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A Ergonomia no Trabalho e Seus Conceitos Legais

Conteudista: Prof. Me. Gabriel Henares Eroico


Revisão Textual: M.ª Maiara Stéfani Costa Brandão

Objetivos da Unidade:

Compreender os princípios e conceitos da ergonomia para melhorar as condições de


saúde e segurança do ambiente de trabalho;

Aprender como uma Análise Ergonômica do Trabalho deve ser estruturada, conforme a
NR-17;

Analisar os principais conceitos da NR-17, a fim de entender como gerenciar os riscos


ergonômicos.

📄 Contextualização
📄 Material Teórico
📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Contextualização
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Imagine que você acabou de se formar em Engenharia de Segurança do Trabalho, e uma empresa
o chamou para prestar consultoria em ergonomia, especificamente para analisar a atividade
realizada por um ajudante de depósito de materiais de construção. A principal tarefa desse cargo
é auxiliar no descarregamento de caminhões carregados com materiais pesados para abastecer
o estoque do depósito. Além disso, quando um cliente adquire materiais de construção e solicita

a entrega, o ajudante é responsável por carregar o caminhão com os itens comprados.

Você foi convocado, porque oito ajudantes desse depósito apresentaram problemas na coluna. O
médico do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) constatou agravos à
saúde desses trabalhadores, sendo as lesões diretamente relacionadas ao trabalho. O

absenteísmo nessa função está aumentando, pois esses trabalhadores frequentemente são
atendidos no pronto-socorro devido a fortes dores na coluna. Quando isso acontece, eles ficam,
no mínimo, sete dias afastados do trabalho, mediante atestado médico. O proprietário do depósito
está muito preocupado, porque os ajudantes estão se queixando, alguns estão faltando, e o
desempenho dessa atividade está, cada vez mais, diminuindo em comparação a cinco anos
atrás.

Nesse contexto, o que você faria para ajudar o dono do depósito? Como ajudaria esses
trabalhadores? Este caso pode ser resolvido com um estudo preliminar ou precisa ser
solucionado com uma análise mais detalhada? Quais conceitos você precisa dominar para
identificar os riscos ergonômicos?

Acompanhe o desenvolvimento desta apostila, na qual encontrará fundamentos para auxiliar na


resolução desse problema.
📄 Material Teórico
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Introdução
Antes de chegar na explicação da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que seria a forma como
você deveria estruturar a resolução da situação-problema apresentada na contextualização, é
necessário entender quais são os quatro pilares da NR-17, o que é tarefa e atividade/trabalho
prescrito e trabalho real, e quais são as condições e situações de trabalho preconizadas pela NR-
17. Somente após entender esses conceitos, poderemos chegar nos finalmentes, que é falar
sobre a AET.

Objetivo da NR-17
A Norma Regulamentadora 17 (NR-17) (BRASIL, 2022c) visa estabelecer diretrizes e requisitos
que propiciem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, com o propósito de proporcionar segurança, saúde, conforto e desempenho
eficiente no trabalho.

Ao procurar a adaptação laborativa ao homem, a ergonomia visa superar e mostrar os limites do


ponto de vista reducionista e mercantilista que tende a considerar apenas o “trabalho físico”
(ergonomia física), ignorando aspectos da ergonomia cognitiva e organizacional. Por isso, a

ergonomia mostra a complexidade do trabalho e seus múltiplos fatores.


As características psicofisiológicas se referem a todo o conhecimento advindo do
funcionamento do ser humano, nos aspectos mentais/psicológicos e fisiológicos. Alguns
exemplos voltados aos trabalhadores são:

Apresentar sinais de estresse quando são avaliados


por meio de ferramentas de desempenho, que avaliam
sua performance;

Apresentar alto cansaço depois de consecutivos dias de trabalho intensos


que extrapolaram a jornada diária de trabalho;

Manifestar tendência a aumentar o ritmo de trabalho e produção, quando


recebem estímulos financeiros ou por outros meios.

Quanto ao conforto, no contexto ergonômico, a palavra se refere ao sentimento de bem-estar,


sobre a perspectiva individual de cada trabalhador, de modo que haja um equilíbrio entre a
exigência da atividade e a aptidão, tolerância e resistência de cada pessoa ao exercer aquela

atividade.

Os fatores associados à saúde e segurança referem-se ao meio ambiente de trabalho seguro e


salubre, que não provoque lesões nem doenças aos trabalhadores. O desempenho eficiente
refere-se a alcançar a produtividade sem que a saúde dos operadores seja afetada ao longo da

vida laboral deles. Caso as metas de produção sejam “intangíveis” e não respeitem as
características psicofisiológicas dos operadores, o prejuízo na saúde destes será provavelmente
muito alto.

A Atividade e a Tarefa
Segundo Gemma et al. (2021), no contexto da ergonomia da atividade, a tarefa é definida como o
conjunto de prescrições, regras e normas impostas pela organização do trabalho para atingir
objetivos específicos, determinando o que deve ser feito e as condições para sua realização. Por
outro lado, a atividade refere-se à maneira como os resultados são efetivamente alcançados
pelos trabalhadores, englobando as ações, decisões e adaptações que ocorrem no contexto
dinâmico do trabalho real. Enquanto a tarefa representa o que é prescrito e antecipado, a atividade
reflete as estratégias utilizadas pelos operadores no dia a dia para lidar com variabilidades,

imprevistos e eventos indeterminados, buscando alcançar os objetivos com efetividade e


qualidade.

Para facilitar a compreensão sobre a dimensão do termo atividade de trabalho, a Figura 1


demonstra os fatores relacionados às situações de trabalho.

Figura 1 – Os elementos que atuam como determinantes das


situações de trabalho
Fonte: Adaptada de GUÉRIN et al., 2001, p. 27

#ParaTodosVerem: a figura representa um fluxograma que demonstra a “atividade de


trabalho” (que é uma das divisões) como fator principal do esquema. A atividade de
trabalho está interligada com todas as divisões do fluxograma (que são sete, contando
com ela). Do lado esquerdo, há a divisão 1) “o trabalhador”, que contém: a) aspectos
individuais: sexo, idade, características físicas; b) experiência, formação adquirida; e c)
estado momentâneo: fadiga, ritmos biológicos, vida fora do trabalho. Do lado direito, há a
divisão 2) “a empresa”, que contém: a) objetivos/ferramentas: natureza, desgaste,
rotulagem, documentação, meios de comunicação, sistemas informáticos; b) tempo:
jornadas, turnos, cadências; c) organização do trabalho: critérios de qualidade,
distribuição das tarefas, instruções, metas, relações hierárquicas; d) ambiente: espaços,
características físicas, conforto. No centro do fluxograma, há três divisões: contrato de
trabalho; tarefas prescritas e tarefas reais; e atividade de trabalho (que é a divisão
principal). Todas estas três divisões estão interligadas entre si e estão interligadas com
as divisões “o trabalhador” e “a empresa”. Embaixo de tudo isso que foi mencionado,
estão as duas últimas divisões que são: a) saúde, acidentes do trabalho, competências...”;
e b) produção, qualidade...”. Estas duas divisões estão interligadas com as divisões “o
trabalhador”, “atividade de trabalho” e “a empresa”. Fim da descrição.

Wisner (1994) e Guérin et al. (2001) definem que o trabalho prescrito é diferente do trabalho real.
O trabalho prescrito compreende o modo formal como a tarefa é estipulada pela empresa ao
operador para ser realizada. Isso compreende, por exemplo, as Ordens de Serviços (OS),

Permissões de Trabalho (PT), Análises de Riscos das Tarefas (ART), Diálogos Diários de
Segurança (DDS), instruções passadas em treinamentos etc. O trabalho real compreende o modo
real como a tarefa é realizada na prática pelo operador.

Portanto, mesmo a organização tendo uma gestão eficiente em Saúde e Segurança do Trabalho

(SST), algumas variabilidades e dificuldades que até então nunca haviam se manifestado na
execução de uma determinada tarefa e não tinham sido previstas pelos engenheiros e gestores,
podem vir a aparecer no meio da execução de um serviço. Por exemplo, no acidente nuclear de
Fukushima I, ocorrido em 11 de março de 2011, o projeto de engenharia não previa que um

tsunami de mais de 10 metros de altura pudesse atingir a usina (e foi o que ocorreu, devido ao
terremoto de aproximadamente 9,1 graus na escala Richter).

Logo, a gestão da segurança da organização deve o máximo possível fazer com que o trabalho
real se aproxime o máximo possível do trabalho prescrito, porém, mesmo assim, devido a novas
variabilidades que podem surgir, os dois não podem ser considerados iguais. Por isso, na Figura
1, a atividade de trabalho está atrelada a dois tipos de tarefas: prescritas e reais.
Hollnagel (2002) define que as variabilidades no trabalho sempre poderão existir e que cabe à
empresa monitorá-las.

Reflita
Por que as normas técnicas precisam ser constantemente atualizadas?

Uma das razões é porque no dia a dia, descobrem-se novas variabilidades


que até então nunca haviam se manifestado. Portanto, o trabalho prescrito
deve ser sempre atualizado para que ele controle as novas variabilidades que

surgiram ou possam surgir no trabalho.

Aplicação da NR-17 nas Condições de Trabalho


A NR-17 se aplica a qualquer organização privada ou pública, bem como órgãos do poder
legislativo, judiciário e Ministério Público que possuam empregados regidos pela Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT.

Vimos, anteriormente, que a NR-17 tem por objetivo mensurar parâmetros para adaptar as
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos operadores. Essas condições de

trabalho são relacionadas a fatores relacionados à(s) (ao):


Levantamento, transporte e descarga individual de
cargas (item 17.5 da NR-17);

Mobiliário dos postos de trabalho (item 17.6 da NR-17);

Trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais (item 17.7


da NR-17);

Condições de conforto no ambiente de trabalho (item 17.8 da NR-17);

Organização do trabalho (item 17.4 da NR-17).

É fundamental frisar que os fatores citados não estão desassociados uns dos outros e eles
devem ser analisados em conjunto, pois interferem em conjunto na execução das atividades.

A NR-17 possui dois anexos referentes a atividades específicas. O anexo I é sobre o trabalho dos
operadores de checkout e o anexo II é sobre o trabalho em teleatendimento/telemarketing.

Levantamento, Transporte e Descarga Individual de Cargas


O item 17.5.1 da NR-17 e o art. 198 da CLT dizem respeito ao trabalho individual de remoção de
cargas. Contudo, elas divergem sobre o tema. Vejamos aqui a redação do art. 198 da CLT:
“ É de 60 kg (sessenta quilogramas) o peso máximo que um empregado pode remover

individualmente, ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da

mulher.”

- BRASIL, 1943, n. p.

Será mesmo que carregar até 60 quilos é seguro para a saúde de um ser humano adulto do sexo

masculino?

Vejamos aqui o que diz o item 17.5.1 da NR-17:

“Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso seja

suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.

A carga suportada deve ser reduzida quando se tratar de trabalhadora mulher e de trabalhador menor nas

atividades permitidas por lei.”

- BRASIL, c2022, n. p.

Acontece que a CLT é uma lei federal de 1943 e, mesmo depois da reforma trabalhista de 2017,

que modificou diversos dispositivos dessa lei, o art. 198 continua vigente e não foi modificado.

E o que diz a lei sobre a carga que pode ser carregada por mulheres ou trabalhadores menores de
idade? Nesse caso, há disposição específica no art. 390 da CLT, que também se aplica ao menor
de idade (conforme art. 405, § 5º da CLT):

“ Ao empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego de força

muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos

para o trabalho ocasional.”

- BRASIL, 1943, n. p.

Saiba Mais
O art. 402 da CLT considera trabalhador menor de idade, aquele entre 14 e 18
anos. O art. 405 da CLT relata quais atividades não são permitidas para o
menor.

Camisassa (2023) explica que o motivo da CLT estipular 60 quilos como peso máximo de carga
para homens, é devido a um motivo histórico e não técnico. Desde o início da produção comercial
de café no Brasil, no século XIX, o peso dos sacos de juta utilizados no transporte de café era de
60 quilos, por isso, a CLT estipulou esse peso. Portanto, devido à desatualização do art. 198 da
CLT, a NR-17 deve ser seguida.
Complementarmente, o que ocorre é que para mulheres e trabalhadores menores de idade, o art.
390 da CLT é muito mais restritivo. Por fim, a NR-17 deve ser empregada em qualquer situação de
trabalho que envolva ergonomia, para trabalhadores homens ou mulheres e menores de idade.

O saco de cimento, que é muito utilizado na construção civil em geral, possui atualmente 50
quilos. O Ministério Público do Trabalho – MPT (2018) assinou, em 2018, um Termo de
Compromisso com 33 empresas produtoras de cimento para que até o final de 2028 o saco passe
a ser comercializado com peso até 25 quilos, e que, no início de 2029, mesmo que o saco de 50

quilos ainda esteja em estoque, ele não seja mais vendido.

Imagine a atividade de um trabalhador que descarrega um caminhão que está com 200 sacos de
cimento, cada saco com 50 quilos (o cimento é apenas um exemplo, pois há diversos produtos
que são ensacados, como farinha, arroz etc.). Vamos supor que ele trabalhe em um depósito de

material de construção de bairro, sua função é de ajudante, descarregará o caminhão sozinho, e


esta é apenas uma de suas tarefas. Como você acha que estará essa pessoa no fim do dia,
depois de ter carregado 10 toneladas? O que a ergonomia pode fazer para ajudá-lo?

Pensando nos quatro pilares exigidos pela NR-17 (segurança, saúde, conforto e desempenho
eficiente), o trabalho de descarregar o caminhão pode ser feito com o auxílio de uma
empilhadeira, desde que os sacos de cimentos já estejam em pallets e, para descarregar os
sacos dos pallets, é possível usar um manipulador a vácuo que pegaria o saco e colocaria, por
exemplo, no carro do cliente (consumidor final). Cada tipo de tarefa exige um estudo ergonômico
que deve ser aplicado para cada realidade, portanto, esse foi apenas um exemplo.

Em muitas obras residenciais, comerciais e até prediais, é inviável ter uma empilhadeira para
descarregar o caminhão e um manipulador a vácuo, pois a frequência que um caminhão
carregado com cimento chega na obra para ser descarregado é muito menor do que em um
depósito de material de construção, quando o caminhão chega direto da fábrica de cimento para

abastecer o depósito. Fora isso, a depender do local que os sacos ficarão armazenados dentro da
obra, devido às disposições físicas do lugar, não há como a empilhadeira entrar e nem como
instalar o manipulador a vácuo. Portanto, a viabilidade da solução proposta deve se aplicar a
realidade da situação.
Importante!
Sobre a empilhadeira para descarregar é preciso analisar a viabilidade de
cada caso individualmente.

Outras medidas mitigadoras que podem ser usadas no exemplo dado do descarregamento do
caminhão na obra, é: a) utilizar diversos trabalhadores para a descarga; b) comprar sacos de
cimento de 25 quilos, ao invés de 50 quilos, a fim dos trabalhadores carregarem menos peso em
cada viagem; c) estabelecer pausas, e d) parar o caminhão no local mais próximo possível de

onde os sacos serão estocados etc.

Vídeos
Como Carregar Sacos de Cimento sem Muito Esforço
Trabalhador coloca vários sacos de cimentos que estavam em pallets, dentro
de um carro, utilizando um manipulador a vácuo.

Clique no botão para conferir o vídeo indicado.


ASSISTA

Vídeos

Empilhadeira Descarregando Cimento

Empilhadeira descarregando cimento

Descarregando Sacos de Cimento


Uma observação neste vídeo é que o hábito de pegar o saco e colocá-lo sobre a cabeça facilita
o transporte, porém sobrecarrega a coluna, podendo ocasionar, com o aumento da frequência
que isso é feito, hérnias de disco, dentre outras enfermidades. Repare que, no momento deste
vídeo, o trabalhador está colocando os sacos sobre uma altura que está acima da sua cabeça, o
que facilita ele deixar o saco sobre sua cabeça (mesmo não sendo adequado), pois ele
precisará fazer menos força para erguer o saco no momento que estiver o depositando sobre a
pilha de sacos. Portanto, veremos na próxima unidade, a forma mais recomendada de fazer o
levantamento manual de cargas. Porém, no exemplo específico deste vídeo, é preciso
considerar e lembrar, obviamente, que este trabalhador não é uma máquina, que ele fica
cansado, e que provavelmente ele já descarregou diversos sacos de cimento daquele
caminhão. Lembre-se: a ergonomia deve adaptar o trabalho ao homem. Uma boa prática, para
esse exemplo, seria colocar as pilhas de sacos de cimento em alturas menores, contudo, todo o
contexto deve ser analisado.

descarregando sacos de cimento

O MPT deu o prazo de 10 anos para as fabricantes mudarem o peso dos sacos de cimento pela
metade, conforme já dito. Isso pode parecer muito tempo, pois pensando superficialmente sobre
a situação, basta que as fabricantes mudem o tamanho do saco e comecem a produzir com o
novo peso e o problema estará resolvido. Porém, e toda a cadeia de produção e demais coisas
envolvidas (máquinas, ferramentas, transporte, armazenamento, impostos etc.) que está
programada e dimensionada para operar com sacos de 50 quilos? Nesse processo de alteração
da produção do saco de cimento, há muitas variáveis e fatores envolvidos que não podem ser

ignorados, e que precisam de tempo para serem analisados e viabilizados até que a mudança
completa seja feita. Com certeza, a diminuição do peso para 25 quilos, nesse caso, será muito
benéfica à saúde do trabalhador.

Para uma análise quantitativa, a fim de saber qual é o limite de peso recomendado para o
levantamento manual de cargas, a equação de NIOSH pode ser utilizada para atender parte dos
requisitos da NR-17. Veremos isso na próxima unidade.

Nas atividades de levantamento, manuseio e transporte individual e não eventual de cargas, ou


seja, que ocorrem com certa frequência, devem ser observados os seguintes requisitos,

conforme o item 17.5.2 da NR-17:

Os locais para pega e depósito de cargas, conforme


avaliação ou análise ergonômica, devem ser
organizados de forma que as cargas, espaços para
movimentação, acessos, alturas de pega e deposição,
não obriguem o operador a flexionar, estender e
rotacionar excessivamente o tronco e fazer outras
movimentações e posições forçadas que sejam
danosas a ele; e

Cargas e equipamentos devem ser alocados o mais próximo possível do


operador, de modo que haja espaços suficientes para os pés, de forma a
facilitar o alcance, não atrapalhar os movimentos ou causar outros riscos.

A NR-17, no item 17.5.4, determina que para a movimentação e no transporte manual de cargas
não eventuais, devem ser adotadas uma ou mais medidas de prevenção:
“a) implantar meios técnicos facilitadores;

b) adequar o peso e o tamanho da carga (dimensões e formato) para que não provoquem o aumento do
esforço físico que possa comprometer a segurança e a saúde do trabalhador;
c) limitar a duração, a frequência e o número de movimentos a serem efetuados pelos trabalhadores;

d) reduzir as distâncias a percorrer com cargas, quando aplicável; e


e) efetuar a alternância com outras atividades ou pausas suficientes, entre períodos não superiores a duas

horas.”

- BRASIL, 2022c, item 17.5.4

Mobiliário dos Postos de Trabalho


A adequada organização do mobiliário no posto de trabalho é essencial para garantir que os
trabalhadores possam desempenhar suas funções ao longo de toda a jornada com conforto,
segurança e eficiência. Um planejamento cuidadoso é crucial para evitar o desenvolvimento de
doenças ocupacionais, as quais, muitas vezes, resultam de um design inadequado ou da
ausência de um projeto de mobiliário que seja adaptado às características antropométricas do
trabalhador.

Após a pandemia de Covid-19, tornou-se comum várias empresas permitirem que seus

funcionários adotem o home office, ou seja, trabalhem de casa. Em muitos casos, essa prática se
estende a todos os dias da semana, enquanto, em outros, é permitida em dias específicos. Para
facilitar nossa discussão sobre o projeto do posto de trabalho, consideremos o exemplo de uma
advogada que trabalha nove horas por dia, durante três dias úteis da semana em casa, utilizando
principalmente seu notebook/laptop para digitar e ler documentos. Nos outros dois dias úteis, ela
desempenha suas atividades no escritório de advocacia onde é contratada. Essa situação é
ilustrada na Figura 2:
Figura 2 – Exemplo hipotético de uma advogada trabalhando no
notebook/laptop em situação de home office
Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem: a figura retrata uma mulher negra, sentada em uma mesa de madeira
comprida, suficiente para acomodar aproximadamente quatro pessoas, indicado pelas
três cadeiras vazias além daquela em que ela está. A cadeira em que a mulher está
sentada é idêntica às outras, não oferecendo regulagem de altura nem apoio de braços
ajustáveis. A cena sugere estar em uma sala, com a mulher sorrindo e olhando para cima.
A mulher está posicionada a 90° em relação à cadeira, sem encostar suas costas nela,
utilizando um notebook/laptop localizado no início da mesa para digitar. Seus dois braços
estão espelhados, flexionados de maneira semelhante, apoiados sobre o notebook. Os
cotovelos da mulher estão fora da mesa, sem qualquer apoio. Fim da descrição.

Analisando a Figura 2, você acredita que este posto de trabalho é adequado para esta
trabalhadora trabalhar 3 dias da semana, durante nove horas, na casa dela? Ele atende os quatro
pilares da NR-17?
Para responder essa pergunta, vejamos algumas exigências que a NR-17 relata sobre o mobiliário
do posto de trabalho:

“17.6.1 O conjunto do mobiliário do posto de trabalho deve apresentar regulagens em um ou mais de seus

elementos que permitam adaptá-lo às características antropométricas que atendam ao conjunto dos
trabalhadores envolvidos e à natureza do trabalho a ser desenvolvido.
17.6.3 Para trabalho manual, os planos de trabalho devem proporcionar ao trabalhador condições de boa

postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos:


a) características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação dos segmentos

corporais de forma a não comprometer a saúde e não ocasionar amplitudes articulares excessivas ou
posturas nocivas de trabalho;

b) altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância
requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento;
c) área de trabalho dentro da zona de alcance manual e de fácil visualização pelo trabalhador;

d) para o trabalho sentado, espaço suficiente para pernas e pés na base do plano de trabalho, para permitir
que o trabalhador se aproxime o máximo possível do ponto de operação e possa posicionar completamente

a região plantar, podendo utilizar apoio para os pés, nos termos do item 17.6.4;
17.6.4 Para adaptação do mobiliário às dimensões antropométricas do trabalhador, pode ser utilizado apoio
para os pés sempre que o trabalhador não puder manter a planta dos pés completamente apoiada no piso.

17.6.6 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos:
a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida;

b) sistemas de ajustes e manuseio acessíveis;


c) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento;
d) borda frontal arredondada; e

e) encosto com forma adaptada ao corpo para proteção da região lombar. ”

- BRASIL, c2022, n. p.
Alguns comentários sobre a situação de trabalho exemplificada na Figura 2:

Nem a mesa, nem a cadeira, possuem regulagem de altura para que a


trabalhadora possa se ajustar às suas condições antropométricas;

Os antebraços da trabalhadora estão metade dentro da mesa e metade


fora. O ideal seria que seus antebraços estivessem totalmente apoiados
sobre a mesa, ou apoiados no apoio de braço de uma cadeira ergonômica
que regulasse a altura. Na figura, é possível ver que os antebraços dela
estão encostados na quina reta da mesa, criando uma zona de pressão,
que com o tempo irá gerar tensão sobre os antebraços. Sempre que
possível escolha mesas com bordas arredondadas (sugestão);

Na figura, não é possível visualizar, porém, caso a trabalhadora não esteja


conseguindo encostar os pés no chão, é necessário utilizar um apoio para
os pés. É preciso reforçar que é necessário ajustar a mesa e a cadeira
primeiro. O apoio para os pés com regulagem de altura também pode ser
usado para pessoas que conseguem encostar os pés no chão, pois eles
servem como um meio de alterar a postura do trabalhador, evitando ficar
muito tempo com os pés na mesma posição. Nesse caso, deve-se usar o
apoio para os pés, de vez em quando, um pouco mais para frente, para
proporcionar ao trabalhador esticar os pés. No geral, o ideal é sentar
utilizando as coxas paralelas ao chão, com os joelhos dobrados a 90°;

A cadeira não possui encosto para proteção da região lombar. É


necessário utilizar cadeira que possua e que o design do encosto seja
desenhado para encostar a coluna. Além disso, a cadeira deve ter assento
com borda arredondada;

O notebook está posicionado com a tela muito abaixo da linha horizontal


dos olhos da trabalhadora. O início da tela do notebook necessita ficar
exatamente nessa linha, para que a trabalhadora não force, com o passar
do tempo, a região cervical. Para isso, é necessário que o notebook seja
usado apenas como tela e que seja colocado em cima de um “suporte de
mesa para notebook”. Ele deve ficar um pouco mais para frente da mesa e
deve-se utilizar um mouse e teclado externo para poder mexer no
notebook.
Vídeos
Estes dois vídeos irão ajudá-lo a entender, na prática, como uma pessoa que
usa um notebook em uma mesa de trabalho deve posicionar este
dispositivo.

Dicas de Ergonomia – Notebook – Qual ajuste? Altura? Posição?

Dicas de Ergonomia - Notebook - Qual ajuste? Altura? Posição?

Dicas de Ergonomia – Notebook + Tela (Monitor) – Posição ideal


Dicas de Ergonomia - Notebook + Tela (Monitor) - Posição ideal.

Reflita
Vamos supor que a advogada da Figura 2, em nosso exemplo hipotético,
trabalhasse todos os dias da semana no escritório de advocacia e utilizasse
seu notebook apenas por poucos minutos durante a manhã, antes de chegar
no trabalho, para conferir seus e-mails pessoais. Haveria problema para a
saúde dela usar o notebook da maneira que ela está usando na Figura? A

resposta é provavelmente não, desde que ela não use o notebook por muito
tempo e que seja uma situação esporádica. Caso ela use para trabalho ou
lazer, frequentemente, mesmo que seja por poucas horas do dia, poderá ter

potencial ao longo do tempo de prejudicar sua saúde e/ou gerar


desconforto.
Importante!
É preciso tomar cuidado com mobiliários que são vendidos como
“ergonômicos”, exemplo “cadeira NR17”, pois nem todos se adequam às

exigências da NR-17. Todavia, o termo “ergonômico” ajuda o mobiliário a ser


vendido. Não existe certificação para atestar que, por exemplo, uma cadeira
atende a NR-17. Portanto, na hora de escolher um mobiliário, atente-se às

características dele.

A Figura 3 mostra um exemplo de posto de trabalho de digitação para uma pessoa que trabalha
sentada, atendendo as exigências da NR-17. Na mesa deste exemplo, há dois níveis de altura,
sendo um para o teclado e mouse, e outro para o monitor. O início da tela do monitor fica na linha

horizontal da altura dos olhos (a tela não deve ficar acima, pois o trabalhador terá que curvar a
cabeça para cima, podendo causar dores na sua cervical, conforme já dito). O mouse e o teclado,
que estão mais baixos, devem ficar alinhados com o apoio de braço da cadeira, para que todo o
antebraço fique apoiado. A cadeira possui ajuste de altura para o apoio de braço, ajuste de altura
do assento e ajuste de inclinação do encosto. A mulher na figura utiliza um apoio de pés para
descansar os pés. Não se deve apoiar os pés sobre as rodinhas da cadeira.
Figura 3 – Posto de trabalho de digitação para trabalho sentado,
atendendo as exigências da NR-17
Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem: a figura ilustra uma mulher sentada em uma cadeira de escritório,


com as coxas paralelas ao chão e os joelhos dobrados a 90°. Na frente dela, há uma mesa
de escritório para digitação com duas alturas, sendo a parte mais alta a que fica o monitor,
onde o início da tela fica alinhado na linha horizontal aos olhos da mulher, e a parte um
pouco mais baixa, ficam o mouse e o teclado, que estão na mesma altura que o apoio de
braço da cadeira. Os antebraços da mulher estão sobre os apoios de braços da cadeira,
propiciando conforto ao digitar. Debaixo dos pés, há um apoio de pés que está levemente
inclinado a cerca de 20°. A cadeira possui ajuste de inclinação de encosto, ajuste de apoio
de braços e ajuste de altura, além de possuir rodinhas. A mulher está com as costas
totalmente encostada na cadeira. Fim da descrição.

A Figura 4, em conjunto com a Tabela 1, auxilia a entender as dimensões/espaços que o posto de


trabalho para digitação deve ter:
Figura 4 – Dimensões e espaços recomendados para o projeto de
um posto de trabalho de digitação, usando o computador
Fonte: Adaptada de CARTER; BANISTER, 1994 apud LIDA, 2005, p. 215

#ParaTodosVerem: a Figura 4 e Tabela 1 mencionam como recomendação que no posto


de trabalho para digitação as dimensões devem ter entre, para o assento: a) altura do
assento (38 a 57cm) – As coxas devem ficar na horizontal, quando o joelho fizer 90°; b)
ângulo assento/encosto (90 a 120°) – Deve ser ajustável, com uma média de 110°. Para o
teclado: c) altura do teclado (60 a 85cm) – Deve ficar na altura do cotovelo ou até 3 cm
abaixo; d) altura da mesa (58 a 82cm) – Deve seguir a altura do teclado, da tela e o
espaço para as pernas. Para o espaço para as pernas: e) altura 20cm – Deve permitir a
acomodação e movimentação das coxas; f) profundidade (60 a 80cm) – Profundidade de
60 cm na altura dos joelhos e 80 cm no nível do piso; g) largura 80cm – Deve permitir
movimentação lateral das pernas. Para a tela: h) altura (90 a 115cm) – A altura é medida
entre o centro da tela e o piso; i) distância visual (41 a 93cm) – A distância depende do
tipo de tarefa e preferências; j) ângulo visual (0 a 30°) – É medida para baixo, a partir da
horizontal no nível dos olhos. Fim da descrição.

Tabela 1 – Dimensões recomendadas com base na Figura 4


Dimensões
Variáveis Observações
recomendadas

Assento

As coxas devem ficar na


a) Altura do
38 a 57 cm horizontal, quando o joelho
assento
fizer 90°

b) Ângulo Deve ser ajustável, com


90 a 120°
assento/encosto uma média de 110°

Teclado

Deve ficar na altura do


c) Altura do
60 a 85 cm cotovelo ou até 3 cm
teclado
abaixo

Deve seguir a altura do


d) Altura da mesa 58 a 82 cm teclado, da tela e o espaço
para as pernas

Espaço para as pernas

Deve permitir a
e) Altura 20 cm acomodação e
movimentação das coxas

Profundidade de 60 cm na
f) Profundidade 60 a 80 cm altura dos joelhos e 80 cm
no nível do piso
Dimensões
Variáveis Observações
recomendadas

Deve permitir
g) Largura 80 cm movimentação lateral das
pernas

Tela

A altura é medida entre o


h) Altura 90 a 115 cm
centro da tela e o piso

A distância depende do
i) Distância visual 41 a 93 cm tipo de tarefa e
preferências pessoais

É medida para baixo, a


j) Ângulo visual 0 a 30° partir da horizontal no nível
dos olhos

Fonte: Adaptada de CARTER; BANISTER, 1994 apud LIDA, 2005, p. 215

A NR-17 também faz considerações sobre o trabalho em pé, no qual as exigências podem ser
consultadas no decorrer do item 17.6 da norma.

Trabalho com Máquinas, Equipamentos e Ferramentas Manuais


O trabalho com máquinas e equipamentos deve estar de acordo com as disposições da NR-12 –
Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos.
O painel de controle e dos comandos precisam ser projetados de forma que facilite o máximo
possível a interação com o ser humano. Fora isso, sua localização e posicionamento devem
contribuir no acesso, a utilização fácil e segura e a visibilidade da informação do processo.

Os equipamentos que possuem display (monitor de vídeo) devem permitir que o operador ajuste a
tela à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionando que o operador
tenha um ângulo ideal de visibilidade. Caso no posto de trabalho seja necessário utilizar
computador portátil com habitualidade, o espaço deve ser projetado às condições

antropométricas dos operadores para comportar o uso do computador e seus acessórios, perante
as exigências operacionais da atividade que é realizada.

Em relação às ferramentas manuais, estas devem permitir o fácil manuseio pelo operador e evitar
a compressão da palma da mão ou de um ou mais dedos em quinas ou arestas vivas. Além disso,

a empresa deve se atentar ao tipo, formato e textura da ferramenta, garantindo uma empunhadura
adequada à tarefa. Se necessário o uso de luvas, é importante verificar a segurança da
empunhadura com a ferramenta.

Prezado(a) aluno(a), a Figura 5 representa parcialmente um painel de controle e de comandos de

uma máquina. Você acredita que esse painel se adequa às exigências da NR-17?
Figura 5 – Parte parcial de um painel de controle e de comandos
de uma máquina
Fonte: Acervo do conteudista

#ParaTodosVerem: a figura representa um painel parcial de uma máquina com quase 50


botões. Há muitas siglas para identificar os botões e todos eles possuem símbolos e/ou
inscrições na língua inglesa, dificultando a compreensão. Fim da descrição.

A NR-12 exige que as inscrições das máquinas e equipamentos devem estar escritas na língua
portuguesa (Brasil) e serem legíveis (item 12.12.4). Na Figura 5, o painel está escrito totalmente
em língua inglesa, o que pode resultar em uma possível confusão do trabalhador em apertar
algum botão errado, que, na ergonomia, chamamos de armadilha cognitiva (ALMEIDA et al., 2014).

Apenas por esse motivo, podemos dizer que este painel possui uma falha em atender a
ergonomia cognitiva, pois sua concepção obrigatoriamente deveria facilitar o máximo possível a
Interface Homem-Máquina (IHM). Outros pontos poderiam ser discutidos sobre este painel,
porém necessitaríamos conhecer o contexto geral da máquina, dos trabalhadores e da atividade.
Glossário
Interface Homem-Máquina (IHM): refere-se ao ponto de interação entre um
ser humano e um sistema ou dispositivo tecnológico. Essa interface
possibilita a comunicação e o controle entre o usuário e a máquina,
permitindo que os seres humanos interajam com máquinas e controlem
dispositivos, softwares ou sistemas.

Saiba Mais
No acidente da usina nuclear de Three Mile Island (1979), no painel de
controle, havia uma falha na sinalização relacionada ao fechamento da
válvula de descarga. Quando o operador enviava a ordem remota para fechar
a válvula, o painel indicava que ela estava fechada, independentemente de
ela realmente ter sido fechada ou não. Os operadores não estavam cientes
que a sinalização do painel apenas mostrava que eles haviam apertado o
botão, eles acreditavam que a sinalização indicava que o comando deles

havia sido realizado com sucesso. Esse caso é um exemplo clássico que
indica falhas na concepção ergonômica do projeto do painel, pois caso um
trabalhador aperte um botão e no painel acenda, por exemplo, uma luz verde,
ele irá acreditar que o comando foi efetuado. Projetar um painel que vai
contra essa lógica, é ir na contramão da ergonomia cognitiva.

Condições de Conforto no Ambiente de Trabalho


A NR-17 apresenta alguns requisitos que devem ser observados para garantir o conforto visual,
térmico e acústico nos ambientes internos de trabalho. A palavra “conforto” é um termo

subjetivo, pois o que pode ser confortável para uma pessoa, pode não ser para outra. Portanto, a
atual redação da NR-17 contém tanto disposições qualitativas, quanto quantitativas referente ao
conforto.

Conforto Visual
Em todos os locais e situações de trabalho deve existir iluminação natural ou artificial, geral ou
complementar, de acordo com as características da atividade a ser realizada. A iluminação do
ambiente não pode provocar ofuscamento, sombras, contrastes excessivos e reflexos que

atrapalhem o operador.

Em todos os locais e situações de trabalho internos, deve existir níveis de iluminação em


conformidade com os níveis mínimos de iluminamento estabelecidos na Norma de Higiene
Ocupacional n. 11 (NHO 11) da Fundacentro – Avaliação dos Níveis de Iluminamento em
Ambientes Internos de Trabalho, versão 2018.

A unidade de medida de iluminamento é o lux. O lux mede a intensidade da iluminação em uma


determinada área. Ele é definido como um lúmen por metro quadrado (lm/m²). Portanto, o lux leva
em consideração a quantidade de luz e a área sobre a qual a luz é distribuída. Quanto maior o
valor em lux, maior será a iluminação em uma determinada área.
Importante!
Você já reparou que nas embalagens de lâmpadas e luminárias há a
marcação do “fluxo luminoso”? Esse fluxo é medido em lúmens. Muitas
pessoas acreditam que a potência de iluminação da lâmpada está na
potência dela em Watts, porém esta unidade serve apenas para medir o
consumo energético dela. São os lúmens que importam na hora de decidir
comprar uma lâmpada mais forte ou fraca para um ambiente.

Vamos entender na prática como isso funciona? Imagine, por exemplo, que, em um hospital, há
uma sala para atendimento médico com 9 m². Qual deve ser o fluxo luminoso desse ambiente?
Quantas lâmpadas é necessário ter? Segundo o quadro 1 da NHO-11 (FUNDACENTRO, 2018),

uma “sala para atendimento médico” precisa ter um nível mínimo de iluminamento de 500 lux.
Portanto, se a área do espaço é de 9 m², então irá ser necessário um fluxo luminoso mínimo de:

Lux = Lúmens ÷ Área (m2)


500 = (Lúmens/9)
Lúmens = 4500

Logo, são necessários no mínimo 4.500 lúmens para atender esse fluxo luminoso. Suponhamos
que cada lâmpada que o hospital comprou seja de 900 lúmens, portanto, serão necessárias 5

lâmpadas. Esse cálculo é apenas uma estimativa para o ambiente, pois há diversas outras
variáveis que influenciam na iluminação, como: cor das paredes e revestimentos, altura do pé
direito e distância entre os pontos de luz, quantidade de luz natural existente etc. O aparelho que
mede o fluxo luminoso é chamado de luxímetro.
É necessário ressaltar que a ausência ou excesso de iluminação são prejudiciais ao trabalhador.

Conforto Térmico
Em ambientes internos de trabalho onde são executadas atividades que necessitem da
manutenção da solicitação intelectual e atenção constantes, é necessário adotar medidas de
conforto térmico por meio de medidas de controle da velocidade do ar, temperatura e da umidade,
a fim de propiciar conforto térmico, observando a faixa de temperatura entre 18 e 25°C (graus

Celsius) para ambientes climatizados.

Também devem ser estipuladas medidas de controle da ventilação ambiental, com o intuito de
reduzir a incidência de correntes de ar diretas sobre os trabalhadores.

Será que existe algum trabalho atualmente que não exige um mínimo de solicitação intelectual e

atenção constantes? Fica a reflexão.

Importante!
Não devemos confundir conforto térmico com sobrecarga térmica. Esta é
avaliada quantitativamente por meio do Índice Bulbo Úmido Termômetro de
Globo (IBUTG) e a Taxa Metabólica (estimada, correspondente à atividade

realizada), conforme disposições do anexo 3 (Limites de tolerância para


exposição ao calor) da NR-15 – Atividades e Operações Insalubres.
Conforto Acústico
Em ambientes internos de trabalho onde são realizadas atividades que exigem manutenção da
solicitação intelectual e atenção constantes, é necessário que a organização adote medidas de
conforto acústico, incluindo o controle do ruído. Para outras atividades, o nível de ruído de fundo
aceitável para o conforto acústico é de até 65 dB (A), considerando o nível de pressão sonora
contínuo equivalente ponderado em A e no circuito de resposta Slow (S). Esse nível de pressão

sonora é equivalente ao encontrado em um escritório com pessoas trabalhando e conversando


em tom normal.

Importante!
Não devemos confundir nível de conforto acústico com nível de pressão
sonora máxima diária permissível. Esta, para uma jornada diária de 8h é de
até 85 dB(A), independentemente do tipo da atividade, conforme disposição
do anexo 1 (Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente) da
NR-15.
Organização do Tabalho
A organização do trabalho engloba tanto aspectos organizacionais quanto individuais que
influenciam na maneira como o trabalhador emprega seu corpo e sua mente para realizar o
trabalho. Portanto, para entender a organização do trabalho, é preciso analisar sistemicamente
todos os fatores entre a empresa e os trabalhadores. Devido a isso, a NR-17 estipula que há seis
fatores que devem ser analisados:

As normas de produção: são as regras da empresa, tanto formais quanto


tácitas (implícitas), que são exigidas para que os trabalhadores cumpram
na execução de suas tarefas. Por exemplo: jornada de trabalho, horário
para pausas e intervalos, rodízios de trabalhadores na tarefa, metas de
produção etc.;

O modo operatório, quando aplicável: significa o MODO como o trabalho é


realizado. Para entender isso, é preciso entender sobre o trabalho
prescrito e o trabalho real. Estes conceitos foram explicados no item 2
desta Unidade. O trabalho real compreende a adaptação individual de cada
trabalhador sobre o trabalho prescrito. Por isso, é fundamental que as
empresas mantenham um espaço aberto de diálogo com os funcionários,
a fim de saber sobre as dificuldades e variabilidades que podem surgir ao
tentar cumprir o trabalho prescrito;

A exigência de tempo: refere-se às metas de produção e ao tempo que é


necessário para alcançá-las. Objetivos de metas podem ser definidos e
almejados pela empresa, porém eles devem respeitar as características
psicofisiológicas dos trabalhadores. Para que o trabalhador cumpra uma
tarefa, subtarefas podem ser necessárias. Por exemplo, vamos supor que
uma vendedora de cosméticos, que trabalha em uma loja de shopping,
precise estar maquiada antes de começar atender seus clientes, devido à
exigência da empresa. Uma das tarefas dessa vendedora é atender os
clientes e realizar a venda. Já a subtarefa dela é estar maquiada para
poder começar seu expediente. Devido isso ser exigência da empresa,
essa subtarefa deve contar do tempo do expediente da vendedora e ser
levado em consideração nas métricas da produção, que, nesse caso,
seria, por exemplo, atingir determinado valor de faturamento vendido no
mês;
O ritmo de trabalho: dependendo do tipo de trabalho, o trabalhador pode
ter autonomia em controlar a cadência de movimentos necessários para
realizar a tarefa, ou isso pode ser imposto por uma esteira ou linha de
montagem. Por exemplo, em frigoríficos que usam esteira de produção
para cortes de aves (nória frigorífica), o trabalhador não possui autonomia
para controlar a velocidade da esteira e esse ritmo é imposto pela
empresa. Também há o ritmo de trabalho que é imposto e influenciado por
remunerações, muito comum no setor de vendas, onde há uma renda
variável que cresce conforme a quantidade de vendas aumenta,
“obrigando” os trabalhadores a aumentarem o seu ritmo de produção para
serem mais bem remunerados;

O conteúdo das tarefas e os recursos técnicos disponíveis: o conteúdo


das tarefas refere-se a forma como o trabalhador percebe seu trabalho:
socialmente relevante, desafiador, monótono, fadigante, estressante etc.
Os recursos técnicos são referentes aos instrumentos e meios técnicos
que estão disponíveis ao trabalhador para o exercício da sua atividade. O
conteúdo das tarefas e os recursos técnicos disponíveis: o conteúdo das
tarefas refere-se a forma como o trabalhador percebe seu trabalho:
socialmente relevante, desafiador, monótono, fadigante, estressante etc.
Os recursos técnicos são referentes aos instrumentos e meios técnicos
que estão disponíveis ao trabalhador para o exercício da sua atividade;

Os aspectos cognitivos que possam afetar a saúde e a segurança dos


operadores: inserem-se no contexto das condições de trabalho e
aspectos cognitivos que possam afetar a saúde e segurança dos
trabalhadores. Incluem-se aqui habilidades como concentração,
raciocínio, atenção e memória, necessárias para executar a tarefa e tomar
decisões. É certo que todo o trabalho exige pelo menos uma dessas
habilidades. No entanto, o intuito aqui é avaliar se essas habilidades, de
forma individual ou em conjunto, conforme requisitadas para realizar a
tarefa, são exigidas a tal ponto de causar lesões ou adoecimentos. Por
isso, é importante avaliar os riscos psicossociais, conceito explicado na
unidade anterior desta disciplina.
O item 17.4.7 da NR-17 determina que os superiores hierárquicos diretos dos trabalhadores
devem ser orientados a buscar no desempenho das suas funções:

“a) facilitar a compreensão das atribuições e responsabilidades de cada função;


b) manter aberto o diálogo de modo que os trabalhadores possam sanar dúvidas quanto ao exercício de

suas atividades;

c) facilitar o trabalho em equipe; e

d) estimular tratamento justo e respeitoso nas relações pessoais no ambiente de trabalho.”

- BRASIL, 2022c, grifo nosso

Chama a atenção o fato de a NR-17 enfatizar expressamente em seu texto a necessidade de um


tratamento justo e respeitoso nas relações pessoais no trabalho. Isso talvez evidencie que as
relações de trabalho no Brasil podem ser conflituosas. Chama mais atenção ainda o item 17.4.7.1,

o qual menciona que empresas com até 10 empregados ficam dispensadas das obrigações do
item 17.4.7. Portanto, isso quer dizer que empresas com até 10 empregados não devem fomentar
que seus superiores hierárquicos estimulem um tratamento justo e respeitoso entre os
funcionários e que não mantenham um espaço aberto de diálogo com eles? Claro que não. No
entanto, a redação da norma dá essa impressão. Muitas empresas no país têm até 10
empregados. Logo, a NR-17 não deveria ter incluído o item 17.4.7.1 em seu texto.

Avaliação das Situações de Trabalho


Vimos, no decorrer desta Unidade, que a NR-17 é aplicável a todas as situações de trabalho, por

meio da análise das condições de trabalho. O item 3 desta apostila foi específico em descrever o
conceito das condições de trabalho.
Veremos agora então as disposições referentes às avaliações das situações de trabalho, perante
o Gerenciamento dos Riscos Ocupacionais (GRO) da NR-1, no que é referente a ergonomia. Estas
avaliações referem-se à Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) e à Análise Ergonômica do
Trabalho (AET).

Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP)


Conforme o item 17.3.1 da NR-17, a empresa deve realizar a AEP das situações de trabalho que,

por causa da natureza e do conteúdo das atividades solicitadas, demandam adaptação às


características psicofisiológicas dos trabalhadores. O objetivo da AEP é dar subsídios à
implementação das medidas de prevenção e adequações necessárias previstas na NR-17. Trata-
se, então, de um levantamento para identificar perigos relacionados a fatores ergonômicos e que

solicitam intervenção imediata.

A AEP pode ser feita utilizando abordagens qualitativas, semiquantitativas, quantitativas ou


combinação dessas, a depender do tipo do risco e dos requisitos legais, com a finalidade de
identificar os perigos e fomentar a busca de dados para o planejamento das medidas de
prevenção necessárias.

A AEP não precisa ser necessariamente um documento propriamente dito, pois, no item 17.3.1.2
da NR-17, é mencionado que ela pode ser incorporada nas etapas de identificação de perigos e de
avaliação dos riscos do GRO, que são descritas no item 1.5.4 da NR-1.

É fundamental que a conversa com os trabalhadores fomente as coletas de dados da AEP, a fim

de que seja possível compreender as dificuldades e variabilidades que fazem parte do trabalho
real das atividades. Para isso, não deve haver pré-julgamentos das ações dos trabalhadores, mas
deve-se procurar entender o porquê eles fazem o trabalho real da forma como o executam.

Apesar da AEP ser uma avaliação preliminar, isso não quer dizer que ela deva ser feita de forma

superficial, pois a própria NR-17 determina que ela pode ser elaborada usando, por exemplo,
critérios qualitativos e/ou quantitativos.
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
A AET é uma abordagem metodológica proposta pela ergonomia, referente a uma análise mais
minuciosa e detalhada das situações e condições de trabalho. Portanto, a AET engloba tudo o que
vimos nesta unidade e deve ser empregada em casos que merecem um detalhamento maior
quanto a ergonomia. Para casos menos complexos, a AEP pode ser empregada.

Importante!
Para relembrar o que são as “situações de trabalho”, veja a Figura 1.

No início de uma avaliação ergonômica, a AEP pode ser empregada inicialmente. Caso seja
observado que é necessário um detalhamento maior, uma AET deve ser estruturada para atender
à demanda de ergonomia.

Diferente da AEP, a AET, quando realizada, deve ser feita em formato documental específico e seu

relatório deve ficar à disposição na empresa por um prazo de 20 anos, conforme disposições do
item 17.3.7 da NR-17.

A NR-17, além de determinar que a AET deve ser realizada em casos que necessitem de uma
avaliação mais aprofundada sobre as situações de trabalho, determina que ela também deve ser

empregada em ocasiões que forem identificadas inadequações ou insuficiência das ações


adotadas; for sugerido pelo serviço de acompanhamento de saúde dos trabalhadores, previsto no
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), e quando houver indícios de
associação de riscos ergonômicos a lesões e agravos à saúde dos trabalhadores; e indicada
causa associada às condições de trabalho na análise de acidentes e doenças do trabalho, nos
termos do PGR.

O item 17.3.3 da NR-17 estipula as etapas que a AET deve ter (devem ser seguidas na ordem):

“17.3.3 A AET deve abordar as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta NR, incluindo as
seguintes etapas:

a) análise da demanda e, quando aplicável, reformulação do problema;

b) análise do funcionamento da organização, dos processos, das situações de trabalho e da atividade;

c) descrição e justificativa para definição de métodos, técnicas e ferramentas adequados para a análise e
sua aplicação, não estando adstrita à utilização de métodos, técnicas e ferramentas específicos;

d) estabelecimento de diagnóstico;

e) recomendações para as situações de trabalho analisadas; e


f) restituição dos resultados, validação e revisão das intervenções efetuadas, quando necessária, com a

participação dos trabalhadores.”

- BRASIL, c2022, n. p.

Regras especiais para Microempresas – ME, Empresas de Pequeno Porte – EPP e


Microempreendedor Individual – MEI:

Para empresas do regime ME e EPP enquadradas como graus de risco 1 e 2 e MEI, não há
obrigatoriedade de elaborar a AET, porém todos os demais requisitos da NR-17 devem ser
atendidos.

Segundo o item 17.3.4.1 da NR-17, as ME ou EPP enquadradas como graus de risco 1 e 2 devem

elaborar a AET quando: for sugerido pelo serviço de acompanhamento de saúde dos
trabalhadores, previsto no PCMSO, e quando houver indícios de associação de riscos
ergonômicos a lesões e agravos à saúde dos trabalhadores; indicada causa associada às
condições de trabalho na análise de acidentes e doenças do trabalho, nos termos do PGR.

Saiba Mais
Qual o prazo de validade de uma AEP e AET?

A NR-17 não estipula um prazo de validade para elas. Portanto, perdem


validade quando as condições de trabalho são alteradas. Por exemplo,
sempre que ocorrerem mudanças no layout, no mobiliário, nos processos de
trabalho, na organização do trabalho, dentre outros, a AEP ou AET precisam
ser renovadas. Com essas alterações, novos riscos ergonômicos podem
surgir, demandando uma revalidação.

Alguns profissionais responsáveis pela elaboração da AEP e AET, sabendo


que algumas empresas negligenciam questões voltadas à ergonomia e à SST
em geral, estipulam um prazo de validade em seus relatórios. Dessa forma,
após um determinado período, é possível verificar se as condições de
trabalho foram alteradas ou não.

Quem pode elaborar a AEP e AET?

A NR-17 não especifica qual é o profissional que deve elaborar a AEP e AET.
Logo, legalmente, qualquer profissional que tenha conhecimentos e algum
tipo de formação em ergonomia podem elaborá-las. Por exemplo, o
Engenheiro de Segurança do Trabalho possui, em sua grade curricular, a
disciplina de ergonomia dentro de sua formação. Há cursos de pós-
graduação em ergonomia que possuem cerca de 360 horas, formando
ergonomistas. Apenas podem ser chamados de “ergonomistas” os
profissionais que passaram por essa especialização. No entanto, não há
obrigatoriedade legal que restrinja a elaboração da AEP e AET apenas a
ergonomistas.

O ideal é que a AET seja feita por uma equipe multidisciplinar que conte com
a participação dos trabalhadores durante a análise. Não é recomendado que
profissionais com conhecimentos superficiais sobre ergonomia realizem a
AEP e AET.

Você sabe o que é “laudo ergonômico”?

Existe uma certa confusão no mercado com o termo “laudo ergonômico”.


Acontece que a NR-17 em nenhum momento menciona sequer a palavra
“laudo”; ela refere-se apenas à AEP e AET. No entanto, a Resolução n. 437 de
1999 do CONFEA, referente às atribuições dos Engenheiros de Segurança do
Trabalho, menciona no art. 4°, inciso III, que é atribuição dessa profissão
realizar o “laudo de avaliação ergonômica, previsto na NR-17”. Portanto, há
uma demanda no mercado e até mesmo de juízes em processos trabalhistas,
requisitando “laudos ergonômicos”, embora esse documento não exista
perante a NR-17.
Em Síntese
Vimos que os quatro pilares da NR-17 são: saúde, segurança, conforto e
desempenho eficiente no trabalho. Vimos, ainda, que o trabalho deve ser
adaptado ao homem, e não o homem ao trabalho.

A ergonomia visa entender as características psicofisiológicas dos


trabalhadores, superando limites do ponto de vista reducionistas e
mercantilistas que tendem a considerar somente aspectos da ergonomia
física, em detrimento da ergonomia cognitiva e organizacional. Portanto,
para que a ergonomia atinja a sua máxima eficácia, ela deve buscar o
equilíbrio entre o homem e o trabalho, respeitando as condições e limitações

físicas do ser humano.

A ergonomia almeja, também, o respeito mútuo entre os trabalhadores de


diferentes níveis hierárquicos, preconizando um ambiente aberto para
discussões e contribuições sobre o trabalho. Ela nos ensina que não se deve
ter pré-julgamentos, pois o trabalho real é diferente do trabalho prescrito, e
isso ocorre porque, mesmo que a organização faça uma gestão
comprometida em controlar os riscos ocupacionais, novas variabilidades
podem surgir, desafiando o trabalho prescrito e podendo colocar os
operadores sobre situações de urgência, onde estarão sob forte pressão e
precisarão tirar do seu conhecimento tácito uma solução para contornar o
problema. Para isso, eles precisam de autonomia e confiança, afinal, as
relações de trabalho são construídas pela confiança. Portanto, a empresa
deve fazer com que o trabalho real se aproxime o máximo possível do
trabalho prescrito.

Para melhorar as condições de trabalho, é preciso entender sobre os


aspectos relacionados ao levantamento e ao manuseamento manual de
carga; a estrutura do mobiliário dos postos de trabalho; o uso e os riscos do
trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais; as condições
de conforto no ambiente de trabalho; e principalmente sobre a organização

do trabalho. A organização do trabalho é ressaltada com certa relevância


sobre as outras condições de trabalho, porque ela, dentre todas as outras, é a
que possui menor visibilidade, pois aborda aspectos relacionados à
essência/raiz do trabalho. Falar sobre manuseamento de carga e mobiliário é
muito mais “palpável” e visível do que falar sobre a organização do trabalho.
Não há como falar de organização do trabalho sem realmente entender como
o trabalho naquela empresa funciona. É na organização do trabalho que
estará a razão da grande parte dos problemas enfrentados pelas outras
quatro condições de trabalho citadas. Cito como exemplo para isso as metas
de produção que obrigam os trabalhadores a acelerarem o seu trabalho, para
darem conta de atender à demanda da empresa, muitas vezes, sendo
obrigados a ignorar fatores relacionados à segurança, devido ao tempo.

Por fim, a Análise Ergonômica Preliminar (AEP) e Análise Ergonômica do


Trabalho (AET) não podem ser realizadas sem realmente o profissional
entender o que são as condições e situações de trabalho, pois o trabalho em
si é complexo e, para um diagnóstico assertivo, é necessário conhecer não
somente soluções técnicas, mas os fatores socioculturais relacionados à
atividade de trabalho.
📄 Material Complementar
Página 3 de 4

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta


Unidade:

Vídeo

Francisco Lima. Acidentes de Trabalho Vistos pela Ergonomia


Francisco Lima. Acidentes de trabalho vistos pela Ergonomia

Filmes

Fukushima: Ameaça Nuclear


Fukushima - Ameaça Nuclear - Trailer (HD)

Sully: O Herói do Rio Hudson


O longa-metragem mostra muito bem na prática a diferença entre o trabalho prescrito e o trabalho
real, no acidente aéreo de 2009 nos Estados Unidos. Com esse filme você entenderá o porquê o

trabalhador precisa ter autonomia em seu trabalho real.


Sully: O Herói do Rio Hudson - Trailer Oficial (leg) [HD]

Leitura

Mudanças na NR-17
Essa cartilha do SESI explica detalhadamente o texto normativo dos itens da NR-17, com base em
seu último texto de 2022, de uma forma simples de entender.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
📄 Referências
Página 4 de 4

ALMEIDA, I. M. de et al. Modelo de Análise e Prevenção de Acidentes - MAPA: ferramenta para a


vigilância em saúde do trabalhador. Ciência & Saúde Coletiva, [S. l.], v. 19, n. 12, p. 4679-4688, dez.
2014. DOI: <http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141912.12982014>.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de
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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


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BRASIL, Ministério do Trabalho e Previdência. Portaria MTP no 4.219 de 20 de dezembro de 2022.

Norma Regulamentadora 01 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.


Brasília: MTP, 2022a.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Previdência. Portaria MTP nº 4.219 de 20 de dezembro de 2022.


Norma Regulamentadora 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Brasília:
MTP, 2022b.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Previdência. Portaria MTP nº 4.219 de 20 de dezembro de 2022.


Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia. Brasília: MTP, 2022c.

CAMISASSA, M. Q. Segurança e saúde no trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Método, 2023.


FUNDACENTRO. Norma de Higiene Ocupacional – NHO 11: procedimento técnico avaliação dos
níveis de iluminamento em ambientes internos de trabalho. São Paulo: Fundacentro, 2018.

GEMMA, S. F. B. et al. Abordagem ergonômica centrada no trabalho real. In: BRAATZ, D. et al.

Engenharia do Trabalho: saúde, segurança, ergonomia e projeto. Campinas: Ex Libris


Comunicação, 2021. p. 343-362. Disponível em:
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GUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo:

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HOLLNAGEL, E. Understanding accidents-from root causes to performance


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