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Objetivos da Unidade:
Aprender como uma Análise Ergonômica do Trabalho deve ser estruturada, conforme a
NR-17;
📄 Contextualização
📄 Material Teórico
📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Contextualização
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Imagine que você acabou de se formar em Engenharia de Segurança do Trabalho, e uma empresa
o chamou para prestar consultoria em ergonomia, especificamente para analisar a atividade
realizada por um ajudante de depósito de materiais de construção. A principal tarefa desse cargo
é auxiliar no descarregamento de caminhões carregados com materiais pesados para abastecer
o estoque do depósito. Além disso, quando um cliente adquire materiais de construção e solicita
Você foi convocado, porque oito ajudantes desse depósito apresentaram problemas na coluna. O
médico do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) constatou agravos à
saúde desses trabalhadores, sendo as lesões diretamente relacionadas ao trabalho. O
absenteísmo nessa função está aumentando, pois esses trabalhadores frequentemente são
atendidos no pronto-socorro devido a fortes dores na coluna. Quando isso acontece, eles ficam,
no mínimo, sete dias afastados do trabalho, mediante atestado médico. O proprietário do depósito
está muito preocupado, porque os ajudantes estão se queixando, alguns estão faltando, e o
desempenho dessa atividade está, cada vez mais, diminuindo em comparação a cinco anos
atrás.
Nesse contexto, o que você faria para ajudar o dono do depósito? Como ajudaria esses
trabalhadores? Este caso pode ser resolvido com um estudo preliminar ou precisa ser
solucionado com uma análise mais detalhada? Quais conceitos você precisa dominar para
identificar os riscos ergonômicos?
Introdução
Antes de chegar na explicação da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que seria a forma como
você deveria estruturar a resolução da situação-problema apresentada na contextualização, é
necessário entender quais são os quatro pilares da NR-17, o que é tarefa e atividade/trabalho
prescrito e trabalho real, e quais são as condições e situações de trabalho preconizadas pela NR-
17. Somente após entender esses conceitos, poderemos chegar nos finalmentes, que é falar
sobre a AET.
Objetivo da NR-17
A Norma Regulamentadora 17 (NR-17) (BRASIL, 2022c) visa estabelecer diretrizes e requisitos
que propiciem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, com o propósito de proporcionar segurança, saúde, conforto e desempenho
eficiente no trabalho.
atividade.
vida laboral deles. Caso as metas de produção sejam “intangíveis” e não respeitem as
características psicofisiológicas dos operadores, o prejuízo na saúde destes será provavelmente
muito alto.
A Atividade e a Tarefa
Segundo Gemma et al. (2021), no contexto da ergonomia da atividade, a tarefa é definida como o
conjunto de prescrições, regras e normas impostas pela organização do trabalho para atingir
objetivos específicos, determinando o que deve ser feito e as condições para sua realização. Por
outro lado, a atividade refere-se à maneira como os resultados são efetivamente alcançados
pelos trabalhadores, englobando as ações, decisões e adaptações que ocorrem no contexto
dinâmico do trabalho real. Enquanto a tarefa representa o que é prescrito e antecipado, a atividade
reflete as estratégias utilizadas pelos operadores no dia a dia para lidar com variabilidades,
Wisner (1994) e Guérin et al. (2001) definem que o trabalho prescrito é diferente do trabalho real.
O trabalho prescrito compreende o modo formal como a tarefa é estipulada pela empresa ao
operador para ser realizada. Isso compreende, por exemplo, as Ordens de Serviços (OS),
Permissões de Trabalho (PT), Análises de Riscos das Tarefas (ART), Diálogos Diários de
Segurança (DDS), instruções passadas em treinamentos etc. O trabalho real compreende o modo
real como a tarefa é realizada na prática pelo operador.
Portanto, mesmo a organização tendo uma gestão eficiente em Saúde e Segurança do Trabalho
(SST), algumas variabilidades e dificuldades que até então nunca haviam se manifestado na
execução de uma determinada tarefa e não tinham sido previstas pelos engenheiros e gestores,
podem vir a aparecer no meio da execução de um serviço. Por exemplo, no acidente nuclear de
Fukushima I, ocorrido em 11 de março de 2011, o projeto de engenharia não previa que um
tsunami de mais de 10 metros de altura pudesse atingir a usina (e foi o que ocorreu, devido ao
terremoto de aproximadamente 9,1 graus na escala Richter).
Logo, a gestão da segurança da organização deve o máximo possível fazer com que o trabalho
real se aproxime o máximo possível do trabalho prescrito, porém, mesmo assim, devido a novas
variabilidades que podem surgir, os dois não podem ser considerados iguais. Por isso, na Figura
1, a atividade de trabalho está atrelada a dois tipos de tarefas: prescritas e reais.
Hollnagel (2002) define que as variabilidades no trabalho sempre poderão existir e que cabe à
empresa monitorá-las.
Reflita
Por que as normas técnicas precisam ser constantemente atualizadas?
Vimos, anteriormente, que a NR-17 tem por objetivo mensurar parâmetros para adaptar as
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos operadores. Essas condições de
É fundamental frisar que os fatores citados não estão desassociados uns dos outros e eles
devem ser analisados em conjunto, pois interferem em conjunto na execução das atividades.
A NR-17 possui dois anexos referentes a atividades específicas. O anexo I é sobre o trabalho dos
operadores de checkout e o anexo II é sobre o trabalho em teleatendimento/telemarketing.
mulher.”
- BRASIL, 1943, n. p.
Será mesmo que carregar até 60 quilos é seguro para a saúde de um ser humano adulto do sexo
masculino?
“Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso seja
A carga suportada deve ser reduzida quando se tratar de trabalhadora mulher e de trabalhador menor nas
- BRASIL, c2022, n. p.
Acontece que a CLT é uma lei federal de 1943 e, mesmo depois da reforma trabalhista de 2017,
que modificou diversos dispositivos dessa lei, o art. 198 continua vigente e não foi modificado.
E o que diz a lei sobre a carga que pode ser carregada por mulheres ou trabalhadores menores de
idade? Nesse caso, há disposição específica no art. 390 da CLT, que também se aplica ao menor
de idade (conforme art. 405, § 5º da CLT):
muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos
- BRASIL, 1943, n. p.
Saiba Mais
O art. 402 da CLT considera trabalhador menor de idade, aquele entre 14 e 18
anos. O art. 405 da CLT relata quais atividades não são permitidas para o
menor.
Camisassa (2023) explica que o motivo da CLT estipular 60 quilos como peso máximo de carga
para homens, é devido a um motivo histórico e não técnico. Desde o início da produção comercial
de café no Brasil, no século XIX, o peso dos sacos de juta utilizados no transporte de café era de
60 quilos, por isso, a CLT estipulou esse peso. Portanto, devido à desatualização do art. 198 da
CLT, a NR-17 deve ser seguida.
Complementarmente, o que ocorre é que para mulheres e trabalhadores menores de idade, o art.
390 da CLT é muito mais restritivo. Por fim, a NR-17 deve ser empregada em qualquer situação de
trabalho que envolva ergonomia, para trabalhadores homens ou mulheres e menores de idade.
O saco de cimento, que é muito utilizado na construção civil em geral, possui atualmente 50
quilos. O Ministério Público do Trabalho – MPT (2018) assinou, em 2018, um Termo de
Compromisso com 33 empresas produtoras de cimento para que até o final de 2028 o saco passe
a ser comercializado com peso até 25 quilos, e que, no início de 2029, mesmo que o saco de 50
Imagine a atividade de um trabalhador que descarrega um caminhão que está com 200 sacos de
cimento, cada saco com 50 quilos (o cimento é apenas um exemplo, pois há diversos produtos
que são ensacados, como farinha, arroz etc.). Vamos supor que ele trabalhe em um depósito de
Pensando nos quatro pilares exigidos pela NR-17 (segurança, saúde, conforto e desempenho
eficiente), o trabalho de descarregar o caminhão pode ser feito com o auxílio de uma
empilhadeira, desde que os sacos de cimentos já estejam em pallets e, para descarregar os
sacos dos pallets, é possível usar um manipulador a vácuo que pegaria o saco e colocaria, por
exemplo, no carro do cliente (consumidor final). Cada tipo de tarefa exige um estudo ergonômico
que deve ser aplicado para cada realidade, portanto, esse foi apenas um exemplo.
Em muitas obras residenciais, comerciais e até prediais, é inviável ter uma empilhadeira para
descarregar o caminhão e um manipulador a vácuo, pois a frequência que um caminhão
carregado com cimento chega na obra para ser descarregado é muito menor do que em um
depósito de material de construção, quando o caminhão chega direto da fábrica de cimento para
abastecer o depósito. Fora isso, a depender do local que os sacos ficarão armazenados dentro da
obra, devido às disposições físicas do lugar, não há como a empilhadeira entrar e nem como
instalar o manipulador a vácuo. Portanto, a viabilidade da solução proposta deve se aplicar a
realidade da situação.
Importante!
Sobre a empilhadeira para descarregar é preciso analisar a viabilidade de
cada caso individualmente.
Outras medidas mitigadoras que podem ser usadas no exemplo dado do descarregamento do
caminhão na obra, é: a) utilizar diversos trabalhadores para a descarga; b) comprar sacos de
cimento de 25 quilos, ao invés de 50 quilos, a fim dos trabalhadores carregarem menos peso em
cada viagem; c) estabelecer pausas, e d) parar o caminhão no local mais próximo possível de
Vídeos
Como Carregar Sacos de Cimento sem Muito Esforço
Trabalhador coloca vários sacos de cimentos que estavam em pallets, dentro
de um carro, utilizando um manipulador a vácuo.
Vídeos
O MPT deu o prazo de 10 anos para as fabricantes mudarem o peso dos sacos de cimento pela
metade, conforme já dito. Isso pode parecer muito tempo, pois pensando superficialmente sobre
a situação, basta que as fabricantes mudem o tamanho do saco e comecem a produzir com o
novo peso e o problema estará resolvido. Porém, e toda a cadeia de produção e demais coisas
envolvidas (máquinas, ferramentas, transporte, armazenamento, impostos etc.) que está
programada e dimensionada para operar com sacos de 50 quilos? Nesse processo de alteração
da produção do saco de cimento, há muitas variáveis e fatores envolvidos que não podem ser
ignorados, e que precisam de tempo para serem analisados e viabilizados até que a mudança
completa seja feita. Com certeza, a diminuição do peso para 25 quilos, nesse caso, será muito
benéfica à saúde do trabalhador.
Para uma análise quantitativa, a fim de saber qual é o limite de peso recomendado para o
levantamento manual de cargas, a equação de NIOSH pode ser utilizada para atender parte dos
requisitos da NR-17. Veremos isso na próxima unidade.
A NR-17, no item 17.5.4, determina que para a movimentação e no transporte manual de cargas
não eventuais, devem ser adotadas uma ou mais medidas de prevenção:
“a) implantar meios técnicos facilitadores;
b) adequar o peso e o tamanho da carga (dimensões e formato) para que não provoquem o aumento do
esforço físico que possa comprometer a segurança e a saúde do trabalhador;
c) limitar a duração, a frequência e o número de movimentos a serem efetuados pelos trabalhadores;
horas.”
Após a pandemia de Covid-19, tornou-se comum várias empresas permitirem que seus
funcionários adotem o home office, ou seja, trabalhem de casa. Em muitos casos, essa prática se
estende a todos os dias da semana, enquanto, em outros, é permitida em dias específicos. Para
facilitar nossa discussão sobre o projeto do posto de trabalho, consideremos o exemplo de uma
advogada que trabalha nove horas por dia, durante três dias úteis da semana em casa, utilizando
principalmente seu notebook/laptop para digitar e ler documentos. Nos outros dois dias úteis, ela
desempenha suas atividades no escritório de advocacia onde é contratada. Essa situação é
ilustrada na Figura 2:
Figura 2 – Exemplo hipotético de uma advogada trabalhando no
notebook/laptop em situação de home office
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: a figura retrata uma mulher negra, sentada em uma mesa de madeira
comprida, suficiente para acomodar aproximadamente quatro pessoas, indicado pelas
três cadeiras vazias além daquela em que ela está. A cadeira em que a mulher está
sentada é idêntica às outras, não oferecendo regulagem de altura nem apoio de braços
ajustáveis. A cena sugere estar em uma sala, com a mulher sorrindo e olhando para cima.
A mulher está posicionada a 90° em relação à cadeira, sem encostar suas costas nela,
utilizando um notebook/laptop localizado no início da mesa para digitar. Seus dois braços
estão espelhados, flexionados de maneira semelhante, apoiados sobre o notebook. Os
cotovelos da mulher estão fora da mesa, sem qualquer apoio. Fim da descrição.
Analisando a Figura 2, você acredita que este posto de trabalho é adequado para esta
trabalhadora trabalhar 3 dias da semana, durante nove horas, na casa dela? Ele atende os quatro
pilares da NR-17?
Para responder essa pergunta, vejamos algumas exigências que a NR-17 relata sobre o mobiliário
do posto de trabalho:
“17.6.1 O conjunto do mobiliário do posto de trabalho deve apresentar regulagens em um ou mais de seus
elementos que permitam adaptá-lo às características antropométricas que atendam ao conjunto dos
trabalhadores envolvidos e à natureza do trabalho a ser desenvolvido.
17.6.3 Para trabalho manual, os planos de trabalho devem proporcionar ao trabalhador condições de boa
corporais de forma a não comprometer a saúde e não ocasionar amplitudes articulares excessivas ou
posturas nocivas de trabalho;
b) altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância
requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento;
c) área de trabalho dentro da zona de alcance manual e de fácil visualização pelo trabalhador;
d) para o trabalho sentado, espaço suficiente para pernas e pés na base do plano de trabalho, para permitir
que o trabalhador se aproxime o máximo possível do ponto de operação e possa posicionar completamente
a região plantar, podendo utilizar apoio para os pés, nos termos do item 17.6.4;
17.6.4 Para adaptação do mobiliário às dimensões antropométricas do trabalhador, pode ser utilizado apoio
para os pés sempre que o trabalhador não puder manter a planta dos pés completamente apoiada no piso.
17.6.6 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos:
a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida;
- BRASIL, c2022, n. p.
Alguns comentários sobre a situação de trabalho exemplificada na Figura 2:
Reflita
Vamos supor que a advogada da Figura 2, em nosso exemplo hipotético,
trabalhasse todos os dias da semana no escritório de advocacia e utilizasse
seu notebook apenas por poucos minutos durante a manhã, antes de chegar
no trabalho, para conferir seus e-mails pessoais. Haveria problema para a
saúde dela usar o notebook da maneira que ela está usando na Figura? A
resposta é provavelmente não, desde que ela não use o notebook por muito
tempo e que seja uma situação esporádica. Caso ela use para trabalho ou
lazer, frequentemente, mesmo que seja por poucas horas do dia, poderá ter
características dele.
A Figura 3 mostra um exemplo de posto de trabalho de digitação para uma pessoa que trabalha
sentada, atendendo as exigências da NR-17. Na mesa deste exemplo, há dois níveis de altura,
sendo um para o teclado e mouse, e outro para o monitor. O início da tela do monitor fica na linha
horizontal da altura dos olhos (a tela não deve ficar acima, pois o trabalhador terá que curvar a
cabeça para cima, podendo causar dores na sua cervical, conforme já dito). O mouse e o teclado,
que estão mais baixos, devem ficar alinhados com o apoio de braço da cadeira, para que todo o
antebraço fique apoiado. A cadeira possui ajuste de altura para o apoio de braço, ajuste de altura
do assento e ajuste de inclinação do encosto. A mulher na figura utiliza um apoio de pés para
descansar os pés. Não se deve apoiar os pés sobre as rodinhas da cadeira.
Figura 3 – Posto de trabalho de digitação para trabalho sentado,
atendendo as exigências da NR-17
Fonte: Getty Images
Assento
Teclado
Deve permitir a
e) Altura 20 cm acomodação e
movimentação das coxas
Profundidade de 60 cm na
f) Profundidade 60 a 80 cm altura dos joelhos e 80 cm
no nível do piso
Dimensões
Variáveis Observações
recomendadas
Deve permitir
g) Largura 80 cm movimentação lateral das
pernas
Tela
A distância depende do
i) Distância visual 41 a 93 cm tipo de tarefa e
preferências pessoais
A NR-17 também faz considerações sobre o trabalho em pé, no qual as exigências podem ser
consultadas no decorrer do item 17.6 da norma.
Os equipamentos que possuem display (monitor de vídeo) devem permitir que o operador ajuste a
tela à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionando que o operador
tenha um ângulo ideal de visibilidade. Caso no posto de trabalho seja necessário utilizar
computador portátil com habitualidade, o espaço deve ser projetado às condições
antropométricas dos operadores para comportar o uso do computador e seus acessórios, perante
as exigências operacionais da atividade que é realizada.
Em relação às ferramentas manuais, estas devem permitir o fácil manuseio pelo operador e evitar
a compressão da palma da mão ou de um ou mais dedos em quinas ou arestas vivas. Além disso,
a empresa deve se atentar ao tipo, formato e textura da ferramenta, garantindo uma empunhadura
adequada à tarefa. Se necessário o uso de luvas, é importante verificar a segurança da
empunhadura com a ferramenta.
uma máquina. Você acredita que esse painel se adequa às exigências da NR-17?
Figura 5 – Parte parcial de um painel de controle e de comandos
de uma máquina
Fonte: Acervo do conteudista
A NR-12 exige que as inscrições das máquinas e equipamentos devem estar escritas na língua
portuguesa (Brasil) e serem legíveis (item 12.12.4). Na Figura 5, o painel está escrito totalmente
em língua inglesa, o que pode resultar em uma possível confusão do trabalhador em apertar
algum botão errado, que, na ergonomia, chamamos de armadilha cognitiva (ALMEIDA et al., 2014).
Apenas por esse motivo, podemos dizer que este painel possui uma falha em atender a
ergonomia cognitiva, pois sua concepção obrigatoriamente deveria facilitar o máximo possível a
Interface Homem-Máquina (IHM). Outros pontos poderiam ser discutidos sobre este painel,
porém necessitaríamos conhecer o contexto geral da máquina, dos trabalhadores e da atividade.
Glossário
Interface Homem-Máquina (IHM): refere-se ao ponto de interação entre um
ser humano e um sistema ou dispositivo tecnológico. Essa interface
possibilita a comunicação e o controle entre o usuário e a máquina,
permitindo que os seres humanos interajam com máquinas e controlem
dispositivos, softwares ou sistemas.
Saiba Mais
No acidente da usina nuclear de Three Mile Island (1979), no painel de
controle, havia uma falha na sinalização relacionada ao fechamento da
válvula de descarga. Quando o operador enviava a ordem remota para fechar
a válvula, o painel indicava que ela estava fechada, independentemente de
ela realmente ter sido fechada ou não. Os operadores não estavam cientes
que a sinalização do painel apenas mostrava que eles haviam apertado o
botão, eles acreditavam que a sinalização indicava que o comando deles
havia sido realizado com sucesso. Esse caso é um exemplo clássico que
indica falhas na concepção ergonômica do projeto do painel, pois caso um
trabalhador aperte um botão e no painel acenda, por exemplo, uma luz verde,
ele irá acreditar que o comando foi efetuado. Projetar um painel que vai
contra essa lógica, é ir na contramão da ergonomia cognitiva.
subjetivo, pois o que pode ser confortável para uma pessoa, pode não ser para outra. Portanto, a
atual redação da NR-17 contém tanto disposições qualitativas, quanto quantitativas referente ao
conforto.
Conforto Visual
Em todos os locais e situações de trabalho deve existir iluminação natural ou artificial, geral ou
complementar, de acordo com as características da atividade a ser realizada. A iluminação do
ambiente não pode provocar ofuscamento, sombras, contrastes excessivos e reflexos que
atrapalhem o operador.
Vamos entender na prática como isso funciona? Imagine, por exemplo, que, em um hospital, há
uma sala para atendimento médico com 9 m². Qual deve ser o fluxo luminoso desse ambiente?
Quantas lâmpadas é necessário ter? Segundo o quadro 1 da NHO-11 (FUNDACENTRO, 2018),
uma “sala para atendimento médico” precisa ter um nível mínimo de iluminamento de 500 lux.
Portanto, se a área do espaço é de 9 m², então irá ser necessário um fluxo luminoso mínimo de:
Logo, são necessários no mínimo 4.500 lúmens para atender esse fluxo luminoso. Suponhamos
que cada lâmpada que o hospital comprou seja de 900 lúmens, portanto, serão necessárias 5
lâmpadas. Esse cálculo é apenas uma estimativa para o ambiente, pois há diversas outras
variáveis que influenciam na iluminação, como: cor das paredes e revestimentos, altura do pé
direito e distância entre os pontos de luz, quantidade de luz natural existente etc. O aparelho que
mede o fluxo luminoso é chamado de luxímetro.
É necessário ressaltar que a ausência ou excesso de iluminação são prejudiciais ao trabalhador.
Conforto Térmico
Em ambientes internos de trabalho onde são executadas atividades que necessitem da
manutenção da solicitação intelectual e atenção constantes, é necessário adotar medidas de
conforto térmico por meio de medidas de controle da velocidade do ar, temperatura e da umidade,
a fim de propiciar conforto térmico, observando a faixa de temperatura entre 18 e 25°C (graus
Também devem ser estipuladas medidas de controle da ventilação ambiental, com o intuito de
reduzir a incidência de correntes de ar diretas sobre os trabalhadores.
Será que existe algum trabalho atualmente que não exige um mínimo de solicitação intelectual e
Importante!
Não devemos confundir conforto térmico com sobrecarga térmica. Esta é
avaliada quantitativamente por meio do Índice Bulbo Úmido Termômetro de
Globo (IBUTG) e a Taxa Metabólica (estimada, correspondente à atividade
Importante!
Não devemos confundir nível de conforto acústico com nível de pressão
sonora máxima diária permissível. Esta, para uma jornada diária de 8h é de
até 85 dB(A), independentemente do tipo da atividade, conforme disposição
do anexo 1 (Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente) da
NR-15.
Organização do Tabalho
A organização do trabalho engloba tanto aspectos organizacionais quanto individuais que
influenciam na maneira como o trabalhador emprega seu corpo e sua mente para realizar o
trabalho. Portanto, para entender a organização do trabalho, é preciso analisar sistemicamente
todos os fatores entre a empresa e os trabalhadores. Devido a isso, a NR-17 estipula que há seis
fatores que devem ser analisados:
suas atividades;
o qual menciona que empresas com até 10 empregados ficam dispensadas das obrigações do
item 17.4.7. Portanto, isso quer dizer que empresas com até 10 empregados não devem fomentar
que seus superiores hierárquicos estimulem um tratamento justo e respeitoso entre os
funcionários e que não mantenham um espaço aberto de diálogo com eles? Claro que não. No
entanto, a redação da norma dá essa impressão. Muitas empresas no país têm até 10
empregados. Logo, a NR-17 não deveria ter incluído o item 17.4.7.1 em seu texto.
meio da análise das condições de trabalho. O item 3 desta apostila foi específico em descrever o
conceito das condições de trabalho.
Veremos agora então as disposições referentes às avaliações das situações de trabalho, perante
o Gerenciamento dos Riscos Ocupacionais (GRO) da NR-1, no que é referente a ergonomia. Estas
avaliações referem-se à Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) e à Análise Ergonômica do
Trabalho (AET).
A AEP não precisa ser necessariamente um documento propriamente dito, pois, no item 17.3.1.2
da NR-17, é mencionado que ela pode ser incorporada nas etapas de identificação de perigos e de
avaliação dos riscos do GRO, que são descritas no item 1.5.4 da NR-1.
É fundamental que a conversa com os trabalhadores fomente as coletas de dados da AEP, a fim
de que seja possível compreender as dificuldades e variabilidades que fazem parte do trabalho
real das atividades. Para isso, não deve haver pré-julgamentos das ações dos trabalhadores, mas
deve-se procurar entender o porquê eles fazem o trabalho real da forma como o executam.
Apesar da AEP ser uma avaliação preliminar, isso não quer dizer que ela deva ser feita de forma
superficial, pois a própria NR-17 determina que ela pode ser elaborada usando, por exemplo,
critérios qualitativos e/ou quantitativos.
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
A AET é uma abordagem metodológica proposta pela ergonomia, referente a uma análise mais
minuciosa e detalhada das situações e condições de trabalho. Portanto, a AET engloba tudo o que
vimos nesta unidade e deve ser empregada em casos que merecem um detalhamento maior
quanto a ergonomia. Para casos menos complexos, a AEP pode ser empregada.
Importante!
Para relembrar o que são as “situações de trabalho”, veja a Figura 1.
No início de uma avaliação ergonômica, a AEP pode ser empregada inicialmente. Caso seja
observado que é necessário um detalhamento maior, uma AET deve ser estruturada para atender
à demanda de ergonomia.
Diferente da AEP, a AET, quando realizada, deve ser feita em formato documental específico e seu
relatório deve ficar à disposição na empresa por um prazo de 20 anos, conforme disposições do
item 17.3.7 da NR-17.
A NR-17, além de determinar que a AET deve ser realizada em casos que necessitem de uma
avaliação mais aprofundada sobre as situações de trabalho, determina que ela também deve ser
O item 17.3.3 da NR-17 estipula as etapas que a AET deve ter (devem ser seguidas na ordem):
“17.3.3 A AET deve abordar as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta NR, incluindo as
seguintes etapas:
c) descrição e justificativa para definição de métodos, técnicas e ferramentas adequados para a análise e
sua aplicação, não estando adstrita à utilização de métodos, técnicas e ferramentas específicos;
d) estabelecimento de diagnóstico;
- BRASIL, c2022, n. p.
Para empresas do regime ME e EPP enquadradas como graus de risco 1 e 2 e MEI, não há
obrigatoriedade de elaborar a AET, porém todos os demais requisitos da NR-17 devem ser
atendidos.
Segundo o item 17.3.4.1 da NR-17, as ME ou EPP enquadradas como graus de risco 1 e 2 devem
elaborar a AET quando: for sugerido pelo serviço de acompanhamento de saúde dos
trabalhadores, previsto no PCMSO, e quando houver indícios de associação de riscos
ergonômicos a lesões e agravos à saúde dos trabalhadores; indicada causa associada às
condições de trabalho na análise de acidentes e doenças do trabalho, nos termos do PGR.
Saiba Mais
Qual o prazo de validade de uma AEP e AET?
A NR-17 não especifica qual é o profissional que deve elaborar a AEP e AET.
Logo, legalmente, qualquer profissional que tenha conhecimentos e algum
tipo de formação em ergonomia podem elaborá-las. Por exemplo, o
Engenheiro de Segurança do Trabalho possui, em sua grade curricular, a
disciplina de ergonomia dentro de sua formação. Há cursos de pós-
graduação em ergonomia que possuem cerca de 360 horas, formando
ergonomistas. Apenas podem ser chamados de “ergonomistas” os
profissionais que passaram por essa especialização. No entanto, não há
obrigatoriedade legal que restrinja a elaboração da AEP e AET apenas a
ergonomistas.
O ideal é que a AET seja feita por uma equipe multidisciplinar que conte com
a participação dos trabalhadores durante a análise. Não é recomendado que
profissionais com conhecimentos superficiais sobre ergonomia realizem a
AEP e AET.
Vídeo
Filmes
Leitura
Mudanças na NR-17
Essa cartilha do SESI explica detalhadamente o texto normativo dos itens da NR-17, com base em
seu último texto de 2022, de uma forma simples de entender.
ACESSE
📄 Referências
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BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de
Janeiro: Presidência da República, 1943. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 23/12/2023.
GEMMA, S. F. B. et al. Abordagem ergonômica centrada no trabalho real. In: BRAATZ, D. et al.
GUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. MPT assina acordo com empresas para reduzir pela
metade o peso do saco de cimento no país. 2018. Disponível em:
<https://www.prt2.mpt.mp.br/572-mpt-assina-acordo-com-empresas-para-reduzir-pela-metade-o-