uma ciência e uma técnica, uma ciência
porque requer uma abordagem de pesquisa científica
e também porque demanda ações transformadoras
de cunho socioeconômico.
Não existe uma ação ergonômica sem a busca
pela transformação do trabalho, a melhoria dos pro-
cessos produtivos, da valorização do profissional na
empresa e sua proteção contra doenças ocupacio-
nais e acidentes de trabalho.
É importante que haja envolvimento de vários
profissionais e representantes da empresa para que
as recomendações ergonômicas sejam mais comple-
tas, menos restritivas e alcancem as expectativas de
todos envolvidos. Não se faz ergonomia sem envol-
vimento dos trabalhadores.
Segundo Guerín (2001), as recomendações er-
gonômicas contemplam uma apresentação do es-
tudo, objetivo, e resultados, o modelo operativo de
ação e os custos das modificações e perspectivas. Al-
guns exemplos de melhorias são:

• Projeto de novos sistemas de trabalho;


• Análise de tempos e movimentos;
• Antropometria;
• Enriquecimento das tarefas;

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• Controle do ritmo de trabalho;
• Rodízio das tarefas;
• Pausas energéticas;
• Relaxamento muscular;
• Pequenas melhorias;
• Correção dos vícios.

A Figura 6 ilustra a relação entre as etapas de


uma Análise Ergonômica do Trabalho com a tipo-
logia de recursos de investigação em pesquisa que
devem ser realizados para levantamento de dados,
reflexões analíticas e alcance dos objetivos.

Finalizamos este capítulo ressaltando que o


foco da Análise Ergonômica do Trabalho é contri-
buir para o cumprimento do item 17.1 da NR 17, o
qual informa:

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Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer pa-
râmetros que permitam a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos tra-
balhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente.

Para que se possa atingir o objetivo supracitado,


a NR 17 informa os requisitos mínimos de interven-
ção e análise para o desenvolvimento de uma AET.
Estes requisitos são:

• Levantamento, transporte e descarga individual


de materiais;
• Mobiliário dos postos de trabalho;
• Equipamentos dos postos de trabalho;
• Condições ambientais de trabalho:
• Organização do trabalho:
o As normas de produção;
o O modo operatório;
o A exigência de tempo;
o A determinação do conteúdo de tempo;
o O ritmo de trabalho;
o O conteúdo das tarefas.

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A AET trata-se de um documento dinâmico
e por isso deve estar baseado em ações mediatas e
imediatas, ou seja, é necessário que se gerencie os
achados obtidos durante o levantamento das infor-
mações para a melhoria do trabalho.

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Exercícios
1) Explique a relação do desenvolvimento da ergo-
nomia com o pós II Guerra Mundial.
2) Explique por que atualmente as principais pesqui-
sas científicas possuem foco na ergonomia cognitiva
e organizacional.
3) Explique por que a ergonomia possui natureza
interdisciplinar.
4) Segundo Abrahão et al. (2009), há três pressupos-
tos para uma compreensão da ação ergonômica e de
suas metodologias
5) Por que empregadores e empregados se benefi-
ciam da ergonomia?

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